quinta-feira, 21 de dezembro de 2023

Nosso filme de Natal: Deus no banco dos réus

Eis o nosso filme de Natal. Se Natal é nascimento, deve ser então o nascimento de uma nova consciência, uma consciência na qual a crença em Deus ceda lugar a uma consciência de responsabilidade 100% em nós mesmos, como diz a filosofia kahuna, dos xamãs havaianos.

A crença em Deus tal como o descrito na Bíblia e num messias salvador é de tal forma limitante que é a maior influência na fixação de nosso ponto de aglutinação nesta prisão chamada de realidade ordinária, segundo Dom Juan Matus:

"Dom Juan lembrou-me de que havia falado bastante sobre um dos aspectos mais inflexíveis de nosso inventário: nossa ideia de Deus. Esse aspecto, disse, é como uma cola poderosa que prende o ponto de aglutinação à sua posição original. Se eu pretendesse aglutinar outro mundo verdadeiro com outra grande faixa de emanações, tinha de dar um passo obrigatório a fim de afrouxar todos os laços do meu ponto de aglutinação" - O Fogo Interior.

Esse filme é como um golpe do nagual, obra de arte na arte de desafixar o ponto de aglutinação, pois é uma martelada nietzchiana na crença dos crentes de diversas ordens.

"No campo de concentração nazista de Auschwitz, um grupo de judeus coloca Deus no banco dos réus, sob a acusação de romper sua aliança com o povo judeu. Excerto do filme "God on Trial", da BBC escocesa".

A natureza de deus revelando a natureza do homem e a natureza do homem revelando a si mesma num filme que questiona a mais arraigada crença da cultura judaico-cristã: deus.

Este é um filme excelente! No estilo de 12 homens e uma sentença! O que muda é a natureza do réu. Judeus prestes a serem assassinados num campo de concentração alemão, em plena 2ª guerra mundial, colocam o seu deus em questão, por descumprimento do contrato com aquele que é tido como o povo escolhido. Colocar deus em questão é colocar a justiça divina em xeque e o filme é brilhante neste sentido, com diálogos primorosos, argumentações bem embasadas e um desfecho inesperado.

Não é um filme para quem tem crenças arraigadas ou profundo apego religioso. É um filme profundamente humano, onde na verdade quem está em questão não é deus, mas o homem e suas crenças, sua ideologia, sua visão de mundo diante dos fatos. Imperdível este filme!

Uma observação importante. A palavra deus como usada no contexto da cultura religiosa judaico-cristã é apenas um conceito, uma crença, devidamente estruturada através de um processo histórico que começa dentro de um culto tribal. A palavra portanto não pode expressar Aquilo que é por sua própria natureza indescritível. É como dissem os taoístas:

O Tao que pode ser pronunciado não é o verdadeiro Tao.

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