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sábado, 5 de abril de 2025

Lamas e Xamãs (Atualizado e com notas)

 


         Sempre lembrando…

         Não esqueçam de ver o sorriso despreocupado nestas palavras.

     Escrever ideias tem a limitação de passar formas pensamento sem os tons de voz, sem as expressões faciais e corporais e tantos outros sinais subliminares presentes em uma conversação face a face. Componentes que ajudam a compreender o que já é em si só um esforço concentrado expressar oralmente através da linguagem formalizada.

  Temos que ter o cuidado para não projetarmos nossas interpretações pessoais, mas tentar nos descentrarmos, nos ‘desegotizarmos’, como diria Piaget. Sairmos da posição do “eu”…

     Compreender cada povo e cada cultura, cada forma de expressão da vida…

     As vezes posso ter dado a impressão que aludi ao caminho búdico tibetano como algo confuso. De forma alguma. Tenho profunda admiração pela escola búdica tibetana desde o dia em que no centro cultural Vergueiro, participando da mandala da cura, realizada por lamas, vi nos olhos dos que conversei uma pureza diferente. Assim quaisquer que sejam as jangadas que usem para auxiliar na travessia rumo a outra margem, têm algo de paz, algo que já vi em alguns monges cristãos, alguns sufis, alguns xamãs.

    Quando aprendi na prática que não importa o caminho, desde que este tenha coração, soube que os lamas possuem um caminho que leva ao despertar efetivo. Como curiosidade antropológica me permitam compartilhar a forma através da qual esta linhagem de xamãs que integro vê os lamas.

   Alguns dos estrangeiros, isso é, não índios, como eu, que se ligaram a essa linhagem de xamãs eram daoxíê Sí-e* (道學 僊 - vide notas), eremitas que vivendo em peregrinação foram ter a Tailândia e arredores, onde a civilização que ali florescia tem tal semelhança com a do período olmeca e anteriores que ainda instiga os pesquisadores.

   Dali vieram ter ao México e contaram da prática de monges poderosos que viviam no alto das neves eternas. Tais monges eram curadores e conheciam muitas formas de magia. Eles tinham desenvolvido um profundo conhecimento da natureza da vida e da consciência.

  Eles sabiam que se um se uma pessoa, durante a vida, desenvolvesse a consciência de si. Haveria chance de prosseguir existindo.

    Caso contrário apenas se dissolveria como a espessa névoa vai com o vento ao meio da manhã, dissipar-se pela mata, toda e, ao meio dia, nem lembrança dela restará àquele que por ela atravessou quando o dia nascia e ainda carpe o pasto, tudo roçando, carpe, mas não carpe ‘die’.

    Contavam que tais monges em grandes mosteiros sabiam que as experiências, os jeitos de ser, de sentir, de pensar, de agir, iam de um indiví-duo para outro, se misturando em tramas e depois se separando, como se um tapete fosse tecido e depois desfeito, e sua lã, aproveitada em outros tapetes.

    Cada novo tapete gera uma forma final, um novo e único tapete, mas sua lã veio de outro tapete. E eis que certo dia um tapete acorda e diz: Hoje sonhei que fui um tapete em frente a vasta lareira do imperador. E se sente orgulhoso por isso. Ele tem algo do tapete da lareira do imperador.

    Os monges descobriram isso com sua clarividência. Mas eles não eram mais o tapete da lareira do imperador. Podiam até mesmo usar o que traziam de aprendizado dali. Mas eram um novo tapete, único e singular. E podiam até mesmo se lembrar de muitos outros tapetes que as várias cores de lãs que o compunham haviam antes composto.

    Lembrar tapetes sendo feitos e desfeitos, até o distante dia em que cada lã daquela foi pela primeira vez fiada, pela primeira vez cardada. A distante roca original que pegou a lã cardada e fez fio, fio que tecido e retecido em tantos tapetes esteve. 

   E mesmo assim, ainda perplexo, o tapete resultante dos fios confunde-se com eles, negando-se tapete. Descobriram também que quanto mais se trabalha o ser, mais lãs juntas vão de tapete a tapete e em certos casos chega a ocorrer uma autêntica reencarnação, um tapete é desfeito e refeito com a mesma lã. Ainda assim a resultante é única, distinta.

    Pois é isso que o tapeceiro, incriado, aplicado em tramar tapetes, busca! Revelar-se a si mesmo, como em uma brincadeira de esconde-esconde.

  Tais monges passaram então a ir em busca das fibras que compunham aqueles ‘tapetes’ com quem treinavam. Durante a vida o monge treina, e ao morrer, os parceiros monges seguiam sinais e encontravam várias fibras do antigo companheiro.

   Para explicar às pessoas o que faziam usaram conceitos mais simples como reencarnação. Tais monges podem muito bem ser os antepassados espirituais dos lamas tibetanos.

      Paz Profunda!!!

Nuvem Que Passa



Notas 

 

🗣️daoxíê Sí-e(m)

道學 僊

 


Ilustração - Assembléia Si-e(m)

Assembleia de imortais oferecendo votos de vida longa  

Dinastia Ming ou Qing

 

🗣️sí-e(m)

hsien”

caractere chinês simplificado:

caractere chinês tradicional:   

pinyin: xiān

Wade–Giles: hsien

fala-se🗣️sí-e(m)



O dào


= +

dào = chuò + shǒu


(chuò)

Este radical é associado a movimento ou caminhada.

 Relaciona-se a viagem ou a um caminho.


(shǒu)

Este caractere significa “cabeça” ou “líder”.



O daoxíê

 道學


(xíê)

Aprender, estudar.



    Assim 道學 🗣️daoxíê quer dizer o estudo do caminho divino, o

caminho da totalidade, ou mesmo o aprendizado do caminho do

coração, do puro sentir, o qual se dá sem palavras e sem a

interferência das emoções que são resultado das interpretações,

leituras, classificações e julgamentos que se passam no campo

mental, ou seja, o sentir puro, apenas a faculdade de sentir, a qual

chamamos de coração, mas que não tem absolutamente nenhuma

relação com o órgão físico, pois é uma habilidade do corpo

energético, da energia, da consciência silenciosa, insipida, inodora,

incolor e pura, que nada mais é do que a própria totalidade

presente em cada uma de todas as entidades sencientes.


    Tradicionalmente, ‘sí-e(m)’ refere-se a entidades que aprimoraram

um corpo espiritual imortal que sobrevive após a morte assim como

habilidades aparentemente sobrenaturais ou mágicas em vida.

Entidades que estabeleceram uma conexão com os reinos celestiais

inacessíveis aos mortais, mas que são diferente dos deuses na

mitologia chinesa e no taoísmo, os quais sempre foram inerentemente

sobrenaturais.


    ‘Sí-e(m)’ é alcançado por meio do autoaprimoramento energético,

ou Nèidān 内丹, a alquimia interna. Uma série de abordagens

esotéricas e práticas físicas, mentais e espirituais que os praticantes

do caminho do coração, 道學 aoxíê, usam para exercitar a vida e

aprimorar um corpo espiritual imortal que sobreviverá após a morte.

É também conhecido como Jindan (金丹 “elixir dourado”) e inclui

praticas como o Tai chi, exercícios respiratórios, meditação,

visualização, cuidados com a energia sexual e exercícios daoyin, que

mais tarde evoluíram para qigong.


    ‘Sí-e(m)’ é também usado para se referir a figuras frequentemente

benevolentes de grande significado histórico, espiritual e cultural. O

道學 daoxíê em sua faceta Quanzhen possui uma variedade de

definições para ‘Sí-e(m)’, incluindo um significado metafórico onde

o termo significa simplesmente uma pessoa boa e com princípios.


    Os ‘Sí-e(m)’ são considerados “pessoas divinas” que eram

humanos e ascenderam por meio do trabalho árduo, estudos formais e

artes guerreiras". Admirados pelos praticantes do 道學 daoxíê, os 

quais imitam seu exemplo na vida cotidiana. Apreciado desde 

tempos imemoriais até os dias de hoje de várias maneiras em 

diferentes culturas e escolas espirituais na China. Os ‘Sí-e(m)’ 

podem praticar ações consideradas boas ou más, e nem todos são

conectados a escola identificada especificamente como
dào. Além

de pessoas que transcenderam a condição humana, ‘Sí-e(m)’ pode se

referir a animais mágicos, muitas vezes vistos como criaturas

sobrenaturais.



    O dicionário Shiming, de aproximadamente 200 d.C., fornece

 ‘etimo’nômias’ na forma de trocadilhos, e define ‘Sí-e(m)’
como

“envelhecer e não morrer” e o explica como alguém que
(qiān) “se

muda para” as montanhas.


    O caractere ‘Sí-e(m)’ é uma combinação de (rén; '‘pessoa’')

e 山 (shān; '‘montanha’'). Sua forma histórica é
: uma combinação

de
e / (qiān; “mudança para”).


    ‘Sí-e(m)’ é frequentemente usado em palavras compostas em

chinês, como xiānrén (
仙人; “pessoa imortal; transcendente”), xiānnǚ

(
仙女; "mulher imortal; mulher celestial.


    Textos antigos como os textos Zhuangzi, Chuci e Liezi usam ‘Sí-

e(m)’ associado a mundo mágicos para descrever a imortalidade

espiritual, às vezes usando a palavra yuren
羽人 ou “pessoa

emplumada”, descritos com qualidades como ‘providos de penas’ e

‘com a habilidade de voar’, através de formas pensamento como

yǔhuà (
羽化, com "pena; asa"). O termo yuren 羽人 ou “pessoa

emplumada” posteriormente se tornou mais uma forma para dizer 道

學 daoxíê, praticante do dào.


    Durante as Seis Dinastias, os ‘Sí-e(m)’ eram um assunto comum 

nas histórias de zhiguai ( 志怪 é um termo chinês que se refere a um 

gênero literário que se concentra em histórias de fenômenos 

sobrenaturais, estranhos ou inexplicáveis.). Os ‘Sí-e(m)’ 

frequentemente tinham poderes (dào) “mágicos”, incluindo a 

habilidade de “andar...através de paredes ou ficar...na luz sem lançar 

sombra.”


    O Capítulo 11 do Zhuangzi, '[Livro do] Mestre Zhuang', século III 

a.C. usa o caractere arcaico para ‘Sí-e(m)’, e tem uma parábola 

sobre o 'Chefe das Nuvens' (雲將; Yún jiāng) dialogando com o 

'Grande Ocultação' (鴻濛; Hóngméng):


Grande Ocultação disse: 

'Se você confundir os fios constantes do Céu

e violar a verdadeira forma das coisas,

então o Céu Escuro não alcançará nenhuma realização.


Em vez disso,

os animais se dispersarão de seus rebanhos,

os pássaros chorarão a noite toda,

o desastre chegará à grama e às árvores,

o infortúnio alcançará até os insetos. 


Ah, isso é culpa dos homens que "governam"!'

'Então o que devo fazer?' 

disse o Chefe das Nuvens.


'Ah', 

disse Grande Ocultação,

‘você está muito longe!

僊 [ ‘Sí-e(m)’ – Levante-se!]

僊 [ ‘Sí-e(m)’ – Levante-se!]

mexa-se e vá embora!’


O Chefe Nuvem disse:

‘Mestre Celestial,

tem sido realmente difícil

para mim me encontrar com você

 — imploro uma palavra de instrução!’


‘Bem, então — nutrição mental!’ 

disse Grande Ocultação.

‘Você só precisa

descansar na inação 

e as coisas se transformarão.

Esmague sua forma e corpo,

cuspa a audição e a visão,

esqueça que você é uma coisa entre outras coisas,

e você pode se juntar em grande unidade

com o profundo e ilimitado.

Desfaça a mente,

descarte o espírito,

fique em branco e

sem alma,

e as dez mil coisas,

uma por uma,

retornarão à raiz

— retornarão à raiz 

e não saberão por quê. 

Caos escuro e indiferenciado 

— até o fim da vida ninguém se afastará dele.

Mas se você tentar conhecê-lo,

você já se afastou dele.

Não pergunte qual é seu nome,

não tente observar sua forma.

As coisas viverão naturalmente,

fim de si mesmas.’


O Chefe Nuvem disse:

‘O Mestre Celestial

me favoreceu com esta Virtude,

me instruiu neste Silêncio.


Durante toda vida

estive procurando por isso,

e agora finalmente encontrei!’

Ele curvou a cabeça duas vezes, levantou-se, despediu-se e foi embora.


Em conexão consciente com a Totalidade,

Admiração e Reconhecimento incomensurável

ao Velho Homem Nawal A Lex Sed Rex

e de forma muito especial ao

Velho Velho Homem Nawal Oo’Moto,

assim como todos e todas 

que o precederam.

Uni K. A.


 

quinta-feira, 23 de novembro de 2023

Vendo a Vacuidade Diretamente, por Geshe Lobsang Chunzi - Michael Roach



Nos ensinamentos budistas, ouvimos bastante sobre o Nirvana, mas como podemos saber exatamente o que ele é e como atingi-lo? A palavra tibetana para Nirvana significa "ir além do sofrimento" e acontece quando você elimina inteiramente todos os pensamentos ruins, ou aflições mentais, de seu fluxo mental. Você só pode fazer isso de um modo, utilizando as realizações obtidas no caminho da visão. Certas coisas acontecem nessa hora — no período imediatamente anterior, durante e logo depois da percepção direta da vacuidade¹.

De acordo com o budismo, sua mente é sem início. Qualquer ponto na história passada de sua mente que você possa apontar deve ter sido produzido por um instante de mente no momento anterior a esse. Você não pode encontrar um ponto de partida para a sua mente porque isto leva a mente a criar a mente. Gostaria de dizer que você pode pensar que sua mente é como um longo talharim de espaguete que nunca teve um começo e que nunca terá um fim.

Suas vidas passadas são infinitas e suas vidas futuras são numeradas até você se tornar um Buda. Então você terminará o processo de renascimento, mas sua mente ainda vai para sempre. Em todo o talharim de espaguete do tempo infinito de sua mente, você vê a vacuidade pela primeira vez. Até você vir a vacuidade diretamente, você é um ser comum, que sofre. E então, se você tiver visto a vacuidade diretamente, você é chamado Arya². A palavra Arya significa superior, um tipo totalmente exaltado de ser, completamente diferente de um ser comum.

Quero falar sobre os momentos finais, pouco antes de você alcançar o caminho da visão. No caminho da preparação, que é o caminho número dois dos cinco caminhos, você está obtendo uma compreensão intelectual da vacuidade em preparação para ver a vacuidade diretamente. Há um estágio muito importante do caminho da preparação, chamado chöchog. Chö significa dharma, ou coisa, e chog significa "absoluto" ou "supremo". Chöchog refere-se ao último momento de uma pessoa que ainda é um ser comum.

Gostaria de descrever o que acontece no chöchog. Primeiro, você deve ter estado sob um curso espiritual de estudo durante algum tempo. Sua mente foi preparada. Nesta vida você encontrou um verdadeiro guia espiritual. Você o serviu e então obteve, karmicamente, exatamente o que precisava dele. É assim que funciona, é um dar e receber. Você tem servido-os com tudo o que poderia dá-los, principalmente devoção. E eles têm ensinado-o.

Você atravessa um curso em três estágios. 

  • O primeiro é a sabedoria que você obteve de um ser, em muitas horas de estudo na sala de aula com o seu lama. 
  • O segundo estágio é a contemplação, pensar sobre ela, trabalhar sobre ela em sua própria mente. A sabedoria que vem da contemplação cresce a partir dos estudos. 
  • O estágio final é a sabedoria da meditação, e esta por sua vez cresce a partir da sabedoria da contemplação.

Um dia, algo em sua compreensão intelectual engatilha o chöchog. Geralmente, é um assunto que chamamos chi e jedrag. Chi significa qualidade, como por exemplo um carro. Este é um ponto que não posso explicar muito. Você tem apenas de pensar. É algo que vem de sua parte. Jedrag significa característica, Chevrolet por exemplo. E você tem de pensar sobre o relacionamento entre o que chamamos de "carro" e o que chamamos de "Chevrolet". Se você tem um "Chevrolet", você tem um "carro".

Há quatro tipos de chi. O primeiro não é tão relevante e os últimos três são realmente relevantes. Um é o rigchi. Rig significa tipo ou classe, e chi aqui se refere à qualidade. Carro é um exemplo de rigchi. Um rigchi é uma qualidade com um monte de coisas que são características dessa qualidade. No caso do carro, pode ser Chevrolet, Ford ou Toyota. Estes são chamados jedrag — exemplos de um tipo geral. Então rigchi significa um tipo geral ou, mais corretamente, se você pensar sobre isso cuidadosamente, uma qualidade.

Então há o drachi. Dra significa som ou nome. Chi significa geral e o que isto se refere. Suponha que você nunca tenha estado em Paris. Você nunca experienciou a Torre Eiffel diretamente. E eu digo, "Torre Eiffel". No instante em que digo isso, um tipo de imagem forma-se em sua mente. Isso é o drachi, um chi ou imagem mental baseada apenas no nome de algo.

Então nós tempos o dünchi. Dün significa significado, mas aqui significa o objeto em si, em oposição ao nome do objeto. Esta é a coisa real, ou a Torre Eiffel em si que você vê quando está de pé bem na frente dela. Isso é dün. Chi significa uma imagem mental. Aqui o chi mais importante, o crucial, é o dünchi: uma imagem mental de um objeto real.

Vou dar a você um possível cenário. Você tem realmente estudado duro, tem realmente feito um bom Guru Yoga nesta vida — e, de fato, durante muitas vidas — e está diante do fogão preparando uma xícara de chá para o seu lama, por exemplo. É de manhã, digamos, oito horas. Você colocou a água em um bule de alumínio sobre o fogão.

Você tem estudado o chi e o jedrag, e tem realmente pensado e meditado bastante sobre isso. Você está lá de pé e subitamente compreende que não está olhando para um bule; você está olhando para uma imagem mental de um bule. Por toda a sua vida você pensou que estava olhando para um bule e subitamente, sob a influência de todos estes fatores — de servir ao lama, de estudar duro, de rezar pelas bênçãos dos lamas —, subitamente isto acontece. Você compreende que não está olhando para um bule e que nunca esteve olhando para um bule. Você está olhando para um dünchi do bule.

Você compreende que a única coisa que realmente viu de um bule foram alguns poucos vestígios³ de sua parte frontal. Você vê um brilho prateado do lado direito, você vê uma pequena ponta curva do lado esquerdo, você vê esse negócio preto e reto saindo do lado. Talvez você não veja mais do que quatro ou cinco vestígios³. Você definitivamente nunca viu a parte de trás do bule. Sua mente está criando a imagem de um bule. Sua mente, devido à circunstâncias anteriores, devido a milhões de anos de karma, está vendo-o com um bule.

Você acabou de perceber a verdade da originação dependente, de que cada objeto em sua experiência normal é uma realidade enganosa. Esteve ao seu redor o tempo todo. Você nunca viu um outro tipo de objeto, exceto as coisas que são a realidade enganosa. Esse é o seu mundo todo, essas projeções (ou descrições). E você esteve acreditando nelas. Então isso é o chöchog. Esse é um estágio muito, muito importante.

Você termina de fazer o chá e vai ao templo fazer suas meditações matinais. Você se senta em uma boa postura e entra em profunda meditação. Estamos vivendo no reino do desejo mas, neste ponto, sua meditação prossegue tão profundamente que a sua mente entra no primeiro nível de samadhi, que corresponde a algo no reino da forma. Então sua mente está uma área totalmente diferente do universo. Esta é a única plataforma da qual você vê a vacuidade diretamente.

Você deve ter meditado regularmente para chegar nesse ponto, digamos uma a duas horas por dia, todo dia, e sem incluir o tempo gasto para você ficar pronto, o tempo gasto pensando sobre seu o café da manhã e sobre fazer os potes de oferenda de água; isso não conta. Se você não tem praticado meditação de maneira muito regular, de uma a duas horas por dia, você não pode alcançar esta plataforma. Se você nunca alcançar esta plataforma, é completamente impossível que você veja a vacuidade diretamente.

Esse estado é uma meditação muito, muito profunda, onde, especificamente, nenhum dos cinco objetos dos sentidos pode aparecer para você nesse momento. Então, devido à influência de todas estas outras coisas — estudo, contemplação, meditação, treinamento nas escrituras, bom ensinamento de um lama verdadeiro, servir o lama, obter a bênção do lama, obter a bênção de muitos lamas durante toda a sua vida —, você vai para a percepção direta da vacuidade.

Como é isto? Quando tempo dura? Talvez dure de quinze a vinte minutos na primeira vez. Nessa hora, você não pode fazer qualquer distinção entre você e o que você está vendo, entre o sujeito e o objeto. É impossível. O sujeito é a realidade enganosa, o que chamamos realidade convencional. E o objeto é a realidade última. Nesse momento você não pode ver qualquer coisa que não seja a realidade última. A única coisa que se apresenta para a sua consciência mental — e todas as outras cinco são fechadas — é a vacuidade pura, a realidade última. Nada mais está aparecendo para a sua mente nesse momento.

Isso é o que a não-dualidade realmente significa. Não significa que, de algum modo, todos os sujeitos e objetos no mundo são o mesmo. Não haveria qualquer atingimento em borrar a distinção entre sujeito e objeto tomando heroína ou alguma outra coisa deste gênero. Os sujeitos e objetos são totalmente separados. Ver a vacuidade não é o processo de se deixar ser fundido no mundo ou alguma coisa assim.

Em um sentido, não-dualidade significa que durante a percepção direta da vacuidade você não pode estar consciente da distinção entre sujeito e objeto simplesmente porque um deles não é a realidade última. Não é a vacuidade, é você, e você não é a vacuidade. O segundo significado da vacuidade é que, em um sentido, todos os objetos e todos os sujeitos são totalmente iguais no que são vazios, eles nunca foram outra coisa exceto as suas projeções ("a colher não existe" - Matrix). Isso pode ser dito sobre qualquer mente subjetiva e pode ser dito sobre cada objeto no universo.


Durante a experiência você não está consciente da passagem do tempo porque isso não é vacuidade; isso é um objeto relativo (é como se não houvesse tempo, aliás, a própria dor física desaparece, pois o corpo dolorido da postura meditativa sustentada por muito tempo também não é a vacuidade, já que a dor e o corpo são projeções). Você está lá e está em pura consciência direta da vacuidade, e isso é tudo. Então a percepção direta da vacuidade acaba. Esse estado de mente que você teve durante esses quinze ou vinte minutos é chamado nyamshag yeshe, o conhecimento da meditação profunda. Essa é a primeira metade do caminho da visão.

Nada mais há que qualquer um possa dizer sobre isso. É isso que eles querem dizer quando afirmam que a vacuidade é indescritível. Você não pode descrevê-la em termos de algo físico. É sem cor, sem forma, clara, invisível a outros olhos. E isso é tudo que você pode dizer sobre ela. Então você tem a sensação de descer dessa meditação e entrar em um estado chamado jetob yeshe, o conhecimento que se obtém logo depois de ver a vacuidade diretamente. Esta é a segunda metade do caminho da visão. Durante este período, que dura pelo resto do dia, você tem dúzias de importantes realizações espirituais que nunca teria tido sem ver a vacuidade diretamente.

Essas experiências e realizações podem ser agrupadas em quatro partes. Estas podem ser chamadas de quatro verdades Arya, significando quatro grupos de coisas que alguém que acabou de se tornar um Arya agora compreende diretamente como sendo verdadeiros. Você pode agrupar todas as realizações que teve durante aproximadamente as doze horas seguintes em uma destas quatro verdades Arya. Estas são coisas que apenas um Arya, uma pessoa que viu a vacuidade, pode compreender diretamente.

O primeiro grupo é a verdade Arya do sofrimento. Depois da sua primeira percepção direta da vacuidade, você compreende verdadeiramente o que o sofrimento é, pela primeira vez. Você compreende quanto sofrimento há. Esta caneta é sofrimento. Seu corpo é sofrimento. Os Estados Unidos são sofrimento. Praticamente cada pensamento é sofrimento. Todos os seus relacionamentos são sofrimento, a menos que sejam especialmente espirituais. O Arya vê a verdadeira extensão do sofrimento pela primeira vez.

A segunda verdade é a fonte do sofrimento, de onde todo este sofrimento veio. Basicamente, qualquer coisa que é sofrimento também é uma fonte de sofrimento. Esta caneta é sofrimento e esta caneta também é a fonte do sofrimento. Sua cabeça é ambos, sua mente é ambos, seus ouvidos são ambos.

Então vem a verdade do fim do sofrimento. Esse novo Arya vê o fim do sofrimento diretamente. Eles ainda não o alcançaram, mas pelo menos podem vê-lo. Eles sabem quando o fim do sofrimento virá e sabem como isso será.

A quarta é a verdade do caminho. Este novo Arya compreende perfeitamente a verdade do caminho, exatamente o que ele precisa fazer para se livrar do sofrimento. Ele percebe a verdade do caminho diretamente.

Estas são algumas realizações específicas que caem sob estas quatro categorias. Algumas delas ocorrem depois da sua experiência direta da vacuidade, algumas enquanto você ainda está sentado em meditação, e algumas delas ocorrem depois, enquanto você está andando por aí. 

Os Aryas têm uma experiência direta de sua morte vindoura e eles agem sobre isso pelo resto de suas vidas. Eles não perdem tempo. Eles sabem que vão morrer. Eles veem a própria morte diretamente.

Durante a maioria das dez ou doze horas seguintes, você pode ler a mente dos outros pela primeira vez. Você percebe o samsara na mente de outra pessoa diretamente. Até esse ponto, você nunca realmente soube o que a mente de outra pessoa está pensando. Mas neste dia, você poder ler as mentes das outras pessoas, e você está completamente consciente do sofrimento que eles estão suportando.

Por exemplo, você pode estar com um negociante de carros, tentando vender um carro rapidamente porque você precisa de dinheiro nesse dia em particular. Você oferece a ele um carro vermelho, muito bonito, que talvez custe três mil dólares. Para o negociante, você parece distante por causa do que estava acontecendo e ele decide em sua mente que pode tirar proveito de você. Você pode ler os pensamentos dele, sabe que está para mentir para você, e então ele mente para você. Ele diz, "Este carro custa dois mil dólares e eu vou dar a você dois mil dólares por ele." Você pode ler estes pensamentos na mente dele. Você está completamente consciente da desordem e da agonia da mente samsárica da outra pessoa. Você pode ver isso.

Prosseguindo na causa do sofrimento — a principal causa é a ignorância. Neste dia, pela primeira vez, vindo dessa percepção, você compreende que esta foi a primeira percepção correta que teve. Em um minuto temos centenas de percepções. Cada uma delas, por toda a extensão de sua vida, foi errônea.

Uma outra verdade relativa à verdade da causa do sofrimento que você compreende nesse dia é que você nunca se encarregou de uma ação sem egoísmo. Não é o mesmo apego à auto-existência, mas esse apego a causa. Um resultado necessário de nosso apego é que você fica preocupado apenas com você mesmo. Um ser humano normal não pode fazer um verdadeiro ato de caridade. Mesmo que faça bons atos, você estará constantemente infectado pelo pensamento, "O que há nisto para mim? Como eu olho para as pessoas? Eles estão conscientes da boa ação que estou fazendo?" Esta é a condição humana e nesse dia, nesse momento, ela é deprimente.

Uma subcategoria desta verdade específica é que você nunca se engaja em um relacionamento no samsara a menos que esteja obtendo algo dele. Não somos capazes de ser não-egoístas em nossos relacionamentos. Uma pessoa no samsara não se engajará num relacionamento a menos que esteja tirando proveito de algum modo. Estou descrevendo a nossa condição comum; todos nós a temos. É um fato deprimente que você compreende no dia em que percebe a vacuidade diretamente.

Aqui está parte boa. Acho que esta deve ser a experiência mais agradável do dia inteiro. Se você estiver na trilha do bodhisattva, um praticante Mahayana, você percebe diretamente que se tornará um Buddha, e você percebe exatamente quantas vidas isso demorará. É comum que se leve mais sete vidas para se alcançar a iluminação depois de ter visto a vacuidade diretamente.

Durante estas sete vidas, você nunca terá qualquer grande problema novamente. Você sempre estará confortável. Você sempre estará entre as pessoas do mundo que, nesse planeta e nesse momento, têm o lazer para estudar o Dharma. Você sempre estará cercado de bons professores, bons pais. Você sempre irá a uma boa escola. Sua vida parecerá um encanto. Tudo será basicamente correto. Você ainda tem de envelhecer e morrer nestas vidas. Mas a vida em que você vir a vacuidade diretamente será, como um todo, bem agradável. Você percebe isso diretamente.

Em nossa situação atual, se não tivermos visto a vacuidade diretamente, não poderemos provar nem mesmo a existência de um Buddha. 

Vendo a vacuidade nesse dia, você terá visto o Dharmakaya do Buddha, e você saberá que encontrou um Buddha. 

(DHARMAKAYA é a manifestação da verdade em forma absoluta, para além da necessidade de discriminação em conceitos. Representa a verdade que está além da forma e da ideia. Corresponde à mente de Buda. Sambhogakaya: é a manifestação da forma pura e perceptível aos grandes praticantes.)

A experiência nesse momento é algo como o que você sempre pensou ser — antes de se tornar buddhista — um encontro com Deus. É um tipo de energia imensa, clara, poderosa, e você a contata diretamente. Você agora confirmou a existência de um Buddha. Você encontrou o Buddha e sabe que encontrou o Buddha.

Nesse momento você compreende diretamente o que são os corpos físicos do Buddha. Agora as pinturas e estátuas são algo bem diferente para você. Você compreende que eles representam o que você viu e eles tomam um significado totalmente diferente. É a expressão física do Dharmakaya. Alguém, em algum lugar, viu Tara e a pintaram. É assim que ela realmente se parecia. E então alguém viu a imagem e a copiou, e outro a copiou. Definitivamente, se você voltar para trás, alguém viu Tara. Alguém teve a experiência da expressão do Dharmakaya. Então as imagens estão representando o mais elevado objeto do universo. Você não pôde realmente apreciar um pintura de um Buddha até esse dia.

Você compreende o significado da prostração. Você compreende que se tivesse chocado com o Dharmakaya, a reação imediata e natural a essa experiência seria se prostrar no chão. Você realmente compreende a prostração pela primeira vez.

No primeiro instante, no primeiro microssegundo da percepção direta da vacuidade, três coisas já aconteceram. Você entrou no caminho da visão, você se tornou um Arya e, se tiver Bodhichitta, você alcançou o primeiro estágio do Bodhisattva. Durante os minutos seguintes dessa experiência, você tem uma experiência direta e poderosa da bodhichitta real.

É quase como uma sensação física de algum tipo de amor e cuidado pelos outros seres, vindo do seu coração como um rio, como uma luz clara. Você sabe que passará o resto de sua vida servindo os seres sencientes; você está certo disso. Você sabe o que tem de fazer para servi-los e sabe que sempre o fará desse momento em diante.

Você pode pensar que, nos anos seguintes a essa experiência, poderia começar a duvidar do que aconteceu. Mas há uma certa percepção inegável, uma percepção absoluta e puramente correta que você tem durante o jetob yeshe, o que acabou de acontecer com você foi absolutamente verdadeiro. O que aconteceu com você foi puramente verdadeiro.

O que acontece então é um tipo de interesse. Você tem uma realização direta e inegável de que cada página das escrituras buddhistas, dos estágios do caminho e de todos os outros livros, é total e absolutamente verdadeira, e de que este caminho é o caminho verdadeiro. Não estou sendo sectarista; estou apenas falando de uma experiência real que você pode confirmar por si mesmo. Você pode seguir este caminho e terá absolutamente os mesmos resultados, e todos estes eventos acontecerão com você. Isso é absolutamente verdadeiro.

Então você adquire um tipo de mania de proteger os livros de budhismo. Eles não devem desaparecer deste mundo. Eles são a perdida vacina secreta para as aflições mentais. Você sabe que deve devotar suas vidas para assegurar que estes livros e ensinamentos conectados a eles nunca sejam perdidos no mundo. Eles são todos absolutamente verdadeiros. E eles são realmente o único caminho que leva para fora do sofrimento.

Você compreende nessa hora o significado do diamante como uma metáfora para a vacuidade. Um diamante é a única coisa próxima do que você viu. Se você tiver um carro e nenhum outro dinheiro, você pode pegá-lo, vendê-lo a alguém, comprar um diamante e oferecê-lo no templo, em algum lugar onde ninguém possa encontrá-lo, e não importaria se ninguém soubesse disso.

O que acontece depois desse dia? O que você suporia fazer durante estas sete vidas? O quarto caminho é chamado habituação. Significa acostumar-se a algo. O quarto caminho é usar o que você viu e realizou, durante aproximadamente sete vidas e meia, para limpar o resto de suas aflições mentais. Demora tudo isso para se acostumar totalmente com o que aconteceu e utilizar esse conhecimento em sua vida cotidiana para parar suas aflições mentais. A essência disso é o processo do que acontece em sua vida diária, como quando o seu chefe grita com você, e você usa a percepção da vacuidade para superar suas reações automáticas. Fazendo isto, você pode quebrar o ciclo do samsara.

As condições para a prática Dharma serão absolutamente perfeitas para as próximas sete vidas

Como uma criança, você não lembra do que aconteceu, mas logo você já estará entendendo estas coisas. É como nas histórias da vida de Je Tsongkhapa, por exemplo. Eu não diria quatro anos de idade, mas talvez dez ou quinze. Se você se livrar de suas aflições mentais, então você alcança o Nirvana, e se você continuar, você alcança a iluminação. Esse é o processo do que acontece após você perceber a vacuidade diretamente. No dia em que você usá-la, na hora em que você vê-la, seu futuro torna-se previsível. Você está definitivamente no caminho para fora. Dentro de um quantidade fixa de tempo, você se tornará um Buddha.

Uma vez que você tenha visto a vacuidade diretamente, alguém poderá perguntá-lo se as coisas existem do modo como ele as vê. Você teria de dizer absolutamente não. Você ainda as vê como auto-existentes? Absolutamente não, pois isso é um estado mental esquizofrênico. A partir do momento em que você sai da percepção direta da vacuidade, você sabe que o que os outros estão vendo é errado. Mas você não acredita nisso. Você sabe que as percepções deles são distorcidas.

Você também sabe que não pode pará-las bem agora. E, de fato, quando você parar a tendência inerente de se apegar às coisas como auto-existentes, como não sendo apenas as suas projeções, você alcançará o Nirvana. Essa é a última aflição mental que você tem de superar. Cada um, até mesmo os animais, têm a tendência inerente de ver as coisas como auto-existentes. No quarto caminho, o caminho da habituação, você ainda está vendo as coisas como auto-existentes, mas você sabe que está errado e não acredita mais em si mesmo.

Isso é o que significa quando os budistas dizem que as coisas são uma ilusão. Esse é o único significado da ilusão. Não significa que as coisas não existem. Especialmente não significa que os atos bons e ruins são uma ilusão, que o sofrimento e o paraíso são uma ilusão e que então eu posso fazer qualquer coisa que quiser. Significa que, como as coisas são uma ilusão, eu devo ser bom. Esse é o único modo pelo qual você alcançará o Nirvana. O dia em que você for capaz de usar os entendimentos — obtidos depois de ver a vacuidade — para superar a última das suas aflições mentais será o dia em que você alcançará o Nirvana — e esta é de fato a definição tradicional de Nirvana.

Geshe Lobsang Chünzin 

Notas

¹ Vacuidade, interdependência e unidade são os fundamentos do Budismo. Vacuidade: nada existe por si. Interdependência: tudo existe em relação a. Unidade: tudo é Um. O Um é o único existente. Não pode ser definido, é Nada e Nada é. Quando no filme Matrix um monge menino entrega para Neo uma colher, ele diz: "- A colher não existe". Não temos aqui um ensinamento sobre a vacuidade?

² Termo sânscrito para “Ser Superior”. Alguém que tem uma realização direta, ou não- conceitual, da vacuidade. Pode ser um hinayana ou um mahayana.

³ Ver apêndice do livro O Presente da Águia, de Carlos Castaneda, em particular a segunda proposição explicativa intitulada: 'A atenção é o que nos faz perceber os comandos da Águia como vestígios'. Segue breve extrato: "Explicou que para a primeira atenção lidar com os comandos da Águia ela tem de ser treinada a mover-se instantaneamente por todo um espectro das emanações da Águia, do qual não toma conhecimento evidente, a fim de alcançar as “unidades perceptíveis” que todos nós aprendemos a aceitar como perceptíveis. Essa realização da nossa primeira atenção é conhecida pelos observadores como “vestígio” porque engloba a capacidade de afastar as emanações supérfluas e escolher as emanações a serem enfatizadas".

⁴ O supremo bom coração, neste contexto, é a bodhichitta. Bodhi significa iluminação, em sânscrito, e chitta, mente; portanto, o sentido literal do termo “bodhichitta” é “mente de iluminação”.

Sinal de Fumaça

A Chave Secreta para o Empoderamento

Saúdo a Fonte Eterna em mim e em tudo. Estou atuando a partir do centro da verdade. Que todos os impedimentos sejam removidos. Imagem gerada...