Mostrando postagens com marcador Arcano 13. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Arcano 13. Mostrar todas as postagens

quinta-feira, 7 de dezembro de 2023

Nossa Senhora

A morte sorri para todos, numa eterna alegria, consolo dos miseráveis, terror dos ricos, mas para todos ela se mostra equânime. 

A única questão que fica é a de sempre: todos querem ir para o céu, mas ninguém quer morrer.

Os ricos se apegam a sua riqueza, elegeram seus bens o seu deus, a morte para eles é a verdade comunista da existência.

Os pobres também se apegam, mas nem tanto, pois a morte é para eles a chance de riqueza que aqui não tiveram, julgam ter sofrido o suficiente para o merecido prêmio celeste.

A classe média vive no purgatório de sempre: a invejar os ricos e a temer os pobres e, talvez, mesmo na morte ainda devem invejar os santos ou iluminados, esses ricos espirituais, e temem os quiumbas, os miseráveis do outro mundo.

Muda e sorridente, com olhos profundos de negro buraco a todos Ela aguarda paciente, pois a Morte espera a vida inteira, sem nenhuma necessidade de apocalipse ou fim de mundo.

Essa questão de fim do mundo, aliás, é sempre algo muito particular, pessoal e intransferível. A maioria nem se dá conta.

Ela, Nossa Senhora Morte, percebe que todo esse agito humano, essa luta ansiosa pelo viver não faz o menor sentido. E, tranquila, sorri.



Na morte

Talvez espante ao leitor a franqueza com que lhe exponho e realço a minha mediocridade; advirto que a franqueza é a primeira virtude de um defunto. 

Na vida, o olhar da opinião, o contraste dos interesses, a luta das cobiças obrigam a gente a calar os trapos velhos, a disfarçar os rasgões e os remendos, a não estender ao mundo as revelações que faz à consciência; e o melhor da obrigação é quando, à força de embaçar os outros, embaça-se um homem a si mesmo, porque em tal caso poupa-se o vexame, que é uma sensação penosa, e a hipocrisia, que é um vício hediondo. Mas, na morte, que diferença! Que desabafo! Que liberdade! Como a gente pode sacudir fora a capa, deitar ao fosso as lantejoulas, despregar-se, despintar-se, desafeitar-se, confessar lisamente o que foi e o que deixou de ser! Porque, em suma, já não há vizinhos, nem amigos, nem inimigos, nem conhecidos, nem estranhos; não há plateia. 

O olhar da opinião, esse olhar agudo e judicial, perde a virtude, logo que pisamos o território da morte; não digo que ele se não estenda para cá, e nos não examine e julgue; mas a nós é que não se nos dá do exame nem do julgamento. Senhores vivos, não há nada tão incomensurável como o desdém dos finados.                          

Machado de Assis. Memórias póstumas de Brás Cubas. São Paulo: Ciranda Cultural, 2018. p. 49.

O primeiro filtro do caminho no Xamanismo Guerreiro

Um blog que se propõe a ser uma introdução ao Xamanismo Guerreiro precisa começar justamente por um dos primeiros passos no caminho, mas qua...