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segunda-feira, 20 de novembro de 2023

O Quarto Caminho (livro), por P.D. Ouspensky

Estive procurando por este livro maravilhoso - O Quarto Caminho, de P.D. Ouspensky, por um bom tempo. Ele encontra-se esgotado. Consegue-se comprar um usado por algumas centenas de reais. Caríssimo. Buscando na rede por um .pdf, finalmente, encontrei um link para o texto completo, que deixo AQUI. A seguir uma parte do texto do capítulo XI desta obra fundamental no Trabalho sobre si para quem tem interesse, afinidade, atração pelo Quarto Caminho, o caminho do homem astuto.




Nestas conferências, temos falado do homem, não o bastante, mas o suficiente para fins práticos; falamos um pouco do Universo, mas vejo que a ideia de escola e do trabalho de escola ainda está muito vaga e à vezes mesclada com concepções ordinárias, que não levam a nada. A ideia de escola deve ser considerada simplesmente: uma escola é um lugar onde aprendemos algo. Mas deve sempre haver certa ordem nas coisas e não podemos aprender sem obedecer a essa ordem. Falando das escolas ligadas a algum tipo de escola superior (sem essa ligação uma escola não tem nenhum sentido), eu disse que, em tais escolas, devemos trabalhar sobre o nosso ser, ao mesmo tempo que sobre o nosso conhecimento, porque, do contrário, todo o nosso conhecimento será absolutamente inútil e não tiraremos qualquer proveito dele. As ideias esotéricas que não são interpretadas de maneira prática tomam-se mera filosofia, simples ginástica intelectual que não pode levar a parte alguma.

Dei-lhes todas as palavras necessárias ao estudo do sistema e expliquei a posição deste em relação aos outros sistemas. Devem estar lembrados de que falei dos diferentes caminhos e, do que eu disse sobre eles, resulta mais ou menos que este sistema pertence ao Quarto Caminho, isto é, tem todas as peculiaridades e características das escolas do Quarto Caminho. Disse então que uma escola depende do nível das pessoas que estudam nela, e esse nível depende do nível de ser.

Para o desenvolvimento do ser a escola é necessária - muitas pessoas trabalhando na mesma direção de acordo com os princípios e métodos da escola. Aquilo que um homem não pode fazer, muitas pessoas trabalhando juntas podem fazer(princípio da massa crítica). Quando encontrei este sistema, convenci-me muito depressa de que ele estava ligado às escolas e, dessa maneira, tinha atravessado a história escrita ou não. Durante esse tempo, os métodos foram inventados e aperfeiçoados.

As escolas podem ser de graus diferentes, mas, no momento, considero escola todos os tipos de escolas preparatórias que conduzem numa certa direção, e uma organização que pode ser chamada uma "escola" do Quarto Caminho é aquela que apresenta três forças no seu trabalho. O que é importante compreender é que há uma espécie de segredo no trabalho de escola, não no sentido de algo realmente escondido, mas algo que tem que ser explicado. A ideia é essa. Se considerarmos o trabalho de escola como uma oitava ascendente, saberemos que, em cada oitava, 
há dois intervalos ou claros, entre mi e fá e entre si e dó. Para ultrapassar esses claros, sem mudar o caráter e a linha do trabalho, é necessário saber como preenchê-las. Assim, se eu quiser assegurar a direção do trabalho em linha reta, deverei trabalhar simultaneamente em três linhas. Se eu trabalhar apenas numa linha, ou em duas, a direção mudará. Se eu trabalhar em três linhas, ou três oitavas, uma linha ajudará a outra a atravessar o intervalo, dando-lhe o choque necessário. É muito importante compreender isso. O trabalho de escola utiliza muitas ideias cósmicas, e as três linhas de trabalho são um arranjo especial para salvaguardar a direção justa do trabalho e para torná-lo bem sucedido.

A primeira linha é o trabalho sobre si mesmo: estudo de si mesmo, estudo do sistema e a tentativa de mudar pelo menos as manifestações mais mecânicas. Esta é a linha mais importante. A segunda linha é o trabalho com as outras pessoas. Não podemos trabalhar sozinhos (princípio do pequeno tirano); um certo atrito, o incômodo e a dificuldade de trabalhar com as outras pessoas criam os choques necessários. A terceira linha é o trabalho para a escola, para a organização (princípio do sacrifício). Essa última linha assume diversos aspectos para diferentes pessoas.

O princípio das três linhas é que as três oitavas devem caminhar simultaneamente e paralelas entre si, mas elas não começam todas ao mesmo tempo e, desse modo, quando uma linha atinge um intervalo, outra linha entra para ajudá-la a atravessar esse intervalo, uma vez que os lugares destes não coincidem. Se um homem é igualmente ativo em todas as três linhas, isso o livra de muitos acontecimentos acidentais. Naturalmente, a primeira linha começa primeiro. Na primeira linha de trabalho, recebemos conhecimento, ideias, ajuda. Essa linha se refere apenas a nós mesmos, é inteiramente egocêntrica. Na segunda linha, devemos não só receber como dar - transmitir conhecimento e ideias, servir de exemplo e muitas outras coisas. Ela se relaciona com as pessoas no trabalho, de modo que, nesta linha, trabalhamos, em parte, para nós mesmos e, em parte, para os outros. Na terceira linha, devemos pensar no trabalho em geral, na escola ou organização como um todo. Temos que pensar no que é útil, no que é necessário à escola, naquilo de que ela tem necessidade, de modo que a terceira linha diz respeito à ideia global de escola e todo o presente e futuro do trabalho. Se o homem não pensar sobre isso e não o compreender, então as primeiras duas linhas não produzirão o seu pleno efeito. É essa a maneira como o trabalho de escola é organizado e a razão pela qual as três linhas são necessárias; só podemos receber choques adicionais e os benefícios totais do trabalho, se trabalhando nas três linhas.

Relacionam-se as três linhas de trabalho com a ideia de certo e errado, tudo o que ajuda a primeira linha, isto é, o nosso trabalho pessoal, é correto. Mas, na segunda linha, não podemos ter tudo para nós; temos que pensar nos outros que estão no trabalho, temos que aprender não só a compreender como a explicar, devemos dar aos outros. E, em pouco tempo, veremos que só podemos compreender certas coisas explicando-as aos outros. O círculo se toma mais amplo, o certo e o errado se tornam maiores. A terceira linha já tem relação com o mundo exterior, e bom e mau passam a ser aquilo que ajuda ou prejudica a existência e o trabalho de toda a escola, de modo que o círculo torna-se ainda mais amplo. Essa é a maneira de pensar nessa questão.

Chamo particularmente a atenção de vocês para o estudo e a compreensão da ideia das três linhas. É um dos princípios fundamentais do trabalho de escola. Se 
o pusermos em prática, muitas coisas se abrirão para nós. Este sistema está repleto de tais instrumentos. Se os utilizamos, eles abrem muitas portas.

O primeiro princípio do trabalho é que os esforços dão resultados proporcionais à compreensão. Se não compreendermos, não haverá resultados; se, de fato, compreendermos, os resultados serão de acordo com o nível da nossa compreensão. Assim, a primeira condição é compreender, e mesmo antes disso, devemos saber o que é compreender e o modo como adquirir a compreensão correta. O trabalho verdadeiro deve ser o trabalho sobre o ser, mas este exige compreensão das metas, condições e métodos do trabalho. A meta do trabalho é instituir uma escola. Para isso, é necessário trabalhar de acordo com os métodos e regras da escola, e trabalhar nas três linhas. O estabelecimento de uma escola significa muitas coisas.

Há duas condições no trabalho com que devemos começar; a primeira é que não devemos acreditar em nada, devemos verificar tudo; a segunda, e até a mais importante condição se refere a fazer. Não deveremos fazer nada, enquanto não compreendermos por que e para que fim fazemos algo. Essas duas condições devem ser compreendidas e lembradas. É verdade que podemos nos dar conta de que não sabemos nada e não sabemos o que fazer. Nesse caso, sempre podemos pedir orientação, mas, se a pedirmos, teremos que aceitá-la e obedecer a ela.

Até agora trabalhamos na primeira linha, estudamos o que nos foi dado e explicado e tentamos compreender. Agora, se quisermos continuar, deveremos tentar trabalhar na segunda linha e, se possível, na terceira. Temos que tentar pensar em como encontrar mais trabalho na primeira linha, como passar para a segunda linha e como nos aproximar do trabalho na terceira linha. Sem isso, o nosso estudo não dará nenhum resultado.

Façam agora perguntas até que estejam persuadidos de que compreendem as três linhas de trabalho: o que cada linha significa, por que são necessárias, o que é necessário a cada uma delas, etc. O proveito que podemos obter é sempre proporcional à nossa compreensão. Quanto mais conscientemente trabalharmos, mais poderemos obter. É por isso que é tão importante que tudo isso seja explicado e compreendido.

Pergunta: De que maneira precisamos de três linhas de trabalho?

Resposta: No início, tudo depende da mente; ela deve ser educada, deve despertar. Mais tarde, dependerá da emoção. Para isso, precisamos de uma escola, devemos encontrar outras pessoas que saibam mais do que nós e devemos examinar as coisas com elas. Sem dúvida, se ficarmos sozinhos, esqueceremos as coisas que aprendemos, porque há tantos momentos em nós, que as coisas simplesmente desaparecem da nossa mente. É por isso que um homem não pode trabalhar sozinho e apenas o trabalho conjugado de muitas pessoas juntas pode produzir os resultados necessários. Há muitos obstáculos, muitos fatores que nos mantêm dormindo e tornam impossível o nosso despertar. As coisas que aprendemos simplesmente desaparecerão, se nada as favorecerem, e o que pode favorecê-las? Só outras pessoas à nossa volta.

Em princípio, devemos trabalhar na aquisição de conhecimento, de material, de prática. Em seguida, quando obtivermos uma certa quantidade, começaremos a trabalhar com outras pessoas, de modo que uma pessoa será útil a outra e ajudará a 
outra. Na segunda linha, devido a certa organização especial, estamos em condições de trabalhar para outros, não apenas para nós. E, posteriormente, podemos compreender de que modo podemos ser úteis à escola. É tudo uma questão de compreensão. Na terceira linha, trabalhamos para a escola apenas, não para nós. Se trabalharmos nessas três linhas, depois de algum tempo essa organização se tornará uma escola para nós; mas, para as outras pessoas, que trabalham apenas numa linha, ela não será uma escola. Lembrem-se de que eu disse que uma escola é uma organização onde podemos não só adquirir conhecimento, mas também mudar o nosso ser. Uma escola dessa natureza nem sempre é a mesma, tem qualidades mágicas e pode ser um tipo de escola para uma pessoa e algo completamente diferente para outra. Devemos compreender que tudo que podemos receber, todas as ideias, todo o conhecimento possível, toda a ajuda, vêm da escola. Mas a escola não assegura coisa alguma. Considerem uma universidade comum, onde se dão apenas conhecimento e instrução. Ela pode nos assegurar uma certa quantidade de conhecimento, mas, ainda assim, só se trabalharmos. Mas, quando se apresenta a ideia de mudança de ser, não é possível nenhuma garantia, de modo que as pessoas podem estar na mesma escola, na mesma organização e podem estar em diferentes níveis.

Pergunta: O senhor falou das metas e das necessidades da escola. Poderia nos dizer quais são?

Resposta: Primeiro temos que nos preparar para compreendê-las. Temos ideias da escola, de modo que devemos fazer uso delas: isso nos ajudará a compreender as escolas. Se nós mesmos não fizermos nada e falarmos sobre as escolas, só criaremos imaginação e nada mais. Devemos tirar partido das ideias que temos, do contrário as escolas não existirão para nós. Devemos ter a nossa própria meta e ela deve coincidir com a meta da escola, deve fazer parte dela.

Pergunta: A diferença entre a primeira e a terceira linhas indica que a escola tem metas diferentes do desenvolvimento dos seus membros, tais como, por exemplo, a perpetuação do seu próprio conhecimento?

Resposta: Não apenas isso. Pode haver muitas coisas, porque ela é considerada numa linha de tempo diferente. Em relação a nós só podemos considerar o presente. Em relação à escola o tempo é mais longo.

Pode ser útil lembrar-lhes como esse trabalho começou. Há muito tempo atrás, cheguei à conclusão de que muitas coisas existiam no homem que podiam ser despertadas, mas vi que isso não levava a nada, porque, num momento, elas estão despertas e, noutro, desaparecem, uma vez que não há nenhum controle. Desse modo, dei-me conta da necessidade da escola e comecei a procurar uma, mais uma vez em conexão com os poderes que eu chamava "miraculosos". Finalmente, encontrei uma escola e entrei em contato com muitas ideias. São as ideias que estamos estudando agora. Para esse estudo, é necessário uma organização; primeiro, para que as pessoas possam estudar essas ideias e, em seguida, para que possam ser preparadas para um estágio posterior. Esta é uma das razões para a existência de uma organização e só aqueles que já fizeram algo por si mesmos é que têm um lugar nela. Enquanto estiverem em poder da falsa personalidade, não podem ser úteis a si mesmos nem ao trabalho. Por isso, a primeira meta de quem esteja interessado no trabalho é estudar-se e descobrir o que deve ser mudado. Só 
quando certas coisas tenham mudado é que um homem está efetivamente preparado para o trabalho ativo. Uma coisa deve estar ligada a outra. Devemos compreender que o estudo pessoal está ligado à organização e ao estudo das ideias gerais. Com a ajuda dessas ideias podemos descobrir muito mais: quanto mais tivermos, mais poderemos descobrir. O trabalho nunca chega ao fim; o fim está muito distante. Ele não pode ser teórico; cada uma dessas ideias deve tornar-se prática. Há muitas coisas nesse sistema que um homem comum não pode inventar. Algumas, podemos descobrir sozinhos; outras, só podemos compreender se nos forem dadas, mas do contrário não. E há uma terceira espécie de coisas que não podemos em absoluto compreender. É necessário compreender essas graduações. 

Pergunta: Parece-me que o que aprendemos até agora foi teoria, e agora precisamos torná-la uma questão de prática pessoal, não?

Resposta: Exato. O que está errado é pensar que até o momento tudo foi teórico. Desde a primeira palestra, foi-lhes dado material para observação de si e para um trabalho prático. Não devem pensar que isto seja o começo de algo novo, que não existiu antes.

Pergunta: Que outra forma de trabalho poderíamos ter além das palestras e dos debates?

Resposta: Devem pensar naquilo de que precisam, além dos debates. Necessitam de instrução, é necessário que lhes mostrem o caminho. Um homem não pode encontrar o caminho sozinho; é pela condição dos seres humanos que o caminho pode lhes ser indicado, mas sozinhos não podem encontrá-lo.

Falando mais claramente, entramos na segunda linha de trabalho desta forma: esses grupos vêm funcionando há algum tempo e havia pessoas e grupos antes de vocês. Um dos princípios do trabalho de escola é que podem receber instrução e orientação não apenas de mim, mas também das pessoas que têm estudado antes de vocês chegarem, talvez durante muitos anos. A sua experiência é muito importante para vocês, porque, mesmo que eu o quisesse, não poderia dedicar-lhes mais do que o tempo que me é possível. Outros têm que complementar o que posso oferecer-lhes, e vocês, por seu turno, devem aprender como utilizá-lo, como tirar proveito da sua experiência, como tirar deles o que podem dar-lhes.

A experiência mostra que, para adquirir o que é possível dessas ideias, é necessário determinada organização, uma organização de grupos de pessoas não apenas para examinar as coisas, mas também para trabalhar juntas, como, por exemplo, no jardim, na casa ou na fazenda, ou fazendo outro trabalho que possa ser organizado e iniciado. Quando as pessoas trabalham juntas com o propósito de observar, começam a ver em si e nas outras pessoas diversas coisas que não percebem quando apenas debatem. O debate é uma coisa e o trabalho outra. Assim, em todas as escolas existem diferentes tipos de trabalho organizado e as pessoas podem sempre encontrar o que lhes é adequado, sem sacrifícios desnecessários, porque estes não são esperados.

Mas devem pensar sobre isso, devem compreender que até agora as pessoas cuidaram de vocês, lhes falaram, ajudaram-nos. Agora devem aprender a cuidar de si mesmos e, mais tarde, terão que cuidar não apenas de si, mas também de novas pessoas. Isso também será parte do seu trabalho.


O ponto fundamental de que lhes falo é a compreensão. Quero me referir à compreensão do trabalho, da necessidade do trabalho, das exigências do trabalho, do plano geral do trabalho e do interesse em tudo isso. É isto que é obrigatório. Não podemos compreender os métodos do trabalho, enquanto não compreendermos a sua direção geral. E, quando compreendermos a direção, isso nos ajudará a compreender muitas outras coisas que precisamos compreender. Não podemos nos abster dessa parte do trabalho. Se, por uma razão ou outra, nos abstemos, não podemos adquirir coisa alguma.

Algumas pessoas não compreendem o próprio começo do trabalho; não pensam nele como trabalho, tomam-no no sentido habitual. Há uma coisa que é necessária, obrigatória, após certo tempo; é uma
avaliação, porque não se pode trabalhar sem ela. Por um lado, as pessoas querem trabalhar, mas, por outro, querem considerar as coisas da mesma maneira habitual. Mas, se quiserem trabalhar, tudo com relação ao trabalho deve ser considerado de modo diferente, tudo - e elas pensam que podem considerar as coisas da mesma maneira. O que sinto que está faltando é trabalho e compreensão e avaliação do trabalho. O que está faltando principalmente é avaliação. Tudo é tido como certo e, ao mesmo tempo, considerado de um ponto de vista comum. Como consequência, nada muda. Muita coisa depende da atitude e do trabalho das pessoas. Uma escola que serve para uma pessoa não serve para outra.

Pergunta: Como podemos ter uma atitude e avaliação corretas?

Resposta: Antes de mais nada, antes de começar a estudar, devemos decidir o que realmente queremos saber. É perfeitamente possível que o que estudamos aqui não interesse a uma pessoa; ela pode descobrir que não necessita disso de forma alguma. Por isso, devemos tratar de descobrir, mais ou menos, o que queremos; do contrário é possível que só estejamos perdendo o nosso tempo. Essa é a primeira coisa. A segunda é que devemos compreender certos princípios fundamentais, senão deixaremos de compreender muitas outras coisas; algo sempre permanecerá no caminho da nossa compreensão.

Um princípio muito importante é o de que ninguém pode estudar o sistema sozinho, e é necessário compreender o porquê. Há muitas razões. A primeira é muito simples e evidente: não podemos ter um mestre exclusivamente para nós. Se encontrarmos alguém que possa ensinar esse sistema, ele não gastará o seu tempo com uma só pessoa. E sem alguém que possa explicar as coisas e trabalhar conosco, não podemos fazer nada. Em segundo lugar, se trabalharmos sozinhos, ou tentarmos fazê-lo, não podemos pôr outra pessoa no nosso lugar e, num dado momento, isso se toma necessário para passar ao grau seguinte de conhecimento e de ser. Vocês devem se lembrar do que eu disse sobre a escada, na primeira palestra, em relação com a explicação do crescimento do centro magnético e da continuação do trabalho. Declarei que um homem só pode subir ao degrau seguinte da escada colocando outro homem no seu lugar. Isso quer dizer que subimos essa escada, que representa a diferença de níveis entre a vida comum e o que é chamado Caminho. O Caminho não começa no mesmo nível da vida comum; é preciso subir mais alto para chegar a ele. Isso significa que o nível da nossa compreensão, da nossa inteligência habitual, até mesmo dos nossos sentimentos comuns, tem de mudar. Além disso, quando se pensa em pôr outro no seu lugar, é muito importante evitar um equívoco perigoso. Algumas pessoas estão inclinadas a  pensar que este deve ser um trabalho individual. Elas não compreendem que essa expressão é uma formulação de um princípio geral. É infantilidade pensar que isso pode ser feito por uma pessoa mediante a transmissão dessas ideias a outra. Antes de tudo, é necessário compreender que não podemos fazê-lo e, em segundo lugar, que não se pode exigir isso das pessoas, porque o trabalho individual só pode se referir a si mesmo. Colocar alguém no nosso lugar é trabalho de escola, isto é, do esforço conjunto de todas as pessoas que pertencem à escola. Todo trabalho de escola é organizado tendo esse propósito em mira; todos os diferentes ramos do trabalho perseguem o mesmo fim: colocar as pessoas novas no lugar ocupado por aqueles que estão ali atualmente e, desse modo, ajudá-las a subir os outros degraus. Mas ninguém pensou nisso de maneira correta. Por exemplo, muito poucas pessoas pensam nessas palestras e na casa do campo: quem as organiza e como são organizadas e como se realizam. Esta é a resposta à pergunta sobre colocar alguém no seu lugar, porque outros cuidam de vocês e organizam as coisas para vocês. Estudaram as ideias do sistema antes de vocês e chegaram a determinado ponto no estudo delas; e agora querem ir adiante. Para isso, têm de ajudar os outros a saber o que eles sabem. Eles não podem fazer isso sozinhos; por isso, ajudam a organizar palestras e outras coisas para as pessoas mais novas. Isso é parte do plano geral do trabalho de escola. O princípio do trabalho é que todos devem fazer o que podem. Em seguida, quando chegam outras pessoas, cabe a eles fazer o que outros fizeram antes deles. É necessário certo período de esforço e todos devem partilhar dele.

Pergunta: Por que um homem pode fazer mais num grupo do que sozinho? Resposta: Por muitas razões. A primeira, como expliquei, é que ele não pode ter um mestre só para si. A segunda é que, nas escolas, algumas arestas são aparadas. As pessoas têm que se adaptar umas às outras, e isso geralmente é muito útil. A terceira é que um homem está cercado de espelhos; pode se ver em cada pessoa. Pergunta: Mas há aqui um elo entre mim e os outros?

Resposta: Deve haver um elo, mas este é produzido pelo trabalho. Todos os que trabalham criam esse elo. Não devemos esperar que os outros pensem em nós. Eles o farão tanto quanto possível, mas não devemos ter isso como garantido.

Pergunta: O senhor poderia falar mais sobre isso? Existe alguma obrigação entre mim e as pessoas que estão nesta sala?

Resposta: Isso depende de você, de como compreende isso, do que sente em relação a isso, do que pensa que pode fazer a respeito disso. Não há nenhuma obrigação imposta. As obrigações resultam do trabalho. Quanto mais se faz, mais obrigações se tem. Se não fazemos nada, nada nos é pedido. Gurdjieff explicou isso no início; ele disse que era perigoso fazer alguma coisa no trabalho, se não se quisesse que nos pedissem coisas difíceis.

Pergunta: O senhor disse que a segunda linha de trabalho é o trabalho com as pessoas. Acho mais fácil trabalhar só.

Resposta: Todo mundo acha a mesma coisa. Sem dúvida seria muito melhor se você pudesse se sentar aqui sozinho e falar comigo, sem qualquer outra pessoa, e sobretudo "essas" pessoas, porque elas são particularmente desagradáveis. Todos nós pensamos isso. Eu pensava isso, quando comecei a estudar. É uma das coisas  mais mecânicas no trabalho. O trabalho e o sistema, no seu conjunto, estão organizados de maneira tal, que não se pode obter nada da primeira linha, se não se trabalhar na segunda e terceira linhas. Na primeira linha, podemos adquirir certas ideias, determinadas informações, mas, depois de algum tempo, paramos, se não trabalhamos nas outras duas linhas.

Pergunta: Enquanto tentamos trabalhar na primeira linha, como podemos ter uma ideia da terceira linha?

Resposta: Trabalhando, para começar, na primeira linha e, depois, tendo uma visão do conjunto: todas as ideias do sistema e os princípios do trabalho de escola. Se trabalhamos no que chamamos a primeira linha - estudo de si mesmo e estudo do sistema - todas as possibilidades no trabalho fazem parte dele. Por isso, quanto mais tempo e energia dedicamos ao estudo do sistema, mais compreendemos o que ele abrange. Desse modo, pouco a pouco, a compreensão chegará. Na primeira linha, devemos ser muito práticos e pensar no que podemos conseguir. Se sentimos que não somos livres, que estamos dormindo, talvez sintamos a necessidade de ser livres, de despertar, e, dessa forma, trabalharemos para conseguir isso. Na terceira linha, pensamos sobre o trabalho, sobre a organização inteira. Antes de tudo, a organização deve ser o objeto do nosso estudo, como o Raio da Criação - a ideia de organização, as necessidades da organização, as formas da organização. Depois veremos que a organização é assunto nosso, de ninguém mais. Todos devem participar dela, quando puderem. Ninguém é solicitado a fazer o que não pode, mas todos devem pensar nisso e compreendê-lo. Na terceira linha, não é tanto o fazer que é importante, mas o pensar nela. Não podemos deixar que outros pensem a respeito dela por nós. Não pode existir trabalho de escola numa única linha. Trabalho de escola significa trabalho nas três linhas. Isso deve ser considerado sob um ponto de vista pessoal e devemos compreender que só com esses três tipos de ajuda podemos sair do ponto morto da passividade. Muitas coisas nos mantêm ali, temos sempre os mesmos sentimentos, os mesmos sonhos, os mesmos pensamentos.

Pergunta: A terceira linha é responsável pelo progresso do sistema?

Resposta: Tudo é. Uma linha não pode existir sem a outra. Uma linha ou duas não é trabalho. Mas, antes de mais nada, é necessário compreender. Podemos estudar - nos é dado tempo para isso -, mas não podemos decidir fazer uma coisa e pôr de lado outra.

Pergunta: O senhor quer dizer que primeiro devemos compreender o que significa a terceira linha. Mas isso, certamente, ainda não é trabalho, certo?

Resposta: Depende. Num determinado sentido, compreender já é trabalho. Se um número suficiente de pessoas não pensa no trabalho como um todo e não o compreende, é impossível continuar. Um certo número de pessoas deve compreender e poder fazer o que é necessário. Vocês nunca perceberam como é difícil a existência do trabalho, mesmo na forma que tem hoje. No entanto, é possível para ele existir e se desenvolver, se introduzirmos nele mais compreensão e energia. Em seguida, com uma compreensão correta, haverá um desenvolvimento correto. Mas não devemos esperar que alguém introduza compreensão e energia nele por nós.

Pergunta: Mas a iniciativa não cabe a mim?

Resposta: Sem dúvida, cabe a você. Mas, na segunda linha, ela não lhe compete, tem que ser organizada. Cada qual terá que compreender por si só a terceira linha; só então ela existirá. Depende da nossa atitude e das nossas possibilidades, e estas possibilidades não podem se criar artificialmente. Se sentirmos que é necessário fazer algo para o trabalho da escola e se pudermos fazê-lo, isso será terceira linha de trabalho. Primeiro, devemos compreender o que é necessário e só depois podemos pensar no que nós mesmos poderemos fazer pela organização. 

Pergunta: Parece-me que o que o senhor quer de nós é que sintamos que somos a organização, ou parte dela, e que ela não é algo separado de nós, não é? 

Resposta: Exato, e mais do que isso. Devem compreender o que uma escola do Quarto Caminho significa. Ela existe dentro da vida comum e, portanto, necessita especialmente de organização. As escolas de monges e ioguins são organizadas, mas a vida comum não oferece oportunidade de estudar os diferentes aspectos que precisam ser estudados. Para isso, deve haver uma organização especial.

Pergunta: O senhor falou muito de compreensão recentemente.

Resposta: É verdade. A compreensão é necessária, assim como uma atitude pessoal. As pessoas não tomam a existência da escola uma questão pessoal, e a escola não pode ser impessoal. Em muitos casos, as palavras se põem no caminho da compreensão. Falamos da primeira, segunda e terceira linhas, repetindo apenas palavras, e deixamos de compreender qualquer coisa. Utilizamos essas palavras com extrema facilidade. É preciso que tenhamos a nossa própria visão pessoal dessas linhas: primeiro, de nós mesmos adquirindo conhecimento, novas ideias, rompendo com velhos preconceitos, livrando-nos de antigas ideias que expressamos no passado e se contradiziam, estudando-nos a nós mesmos, estudando o sistema, tentando nos lembrar de nós mesmos e muitas outras coisas. Devemos pensar no que queremos adquirir, conhecer e ser, em como mudar velhos hábitos de pensar e sentir. Tudo isso é primeira linha.

Em seguida, quando estivermos suficientemente preparados e fizermos esforços suficientes durante algum tempo, poderemos nos colocar nas condições do trabalho organizado, onde poderemos estudar de maneira prática. Na segunda linha, a dificuldade fundamental, no começo, é trabalhar não por nossa própria iniciativa, porque essa linha não depende de nós, mas das disposições do trabalho. Muitas coisas fazem parte dela: dizem-nos que façamos isso ou aquilo, e queremos ser livres, não gostamos disso, não queremos fazer aquilo ou não gostamos das pessoas com quem temos que trabalhar. Mesmo agora, sem saber o que teremos que fazer, podemos nos imaginar em condições de trabalho organizado, no qual entramos sem saber nada dele ou muito pouco. São essas as dificuldades da segunda linha e o nosso esforço em relação a ela começa com aceitação das coisas, porque podemos não gostar delas; podemos pensar que é possível fazer o que temos que fazer melhor, da nossa maneira; podemos não gostar das condições e assim por diante. Se pensarmos primeiro nas nossas dificuldades pessoais na relação com a segunda linha, poderemos compreendê-Ia melhor. De qualquer modo, ela é ajustada de acordo com um plano que não conhecemos e com metas de que não temos conhecimento. Há muitas outras dificuldades que surgem mais tarde, mas esse é o modo como começa.




terça-feira, 7 de novembro de 2023

O começo de tudo: a auto-observação

Se olhar para si mesmo fosse algo comum o ser humano não teria necessidade de escolas esotéricas, mestres, gurus ou terapeutas. E olhar para si mesmo para poder se conhecer só é possível devido a presença de algo que nos tira de nossa própria presença: o outro. Sartre disse que o inferno é o outro. O dono do inferno é Satã, que significa o adversário, o outro. Assim o outro é Satã, parafraseando Sartre. Inferno e Satã são apenas metáforas para a consciência adormecida ou identificada. É pelo enfrentamento estratégico e implacável com o outro que percebemos a nós mesmos e notamos que o outro é um espelho de nós mesmos. Isso é observar-se, perceber no outro um espelho de si. É preciso fazê-lo sempre, o tempo todo e sem fim. Esse é o caminho. Olhar para si mesmo sem julgar ou justificar e olhar para o outro da mesma maneira, vendo as manobras do ego aqui e lá, é um exercício de implacabilidade e espreita de si.

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....TUDO QUE AS MINHAS TENTATIVAS DE LEMBRANÇA DE SI
ME MOSTRARAM, ME
CONVENCEU BEM CEDO DE QUE EU ESTAVA
DIANTE DE UM PROBLEMA NOVO
COM QUE A CIÊNCIA E A FILOSOFIA NÃO TINHAM SE DEPARADO...
P.D. Ouspensky

Todo o trabalho deriva do homem que começa a observar-se. A auto-observação é que nos permite mudar interiormente. Não devemos confundir o observar com o conhecer. Falando superficialmente, podemos dizer que alguém sabe, por exemplo, que está sentado em uma cadeira, mas isto não quer dizer que a está observando. Falando mais profundamente, talvez uma pessoa saiba que está em um estado negativo, mas isto não quer dizer que o está observando.

A auto-observação é um ato de atenção dirigida para dentro, para o que está acontecendo na pessoa. A atenção deve ser ativa, isto é, dirigida. No caso, por exemplo, de uma pessoa a quem se tem antipatia, é possível notar os pensamentos que se acumulam na mente, o coro de vozes que falam dentro de nós, o que estão dizendo, as emoções desagradáveis que surgem, etc. Também notamos que estamos tratando interiormente muito mal à pessoa a quem temos antipatia. Para ver tudo isso é necessária uma atenção dirigida.

A atenção vem do lado observante, os pensamentos as emoções e os movimentos pertencem ao lado observado, isto é, há que dividir-nos em dois, observador e observado. O lado do observador é interior ao lado observado, ou está por cima dele; mas seu poder de consciência independente varia, porque a qualquer momento poderá ficar submerso.

Nesse caso ficará completamente identificado com o estado negativo. Aí a pessoa não observa o estado, porque ela mesma é o estado. Cabe dizer que o fato de ser negativo é conhecido, mas não é observado.

Muitas vezes também se confunde o pensar com o observar. Pensar e observar são bem diferentes. Um homem pode pensar todo dia a respeito de sua pessoa e não auto-observar-se sequer por um momento. Observar nossos pensamentos não é a mesma coisa que pensar. O Quarto Caminho ensina que o homem deve observar tudo nele, sempre como se não fosse ele, mas sim outro. Isto significa que ele deve chegar a dizer:

"O que está fazendo esse eu?"

E não "o que eu estou fazendo?" Então vê os pensamentos que se sucedem, as emoções, as comédias privadas, os dramas pessoais, as elaboradas mentiras, as desculpas e justificativas, os discursos, que passam sucessivamente. No instante seguinte, cai outra vez no sono e desempenha seu papel em todos eles, isto é, atua na comédia que compôs e crê que é verdadeira.

É preciso que um homem seja capaz de dizer: "isto não sou eu", a todas as peças e canções estabelecidas, a todas as representações que se sucedem nele, a todas as vozes que toma pela sua. Sabe-se que, às vezes, antes de dormir, ouvimos fortes vozes na cabeça. São os eus que estão falando. Durante o dia, passam o tempo todo falando, só que os tomamos por Eu, por nós mesmos.

Quando você encontra-se em um estado desagradável e auto-observa-se durante alguns minutos, notará grupos diferentes de eus desagradáveis que tentam, um após o outro, ocupar-se da situação e tirar proveito dela. Isto se deve a que os eus negativos vivem sendo negativos. Sua vida consiste em pensar negativamente ou sentir negativamente, isto é, em proporcionar-lhe pensamentos negativos e sentimentos negativos. Deleitam-se em fazê-lo porque para eles assim é a vida.

No trabalho sobre si, é preciso observar sinceramente quando se goza dos estados negativos, em especial quando se goza secretamente deles. Se um homem sente prazer sendo negativo, sejam quais forem as formas de ser negativo, e são muitas, não poderá separar-se delas. Não é possível separar-se de algo pelo qual sente-se um afeto secreto. Em realidade, o que ocorre é que a pessoa identifica-se com os eus negativos por meio de um afeto secreto e assim sente seu gozo, porque seja qual for a coisa com a qual uma pessoa identifique-se, converte-se nela.

É preciso observar a fala interior (VERBALIZAÇÃO) e o lugar de onde provém. A fala interior automática é a semente de muitos estados desagradáveis futuros e também da fala exterior equivocada.

Existe a prática do Silêncio Interior. Não se trata de impedir que algo penetre na mente, mas pratica-se o silêncio interior com relação a algo que já está na mente e do qual deve-se ter percepção, mas é preciso não tocá-lo com a língua interior, com o discurso interior, ou seja, não usar a verbalização. A fala interior sempre se ocupa dos estados negativos e forja muitas frases desagradáveis que, de súbito, acham expressão na fala exterior, talvez muito tempo depois.

A fala interior mecânica produz confusão interior, é feita de diferentes formas de mentiras, de meias verdades ou de verdades que se relacionam entre si de modo incorreto, com algo que se agregou ou se omitiu. Em outras palavras, é mentir para si mesmo.

Tudo isso pertence à purificação da vida emocional. Mecanicamente, só simpatizamos com nós mesmos e temos antipatia ou ódio daqueles que não simpatizam conosco. Não é possível o desenvolvimento interior, a menos que as emoções deixem de fundamentar-se unicamente na auto-simpatia (AUTO-IDENTIFICAÇÃO). Talvez uma pessoa se dê conta que diz coisas que, se as recebesse, não as toleraria. Dentro de nós mesmos, todos os outros são impotentes. Podemos arrastar uma pessoa para nossa caverna secreta e fazer com ela o que quisermos. Podemos ser naturalmente corteses mas, neste trabalho, cujo propósito é purificar e organizar a vida interior, isto não basta. O que realmente conta é a maneira como os homens se comportam interna e invisivelmente uns com os outros.

Todo ensinamento esotérico, desde a mais remota Antigüidade, refere-se ao conhecimento de si. O trabalho psicológico aplica-se à nossa realidade invisível, na qual moramos psicologicamente; refere-se à conquista de si, ao domínio de si. Mas uma das maiores dificuldades é justamente, imaginarmos que nos vemos e nos conhecemos integralmente, e isto nos impede de compreender o que significa verdadeiramente a auto-observação e o que quer dizer começar a conhecer-se a si mesmo.

Só quem compreende plenamente a dificuldade de despertar pode compreender a necessidade de um prolongado e árduo trabalho sobre si, com o fim de despertar. VEJAMOS BEM, PROLONGADO TRABALHO SOBRE SI.

Neste trabalho, é preciso dissolver a fantasia e a imaginação negativa. A fantasia pode satisfazer todos os centros, de modo que o homem fica satisfeito com o imaginário em lugar do real. O poder da fantasia mantém os homens hipnotizados, porque o homem sonha que está desperto ou a ponto de despertar. Contudo, geralmente passa-se muito tempo neste trabalho antes que uma pessoa comece a observar sua fantasia. E é difícil observá-la, porque quando a observamos, ela se detém, isto é, tão logo chega a atenção dirigida, a fantasia cessa. Nosso estado de hipnose impede toda observação real e direta. Imaginamos que somos pessoas respeitáveis e agradáveis, e não podemos ver através da bruma de nossa fantasia que não o somos em absoluto.

Por isso é imperativo conhecer o modo correto para trabalhar o que se observa, por enquanto estamos apenas estudando o básico do sistema, e comprovando em nós que assim é, mas muito cuidado para não cair na armadilha de acharmos que podemos realizar um trabalho de auto-observação correta para alcançar a consciência de SI sem ajuda e sem preparo. Já foi dito aqui "nesta lista" que neste caminho sem vontade é impossível evoluir e que sem ajuda é igualmente impossível evoluir. Será que tem alguém aqui que pode dizer que desenvolveu a vontade plenamente? Vamos então criar as condições para que a vontade se desenvolva em nós, ainda é muito cedo para tentar saltos maiores que as pernas, é bem melhor um passo seguro de cada vez que dar um salto para o desconhecido e bater com a cara no muro. temos muita coisa para conversar sobre o sistema, oportunamente veremos as técnicas para criarmos um observador eficiente. Por hora é solicitado a auto-observação como forma de constatar em si a veracidade do que dizemos aqui sobre os muitos "eus", centros, funções, estados de presença, consciência, compartimentos, amortecedores, emoções negativas, sono, vigília, observação de si, consideração interior, identificação, 4c, Gurdjieff, evolução possível, abordagem do sistema, contexto, aqui agora etc, para que possamos partir para algo mais profundo se realmente a nossa vontade para isso se prestar.

Flávio

Sagrado Feminino: Kali.

Justamente hoje (08/03//2024) é interessante lembrar de um arquétipo do feminino que é fundamental, não só pela sincronicidade que está rola...