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quarta-feira, 24 de janeiro de 2024

Há duas espécies de amor.




Há duas espécies de amor.

Um é o amor de escravo.

O outro deve ser adquirido pelo Trabalho.

O primeiro não tem valor algum; só o segundo, o amor que é fruto de um trabalho, tem valor. É o amor que todas as religiões falam. Se você amar, quando "isso" ama, esse amor não depende de você e não haverá nenhum mérito nisso. É o que chamamos de amor de escravo.

Você ama até mesmo quando não deveria amar. As circunstâncias fazem-no amar mecanicamente.

O verdadeiro amor é o amor cristão (Gurdjieff emprega esse termo em seu sentido original e não no sentido corrente), religioso; ninguém nasceu com esse amor.

Para conhecer esse amor, você deve trabalhar. Algumas pessoas sabem disso desde a infância; outros só o compreendem numa idade avançada. Se alguém conhece o amor verdadeiro, é porque o adquiriu ao longo da vida. Mas é muito difícil aprender isso. É impossível começar a aprendê-lo diretamente com as pessoas. O outro sempre nos toca vivamente, põe-nos em guarda e nos dá pouquíssimas chances de tentar.

O amor pode ser de diferentes espécies. Para compreender de que tipo de amor falamos, é necessário defini-lo.
Neste momento, falamos do amor para a vida. Em toda a parte onde haja vida, a começar pelas plantas e pelos animais, numa palavra, em toda a parte onde exista a vida, há amor. Cada vida é uma representação de Deus. Quem puder ver a representação, verá Aquele que é representado. Cada vida é sensível ao amor. Mesmo as coisas inanimadas, como as flores, que não tem consciência, compreendem se você as ama ou não. Até a vida inconsciente reage de uma maneira diferente diante de cada homem e faz eco as suas reações.
O que você semeia você colhe; e não apenas no sentido de que se você semeia trigo colherá trigo. A questão é como você semeia.
O trigo poderá tornar-se literalmente palha. Na mesma terra, pessoas diferentes podem semear as mesmas sementes e os resultados serão diferentes. Mas estas são apenas sementes. O homem certamente é muito mais sensível ao que é semeado nele. Os animais também são muito sensíveis, embora menos que o homem. Por exemplo, X. tinha sido encarregado de cuidar dos animais. Vários deles adoeceram e morreram, as galinhas punham cada vez menos, e assim por diante. Mesmo uma vaca dará menos leite, se você não gostar dela. A diferença é realmente espantosa. O homem é mais sensível do que uma vaca, mas de modo inconsciente.

E se você experimentar antipatia ou ódio, por uma pessoa, será apenas porque alguém semeou algo de mau em você.

Aquele que deseja aprender a amar o próximo deve começar tentando amar as plantas e os animais.
Quem não ama a vida não ama a Deus.
Começar tentando logo amar um homem é impossível, porque esse homem é como você, e, em resposta, o atacará. Um animal, no entanto, é mudo e se resignará tristemente. Eis porque é mais fácil se exercitar primeiro com os animais.

Para um homem que trabalha sobre si mesmo é muito importante compreender que só se pode operar uma mudança nele se ele mudar de atitude em relação ao mundo exterior. 

Geralmente você não sabe o que deve ser amado e o que não deve ser amado, porque tudo isso é relativo; em você, uma só e mesma coisa vai ser amada e não amada, enquanto objetivamente há coisas que devemos amar ou não amar. Daí por que, praticamente, é preferível deixar de pensar no que você quer chamar de "bom" ou "mau" e só agir quando tiver aprendido a escolher por si mesmo. 

Agora, se você quiser trabalhar sobre si mesmo, deve desenvolver em si diferentes atitudes. Não comece pelas coisas grandes, que são inegavelmente reconhecidas como más; exercite-se desse modo:
se amar uma rosa, tente não amá-la; e se não a amar, tente amá-la.
É melhor começar com o mundo das plantas. A partir de amanhã, tente olhar as plantas como nunca as olhou ainda. Cada um de nós é atraído por certas plantas e não por outras. Talvez ainda não tenhamos notado isso. Você deve olhar primeiro a planta, depois trocá-la por outra, observar e tentar compreender por que existe essa atração ou aversão. Estou certo de que cada pessoa experimenta ou sente alguma coisa. É um processo que se passa no subconsciente e a mente não vê. Se você começar, no entanto, a olhar conscientemente, verá muitas coisas, descobrirá muitas "Américas". As plantas, como os homens, tem relações entre si e há também relações entre as plantas e os homens, mas de vez em quando elas mudam.
Todas as coisas vivas estão ligadas umas às outras. Isso se aplica a tudo que vive . Todas as coisas dependem umas das outras.
As plantas agem sobre os humores do homem e o humor deste age sobre o mundo da planta. Durante toda a nossa vida faremos a experiência disso. Até mesmo as flores em vasos viverão ou morrerão em função de nossos humores.


- "Amas-me? Perguntou Alice.

- Não, não te amo! Respondeu o Coelho Branco.

- Alice franziu a testa e juntou as mãos como fazia sempre que se sentia ferida.

- Vês? Retorquiu o Coelho Branco. - Agora vais começar a perguntar-te o que te torna tão imperfeita e o que fizeste de mal para que eu não consiga amar-te pelo menos um pouco. Sabes, é por esta razão que não te posso amar. Nem sempre serás amada Alice, haverá dias em que os outros estarão cansados e aborrecidos com a vida, terão a cabeça nas nuvens e irão magoar-te. Porque as pessoas são assim, de algum modo sempre acabam por ferir os sentimentos uns dos outros, seja por descuido, incompreensão ou conflitos consigo mesmos. Se tu não te amares, ao menos um pouco, se não crias uma couraça de amor próprio e de felicidade ao redor do teu Coração, os débeis dissabores causados pelos outros tornar-se-ão letais e destruir-te-ão. A primeira vez que te vi fiz um pacto comigo mesmo: "Evitarei amar-te até aprenderes a amar-te a ti mesma!"

Lewis Carrol

Auto-estranhamento


Eu não sei dizer quem sou...

Mas sei que não sou o mesmo de outros ontens.

Contudo, quem sabe?

O tempo seria um espelho no qual vejo diferentes passados? 

Ou um jogo de cartas marcadas pela morte?

E se a vida continua quem permanece? Quem desvanece? Quem se esquece ou quem se lembra? 

Nesses momentos o ponto (de interrogação) que sou estremece.

Qual a pergunta que nunca foi feita?

Sou um entrante de mim mesmo?

Como posso modificar o que sou quando o que sou é modificação?

Posso revolucionar-me?

De todas as revoluções há aquela que é mais difícil, apesar de totalmente possível, portanto não utópica, onde tudo favorece em seu desfavor e para a qual não há desculpas, pois esta revolução muito própria e solitária é, ao mesmo tempo, estranha e comum (a todos), na qual o ser só pode vir a sucumbir diante de si. Ou não. 

Eis a solidão do(a) guerreiro(a).

DR


sexta-feira, 19 de janeiro de 2024

A espada de duplo fio da inveja

“Não sejamos ávidos da vanglória. Nada de provocações, nada de invejas entre nós” (Gal 5, 26).

A inveja é alegria e tristeza ao mesmo tempo, alegria pela tristeza do outro e tristeza pela alegria do próximo, é o pecado oculto, ninguém o admite e isto ocorre por que há um outro pecado que esconde a inveja. A inveja como pecado é tão humilhante, mais tão humilhante que seu sujeito não quer se ver e faz tudo para não se ver, e isto mesmo é a inveja, in_veja, um não ver. Ninguém que ver em si algo tão dilacerante para um outro pecado, pecado capital: o orgulho. É o orgulho que não pode admitir a inveja, pois este reconhecimento implica em olhar a nossa derrota, a nossa inferioridade, a nossa incapacidade. O orgulhoso só quer sair sempre vitorioso e ter a última palavra. O invejoso quer ver apenas a derrocada do outro, mas não a própria, por isto Dante Alighieri apresentou o invejoso com os olhos costurados por arame em seu Purgatório.

Naturalmente, a inveja é um pecado óbice para aqueles que buscam se auto-conhecer, pois nos impede de ver a nós mesmos, assim como a ira que cega e o orgulho que ofusca, a inveja nos impede de ver antes de tudo a nossa própria singularidade, pois sobrevive apenas num desejo de comparação entre pessoas que não podem ser na verdade comparadas, pois todos somos únicos. Se reconheço em cada um a sua própria singularidade como a inveja pode subsistir? Mas vivemos numa sociedade que estimula a comparação constantemente apesar de sermos incomparáveis.

A inveja possui dois servos fiéis e usa destes dois servos fiéis para secretar o seu veneno, são servos poderosos e operam através da língua humana como se fossem dois demônios ou dois obsessores, para usar a linguagem mais moderna, a versão atualizada da palavra demônio: obsessor.

Se a inveja for vista como uma espada pontiaguda estes dois obsessores compõe a espada de duplo fio da inveja: a crítica e a fofoca.

A crítica e a fofoca compõe a assessoria de imprensa da inveja, uma assessoria de bastidores e esgotos.

Reparem que tanto um como o outro seguem o mesmo estilo de sua senhora inveja, nunca se apresentam, sempre se dão pelas costas, as escondidas, agem de forma astuta, velada, secreta, de forma indireta pois não podem revelar a sua senhora sempre envolta em trevas, em cantos escuros e mentiras. Como o invejoso, o crítico da vida alheia e o fofoqueiro sempre realiza suas falas pelas costas daquele que é o objeto de sua língua ele revela uma outra qualidade terrível que o próprio Dante Alighieri coloca no último círculo dantesco. Imagine alguém que por trás fala mal e pela frente lhe trata bem, lhe cumprimenta abraça e até beija. Isto nos lembra Judas que traiu Jesus (terá traído mesmo? Dizem, e essa é fala fofoqueira por excelência, pois o fofoqueiro sutil coloca sempre o sujeito elíptico para encobrir a si mesmo, que Jesus a cruz rogou ao pai da seguinte forma: - Por que me abandonastes?) com um beijo e nos faz perguntar: quem não tem inveja?

Quem não tiver apresente-se, trata-se de uma raridade, tão rara que dá até para desconfiar.

Já a inveja é legião.

E horrorizados vemos aquilo que não consegue olhar com alegria pelo bem que o outro é.

E vemos que nos fizemos tal como somos pela própria inveja não admitida.

Porque admiti-la destrói o nosso ser no mundo, por isso está escondida de ti por trás da ira, da crítica , do sacrifício ou da falsa rebeldia, com seus rebentos disformes da reclamação, da fofoca e do despacho de língua ferina.

Inveja. Veja in, olhe dentro, expurgue-a pelo olhar compreensivo, na figa da auto-observação, pois cada qual possui um dom divino para benefício de todos.

Oh, auto-estima minada!
Ó mediocridade de si!
Ó maldita e mal-olhada, escondes em ti teu próprio bem.




domingo, 7 de janeiro de 2024

Sabemos, realmente, que somos mortais?


Sabemos, realmente, que somos mortais?

O fato da morte, da dissolução ao final desta existência nos coloca em um ponto completamente diferente de todos os caminhos tidos por espiritualistas e esotéricos hoje em moda.

"Espreitamos a nós mesmos como seres mortais ou imortais?"

A diferença do enfoque desta espreita é determinante em nossas posturas existenciais.

Conversando com muitas pessoas em situações diversas noto muitas delas alegando que trabalham com os paradigmas toltecas, mas neste ponto da continuidade da existência tentam sempre elocubrar, tergiversar, enfim, há sempre um "medo" de encarar a morte como o evento que dissolve nossa existência individual.

Concordo contigo na reação a esse fato, há um "sobressalto" inicial, por vezes assustador, mas logo depois vem a certeza que tudo que temos é esse "aqui e agora".

É tão profundo este jeito de viver, de se relacionar com o mundo, cada instante, cada momento, pode ser o momento final, pode ser o ponto final em nosso discurso existencial, assim, para alguém que lida com esta abordagem do caminho, não há dúvida que cada instante é tudo que temos e a qualidade de nossa vida em cada momento determina se estamos fluindo pelo Mar Escuro da Consciência ou continuamos na condição de navegantes num rodamoinho artificial, que nos leva para o fundo tendo a ilusão que estamos indo para algum lugar.

Está demonstrado que a energia disciplinada e focada é "ruim" para os predadores, eles não apreciam esse estilo de comportamento, assim agir com foco e disciplina é impregnar nossa energia pessoal de um "gosto" que não agrada os predadores.

Quando nos conscientizamos que só há o aqui e agora, tudo muda.

Descobrimos que não podemos perder tempo, não podemos nos manter num caminho sem coração, pode não haver um amanhã ou um "depois" para dizermos a quem amamos, o tanto que amamos, para fazer em cada momento de nossas vidas o que queremos e não o que querem por nós.

Precisamos olhar a nossa realidade circundante e corajosamente questionar : estou num caminho com coração?

É aqui que gostaria de estar?

Se houver um não como resposta a questão é: por que não mudamos já?

Ou estamos esperando papai do céu?

É radical, é revolucionária a proposta de vida daí resultante.

Sem dúvida alguma é a plena compreensão desta abordagem que nos dá a força e a integridade para fazermos de cada ato um gesto para o infinito, um gesto para a Eternidade.

É muito bom enfatizar isso pois tem pessoas que se aproximam das propostas Toltecas achando que estão em alguma religião que se "seguirmos os preceitos" encontraremos alguma "recompensa", "reinos do céu", " prêmios sagrados".

Total ilusão.

Um trabalho de vida inteira pode resultar em nada, pode levar a lugar nenhum.

É interessante compreender que pode haver um sobrevivência de personalidade após a morte física.

Temos muitos casos em várias tradições de seres que continuam a se comunicar após a morte, mas o que o caminho Tolteca coloca é que nestes casos temos "filamentos" sobrevivendo, os mesmos filamentos que voltam para a Eternidade um dia, os mesmos filamentos que vão e voltam, "encarnado" em outros seres e confundidos com "minha vida anterior" pelas práticas reencarnacionistas.

O conjunto de fibras que "animamos" durante a vida pode se cristalizar, há cristalizações de vários tipos, este ser pode sobreviver se, por diversos caminhos, tivermos criados um corpo de energia, vai sobreviver ainda mais tempo se certas medidas forem tomadas, vejam o trabalho dos ancestrais em mumificar o corpo ou agir de formas outras para garantir que o corpo dure por muito tempo.

Mas todas estas práticas apenas geram uma sobrevida, não a pretensa imortalidade.

No Fogo Interior D. Juan Matus revela uma linhagem de desafiadores da morte que enterraram seus corpos físicos em certos locais do México, o problema dessas práticas é que levam a um estado de continuidade, mas não de liberdade.

A sutileza do Caminho Tolteca, revolucionariamente ele não apenas trabalha as questões dos(as) desafiadores(as) da morte mas foi além, descobriu esta possibilidade, essa chance que temos de ter chance de reivindicar o "presente da águia", podermos entrar noutra condição de atenção, noutra condição de realidade que não é nem a primeira atenção, esta que nos circunda, nem a segunda atenção, que abrange mundos outros que não este, mas um estado misterioso, chamado de terceira atenção, onde, após morrermos e abandonarmos esta primeira e segunda atenção, após devolvermos a consciência que nos foi "emprestada" para a desenvolvermos com nossas experiências, podemos reivindicar, se tivermos energia e intento para isso, um estado existencial distinto.

Mas tudo isto são possibilidades, algo que "pode" acontecer, para o qual não temos nenhuma certeza.

Por isso, a meu ver, o (a) praticante do caminho Tolteca, intenta estes objetivos com sua mais profunda percepção e isto reflete na VIDA.

Para meu entender, praticar as propostas do Caminho Tolteca é um ato de cada instante, de cada momento, cada mínimo ato é um profundo desafio.

Ler este mail, a postura que estamos, nosso cocar colocado, nossa sintonia, atos simples como lavar um copo, andar, estar onde estamos, tudo isto é tido como um desafio, como um trabalho para ampliar a consciência e nos afastar da condição robotizante que é a " normal" e nos despertar para as tremendas possibilidades ao nosso alcance.

Fomos condicionados a agir como máquinas, em vários setores de nossas vidas, estar aqui e agora, pleno, isto muda tudo, se nos conscientizamos que a vida é única, que esta vida é tudo que temos de fato, que este momento é nosso único e efêmero instante, tudo muda, nossa qualidade de existência se transforma para outros valores e podemos ousar deixar de sermos robôs e entrarmos na condição distinta de seres vivos, auto-conscientes.

Estou numa empresa que dou consultoria em São Paulo. Fico observando como as pessoas são sugadas na cidade grande para estarem mais robotizadas, fora dos ciclos da natureza.

Agora enquanto escrevia este mail fui até a linha de produção passar para eles uns exercícios físicos de alongamento, destinado a evitar LER (lesões por efeitos repetitivos).

Fiquei observando como as pessoas fazem as coisas automaticamente, nestes momentos que paramos para estes exercícios há uma mudança do "automatismo", por alguns instantes elas estão ali mais presentes, o sorriso, os comentários, é incrível observar como a energia muda por alguns instantes.

Mas alguns instantes depois já voltam a uma participação mais "dormente".

E nós?

Como estamos?

O dia todo, cada instante é um desafio ou temos "momentos" e depois permitimos que os "problemas" do dia a dia, nossas atividades outras nos consumam e nos adormeçam?

O desafio do (a) praticante de caminhos como o Tolteca é justamente ir além do automatismo, é despertar de fato para nossas potencialidades interiores.

Só aí temos vida, antes temos sobrevivência.

É muito interessante observar isso.

Não fomos "criados" para este estado, não é nosso destino "evoluirmos" para esta condição.

Não é um “caminho" espiritual.

O Caminho Tolteca é uma descoberta, resultado do estudo, da observação, dos erros e acertos de gerações incontáveis de homens e mulheres.

É muito trabalhoso porque não é "natural", é um caminho de desafios constantes e crescentes.

É muito importante entender isso, o Caminho Tolteca não é uma "revelação".

Se estudamos com cuidado vamos notar que no começo o caminho Tolteca ajudou a induzir muito erros, vejam os ancestrais desafiantes da morte, as armadilhas sutis que caíram.

Notem por exemplo quantos praticantes caíram no mundo dos seres inorgânicos, os desafios iniciais quando julgavam que a segunda atenção era um mundo "espiritual", "superior", como tantos caminhos ainda hoje julgam ser, enfim, tais equívocos só foram superados pela prática e observação de incontáveis gerações.

E é interessante observar que muitas práticas que são apresentadas como Xamanismo hoje, são abordagens dentro desses paradigmas ancestrais.

Os (as) Toltecas não foram apenas um povo no sentido étnico. A comunidade xamanística Tolteca foi um estado de consciência, atuando em vários pontos de uma vasta região.

Eventos intensos foram forçando mudanças perceptivas quanto a realidade.

Foram momentos duros, como a invasão e subjugação, primeiro pelos povos nativos mesmo, como Astecas e outros, depois pelos conquistadores europeus que levaram o Caminho Tolteca a afastar-se de tudo que era mera fantasia e buscar um pragmatismo cada vez maior e efetivo.

Dentro de sua tribo os(as) Toltecas eram capazes de manipular o ponto de aglutinação de todas as pessoas que estavam ali, mas quando chegaram os invasores tudo mudou, poderosos(as) xamãs morrendo como moscas.

Os(as) sobreviventes foram então avaliar, avaliar como eles sobreviveram e os outros não, como seus " aliados" os ajudaram e aos outros não e então muita coisa mudou, pois começaram a perceber que a questão chave estava no "poder pessoal".

Hoje somos herdeiros desse caminho, os novíssimos videntes.

Os antigos videntes, adeptos de práticas que valorizavam mais os fenômenos e o contato com a segunda atenção como se ela fosse um mundo "espiritual" e tal, evoluiu para o caminho dos novos videntes, quando sob ataque de grupos diversos os herdeiros e herdeiras do Caminho foram se aprofundando em práticas mais profundas e de efeitos pragmáticos e hoje, graças a ação implacável do Nagual de 3 pontas, podemos partilhar deste milenar saber e arriscarmos nossa chance de continuar a aventura que nos é proposta, a chance de termos chance.

Cá estamos, praticantes deste desafio intentando esse sonho fugidio.

Nuvem que Passa
 Qui Jul 4, 2002 10:17 am

Homenagem à Morte com Mantra



quinta-feira, 21 de dezembro de 2023

O diabo mora nos detalhes




Eis um ditado que vem bem a calhar, pois aqui, no Trabalho sobre si, começamos do pequeno para o grande, do arremate para o todo, pois esse arremate é como um fractal, de um detalhe conduz a outro até que lá na frente se tem a obra inteira.

O aspirante ao caminho do guerreiro precisa se ater aos eventos do seu viver, aos hábitos do dia a dia, espreitar a si mesmo a partir das minúcias, recapitular o seu cotidiano, que é sempre uma espécie de retrato 3 por 4 de nossa vida inteira. Não se começa nesse árduo caminho lutando as grandes causas, demandando contra os grandes “demônios” ou enfrentando desafios que são muito maiores que a capacidade inicial de um aspirante.

Querer abraçar grandes causas é uma das piores formas de auto-engano, pois sem muita energia acumulada e sem uma vontade forjada em batalhas menores e vitoriosas não será possível vencer os maiores desafios tais como a luta contra a vaidade, o domínio da energia sexual ou castidade (aqui num sentido técnico e não moral) e a conquista do silêncio interior. Estas coisas devem ser perseguidas a partir de pequenos passos, gradualmente, suavemente, sem forçar, sem obsessões.

“Se for para um guerreiro ser bem-sucedido em alguma coisa, esse sucesso deve vir com suavidade, com muito esforço, mas sem tensões nem obsessão” – A Roda do Tempo.

Nos livros o Nagual narra algumas lutas nesse âmbito dos hábitos cotidianos, tais como o seu vício por queijo, que lhe causava males no estômago, seu vício por cigarros que foi superado por uma manobra do Nagual Juan Matus. Já nos seminários de Tensegridade ficou clara a importância de libertar-se do vício do café e do açúcar. Aspirantes tinham como premissas para adentrar ao caminho livrar-se de tais hábitos. Esses são exemplos de desafios menores sem os quais não há efetivamente como prosseguir no caminho.

A elegante magreza característica de vários aprendizes do Nagual e instrutores de Tensegridade também nos revela o quão importante é neste caminho ser leve, fluido e ter um estilo de alimentação sóbrio. Obviamente, os naguais não estão preocupados em ser politicamente corretos, apenas apontam para seus aprendizes que o excesso de peso é a marca da negligência e da auto-piedade estampadas no corpo. A crítica aqui não é à condição humana em geral, mas voltada tão somente para os pretendentes ao Nagualismo.

Isso reflete a importância, não de natureza estética, mas de ordem funcional que davam e dão a uma excelente condição física:

“Se você quer destreza física e sensatez, precisa de um corpo flexível. Esses são os dois aspectos mais importantes na vida do xamã, porque trazem sobriedade e pragmatismo: os únicos requisitos indispensáveis para entrar em outros domínios de percepção. Navegar de uma maneira genuína do desconhecido, requer uma atitude de ousadia, mas não de imprudência. Para estabelecer um equilíbrio entre a audácia e a imprudência, um feiticeiro precisa ser extremamente sóbrio, cauteloso, habilidoso e estar em excelente condição física” – Passes Mágicos.

Então devemos começar pelos detalhes, pelos pequenos hábitos que drenam a nossa energia e a viciam. Devemos espreitar a nós mesmos em nosso dia a dia para que possamos identificar quais são os padrões de comportamentos que levam a nossa energia embora.

“Os guerreiros elaboram listas estratégicas. Anotam tudo o que fazem. Depois decidem quais dessas coisas podem ser mudadas de modo a permitir que poupem parte da energia que despedem” – O Fogo Interior.

É justo o superar desses hábitos drenantes de nossa energia que vão nos permitir acumular energia suficiente para lograr sorte, sucesso e abundância como decorrência de nosso poder pessoal, que decorre não de uma conquista de natureza egoica, mas justamente o contrário.

O ego é uma construção fundamentada num conjunto de hábitos.

O guerreiro é uma desconstrução fundamentada na liberdade de percepção.

A energia pessoal é a matéria-prima, a chave alquímica que nos permite adentrar em outras faixas de realidade para além da ordinária onde o homem comum é prisioneiro.

Escolha um hábito drenante de energia para ser eliminado e transforme esse objetivo no “seu deus”, como disse Gurdjieff no texto que disponibilizamos aqui, chamado “Atenção e Pequenos Hábitos”. Leia e releia este texto, compreenda a importância de ser humilde e começar a dar passos reais no caminho de acordo com as suas forças.

A humildade está no início e ao longo de todo o caminho, o que nos impede de seguir é justamente o contrário: a vaidade, que nos faz achar que somos algo quando não somos nada. Assim é de bom tom começar humilde, pela base, nos detalhes, pois aí também mora o Diabo.

terça-feira, 12 de dezembro de 2023

O Guardião - uma história sobre a espreita de si


No Judaísmo existe uma escola rebelde de mistério chamada Hassidismo. Seu fundador, Baal Shem, era um ser estranho. A meia-noite voltava do rio. Essa era sua rotina, porque no rio, de noite, havia uma calma e uma quietude absolutas. Sentava-se ali, sem fazer nada – apenas observando o seu próprio ser; observando o observador. Essa noite, quando voltava, passou pela casa de um homem rico e o vigilante estava de pé em frente à porta. O vigilante estava intrigado porque a cada noite, exatamente a mesma hora, voltava esse homem. Saiu e disse:

- Perdoe-me a interrupção, porém já não posso conter minha curiosidade. Uma pergunta me persegue dia e noite. O que fazes? Para que vais ao rio? O segui muitas vezes e não há nada; a única coisa que fazes é sentar-se ali horas e horas, e depois voltas à meia-noite.

Baal Shem respondeu:

- Já sei que me seguistes várias vezes, porque a noite é tão silenciosa que pude ouvir teus passos. E sei que todos os dias te escondes atrás do portão. Porém não apenas sentis curiosidade por mim, eu também sinto curiosidade por ti. O que fazes?” O guardião contestou:

- A que me dedico? Sou um simples vigilante.

Então Baal Shem lhe disse:

- Deus meu, me falastes a palavra chave. Minha ocupação é essa também.

O guardião disse:

- Porém não entendo; se és um vigilante terias que estar vigiando alguma casa, algum palácio. Que estás vigiando sentado na areia do rio?

Baal Shem respondeu:

- Existe uma pequena diferença: você vigia que nada de fora entre no palácio; eu simplesmente vigio a este vigilante. Quem é esse vigilante. Esse é o esforço de toda a minha vida; vigio a mim mesmo.

O guardião lhe disse:

- Porém esse é um trabalho muito raro! Quem lhe vai pagar?

E ele respondeu:

- A felicidade é tanta, o gozo é tão grande, é uma benção tão imensa que é uma recompensa em si mesma. Apenas um momento e todas as riquezas do mundo não são nada em comparação.

O vigilante disse:

- Isso é muito raro... eu passei a vida vigiando e jamais topei com uma experiência tão formosa. Amanhã à noite vou acompanhar-te, quero que me ensines, porque eu sei como vigiar, porém, me parece que faço isso numa certa direção e você olha para uma direção diferente.

Osho.


terça-feira, 14 de novembro de 2023

Visão de um espreitador, por Gurdjieff


A ioga é precisamente a sujeição da vida ao jugo das ideias. A palavra "yoga", que vem do sânscrito, quer dizer unir...

Aquele que compreende fala de outras coisas, da vida interior e não da exterior.

O caminho certo é acabar com o conflito entre a vida das ideias e a vida cotidiana. Para isso é necessário conhecer a si mesmo. Saber a cada momento o que se está fazendo e por quê. Só então seremos senhores das coisas e não seus escravos. Em geral satisfazemos nossos desejos antes de pensar se são necessários a nossos objetivos superiores.

Procure viver de maneira a manter-se vigilante quanto às suas ações e não fazer nada que não sirva aos propósitos mais elevados. Ou, em outras palavras, aprenda a fazer tudo de modo a servir a um propósito superior.

Isto é possível. Se alguma coisa for particularmente difícil, considere-a como um exercício. Lembre-se que tudo que é difícil de ser feito tem o objetivo de sujeitar-nos ao espírito. Assim, tudo se tornará mais fácil e terá um significado. Mas, não importa o que estejamos fazendo, é de importância vital perguntar, antes de cada pensamento, de cada palavra, de cada ato:

Porque faço isso? É necessário?

E então, imperceptivelmente, muitas de nossas ações e atos deixarão de ser desnecessários, e passarão a servir a fins superiores.

O conflito interno em nossa vida, então começará a desaparecer e será substituído pela harmonia.

Aprenda então a repousar: isto talvez é o mais importante. Aprenda a não pensar, a controlar seus pensamentos.

Pergunte-se com frequência, se é necessário pensar no que está pensando, ou se seria melhor pensar sobre outra coisa, ou melhor ainda não pensar em nada?

Isto é o mais difícil, mas é essencial. Aprenda a pensar e não pensar. Saiba coma parar os pensamentos. Seja capaz de criar um silêncio interior. Chegará o momento em que ouvirá a voz do silêncio. Esta é a primeira e mais importante ioga.

Quando ocorrer, quando começar a ouvir a voz do silêncio (no Nagualismo é chamado como voz de ver), então novas forças e capacidades começarão a aparecer.

A princípio serão vagas e imprecisas; mais tarde, porém, tornar-se-ão tão obedientes à sua vontade quanto o olhar, a audição e o tato.

Mas tudo deve ser aceito calmamente, sem pressa, sem forçar a atenção sobre o progresso interior, pois a atenção forçada pode impedir o desenvolvimento de novas capacidades.

Então será necessário aprender a ver cada objeto como um todo. Compreende o que isto significa?

Normalmente vemos apenas as partes de uma coisa; seja apenas o começo sem qualquer continuação e o fim; ou o meio, ou o fim. Procure ver sempre tudo como um todo. Para chegar a este ponto, comece a pensar em tudo ao inverso; não tome o princípio sem o fim.

E começará então a ver muito mais das coisas que vê hoje.

Clarividência é ver cada vez de uma perspectiva mais alta, mais abrangente, aos poucos nos apercebemos de muito mais.

Para alcançar estas capacidades, em primeiro lugar é preciso que nos tornemos senhores daquilo que já possuímos: nós mesmos. Para isso podemos nos indagar, a cada hora, o que fizemos durante esta hora? Os iogues fazem isto a todo instante. A prática constante é necessária e imprescindível para adquirir autocontrole.

E quando sua alma começar se habituar com esta nova ordem de ideias, a este novo plano de vida, então quando realizares alguma coisa, juntamente com o florescimento dos novos poderes na sua alma, começará a observar que não está sozinho em seu caminho.

Na noite escura, por toda parte, na estrada, começará a ver luzes, e compreenderá que são os viajantes que caminham na mesma direção, para o mesmo templo, para a mesma festa...

O que devo fazer para seguir este caminho ? Perguntou.

Comece observando a si mesmo. Tente limitar-se, mesmo que seja apenas uma questão de eliminar coisas de que não precisa, mas que consomem a maior parte do seu tempo e da sua energia. Procure compreender que está muito distante do objetivo, mas que este é possível de ser alcançado, acredite nisto, e em pouco tempo, à distância, começará a vislumbrar o caminho!

Conversas com o Diabo - Gurdjieff

terça-feira, 7 de novembro de 2023

A medusa interior, os eus e a auto-observação



Um "eu" é uma entidade definida em nós, com uma parte intelectual, uma parte emocional e uma parte motora. Os Eus vivem em nossa casa interior e nos controlam incessantemente.

Os "eus" moram em diferentes subdivisões dos centros. Temos várias personalidades diferentes e cada uma delas está composta por um grupo de eus.

O "eu", digamos, Fantasia cria a Falsa Personalidade, fazendo-nos crer que temos um só Eu real. A falsa personalidade é puro fingimento. Uma das piores forma de mentir é o fingimento. Todo homen 1,2 e 3 finge ser o que não é. Essas mentiras vem da fantasia sobre o si mesmo, do eu digamos Fantasia. As mentiras obscurecem a Essência, porque a Essência, só pode crescer mediante a Verdade. Um homem deve deixar de enganar-se a si mesmo antes que possa começar a compreender a verdade. O homem deve se livrar da mentira.

Temos milhares de pequenos "eus" em nós, mas devido aos obstáculos a consciência, não os vemos e seguimos acreditando que há um só Eu, que sempre atua e sente da mesma maneira. Este é o "eu", digamos, Fantasia, este "eu" nos impede de mudar.

Cada pequeno "eu" tem uma parte pensante, uma parte emocional e uma parte motora. Seu centro de gravidade pode estar na esfera dos pensamentos, das emoções ou dos movimentos. Observar o centro de gravidade de um pequeno "eu" já é um grande progresso.

Cada pequeno "eu" é uma entidade que se passa por nós e fala pelo intermédio dos centros, chamando-se a si mesmo de Eu. Todos os nossos pensamentos, nossos estados de ânimo, nossos sentimentos, nossas ações, nossas palavras, nossos gestos, nossos movimentos, nossos humores provêm de diferentes tipos de "eus" em nós. Não temos uma individualidade real, ou melhor, não temos um CENTRO DE GRAVIDADE PERMANENTE.

Inicialmente, é mais fácil observar aos "eus" que atuam emprestando-nos certos pensamentos. Observe que está pensando, de certa maneira, a respeito de uma pessoa. Este é um "eu" que está pensando, mas você crê que é você mesmo. Ou digamos que está pensando sobre sua vida; é outro "eu" e você acha que é você mesmo. Quando uma pessoa não vê esse ardil constantemente repetido, toma todos esses pensamentos como ela mesma, neste ponto passou a ser mecânica.

Não vê que algo está pensando por ela, mas ouve os pensamentos desses "eus" como se fosse ela que os estivesse pensando.

Quando começamos a observar verdadeiramente nossos pensamentos, costumamos notar certos pensamentos que são indesejáveis, com relação a outras pessoas ou com relação a nós mesmos. Pois bem, se pensamos que esses pensamentos são nossos, se nos identificamos com eles, se concordamos com eles, concedemos poder a eles, fazemos com que eles tenham poder sobre nós e assim fortalecemos os "eus" que estão por trás deles. Observar é também dissolver os "eus" mecânicos.

A Tradição nos ensina a praticar a separação interior, que para observarmos um eu temos que nos separar dele. Mas se tomamos tudo que passa em nossos pensamentos como nós mesmos, não poderemos separar-nos. Como pode "eu" separar-se de "eu"?

No que concerne à esfera das emoções, existem muitos eus que produzem alterações em nossos estados emocionais, do mesmo modo que certos "eus" transmitem pensamentos à nossa mente, outros "eus" transmitem sentimentos à nossa esfera das emoções.

Alguns desses Eus costumam esgotar-nos, fazer-nos perder a confiança em nós mesmos, deprimir-nos, desalentar-nos, etc. Se ao menos pudéssemos auto-recordar-nos sempre, esses eus não teriam poder sobre nós uma vez que lembraríamos de suas atuações passadas. Mas como concedemos tanto poder a eles, nem nos ocorre observá-los; entram e saem de nossa parte emocional como se essa lhes pertencesse.

Ainda que seja difícil observar diretamente esses "eus", podemos descobrir sua presença ao notar que se abaixa o nível ou há uma súbita perda de força (energia). Se não estamos bastante alertas, esses eus podem nos possuir OS CENTROS e então levaremos dias no sono que eles nos causam.

É preciso aprender a andar muito cuidadosamente dentro de nós mesmos. É inútil discutir com os "eus" desagradáveis. Por isso, a prática da separação interior é tão importante. Basta perder a guarda por um instante, em uma situação difícil, para permitir a entrada em cena deste tipo de "eus" que nada mais são que MÁSCARAS, que usamos para suportar a realidade. É preciso aprender a separar-nos desses "eus" negativos, primeiro na esfera dos pensamentos e logo na esfera das emoções e motora através da técnica de não identificação interior.

O Trabalho se inicia pela auto-observação e é um sistema que provém do Círculo Consciente da Humanidade, isto é, daqueles que lutaram a batalha contra os "eus" e alcançaram a sublime meta de conhecer a SI mesmo.

Quando alguém começa a auto-observar-se seriamente, desde o ponto de vista de que não é Um, mas sim Muitos, inicia de verdade o trabalho sobre si. E como resultado disso teremos que dividir-nos em observador e observado.

O lado observador relaciona-se com a fração de Essência ou Consciência liberada sob as influências do Trabalho interior . O lado observado vem a ser todo esse desfile de pensamentos, sentimentos, desejos, preocupações, estados emocionais, paixões, etc., provenientes de toda essa multiplicidade que levamos dentro de nós por força da simples lei do ACASO.

Indubitavelmente, quando essa divisão não acontece, continuamos identificados com todos os processos dos muitos "eus". Quem toma todos os seus processos psicológicos como funcionalismo de um "eu" único, individual e permanente, encontra-se tão identificado com todos os seus erros, os tem tão unidos a si mesmo que perde, por tal motivo, a capacidade de separá-los de sua psique. Então qualquer mudança será quase impossível.

Através desse trabalho psicológico, temos que chegar a ser cada vez mais conscientes de nós mesmos, de todas as nossas contradições e conflitos íntimos.

É sabido que quando alguém está a ponto de morrer, como por exemplo, quando alguém está se afogando, vê toda sua vida com todas suas contradições passar diante de si. No aspecto psicológico ocorre algo semelhante. Temos que ver tudo que há em volta de nós mesmos nesta vida, antes de morrer psicologicamente. É muito importante compreender o significado psicológico de muitas coisas.

É preciso reconhecer e aceitar os vários aspectos existentes em nós mesmos. Através da auto-observação, da divisão em observador e observado, sob a influência do trabalho psicológico, vamos nos liberando de tantas idéias fantasiosas sobre nós mesmos, de tantas virtudes e méritos que não possuímos em absoluto. Então é que nos convertemos de verdade em crianças e compreendemos o que significam as palavras iniciais do Sermão da Montanha. Deixamos então de sentir-nos grandes e teremos uma compreensão inteiramente nova de nós mesmos, um sentimento inteiramente novo e pensamentos inteiramente novos.

Deixamos de ser a pessoa que havíamos imaginado ser, durante toda nossa vida. Qual o maior perigo que corremos à medida que envelhecemos? É o de cristalizar na idéia que temos de nós mesmos, de acreditar cada vez mais na fantasia que temos sobre nós mesmos. Se valorizamos corretamente o trabalho psicológico, a divisão em observador e observado logo esse perigo não será tão grande. Somos criaturas tão minúsculas e desagradáveis que é preciso um prolongado trabalho de auto-observação para ver como somos ridículos em nossa vaidade e em nosso orgulho.

Depois de passar um bom tempo neste trabalho, as pessoas se tornam mais simples a respeito de si mesmas e em relação aos outros. Porque começam a se observar em lugar de imaginar que são o que acreditam ser. Vêem que o abismo que existe entre o que imaginam ter sido e o que são é muito profundo. Quando isto sucede, por meio da constante auto-observação, toda sua relação consigo mesmas começa a mudar. Tudo aquilo sobre o qual fundamentava seus valores, suas diversas formas de sentir-se superior aos outros, sua falsa caridade almejando o céu, suas caretas, suas ambições de poder , seu preconceito, sua mentira interior, suas crenças, etc, as bases psicológicas sobre as quais descansava, tudo isso desaparece. Terá uma bela experiência, pois não terá mais que manter e conservar aquela máscara de pessoa inventada da qual é escravo. Se tornará simples como crianças de novo, porem conscientes.

Quando um homem ou uma mulher começa a observar-se seriamente, dentro da atmosfera do Trabalho , sentindo que o trabalho o conduzirá a um novo nível de Ser além do nível do saber, experimentará pouco a pouco uma mudança real e significativa em sua vida.

Mas se tenta fazê-lo sem estar respaldado pela influência B e C, toda sua observação será inútil e o levará simplesmente às querelas, argumentos e emoções negativas. Tentamos todos estudar algo que é muito grande e devemos compreender que somos muito pequenos. E neste entendimento devemos nos dedicar a aprender despojados de nossos "eus" e suas velhas cantigas.

Flávio


O começo de tudo: a auto-observação

Se olhar para si mesmo fosse algo comum o ser humano não teria necessidade de escolas esotéricas, mestres, gurus ou terapeutas. E olhar para si mesmo para poder se conhecer só é possível devido a presença de algo que nos tira de nossa própria presença: o outro. Sartre disse que o inferno é o outro. O dono do inferno é Satã, que significa o adversário, o outro. Assim o outro é Satã, parafraseando Sartre. Inferno e Satã são apenas metáforas para a consciência adormecida ou identificada. É pelo enfrentamento estratégico e implacável com o outro que percebemos a nós mesmos e notamos que o outro é um espelho de nós mesmos. Isso é observar-se, perceber no outro um espelho de si. É preciso fazê-lo sempre, o tempo todo e sem fim. Esse é o caminho. Olhar para si mesmo sem julgar ou justificar e olhar para o outro da mesma maneira, vendo as manobras do ego aqui e lá, é um exercício de implacabilidade e espreita de si.

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....TUDO QUE AS MINHAS TENTATIVAS DE LEMBRANÇA DE SI
ME MOSTRARAM, ME
CONVENCEU BEM CEDO DE QUE EU ESTAVA
DIANTE DE UM PROBLEMA NOVO
COM QUE A CIÊNCIA E A FILOSOFIA NÃO TINHAM SE DEPARADO...
P.D. Ouspensky

Todo o trabalho deriva do homem que começa a observar-se. A auto-observação é que nos permite mudar interiormente. Não devemos confundir o observar com o conhecer. Falando superficialmente, podemos dizer que alguém sabe, por exemplo, que está sentado em uma cadeira, mas isto não quer dizer que a está observando. Falando mais profundamente, talvez uma pessoa saiba que está em um estado negativo, mas isto não quer dizer que o está observando.

A auto-observação é um ato de atenção dirigida para dentro, para o que está acontecendo na pessoa. A atenção deve ser ativa, isto é, dirigida. No caso, por exemplo, de uma pessoa a quem se tem antipatia, é possível notar os pensamentos que se acumulam na mente, o coro de vozes que falam dentro de nós, o que estão dizendo, as emoções desagradáveis que surgem, etc. Também notamos que estamos tratando interiormente muito mal à pessoa a quem temos antipatia. Para ver tudo isso é necessária uma atenção dirigida.

A atenção vem do lado observante, os pensamentos as emoções e os movimentos pertencem ao lado observado, isto é, há que dividir-nos em dois, observador e observado. O lado do observador é interior ao lado observado, ou está por cima dele; mas seu poder de consciência independente varia, porque a qualquer momento poderá ficar submerso.

Nesse caso ficará completamente identificado com o estado negativo. Aí a pessoa não observa o estado, porque ela mesma é o estado. Cabe dizer que o fato de ser negativo é conhecido, mas não é observado.

Muitas vezes também se confunde o pensar com o observar. Pensar e observar são bem diferentes. Um homem pode pensar todo dia a respeito de sua pessoa e não auto-observar-se sequer por um momento. Observar nossos pensamentos não é a mesma coisa que pensar. O Quarto Caminho ensina que o homem deve observar tudo nele, sempre como se não fosse ele, mas sim outro. Isto significa que ele deve chegar a dizer:

"O que está fazendo esse eu?"

E não "o que eu estou fazendo?" Então vê os pensamentos que se sucedem, as emoções, as comédias privadas, os dramas pessoais, as elaboradas mentiras, as desculpas e justificativas, os discursos, que passam sucessivamente. No instante seguinte, cai outra vez no sono e desempenha seu papel em todos eles, isto é, atua na comédia que compôs e crê que é verdadeira.

É preciso que um homem seja capaz de dizer: "isto não sou eu", a todas as peças e canções estabelecidas, a todas as representações que se sucedem nele, a todas as vozes que toma pela sua. Sabe-se que, às vezes, antes de dormir, ouvimos fortes vozes na cabeça. São os eus que estão falando. Durante o dia, passam o tempo todo falando, só que os tomamos por Eu, por nós mesmos.

Quando você encontra-se em um estado desagradável e auto-observa-se durante alguns minutos, notará grupos diferentes de eus desagradáveis que tentam, um após o outro, ocupar-se da situação e tirar proveito dela. Isto se deve a que os eus negativos vivem sendo negativos. Sua vida consiste em pensar negativamente ou sentir negativamente, isto é, em proporcionar-lhe pensamentos negativos e sentimentos negativos. Deleitam-se em fazê-lo porque para eles assim é a vida.

No trabalho sobre si, é preciso observar sinceramente quando se goza dos estados negativos, em especial quando se goza secretamente deles. Se um homem sente prazer sendo negativo, sejam quais forem as formas de ser negativo, e são muitas, não poderá separar-se delas. Não é possível separar-se de algo pelo qual sente-se um afeto secreto. Em realidade, o que ocorre é que a pessoa identifica-se com os eus negativos por meio de um afeto secreto e assim sente seu gozo, porque seja qual for a coisa com a qual uma pessoa identifique-se, converte-se nela.

É preciso observar a fala interior (VERBALIZAÇÃO) e o lugar de onde provém. A fala interior automática é a semente de muitos estados desagradáveis futuros e também da fala exterior equivocada.

Existe a prática do Silêncio Interior. Não se trata de impedir que algo penetre na mente, mas pratica-se o silêncio interior com relação a algo que já está na mente e do qual deve-se ter percepção, mas é preciso não tocá-lo com a língua interior, com o discurso interior, ou seja, não usar a verbalização. A fala interior sempre se ocupa dos estados negativos e forja muitas frases desagradáveis que, de súbito, acham expressão na fala exterior, talvez muito tempo depois.

A fala interior mecânica produz confusão interior, é feita de diferentes formas de mentiras, de meias verdades ou de verdades que se relacionam entre si de modo incorreto, com algo que se agregou ou se omitiu. Em outras palavras, é mentir para si mesmo.

Tudo isso pertence à purificação da vida emocional. Mecanicamente, só simpatizamos com nós mesmos e temos antipatia ou ódio daqueles que não simpatizam conosco. Não é possível o desenvolvimento interior, a menos que as emoções deixem de fundamentar-se unicamente na auto-simpatia (AUTO-IDENTIFICAÇÃO). Talvez uma pessoa se dê conta que diz coisas que, se as recebesse, não as toleraria. Dentro de nós mesmos, todos os outros são impotentes. Podemos arrastar uma pessoa para nossa caverna secreta e fazer com ela o que quisermos. Podemos ser naturalmente corteses mas, neste trabalho, cujo propósito é purificar e organizar a vida interior, isto não basta. O que realmente conta é a maneira como os homens se comportam interna e invisivelmente uns com os outros.

Todo ensinamento esotérico, desde a mais remota Antigüidade, refere-se ao conhecimento de si. O trabalho psicológico aplica-se à nossa realidade invisível, na qual moramos psicologicamente; refere-se à conquista de si, ao domínio de si. Mas uma das maiores dificuldades é justamente, imaginarmos que nos vemos e nos conhecemos integralmente, e isto nos impede de compreender o que significa verdadeiramente a auto-observação e o que quer dizer começar a conhecer-se a si mesmo.

Só quem compreende plenamente a dificuldade de despertar pode compreender a necessidade de um prolongado e árduo trabalho sobre si, com o fim de despertar. VEJAMOS BEM, PROLONGADO TRABALHO SOBRE SI.

Neste trabalho, é preciso dissolver a fantasia e a imaginação negativa. A fantasia pode satisfazer todos os centros, de modo que o homem fica satisfeito com o imaginário em lugar do real. O poder da fantasia mantém os homens hipnotizados, porque o homem sonha que está desperto ou a ponto de despertar. Contudo, geralmente passa-se muito tempo neste trabalho antes que uma pessoa comece a observar sua fantasia. E é difícil observá-la, porque quando a observamos, ela se detém, isto é, tão logo chega a atenção dirigida, a fantasia cessa. Nosso estado de hipnose impede toda observação real e direta. Imaginamos que somos pessoas respeitáveis e agradáveis, e não podemos ver através da bruma de nossa fantasia que não o somos em absoluto.

Por isso é imperativo conhecer o modo correto para trabalhar o que se observa, por enquanto estamos apenas estudando o básico do sistema, e comprovando em nós que assim é, mas muito cuidado para não cair na armadilha de acharmos que podemos realizar um trabalho de auto-observação correta para alcançar a consciência de SI sem ajuda e sem preparo. Já foi dito aqui "nesta lista" que neste caminho sem vontade é impossível evoluir e que sem ajuda é igualmente impossível evoluir. Será que tem alguém aqui que pode dizer que desenvolveu a vontade plenamente? Vamos então criar as condições para que a vontade se desenvolva em nós, ainda é muito cedo para tentar saltos maiores que as pernas, é bem melhor um passo seguro de cada vez que dar um salto para o desconhecido e bater com a cara no muro. temos muita coisa para conversar sobre o sistema, oportunamente veremos as técnicas para criarmos um observador eficiente. Por hora é solicitado a auto-observação como forma de constatar em si a veracidade do que dizemos aqui sobre os muitos "eus", centros, funções, estados de presença, consciência, compartimentos, amortecedores, emoções negativas, sono, vigília, observação de si, consideração interior, identificação, 4c, Gurdjieff, evolução possível, abordagem do sistema, contexto, aqui agora etc, para que possamos partir para algo mais profundo se realmente a nossa vontade para isso se prestar.

Flávio

Sagrado Feminino: Kali.

Justamente hoje (08/03//2024) é interessante lembrar de um arquétipo do feminino que é fundamental, não só pela sincronicidade que está rola...