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terça-feira, 29 de abril de 2025

A guerra entre a consciência e a inconsciência, por Nuvem que Passa.

Lua nova, energia da lunação começando.

Após dias de chuva, estou no sul de minas, o sol começa a brilhar forte, intenso.

Após todos esses dias na umidade é um prazer sentir a luz solar quente, intensa.

Uma amiga da minha irmã que está hospedada aqui em casa, ela é de Itajubá e as estradas para lá estão impedidas, pela manhã, quando tomávamos o desjejum na varanda, ao sol, desembolorando, fez uma colocação que me chamou a atenção para um tema sério.

Ela disse: "E aí, você como pagão já fez seus ritos de agradecimento pelo sol ter voltado? "

Olhei para o sol brilhando intenso no céu azul e muitas ideias vieram a minha mente.

O sol está lá, num dos pontos da elipse das órbitas planetárias. Ele não foi embora nem voltou. Esteve sempre ali, não ficou nem mais nem menos intenso. Não "desejou " que chovesse, tão pouco que parasse de chover. Ele apenas está lá, podemos ou não nos sintonizar com ele. Como dizem os beduínos do deserto:

"Não se implora ao sol por misericórdia ao meio do dia. Procura-se a sombra".

Não é o sol responsável pelo desequilíbrio ecológico que gera essas chuvas concentradas neste período, depois de um longo período de seca.

O que me chamou a atenção no comentário foi como nos equivocamos ao avaliar certos eventos e como fomos impregnados de posturas que mesmo superadas intelectualmente, ainda nos tangem, ainda nos influenciam. Queremos atribuir ao paganismo uma relação idêntica aos dos religiosos. Como já coloquei outras vezes um (a) pagão (ã) não "ora aos deuses" "implorando humildemente favores". Um(a) pagão (ã) entra em sintonia com as potências da vida e age em harmonia com esses fluxos.

Magia é a forma do pagão se aliar aos poderes que nos cercam, não orações de pedintes. Tais potências que imprecisamente chamamos de deuses e deusas, não respondem a "oração" mas ao poder pessoal e a precisão da magia empregada. Fato.

Ao contrário do religioso que reza para deus ajudar e quando nada recebe, ou até o contrário acontece, se julga sendo "castigado" ou "testado", um pagão sabe que se realizou o rito de forma correta e tem poder pessoal suficiente vai atingir o que procura. Magia!

É difícil mudar a mentalidade, a forma de abordar a realidade.

Acompanho isso no meu cotidiano profissional, pois meu trabalho é lidar com a mudança de cultura dentro de uma empresa, auxiliar no baixar à resistência à mudanças, quebra de velhos paradigmas, pois só assim os programas de qualidade total e melhoria contínua podem ser de fato aplicados.

Na maioria das empresas que entramos, muitas das quais já tem o ISO, não aconteceu essa mudança, apenas decoraram procedimentos e acabam se estressando muito pois ficam "imitando", "seguindo" sem compreender de fato toda a nova mentalidade que um programa de qualidade exige. Isso é tão profundo que cansei de ver pessoas colocarem verbalmente certos pontos e agirem exatamente em linhas opostas sem nem perceberem isso. E as falhas ocorrem quando tentam manter as mesmas posturas antigas num contexto de qualidade total. Não funciona, gera problemas.

O mesmo vejo no paganismo.

Muitas pessoas subitamente percebem que o paganismo tem um apelo profundo. Sentem ressonância e mergulham no mesmo, mas trazem para o paganismo suas antigas posturas existenciais. Não operam em si uma profunda transformação conceitual, não reavaliam sua percepção da realidade circundante, apenas pegam os mesmos conceitos e os resignificam, isto é dão rótulos novos, mas continuam com a mesma bagagem conceitual.

Como já dissemos anteriormente, iniciar-se é morrer para o velho ser que éramos e nascer para um novo ser.

Morrer é transformar-se, é deixar para trás um estilo de ser, de agir, de pensar e sentir e ousar encontrar um novo estilo. Sem essa mudança estrutural não houve iniciação. Rituais portentosos podem ter ocorrido, mas o sentido fundamental da iniciação, morrer e renascer, não foi alcançado. E morrer é deixar o velho e nascer novamente, de si, por si, puro(a) , ingênuo(a), pronto(a) a reaprender o mundo. Essa a purificação necessária, despir-se de todos os "eus" conceituais que nos impregnaram para conseguir ver a realidade como ela é, não como nos condicionaram a vê-la.

Se lerem atentamente todos os livros que contam sobre a iniciação de um(a) xamã verão que é isto que o(a) pessoa ou grupo que inicia faz. Desmonta sistematicamente a antiga visão de mundo e "educa" o(a) aprendiz a mergulhar numa nova abordagem da realidade.

Vivemos num mundo totalmente manipulado.

Os meios de comunicação para a massa torcem as informações de forma sutil ou até acintosa, a fim de que o poder continue nas mãos dos que se julgam donos do mundo.

Como pagãos(ãs) e xamãs somos os(as) herdeiros(as) espirituais de povos que perderam, em parte, as históricas batalhas pela sobrevivência. Poucos param para pensar sobre isso, mas no litoral brasileiro, em Cusco, em Yucatã e tantos outros pontos do continente travou-se uma batalha entre duas mentalidades e a mais grosseira, mais violenta, mais vil venceu. Quantos povos foram cruelmente assassinados e aculturados?

Perdemos, em parte, estas batalhas. Digo em parte pois o fato de estarmos aqui, numa lista, debatendo o tema, mostra que ao mesmo tempo que exércitos matavam ou escravizavam os corpos de nossos ancestrais espirituais e padres convertores lhes matavam ou escravizavam a essência, alguns conseguiram escapar, o elo foi mantido e hoje renasce com intensidade.

Mas enquanto civilização os povos pagãos foram exterminados. Quando penso nisso há um certo pesar. A civilização hoje dominante nos impregnou de um neodarwinismo social que faz crer ser este modelo civilizatório o melhor e "um resultado natural da evolução". Nada mais falso.

As mortes, guerra, conflitos, inquisição, interferências imperialistas ainda hoje em andamento, nada mais são que o testemunho sangrento que este modelo de civilização é tão artificial que precisa de um trabalho intenso de desequilíbrio para existir. É mantido pelo poder de armas, exércitos e forças conversoras.

A explosão populacional, a exploração de seres humanos como objetos, negando-lhes sua condição de sujeito, essa padronização da vida em horários estanques, a perda do elo com a natureza, tornada objeto a ser explorado, não uma força viva e dinâmica tudo isso foi progressivamente desenvolvido para chegar a esta civilização.

As civilizações anteriores, os povos nativos da América e Europa, por exemplo, tinham outro estilo de vida, outra relação com a vida. O paganismo é um resgatar deste outro estilo de vida, em sintonia com a Natureza, como uma força viva, não apenas fonte de matéria prima. Óbvio que não podemos voltar atrás no tempo, tentar viver como os celtas viviam, como os índios, mas podemos aprender muitos aspectos com eles. Sabemos que tomamos banho todo dia não por influência da " desenvolvida" cultura europeia, mas graças aos índios e as amas negras. Há muitos hábitos saudáveis que vem desses povos e a forma de se relacionar com a vida, com a natureza e com a magia pode muito ser fortalecida quando entramos no universo pagão.

Estamos numa guerra. Uma guerra muito mais séria que a Guerra fria. De um lado temos os que lutam pela consciência, do outro pela inconsciência.

Há grupos espalhados pelo mundo em ação totalmente egoísta. Quem assiste Arquivo X tem uma boa analogia naquele sindicato que opera sob a proteção de rótulos como " segredo de estado" e "defesa nacional". Existem vários desses grupos espalhados pelo mundo, lutando apenas pelos seus interesses, prontos a sacrificar coletividades inteiras para se manter no poder. São herdeiros diretos de grupos que há tempos vem lutando pelo poder total sobre a humanidade.

Júlio César começou todo um trabalho sistemático para isolar as antigas tradições, poucos sabem que foi ele o primeiro a queimar uma parte da Biblioteca de Alexandria a fim de destruir certos elementos da tradição. O ataque aos celtas e outros povos foi só mais um passo desse agir rumo a uma tirania mundial. Cortez, Pizarro, Custer, Fernão Dias e tantos outros são alguns dos facínoras, assassinos, que numa lista de criminosos contra a humanidade figuram junto a Hitler e Milosevic, homens que perseguiram e destruíram outros povos com requintes de crueldade. Não podemos nos esquecer da inquisição que tentou destruir os elos da tradição que ainda resistiam e impedir a ciência de se desenvolver. E hoje temos os evangélicos invadindo aldeias e destruindo a cultura nativa para impor suas crenças.

Sabe como levamos um índio a perder seu respeito e amor pela terra, a vender sua mata e permitir que rasgue a mãe terra e poluam seus rios para minerar?

Basta convertê-lo, ensinar que os deuses, a Deusa, os ancestrais, o curupira e o anhangá, são demônios, que só Jesus salva e é só aceitá-lo como salvador pessoal e pronto. Se acabarem com o mundo não tema, deus vai dar um novo céu e uma nova terra ao eleito, só os pagãos tem que preocupar com a preservação do mundo, pois sabem que irão para o inferno quando este mundo acabar.

E assim continua a transformação desse mundo, um paraíso, num inferno.

Mas a luta está em andamento e como diz Marilyn Fergunson estamos no meio de uma revolução silenciosa.

Não é mais tempo de revolução com armas, que só ajudam as fábricas de armas a lucrar mais. Como dizem meus amigos sufis estamos no tempo de um Jihad da pena, um Jihad de conhecimento.

Como acreditam os xamãs e magos estamos numa guerra mágica.

É a única forma de levarmos o mundo de volta a um estado de equilíbrio. Na parte oeste da Park Avenue, na rua 68 em Nova York há dois belos edifícios, frente a frente. Um deles é a embaixada russa na ONU, que já foi URSS, o "grande inimigo", do outro lado está o Conselho de Relações estrangeiras (CFR) provavelmente uma das mais influentes organizações semi-públicas no campo da política internacional. Atua desde 1939 e os analistas políticos internacionais são unânimes em declarar que controla o departamento de estado americano. Nomes como Nelson Rockfeller, Henry Kinssinger e Nixon estão a este grupo associados.

Existe um livro "Honorable men" ( Little Brown Co., N.Y. , 1950) que na página 51 demonstra que tanto a articulação da segunda guerra mundial como a entrada dos EUA na mesma deve-se aos banqueiros do CFR. Interessante que como sempre financiam os dois lados, pois entre os membros do CFR encontram-se acionistas majoritários de bancos europeus como o Banco Henry Schoroeder (que financiou Sullivan e Cromwell) que patrocinaram Hitler (ver o documentário Zeitgeist).

Há uma luta acontecendo agora e para estes auto proclamados donos do mundo a destruição da Natureza vai continuar .

Entro neste tema para deixar claro que a "engenharia religiosa" destes grupos não tem limites e agora agem de forma ainda mais intensa em muito do que se vê por aí como Nova Era. Como a estapafúrdia teoria que 2/3 da humanidade vai morrer agora, para "purificar o planeta". Os "inferiores" vão embora e só ficam os superiores, claro, os que agem dentro de tal ou qual forma, sempre de acordo com o grupo que prega tais sandices.

Tais profetas do apocalipse já erraram feio desde a década de 80, mas sempre renascem pondo outra data e há sempre aqueles que preferem crer que alguém lá fora vem resolver tudo, que assumir que somos nós que temos que arregaçar as mangas e trabalhar para que uma nova era de equilíbrio venha à tona.

A Era de Aquário está aí, um novo ciclo, é como o sol de primavera voltando, mas do que adianta o sol primaveril voltar com sua chuva benfazeja se o solo não estiver arado e pronto, se a semente não está pronta?

É preciso muita insensibilidade para falar friamente da morte de 2/3 da população.

Eu estive esses dias indo a alguns postos de desabrigados aqui em Minas, por causa das enchentes, fomos levar leite da nossa fazenda e de alguns vizinhos. Ver as crianças e velhos é especialmente tocante.


Eu proporia pegar esses teóricos do apocalipse, que do conforto de suas casas ficam a falar sobre tais temas e colocá-los em campos de refugiados, creio que aprenderiam um pouco sobre algo que o budismo chama de compaixão e que eu chamo de gentileza.

Esta teoria está plenamente de acordo com a agenda dos nazistas, dos militantes de extrema direita de todos os blocos.

As pesquisas de armas biológicas nos EUA e em outros blocos buscam justamente isso, pragas seletivas que exterminem parte da população.

É muita ingenuidade acreditar que se houver uma crise global os verdadeiros donos do poder vão morrer.

Já estudaram um pouco o que há embaixo das montanhas rochosas dos EUA?

No mundo inteiro abrigos foram construídos para as elites do poder e preparados para os mais diversos tipos de contratempos, de catástrofes naturais a radiação atômica.

Assim como as potências usam o fenômeno UFO (real e complexo em si) para continuar as experiências com seres humanos dos nazistas, usam dessas tolices messiâncas para impedir que o único caminho viável, uma ação clara e incisiva, consciente e transformadora por parte de todos nós seja tomada.

É como o Brasil, que ao invés de resolver seus problemas, como moralizar as estatais e transformá-las em empresas eficientes e decentes, a gerar fundos para os gastos da União, como saúde, previdência e educação, prefere assumir que somos todos incompetentes, incapazes de eleger gente decente, incapazes de administrar com eficiência e vamos vender tudo ao capital estrangeiro, que tem mostrado muiiiiiita competência mesmo, vejam o caso da telefonia como pálido exemplo. E vão mostrar como são sensíveis as necessidades do país, quando da primeira crise mundial demitirem milhares.

Pode parecer que fugi do tema, mas não.

Fui a esta arena política para colocar que estamos na guerra do anel, como na outra era, contada por Tolkien.

Nunca o anel esteve tão perto de ser destruído, nunca esteve tão perto de Saruman.

E a luta tem que ser em todos os campos.

Assim cada vez que nos reunimos, como no dia 22 de Dezembro, no mundo inteiro em celebração (não adoração) a Deusa, cada rito que fazemos, cada vez que o paganismo se fortalece estamos novamente nos alinhando aos povos nativos de todos os continentes, aos pagãos de todos os mundos, desse e dos mundos paralelos onde se refugiaram.

E não adianta fazer como outros movimentos que tentaram fugir do sistema, a luta é de dentro para fora, nossas posturas é que mudam o mundo.

É esta a luta que está sendo travada, uma luta que ganhamos terreno quando somos felizes, quando realizamos nossos mais profundos sonhos, quando vivemos prazerosamente.

A mãe Terra está doente.

Cada vez que ritualizamos somos como uma agulha de acupuntura a tonificá-la.

Como bem coloca-se em Matrix, o ser humano deixou a condição de mamífero, que entra sempre em relação simbiótica com o meio onde vive, para assumir a condição de vírus.

Temos que curar esse comportamento, antes de mais nada em nós mesmos.

E então agir incisivamente.

Atos simples, como não comprar produtos que sejam agressivos ao meio ou venham de empresas que de uma forma ou de outra prejudiquem o meio ou usem mão de obra escrava.

É um primeiro passo, e como diz Lao Tsé, uma longa viagem começa com o primeiro passo.

Se estes primeiros passos forem dados poderemos ir mais longe, como trabalhar magicamente para transmutar todo o urânio 235 e o plutônio em elementos inofensivos.

Há uma batalha entre vida e morte, consciência e inconsciência.

Vale dela participar.

Se mais não for, para que o sorriso não desapareça no rosto de nossas crianças.

Se mais não for, por gentileza, um total gentileza para com a vida.

 
Nuvem que Passa

01/2000

sábado, 5 de abril de 2025

Lamas e Xamãs (Atualizado e com notas)

 


         Sempre lembrando…

         Não esqueçam de ver o sorriso despreocupado nestas palavras.

     Escrever ideias tem a limitação de passar formas pensamento sem os tons de voz, sem as expressões faciais e corporais e tantos outros sinais subliminares presentes em uma conversação face a face. Componentes que ajudam a compreender o que já é em si só um esforço concentrado expressar oralmente através da linguagem formalizada.

  Temos que ter o cuidado para não projetarmos nossas interpretações pessoais, mas tentar nos descentrarmos, nos ‘desegotizarmos’, como diria Piaget. Sairmos da posição do “eu”…

     Compreender cada povo e cada cultura, cada forma de expressão da vida…

     As vezes posso ter dado a impressão que aludi ao caminho búdico tibetano como algo confuso. De forma alguma. Tenho profunda admiração pela escola búdica tibetana desde o dia em que no centro cultural Vergueiro, participando da mandala da cura, realizada por lamas, vi nos olhos dos que conversei uma pureza diferente. Assim quaisquer que sejam as jangadas que usem para auxiliar na travessia rumo a outra margem, têm algo de paz, algo que já vi em alguns monges cristãos, alguns sufis, alguns xamãs.

    Quando aprendi na prática que não importa o caminho, desde que este tenha coração, soube que os lamas possuem um caminho que leva ao despertar efetivo. Como curiosidade antropológica me permitam compartilhar a forma através da qual esta linhagem de xamãs que integro vê os lamas.

   Alguns dos estrangeiros, isso é, não índios, como eu, que se ligaram a essa linhagem de xamãs eram daoxíê Sí-e* (道學 僊 - vide notas), eremitas que vivendo em peregrinação foram ter a Tailândia e arredores, onde a civilização que ali florescia tem tal semelhança com a do período olmeca e anteriores que ainda instiga os pesquisadores.

   Dali vieram ter ao México e contaram da prática de monges poderosos que viviam no alto das neves eternas. Tais monges eram curadores e conheciam muitas formas de magia. Eles tinham desenvolvido um profundo conhecimento da natureza da vida e da consciência.

  Eles sabiam que se um se uma pessoa, durante a vida, desenvolvesse a consciência de si. Haveria chance de prosseguir existindo.

    Caso contrário apenas se dissolveria como a espessa névoa vai com o vento ao meio da manhã, dissipar-se pela mata, toda e, ao meio dia, nem lembrança dela restará àquele que por ela atravessou quando o dia nascia e ainda carpe o pasto, tudo roçando, carpe, mas não carpe ‘die’.

    Contavam que tais monges em grandes mosteiros sabiam que as experiências, os jeitos de ser, de sentir, de pensar, de agir, iam de um indiví-duo para outro, se misturando em tramas e depois se separando, como se um tapete fosse tecido e depois desfeito, e sua lã, aproveitada em outros tapetes.

    Cada novo tapete gera uma forma final, um novo e único tapete, mas sua lã veio de outro tapete. E eis que certo dia um tapete acorda e diz: Hoje sonhei que fui um tapete em frente a vasta lareira do imperador. E se sente orgulhoso por isso. Ele tem algo do tapete da lareira do imperador.

    Os monges descobriram isso com sua clarividência. Mas eles não eram mais o tapete da lareira do imperador. Podiam até mesmo usar o que traziam de aprendizado dali. Mas eram um novo tapete, único e singular. E podiam até mesmo se lembrar de muitos outros tapetes que as várias cores de lãs que o compunham haviam antes composto.

    Lembrar tapetes sendo feitos e desfeitos, até o distante dia em que cada lã daquela foi pela primeira vez fiada, pela primeira vez cardada. A distante roca original que pegou a lã cardada e fez fio, fio que tecido e retecido em tantos tapetes esteve. 

   E mesmo assim, ainda perplexo, o tapete resultante dos fios confunde-se com eles, negando-se tapete. Descobriram também que quanto mais se trabalha o ser, mais lãs juntas vão de tapete a tapete e em certos casos chega a ocorrer uma autêntica reencarnação, um tapete é desfeito e refeito com a mesma lã. Ainda assim a resultante é única, distinta.

    Pois é isso que o tapeceiro, incriado, aplicado em tramar tapetes, busca! Revelar-se a si mesmo, como em uma brincadeira de esconde-esconde.

  Tais monges passaram então a ir em busca das fibras que compunham aqueles ‘tapetes’ com quem treinavam. Durante a vida o monge treina, e ao morrer, os parceiros monges seguiam sinais e encontravam várias fibras do antigo companheiro.

   Para explicar às pessoas o que faziam usaram conceitos mais simples como reencarnação. Tais monges podem muito bem ser os antepassados espirituais dos lamas tibetanos.

      Paz Profunda!!!

Nuvem Que Passa



Notas 

 

🗣️daoxíê Sí-e(m)

道學 僊

 


Ilustração - Assembléia Si-e(m)

Assembleia de imortais oferecendo votos de vida longa  

Dinastia Ming ou Qing

 

🗣️sí-e(m)

hsien”

caractere chinês simplificado:

caractere chinês tradicional:   

pinyin: xiān

Wade–Giles: hsien

fala-se🗣️sí-e(m)



O dào


= +

dào = chuò + shǒu


(chuò)

Este radical é associado a movimento ou caminhada.

 Relaciona-se a viagem ou a um caminho.


(shǒu)

Este caractere significa “cabeça” ou “líder”.



O daoxíê

 道學


(xíê)

Aprender, estudar.



    Assim 道學 🗣️daoxíê quer dizer o estudo do caminho divino, o

caminho da totalidade, ou mesmo o aprendizado do caminho do

coração, do puro sentir, o qual se dá sem palavras e sem a

interferência das emoções que são resultado das interpretações,

leituras, classificações e julgamentos que se passam no campo

mental, ou seja, o sentir puro, apenas a faculdade de sentir, a qual

chamamos de coração, mas que não tem absolutamente nenhuma

relação com o órgão físico, pois é uma habilidade do corpo

energético, da energia, da consciência silenciosa, insipida, inodora,

incolor e pura, que nada mais é do que a própria totalidade

presente em cada uma de todas as entidades sencientes.


    Tradicionalmente, ‘sí-e(m)’ refere-se a entidades que aprimoraram

um corpo espiritual imortal que sobrevive após a morte assim como

habilidades aparentemente sobrenaturais ou mágicas em vida.

Entidades que estabeleceram uma conexão com os reinos celestiais

inacessíveis aos mortais, mas que são diferente dos deuses na

mitologia chinesa e no taoísmo, os quais sempre foram inerentemente

sobrenaturais.


    ‘Sí-e(m)’ é alcançado por meio do autoaprimoramento energético,

ou Nèidān 内丹, a alquimia interna. Uma série de abordagens

esotéricas e práticas físicas, mentais e espirituais que os praticantes

do caminho do coração, 道學 aoxíê, usam para exercitar a vida e

aprimorar um corpo espiritual imortal que sobreviverá após a morte.

É também conhecido como Jindan (金丹 “elixir dourado”) e inclui

praticas como o Tai chi, exercícios respiratórios, meditação,

visualização, cuidados com a energia sexual e exercícios daoyin, que

mais tarde evoluíram para qigong.


    ‘Sí-e(m)’ é também usado para se referir a figuras frequentemente

benevolentes de grande significado histórico, espiritual e cultural. O

道學 daoxíê em sua faceta Quanzhen possui uma variedade de

definições para ‘Sí-e(m)’, incluindo um significado metafórico onde

o termo significa simplesmente uma pessoa boa e com princípios.


    Os ‘Sí-e(m)’ são considerados “pessoas divinas” que eram

humanos e ascenderam por meio do trabalho árduo, estudos formais e

artes guerreiras". Admirados pelos praticantes do 道學 daoxíê, os 

quais imitam seu exemplo na vida cotidiana. Apreciado desde 

tempos imemoriais até os dias de hoje de várias maneiras em 

diferentes culturas e escolas espirituais na China. Os ‘Sí-e(m)’ 

podem praticar ações consideradas boas ou más, e nem todos são

conectados a escola identificada especificamente como
dào. Além

de pessoas que transcenderam a condição humana, ‘Sí-e(m)’ pode se

referir a animais mágicos, muitas vezes vistos como criaturas

sobrenaturais.



    O dicionário Shiming, de aproximadamente 200 d.C., fornece

 ‘etimo’nômias’ na forma de trocadilhos, e define ‘Sí-e(m)’
como

“envelhecer e não morrer” e o explica como alguém que
(qiān) “se

muda para” as montanhas.


    O caractere ‘Sí-e(m)’ é uma combinação de (rén; '‘pessoa’')

e 山 (shān; '‘montanha’'). Sua forma histórica é
: uma combinação

de
e / (qiān; “mudança para”).


    ‘Sí-e(m)’ é frequentemente usado em palavras compostas em

chinês, como xiānrén (
仙人; “pessoa imortal; transcendente”), xiānnǚ

(
仙女; "mulher imortal; mulher celestial.


    Textos antigos como os textos Zhuangzi, Chuci e Liezi usam ‘Sí-

e(m)’ associado a mundo mágicos para descrever a imortalidade

espiritual, às vezes usando a palavra yuren
羽人 ou “pessoa

emplumada”, descritos com qualidades como ‘providos de penas’ e

‘com a habilidade de voar’, através de formas pensamento como

yǔhuà (
羽化, com "pena; asa"). O termo yuren 羽人 ou “pessoa

emplumada” posteriormente se tornou mais uma forma para dizer 道

學 daoxíê, praticante do dào.


    Durante as Seis Dinastias, os ‘Sí-e(m)’ eram um assunto comum 

nas histórias de zhiguai ( 志怪 é um termo chinês que se refere a um 

gênero literário que se concentra em histórias de fenômenos 

sobrenaturais, estranhos ou inexplicáveis.). Os ‘Sí-e(m)’ 

frequentemente tinham poderes (dào) “mágicos”, incluindo a 

habilidade de “andar...através de paredes ou ficar...na luz sem lançar 

sombra.”


    O Capítulo 11 do Zhuangzi, '[Livro do] Mestre Zhuang', século III 

a.C. usa o caractere arcaico para ‘Sí-e(m)’, e tem uma parábola 

sobre o 'Chefe das Nuvens' (雲將; Yún jiāng) dialogando com o 

'Grande Ocultação' (鴻濛; Hóngméng):


Grande Ocultação disse: 

'Se você confundir os fios constantes do Céu

e violar a verdadeira forma das coisas,

então o Céu Escuro não alcançará nenhuma realização.


Em vez disso,

os animais se dispersarão de seus rebanhos,

os pássaros chorarão a noite toda,

o desastre chegará à grama e às árvores,

o infortúnio alcançará até os insetos. 


Ah, isso é culpa dos homens que "governam"!'

'Então o que devo fazer?' 

disse o Chefe das Nuvens.


'Ah', 

disse Grande Ocultação,

‘você está muito longe!

僊 [ ‘Sí-e(m)’ – Levante-se!]

僊 [ ‘Sí-e(m)’ – Levante-se!]

mexa-se e vá embora!’


O Chefe Nuvem disse:

‘Mestre Celestial,

tem sido realmente difícil

para mim me encontrar com você

 — imploro uma palavra de instrução!’


‘Bem, então — nutrição mental!’ 

disse Grande Ocultação.

‘Você só precisa

descansar na inação 

e as coisas se transformarão.

Esmague sua forma e corpo,

cuspa a audição e a visão,

esqueça que você é uma coisa entre outras coisas,

e você pode se juntar em grande unidade

com o profundo e ilimitado.

Desfaça a mente,

descarte o espírito,

fique em branco e

sem alma,

e as dez mil coisas,

uma por uma,

retornarão à raiz

— retornarão à raiz 

e não saberão por quê. 

Caos escuro e indiferenciado 

— até o fim da vida ninguém se afastará dele.

Mas se você tentar conhecê-lo,

você já se afastou dele.

Não pergunte qual é seu nome,

não tente observar sua forma.

As coisas viverão naturalmente,

fim de si mesmas.’


O Chefe Nuvem disse:

‘O Mestre Celestial

me favoreceu com esta Virtude,

me instruiu neste Silêncio.


Durante toda vida

estive procurando por isso,

e agora finalmente encontrei!’

Ele curvou a cabeça duas vezes, levantou-se, despediu-se e foi embora.


Em conexão consciente com a Totalidade,

Admiração e Reconhecimento incomensurável

ao Velho Homem Nawal A Lex Sed Rex

e de forma muito especial ao

Velho Velho Homem Nawal Oo’Moto,

assim como todos e todas 

que o precederam.

Uni K. A.


 

sexta-feira, 28 de fevereiro de 2025

Os 3 tipos

Nós vivemos num país, quiçá num mundo, onde a mudança de hábitos já deixou de ser uma opção existencial, agora é um necessidade imperiosa de sobrevivência.

Falar em mudança de hábitos parece um paradoxo nesse momento, pois tal mudança é por definição uma ação de dentro para fora. Quando ela ocorre de fora para dentro ela é uma imposição.

A mudança de hábitos é uma atitude revolucionária, rebelde, insurgente, consciente e não reativa.

Ser forçado a mudar, mudar a contragosto, sujeitar-se a uma imposição externa não é mudar de fato, pois quando a situação se alterar, e não for mais impositiva, a tendência é retornar ao padrão comportamental anterior.

É dito que o Buda falava sobre três tipos de pessoas, comparando-as a burros, paralelo que em si mesmo já é revelador da nossa tendência a apegar-se a padrões. Então, há três tipos de burros (pessoas):

1 - aquele burro que vê a sombra do chicote e isso já basta para ele andar.

2 - o burro que só anda quando leva chicotada.

3 - e um outro que mesmo a base de chicotada não arreda pé, o empacado.

Poderia se dizer que o primeiro burro é capaz de mudar seus hábitos ao vislumbrar a necessidade para tal. O segundo só muda se for obrigado (pelo "carma", pela vida, pelo meio). E, por fim, o terceiro, que não muda nem a chicotadas.

Muita gente se acha o primeiro burro, mas se assim fosse por que estamos do jeito que estamos vivendo todo esse carma coletivo?

O que nos impede realmente de mudar a despeito de tudo e por causa de tudo?

Para concluir, caso você se ache o tal, o Buda nos revela, já de início, que todos nós somos burros, mas há uma chance de deixar de sê-lo.

obs: pelo desculpas aos burros verdadeiros pelo uso da imagem, que não espelha a nossa verdadeira burrice enquanto espécie.

quarta-feira, 27 de novembro de 2024

Caminhos da Terra - 2ª parte



Como já notaram não sou de escrever pouco, é que a meu ver, as palavras podem gerar tanta confusão que acredito sempre necessário localizar cada mensagem dentro do contexto adequado.
 
Volta e meia discutimos sobre alguns temas aqui e lá pelas tantas surge um mail: "Gente tá boa a discussão sobre o tema y, mas, pleeeeaaase, o que é o tema y?"

Por esta razão antes de falar como o Xamanismo aborda a questão da reencarnação temos que lembrar como as outras correntes avaliam. A religião católica coloca que vc tem uma vida, esta nasce, cresce e se viver de acordo com um código moral tem chance de ir para o céu, um lugar estático, final, "imerso no amor de Deus", se pecar, isto é, ir contra aqueles mandamentos da lei mosaica, se não "amar seu próximo" já vai para o inferno, onde queimará, segundo os mais modernosos da igreja o queimar é simbólico, arde ficar fora do amor divino. Conta-se que para contentar os banqueiros e a burguesia nascente que cometia a usura, tida por pecado pela igreja, criou-se o purgatório, lugar intermediário, onde temporariamente paga-se os pecados e depois vai para a glória do céu.

Interessante: céu em cima, inferno em baixo.

Céu fresco(clima), inferno quente.

Aí no século passado surgiu H. Rivail D. (Hippolyte Léon Denizard Rivail) que ficou conhecido com o pseudônimo (segundo ele de uma encarnação druídica ou celta não me lembro bem) de Allan Kardec.

Ele, alegando influência dos espíritos, usando mesa, tábua owija, copo e alguns médiuns psicógrafos, escreveu uma série de livros que constituem até hoje as bases do que se chama de espiritismo.




O espiritismo kardecista coloca que o mundo é cercado de dimensões espirituais, as mais baixas, zonas pesadas, onde ficam os "sofredores e perturbadores”, permeia a própria terra, há uma zona de transição, o umbral (esta palavra quer dizer porta) e depois as dimensões de luz onde vivem os espíritos mais puros e evoluídos.

É uma doutrina principalmente moral, prega valores como caridade e amor. Para os espíritas somos formados de um espírito (essência sem forma) que é revestido de um perispírito, corpo fluídico e espiritual e quando nos encarnamos de um corpo físico.

Para os espíritas evoluímos vida após vida, trocando de corpo físico mas mantendo no perispírito nossas aquisições quer "boas" quer "más". Acreditam que após a morte vivemos em colônias espirituais e o estilo dessas colônias foi delineado pelo médium brasileiro Chico Xavier, em si pessoa admirável, que através do que acreditam ser o espírito de André Luiz, um médico brasileiro desencarnado, psicografou obras clássicas, como "Nosso Lar" onde descreve a vida nessas comunidades, que tem tudo igual uma comunidade daqui, só que politicamente correta. Tem até dinheiro (sim o capitalismo venceu lá também !!!!) e ônibus. Quando alguém vai reencarnar vai até o ministério da reencarnação onde através de estudos complexos, um grupo de espíritos encarregados dessa área escolhe os pais adequados ao "resgate" do carma de quem reencarna. Para os espíritas vamos ficar reencarnando e reencarnando até "pagar" todas nossas dívidas. Quando o Espiritismo surgiu no século passado era bem mais rudimentar. Nem cristão era, aliás, existe um texto de Madame Blavatsky criticando o Espiritismo no qual ela diz que a nova doutrina era tão confusa que ia acabar adotando os dogmas cristãos para sobreviver...

Falando na condessa russa, foi ela que trouxe ao ocidente outro movimento importantíssimo que também investigava essa questão sempre inquietante do "de onde viemos, quem somos e para onde vamos." Helena Petrovna Blavatsky foi daquelas mulheres admiráveis que o mundo vê surgir de vez em quando. Teve um casamento forçado com o conde Blavatsky, de onde vem seu sobrenome e título, mas fugiu logo e passou a se aventurar no Egito, onde aprendeu com magos e iniciados, esteve lutando ao lado de Garibaldi na Itália, foi ao Tibete e andou por um grande número de locais. É ela que traz para o ocidente uma nova e fecunda visão deste tema.

A Teosofia que ela apresenta ao ocidente, através de seus livros: Ísis sem Véu e depois, sua obra magna: "A Doutrina Secreta", que é até hoje muito estudada.

Foi a primeira a falar em nomes como El Morya e Mestre Kut Hoomi e ainda em vida escreveu: "Se soubesse que o nome dos mestres seria tão vilipendiado e usado por mentes tão tacanhas para dar autoridade a mensagens tão pueris teria preferido nunca ter revelado nada sobre eles". Imagino o que escreveria se visse o que acontece hoje. Esses mestres não eram seres de outros mundos nem entidades espirituais, eram homens que viviam na Índia e no Himalaia, ela mesmo conta de que certa vez passeando num jardim em Londres qual não foi sua surpresa ao ver um de seus mestres junto com uma delegação hindu entrando no palácio para ver a rainha. Bem a Teosofia partilha de um ramo que os hindus chamam de Atmistas. Para eles existe o ATMA, a centelha espiritual, emanada da fonte no principio da existência. Como entre os hindus a existência é cíclica, tem períodos como o que estamos, chamados manvantaras, onde existimos e outros de "não existência” chamados de "pralaya", onde tudo cessa de existir. O Atma emana um corpo causal, um corpo onde fica impregnado cada experiência de vida que um ser tem. Esse corpo causal gera um corpo mental (manas rupa) um corpo emocional (kama rupa) um corpo etérico (linga Sharira) e finalmente surge o corpo físico.

Após uma vida o ser perde o corpo físico e o corpo etérico, pode manter o corpo astral por um tempo, é interessante que o termo astral ficou muito confuso desde então, pois esse corpo astral é o corpo emocional, nada tendo a ver com o corpo astral dos alquimistas, que tem outro sentido, como corpo formado pela energia dos astros. É no plano astral que estão as ditas cidades espíritas, e todo o tipo de ilusão possível. Quando o ser "morre" neste plano deixa o corpo astral para traz, é esse corpo que eu coloquei que alguns elementais usam para, como "fantasmas", atormentar muitos e entrar em sessões espíritas para tomar a energia dos que ali estão. O plano mental é chamado Devacã (ler e estudar a carta 68 - Devachan -, uma resposta do mahatma K.H. sobre o tema reencarnação e espiritismo, pois tem tudo a ver com o assunto deste texto) e é uma espécie de paraíso temporário. Quando perde esse corpo o ser tem toda a sua vivência captada e registrada no corpo causal.

Dali ele começa de novo o caminho gerando um novo corpo mental, um novo corpo emocional e um novo corpo etérico e físico e uma nova vida. Embora traga os "karmas" e "tendências" das vidas anteriores, seus corpos são novos, daí que nada, ou pouco, lembra de outras vidas. Ao contrário dos espíritas, os teósofos aceitam a realidade dos elementais e dos rituais, embora considerem que a magia, que chamam de "ocultismo prático" seja um campo perigoso, para só ser adentrado sob estrita supervisão de iniciados experts no assunto.

O espiritismo kardecista nega o valor da magia, dos rituais e não leva em conta a existência de elementais.

Para o Espiritismo existem espíritos puros ou impuros e fica por aí.
A Teosofia tem um conceito muito interessante.

Até o nível dos animais existe uma coisa chamada alma-grupo, isto é, imagine uma esfera, que é a alma grupo dos cães. Uma parte dessa esfera se desprega, encarna como cão, tem uma vida e ao morrer se reintegra nessa alma grupo, partilhando com o todo a experiência adquirida.

Chegamos no Xamanismo. Para um xamã o ser humano pode ser comparado a um aglomerado. Vou usar como exemplo um balão cheio de fibras óticas. De todas essas fibras, que seriam jeitos de ser, de agir, de pensar e sentir, apenas algumas são ativadas, pelas vivências. Esse pequeno conjunto de fibras ativadas chamamos de "personalidade". Esta personalidade não é algo fixo nem final, variamos de humor, acreditamos numa coisa hoje, noutra amanhã, mudamos nosso modo de ser várias vezes, mas tudo dentro de um grupo de opções. Quando uma pessoa morre essas fibras se espalham, como na alma grupo voltam para um tanque global. Quando outra pessoa vai nascer as fibras se misturam de novo. Este novo ser que nasce vai ter fibras oriundas de vários outros.

Daí que pode ter um medo ou uma afeição que veio de um indivíduo. Se fizer uma regressão vai acreditar que "foi o fulano" na outra vida, mas não há um "eu" passando de vida para a vida, há aglomerados que se combinam e recombinam, como muitas peças de lego dentro de uma caixa que a cada vez que com ele brincam vai estar numa peça diferente, hoje monta uma casa e diz: "Oi, eu sou casa", amanhã é parte de um carrinho e diz: "Oi, eu sou carrinho".

Os sufis de algumas linhas propõe o mesmo colocando o exemplo de um tapete. Vários fios são usados para fazer um tapete e o tapete quando pronto vai para a tenda do Sheik. Então o tapete fica velho, volta para o tapeceiro que o desfaz e com os fios desse tapete, somados aos fios de outro tapete que desmanchou passa a tecer outros tapetes. Então um dia o novo tapete que dos seus 130 fios, tem uns 20 que vieram do tapete do sheik acorda e diz: Tive um sonho: Sonhei que era um tapete na tenda do Sheik. Aí vaí no tapete que faz regressões e acaba acreditando que ERA o tapete que estava na tenda do Sheik. Mas ele não "é" este tapete, ele tem "fios" desse tapete. Quem assistiu o filme "O pequeno Budha" tem aqui a chave para entender como o Lama Dordje reencarna nos 3 personagens, no menino americano, na menina e no menino hindu.



Para nossa cultura que está apegada a personalidade isso é quase uma heresia, além do que o esoterismo comum aborda sempre a visão espírita da reencarnação.

Para o Xamanismo, assim como para o Sufismo, o Taoísmo e alguns ramos do Budhismo, não somos imortais.

Somos imortalizáveis.

Podemos, se trabalharmos arduamente, gerar em nós um centro perene e só então podemos dizer que vamos "reencarnar".

Antes disso somos aglomerados de karmas que herdamos de vários outros seres. Para o ego isso é a morte, não poder dizer: "eu já fui a rainha da França, o mago do Egito, na minha vida anterior, e tantas outras frases que servem para reforçar esse ego ilusório que, unanimemente em todas as tradições, nos mantém afastados das reais chances que temos.

Por isso toda iniciação começa pela morte.

Todo ritual tradicional começa pela morte do neófito, ou seja, sua libertação do aglomerado de "personas" que ele carrega e o início do gerar de seu centro real, permanente a partir do qual vamos começar nossa aventura de ir mais e mais além.

Aliás, o termo correto não seria pois reencarnação, mas transmigração.

O mesmo tema encontrei entre pessoas que estudaram profundamente certos mistérios gregos relacionados ao Pitagorismo, pessoas que estudaram algumas escolas druídicas, vamos encontrar em várias vertentes do Sufismo e do Budhismo.

Vou tentar usar uma analogia física para colocar essa ideia. Existe em Física um conceito chamado vetor. Um vetor é a expressão da força que atua sobre um corpo. Imagine um tijolo em cima de uma tábua estreita, na horizontal. A força da gravidade puxa o tijolo para baixo, mas a força normal mantém o tijolo em seu lugar, como soma dos dois vetores se anulam, podemos dizer que o vetor resultante é zero, daí que nada acontece, fica o tijolo onde está. Mas se colocarmos a tábua na diagonal, os vetores se alteram e o tijolo vai começar deslizar pela tábua.

A direção de deslocamento do tijolo é determinada pelo vetor resultando, que é a soma dos vetores envolvidos. Mas note que o vetor resultando, embora seja a única força notável no processo, pois determina a direção do deslocamento, não existe em si, é resultante, é a somatória de todos os vetores envolvidos. Para os xamãs e iniciados com os quais estudei o que chamamos de "eu" é este vetor resultante.

Embora pareça existir e seja mesmo o que notamos em nós como real, não tem existência em si, é fruto da interação de muitos outros fatores em nós. Basta alterar um desses fatores e tudo se altera. Assim pegamos as pessoas cada manhã acordando com um estado de espírito, com uma opinião diferente. 

Iniciar-se seria aprender a gerar seu próprio vetor

isto é, ser movido não mais pelo tanger de forças externas, mas desenvolver uma coisa muito falada , mas pouco presente: VONTADE.

A partir daí o ser se torna uma individualidade, a partir daí o processo de resgate e realização do self acontece, a partir daí a individuação ocorreu e então é que começa a aventura do iniciado, estar vivo e atuante, senhor (a) de si num mundo instigante e misterioso.

Antes disso somos joguetes nas mãos de forças as mais diversas, memória coletiva, memória racial, força dos planetas, karmas raciais e tantas outras forças que nos tangem prá lá e prá cá, sem esquecer a mídia, a engenharia social e religiosa que os grupos que pretendem dominar o mundo estão sempre usando.

Nuvem que passa
29/12/1999


terça-feira, 9 de janeiro de 2024

Disciplina - 1ª parte

«Segundo uma antiga história zen um aluno teria dito ao mestre Ichu: "Por favor, escreva-me algo com grande sabedoria". O mestre Ichu tomou de seu pincel e escreveu uma só palavra: "Atenção".

O aluno indagou: "É tudo?". O mestre escreveu então: "Atenção. Atenção".

O aluno ficou irritado. "Não me parece que seja profundo nem sutil." Em resposta, o mestre escreveu simplesmente: "Atenção. Atenção. Atenção". Frustrado, o aluno exigiu: "O que significa essa palavra 'atenção'?". E o mestre Ichu disse: "Atenção significa atenção".

Em lugar de 'atenção' poderíamos usar 'percepção consciente'. Atenção ou percepção consciente é o segredo da vida, o cerne da prática. Como o aluno nessa história, consideramos esse ensinamento uma decepção; é árido e desinteressante. Queremos algo excitante em nossa prática! A simples atenção entedia! Perguntamos: a prática é só isso? Quando os alunos aparecem para falar comigo, ouço queixas e mais queixas: o horário do retiro, o alimento, o serviço, eu mesma, e assim por diante. Mas as questões que as pessoas estão me trazendo não são mais relevantes ou importantes do que um evento "trivial" como esfolar um dedo. Como colocamos as nossas almofadas? Como escovamos os nossos dentes? Como varremos o chão ou fatiamos uma cenoura? Pensamos que estamos aqui para dar conta de questões "mais importantes", como os problemas que temos com nossos cônjuges, nossos trabalhos profissionais, nossa saúde etc.

Não queremos nos incomodar com as "pequenas" coisas, por exemplo como seguramos nossos talheres ou onde pomos a colher. Mesmo assim, são esses atos que constituem o estofo de nossa vida, de um momento a outro. Não é uma questão de importância; é uma questão de prestar atenção, de estar conscientemente perceptivo. Por quê? Porque cada momento da vida é absoluto em si. E isso é tudo o que existe. Não existe mais nada além deste momento presente; não existe passado, não existe futuro, não existe nada além disto. Por isso, quando não prestamos atenção a cada pequeno 'isto', perdemos tudo. E o conteúdo do 'isto' pode ser qualquer coisa. 'Isto' pode ser endireitar nossos colchonetes de praticar, fatiar uma cebola, visitar alguém que não desejamos visitar. Não importa o conteúdo do que seja o momento; cada momento é absoluto. É só isso que existe e que jamais existirá.

Se conseguíssemos prestar totalmente atenção, nunca ficaríamos contrariados. Se estamos contrariados, é axiomático que não estamos prestando atenção. Se perdemos não apenas um só momento, mas um momento depois do outro, estamos em apuros. Vamos supor que fui condenada a ser decapitada na guilhotina. Agora estou caminhando e subindo os degraus que levam ao cadafalso. Consigo manter minha atenção no momento? Consigo estar consciente de cada passo, passo a passo? Consigo colocar minha cabeça na guilhotina cuidadosamente para assim servir bem ao algoz? Se eu conseguir viver e morrer dessa maneira, não surgem quaisquer problemas. Nossos problemas aparecem quando subordinamos este momento a alguma outra coisa, a nossos pensamentos autocentrados: não é só este momento, mas o que 'eu quero'. Revestimos o momento com as nossas prioridades pessoais, o dia inteiro. E é assim que começamos a ter dificuldades.

Uma outra história antiga diz respeito a um grupo de ladrões que invade o estúdio de um mestre zen e lhe diz que iam decepá-lo. Ele comentou: "Por favor, aguardem até amanhã de manhã. Preciso concluir um certo trabalho". Assim, passou a noite completando o trabalho, bebendo chá e desfrutando. Escreveu um poema simples no qual comparava sua cabeça decepada a uma brisa primaveril e o entregou aos ladrões como um presente quando eles voltaram. O mestre entendia bem o que era praticar. Temos dificuldade em compreender essa história porque temos todos um imenso apego à nossa cabeça, que queremos que permaneça sobre nossos ombros. Não é nosso desejo particular que nossas cabeças sejam decepadas. Estamos determinados a que a vida prossiga do jeito como 'nós' queremos que prossiga. Quando isso não acontece, ficamos com raiva, confusos, deprimidos, ou de alguma forma contrariados. Não é ruim em si ter esses sentimentos, mas quem quer uma vida comandada por eles?

Quando a atenção ao momento presente é desviada para alguma versão de "Eu tenho de conseguir as coisas 'ao meu modo', cria-se uma distância entre nossa percepção consciente e a realidade tal como é, neste momento preciso. Nessa distância ou fosso despejamos todos os males de nossa vida. Criamos uma distância atrás da outra, em seqüência, o dia inteiro. A finalidade da prática é anular essas distâncias, é reduzir o tempo que passamos ausentes, prisioneiros de nosso sonho autocentrado. No entanto, cometemos um erro se pensamos que a solução está em que 'eu' presto atenção. Não é "EU varro chão", "EU fatio a cebola", "EU dirijo o carro". Embora essa prática seja necessária nos estágios preliminares, ela continua alimentando os pensamentos autocentrados ao denominar a pessoa como um "EU" para o qual a experiência está presente. Um jeito melhor de entender é a simples percepção consciente: apenas vivenciar, vivenciar, vivenciar. Na simples percepção consciente, não há distância, não há espaço para pensamentos autocentrados aparecerem.

Em alguns centros zen, os alunos são solicitados a se envolver em ações em câmera exageradamente lenta, por exemplo abaixando objetos e erguendo-os muito devagar. Essa atenção autoconsciente é diferente da simples percepção consciente, do apenas fazer o abaixa-levanta. A receita para se viver é simplesmente fazer o que estamos fazendo. Não estando autoconsciente do que faz; só fazendo. Quando ocorrem os pensamentos autocentrados, então erramos de bonde e aparece a distância. Essa distância ou fosso é o local de nascimento dos problemas e transtornos que nos atormentam.»

Charlotte Joko Beck - Nada de Especial - Vivendo Zen.

quinta-feira, 23 de novembro de 2023

Vipashyana - Meditação sobre a Vacuidade, por Sangye Khadro


Todos os ensinamentos buddhistas têm o objetivo de nos conduzir gradualmente à realização da vacuidade. Aqui, "vacuidade" significa a vacuidade de existência inerente, concreta, e a erradicação total em nossa mente deste falso modo de ver as coisas marca nosso atingimento da iluminação, do estado búddhico.

O que é "vacuidade de existência inerente"? Em termos práticos, o que isso significa? A assim-chamada "existência inerente" — da qual todos as coisas são ditas como sendo vazias — é uma qualidade que projetamos instintivamente sobre cada pessoa e coisa que experienciamos. Nós vemos as coisas como total e solidamente existentes em e por si mesmas, por sua própria parte, com sua própria natureza, bem independentes de qualquer outra coisa e condição, ou de nossa própria mente que as experiencia.

Pegue uma mesa, por exemplo. Vemos uma mesa sólida, independente, lá, tão obviamente uma mesa que até mesmo questioná-la parece ridículo. Mas onde está a mesa? Onde a sua "mesidade" está localizada? É uma de suas pernas? Ou é o seu topo? É uma de suas partes? Ou mesmo um de seus átomos? Quando ela passou a ser uma mesa? Quantas partes você deve tirar antes de ela deixar de ser uma mesa?

Se você investigar totalmente, descobrirá que simplesmente não pode encontrar a mesa que pensa estar lá. Há, entretanto, uma mesa interdependente, que muda de momento a momento, não-inerente, mas não é isto que vemos. Este é o X do problema. Nós não experienciamos a realidade nua de cada coisa e de cada pessoa, mas sim uma imagem exagerada da realidade, cheia, projetada pela nossa mente. Este erro marca cada uma de nossas experiências mentais, é bem instintivo e é a própria raiz de todos os nossos problemas.

A penetrante desordem mental começa com a apreensão errônea de nosso próprio "eu". Nós somos compostos pelo corpo — uma massa de carne, ossos e pelo — e pela mente — um fluxo de pensamentos, sentimentos e percepções. O composto é convencionalmente conhecido como "Maria", "João", "mulher", "homem". É uma aliança temporária que termina com a morte do corpo e com o fluir da mente para outras experiências.

Estes fatos rígidos, não-embelezados, podem ser inquietantes. Uma parte de nós, o ego, desejando segurança e imortalidade, inventa um "eu" inerente, independente, permanente. Não é um processo deliberado, consciente, mas ele toma lugar nas profundezas de nossa mente subconsciente.

O "eu" fantasiado aparece de maneira especialmente forte nas horas de stress, excitamento ou medo. Por exemplo, quando nós escapamos por pouco de um acidente, há um poderoso senso de um "eu" que quase sofreu morte ou dor, e que deve ser protegido. Esse "eu" não existe, é uma alucinação. Nossa aderência a este falso "eu" — conhecida como a ignorância do auto-apego — macula todas as nossas relações com o mundo. Nós somos atraídos por pessoas, lugares e situações que gratificam e mantém nossa auto-imagem, e reagiremos com medo ou animosidade a tudo que a ameace. Nós vemos todas as pessoas e coisas como definitivamente deste modo ou daquele. Assim esta raiz, o auto-apego, ramifica-se em apego, inveja, ódio, arrogância, depressão e na miríade de outros estados mentais turbulentos e infelizes.

A solução final é eliminar esta ignorância raiz com a sabedoria que realiza, em tudo o que experienciamos, a vacuidade das falsas qualidades que projetamos sobre eles. Esta é a transformação última da mente.

A vacuidade soa bem abstrata, mas de fato é muito prática e relevante para nossas vidas. O primeiro passo para entendê-la é tentar ter uma ideia do que pensamos existir; localizar, por exemplo, o "eu" em que acreditamos tão fortemente, usando o raciocínio claro na meditação analítica, ver que ele é uma mera fabricação, que é algo que nunca existiu e nem mesmo poderia existir.

Mas não exagere! Você definitivamente existe! Há um "eu" convencional, interdependente, que experiencia a felicidade e o sofrimento, que trabalha, estuda, dorme, medita e se torna iluminado. A primeira e mais difícil tarefa é distinguir entre este "eu" válido e o fabricado; geralmente nós não podemos distingui-los. Na concentração da meditação, é possível ver a diferença, reconhecer o "eu" ilusório e erradicar nossa crença habitual nele. A meditação aqui é um primeiro passo prático nessa direção.

A prática

Comece com uma meditação sobre a respiração para relaxar e acalmar sua mente. Motive-se fortemente para fazer esta meditação com o objetivo de se tornar se iluminado pelo benefício de todos os seres.

Agora, alerta como um espião, vagarosa e cuidadosamente torne-se consciente do "eu". Quem ou o quê está pensando, sentindo e meditando? Como parece que ele veio à existência? Como ele aparece para você? O seu "eu" é uma criação de sua mente? Ou é algo que existe concreta e independentemente em seu próprio direito?

Se você acha que pode identificá-lo, tente localizá-lo. Onde está o "eu"? Está na sua cabeça... nos seus olhos... no seu coração... nas suas mãos... no seu estômago... nos seus pés? Considere cuidadosamente cada parte do seu corpo, incluindo os órgãos, vasos sanguíneos e nervos. Você pode encontrar seu "eu"? Ele pode ser bem pequeno e sutil, então considere as células, os átomos, as partes dos átomos.

Depois de considerar o corpo inteiro, novamente pergunte a si mesmo como o seu "eu" manifesta sua existência aparente. Ele ainda parece ser vívido e concreto? O seu corpo é o "eu" ou não?

Talvez você pense que sua mente é o "eu". A mente é um fluxo constantemente mutante de pensamentos, de sentimentos e de outras experiências, indo e vindo em rápida alternação. Qual destes é o "eu"? É um pensamento amoroso... um pensamento furioso... um sentimento feliz... um sentimento deprimido? O seu "eu" é a mente que medita... a mente que sonha? Você pode encontrar o "eu" em sua mente?

Há qualquer outro lugar para se procurar o "eu"? Ele poderia existir em algum outro lugar ou de outro modo? Examine toda possibilidade que puder pensar.

Novamente, olhe para o modo pelo qual o seu "eu" realmente aparece, para você, como você o sente. Depois desta busca pelo "eu", você percebe alguma mudança? Você ainda acredita que ele é sólido e real como você sentia antes? Ele ainda parece existir independentemente, em e por si mesmo? Em seguida, desintegre mentalmente o seu corpo. Imagine todos os átomos se separando e flutuando. Bilhões e bilhões de partículas diminutas se espalham pelo espaço. Imagine que você realmente pode ver isto.

Agora, desintegre sua mente. Deixe flutuar cada pensamento, sentimento, sensação e percepção. Permaneça nesta experiência de espaço sem ser distraído pelos pensamentos. Quando voltar o sentimento de um "eu" independente, inerente, analise-o novamente. Ele existe no corpo? Na mente? Como ele existe?

Não faça o erro de pensar, "Meu corpo não é o 'eu' e minha mente não é o 'eu', portanto, eu não existo". Você existe, mas não do modo que intrinsecamente sente, como se fosse independente e inerente. De modo convencional, o seu "eu" existe em dependência da mente e do corpo, e esta combinação é a base para a qual o pensamento conceitual atribui um nome: "eu" ou "self" ou "Maria" ou "João". Este é o "você" que está sentado, meditando e se surpreendendo com o pensamento de que "Talvez eu não exista!"

Tudo o que existe é necessariamente dependente de causas e condições, ou de partes e nomes, por exemplo. É assim que as coisas existem convencionalmente, e entender a interdependência é a principal causa para entender a natureza última de uma coisa, sua vacuidade. A natureza convencional de algo é sua dependência de causas condições, e sua natureza última é a sua vacuidade de existência inerente, interdependente.

Pense agora sobre como o seu corpo existe convencionalmente, em dependência de pele, sangue, ossos, pernas, braços, órgãos e assim por diante. Por sua vez, cada uma dessas coisas existe em dependência de suas próprias partes: células, átomos e partículas sub-atômicas.

Pense sobre a sua mente, como ela existe em dependência de pensamentos, sentimentos, percepções, sensações. E como, por sua vez, cada uma destas existe em dependência de experiências de consciência anteriores, que deram surgimento a eles.

Agora, volte ao seu sentimento de um "self" ou "eu". Pense sobre como você existe convencionalmente, em dependência do corpo-e-mente do nome — as partes do "eu".

Quando o corpo sente fome ou frio, por exemplo, você pensa, "Eu estou como fome", "Eu estou com frio". Quando a mente tem uma ideia sobre algo, você diz, "Eu penso". Quando você sente amor por alguém, você diz, "Eu te amo". Quando você se apresenta a alguém, você diz, "Eu sou fulano". Separado deste senso de um "eu" que depende dos fluxos sempre mutantes do corpo e da mente, há um "eu" sólido, imutável e independente?

A mera ausência desse "eu" inerentemente existe é a vacuidade do "self".

Termine a sessão com uma conclusão de como você, o seu "eu", existe. Conclua dedicando sinceramente qualquer energia positiva e insight que tenha obtido à iluminação de todos os seres. Pense que esta acumulação é apenas um passo ao longo do caminho para finalmente alcançar o insight direto na vacuidade, e assim cortar a raiz do sofrimento e da insatisfação.

(McDonald, Kathleen. How to Meditate: A Practical Guide.

Editado por Robina Courtin. Ithaca: Snow Lion, 1998. Pág. 58-62.)


Sinal de Fumaça

A Chave Secreta para o Empoderamento

Saúdo a Fonte Eterna em mim e em tudo. Estou atuando a partir do centro da verdade. Que todos os impedimentos sejam removidos. Imagem gerada...