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quinta-feira, 13 de fevereiro de 2025

O termo "alienígena" na obra do Dr. Carlos Castaneda - 2ª parte


 

- Você deve entender de uma vez por todas que essas são coisas normais na vida de um feiticeiro. Você não está ficando louco; está simplesmente ouvindo a voz do emissário do sonhar. Depois de atravessar o primeiro ou o segundo portão do sonhar, os feiticeiros chegam a uma fronteira de energia e começam a ver coisas ou a ouvir vozes. Na verdade não são vozes, e sim uma única voz. Os feiticeiros chamam-na de voz do emissário do sonho.

- O que é o emissário do sonho?

- Energia alienígena consciente. Energia alienígena que procura ajudar os sonhadores dizendo coisas. O problema com o emissário do sonho é que ele só pode dizer o que os feiticeiros já sabem ou deveriam saber, se valessem o que comem.

- Dizer que é uma energia alienígena consciente não me ajuda em nada, Dom Juan. Que tipo de energia? Benigna, maligna, certa, errada, o quê?

- É exatamente o que eu disse: energia alienígena. Uma força impessoal que transformamos em muito pessoal, porque tem uma voz. Alguns feiticeiros têm confiança absoluta nela. Até mesmo a vêem. Ou, como aconteceu com você, simplesmente ouvem-na como voz de homem ou de mulher. E a voz pode falar com eles sobre o estado das coisas, o que na maior parte das vezes é visto como um conselho sagrado.

- Por que alguns de nós ouvimos essa energia como se fosse uma voz?

- Nós vemos ou ouvimos porque mantemos o ponto de aglutinação fixo num determinado posicionamento; quanto mais intensa a fixação, mais intensa nossa percepção do emissário. Cuidado! Você pode vê-lo e senti-lo como uma mulher nua.

Dom Juan riu do que disse, mas eu estava assustado demais para levar na brincadeira.

- Essa força é capaz de se materializar?

- Certamente. E tudo depende de como o ponto de aglutinação está fixo. Mas fique tranquilo, se você for capaz de manter um grau de desapego, nada acontece. O emissário continua sendo o que é: uma força impessoal que age em nós por causa da fixação do ponto de aglutinação.

- E o conselho dele é garantido?

- Não pode ser um conselho. Ele só diz o que é o quê, e nós tiramos as conclusões.

Contei a Dom Juan o que a voz me havia dito.

- É como eu falei - Dom Juan observou. - O emissário não disse nada de novo. Sua afirmação estava correta, mas só na aparência era uma coisa reveladora. O que o emissário fez foi meramente repetir o que você já sabia.

- Acho que não posso dizer que já sabia aquilo, Dom Juan.

- Pode sim. Agora você sabe infinitamente mais sobre o mistério do universo do que suspeitava em termos racionais. Mas esse é o mal dos seres humanos: sabemos mais sobre o mistério do universo do que suspeitaríamos. Ter experimentado sozinho esse fenômeno incrível, sem o apoio de Dom Juan, fez com que eu me sentisse exaltado. Queria mais informações sobre o emissário. Comecei a perguntar a Dom Juan se ele também ouvia a voz do emissário.

Ele me interrompeu e disse com um sorriso largo:

- Sim, sim. O emissário também fala comigo. Quando eu era jovem costumava vê-lo como um frade vestindo um capuz preto. Um frade falador que me deixava apavorado todas as vezes em que surgia. Depois, quando meu medo ficou mais manobrável, ele tomou-se uma voz sem corpo, que até hoje me diz coisas.

- Que tipo de coisas, Dom Juan?

- Qualquer coisa em que eu focalize meu intento; coisas que não quero ter o problema de rastrear sozinho. Como, por exemplo, detalhes sobre o comportamento de meus aprendizes. O que eles fazem quando não estou por perto. Ele me diz coisas sobre você, em particular. O emissário me diz tudo que você faz.

Naquele ponto eu realmente não me preocupava com a direção que nossa conversa tomara. Revirei freneticamente o pensamento em busca de perguntas sobre outros tópicos, enquanto ele gargalhava.

- O emissário do sonho é um ser inorgânico? - perguntei.

- Digamos que o emissário do sonho é uma força que vem das esferas dos seres inorgânicos. É por isso que os sonhadores sempre o encontram.

- Quer dizer, Dom Juan, que todo sonhador ouve ou enxerga o emissário do sonho?

- Todos ouvem o emissário; muito poucos o veem ou sentem-no.

- Você tem alguma explicação para isso?

- Não. Mas realmente não me preocupo com o emissário. Num determinado ponto de minha vida precisei decidir se me concentrava nos seres inorgânicos e seguia as pegadas dos feiticeiros antigos ou se recusava isso tudo. Meu professor, o Nagual Julian, me ajudou a decidir pela recusa. Nunca me arrependi dessa decisão.

- Você acha que eu deveria recusar os seres inorgânicos, Dom Juan?

Ele não respondeu. Em vez disso explicou que toda a esfera dos seres inorgânicos tem sempre uma postura de ensinar. Talvez porque tenham uma consciência mais profunda do que a nossa, os seres inorgânicos sentem-se compelidos a nos manter debaixo de suas asas.

- E eu não vejo nenhum sentido em virar aluno deles - acrescentou. - O preço é alto demais.

- Qual é o preço?

- Nossas vidas, nossa energia, nossa devoção a eles. Em outras palavras, nossa  liberdade. 

A Arte do Sonhar, de Carlos Castaneda, Cap. 04, Fixando o Ponto de Aglutinação.

sábado, 1 de fevereiro de 2025

O termo "alienígena" na obra do Dr. Carlos Castaneda - 1ª parte

- Todo sonhador experimenta isso? - perguntei a Dom Juan quando o vi de novo.

- Alguns sim - ele respondeu desinteressado.

Comecei uma arenga, dizendo como aquilo tudo tinha sido estranho. Ele me interrompeu, dizendo:

- Agora você está pronto para entrar no segundo portão do sonhar.

Avaliei a oportunidade de buscar respostas para perguntas que eu não pudera fazer. O que experimentei na primeira vez em que ele me fizera sonhar continuava em minha mente. Disse a Dom Juan que eu observava à vontade os elementos de meus sonhos e nunca sentira qualquer coisa nem de longe semelhante, em termos e clareza e detalhe.

- Quando mais penso a respeito - falei - mais intrigante fica.

Olhando aquelas pessoas naquele sonho eu senti um medo e uma repulsa impossível de esquecer. O que era aquele sentimento, Dom Juan?

- Em minha opinião, seu corpo energético se agarrou à energia estranha daquele lugar e deitou e rolou. Naturalmente você sentiu medo e repulsa: estava examinando pela primeira vez a vida uma energia alienígena.

"Você tem uma propensão para se comportar como os feiticeiros da antiguidade. No momento em que tem uma chance, deixa seu ponto de aglutinação ir embora. Daquela vez seu ponto de aglutinação se deslocou uma boa distância. O resultado foi que ,você viajou, como os feiticeiros antigos, para além do mundo que conhecemos. Uma jornada real, mas perigosa.

Deixei de lado o significado de sua afirmação, em nome de eu próprio interesse, e perguntei:

- Será que aquela cidade ficava em outro planeta?

- Você não pode explicar o sonhar através de coisas que sabe ou que suspeita saber. Só posso dizer que a cidade que você visitou não fica neste mundo.

- Onde fica, então?

- Fora deste mundo, claro. Você não é tão estúpido. Essa foi a primeira coisa que você percebeu. O que o faz andar em círculos que você não imagina nada deste mundo.

- Onde é fora deste mundo, Dom Juan?

- Acredite, a característica mais extravagante da feitiçaria é a configuração chamada fora deste mundo. Por exemplo, você presumiu que eu estava vendo as mesmas coisas que você. Prova disso é que nunca me perguntou o que eu vi. Você, e apenas você, viu uma cidade e pessoas naquela cidade. Eu não vi nada do tipo.

Eu vi energia. De modo que fora deste mundo foi uma cidade apenas para você, naquela ocasião.

- Mas então, Dom Juan, não era uma cidade real. Existiu apenas para mim, na minha mente.

- Não. Não é esse o caso. Agora você quer reduzir uma coisa transcendental a uma coisa mundana. Não pode fazer isso. Aquela viagem foi real. Você a viu como uma cidade. Eu vi como energia.

Nenhum de nós dois está certo nem errado.

- Minha confusão vem quando você fala das coisas serem reais. Você disse antes que chegamos a um lugar real. Mas, se era real, como podemos ter duas versões dele?

- Simples. Temos duas versões porque tivemos, naquele momento, dois níveis diferentes de uniformidade e coesão. Eu já expliquei que esses dois atributos são fundamentais para a percepção.

- Você acha que eu posso voltar àquela cidade em particular?

- Agora você me pegou. Não sei. Ou talvez saiba mas não possa explicar. Ou talvez possa explicar mas não queira. Você vai ter de esperar e descobrir sozinho qual é o caso.

Recusou-se a continuar discutindo.

A Arte de Sonhar, Ed. Record, página 56, 6ª edição.

Observações: 

1 - o sonhar é um portal de acesso à energia alienígena, uma via de mão dupla.

2 - a partir do segundo portão do sonhar se dá o contato.

3 - feiticeiros, magos e xamãs não precisam de naves para acessar a configuração "fora deste mundo". O próprio corpo de energia é o veículo, o ponto de aglutinação (a consciência) se desloca, o combustível é a própria energia que se tem disponível. Viajar para outros mundos é uma condição potencial do ser humano via sonhar

4 - viajar para outros mundos é uma condição potencial do ser humano via sonhar, uma habilidade a ser desenvolvida.

5 - uma configuração energética completamente diferente da nossa caracteriza o conceito de alienígena, por exemplo, os seres inorgânicos.

6 - Aqui, em termos de Xamanismo Guerreiro, estamos em outro paradigma. Não se trata de outros mundos em termos de localização física, mas em termos  de posicionamento do ponto de aglutinação. Quanto mais distante o ponto de aglutinação se desloca da posição usual mais estranhos (alienígenas) são as realidades visitadas.

quinta-feira, 21 de dezembro de 2023

Sobre os Naguais de Três Pontas, por Armando Torres

"A regra é final, mas seu desenho e conformação estão em constante evolução. Só que, ao contrário do que opinam os evolucionistas, que vêm nas adaptações da vida a acumulação de mutações genéticas por um acaso, os videntes sabem que não existe casualidade na regra. Eles veem como um comando da águia, na forma de uma onda de energia, sacode de vez em quando as linhagens de poder, produzindo novas fases na bruxaria.

"Um modo mais exato de referir-se a isto, é supondo que todas as variantes possíveis da regra estão contidas em uma matriz prévia, e o que vai mudando com o tempo é o grau de conhecimento que têm os bruxos dessa totalidade e a ênfase que fazem sobre certas porções. Tais períodos de mudança são cíclicos e são representados pelo número três".

"Por que três?"

“Porque os antigos toltecas associavam o numero três com o dinamismo e a renovação. Eles descobriram que as formações ternárias anunciam mudanças inesperadas”.

"A regra dispõe que, de vez em quando, apareça nas linhagens um tipo especial de nagual cuja energia não é quaternária, mas que tem só três compartimentos. Os videntes os chamam de 'naguais de três pontas".

Perguntei em que estes se diferiam dos outros.

(Carlos Castaneda) Respondeu:

“Sua energia é volátil, sempre estão em movimento, por isso lhes custa trabalho acumular poder. Do ponto de vista da linhagem, sua composição é defeituosa, não chegam a ser verdadeiros naguais. Em compensação, carecem da timidez e a reserva que caracterizam os naguais clássicos, e eles possuem uma capacidade incomum para improvisar e comunicar”.

“Pode-se dizer que os naguais de três pontas são como o pássaro cuco, que é incubado no ninho alheio. São oportunistas, mas necessários. Ao contrário dos naguais de quatro pontas, cuja liberdade é passar despercebidos, os de três pontas são personalidades públicas. Divulgam os segredos e propiciam a fragmentação do conhecimento, mas sem eles as linhagens de poder teriam se extinguido há muito tempo atrás”.

“Entre os novos videntes, a regra é que um nagual deixe como descendência um novo grupo. Alguns, por seus enormes excessos de energia, podem ajudar a organizar uma segunda ou terceira geração de videntes. Por exemplo, o nagual Elias Ulloa viveu o bastante para criar a partida de seu sucessor e influenciar a seguinte. Mas isso não significou que a linhagem se bifurcasse; todos esses grupos fazem parte da mesma linha de transmissão”.

"Por outro lado, ao nagual de três pontas está facultado transmitir seu conhecimento em forma radial, o que implica na diversificação das linhagens. Seus ovos luminosos exercem um efeito de desintegração sobre o grupo que rompe a estrutura linear de transmissão e fomenta nos guerreiros um desejo de mudança e ação, e uma disposição ativa a se envolver com seus semelhantes".

"Isso foi o que se passou com você?"

"Com certeza. Devido à minha disposição luminosa, eu não tenho preocupação em deixar focos de conhecimento onde queira que vá. Eu sei que preciso de uma quantidade enorme de energia para cumprir com minha tarefa, e que só posso obtê-la das massas. Por isso eu estou disposto a difundir o conhecimento e a transformar e redefinir os paradigmas".

"Como você sabe, meu mestre entrou em contato com a regra para o nagual de três pontas quando tentou analisar certas anomalias dentro do novo grupo. Aparentemente, eu não sintonizava com o resto dos aprendizes. Então ele me dedicou bastante atenção para ver que eu mascarava minha configuração energética".

"Quer dizer que o VER de don Juan estava equivocado?"

“Claro que não! O que se confundiu foi o seu olhar. VER é a forma final da percepção; ali não há aparências, assim não é possível se enganar. Porém, devido à pressão que ele exerceu sobre mim durante anos, minha energia lutou para amoldar-se à sua. Isso é comum entre os aprendizes. Como ele estava dividido em quatro compartimentos, eu também comecei a manifestar em minhas ações uma carga energética similar”.

"Quando eu consegui sair o suficiente de sua influência (coisa que me tomou quase dez anos de trabalho árduo), ambos descobrimos algo assombroso: minha luminosidade só tinha três compartimentos; não correspondia a uma pessoa comum que só tem dois, mas tampouco a de um 
nagual. Este descobrimento criou uma grande comoção no grupo de videntes, já que todos pressagiaram uma mudança profunda para a linhagem.

“Então Don Juan recorreu à tradição dos seus antecessores e desempoeirou um aspecto esquecido da regra. Disse que a escolha de um nagual de nenhuma maneira pode ser considerada como um capricho pessoal, já que em todas as épocas é o espírito quem escolhe o sucessor de uma linhagem. Portanto, minha anomalia energética era parte de um comando. Diante de minhas urgentes perguntas, ele me assegurou que, a seu devido tempo, um mensageiro me explicaria a função de minha presença como nagual de três pontas”.

“Anos mais tarde, em uma ocasião em que eu visitava uma das salas do Museu Nacional de Antropologia e História, observei um indígena vestido à moda tarahumara que parecia ter o maior interesse por uma das peças que ali se exibiam. Dava-lhe voltas, examinando-a por todos os lados e demonstrava uma concentração tão absoluta que despertou minha curiosidade e então me aproximei para olhar”.

"Ao avistar-me, o homem dirigiu-me a palavra e começou a explicar-me o significado de um conjunto de desenhos cuidadosamente esculpido sobre a pedra. Depois então, enquanto eu meditava sobre o que ele tinha me falado, eu lembrei da promessa de don Juan e percebi que aquele homem tinha sido enviado pelo espírito para transmitir-me a porção da regra do nagual de três pontas".

"E o que diz essa porção?"

“Afirma que, assim como um grupo tem uma matriz de energia de número dezessete (dois naguais, quatro ensonhadoras, quatro espreitadoras, quatro guerreiros e três mensageiros), a linhagem formada por uma sucessão de grupos também tem uma estrutura de poder, de número cinqüenta e dois. A águia ordenou que cada cinqüenta e duas gerações de naguais de quatro pontas apareça um nagual de três pontas que sirva de ação catártica para a propagação de novas linhagens quaternárias”.

"Também diz a regra que os naguais de três pontas são destruidores da ordem estabelecida, porque sua natureza não é nem criativa nem provedora, e eles têm a tendência de escravizar a todos os que o cercam. Acrescenta que para alcançar a liberdade estes naguais devem fazê-lo sozinhos, porque sua energia não está sintonizada para guiar grupos de guerreiros.

“Como tudo no âmbito da energia, o bloco de cinquenta e duas gerações se divide em duas partes; as primeiras vinte e seis são de expansão e criação de novas linhas, as restantes estão orientadas à conservação e ao isolamento. Esse padrão de comportamento vem se repetindo milênio após milênio, é dessa forma que os bruxos sabem que faz parte da regra”.

"Como resultado das atividades de um nagual de três pontas, o conhecimento se massifica e se formam novas células de naguais de quatro pontas. A partir dali, as linhagens retomam a tradição de transmitir o conhecimento de forma linear".

"A cada quanto tempo aparecem os naguais de três pontas?"

"Aproximadamente uma vez por milênio. Essa é a idade da linhagem à qual eu pertenço".

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