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sexta-feira, 5 de janeiro de 2024

2024: Saturno, o minimalista existencial.

Começou 2024, do ponto de vista das calendas temos um ano novo fiscal. A Zumbilândia comemorou com fogos e explosões a virada da folhinha para reiniciar tudo como dantes no quartel de Abrantes.

Mas, do ponto de vista astrológico, o ano só começa mesmo no dia 20 de março - o ponto vernal - , quando temos o primeiríssimo grau de Áries na roda zodiacal e o Equinócio de Outono aqui no hemisfério sul. Assim, por enquanto, estamos sob a influência não de Saturno, mas da Lua, regente de 2023.

2024 é o ano de Saturno, mas na verdade desde 2017 estamos num ciclo de 36 anos que é regido por Ele, segundo a tradição que vem dos caldeus, então estaremos agora com a energia de Saturno ao quadrado.

Saturno tem, indevidamente, má fama e era chamado pelos antigos de grande maléfico, quando na verdade o grande maléfico é a ignorância não reconhecida. Façamos, pois, justiça à Saturno (para os romanos) ou Cronos (para os gregos).

Precisamos esclarecer esse mal entendido olhando para o mito de Saturno - ♄. Saturno ficou conhecido por devorar os seus filhos (talvez daí venha a sua má fama como grande maléfico ou talvez seja pelo fato de ter cortado os bagos do pai Urano) já que não queria perder o poder para a próxima geração. Isso é um padrão dos donos do poder de todos os tempos e lugares, o apego ao próprio poder. 

Curiosamente, sem ter a consciência de que o desapego é em si mesmo um poder, o poder de libertar-se do passado e não ficar escravo às coisas. Assim os donos do poder na verdade são possuídos pelo próprio poder e tornam-se escravos. Por isso no Xamanismo Guerreiro o poder é tido como o terceiro inimigo¹ do homem de conhecimento. Não é possível avançar no caminho quando caímos na armadilha do (apego ao) poder.

E aqui vemos um outro lado de Saturno, pois a energia saturnal, segue, como qualquer outra energia, o princípio da polaridade em Magia, princípio oriundo da tradição hermética. Assim a energia de Saturno contém em si essa dualidade: o apego e o desapego, o querer reter e o let go. Certamente quando mais nos apegamos a uma situação que deve ir mais nós sofremos e se compreendemos a necessidade de deixar ir nos abrimos ao novo. Eis uma lição saturnal. Deixar ir, deixar fluir o rio do tempo. Tempo que é uma das palavras chaves de Saturno ou Cronos, senhor do rio do tempo. O tempo que se vai, e se esvai, anuncia um novo tempo na ampulheta de Saturno. Ainda assim algo permanece, são as areias do tempo.

Quem decide sobre a polarização dessa energia, obviamente, somos nós quando estamos conscientes e atentos ao que se passa e ao que logo se passará. O momento do Trabalho é aqui e agora, assim podemos no fundir voluntariamente com Saturno é nos tornarmos senhores de nosso tempo, do que fazemos com ele, de como o aproveitamos, pois Saturno, polarizado positivamente, é a consciência do tempo, do aqui e do agora, nos abrindo a possibilidade para um tempo além do tempo e que toca a eternidade, o eterno agora. Ou usamos o nosso tempo com sabedoria ou seremos devorados pelo tempo.

Para vencer o tempo precisamos de sabedoria (Quíron, filho de Saturno com uma ninfa), foi o que fez Reia diante de Saturno. Cansada de entregar seus filhos para serem devorados ela ludibriou Cronos ao entregar-lhe uma pedra envolvida em panos, um simulacro. Os donos do poder em geral estão tão cientes de si e de seu poder (por ser acharem os "fodões") que acabam por negligenciar suas tarefas e se deixam envolver por artimanhas. O ego acaba por cegar deuses e homens. Ora, em termos simbólicos, os xamãs guerreiros fazem o mesmo que Reia, entregam ao "Senhor do Tempo", a Águia, uma imitação daquilo que ela deseja: memórias, arquivos existenciais, experiência de vida através da técnica da recapitulação, eis o poder da recapitulação. Dessa forma eles retém para si a energia vital e ludibriam a Águia, numa manobra de espreita suprema. Nos mitos há muito ensinamento oculto.

Por isso já dizia Paracelso, grande astrólogo e alquimista:

"O homem sábio domina os astros, as estrelas não obrigam aquilo que não desejamos. Se alguém tem mais do que o outro não é por causa das estrelas, mas porque tem mais aptidão, e aptidão é coisa do espírito. A alma humana é feita dos mesmos elementos das estrelas. Deus guia as estrelas, a razão guia os homens. As influências planetárias estão em toda a Natureza: assim como o homem atrai as qualidades venenosas da Lua, a Lua também atrai as más influências do homem e as distribui com seus raios". 

Compreendido que Saturno não é benéfico ou maléfico, entendido que a energia é regida pelo princípio da polaridade, cabe a nós através do agir conscientemente usar, manipular e aproveitar essa energia de forma estratégica.

Contudo não podemos negar o fato que a maioria da humanidade opera em modo zumbi. A Zumbilândia tem motivos para temer Saturno, não por causa da energia em si, mas justamente por causa do estado de inconsciência próprio dos zumbis. Na verdade o estado de zumbi é temível em si mesmo, pois a zumbilândia é incapaz de aproveitar adequadamente qualquer coisa ou situação. A negatividade que permeia a nossa sociedade e a nossa cultura é gigantesca e tem gerado um stress que leva a um colapso global, no qual a possibilidade de uma terceira guerra mundial com formato de cogumelo atômico se faz cada vez maior.

Por isso o ano de Saturno (ao quadrado), 2024, é preocupante e ao mesmo tempo interessante como objeto de estudo, pois padrões astrais e celestes que se repetiram no passado e influenciaram certas situações estão de novo reaparecendo. Ciclos que se repetem, mas que não são exatamente iguais.

Só que nessa história toda há um detalhe, para o Brasil e, portanto, para os brasileiros a regência de Saturno será tripla, pois quando o Sol estiver a zero graus de Áries no dia 20 de março do corrente, pelo horário de Brasília, no céu do Brasil estará ascendendo o signo de Capricórnio que tem como regente ele mesmo: Cronos-Saturno. O influxo energético de Saturno amplificado vai tornar todas as questões relativas à Saturno muito mais significativas no Brasil.

O tipo de pergunta que devemos nos fazer diante da foice saturnina, diante da energia saturnal que chega amplificada é: o que é supérfluo, dispensável, inútil que preciso cortar de minha vida? Que padrões de comportamento não são mais necessários pois são drenantes de minha energia, de meu poder pessoal e que não estão alinhados com um propósito maior? Quais são os meus apegos que me impedem de fluir no rio do tempo? Saturno nos coloca diante do segundo princípio da arte da espreita: eliminar o supérfluo de nossas vidas. Saturno é um minimalista existencial.

A abordagem que fazemos aqui é mais de uma vertente moderna da Astrologia. Uma abordagem mais tradicional já falaria das cabeças que rolarão para aqueles que pisaram muito na bola e que ocupam postos de poder. Deve ter muita gente que ocupa posições de poder na atualidade na lista negra de Saturno, com certeza.  Quem viver, verá. E é a Astrologia tradicional que encara Saturno como o grande maléfico e Marte (nosso "queridinho" para quem trilha o caminho do guerreiro) como o pequeno maléfico. Para nós cabe aqui o princípio da polaridade, pois em nossa visão a Astrologia é tributária da Tradição Hermética na medida em que se baseia no princípio da correspondência de Hermes Trismegisto, não sendo apropriado definir uma energia planetária como boa ou ruim em si mesma. A mesma visão encontramos, por exemplo, na Umbanda tradicional, no qual Omulu-Abaluaiê, é visto como temível e maléfico. Ora, Omulu na Umbanda tem grandes afinidades com Saturno. Tal Orixá em si mesmo não é bom ou mau, é uma energia cósmica neutra que opera através de determinadas fontes naturais de nosso planeta ou nos locais nos quais seus "agentes" atuam. 

A energia de Saturno se conecta com a energia de Omulu, com a energia de Nanã e de todas as falanges que atuam na chamada calunga pequena (cemitério). No próximo ciclo astrológico, portanto, todas essas falanges estarão operando com grande força, em especial no Brasil. São falanges de natureza severa, protetoras além da conta, mas severas. Não são raras as histórias de médiuns que operavam com tais falanges e que por pisarem na bola foram abrupta e rapidamente desencarnados. Um caso conhecido é do famoso médium Zé Arigó, que trabalhava com o chamado Dr. Fritz, um agente espiritual que trabalha dentro da energia de Omulu.

É uma energia disciplinadora e se é verdade que só a disciplina salva então pode-se dizer que só Saturno salva ;-)

Se formos associar Saturno com o Tarot deveremos ressaltar pelo menos três arcanos: a Morte, o Julgamento e o Eremita.

A palavra corte é uma palavra chave para a força saturnina, não é à toa que o mito liga-se com a foice, é com ela que Saturno suplanta seu pai, Urano. Associa-se assim com cortar o mal, eliminar o supérfluo, operar (cirurgicamente), sanar, curar, desencarnar e com a sábia conselheira do guerreiro(a): a morte. Ora, é preciso que o velho morra para que o novo surja. Assim a força saturnina além de ligar-se aos Orixás Omulu e Nanã, também vincula-se a um dos deuses da trimurti hindu: Shiva, o destruidor. Dessa forma o ano promete ser um ano de colheita e também de separação do joio e do trigo.





Notas

¹ "O poder é o mais forte de todos os inimigos. E naturalmente a coisa mais fácil é ceder; afinal de contas, o homem é realmente invencível. Ele comanda; começa correndo riscos calculados e termina estabelecendo regras, porque é um senhor. "Um homem nesse estágio quase nem nota seu terceiro inimigo se aproximando. E, de repente, sem saber, certamente terá perdido a batalha. Seu inimigo o terá transformado num ser cruel e caprichoso.
- E ele perderá o poder?
- Não, ele nunca perderá sua clareza nem seu poder.
- Então o que o distinguirá de um homem de conhecimento?
- Um homem que é derrotado pelo poder morre sem saber manejá-lo. O poder é apenas uma carga em seu destino. Um homem desses não tem domínio sobre si, e não sabe quando ou como usar seu poder - A Erva do Diabo ou Os Ensinamentos de Don Juan Matus.

sexta-feira, 17 de novembro de 2023

O Poder da Recapitulação




“O poder da recapitulação,” disse don Juan, “é que ela agita todo o lixo de nossas vidas e o faz emergir.”

"Sem que soubessem, o mar escuro da consciência tomava a consciência em forma de suas experiências de vida, mas não tocava em sua força vital no caso daqueles feiticeiros que recapitularam suas vidas do modo mais completo possível. Os feiticeiros descobriram uma verdade gigantesca com relação às forças do universo: o mar escuro da consciência quer apenas a nossa experiência de vida, não a nossa força vital."

“Os feiticeiros acreditam,” continuou don Juan, “que ao recapitular nossas vidas, tudo o que foi decantado para o fundo, como disse para você, vem à superfície. Nós percebemos nossas contradições, nossas repetições, mas algo em nós aciona uma tremenda resistência em recapitular. Os feiticeiros dizem que a estrada fica livre apenas depois de esforços tremendos, depois de uma gigantesca convulsão, depois do aparecimento na tela de nossa memória de um evento que faz tremer nossas bases com terrível claridade de detalhes. É o evento que nos arrasta ao momento real em que nós o vivemos. Os feiticeiros chamam esse evento de o condutor, porque a partir daí cada evento que tocamos será revivido, não meramente relembrado.

Carlos Castaneda, O Lado Ativo do Infinito.


Este tema da recapitulação vale a pena ser comentado, é um dos pilares do processo apontado pelo Xamanismo Guerreiro e por outros caminhos também.

É fato que todos recapitulamos ao morrer.

O mar escuro de consciência, a fonte que nos doou a consciência ao final da existência toma de volta para si tal consciência, que se dilui no vasto mar, nele diluindo o teor de nossas experiências, metabolizadas pelo processo de estarmos vivos e percebermos.

Ao final da existência o ponto de aglutinação, a percepção, tudo que somos, pois o resto é emprestado, passa por todas as experiências de vida que tivemos, não é um recordar mental, é um viver de novo mesmo, algumas pessoas que quase morreram e voltaram falam desse "passar da vida".

Por isso os videntes toltecas desenvolveram a técnica de viver neste mundo em consciência intensificada e ir a muitos mundos, não humanos principalmente, se lançar as vastidões do infinito e retornar a esta terra, este tempo onde temos nossas vidas.

Imaginem onde um(a) xamã pleno como os que ensinaram o nagual de 3 partes não iam?

E voltavam, viviam ali, na casa do México por exemplo onde faziam seus piqueniques, onde D. Juan Matus cozinhava rabadas apimentadas para deleite de todos.

Esse ir a extremos da segunda atenção e voltar tem um porquê.

Nossos ancestrais espirituais foram, e foram e foram, alguns tão indo ainda, mas isto se revelou uma armadilha. Eles pensavam que o nagual, a segunda atenção fosse algo como hoje se pensa em plano espiritual, algo que vai subindo, ficando mais "puro" , mais "pleno".

Os (as) novos(as) videntes resolveram essa armadilha, perceberam que a segunda atenção é só a contraparte da primeira, vasta, muito mais vasta, mas apenas uma contraparte, ir -se por ela é apenas adiar um fim, não vencê-lo.

Descobriram outra possibilidade.

O vasto mar da consciência quer de volta apenas a consciência, que é sua de fato, mas nada quer com a força da vida que temos.

Esta descoberta mudou tudo. A força da vida não precisa se dissipar, apenas a consciência. E treinando guerreiramente os (as) nuevos videntes fizeram algo impensado, além de toda possibilidade de compreensão, mas possível de realização.

O ente perceptivo ao morrer abre mão da consciência. Ao passar por todas as experiências de vida o ponto de aglutinação libera uma tremenda energia pois, ao contrário dos caminhos antigos, os (as) nuevos videntes não foram progressivamente a outras realidades, ascendendo uma fibra de cada vez.

Foram aleatoriamente a muitas realidades, imaginem a cena de uma bexiga transparente, cheia de fibras óticas. Um ponto de luz sai de um feixe aceso e vai acendendo os outros, dos mais distantes aos mais próximos.

Isso libera um tipo de energia estupendo, essa energia, se for usada com intento permite a quem isso faz dar um salto em direção a outro estado, abandonamos a primeira e a segunda atenção, mas absorvemos uma "terceira atenção", estado que só cito prá dizer que existe e já é muito.

Este caminho faz com que os (as) xamãs guerreiros (as) tenham práticas que lhe permitam chegar a este objetivo.

O ente perceptivo que somos pode se "individualizar".

Podemos ser nós mesmos, podemos ser mais do que "fizeram de nós". Para os(as) xamãs guerreiros(as), muitas linhagens, taoistas, hinduístas, sufis, budistas, o ser humano existe para cumprir um papel dentro de um amplo esquema cósmico.

Não fomos "criados a imagem e semelhança de deus para reinar sobre a criação".

Tais histórias atestam a necessidade humana de fugir da constatação do nada que somos. Somos como enzimas, cumprimos um papel na existência e voltamos pro "caldão" de onde viemos.

Isso se tudo for seguir o caminho "natural".

Mas é neste nada que os (as) xamãs guerreiros encontraram poder para ir além, pois se tão infímos somos podemos mesmo escapar deste intento primeiro da realidade e astutamente nos esgueirarmos pelos mundos, alcançando um estado que metaforicamente chamamos de "liberdade total".

Para realizar este desafio supremo precisamos de muita energia, antes de mais nada. E esta energia tão necessária, durante a vida, foi sendo perdida pelos atos, nas pessoas e vivências que tivemos.

Deixamos pedaços nossos em pessoas, situações, em cenas, lugares e estes pedaços de energia que ficaram nos fazem falta, pois só com toda nossa TOTALIDADE podemos desafiar os designios primeiros da FONTE, da ÁGUIA e "como um jato, passar além de seu bico, livres, rumo a LIBERDADE.

Esse sonho já foi sonhado antes, isso o torna realizável.

Recapitular é um exercício para recuperar esta energia, estes pedaços de nós que fomos sem saber, deixando pela estrada de nossa vida.

Os budistas de várias linhagem o realizam, taoístas, sufis, muitas tradições trabalham com esse recapitular da vida.

Por quê?

Para quê?

Como? O que é recapitular?

É antes de mais nada lembrar, lembrar de um evento que aconteceu, começa assim, então não para aí, se nos colocamos na atitude coerente desse momento, se estamos focados nesse momento com o devido "intento" algo em nós é afetado e nosso ponto de aglutinação, isto é, nossa percepção, é deslocada para o "momentum" energético onde aquele fato recapitulado aconteceu.

Todos os fatos da vida devem ser recapitulados, por isso se diz que a recapitulação dura a vida inteira, temos sempre camadas mais profundas para recapitular.

Recapitulando descobri que vivemos em várias dimensões ao mesmo tempo, temos múltiplas vidas e mesmo nessa vida aqui e agora nós só lembramos de uma camada superficial do mundo, recapitular nos dá energia, nos devolve a energia.

Nossas possibilidades existenciais são incríveis, posso citar apenas o exemplo de uma mulher do grupo de D. Juan MAtus que sonhando trazia para este mundo Esperanza, uma curandeira, e o Zelador, intelectual simpático que cuidava de uma das casas do grupo.

Esses mistérios são pertubadores, fascinantes, somos magia num grau impensado e ficamos aqui nestas percepções tolas e limitadas de mundo, acreditando mesmo que é a bolsa de valores, a seleção brasileira, a alta do dolar que importa.

Presos a uma mídia que serve ao conquistador e por isso oblitera nossa percepção, ficamos sendo alimentados com lixo cultural e embotados em nossa realidade existencial.

Noticia é a tragédia, a violência, meios sutis de aumentar o medo, pois sabem que se te mantiverem com medo do que está a tua volta tu não questionará o sistema que lhe escraviza.

E cada dia surge um novo processo contra o bode expiatório da vez para que não vejamos nosso país sendo entregue aos sempre vorazes mercantilistas, a companhia das indias ocidentais do momento.

Vivemos neste contexto histórico e deixamos nossa energia neste mundo, ele é mantido também com nossa energia, cada vez que assistimos um programa de tv, cada vez que lemos jornais, que comentamos sobre esses assuntos. Não são apenas nossos impostos, cobrados em cada bala, em cada cafezinho que tomamos, que sustentam esse sistema. Nós o sustentamos com a força de nossa intenção e nossa energia, toda nossa vida desde que nascemos, tem sido sustentar esta realidade, que nos anula, mas nos mantém como galinhas em granja, alimentados se botamos nossos ovos, para logo nos abater.

Recapitular, portanto, é também uma atitude da Tribo do Arco Íris em sua luta pacífica e silenciosa pela retomada dos direitos de nossos ancestrais, de outra abordagem da realidade.

Quando tiramos a energia dos eventos passados e deixamos apenas a que ele tinha estamos também tirando a energia desses eventos que ficou impregnada em nós.

Só assim podemos mudar nossa percepção da realidade, do contrário será apenas uma mudança intelectual. Porque em cada interação que temos deixamos energia nossa e levamos a energia do lugar, das pessoas, de tudo que ali ocorreu. E sabemos que percebemos uma vastidão da qual só registramos a mínima parte.

Quando recapitulamos vamos tirando a energia que ficou e devolvendo a que ficou impregnada em nós, isto é, vamos resgatando nossa energia singular.

Isso amplia nosso poder pessoal.

Vai além, revendo os eventos de nossa vida aprendemos a reconhecer "o que fizeram de nós" e podemos ir além desse estado e sermos "eu mesmo" , ser singular, único, que só existirá nesta efêmera mas bela existência por umcurto tempo.

E, se vamos existir por tão curto tempo, com a morte sempre há um braço de distância à esquerda, como não viver intensamente cada momento, presente, pleno(a), como seguir dividido(a), fragmentado(a)?

Temos em nós tudo que precisamos para essa fantástica jornada que é viver. Por falta de saber perdemos nossa energia, perdemos nossa força da vida e deixamos pedaços de nós com pessoas, eventos, lugares.

A recapitulação é mais que lembrar, começa assim, mas não é uma revisão psicanálitica.

Pela magia da respiração damos uma dimensão extra a esse exercicio.

A prática usual recomenda escrever uma lista com as pessoas que conhecemos, todas.

Depois dessa fase o ideal é sentar-se em um lugar calmo, com o mínimo de interferências externas.

Reduzir as influências externas é muito importante para uma real recapitulação, recebemos muitas "impressões" das coisas a nossa volta.

Florinda Matus fez sua recapitulação em um caixote construido ao seu redor.

Certa vez morei, em Sampa, numa casa que tinha uma escada e em baixo dela fizeram um armário.

O armário não tinha prateleiras. Durante anos usei aquele armário para recapitular. Eu trabalhava a noite e durante o dia ficava só em casa, as pessoas que moravam comigo trabalhavam de dia, assim tinha silêncio durante a tarde e recolhimento.

Comento isso porque me parece que essas condições são muito importantes, a qualidade da recapitulação sofre influências desses dados. Taisha recapitulou numa caverna. Este dado de estar num ambiente mais restrito focaliza energias da pele que em outras estâncias estariam sendo "tocadas" por vibrações sutis, que podemos não perceber conscientemente mas estão de fato em ação.

Além de um lugar adequado a recapitulação pode ser fortalecida por passes mágicos para a recapitulação que quem faz Tensegridade pode partilhar com quem não faz.

No Shün que é a Arte do Movimento que prático antes de fazer a "limpeza do poço", como seria a traduçao do nome que damos a essa prática, existem movimentos que são feitos.

Vou sintetizá-los para ajudar quem não tem acesso a grupos dessas práticas  como:

Primeiro espreguiçar bem, muito, mexer boca, olhos, puxar o corpo todo pelos dedos, sentir os dedos dos pés e mãos.

Depois, "acordar o corpo" que é com os joelhos meio flexionados, braços a frente com as mãos em garras, pés alinhados com ombros e tensionar o corpo inteiro, tensionar mesmo, ir expirando, contraindo o abdomem e tensionando até ficaralguns instantes sem ar e todo tenso, então se soltar, dar uns pulos es acudir braços, mãos e pernas como se estivesse saindo de uma piscina e tirando a água do corpo.

Então sentar numa cadeira ou chão e o corpo tá pronto prá recapitular.

Costas eretas, pode se encostar numa parede ou apoio para as costas, olhando para frente, solta todo o ar, até sentir-se vazio. Então vira a cabeça toda prá esquerda, queixo no ombro esquerdo. Faz uma respiração vazia, isto é, vira a cabeça até o ombro direito mas sem respirar, vazio. Depois inspira indo prá esquerda e expira indo prá direita.

Intente que a inspiração absorve toda tua energia que está na cena e a expiração devolve toda energia da cena que ficou em ti.

Então vá deixando a lembrança fluir, sinta-se na cena, mas não julge, apenas observe. Julgar, lamentar-se são formas de prender-se, de anular o valor da prática.

O importante é ir a cena e observar com foco o ocorrido, deixa que o aprendizado venha, não crie interpretações mentais do tipo: "agora vou agir assim ou assado", "a partir de hoje vou ser assim" estas propostas são respostas da mente desequilibrada que temos em nós, é "o que fizeram de nós" não querendo perder o controle e jogando como sempre aprendeu: "agora serei a criança boazinha e farei tudo direito para agradar a todos e ao papai do céu!"

O trabalho aqui é observar com neutralidade e recuperar a energia perdida, deixando ali a que ficou impregnada em nós.

Podemos usar a recapitulação como o tremendo instrumental que é para nos livrar de tudo que não somos, que apenas impuseram a nós.

Há várias dicas, fazer uma lista com todos os eventos da vida, tem muita informação sobre técnicas por aí, basta pesquisar.

Uma prática muito válida é lembrar do dia todo ao deitar-se para dormir. Eu prático ir lembrando do momento que sentei para relembrar, já indo dormir, voltando cena a cena até chegar na hora de manhã que abri os olhos.

Esta prática diária tem várias resultantes, dá prá gente antes de mais nada um dimensionamento de como tem horas durante o dia que estamos "no piloto automático" ausentes de nós mesmos.

São instrumentais de guerra, a guerra contra os limites em nossa busca de liberdade.

Um(a) xamã guerreiro(a) da liberdade total luta este tipo de batalha, estes são nossos treinos de combate.

Nuvem que passa

Sagrado Feminino: Kali.

Justamente hoje (08/03//2024) é interessante lembrar de um arquétipo do feminino que é fundamental, não só pela sincronicidade que está rola...