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quarta-feira, 1 de maio de 2024

Bruxaria, Magia e Xamanismo - parte 2 - por Nuvem que Passa


Vivemos em uma civilização globalizada. O fato é que hoje, em termos de mundo, estamos integrados de uma forma muito intensa. Se algo acontecer agora no Japão quase que imediatamente vamos ficar sabendo. Provavelmente, uma pessoa na zona rural do Japão, que esteja longe dos meios de comunicação, pode demorar mais a saber de um evento importante que aconteceu em uma cidade vizinha, do que uma pessoa morando do outro lado do mundo.

Criamos uma série de interconexões entre os países e os povos desses países. Agora mesmo estou conectado à internet, trocando informações online com pessoas em vários lugares do mundo. Esta nova forma de interagir cria um modo de perceber o mundo bem diferente das gerações anteriores. Alvin Toffler o chamou de 3ª Onda¹.

Quando olhamos para o passado para compreender as origens do que hoje denominamos Xamanismo, Magia e Bruxaria, temos que ir muito além de uma leitura intelectual de pretensas descrições históricas.

Temos que recuperar a liberdade de perceber além do que nos impuseram como realidade. Para irmos de fato as origens de tais facetas da ARTE temos que ir além do próprio conceito mundano de tempo, tal qual ele se manifesta em sua vida, este tempo dos relógios que te mantém servil. Este tempo é fruto da construção de uma realidade que é hoje dominante neste mundo.

Esta realidade foi desenvolvida a partir de elementos de diversas culturas. Tem influência dos egípcios, persas, helenos, hebreus, romanos… Vem caminhando em um jogo crescente entre grupos antagônicos que querem o poder sobre outros. Imperialismo e conquista é sua meta. Temos que estar bem atentos a estes aspectos manipuladores, a este pano de fundo imperialista que impregna toda a base existencial da chamada “sociedade contemporânea”.

Temos que estar atentos pois esta sociedade criada assepticamente em projetos de colaboração entre estes e estas que querem tudo dominar também criaram pseudo-caminhos, pseudo-xamanismo, pseudo-bruxaria e pseudo-magia, esperando por aqueles(as) que querem apenas fantasias, arrepios e brincadeiras de salão. Assim agitam a luz astral, brincam com fantasias mas permanecem limitadas ao reflexo de seu interior inconstante. 

O Xamanismo, a Magia e a Bruxaria são formas de abordar a realidade que podem ser usadas no mundo cotidiano de forma discreta e com um grau de eficiência incrível. Após eras de perseguição e dominação, aqueles homens e mulheres que de fato trilham esses caminhos se tornaram hábeis em serem discretos, quase sumidos, deixando entrar em seus círculos, vez por outra, pessoas que ainda estão operando a partir de uma visão de mundo estreita ditada pelo establishment, para que voltem e contem o que viram.

Quando olhamos o mundo, notamos que em um certo momento uma doença começa a atacar o organismo formado por todos os homo sapiens no planeta. Em vários locais a guerra de conquista e dominação, o transformar de seres em objetos, se tornam a proposta fundamental de nações e clãs.

Vamos observar este estado de consciência ir tomando área após área do Globo, as guerras de conquista do Império Romano, depois os impérios Cristãos e agora o neocolonialismo chamado ‘globalização’, onde os neocristãos com seus valores consumistas pretendem manter toda a humanidade sob sua descrição da realidade.

Há muito o que refletir aqui, pois Xamanismo, Magia e Bruxaria são heranças de outros tempos, dos tempos dos povos livres que iam e vinham pelos caminhos naturais do mundo. O presente modelo de realidade que hoje nos foi imposto, foi habilmente implantado em um projeto organizado que opera de forma sistematizada desde bem antes de Júlio César e Cleópatra, das Cruzadas e da Inquisição, e segue sempre em frente como um câncer pretendendo dominar sozinho todo o mundo.

Xamãs, Magistas e Bruxos(as) são herdeiros(as) da ancestralidade, que durante o treinamento são agudamente conscientizados de como o mundo ‘oficial’ é um campo de escravos, onde o dom da vida é cooptado por coletivos, no qual os seres humanos servem apenas como extensões biológicas de uma grande mecanismo, inconscientes do papel que desempenham.

As tradições ancestrais nos contam como funcionava o mundo no passado. Nos contam como foi a lenta queda dos povos ancestrais que viviam em harmonia com a Terra. Os conquistadores trouxeram consigo doenças físicas e existenciais e contaminaram os povos originários com ambas, matando assim em corpo e espírito milhões de nativos em poucos anos.

O passado ao qual me refiro está além do passado racional, mergulha no passado mítico, mas no mito vivo e não no mito congelado. Um passado além do tempo, onde as tradições que comentamos têm suas raízes profundas, onde a base é ao mesmo tempo a nutridora. Quando era comum, e não exceção, o estado de liberdade, de estar desperto, de perceber outras realidades, de ir e vir por mundos outros que não este.

Nesse ‘passado’ ao qual me refiro temos povos vivendo de forma muito diferente da atual, povos lidando com as diferentes realidades em seu cotidiano, assim como utilizando outras formas de interpretação.

Este passado lançou caminhos de existência alternativos, nos quais nem todas as linhas conduzem à destruição e subjugação, que são as condições que nos geraram. Mas algumas linhas² conduzem a mundos paralelos e criam vidas diferentes que agora coexistem com aquelas que habitam todos os continentes deste planeta. Pode-se dizer até que são mais reais do que a vida percebida através do ‘senso comum’, por serem extremamente livres e conscientes, em contraste com este mundo, o qual está quase todo escravizado.

Em certos ritos e práticas realizadas, utilizando-se de habilidades que o aprender efetivo nestes caminhos desperta, podemos ir até esse passado diferente, mas temos que ter cuidado para não "onirizar" o que vemos. Podemos ficar limitados ao tentar interpretar a energia percebida se utilizarmos como base um repertório ordinário, fruto de um sistema escravizante.

É importante lembrar que só compreendemos um caminho quando somos unos(as) com o caminho. As raízes da Magia, do Xamanismo e da Bruxaria vem de um tempo onde estávamos naturalmente conectados com a VIDA e seus fluxos, e o Ser Terra que nós habitamos era respeitado, como um feto respeita o ventre que lhe gera. Quem leu a carta do Chefe Seattle ao então presidente dos EUA notará tal consciência que hoje chamaríamos de ecológica. Assim o modo de interagir com a realidade dos povos nativos é muito distante dos modos que surgiram com o desenvolvimento dos impérios e seus modos de domínio.

Quando os humanos começaram a instituir a escravidão entre si ocorreu algo inédito. Pela primeira vez, propositadamente, indivíduos da mesma espécie começam a enfraquecer uns aos outros para se aproveitarem através de forte subjugação. O modo de vida que estava pouco a pouco dominando a espécie humana no planeta é um sistema onde pequenos grupos cuidam de condicionar, do berço à maturidade, novos membros de sua própria espécie para serem servis através da alienação individual com relação a verdadeira natureza do ser. Aproveitando-se de carências naturais ou geradas pela engenharia social através da religião, mídia, sistemas de governo e mecanismos financeiros, políticos e militares, conseguiram transformar a sociedade homo sapiens neste estado de coisas que percebemos hoje. Estamos a beira de um abismo, caminhando em direção ao colapso e aparentemente o sofrimento e a destruição tendem apenas a aumentar. Mesmo assim os pseudo-donos e donas do mundo continuam insistindo em sua empreitada egoica.

Os seres humanos são criados como rebanhos. “O Senhor é meu pastor, nada me faltará”. Senhor, domine, domínio. Quem já andou por granjas e anda pelas cidades ‘grandes’ vê que o sistema de empilhar as galinhas em cubículos sobrepostos e dar-lhes ração e água criou variações interessantes quando aplicado à espécie humana cativa.

Criaram dispositivos como rádios, televisores e telefones que induzem os seres humanos a não desenvolverem a habilidade de usar a própria consciência como veículo para viajar a outros lugares, assim como um conforto para apaziguar e distrair as pessoas com relação aquilo que está verdadeiramente de fato se passando neste mundo.

De Potosi, das minas de prata e ouro no ‘novo mundo’, que invadido pelos conquistadores e pela varíola quase desapareceu da existência, passando pelas explorações que acontecem agora na qual povos nativos são escravizados de formas diversas, das mais óbvias as mais sutis, em todos esses momentos há uma guerra. Os conquistadores e escravizadores subjugando e destruindo o povo nativo em essência e forma, quer pela morte, quer pela escravidão.

E tu que me lês também podes ser mais um dos que estão escravizados neste sistema que criou celas sutis, celas conceituais. A prisão perceptiva é a pedra angular deste sistema que hoje domina. E a liberdade perceptiva é a chave mestra para acessarmos as linhas onde os planos da Magia, da Bruxaria e do Xamanismo coexistem. Nós, que trazemos conosco a fogueira e os tambores dos povos nativos, nos assombramos que os(as) escravos(as) aceitem passivamente tal condição de submissão.

É hilário ver certas definições que pretendem estabelecer verdades finais. Como se a dança das energias espalhadas pelas emanações da Eternidade pudessem mesmo ser limitadas à compreensão linear e racional. O fato de só operar com uma pequena parte de si, leva o ser humano a perceber apenas uma pequena parcela da Realidade Total.

Mas a amplitude está lá, apenas esperando que decidamos usar outros canais para interagirmos com a ETERNIDADE. Uma abordagem que já foi usada antes, a qual tem o respaldo de gerações sem conta de praticantes. A abordagem utilizada no Xamanismo, na Magia e na Bruxaria partilham uma característica fundamental em comum, pode ser ensinada! Transmitida!

Aprende-se. Mas como toda ARTE, pode apenas ajudar a desabrochar o artista em ti, não pode te moldar. Na ARTE a palavra educar reencontra seu sentido etimológico original: 

“Desabrochar na essência perceptiva o que esta traz em si.” 

Cada povo tem sua linguagem, cada espécie tem sua linguagem, composta da interação com a Eternidade a sua volta. Usamos nossa mente para raciocinar, usamos nosso sentir para nos emocionarmos, usamos de nossas habilidades para nos inserirmos concretamente na realidade circundante para apenas reagir a estímulos diversos.

Assim raciocinamos, emocionamo-nos e reagimos. Mas podemos ir além disso. Podemos usar a mente, o sentir e o agir de formas plenas, de maneira que gerem campos de energia tal qual um buraco negro, abrindo portas para outras realidades.


Alguns contentam-se com a ilusão, aguardando que construam máquinas que façam isso. Mas as pessoas podem recuperar o elo com a tradição que se manifesta na Magia, na Bruxaria e no Xamanismo. Caminhos nos quais os(as) praticantes usam o próprio corpo como o mais refinado instrumento de contato com outras realidades, assim como esta própria.

Mas ao apenas ‘falarmos’ estamos nos limitando ao escopo e alcance da linguagem. E vivendo experiências diversas, tocando a realidade através de diferentes sintaxes nos encontramos em uma situação na qual é complicado falar de mares àqueles que viveram toda a vida no fundo de um poço.

Assim, antes de falarmos de outros mundos, temos que reconsiderar nossa própria percepção deste mundo. Esse mundo maravilhoso no qual estamos, mas ao qual também fomos embotados. Percebemos fragmentos da realidade. Vivemos de forma incidental e não com presença e profundidade verdadeira. 

O que sentes agora? Como está tua respiração? Que sons, imagens, cheiros te circundam? Quais são as sensações térmicas que estás percebendo?

O Xamanismo, a Magia e a Bruxaria funcionam sempre que há sinceridade por parte de quem os procura. Todas as tradições reconhecem o fato de que quando nos pomos a lutar para encontrarmos com a Verdade, ela também começa a lutar por nós, se põe a caminho e fará todo o possível para nos encontrar também³.

Ler sobre atos de poder nos faz acessar contos de poder e os contos de poder têm a inquietante capacidade de nos colocar em contato com o mundo mágico.

Há um tambor batendo no peito de cada um de nós. Há uma fogueira no interior do coração. Como está tua fogueira interior? Plena? E a luz presente no brilho de teus olhos? Quanto poder está presente nos teus atos?

Estará tal fogueira já em cinzas, fria, apenas tocos queimados de madeira sem luz nem calor? Por que isso está assim? 

O Xamanismo, a Magia e a Bruxaria acreditam que cada um de nós pode evocar uma vez na vida o Grande Fogo. O Irmão Fogo no seu aspecto Vida. Quando o Fogo é evocado em tal rito, se houver uma chispa de brasa em nossa fogueira interior, será a partir dela que a fogueira será plenamente acesa de novo. Não será este o teu momento de reacender tua fogueira interior?

E sem o calor interior da tua fogueira, sem a luz da mesma, irás usar o poder para buscar fora de si coisas que já tens em ti mas que ainda não encontrou. Essa é a primeira armadilha de quem busca o poder sem antes acender sua fogueira interior: querer usar do Poder para sanar suas carências, irresoluções e tudo mais que resulta de estar ausente de si mesmo.

Existem caminhos para recuperar o poder pessoal perdido, o Xamanismo, a Magia e a Bruxaria são caminhos que levam a esta meta. Portanto, quando vamos nos aproximar do Xamanismo, da Magia e da Bruxaria, mesmo que só aqui, para ler sobre tais linhas, é importante compreender que nossa energia deve estar bem sintonizada, ampla, presente.

Do contrário a verdadeira informação será perdida e apenas uma compreensão linear e limitada, reduzida a interpretações medianas, será notada. Se espreguice, não leia apenas, ouse fazer, se espreguice para valer enquanto lê. Abra a boca, boceje! Alongue os dedos do pé, os dedos das mãos, alongue bem! Inspire, expire. Solte e relaxe. Relaxe de uma vez!

Se pôs em prática o que leu acima vai notar que é bem diferente ler assim, em vez de apenas ler passivamente. Volte três parágrafos acima e leia de novo. Fazendo o exercício, vai notar que teu corpo estará bem mais ‘esperto’ quando terminar de ler o parágrafo.

Tu lestes com o corpo quando fizestes o exercício. Esta leitura corporal é mais ampla do que ler somente com os olhos e decodificar as palavras.

Leia: “A mão mexe em algo”. Isto é só um conto de poder! Faça! Sim! Faça aí onde estás. Mexa algo aí onde estás. Mexeu em algo? Causaste uma alteração real, efetiva na realidade a tua volta.

O Xamanismo, a Magia e a Bruxaria são atos, portanto só ler sobre eles é uma parte muito pequena para se fiar em algo. Temos que observar a nós mesmos, nos sentir em nossas próprias vidas para que a partir de uma auto-observação sincera e plena possamos ter elementos a fim de realmente entender aquilo à que estamos nos referindo quando falamos de Magia, Xamanismo e Bruxaria.

Assim sendo, sugiro um exercício importante para você praticar no dia a dia durante o período em que lê este livro. Cada vez que a palavra forma-pensamento “Eu” passar pela sua cabeça, note e anote.

Existem várias formas para anotar. Tu podes colocar vários palitos de fósforo ou grãos de arroz em um bolso da calça, e cada vez que a palavra forma-pensamento “eu” aparecer em seu campo mental, propositadamente ou não, passe um palito ou grão para o outro bolso, ao final do dia tente lembrar de cada momento em que o termo “eu” passou pela sua cabeça e confira se o número de lembranças é o mesmo de palitos ou grãos que usou para contar.

O ideal é que apenas se tire os palitos ou grãos do bolso depois de ter sido feita essa lembrança. É um exercício que ativa certos níveis de conexões internas que permitem acessar uma qualidade de energia sutil, a qualidade de energia que nos permite entender melhor que a ‘Intenção’ desses(as) xamãs, magistas e bruxos(as) da ancestralidade ainda está viva e que nós podemos nos conectar a esta linha de força.

Isto é uma informação que as linhagens xamânicas, mágicas e bruxas da Tradição tem em comum também, são caminhos com conexões profundas, cujas estruturas interiores estão em harmonia com o fluxo do próprio Tao, da Eternidade, do Intento.

O que diferencia uma linhagem tradicional efetiva nestes caminhos de uma falsa, é a realidade da energia primordial que trazem em si. Em diferentes religiões dão diferentes nomes a isso, ‘graça’, baraka.

Quando o caminho que se coloca como xamanismo, magia ou bruxaria tem mesmo essa energia viva, por transmissão direta, há uma conexão com um nível de poder muito mais amplo. Quando conectados(as) a uma linhagem assim cada esforço que empenhamos rumo a nossa meta reverbera com a própria linhagem a qual, em contrapartida, também trabalha em nós.

É sobre isso que falamos aqui. Não em definir xamanismo, bruxaria ou magia de forma linear, em conceitos tirados do sistema que se esmera em negar tais abordagens da realidade.

O que trabalhamos aqui é para o mergulho de cada um, que por estas palavras aqui se sintoniza, com a realidade vida que reflete tais caminhos. E para perceber isso há uma pergunta que tens de responder ao guardião deste portal, pois só a resposta sincera poderá realmente lhe levar para o próximo momento deste encontro. A questão é:

Qual a realidade da sua vida?

É uma pergunta dinâmica, que respondes dia a dia, instante a instante. A qualidade da tua resposta determina a qualidade da tua compreensão do que vem pela frente.

Nuvem que Passa

Notas

¹
Segundo Alvin Toffler teríamos três ondas ou três grandes mudanças na história humana gerada pelo avanço tecnológico:
  
3ª Onda = Revolução Tecnológica ou Informacional (sociedade pós-industrial);
2ª Onda = Revolução Industrial (sociedade industrial - século XVII);
1ª Onda = Revolução Agrícola (sociedades rurais ou agrárias).

Poderíamos dizer que os bruxos, xamãs e magistas de fato intentam uma 4ª onda: a revolução da percepção ou, metaforicamente, o sonho dos mil gatos. Para bruxos, xamas e magistas uma quarta onda poderá ser possível se atentarmos para o fato seguinte: a maior das tecnologias que dispomos é o potencial desconhecido dentro do ser humano.

²
Como não raras vezes a ficção revela a realidade fica a sugestão cultural: livro e série "O Homem do Castelo Alto", tal obra aborda a questão das diversas linhas temporais, do multiverso e de diferentes faixas de realidade coexistindo simultaneamente. Tal obra é do autor de Caçador de Androides, Philip K. Dick.

Wikipédia: Philip Kindred Dick ou Philip K. Dick, também conhecido pelas iniciais PKD, foi um escritor norte-americano de ficção científica que alterou profundamente este gênero literário, explorando temas políticos, filosóficos e sociais, autoritarismo, realidades alternativas e estados alterados de consciência.

³ A ideia deste parágrafo é bem ambientada numa cena do filme Matrix (1999), no diálogo inicial entre Neo e Trinity numa boate:

Neo: - O que é a Matrix?

Trinity: - A resposta está lá fora, procurando por você e vai encontrá-lo, se você quiser.



Este é um conceito fundamental e o início de tudo em termos da Bruxaria, da Magia e do Xamanismo. Nesse último a auto-observação é chamada de espreita de si, mas não nos deixemos enganar pela simples palavra, pois o conceito para ser de fato entendido precisa ser praticado. Fica-se muitos anos no esforço constante de buscar observar-se até que isto ocorra de fato. Recomendamos nesse sentido um texto do autor chamado "O Trabalho".




sexta-feira, 9 de fevereiro de 2024

Bruxaria, Magia e Xamanismo - parte 1 - por Nuvem que Passa


Xamanismo, Bruxaria, Magia. Estes três termos são muito usados hoje em dia e existe uma grande similitude entre as pessoas que se aproximam destes caminhos. Vamos refletir juntos sobre este tema começando pelo ato de falar, sobre o ato de trocar informações através de palavras.

Xamanismo é uma palavra. Ela indica, alude sobre algo, mas não é esse algo. Água é uma palavra.

A palavra água pode te fazer lembrar da substância em si, mas não pode mitigar sua sede. Assim como a lembrança mental da água e a imagem da mesma também não o podem fazê-lo.

Quando uso a palavra água a sua mente acessa memórias, experiências já vividas com esta substância. Ao especificar água quente limito o leque de opções. Água fria leva a outro tipo de lembranças.

Pense na água. Imagine a água. Visualize que bebes um copo de água. Agora, se quer mesmo estabelecer uma comunicação mais ampla entre nós, levanta e vai tomar um copo de água. Se fizeres isso vais notar como é totalmente diferente lidar com um conceito, como o da palavra água e tomar água de fato. Portanto o termo água alude a algo efetivo que existe, com o qual tu tens contato, mas não tem o mesmo valor de resolução.

Não mitigas a sede com palavras, só com a substância. Da mesma forma os termos Xamanismo, Bruxaria e Magia não podem ser completamente compreendidos só com abordagens teóricas.

Vamos aludir, vamos nos aproximar, vamos mesmo demonstrar certos fatos de tais práticas, mas note que a compreensão profunda só virá quando tu, que lês estas linhas, fores também alguém que sente a ARTE em tua essência.

Esta é uma abordagem que somente os praticantes podem contemplar plenamente. Porque, em primeira instância, estas três formas de caminhar na existência fazem parte de uma mesma faceta tradicional do conhecimento, a qual transcende toda e qualquer forma de conceitualização. Assim optamos por chamar este o “SABER DOS SABERES”, o qual inclui tudo aquilo que podemos conceber como ARTE.

A ARTE é pois Filosofia, Ciência e Mística. Arte em sua mais plena expressão. Durante nossa era decompusemos a abordagem da realidade nestas formas. Ou abordamos a realidade filosoficamente ou cientificamente, ou misticamente ou artisticamente.

Em resposta à extrema dependência de uma abordagem mística da realidade, típica de certos séculos anteriores, que em verdade é apenas ‘misticóide’, esta Era se esforça por ficar limitada ao que chamam de “concepção científica da realidade”. Insistem em tentar provar que campos como os fenômenos paranormais são ‘científicos’.

Mas a questão central é que, os paradigmas nos quais se apóiam para caracterizar algo como científico contradizem até mesmo as bases da própria noção de ciência, já que a busca de respostas verdadeiras deveria ser a premissa fundamental da ciência, ao invés da manutenção de uma ideologia dominante para manter sociedades inteiras servis.

O Xamanismo, a Magia e a Bruxaria foram perseguidas, e ainda são, em muitos setores desta sociedade que aí está. Vejam as campanhas constantes contra terreiros de Umbanda, Candomblé e movimentos Nova Era por parte dos segmentos mais fundamentalistas de certas religiões em franco crescimento. Estas perseguições são apenas uma das facetas desta luta contra toda forma de trabalho mágico não contemplado pelo paradigma vigente imposto sobre a sociedade.

Esta luta entre campos ideológicos se reflete também na chamada ciência acadêmica, na qual indivíduos com inflados egos influenciam o rumo das pesquisas e no conceituar do mundo, para que certos modelos da realidade não sejam de todo alterados.

O Xamanismo, a Magia e a Bruxaria são formas de abordar a realidade que têm sido perseguidas há tempos em diferentes civilizações. Por que tais caminhos despertam tanto medo? Observando com atenção notamos que sempre que se estabelece um regime absolutista, desejando impor sua vontade privada sobre a vontade coletiva, tais caminhos são os primeiros a serem perseguidos. Toda vez que o poder despótico se faz sentir, os caminhos citados são perseguidos. Os povos nativos continuam sendo oprimidos até hoje. Destruídos enquanto cultura e enquanto vidas, mortos em conflitos diversos.

A Magia e a Bruxaria ganharam espaço entre certas camadas sociais e acabaram fazendo uma lenta migração de volta ao sistema dominante, ressurgindo com força entre vários magistas e bruxos que vem alimentando a cultura oficial com obras nas quais narram suas aventuras e descobertas na vastidão de outras realidades que circundam a nossa.

Lendo os autores originais, e não aqueles que baseiam suas ‘descobertas’ apenas na leitura de outros, ou seja, aqueles que  empreendem uma maior aproximação da fonte a partir da qual tais informações emanam, vamos notar questionamentos profundos sobre a vida, a morte, a consciência, a realidade imediata, a existência de realidades outras que não esta, assim como outros seres habitando mundos ao redor deste. Seres alienígenas à nossa realidade porém presentes em nossa própria realidade mas não perceptíveis a nós. Muitos temas foram investigados por vários indivíduos, homens e mulheres que tiveram acesso a fragmentos de informações, outros à escolas autênticas possuidoras de elos com a ancestralidade da qual este SABER emana. Muitas linhagens diferentes foram contatadas por estas pessoas que tinham em si o ímpeto de aprender mais sobre os mistérios que nos circundam e a escrever sobre isso.

Upasika¹, Aleister Crowley, Therion²; Fernando Pessoa, na multiplicidade; mais recentemente Carlos Castañeda, também conhecido como Charles Spider; entre muitos foram sondar outras realidades e acabaram encontrando de fato abordagens da realidade completamente diferentes das que esperavam.

O Xamanismo, a Magia e a Bruxaria, tal qual são concebidos e praticados hoje, sofreram profunda influência destas pessoas, pois foram elas que fizeram as primeiras traduções dos conceitos ancestrais destes caminhos para a sintaxe da nossa cultura. Quando colocados na sintaxe da nossa cultura, tais informações adquirem mesmo um caráter de revelação.

Re-Vela. Indica, alude, mas também confunde, coloca o véu novamente, pois definir estes caminhos e falar sobre eles pode nos levar a realizarmos falsas associações, re-significações e interpretações a respeito destes caminhos de acordo com nossas presunções, e a partir daí, alienar ainda mais em vez de despertar. Tanto no Xamanismo, como na Magia como na Bruxaria a primeira premissa é que só pode trilhar estes caminhos Aquele que ‘É’. Em todas as obras produzidas sobre estes caminhos vamos perceber que, de forma declarada ou subliminar, o instrutor sempre começa guiando o(a) aprendiz a deixar de ser apenas uma resultante dos condicionamentos do meio, dos inúmeros fatores que afetaram sua existência até então, para somente assim estabelecer um ‘EU’ real.

Alguns lidam com uma viagem pelas esferas da Árvore da Vida e do Tarot para este trabalho, no qual o ser, que tal caminho trilha, lida com seus medos, condicionamentos, carências, vaidades e vai se reintegrando, resolvendo sua sombra, e, então, após atravessar o abismo no qual deve despir-se para tornar-se ‘si mesmo’, emerge como um novo ser. Aquele que ‘É’! Só então começa a magia. Antes havia apenas um agitar semiconsciente da luz astral, do grande mar de energia que nos circunda e gera, ao redor de nós, uma atmosfera psíquica que pode gerar fenômenos diversos, mas que é também uma grande ilusão, Maya, um mitote³.

Este fato é muito importante. Tanto no Xamanismo, como na Magia como na Bruxaria, o primeiro passo é deixar de meramente sobreviver para VIVER, deixar de reagir para AGIR.

Esse lembrar de si, esse resgatar a nós mesmos e ir além das ilusões que aí estão, é a condição básica para que haja Xamanismo, Magia ou Bruxaria.

Xamãs, Magistas e Bruxos(as) são homens e mulheres que antes de mais nada, ‘SÃO’. Para poderem operar efetivamente no domínio desses caminhos têm que ‘SER’, ou serão destruídos quando as fronteiras da realidade se expandirem. 

A VONTADE é o começo de tudo, a mais fundamental conquista que um(a) Xamã, um(a) Magista ou um(a) Bruxo(a) deve ter realizado para não ser destruído pelos poderes e esferas com as quais pretende interagir. VONTADE em um contexto diferente do comumente expresso. Não tem nada a ver com desejo, volição ou qualquer outra forma de expressão que conheçamos.

Tanto quem trilha o caminho do Xamanismo como da Magia como o da Bruxaria sabe que VONTADE aqui tem outro sentido, outro significado. É a forma pessoal que cada um tem de expressar um poder muito maior, que é a própria ‘VONTADE da Eternidade’ que nos circunda.

Só quem ‘É’ pode ter VONTADE. Este é um sentido que escapa a muitos leitores das obras de quem esteve estudando esses caminhos e sobre eles escreveu. 

Vejam Crowley: 

“Faze o que tu queres…”

Esse ‘Tu’ é um conceito complexo. Indica que existe alguém de fato, e não apenas um aglomerado de estilos de emocionar-se, raciocinar e reagir ao qual nos referimos como ‘eu’.

Lendo Erva do Diabo e Uma Estranha Realidade, milhares de pessoas pelo mundo ficam a vagar erraticamente ao se super estimularem com plantas de poder diversas, crendo que o ‘espírito da planta’ vai lhes revelar algo que não sabem. Mas o cerne abstrato do aprendizado ali era outro. Tudo ali estava sendo usado como meio de trabalho por alguém que tinha maestria na ARTE. Assim ficar preso em leituras literais de qualquer obra que toque a ARTE é como ser um fundamentalista e basear sua vida em interpretação literal de textos adulterados que foram escritos em outra cultura.

O que chamo atenção, é que, antes de atabalhoadamente irmos a definições e diferenças entre Xamanismo, Magia e Bruxaria temos que repensar nossos paradigmas. Nossas bases conceituais sobre as quais assentamos nossa compreensão de mundo. 

Uma condição fundamental é compreender que quando estamos falando de XAMANISMO, MAGIA e BRUXARIA no contexto dessas linhagens que tem de fato ligação com a ARTE, existem pontos muito interessantes de semelhança entre ambas que tem sido deixados de lado. Vamos a eles.

O primeiro deles é o fato que todo caminho que leva a ARTE começa por auxiliar o ser que trilha tal caminho a se desvencilhar do pesado passado que carrega consigo, da insana absorção em conceitos prontos e de condicionamentos estáticos que foram implantados em cada ser humano nesta Era de escravos em que vivemos.

Aqui tocamos em um ponto sensível. Todo sistema feitor de escravos sempre lutou arduamente para destruir tudo ligado ao Xamanismo, Magia e Bruxaria. Por quê? Por serem caminhos de LIBERDADE. Aqui temos outra definição importante. O Xamanismo, a Magia e Bruxaria sempre foram caminhos de homens e mulheres livres. Que alguns desses homens e mulheres tenham caído em formas de prisão muito mais sutis e perigosas que a prisão deste mundo ao tentarem se aproximar da ARTE é um fato. O qual alerta a todo praticante que arrogância e presunção são estilos de comportamento que nos dirigem diretamente para as iscas que existem no vasto mar que vamos descobrindo quando nos dedicamos a ARTE.

Tanto o Xamanismo como a Magia e a Bruxaria apresentam diversas formas de manifestação. Existem também muitas formas de cultos que nada têm a ver com a essência do Xamanismo, da Magia e da Bruxaria, mas que, ainda assim, se apresentam como tal.

Temos, no tocante da Bruxaria, o agravante de ter sido fortemente deturpada pelas falsas acusações e testemunhas sob o terror de tortura, ou mesmo sob a ameaça dessa. Criando fantasias sem fim que serviam bem aos propósitos dos que desejavam incitar o medo contra tais práticas e conhecimentos. Na Magia temos deturpações como ‘magia negra’. Criação também da Inquisição que ainda hoje assusta a tantos. No Xamanismo, temos um grande número de índios que imitaram formas de agir sem compreender a essência dos verdadeiros xamãs, e assim, repetem hoje ritos e formas, mas sem o poder que caracteriza toda ação de fato xamânica. Mas além destas deturpações temos o XAMANISMO de fato, a MAGIA de fato e a BRUXARIA de fato, sobre estas facetas da ARTE é que falamos aqui. 

Nuvem que Passa - 28/01/2001

Notas

¹ Upasika Kee Nanayon ou Kor Khao-suan-luang foi uma upāsikā (devota e seguidora autodidata não ordenada da tradição búdica theravada) tailandesa de Ratchaburi (1901 – 1978). Após sua aposentadoria em 1945, ela transformou sua casa em um centro de meditação com sua tia e seu tio. Suas palestras e poesias sobre o Dharma eram amplamente divulgadas. Tornou-se uma das professoras de meditação mais populares da Tailândia. Muitas de suas palestras foram traduzidas para o inglês por Thanissaro Bhikkhu, que a considera “indiscutivelmente a principal professora do Dharma na Tailândia do século XX”.

Upasika também é um dos termos que os Mestres ou Mahatmas usavam para referirem-se à H.P. Blavatsky. A influência de Blavatsky foi e é enorme para a cultura ocidental dedicada ao estudo das tradições antigas do Oriente. Fundadora da Sociedade Teosófica, escritora da obra "A Doutrina Secreta", dentre outras. Upasika = servidora, aquele que serve.

² Therion (thēríon) (grego: θηρίον, besta) é uma divindade encontrada no sistema místico de Thelema, que foi estabelecido em 1904 com “O Livro da Lei” escrito por Aleister Crowley.

³ Mitote, segundo Dom Miguel Ruiz, autor do livro "Os 4 Compromissos":

"Toda a sua mente é um nevoeiro que os toltecas chamam de mitote. Sua mente é um sonho em que mil pessoas conversam ao mesmo tempo, e ninguém entende o outro. Essa é a condição da mente humana — um grande mitote. Graças a ele, você não consegue enxergar o que realmente é. Na Índia, o mitote é chamado de maya, que significa “ilusão”. É a noção pessoal do “Eu sou”. Tudo em que você acredita sobre si mesmo, sobre o mundo, todos os conceitos e programas que você tem na mente, todos formam o mitote. Não conseguimos ver quem realmente somos; não conseguimos perceber que não somos livres."

⁴ É muito difícil compreender esse ponto relativo ao SER, pois como alguém que não é pode vir a entender o que É? A simplicidade das palavras aqui pode ser muito enganosa. Talvez uma história possa nos ajudar a entender esse ponto. A história está no último capítulo de Viagem a Ixtlan, trata-se do encontro de Dom Genaro, benfeitor xamânico de Carlos Castaneda, com o aliado, entidade de natureza inorgânica que auxilia o xamã em suas atividades. Para SER é necessário que haja em nós um centro de gravidade permanente, um núcleo ao redor do qual o SER possa se estabelecer e este é mesmo um dos objetivos do TRABALHO sobre si.



domingo, 7 de janeiro de 2024

Sabemos, realmente, que somos mortais?


Sabemos, realmente, que somos mortais?

O fato da morte, da dissolução ao final desta existência nos coloca em um ponto completamente diferente de todos os caminhos tidos por espiritualistas e esotéricos hoje em moda.

"Espreitamos a nós mesmos como seres mortais ou imortais?"

A diferença do enfoque desta espreita é determinante em nossas posturas existenciais.

Conversando com muitas pessoas em situações diversas noto muitas delas alegando que trabalham com os paradigmas toltecas, mas neste ponto da continuidade da existência tentam sempre elocubrar, tergiversar, enfim, há sempre um "medo" de encarar a morte como o evento que dissolve nossa existência individual.

Concordo contigo na reação a esse fato, há um "sobressalto" inicial, por vezes assustador, mas logo depois vem a certeza que tudo que temos é esse "aqui e agora".

É tão profundo este jeito de viver, de se relacionar com o mundo, cada instante, cada momento, pode ser o momento final, pode ser o ponto final em nosso discurso existencial, assim, para alguém que lida com esta abordagem do caminho, não há dúvida que cada instante é tudo que temos e a qualidade de nossa vida em cada momento determina se estamos fluindo pelo Mar Escuro da Consciência ou continuamos na condição de navegantes num rodamoinho artificial, que nos leva para o fundo tendo a ilusão que estamos indo para algum lugar.

Está demonstrado que a energia disciplinada e focada é "ruim" para os predadores, eles não apreciam esse estilo de comportamento, assim agir com foco e disciplina é impregnar nossa energia pessoal de um "gosto" que não agrada os predadores.

Quando nos conscientizamos que só há o aqui e agora, tudo muda.

Descobrimos que não podemos perder tempo, não podemos nos manter num caminho sem coração, pode não haver um amanhã ou um "depois" para dizermos a quem amamos, o tanto que amamos, para fazer em cada momento de nossas vidas o que queremos e não o que querem por nós.

Precisamos olhar a nossa realidade circundante e corajosamente questionar : estou num caminho com coração?

É aqui que gostaria de estar?

Se houver um não como resposta a questão é: por que não mudamos já?

Ou estamos esperando papai do céu?

É radical, é revolucionária a proposta de vida daí resultante.

Sem dúvida alguma é a plena compreensão desta abordagem que nos dá a força e a integridade para fazermos de cada ato um gesto para o infinito, um gesto para a Eternidade.

É muito bom enfatizar isso pois tem pessoas que se aproximam das propostas Toltecas achando que estão em alguma religião que se "seguirmos os preceitos" encontraremos alguma "recompensa", "reinos do céu", " prêmios sagrados".

Total ilusão.

Um trabalho de vida inteira pode resultar em nada, pode levar a lugar nenhum.

É interessante compreender que pode haver um sobrevivência de personalidade após a morte física.

Temos muitos casos em várias tradições de seres que continuam a se comunicar após a morte, mas o que o caminho Tolteca coloca é que nestes casos temos "filamentos" sobrevivendo, os mesmos filamentos que voltam para a Eternidade um dia, os mesmos filamentos que vão e voltam, "encarnado" em outros seres e confundidos com "minha vida anterior" pelas práticas reencarnacionistas.

O conjunto de fibras que "animamos" durante a vida pode se cristalizar, há cristalizações de vários tipos, este ser pode sobreviver se, por diversos caminhos, tivermos criados um corpo de energia, vai sobreviver ainda mais tempo se certas medidas forem tomadas, vejam o trabalho dos ancestrais em mumificar o corpo ou agir de formas outras para garantir que o corpo dure por muito tempo.

Mas todas estas práticas apenas geram uma sobrevida, não a pretensa imortalidade.

No Fogo Interior D. Juan Matus revela uma linhagem de desafiadores da morte que enterraram seus corpos físicos em certos locais do México, o problema dessas práticas é que levam a um estado de continuidade, mas não de liberdade.

A sutileza do Caminho Tolteca, revolucionariamente ele não apenas trabalha as questões dos(as) desafiadores(as) da morte mas foi além, descobriu esta possibilidade, essa chance que temos de ter chance de reivindicar o "presente da águia", podermos entrar noutra condição de atenção, noutra condição de realidade que não é nem a primeira atenção, esta que nos circunda, nem a segunda atenção, que abrange mundos outros que não este, mas um estado misterioso, chamado de terceira atenção, onde, após morrermos e abandonarmos esta primeira e segunda atenção, após devolvermos a consciência que nos foi "emprestada" para a desenvolvermos com nossas experiências, podemos reivindicar, se tivermos energia e intento para isso, um estado existencial distinto.

Mas tudo isto são possibilidades, algo que "pode" acontecer, para o qual não temos nenhuma certeza.

Por isso, a meu ver, o (a) praticante do caminho Tolteca, intenta estes objetivos com sua mais profunda percepção e isto reflete na VIDA.

Para meu entender, praticar as propostas do Caminho Tolteca é um ato de cada instante, de cada momento, cada mínimo ato é um profundo desafio.

Ler este mail, a postura que estamos, nosso cocar colocado, nossa sintonia, atos simples como lavar um copo, andar, estar onde estamos, tudo isto é tido como um desafio, como um trabalho para ampliar a consciência e nos afastar da condição robotizante que é a " normal" e nos despertar para as tremendas possibilidades ao nosso alcance.

Fomos condicionados a agir como máquinas, em vários setores de nossas vidas, estar aqui e agora, pleno, isto muda tudo, se nos conscientizamos que a vida é única, que esta vida é tudo que temos de fato, que este momento é nosso único e efêmero instante, tudo muda, nossa qualidade de existência se transforma para outros valores e podemos ousar deixar de sermos robôs e entrarmos na condição distinta de seres vivos, auto-conscientes.

Estou numa empresa que dou consultoria em São Paulo. Fico observando como as pessoas são sugadas na cidade grande para estarem mais robotizadas, fora dos ciclos da natureza.

Agora enquanto escrevia este mail fui até a linha de produção passar para eles uns exercícios físicos de alongamento, destinado a evitar LER (lesões por efeitos repetitivos).

Fiquei observando como as pessoas fazem as coisas automaticamente, nestes momentos que paramos para estes exercícios há uma mudança do "automatismo", por alguns instantes elas estão ali mais presentes, o sorriso, os comentários, é incrível observar como a energia muda por alguns instantes.

Mas alguns instantes depois já voltam a uma participação mais "dormente".

E nós?

Como estamos?

O dia todo, cada instante é um desafio ou temos "momentos" e depois permitimos que os "problemas" do dia a dia, nossas atividades outras nos consumam e nos adormeçam?

O desafio do (a) praticante de caminhos como o Tolteca é justamente ir além do automatismo, é despertar de fato para nossas potencialidades interiores.

Só aí temos vida, antes temos sobrevivência.

É muito interessante observar isso.

Não fomos "criados" para este estado, não é nosso destino "evoluirmos" para esta condição.

Não é um “caminho" espiritual.

O Caminho Tolteca é uma descoberta, resultado do estudo, da observação, dos erros e acertos de gerações incontáveis de homens e mulheres.

É muito trabalhoso porque não é "natural", é um caminho de desafios constantes e crescentes.

É muito importante entender isso, o Caminho Tolteca não é uma "revelação".

Se estudamos com cuidado vamos notar que no começo o caminho Tolteca ajudou a induzir muito erros, vejam os ancestrais desafiantes da morte, as armadilhas sutis que caíram.

Notem por exemplo quantos praticantes caíram no mundo dos seres inorgânicos, os desafios iniciais quando julgavam que a segunda atenção era um mundo "espiritual", "superior", como tantos caminhos ainda hoje julgam ser, enfim, tais equívocos só foram superados pela prática e observação de incontáveis gerações.

E é interessante observar que muitas práticas que são apresentadas como Xamanismo hoje, são abordagens dentro desses paradigmas ancestrais.

Os (as) Toltecas não foram apenas um povo no sentido étnico. A comunidade xamanística Tolteca foi um estado de consciência, atuando em vários pontos de uma vasta região.

Eventos intensos foram forçando mudanças perceptivas quanto a realidade.

Foram momentos duros, como a invasão e subjugação, primeiro pelos povos nativos mesmo, como Astecas e outros, depois pelos conquistadores europeus que levaram o Caminho Tolteca a afastar-se de tudo que era mera fantasia e buscar um pragmatismo cada vez maior e efetivo.

Dentro de sua tribo os(as) Toltecas eram capazes de manipular o ponto de aglutinação de todas as pessoas que estavam ali, mas quando chegaram os invasores tudo mudou, poderosos(as) xamãs morrendo como moscas.

Os(as) sobreviventes foram então avaliar, avaliar como eles sobreviveram e os outros não, como seus " aliados" os ajudaram e aos outros não e então muita coisa mudou, pois começaram a perceber que a questão chave estava no "poder pessoal".

Hoje somos herdeiros desse caminho, os novíssimos videntes.

Os antigos videntes, adeptos de práticas que valorizavam mais os fenômenos e o contato com a segunda atenção como se ela fosse um mundo "espiritual" e tal, evoluiu para o caminho dos novos videntes, quando sob ataque de grupos diversos os herdeiros e herdeiras do Caminho foram se aprofundando em práticas mais profundas e de efeitos pragmáticos e hoje, graças a ação implacável do Nagual de 3 pontas, podemos partilhar deste milenar saber e arriscarmos nossa chance de continuar a aventura que nos é proposta, a chance de termos chance.

Cá estamos, praticantes deste desafio intentando esse sonho fugidio.

Nuvem que Passa
 Qui Jul 4, 2002 10:17 am

Homenagem à Morte com Mantra



domingo, 31 de dezembro de 2023

Egrégoras e energia natural - parte 2 (final)



Egrégoras e energia natural - parte 1 (no link).

Existem diversas realidades, esta mesmo que vivemos tem variações e existem mundos paralelos tão parecidos com esse que sei de xamãs que acordaram nestes mundos e nunca mais voltaram para este e nem ficaram sabendo disto.

A densidade e a "vaporozidade" dessas realidades é relativa e depende do ponto de vista do observador, de onde vem e para onde vai. Efêmero me parece tudo que existe frente a vastidão da Eternidade.

Quando falamos em "mundos que geram energia" e "mundos que não geram energia" ou "mundo espectrais" é justamente para diferenciar mundos que tem relação com as propostas dos(as) xamãs que sabem ser importante ampliar sua própria energia pessoal e mundos que apenas consomem o poder pessoal do (a) xamã nada lhe acrescentando.

Assim a discussão no xamanismo vai mais longe que "realidade" ou "não realidade" e falamos de realidades condizentes com a estratégia de vida de um (a) xamã que busca a liberdade total e realidades não condizentes com esta proposta.

É bom lembrar que xamãs guerreiros(as) agem sempre por estratégia, não por princípios. Grande parte do treinamento inicial de um(a) xamã guerreiro(a) é aprender a ver a energia diretamente, além das barreiras da socialização. Este "ver" é interessante... Muitas vezes sonhei em ter a tal "clarividência" e a vez em que vi, de fato, me apavorei tanto, que me neguei a ver de novo... Tudo isto para anos mais tarde...livros e vivências depois... perceber que o "ver" independe de olhar... independe de forma visual... Muitas vezes é como um rastro de perfume, que passa por vc e pode ser deslocado no momento seguinte com uma simples brisa... Muitas vezes é como um toque suave de uma pluma invisível. Este "ver" deve ser constante e não basta apenas o "ver" que surge momentaneamente... E esta deve ser a maior dificuldade. Sim, VER aqui é um modo de dizer, como o sentido visual predomina em nossa estrutura "ver" acaba sendo usado para descrever esse estado de consciência que não é apenas visão, é o corpo inteiro percebendo a realidade. Ver acontece quando calamos nosso diálogo interno, quando paramos de dizer para nós mesmos o que nos disseram que era o mundo, então, outra descrição, esta mais ancestral, vinda da noite dos tempos, emerge, silenciosa em nosso interior e nos leva a perceber o mundo de forma completamente diferente da que até então estávamos habituados, para alguns caminhos isto é chamado VER, mas é mais que o sentido restrito do termo.

Mas uma egrégora não gera energia por si. Ela é alimentada, é resultante, daqueles que a geram e a mantém. Posso deduzir então que ela exige um esforço maior... Que pagamos um preço por nossas pequenas criações. Enquanto, se seguirmos o fluxo... se seguirmos a estranha e invisível estrada que guia os pássaros no inverno e os peixes na época da reprodução, então, realizaremos nosso objetivo com mais facilidade, menos desgaste e profunda harmonia com o Todo. Correto dizer isto? O Taoismo e o Xamanismo Guerreiro lidam exatamente com esta proposta, descobrir os fluxos do Tao ou do Intento e buscar fluir em harmonia com eles. Note porém que não é uma proposta passiva no sentido de apenas "seguir" é muito mais complexo que isso, por isto estes temas tem que ser abordados com todo o cuidado, a mente comum do ser humano, esta instalação alienígena que trabalha muito mais contra nosso despertar que a favor, não pode querer decodificar as coisas aqui em seus parâmetros, precisamos mergulhar em nosso sentir, na profundidade de nós mesmos para compreender mesmo o que tais termos como "fluir com o Tao" querem realmente dizer.

Ordens iniciáticas realizam ritos com certos padrões comuns em todas suas secções entre outras coisas para alimentar a mesma egrégora, fortalecer a "alma grupo" da irmandade.

Isso acontece em muitas ordens que dizem ser da "mão direita", não por "maldade", mas por desconhecimento de muitos que dela fazem parte. Com a pretensão de serem os "bonzinhos", logo os favoritos e especiais do universo, tais ordens deixam de explicar que fazem parte das mesmas leis que todas as outras formas de manifestação humana e que a energia é usada nestes grupamentos dentro de certas leis, como estas que comentamos. Há um dado mais sério aqui, muitos dos ritos dos povos nativos foram criados com finalidades específicas para um povo e região. Esses ritos foram criados para que tais pessoas naquele momento e naquela região se sintonizassem com poderes específicos. Outros ritos foram gerados para dar continuidade a função do ser humano enquanto vida orgânica sobre a Terra, captar energia que vem da Eternidade, metabolizá-la e entregá-la a Terra, ao Ser Terra e vice versa, captar energia do Ser Terra e metabolizá-la para que possa seguir a escala ascendente. Assim existem ritos que até hoje são celebrados por imitação que serviram em um tempo e espaço para funções que hoje estão perdidas, tais ritos viram um simulacro, onde podemos "agitar a luz astral", mas pouca coisa além conseguir. Tudo isso deve ser meditado antes de nos pormos a fazer ritos de ordens e "irmandades", ritos que algum pesquisador "catou" em livros ou assistindo pessoas que imitaram a forma mas perderam, em alguns casos, o conteúdo. Povos inteiros guiados pelos seus homens e mulheres xamãs deixaram essa realidade e foram viver em outros mundos.

Esta é a essência de todo o xamanismo guerreiro, assim como do Taoismo que estou aprendendo e de ramos esotéricos do Budhismo, de certas escolas de Yoga e de tantos outros caminhos chamados de iniciáticos. A imortalidade, ou melhor dizendo, a continuidade de nossa existência singular é "possível", é "alcançável", é "atingível" mas precisa de muito, muito trabalho e é este trabalho que o caminho do xamanismo guerreiro propõe.

Somos criaturas de sintaxe. Eu noto que alguém está realmente entrando no Caminho da ARTE quando começa a questionar as palavras, o vocabulário que usava, quando começa a perceber o quando estava enredado em frases e definições que nada diziam de fato. Questionar as palavras, o falar é questionar as bases paradigmáticas que nos deram, toda ela construída em palavras. Só depois de termos lidado conscientemente com as palavras podemos ir questionar e lidar com outros níveis de condicionamentos que temos, estes não verbais.

O fato é que o trabalho do xamanismo (guerreiro) é muito árduo porque ele é sem esperança, sem ilusões, luta-se por uma possibilidade, por um sonho que pode nunca ser atingido, mas com desprendimento e desapego lutamos com total foco na liberdade. Uma pessoa pode sobreviver a morte enquanto personalidade. E é aqui que o xamanismo guerreiro entra deixando claro um ponto. Uma personalidade é como um único programa dentro de seu computador, digamos o office. Vc usa muito o office e ele acaba sendo sua identidade. O computador quebra e o office se salva e instalado num novo computador. O office pode até mesmo sobreviver fora. Mas frente a riqueza que é um computador, tudo que há nele, todos os programas, o office é uma ínfima parte. Foi isto que os(as) xamãs guerreiros(as) descobriram após milhares de anos observando. Este tipo de sobrevida era uma farsa, a Totalidade do Ser era perdida e só um aspecto continuava. Isso levou os(as) desafiantes da morte a buscarem outros caminhos. Alguns povos, como alguns grupos e mesmo alguns xamãs isoladamente, criaram na amplitude da "Segunda Atenção" ilhas de existência.

É impossível falar da segunda atenção, podemos só aludir a ela. Chamamos de primeira atenção a este mundo, todo ele, tudo que percebemos em nossa condição usual de percepção. Existe um campo mais amplo da primeira atenção que não usamos, porque participamos muitas vezes de forma dormente e robótica da vida. A segunda atenção é tudo que vai além da primeira, todas as inenarráveis realidades que habitam as outras camadas da cebola. Os toltecas ensinam que temos dois "anéis" de poder, cada um deles conecta-nos com uma realidade. O primeiro anel de poder é este, que lida com a realidade, nasce e é cultivado em nós e então nos envolve, como uma bolha, fechando dentro de si nossa percepção e passamos a ficar presos nessa "realidade" que foi programada em nós.

As escolas de Xamanismo Guerreiro desenvolveram um método dos mais interessantes para ir ao segundo anel, ou a segunda atenção. Perceberam que grande parte da falha dos antigos e causa de sua queda, foi justamente ir para a segunda atenção com seu "eu" normal, caprichoso e cheio de estilos de agir que tornavam tais homens e mulheres presas fáceis de armadilhas várias que existem num universo predador como o nosso. Então resolveram que o treino de um(a) xamã começa por dividir a " bolha " da primeira atenção em duas metades. Em uma metade ficam todos os conceitos de vida, em outra nada, apenas o vazio.

Então, feito isso o (a) aprendiz se concentra em reorganizar a metade que ficou com os conceitos de vida. Não que possa jogar algo fora, mas pode mudar o enfoque, a importância de certos itens. Pode, por exemplo, afastar a vaidade da posição de conselheira e colocar a Morte. A vaidade vai continuar ali, como a morte estava, mas agora a importância de cada uma é diferente. Então, quando a essência perceptiva tiver reorganizado sua "ilha" vai poder ir para a parte vazia da "bolha" e através dessa parte vazia, isto é, silenciosa, sem conceitos prontos, encarar a Eternidade que existe fora da Bolha. Todos os mundos infinitos que não estão na Realidade Oficial, estão na Segunda Atenção. A primeira atenção é uma área pragmática de atividades para um ser humano enquanto ser humano, enquanto pessoa. A segunda atenção não vem "naturalmente" é fruto de um desenvolvimento proposital e é uma área pragmática de atividades para um ser humano enquanto xamã.

É um dos poderes do Sonhar, poder criar um mundo réplica de um que exista, ou mesmo algo totalmente novo, só pelo poder do Intento do(a) xamã que assim age. Mas tais mundos são mundos espectros, mundos que não geram energia e este é o perigo de se desenvolver em corpo sonhador sem amadurecer primeiro, sem sair dos joguinhos e dos pueris paradigmas que as religiões e as pretensas filosofias espiritualistas nos deram sobre o que são "mundos evoluídos", "mundos superiores" e os "seres de luz e pureza" que nos esperam lá.

Para realmente irmos a um mundo que é espectral temos que ter um corpo de energia, ou corpo de sonho em pleno funcionamento e isto é raro. Este detalhe é importante no xamanismo, para entendermos realmente a ARTE de Sonhar. O ponto de aglutinação pode se deslocar para fibras em nosso interior que nos colocam em outros mundos. Mas vamos ali, nestes outros mundos, enquanto entidades perceptivas, ir com o corpo de energia plenamente funcionando é outra coisa.
Também, aqui valem os ensinamentos de Mestre Yoda: um jedi, como um xamã, usa a "força" para sabedoria e defesa, não para o ataque". Se avaliarmos bem isto implica que o uso da "força" está no conhecer da Eternidade (sabedoria) e no continuar vivo e livre (defesa). Por isso no Xamanismo Guerreiro, não trabalhamos com divindades criadas pelo ser humano, ou egrégoras conscientes, buscamos diretamente na fonte, vamos a Terra, enquanto ser vivo e a seus poderes e manifestações, como ventos, cachoeiras, trovões, montanhas, chuva, vales, enfim, vamos a força manifesta em si, não a "representações" das mesmas.

Isto tem um poder tremendo, somos parte da Terra, não podemos viver sem contato com ela. Por isso os hospitais estão cheios, as farmácias vendem tanto e as pessoas andam tão deprimidas, perderam contato com o SER Terra que é nossa nutridora, que é parte de nós como somos parte dela. Quando recuperamos plenamente nosso elo com o Ser Terra surge um tipo de felicidade em nós, de plenitude, algo que não pode ser ameaçado ou tirado como outros tipos de felicidades, algo que nos torna plenos.

Isso é claro pra mim também, contato direto com a VIDA sem muito efeitos carnavalescos. Os ritos muito elaborados vieram sempre de grupos que estavam menos em contato com a Vida e mais com o intelecto. Tenho percebido que os rituais têm servido para testar a minha disciplina muito mais do que para "despertar poder" ou ampliar consciência. A não ser os rituais que chegam e se apresentam... como uma inspiração... como o vento que sopra no ouvido o gesto certo e a palavra adequada. Aí tb funciona bem! Para os(as) xamãs guerreiros um rito tem uma função principal: Desviar a fixação obsessiva que temos em nós mesmos, quebrar as amarras da auto-reflexão, diminuir o diálogo interno. Esta é a função do rito, pois o que provoca o resultado de um trabalho mágico não é o rito, mas o poder pessoal de quem o realiza e se conseguiu ou não alinhar sua vontade com o INTENTO.

"O xamanismo guerreiro é magia, não pode reconhecer coisas como "rezar" para algum poder. O termo rezar, tal qual é usado hoje, vem num contexto de pedir, de suplicar, de um ser suplicante implorando e chantageando uma força superior, tentando suborná-la com sacrifícios e promessas para que ela ceda e atenda o "suplicante".

Há uma diferença entre "suplicar a uma divindade" com algum tipo de propina para ser atendido e entrar em sintonia com os fluxos da realidade para fluir naquele que leva aos resultados que almejamos.

O Ser Terra é muito mais poderoso que qualquer egrégora humana criada, é mais antigo, mais pleno, e está em sintonias com certos "planos" que nós humanos sequer intuímos existir. Assim quando nos conectamos ao Ser Mundo para agir magicamente estamos na realidade entrando em sintonia com um poder que transcende o humano e tal poder "mais que humano" é uma energia muito mais poderosa para trabalhar no alcançar dos nossos objetivos com o rito que estamos realizando que um poder "humano" por mais ancestral que seja.

É bem interessante isso mesmo, isso é um dos aspectos que nós homens temos que aprender com a força feminina, ser mais maleáveis, fluir com menos rigidez.

Esse minha amiga que está comigo esses dias tem falado muito sobre isso, sobre sentir o Tao, a totalidade que é também consciente de si e que está sempre sinalizando em nosso caminho.

A arrogante civilização dominante programou muito bem as pessoas para acreditarem, como nas cortes, que são superiores por algum conjunto de hábitos bobos que tenham. Assim as mulheres tem sido mantidas exiladas de si e da sua magia enquanto aprendem cada vez mais a serem "machos".

Recuperar tais percepções aliadas a maturidade é um prêmio.

A não arrogância da criança e sua espontaneidade são muito úteis, mas o Deus e a Deusa tem quatro faces, precisamos é recuperar o arquétipo do Guerreiro e da Guerreira, do Curandeiro e da Curandeira, do Ancião e da Anciã, da Mãe e Do Pai, da Amiga e do Amigo, arquétipos que se tornaram meros estereótipos em nossa época.

Nuvem que passa
(escrito em 27/12/2000)

quinta-feira, 28 de dezembro de 2023

A Deusa sem intermediários / Deusa, Paganismo e Ecologia

Existe um estudo muito sério a respeito do Messianismo¹. Vivemos isso não só nas religiões, mas também na política. É um vício existencial terrível ficar esperando que o Messias salvador venha resolver todos os problemas. A questão desse personagem central passa justamente por essa armadilha.

No Cristianismo o caso é mais sério. Se você provar que Jesus não existiu, acabou o Cristianismo(ver o polêmico e instigante documentário Zeitgeist, no link). Todos os preceitos morais, toda a ideologia cristã depende terrivelmente dessa figura central. Para os católicos e cristãos fundamentalistas a dependência é ainda maior: Jesus morreu para salvá-los, assim qualquer alteração na história de Jesus, como as tradições que dizem que ele não morreu na cruz, que foi tirado antes e foi morar na Índia, onde tem até um túmulo que alegam ser dele, destrói completamente a base dessas religiões².

O Budhismo é um caso mais complexo. Como o Cristianismo, o Budhismo se desenvolveu em muitas e diferentes seitas. Temos desde escolas filosóficas como o Zen até Escolas que acreditam que basta você ficar cantando uns mantras e chamando um certo Budha ( existiram vários além do histórico Sidarta Gautama) e vc está "salvo". O Espiritismo Kardecista quando surgiu não tinha linha filosófica clara. Existem uns escritos de Madame Blavatsky nos quais ela comenta que o espiritismo é tão confuso que iria acabar adotando o Cristianismo como base religiosa... E foi o que aconteceu.

Esse papel torna Kardec um codificador, mas não o coloca numa perspectiva histórica, no mesmo patamar de Jesus ou Gautama Budha, ou Maomé, ou Krishna. Esses seres que cito foram seres semidivinos, seres cercados de uma aura que os colocava num nível muito particular. Jesus é o filho de um Deus tribal, o Deus dos judeus, que foi imposto como Deus universal. É engraçado notar esse equívoco tremendo, quando colocam um deus tribal no lugar do conceito de Divindade Cósmica e chamam esse deus tribal de deus único e consideram esse arremedo de monoteísmo uma evolução, em relação ao panteísmo que sente a divindade em todas as manifestações da natureza ou ao politeísmo que cultua várias divindades.

O Budhismo tem uma perspectiva inicial diferente: Sidarta Gautama é um homem comum, como nós, que realiza o despertar e DESPERTANDO se torna o BUDHA, que quer dizer desperto. Ele não é diferente de nenhum outro ser humano e seu caminho pode ser trilhado por qualquer um. Enquanto Jesus "morre para salvar seus fiéis", mantendo antigas práticas mágicas do "cordeiro sacrificial", Gautama ensina um caminho para que qualquer um que se dedique também desperte.

Quando nos aproximamos da Wicca não vamos encontrar nenhum conceito de "salvação por procuração" fixado em um ser humano. Se notarmos com atenção a Religião da Deusa nunca desapareceu completamente. Esteve hibernando, esperando que o inverno árido espiritual que caiu sobre esta parte do mundo passasse, com toda sua terrível perseguição, principalmente às mulheres, que se dedicavam à ARTE.

Gardner tem acesso a uma antiga linhagem que sobrevive de forma discreta e pode então lançar as bases do que vai ser um "renascimento" público da Wicca e, por tabela, de várias outras formas de Paganismo (livro no link: A Bruxaria Hoje, por Gerald Gardner).

O que mais caracteriza o Paganismo em geral? A sintonia com a Natureza, o reconhecimento da divindade em cada momento da Natureza, o reconhecimento desse elo profundo e intransferível que temos para com a Natureza e a percepção que a Divindade, a Eternidade que nos envolve é feminina. Este aspecto é muito interessante e traz de volta uma questão muito séria. Não se trata de um simbolismo, não se trata, como querem alguns, que os "primitivos" consideravam a mulher um símbolo melhor para a Divindade. Aliás, é mesmo um símbolo mais rico, pois a mulher gera, assim a Deusa "emana" a criação de si, ao contrário das divindades patriarcais que precisam "criar", "modelar em argila" e outros subterfúgios mais para quem não tem útero. Não é mero símbolo, é muito mais que isso, de fato a Eternidade que nos envolve É FEMININA.

E isso não é apenas na Wicca, não. O Xamanismo em várias versões coloca isso da mesma forma. Vivemos num universo feminino e num planeta feminino. Isso não desmerece o homem e o masculino. Até pelo contrário, explica porque ficamos nesta condição de "reis da cocada preta", pois sendo uma energia mais rara na existência ganhamos uma proeminência que podia ter sido usada de forma bem mais inteligente e criativa que o criar dessa civilização doentia de valores pseudo-patriarcais na qual estamos inseridos.

Assim sendo, na Wicca não temos "avatares" de destaque que representam "guias" no caminho. Nosso contato é direto com a Deusa e suas várias faces, nosso trabalho é direto com a Fonte. Gardner e tantos outros são "expoentes" da ARTE, pessoas sérias que ao dedicarem-se ao estudo profundo da ARTE nos auxiliam a compreender melhor sua complexa simplicidade.

A Deusa tem várias faces e também é a SEM FACE, pura essência, que está em nós e em cada fenômeno e evento com o qual interagimos. Há uma tradição interessante, hoje quase perdida, que conta que na senda iniciática o(a) aprendiz começa por conhecer as 3 faces da Deusa: A Menina, a Mulher e a Anciã. As 3 fiandeiras que tecem o destino de todos. Então, quando está pronto(a) o(a) aprendiz é levado a conhecer a face escura e secreta da Deusa, sua face negra.

Após esse momento o(a) aprendiz compreende os Quatro Cantos do Mundo e seu desafio agora é ser o Quinto ponto, o centro, após conhecer as quatro faces da Deusa é momento de ser a Quinta Essência, a quinta face, manifestar a Deusa em SI. Quando realiza este quinto momento, quando sente e "É" a Deusa em si olha para Cima e para Baixo e encontra a Deusa nos Céus e na Terra que pisa. Realizou o Sexto e o Sétimo passo em seu caminho. É então que encontra o Oito, o infinito e todas as barreiras caem, descobre que todas as imagens que usava para representar a Deusa eram ainda pálidas aproximações da realidade, caem as máscaras e podemos então SENTIR a Deusa em SI mesma, em toda a plenitude de seu poder.

Se isto é realizado, estamos prontos para entrar na nona esfera de iniciação e então conhecer o Mistério além do Tempo, além do Espaço. E então voltamos a ser unidade ao lado do Zero, 10. Nós, a unidade, fortalecidos e "potencializados pela Orubós sem fim, a Deusa que nutre de si mesma, a Existência cíclica. Na Wicca, como em outros ramos profundos do Paganismo, não precisamos acreditar em avatares dos Deuses ou da Deusa, em pessoas que criaram dogmas e regras, que tem seu papel sim, no começo do caminho, para evitar confusões, mas como aquelas rodinhas que usamos para aprender a andar de bicicleta, podem virar uma dependência limitante se não temos a coragem de quando estamos prontos, tirar tais rodinhas e andar sem as mesmas, com a certeza que se não estivermos de fato prontos, o tombo vem.

Nosso elo é direto com a DEUSA e seu Consorte, com a VIDA, e a Vida só se revela sendo vivida. Qualquer teorização excessiva é sempre sinal de fuga da vida em si, real e efetiva, para ficar justificando com elaborações racionais.

Por: Nuvem que Passa em Domingo, 04 de Agosto de 2002 - 21:17:59 (Brasília)
Notas (por F. )

¹ Um dos estudos mais sérios é o trabalho da socióloga brasileira Maria Isaura Pereira Queiroz

² ver o documentário Jesus viveu na Índia, lembrando que Jesus tinha um irmão gêmeo, Tomé, o dídimo. Dídimo tem origem grega, provém do nome Didymos, que significa literalmente “gêmeo”, “nascido do mesmo parto”, de dís, o mesmo que “duas vezes”, em português.


Deusa, Paganismo e Ecologia


Realmente este texto é uma das mais belas manifestações do espírito nativo dos povos que habitavam este continente.


Quando o pretenso civilizado aqui chegou e impôs sua cultura, impôs a ferro e fogo, com morte e dor, encontrou aqui uma cultura complexa, de valores ecológicos sofisticados como bem mostra esta carta. A sintonia com a Vida e com a Terra, vista como Mãe, é algo que nós neopagãos bem entendemos. Este é o valor mais ausente desta cultura utilitarista e consumista que se instalou no mundo: Não conseguem sentir a Vida pulsando em tudo à nossa volta, perderam o elo com a Mãe Terra, ser vivo e dinâmico, com o qual podemos criar uma relação que nos permite um grau de completude, de plenitude existencial e energética inominável.

Um dos riscos que vejo na Wicca hoje é uma adoção de um culto formal à Deusa, fazendo aquilo que tantos chamam de criar um "jeová" de saias. Sem a consciência ecológica não há ligação com a Deusa. Sem a mudança dos paradigmas fundamentais nos quais fomos criados, que não são ecológicos, não levam a uma relação direta com a divindade sem intermediários e sentindo faces da divindade em cada aspecto da existência. Sem esses pontos-base não há paganismo. Sem perceber a Deusa na natureza e na vida como um todo não há paganismo efetivo. É minha opinião que os cultos a uma "personalização" da Deusa pouca relação tem com "sentir" e "celebrar" a Deusa, que sempre foi sentir e celebrar a própria vida em seus ciclos. Uma pessoa que se diz pagã e não possuí aguda, clara e intensa consciência ecológica é alguém diletante, alguém que apenas repete formas prontas, sem entender a essência. Pois como estar em um movimento que busca ser uno com a vida sem ter essa consciência ecológica plenamente desenvolvida? Este me parece o primeiro ponto.

Segundo ponto a debater é a questão de sentir a Deusa. A percepção da Deusa sem faces, da Deusa enquanto origem e fonte sempre foi um conhecimento iniciático. Pelo que pesquisei nenhum culto "popular" tinha essa concepção. Sempre neste nível mais "exotérico" o culto era a uma das faces da divindade, da Deusa. O conceito da Fonte sem Fonte, da Deusa sem face sempre esteve associado aos trabalhos já dentro dos chamados mistérios. Estes dois níveis da religiosidade antiga nunca podem ser esquecidas quando falamos sobre os cultos ancestrais, os cultos abertos ao público e portanto os únicos que deixaram registros possíveis de serem estudados pelos historiadores tinham um outro aspecto, secreto, oculto, transmitido apenas de boca para ouvido e que sobrevive até os dias de hoje dentro destas mesmas premissas, pois me parece uma das grandes ilusões contemporâneas crer que o secreto e o sagrado estão revelados. Aliás podem até estar, já que etimologicamente revelar é velar de novo. RE-velar. Mas nunca o sagrado, o segredo, os mistérios serão revelados neste sentido que dão ao termo, pois não é o mistério que pode ser aberto à compreensão limitada de quem apenas foi condicionado pela sociedade, mas somos nós que temos que nos desenvolver, sutilizar e ampliar nossa percepção para mergulhar na vastidão onde reside o secreto e o sagrado. Como a cor só se revela a alguém quando este alguém abre os olhos, não há como falar sobre cores a quem insiste em manter os olhos fechados.


O esoterismo contemporâneo, ou, melhor dizendo, o que se convencionou chamar de esoterismo hoje, é um conjunto de idéias que remete ao transcendente, mas ir ao transcendente é algo para ser feito com plenitude, jamais apenas como conceito intelectual. Da mesma forma, o paganismo é algo que hoje precisa ser recuperado. Não está em nós, criados como civilizados, de forma "natural". Por isso gosto do termo “neopagão”, fica claro que somos pessoas com toda uma influência cultural urbana, que pouco a pouco lutam para recuperar uma abordagem mais plena e realista da vida, que inclui o perceber da Vida em sua plenitude e da natureza como ser vivo e do qual fazemos parte. Por isso, lendo esta carta do chefe Seattle a gente volta a notar como são distintos e distantes os paradigmas da cultura que fomos criados e destes povos nativos.

Nossa chance é de hibridação, de fusão entre estas culturas. Quando notamos o que aconteceu de fato aos povos nativos, como foram subjugados e quase completamente destruídos percebemos que algo falhou em termos práticos, na realidade da luta pela continuidade existencial algo não foi pleno neles, pois perderam a guerra para este modelo cultural no qual fomos também limitados. Este é um dos pontos mais fundamentais quando vamos estudar o paganismo em geral. O Paganismo, embora tenha as melhores respostas para a sobrevivência efetiva da humanidade, uma vez que os modos de vida do mundo civilizado nos levam a esta crise ecológica e social sem precedentes históricos que vivemos, não conseguiu resistir à invasão, saque e genocídio, acompanhados de destruição da cultura, subjugação e imposição de um modelo cultural estranho que aconteceu onde quer que os conquistadores chegassem com seu estilo de vida. Das legiões romanas aos navegadores cristãos católicos e protestantes dos séculos XV e XVI o fato é o mesmo: destruição de povos nativos com ricas e milenares tradições seguidas da imposição de uma cultura servil aos dominadores. Portanto, há algo que os povos nativos precisavam aprender em termos reais de sobrevivência frente a grupos outros que não os seus.

O irônico é que o grupo social vencedor, até agora, nesta guerra entre nações, não é o mais apto à sobrevivência, ao contrário, apresenta mesmo um comportamento danoso e perigoso a si e a todos os outros grupos de seres vivos da Terra, pois em sua loucura e luta pelo poder constrói armas cada vez mais nefastas, já suficientes par acabar com o mundo num nível alarmante, fora as tecnologias pesadas e poluentes que adotamos em nosso cotidiano, com um total desrespeito à vida e as próximas gerações. Daí que considero que o Paganismo é revelado antes de mais nada pela prática que pelo discurso. Discursos verborrágicos, cheios de erudição não fazem de ninguém pagão. O paganismo vem da realidade prática, que pode e deve mesmo, ser embasada por um bom conhecimento da teoria do que se faz, mas é no fazer que se revela. Paganismo é atitude.

Nuvem que passa


sábado, 23 de dezembro de 2023

Cada caminhante é em última instância seu próprio caminho

Saudações Ventanias; 

Em mail anterior prometi falar um pouco sobre as origens do Xamanismo em termos históricos. O que vou narrar aqui é história como os (as) xamãs entendem história, não uma narrativa linear de eventos, mas o cerne do interesse dos (as) xamãs é algo sutil, é sobre a manifestação de uma força misteriosa, com a qual lidam todos que buscam a "alma do mundo". 

Leio muitos mails, dos mais diversos, diariamente. Mais jornais e livros e conversas com pessoas e cursos, dá para ir formando uma ideia de como é o "senso comum " da realidade. As pessoas do mundo "comum" foram condicionadas a uma percepção da realidade, por um conjunto de condições históricas que culminou na revolução industrial. Com a ocorrência da revolução industrial há uma produção de manufaturados em larga escala, uma necessidade de matéria prima também em grande quantidade, uma necessidade de que pessoas comprem o que está sendo produzido, enfim, as necessidades da revolução industrial criou toda uma era, a Era Industrial. 

Estudiosos como Toffler, Domenico de Masi, Giovanni Vismara, A. Touraine, Gershuny e tantos outros(as) já falam sobre o fim da Era Industrial e a transição que estamos vivendo para outra Era, outra "Onda " no dizer de Toffler. A revolução industrial, entretanto, ainda representa um conjunto de valores que dominam muitos setores da sociedade, inclusive a mídia e algo que tem poder sobre a mídia tem o poder de vender a própria imagem como quer. Esse poder da mídia é um tipo de magia moderna que muitas vezes passa despercebida.

 Existem pessoas que sabem usar do poder da mídia para criarem frente ao mundo uma imagem, isso é magia, criar, gerar algo por intenção. Este poder da mídia associado a religião, escola e educação familiar são vetores eficientes de conceitos e paradigmas da era industrial. Cada um desses conceitos e paradigmas são limites a nossa percepção. E são esses limites perceptivos que precisam ser investigados e compreendidos para que possamos não apenas deixá-los de lado por um tempo, mas realmente nos tornarmos entes perceptivos e singulares, gerados a partir de nós mesmos, de nosso cerne silencioso, intocado por qualquer programação exterior. Dessa forma vem a memória um dos conceitos importantes sobre xamanismo que o velho nagual apresentou ao novo, no mito tolteca atual: " Não é que a medida que o tempo passa o(a) guerreiro(a) aprenda Xamanismo; antes, o que ele aprende enquanto o tempo passa é economizar energia . Esta energia vai capacitá-lo a manipular alguns campos de energia que são normalmente inacessíveis a ele. Xamanismo é um estado de consciência , a capacidade de usar campos de energia que não são empregados para perceber o mundo cotidiano que conhecemos" (de "O Poder do Silêncio" citado no "A Roda do Tempo". 

Este conceito é de uma sutileza e abrangência fenomenais, a capacidade de exprimir em sintaxe comum tais conceitos revela uma maestria das palavras que é bem mais que a expressão entre dois seres perceptivos e conscientes, mas algo mais mesmo, algo relativo a essa estranha "Força" que permeia a Realidade mais ampla , na qual estamos inseridos, como uma camada em vasta cebola. O Xamanismo tem sido sempre isto, ir mais longe, ir além, ser mais amplo, ampliar a consciência. Os meios que podem ser utilizados são vários e 

cada caminhante é em última instância seu próprio caminho.

Dentro desta proposta o Xamanismo é a herança que temos de uma civilização anterior que existiu num outro tempo e outro espaço, mas que nos antecedeu. Os clãs de vários lugares tem história sobre um mundo anterior a esse, o quarto mundo de onde nossos antepassados vieram depois que tal mundo foi destruído. Há muitas histórias que tentaram com armas, doutrinas, pregações, medo, culpa e dor apagar de nossa memória. 

Mas o tempo mítico está voltando, as emanações de Hunab Ku voltam a incidir sobre nosso plano da realidade. Estávamos como que em um eclipse, em relação a Hunaby Kü, agora outro tipo de energia começa a incidir sobre nós. Nós sabemos disso, mas os Senhores e Senhoras Feudais atuais também sabem e seus feiticeiros de aluguel estão cuidando , através de meios com títulos sofisticados como "engenharia religiosa", " engenharia e gestão de comportamento de massas" entre outros, desenvolver linhas de ações por todo o planeta para evitar que no momento da grande transição, em "aproximadamente" 23 de Dezembro de 2012 façamos a conexão com o vasto poder que vai estar, como uma nuvem, passando por aqui. Se esta conexão for feita estamos reconectados com o Centro Galáctico, com a vasta energia que de lá emana e teremos entrado noutras possibilidades realizadoras em termos efetivos e concretos, no TONAL da Realidade. 

Mas as possibilidades que se abrem no outro campo é também imensa, pois sabemos que o campo adequado para se "treinar" no Nagual é o campo análogo ao tamanho do poder do Tonal sobre a realidade. O velho nagual mostrou isso ao grupo do México levando-os em excursão para um vale distante e lá colocando uma mesa com objetos em cima e usando tal mesa para demonstrar o Tonal, frente a vastidão do Nagual, quando foram a uma montanha longe olhar a mesa, imperceptível, no meio do vasto vale. Recomendam os Naguais da linhagem Tolteca que não nos percamos tolamente no mundo do Nagual, ou seja, em todas as outras realidades alternativas a essa que realmente existem. Este é um detalhe muito sutil no Xamanismo. 

Xamanismo é simplesmente usar o corpo esquerdo para perceber a realidade de forma funcional e ampliar a capacidade do corpo direito para o mesmo fim. Agora a nossa "personalidade", nossa estrutura psíquica frente a tudo isso que podemos fazer é algo que pode ou não ser cultivado. Podemos nos trabalhar, aprender a lidar e ir além das carências e medos, fantasias e culpas que o sistema criou como travas para impedir nossa liberdade por isso o Xamanismo Guerreiro não começa com "caçar animal de poder" ou ir a outros mundos e tudo mais que pode ser sim feito e deve, depois. 

Primeiro é preciso trabalhar o aqui e agora, pois tenho tido cada vez mais certeza na minha experiência pessoal que toda pessoa que consegue se realizar aqui e agora, que consegue lidar com o imanente está pronta para a aventura e o desafio que é suportar a pressão do desconhecido, já quem vive sempre fugindo em universos fantasiosos e explicações rebuscadas de sua preguiça em lidar com o aqui e agora, sempre criam problemas, confusões e acabam cedendo as pressões do infinito se tornando seguidores de algum sistema ou seres, não livres viajantes pela eternidade, que é como concebo o Xamanismo. 

Alguns temas para meditar.

Nuvem que Passa

Data: Ter Dez 26, 2000 6:04 pm

Assunto: Re: [ventania] Natal e Calendários

 

sexta-feira, 22 de dezembro de 2023

Ritos de Passagem

A civilização na qual estamos inseridos tem algumas falhas estruturais no quesito levar cada ser humano ao atingir de sua maturidade moral e intelectual.

A grande maioria dos seres humanos é levada a viver num estado que nem mesmo imaturo podemos chamar, pois é tal a anulação das vontades individuais, tal a inexistência de propósitos gerados a partir da singularidade que somos, é tão rara a nossa presença no aqui e agora, tal nossa dissolução em passados frustrados ou futuros ansiosos, que chamar de imaturo este estado é muito, pois máquinas robotizadas e hipnotizadas nem mesmo imaturas são.

Os seres humanos foram tornados peças de uma vasta engrenagem, onde atuam como extensão biológica das máquinas diversas, geradas para manter o poder de poucos sobre muitos.

A liberdade fundamental acessível aos seres humanos, a liberdade de realizar sua singularidade existencial é negada aos seres humanos de formas diversas e agora, com o poder tecnológico existente, está sendo negada a outras espécies, com a crescente ação destruidora sobre o meio que esta civilização realiza.

Experimentem observar mapas de vegetação em várias áreas do mundo e observar como a destruição das matas nativas aumenta neste último ciclo, chamado de Era Industrial.

Notem o exemplo da Mata Atlântica.

Os animais extintos, agora enquanto escrevo estas linhas, mais tarde, nos vários tempos e espaços que estas linhas estarão sendo lidas, extinção de espécies poderão estar acontecendo.

Procure sentir o mundo a sua volta, não apenas racionalizar sobre ele, mas sentir.

Quando estamos sensíveis a Natureza percebemos que ela tem ciclos, que as flores e os frutos, as folhas em certas árvores, vem e vão, num ciclo.

Há momentos que marcam essas mudanças.

Nos equinócios e solstícios sabemos que um ciclo atingiu seu apogeu e depois ele irá visitar sua outra condição, como no Tao quando o Yin chega ao seu máximo mergulha na semente do Yang que traz em si, da qual também brotará quando o Yang atingir seu clímax.

Sabemos que após o solstício de inverno o frio chegou ao limite, a noite mais longa do ano depois começa de novo a volta da luz solar.

Para nós neste país tropical é bem mais a luminosidade que nos toca, mas em países mais afastados do equador o calor também é algo que fica bem claro em sua volta.

No equinócio o dia e a noite ficam iguais, o momento de equilíbrio, é a primavera chegando depois do inverno.

Noto que em grande parte da região sul e sudeste do Brasil a chegada da primavera é principalmente a chegada das águas, mais que a ausência de frio, que marca a volta da Vida.

Notem que este dado é de grande importância para estudarmos os ritos de passagem.

Onde estamos, nos nossos ciclos naturais, a Terra, o Ser consciente no qual vivemos, sente a volta da primavera como a volta da umidade, que alimenta e o calor desperta a semente que dorme no seio da Terra.

Então, dia após dia, a claridade chega mais cedo e vai embora mais tarde.

Os dias são maiores.

Os tuns, como chamavam os Maias cada ciclo do nascer ao pôr do sol.

Sinto que o dia se abre com o sol nascendo e se fecha ao pôr do Sol.

Sentir durante o dia o caminho do Sol é uma prática que aumenta muito nossa energia existencial.

Somos o amálgama do poder do Sol e da Terra em nosso corpo sensível.

Assim como o corpo de energia é feito em primeira estância com matéria oriunda das emanações dos astros, por isso corpo ASTRAL na literatura de certas escolas alquímicas e mágicas.

O tema foi depois adulterado, ficando astral para um nível, um orbital do todo que é o corpo de energia.

A ideia de sete corpos e sete planos da Teosofia, em sua versão original era de uma sutileza ímpar.

Depois se tornou adulterada, quando passou a ser lida dentro de paradigmas estranhos a sua essência, oriundos desta civilização que linhas atrás citávamos como robotizante e limitante do nosso potencial perceptivo.

Portanto para meditarmos sobre ritos de passagem precisamos evocar a ideia de passagem, de transformações, como estávamos fazendo agora, tecendo comentários sobre os ciclos.

Nossa vida também é marcada por ciclos.

Temos ciclos nos quais estamos diluídos na existência e pouco a pouco vamos adquirindo uma singularidade, que pode brotar de nosso próprio interior ou ser apenas resultado da programação exercida pelo meio.

Os ritos de passagem eram uma forma que várias civilizações usavam para marcar certos momentos de profunda transformação na jornada de um ser humano.

Homens e mulheres tem uma longa trilha até atingirem a completude de seus seres.

A lagarta brota do ovo, recolhe-se no casulo e então surge borboleta.

Profunda em si, plena, a tensão sutil do casulo fortalece as asas que dele brotam.

Também nós brotamos de nós mesmos várias vezes numa vida, mas pouco disso percebemos, pois faz parte do aparato que restringe a percepção humana prender todos (as) numa abordagem linear da realidade.

A complexidade da vida quando deixamos de ter uma participação linear e nos tornamos coparticipativos, cocriativos frente a realidade com a qual interagimos dinamicamente.

Esta forma de lidar com o mundo muda nosso senso de identidade.

Deixamos de nos identificar com os modelos prontos que nos deram para interpretar a realidade.

Podemos usar esses modelos prontos, a dita cuja realidade e nela treinarmos nossas habilidades fundamentais.

Assim usando a realidade na qual já estamos "travados" como campo de treino no desenvolver de uma atenção plena, de um estar aqui e agora sem nenhum medo ou culpa, no presente, inteiros (as), sentindo a música da vida, dançando a dança do existir, a Eternidade por parceira.

Celebrar os momentos nos quais nos transformamos é uma forma de fortalecer os momentos nos quais agimos com foco, consciência, presença no aqui e agora, num aqui e agora que marcou uma alteração profunda na forma de interagir com a realidade.

Os ritos de passagem entram nessa categoria de celebração que nada adoram, nada suplicam, nada "dominam".

Os ritos de passagem são momentos de celebração, de uma fase que se vai, de uma vitória existencial e de uma fase que se inicia, um desafio existencial.

E num estado de espírito de harmonia com a fase que se foi, um desgrudar-se de toda e qualquer energia que os eventos e pessoas envolvidos nesta fase podem ter deixado em ti, recuperar toda a tua própria energia que ficou dissipada em pessoas e eventos e com integridade seguir em frente, rumo ao desafio.

Celebrar esses ritos é afinar a consciência individual com a totalidade da qual faz parte, mas ressaltando também sua singularidade.

A questão de sermos singularidades, imersas e túrgidas da Eternidade que nos faz existir e ainda assim, singulares.

A pretensa singularidade do conceito de "eu" hoje vigente é uma singularidade apartada da Vida e da Natureza, o que gera seres sem visão sistêmica, capazes de levar a Vida ao desequilíbrio e ameaça de destruição total que é realidade pouco percebida pelos(as) hipnotizados(as) que se chamam civilizados(as).

A singularidade a qual me refiro é outra, é uma singularidade que se sabe existente, uma percepção que tem consciência de si como ente perceptivo.

Assim sendo, como um ente perceptivo, um núcleo partícula/onda de percepção pura pode de alguma forma crer-se apartado de qualquer coisa que seja que está a sua volta.

Sensível, ressonante, quando estamos neste eixo, que como o da roda da carroça se revela em cada ponto do aro da roda que toca no solo.

O caminho rumo ao despertar, desabrochar e o entrar em plena atividade destas dimensões outras de nossa realidade interior, a qual tivemos por esta era que se finda, o acesso negado é um caminho árduo, mas não sofrido, como um artista ou atleta dedica-se com afinco, sem sofrer com isso, pois o fato de ter metas faz de quem trilha um caminho, um treino e não algo que lhe acontece apenas agitando uma paranoica vida de ansiedades.

Os ritos de passagem surgem como ritos que reatualizam o mito, pois viver miticamente sua própria existência é algo que nos coloca sobre efeito de leis bem mais amplas e interessantes que as geradas por sistemas que buscaram pelos últimos séculos apenas dominar, subjugar, converter e escravizar.

Nossos sistemas "oficiais" de pensar e sentir a realidade estão impregnados dessas travas, que limitam e condicionam as pessoas a serem menos que elas mesmas, a não mais fazer história, apenas sofrer a história.

Um novo pensar, um novo sentir é o que urge desenvolver não só no organismo coletivo da humanidade como, antes de mais nada e como caminho para tal meta, em nós mesmos.

Os ritos de passagem apresentam outra forma de lidar com nossa vida.

Ao invés de ficarmos contando anos, obedecendo calendários propositadamente deturpados, podemos sentir o fluxo da Vida de uma forma mais ampla e real em nossa existência.

Os ritos de passagem fazem parte dos paradigmas fundamentais dos povos que estiveram como guardiães desta antiga sabedoria, de ancestral cultura global que existiu, que soçobrou há inexatos 10.000 anos atrás.

Sempre lembrando que este conceito de tempo tem mais da sua fantasia e imaginação que de realidade quando o interpreta.

Vou enviar uma sequência de mails sobre esta questão dos ritos de passagem para meditarmos em conjunto sobre o Tema.

Nuvem que passa
Data: Dom Out 8, 2000 7:47 pm

Bruxaria, Magia e Xamanismo - parte 2 - por Nuvem que Passa

Vivemos em uma civilização globalizada. O fato é que hoje, em termos de mundo, estamos integrados de uma forma muito intensa. Se algo aconte...