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segunda-feira, 3 de março de 2025

Como canalizar a energia sexual

A energia sexual é um ponto fundamental. Não é à toa que é chamada de brilho da consciência dentro do Xamanismo Guerreiro. Mas é um assunto difícil e espinhoso para quem busca dar os primeiros passos no Caminho já que é "a única energia real que possuímos, que confere vida", pois "através da energia sexual a Águia confere a consciência".

Nesse vídeo temos dicas básicas no que tange a observação de si e da energia sexual, sobre como livrar-se da compulsão e como tornar-se mais consciente no que tange ao uso da energia criadora.


terça-feira, 11 de fevereiro de 2025

Bruxaria, Magia e Xamanismo - parte 11 (final) - por Nuvem que Passa

Caminhos Naturais

Magia, Xamanismo e Bruxaria são caminhos amplos, caminhos que envolvem tradições ancestrais, tradições que surgiram como resultado do trabalho dedicado, de estudo sistemático do mundo por parte de gerações incontáveis de praticantes.

Existem muitas vertentes que se autodenominam com estes termos¹, o que exige do(a) buscador(a) sincero(a) muita atenção, pois existe a Tradição e existem também muitos achismos sobre o que é a TRADIÇÃO. Existem ramos deste conhecimento que vêm da mais remota ancestralidade, mas existem também ramos bem recentes destes conhecimentos nascidos do trabalho de pessoas que se interessaram pelo tema, mas em vez de manter o SABER da TRADIÇÃO, o impregnaram com seus (pre)conceitos.

Há também o(a) iniciado(a) que recebeu conhecimento e energia de uma Tradição. E existem aquelas pessoas que se arvoram em herdeiros(as) apenas para fazer desses caminhos um campo para seus egotismos, campo para suas idiossincrasias pessoais.

É fácil reconhecer pessoas assim, adotam sempre uma atitude proselitista, sempre querendo provar que ‘seu’ caminho é ‘superior’ e veem nos títulos e graus iniciáticos a justificativa para vangloriar-se e se exibir, deixando óbvio que a iniciação não resolveu nada em sua realidade existencial, apenas serviu para ampliar a autoimportância.

Muitas pessoas vão ao Poder sem trabalhar a vaidade pessoal, impérios inteiros caíram no passado devido a isso — o mergulho no além, no transcendente, sem antes resolver o imanente, o aqui e agora.

Existem muitas tradições e propostas que se apresentam sob essas denominações, e é importante frisar que as colocações que faço se referem a caminhos telúricos, caminhos cuja sintonia com a TERRA enquanto ser vivo e consciente é fundamental.

O ser humano foi se afastando da Terra enquanto ser vivo em sua caminhada através das eras. Vamos observar que com o advento da agricultura e das cidades as pessoas foram levadas a operarem em um ritmo diferente, embora ainda ligado aos ciclos da Natureza.

Entretanto, com a perseguição das tradições ancestrais pela Igreja Românica e o advento da era industrial, há um rompimento com a percepção dos ciclos naturais. Os seres humanos, em sua maioria, passam a viver em ritmos completamente artificiais cada vez mais isolados da Natureza.

Portanto, caminhos telúricos exigem todo um trabalho de ressintonia por parte de quem foi criado no ritmo da cidade e da indústria.

A proposta do Xamanismo, da Magia e da Bruxaria, no contexto telúrico, difere um pouco daquelas tradições voltadas a seguir preceitos prontos. Estes caminhos telúricos valorizam a prática. Estão ligados a uma sintonia efetiva entre quem os pratica e os ciclos e forças da natureza, sem que, no entanto, haja adoração de forças ou seres.

Aqui não há projeção de um ‘pai-mãe’ psicológicos, mas sim uma clara proposta de compreender entes e poderes como forças impessoais, sem projetar nossos medos (quando transformamos esses seres em ‘demônios’), nem projetar nossas carências (quando transformamos esses seres em ‘anjos’). A proposta é perceber que tais entes são o que são. Energia consciente alienígena com as quais podemos entrar em contato, desde que saibamos o que estamos fazendo.

Nestes caminhos, ritualizar em um Solstício e trabalhar com o Sol não é adorar forças, mas elaborar uma teia de ressonância com estas forças que passam por estes momentos de poder como o Solstício. É saber que somos parte do Sol e que ritualizar é reatualizar o mito em nós.

Uma xamã que conheço insiste sempre que quando praticantes destes caminhos se ajoelham na Terra, estão se aninhando no seio de sua mãe, nunca implorando ou se subjugando para adorar uma força externa.

Trabalhamos a partir da sensibilidade das pessoas neste enfoque. Cada rito, cada celebração acontece em sintonia com as forças da Natureza e suas manifestações.

Somos parte da Natureza, a Natureza nos criou para desempenharmos um papel muito específico em um amplo contexto. Como enzimas em um organismo cósmico, nosso existir está em harmonia com o existir da Terra, da Vida e de seus ciclos.

O que chamamos de emoção e raciocínio, estas duas formas que temos de reagir a realidade circundante, não nasce em nós. Pois para estes caminhos fica claro, após as práticas de auto-observação, que as emoções e as racionalizações acontecem em nosso campo emocional e mental, mas não ‘nascem’ em nós.

Assim como nosso código genético, assim como os carmas, as emoções e raciocínios que reproduzimos vem sendo elaborados pelos organismos há eras, com finalidades que vão além de nossa compreensão racional.

Este é o primeiro trabalho que uma escola iniciática propõe ao(à) neófito(a): aprender sobre si mesmo(a)². Diferenciar o que fizeram de nós, daquilo que somos em essência, uma essência perceptiva que pode ir além das programações recebidas e originar um ser livre. Que nasce de si, para si, em um contexto distinto daquele que originalmente nascemos.

Podemos ir além do mero emocionar e aprender a SENTIR. Podemos ir além do mero raciocinar e aprender a PENSAR. Podemos ir além do mero reagir e aprender a AGIR. Mas isto exige dedicação, disciplina e um trabalho árduo, pois não temos ‘tendência’ a isto e sim a nos acomodarmos.

Por isso percebemos que todo trabalho iniciático, quando profundo e não apenas formal, implica uma fase de morte para a antiga vida e do renascimento para um novo ciclo.

O ser que nasceu dentro deste contexto que chamamos realidade, tem um script pronto, um papel a desempenhar na realidade da vida.

Energias que vêm dos planetas e de outras realidades passam por nós e as elaboramos para que sejam absorvidas pela Terra, por isso considero perfeita a analogia com enzimas para nossa condição.

Somos metabolizadores de energias diversas na direção da Eternidade para a TERRA e também da TERRA para a ETERNIDADE. Essa me parece a origem dos ritos telúricos, momentos nos quais praticamos de forma consciente este nosso papel de transformadores de energias diversas.

Mas quando queremos ir além disso, quando queremos ir além dessa vida ‘programada’ então surge o caminho iniciático, que nos leva ao confronto com realidades que muitas vezes deixamos de lado. Este aspecto é bem sutil. Há diferenças entre as práticas da Magia, da Bruxaria e do Xamanismo que colocam o ser humano em sintonia com a realidade a sua volta e possibilitam a função transformadora acontecer. Ritos de harmonização com a mudança das estações, com as fases da Lua e muitos outros que podem ser praticados sem que isto implique uma mudança profunda de consciência.

Gurdjieff diz que temos amortecedores, crenças e posturas existenciais que atenuam ou mesmo afastam nossa percepção de certas realidades existenciais. São as abordagens que herdamos das religiões e de certas filosofias de vida, que servem para ‘apaziguar a percepção da realidade’, as abordagens consoladoras.

Assim vamos encontrar muitos caminhos que se denominam ‘xamânicos’, ‘bruxos’, ‘mágicos’ mas que estão totalmente dentro dos paradigmas dos cultos oficiais, onde as mesmas ideias de “pai do céu”, “pecado”, “culpa” e outros conceitos que são a base das religiões oficiais, são adotados apenas com nomes diferentes, mas expressam as mesmas crenças.

O Xamanismo, a Bruxaria e a Magia são abordagens pragmáticas da realidade, não oferecem consolo, do contrário, começam o trabalho por vezes doloroso mas necessário de desmontar todos os ‘amortecedores’, as explicações que nos deram e as quais aceitamos sobre nossa própria realidade e o mundo a nossa volta.

Estes são caminhos naturais, ou seja, não valorizam em demasia a mente racional, pois consideram que a mente racional é fruto de uma série de convenções. Quando tentamos explicar e descrever a realidade, o fazemos através de palavras, e estas têm limites.

A palavra é fantástica, tem um poder tremendo, estamos nos comunicando aqui graças à palavra, mas ela tem limites. Existem fronteiras além das quais esta é ineficaz, pois a sintaxe de nossa linguagem é convencionada, vem da memória, dos códigos já apreendidos. E o novo, o além da realidade não pode ser expresso com base no já vivido.

Por isto o ‘silêncio’ é tido como o grande revelador, a forma mais sofisticada de conhecimento, que vem não da mente racional mas de um estado de insight, o qual brota a partir de práticas que conduzem a este estado ‘alterado’ de consciência que é o silêncio.

Assim o Xamanismo, a Magia e a Bruxaria tem sua base em práticas e estruturas de conhecimento que permitem uma participação efetiva do(a) aprendiz. Nestes caminhos é considerado conhecimento o que praticamos. Apenas falar teoricamente a respeito destes implica dizer muito pouco.

Esta crença exagerada na palavra é um atributo desta civilização na qual estamos. Há um “livro sagrado”, a “palavra de Deus”, rezas e orações. Em caminhos profundos como o Zen, o Taoismo e outros tem-se a mesma percepção que o Xamanismo, a Bruxaria e a Magia. Palavras aludem, mas não revelam. A experiência do transcendente precisa ser vivida diretamente, as palavras ajudam um pouco, porém a vivência direta se dá no ‘silêncio’.

No Xamanismo, na Bruxaria e na Magia a Tradição está contida em ritos, práticas e conhecimentos que restabelecem a sintonia do ser humano com a VIDA, com a NATUREZA e com a TERRA enquanto ser vivo e consciente.

Acreditamos que durante a existência da humanidade fomos contatados por diferentes tipos de seres. Muitos ramos de Magia colocaram esses seres como ‘Deuses e Deusas’, ‘anjos’ e também ‘demônios’ quando considerados ‘inimigos’.


Na Magia, Xamanismo e Bruxaria que estudamos aqui há a plena consciência que vivemos em um universo predador, um universo em que há luta pela consciência e energia. Assim procuramos evitar posturas de adoração em relação a estas forças e seres. Mesmo que alguns deles estejam para nós como uma estrela está para uma vela, ainda assim, são seres. E apesar de apresentarem ciclo de vida com enorme duração, nascem e morrem como nós.

O ser humano, vivendo na cidade e longe da natureza, pode alimentar algumas fantasias sobre a realidade que não vingariam se o mesmo estivesse em uma mata. Quando estamos a sós em uma floresta ficamos agudamente conscientes de que estamos entregues às nossas habilidades e que ninguém virá nos ‘proteger’. O mesmo acontece quando soltos na Eternidade e visitando outros mundos.

Ao deixarmos os mundos da ilusão, os mundos que não geram energia em si mas apenas foram projetados pela força de comunidades ancestrais, vamos encontrar mundos diversos, com seres diversos, com sua própria realidade, realidade que corresponde a seus próprios interesses.

Não há ‘guias protetores’, ou ‘anjos bondosos’ para a concepção do Xamanismo, da Magia e da Bruxaria que estudamos aqui. Podemos estabelecer relações de simbiose e mutualismo com seres de outras realidades, mas para isso se faz necessário foco e atenção total, do contrário correremos riscos tremendos de nos colocarmos à mercê de forças e seres que possuem sua própria agenda.

O Xamanismo, a Magia e a Bruxaria que estamos estudando aqui não colocam o ser humano como ‘ápice’ da Criação, aliás a própria ideia de criação é questionada. Trabalhamos com a noção de ‘emanação’, fomos emanados, nós e toda a existência, a partir da ‘Não-existência’. Esta emanação revela a própria ETERNIDADE assim como suas realizações.

De forma que em um trabalho iniciático mais profundo nesses caminhos não temos uma abordagem antropocêntrica da realidade, não vemos entidades apenas com forma humana, nem reduzimos a realidade aos limites da percepção humana. Mas procuramos justamente desenvolver nossa habilidade de mergulharmos no ‘não humano’, no além do humano, algo que só é possível depois de realizarmos plenamente nossa humanidade. Pois para irmos além do humano precisamos antes conhecer de fato o humano. E não estagnar nesta postura muitas vezes insossa e alienada que nos é imposta.

Expandir a consciência exige que tenhamos consciência. Operacionalizar a VONTADE é algo que exige trabalho e a capacidade de sair da mera ‘reação’ para irmos à ‘ação’. Por isto a auto-observação é fundamental para reunirmos informações sobre o que somos de fato, sobre o que fizeram de nós e então termos a coragem de abandonar o já marcado caminho que nos foi imposto para ousar o novo, o impensado. Então deixamos de ‘sobreviver’ e começamos a viver, algo raro em nossos dias de pessoas que ‘seguem’ e se alienam de si mesmas.

É um desafio que vale a pena entretanto.

Nuvem que Passa


Notas

¹ Nas obras do Dr. Carlos Castaneda vemos que o termo "feitiçaria" é usado para tentar definir o conhecimento transmitido por Don Juan Matus, e conforme o próprio entendimento de seu aprendiz outras definições iam sendo dadas, por exemplo: 

"Em várias ocasiões Don Juan tentou, para o meu proveito, dar nome ao seu conhecimento. Ele sentia que o nome mais apropriado era nagualismo, mas que o termo era obscuro demais. Chamá-lo simplesmente “conhecimento” tornava-o vago, e chamá-lo “bruxaria” seria rebaixá-lo. “A mestria do intento” era muito abstrata, e “a busca da liberdade total” longa demais e metafórica. Finalmente, por ser incapaz de encontrar um nome mais apropriado, chamou-o “feitiçaria”, embora admitisse não ser realmente adequado" - O Poder do Silêncio, de Carlos Castaneda.

² Recomendamos o texto "O Trabalho", do mesmo autor.

sexta-feira, 11 de outubro de 2024

Bruxaria, Magia e Xamanismo - parte 3 - por Nuvem que Passa

Narrativa versus História

Um dos pontos que temos de rever quando vamos estudar em profundidade o que se esconde por trás dos conceitos de Xamanismo, Magia e Bruxaria é nosso próprio paradigma de historicidade.

Temos uma educação formal que nos provê ‘verdades’ prontas, que insinuam uma visão da História dentro de paradigmas que cada vez mais se provam não serem verdadeiros, que representam apenas a força dominante dos vencedores, que constroem sua versão dos fatos e condenam os derrotados a desaparecerem da própria História, provocando-lhes não só a morte e a destruição enquanto seres vivos, mas também apagando todas informações sobre estes deserdados da história.

A civilização que domina o mundo hoje, com seus juízos impostos pela bolsa de valores, com corporações atuando como novos senhores feudais a determinar os princípios sobre os quais devemos viver, com as religiões de massa, ao lado da mídia, em uma luta para impor padrões quanto ao pensar e agir da humanidade, isto é resultado de um processo histórico complexo, no qual grupos diversos atuaram conscientemente para não apenas vencer outros grupos, mas para estabelecer um domínio, quer escravizando em corpo ou alma, pela força das armas ou das religiões dogmáticas, quer matando grupos étnicos inteiros seguindo da destruição de todos os dados culturais desses povos.

Temos uma espécie de neodarwinismo social que nos obriga a crer que esta civilização, pelo fato de ter alcançado um surpreendente desenvolvimento tecnológico é o pináculo da evolução social humana.

Estamos presos de tal forma a estes paradigmas que pouco percebemos como várias das obras que se referem a Magia, a Bruxaria e ao Xamanismo o fazem descaracterizando tais artes, tais tradições de seus contextos, tentando ‘explicar’ ou ‘demonstrar’ que tais caminhos são ‘evoluídos’, caindo na armadilha de usar os critérios do dominador como instrumento de avaliação. O Xamanismo, a Magia e a Bruxaria tem seus próprios critérios cognitivos, são campos complexos em si mesmos.

Podemos fazer uma analogia com o que ocorre na Acupuntura. Ela funciona e muito bem. E a ciência ocidental tenta explicar que tal nódulo nervoso, ativado pela agulha faz isso e aquilo, mas não é real e nem necessária esta explicação, porque a Acupuntura já foi explicada em seus próprios termos há milhares de anos. O estudo dos meridianos, da energia tal qual ela se manifesta em suas polaridades Yin e Yang, como sedar e ativar, tudo isso já faz parte do corpo de conhecimento da Acupuntura.

Da mesma forma a Magia, o Xamanismo e a Bruxaria já tem suas próprias explicações do porquê funcionam, do porquê são reais, e toda tentativa de tentar limitar estes vastos campos com explicações limitadas oriundas de abordagens pseudocientíficas servirá apenas para criar confusão.

O Positivismo, e a Ciência que dele resultou, tem uma abordagem amarrada ao senso comum, tão limitada que é natural não conseguir sequer conceber a vastidão que existe por detrás dos conceitos de Magia, Xamanismo e Bruxaria.

Só agora com a Mecânica Quântica, com ramos sofisticados da Psicologia e outras áreas de vanguarda da ciência se torna possível estabelecer novamente um diálogo entre estes campos.

Portanto, vamos compreender que a Magia, o Xamanismo e a Bruxaria estão dentro de outro contexto cultural, são artes-ciências, oriundas de uma civilização ancestral que há milênios existiu. Depois de sua queda, a humanidade que restou regrediu a um estado de perda quase completa deste saber. Mas tal saber ficou guardado em irmandades durante a era na qual a tirania passou a assumir o controle sobre o mundo, escravizando outros, tornando tudo e todos meras ‘coisas’ a lhes servir. E assim, estas artes-ciências continuaram preservadas através das linhagens em seus grupos de praticantes e herdeiros.

Podemos compreender aqui que as torturas da Inquisição nunca foram destinadas ao ‘arrependimento’ dos ‘hereges’ mas a tentativa de extrair desses iniciados e iniciadas algo de sua arte-ciência. Com as migalhas extraídas nas câmaras de tortura, com fragmentos revelados por alguns, foi se formando o que geraria as ciências e as universidades da modernidade.

Este é um lado desconhecido da ‘história das ciências’ que poucos contam, o tanto do ‘saber’ oficial que foi ‘arrancado’ nas masmorras e câmaras de tortura, dos ‘hereges’.

É fato conhecido que mesmo Newton, Galileu e outros tantos ‘pais’ da ciência moderna tinham um ativo contato com o ‘ocultismo’, ‘hermetismo’, gnose e afins.

Assim sendo, para irmos ao estudo da Magia, do Xamanismo e da Bruxaria não devemos nos deixar impregnar por pseudo-histórias, por abordagens equivocadas do que foi o nosso passado, temos de ousar procurar os fatos na linha de acontecimentos. Existem aqueles que creem em outra linha de história, e creem não por concordância passiva, por mera aceitação, mas acreditam creem porque foram levados(as) a presenciar por si as evidências desta outra linha.

Somos ‘sócios’ de uma visão de mundo.

Estamos em uma prisão perceptiva que em última instância é mantida porque aceitamos que seja assim. Esse nosso incrível poder de dar realidade ao que cremos ser verdadeiro é subestimado em nós.

Somos a somatória de nossas crenças, nem sempre as que verbalizamos e as que fingimos adotar, somos a manifestação do que interiormente cremos.

A força de nossa crença é tremenda, não é à toa que diferentes grupos competem e tentam a todo momento estipular o que é real e o que não é real para a humanidade. Sempre com o propósito subliminar de manter sua descrição de mundo em vigor.

A História de fato, mas não oficial, conta ter a humanidade atual surgido de uma fase após uma profunda queda. Sem pecados aqui, sem castigos ou leituras assim. Uma queda causada por eventos impessoais, quando todo nosso planeta ingressou em um ‘eclipse’. Em uma sombra onde ficamos isolados de um tipo de energia que vem do centro da Galáxia (ver texto sobre Hunab Ku), da singularidade, que tragando tudo a sua volta gera a forma espiral dessa galáxia, na periferia da qual vivemos.

E neste eclipse, como em um inverno, a energia favorecida no planeta propiciou um tipo de gente ambiciosa, insegura, determinada a impor a todos seu modo de vida para assim se sentirem seguras. “Um só deus, um só senhor, uma só fé” e tudo que isto representa (por exemplo, o projeto imperialista e o conceito de guerras eternas).

E a Bruxaria, a Magia e o Xamanismo passaram a ser perseguidos e temidos, pois são caminhos de liberdade. Quem pretende tornar o mundo um vasto curral de escravos, animais e humanos, e deles fazer uso como ‘coisas’ não aprecia que existam homens e mulheres que não lhe são acessíveis, nem por suas manipulações e nem mesmo com o uso da sua pretensa força política, econômica e militar.

As Eras de perseguição se tornaram cada vez mais intensas, o braço que se forma sobre o Império Romano, depois com a Igreja Romana, é ávido em destruir todos os sinais da antiga civilização planetária, da qual as diversas tribos sabiam um dia ter feito parte.

O sentido da antiga civilização planetária não tem nada a ver com a atual. Hoje temos dispositivos como celulares e computadores que nos dão a impressão de um homo sapiens ‘evoluído’ porque podemos entrar em sintonia com outras pessoas, em diferentes tempos e espaço.

Toda essa tecnologia é um simulacro, como um ciborgue que amplia de certa forma suas habilidades naturais. Porém, somos mais que isso. Na ancestral civilização planetária, a sintonia era por outros meios. Cada corpo humano é por si só um gerador e captador de ondas, assim entravam em plena sintonia com outras pessoas de todos os cantos deste mundo, e também de outros.

A Internet não acessa outros mundos. Então para entendermos como viviam estes povos antes desse momento de queda, de desconexão, temos que usar muito nossa intuição, para evitar falsear a percepção com os preconceitos ‘históricos’ (anacronismos) que herdamos dos condicionamentos que nos impuseram. Foi uma queda que levou toda uma civilização planetária a se esfacelar, mas que mantém, apesar do trabalho violento dos grupos dominantes em ocultar todas as evidências, alguns sinais desta época anterior de amplo conhecimento.

As pirâmides no Egito, as três mais antigas e principais no planalto de Gizé, juntamente à esfinge, Angkor no Camboja, Menires, Dolmens e câmaras em Carnac, França. Os grandes desenhos nas Ilhas Britânicas e ruínas encontradas no mar ao redor do Japão. Todos estes e mais lugares que nem se sabem existir, estão alinhados de tal forma que agora não apontam exatamente para nada significativo, apesar do fato de estarem sempre alinhados de alguma forma com os equinócios e os solstícios.

Mas se levarmos em consideração a precessão dos equinócios, fenômeno astronômico que desloca o eixo da terra em relação a elíptica das estrelas a nossa volta, e se fizermos os ajustes, estes marcos ancestrais todos se alinham a uma rede que os relaciona. Quando monumentos de um canto da terra se alinham com suas constelações significativas, monumentos ancestrais em outras partes do globo fazem o mesmo.

Os astroarqueólogos são aqueles que usam o conhecimento astronômico para entender melhor a complexidade dessas ancestrais culturas, sobre as quais cada vez mais ouvimos falar. Culturas muito mais sofisticadas que a atual ‘cultura’ tecnológica que nos domina e nos faz extensões biológicas das máquinas, além de nos enganar negando-nos a magia. Promovendo simulacros estereotipados de vida e prazer. E impondo a ideia que o “homem das cavernas” era algum bruto insosso, o qual evoluiu através de mutações até que surgissem culturas como a egípcia, a chinesa e as civilizações nas terras hoje chamadas de América.

Assim promovem a ideia que esta civilização dominante é a mais evoluída que aqui já existiu e que suas respostas ao desafio de estarmos vivos são as melhores já dadas.

Em vez de ensinarmos as novas gerações a buscarem respostas, a perguntarem com eficiência, acabamos nos limitando a condicioná-las a memorizarem respostas prontas, para passarem nos pseudo-testes que o mundo lhes aplicará. Enquanto a verdadeira prova ficará esquecida. Assim as práticas da Bruxaria, do Xamanismo e da Magia são vistas como superstições pueris, de um tempo no qual as benesses da ciência ainda não haviam ‘esclarecido’ as coisas.

Existem ramos que pretendem ser da árvore do Xamanismo, da Bruxaria e da Magia mas operam com paradigmas que nos são completamente estranhos. Como alguém que coisifica o mundo e os seres sencientes pode mergulhar em caminhos vivos, nos quais sentir a Vida é condição fundamental? É claro que essa informação é totalmente equivocada e nada mais equivocado há que pseudo-estudiosos de Magia, Xamanismo e Bruxaria querendo demonstrar que suas práticas são ‘científicas’.

É a ciência contemporânea que ainda tem de fazer muito esforço para compreender a ancestral e ampla abordagem da realidade que o Xamanismo, a Magia e a Bruxaria realizam, e não o contrário. Assim como é o Avô que deve ter a paciência de compreender e falar na linguagem que seu neto entenda e não o contrário. A ciência contemporânea tem seu valor sim, tem seus méritos, quando não está a serviço de grupos dominadores, de egos inflados de ‘catedráticos’ que prezam mais sua posição na ‘comunidade acadêmica’ do que a verdade em si, quando não está a serviço de laboratórios farmacêuticos voltados apenas ao lucro e similares, essa ciência, o método científico, é um caminho inteligente e funcional de abordar a realidade em busca de respostas efetivas para os grandes mistérios que nos envolvem.

Assim como existem cientistas que operam em diversos graus de profundidade e genialidade vamos encontrar magistas, xamãs e bruxos(as) de diversos naipes. Não podemos generalizar nestes campos. Há pessoas com as mais diversas formas de ser e posturas que se aproximam da ciência e por analogia podemos entender o mesmo de pessoas que se aproximam do campo transcendental. O fruto é a artimanha da árvore, para que a semente permaneça e seja levada onde amplie.

Os mistérios da semente, de seu tempo na Terra, de seu morrer para nascer de novo. O vencer da terra resistente e escura que se apresenta após a primeira porta. Passar pela noite e então também resistir ao ofuscante dia claro. Como planta completa aprender a crescer, tanto em raízes como em caule e galhos, pois a copa só acariciará as nuvens quando as raízes se sentirem firmes nos mundos mais profundos. Os ritos mágicos são, ainda hoje, a mesma representação destes mistérios, entre outros.

O Caminho nos leva ao recolhimento da semente que se deixa ir enquanto grão para poder realizar seu ‘Ser Árvore’. Cada fase de nossa caminhada nesta trilha está nestes ritos traçada e simbolizada. Assim, a atenta observação da Natureza e seus fluxos marca todos os ritos ancestrais. Quando ritualizar era reatualizar o mito, tornar-se o mito encarnado, por vivência ativa e não mera incorporação.

O primeiro ponto a recuperar neste trabalho é a consciência de que a Terra é a grande provedora. Seus ciclos, em relação a si e aos astros e corpos celestes que nos circundam em suas elipses irregulares, são os momentos de trabalharmos com os fluxos por tais alinhamentos gerados.

Experimente sentir o poder da Terra pelos próximos dias, observe cada árvore, cada planta que aparece durante o seu dia. Tens um lugar de terra que podes mexer? Pois como lidar com a Magia, o Xamanismo e a Bruxaria sem um contato real e efetivo com a TERRA?

Nuvem que Passa


quarta-feira, 1 de maio de 2024

Bruxaria, Magia e Xamanismo - parte 2 - por Nuvem que Passa


Vivemos em uma civilização globalizada. O fato é que hoje, em termos de mundo, estamos integrados de uma forma muito intensa. Se algo acontecer agora no Japão quase que imediatamente vamos ficar sabendo. Provavelmente, uma pessoa na zona rural do Japão, que esteja longe dos meios de comunicação, pode demorar mais a saber de um evento importante que aconteceu em uma cidade vizinha, do que uma pessoa morando do outro lado do mundo.

Criamos uma série de interconexões entre os países e os povos desses países. Agora mesmo estou conectado à internet, trocando informações online com pessoas em vários lugares do mundo. Esta nova forma de interagir cria um modo de perceber o mundo bem diferente das gerações anteriores. Alvin Toffler o chamou de 3ª Onda¹.

Quando olhamos para o passado para compreender as origens do que hoje denominamos Xamanismo, Magia e Bruxaria, temos que ir muito além de uma leitura intelectual de pretensas descrições históricas.

Temos que recuperar a liberdade de perceber além do que nos impuseram como realidade. Para irmos de fato as origens de tais facetas da ARTE temos que ir além do próprio conceito mundano de tempo, tal qual ele se manifesta em sua vida, este tempo dos relógios que te mantém servil. Este tempo é fruto da construção de uma realidade que é hoje dominante neste mundo.

Esta realidade foi desenvolvida a partir de elementos de diversas culturas. Tem influência dos egípcios, persas, helenos, hebreus, romanos… Vem caminhando em um jogo crescente entre grupos antagônicos que querem o poder sobre outros. Imperialismo e conquista é sua meta. Temos que estar bem atentos a estes aspectos manipuladores, a este pano de fundo imperialista que impregna toda a base existencial da chamada “sociedade contemporânea”.

Temos que estar atentos pois esta sociedade criada assepticamente em projetos de colaboração entre estes e estas que querem tudo dominar também criaram pseudo-caminhos, pseudo-xamanismo, pseudo-bruxaria e pseudo-magia, esperando por aqueles(as) que querem apenas fantasias, arrepios e brincadeiras de salão. Assim agitam a luz astral, brincam com fantasias mas permanecem limitadas ao reflexo de seu interior inconstante. 

O Xamanismo, a Magia e a Bruxaria são formas de abordar a realidade que podem ser usadas no mundo cotidiano de forma discreta e com um grau de eficiência incrível. Após eras de perseguição e dominação, aqueles homens e mulheres que de fato trilham esses caminhos se tornaram hábeis em serem discretos, quase sumidos, deixando entrar em seus círculos, vez por outra, pessoas que ainda estão operando a partir de uma visão de mundo estreita ditada pelo establishment, para que voltem e contem o que viram.

Quando olhamos o mundo, notamos que em um certo momento uma doença começa a atacar o organismo formado por todos os homo sapiens no planeta. Em vários locais a guerra de conquista e dominação, o transformar de seres em objetos, se tornam a proposta fundamental de nações e clãs.

Vamos observar este estado de consciência ir tomando área após área do Globo, as guerras de conquista do Império Romano, depois os impérios Cristãos e agora o neocolonialismo chamado ‘globalização’, onde os neocristãos com seus valores consumistas pretendem manter toda a humanidade sob sua descrição da realidade.

Há muito o que refletir aqui, pois Xamanismo, Magia e Bruxaria são heranças de outros tempos, dos tempos dos povos livres que iam e vinham pelos caminhos naturais do mundo. O presente modelo de realidade que hoje nos foi imposto, foi habilmente implantado em um projeto organizado que opera de forma sistematizada desde bem antes de Júlio César e Cleópatra, das Cruzadas e da Inquisição, e segue sempre em frente como um câncer pretendendo dominar sozinho todo o mundo.

Xamãs, Magistas e Bruxos(as) são herdeiros(as) da ancestralidade, que durante o treinamento são agudamente conscientizados de como o mundo ‘oficial’ é um campo de escravos, onde o dom da vida é cooptado por coletivos, no qual os seres humanos servem apenas como extensões biológicas de uma grande mecanismo, inconscientes do papel que desempenham.

As tradições ancestrais nos contam como funcionava o mundo no passado. Nos contam como foi a lenta queda dos povos ancestrais que viviam em harmonia com a Terra. Os conquistadores trouxeram consigo doenças físicas e existenciais e contaminaram os povos originários com ambas, matando assim em corpo e espírito milhões de nativos em poucos anos.

O passado ao qual me refiro está além do passado racional, mergulha no passado mítico, mas no mito vivo e não no mito congelado. Um passado além do tempo, onde as tradições que comentamos têm suas raízes profundas, onde a base é ao mesmo tempo a nutridora. Quando era comum, e não exceção, o estado de liberdade, de estar desperto, de perceber outras realidades, de ir e vir por mundos outros que não este.

Nesse ‘passado’ ao qual me refiro temos povos vivendo de forma muito diferente da atual, povos lidando com as diferentes realidades em seu cotidiano, assim como utilizando outras formas de interpretação.

Este passado lançou caminhos de existência alternativos, nos quais nem todas as linhas conduzem à destruição e subjugação, que são as condições que nos geraram. Mas algumas linhas² conduzem a mundos paralelos e criam vidas diferentes que agora coexistem com aquelas que habitam todos os continentes deste planeta. Pode-se dizer até que são mais reais do que a vida percebida através do ‘senso comum’, por serem extremamente livres e conscientes, em contraste com este mundo, o qual está quase todo escravizado.

Em certos ritos e práticas realizadas, utilizando-se de habilidades que o aprender efetivo nestes caminhos desperta, podemos ir até esse passado diferente, mas temos que ter cuidado para não "onirizar" o que vemos. Podemos ficar limitados ao tentar interpretar a energia percebida se utilizarmos como base um repertório ordinário, fruto de um sistema escravizante.

É importante lembrar que só compreendemos um caminho quando somos unos(as) com o caminho. As raízes da Magia, do Xamanismo e da Bruxaria vem de um tempo onde estávamos naturalmente conectados com a VIDA e seus fluxos, e o Ser Terra que nós habitamos era respeitado, como um feto respeita o ventre que lhe gera. Quem leu a carta do Chefe Seattle ao então presidente dos EUA notará tal consciência que hoje chamaríamos de ecológica. Assim o modo de interagir com a realidade dos povos nativos é muito distante dos modos que surgiram com o desenvolvimento dos impérios e seus modos de domínio.

Quando os humanos começaram a instituir a escravidão entre si ocorreu algo inédito. Pela primeira vez, propositadamente, indivíduos da mesma espécie começam a enfraquecer uns aos outros para se aproveitarem através de forte subjugação. O modo de vida que estava pouco a pouco dominando a espécie humana no planeta é um sistema onde pequenos grupos cuidam de condicionar, do berço à maturidade, novos membros de sua própria espécie para serem servis através da alienação individual com relação a verdadeira natureza do ser. Aproveitando-se de carências naturais ou geradas pela engenharia social através da religião, mídia, sistemas de governo e mecanismos financeiros, políticos e militares, conseguiram transformar a sociedade homo sapiens neste estado de coisas que percebemos hoje. Estamos a beira de um abismo, caminhando em direção ao colapso e aparentemente o sofrimento e a destruição tendem apenas a aumentar. Mesmo assim os pseudo-donos e donas do mundo continuam insistindo em sua empreitada egoica.

Os seres humanos são criados como rebanhos. “O Senhor é meu pastor, nada me faltará”. Senhor, domine, domínio. Quem já andou por granjas e anda pelas cidades ‘grandes’ vê que o sistema de empilhar as galinhas em cubículos sobrepostos e dar-lhes ração e água criou variações interessantes quando aplicado à espécie humana cativa.

Criaram dispositivos como rádios, televisores e telefones que induzem os seres humanos a não desenvolverem a habilidade de usar a própria consciência como veículo para viajar a outros lugares, assim como um conforto para apaziguar e distrair as pessoas com relação aquilo que está verdadeiramente de fato se passando neste mundo.

De Potosi, das minas de prata e ouro no ‘novo mundo’, que invadido pelos conquistadores e pela varíola quase desapareceu da existência, passando pelas explorações que acontecem agora na qual povos nativos são escravizados de formas diversas, das mais óbvias as mais sutis, em todos esses momentos há uma guerra. Os conquistadores e escravizadores subjugando e destruindo o povo nativo em essência e forma, quer pela morte, quer pela escravidão.

E tu que me lês também podes ser mais um dos que estão escravizados neste sistema que criou celas sutis, celas conceituais. A prisão perceptiva é a pedra angular deste sistema que hoje domina. E a liberdade perceptiva é a chave mestra para acessarmos as linhas onde os planos da Magia, da Bruxaria e do Xamanismo coexistem. Nós, que trazemos conosco a fogueira e os tambores dos povos nativos, nos assombramos que os(as) escravos(as) aceitem passivamente tal condição de submissão.

É hilário ver certas definições que pretendem estabelecer verdades finais. Como se a dança das energias espalhadas pelas emanações da Eternidade pudessem mesmo ser limitadas à compreensão linear e racional. O fato de só operar com uma pequena parte de si, leva o ser humano a perceber apenas uma pequena parcela da Realidade Total.

Mas a amplitude está lá, apenas esperando que decidamos usar outros canais para interagirmos com a ETERNIDADE. Uma abordagem que já foi usada antes, a qual tem o respaldo de gerações sem conta de praticantes. A abordagem utilizada no Xamanismo, na Magia e na Bruxaria partilham uma característica fundamental em comum, pode ser ensinada! Transmitida!

Aprende-se. Mas como toda ARTE, pode apenas ajudar a desabrochar o artista em ti, não pode te moldar. Na ARTE a palavra educar reencontra seu sentido etimológico original: 

“Desabrochar na essência perceptiva o que esta traz em si.” 

Cada povo tem sua linguagem, cada espécie tem sua linguagem, composta da interação com a Eternidade a sua volta. Usamos nossa mente para raciocinar, usamos nosso sentir para nos emocionarmos, usamos de nossas habilidades para nos inserirmos concretamente na realidade circundante para apenas reagir a estímulos diversos.

Assim raciocinamos, emocionamo-nos e reagimos. Mas podemos ir além disso. Podemos usar a mente, o sentir e o agir de formas plenas, de maneira que gerem campos de energia tal qual um buraco negro, abrindo portas para outras realidades.


Alguns contentam-se com a ilusão, aguardando que construam máquinas que façam isso. Mas as pessoas podem recuperar o elo com a tradição que se manifesta na Magia, na Bruxaria e no Xamanismo. Caminhos nos quais os(as) praticantes usam o próprio corpo como o mais refinado instrumento de contato com outras realidades, assim como esta própria.

Mas ao apenas ‘falarmos’ estamos nos limitando ao escopo e alcance da linguagem. E vivendo experiências diversas, tocando a realidade através de diferentes sintaxes nos encontramos em uma situação na qual é complicado falar de mares àqueles que viveram toda a vida no fundo de um poço.

Assim, antes de falarmos de outros mundos, temos que reconsiderar nossa própria percepção deste mundo. Esse mundo maravilhoso no qual estamos, mas ao qual também fomos embotados. Percebemos fragmentos da realidade. Vivemos de forma incidental e não com presença e profundidade verdadeira. 

O que sentes agora? Como está tua respiração? Que sons, imagens, cheiros te circundam? Quais são as sensações térmicas que estás percebendo?

O Xamanismo, a Magia e a Bruxaria funcionam sempre que há sinceridade por parte de quem os procura. Todas as tradições reconhecem o fato de que quando nos pomos a lutar para encontrarmos com a Verdade, ela também começa a lutar por nós, se põe a caminho e fará todo o possível para nos encontrar também³.

Ler sobre atos de poder nos faz acessar contos de poder e os contos de poder têm a inquietante capacidade de nos colocar em contato com o mundo mágico.

Há um tambor batendo no peito de cada um de nós. Há uma fogueira no interior do coração. Como está tua fogueira interior? Plena? E a luz presente no brilho de teus olhos? Quanto poder está presente nos teus atos?

Estará tal fogueira já em cinzas, fria, apenas tocos queimados de madeira sem luz nem calor? Por que isso está assim? 

O Xamanismo, a Magia e a Bruxaria acreditam que cada um de nós pode evocar uma vez na vida o Grande Fogo. O Irmão Fogo no seu aspecto Vida. Quando o Fogo é evocado em tal rito, se houver uma chispa de brasa em nossa fogueira interior, será a partir dela que a fogueira será plenamente acesa de novo. Não será este o teu momento de reacender tua fogueira interior?

E sem o calor interior da tua fogueira, sem a luz da mesma, irás usar o poder para buscar fora de si coisas que já tens em ti mas que ainda não encontrou. Essa é a primeira armadilha de quem busca o poder sem antes acender sua fogueira interior: querer usar do Poder para sanar suas carências, irresoluções e tudo mais que resulta de estar ausente de si mesmo.

Existem caminhos para recuperar o poder pessoal perdido, o Xamanismo, a Magia e a Bruxaria são caminhos que levam a esta meta. Portanto, quando vamos nos aproximar do Xamanismo, da Magia e da Bruxaria, mesmo que só aqui, para ler sobre tais linhas, é importante compreender que nossa energia deve estar bem sintonizada, ampla, presente.

Do contrário a verdadeira informação será perdida e apenas uma compreensão linear e limitada, reduzida a interpretações medianas, será notada. Se espreguice, não leia apenas, ouse fazer, se espreguice para valer enquanto lê. Abra a boca, boceje! Alongue os dedos do pé, os dedos das mãos, alongue bem! Inspire, expire. Solte e relaxe. Relaxe de uma vez!

Se pôs em prática o que leu acima vai notar que é bem diferente ler assim, em vez de apenas ler passivamente. Volte três parágrafos acima e leia de novo. Fazendo o exercício, vai notar que teu corpo estará bem mais ‘esperto’ quando terminar de ler o parágrafo.

Tu lestes com o corpo quando fizestes o exercício. Esta leitura corporal é mais ampla do que ler somente com os olhos e decodificar as palavras.

Leia: “A mão mexe em algo”. Isto é só um conto de poder! Faça! Sim! Faça aí onde estás. Mexa algo aí onde estás. Mexeu em algo? Causaste uma alteração real, efetiva na realidade a tua volta.

O Xamanismo, a Magia e a Bruxaria são atos, portanto só ler sobre eles é uma parte muito pequena para se fiar em algo. Temos que observar a nós mesmos, nos sentir em nossas próprias vidas para que a partir de uma auto-observação sincera e plena possamos ter elementos a fim de realmente entender aquilo à que estamos nos referindo quando falamos de Magia, Xamanismo e Bruxaria.

Assim sendo, sugiro um exercício importante para você praticar no dia a dia durante o período em que lê este livro. Cada vez que a palavra forma-pensamento “Eu” passar pela sua cabeça, note e anote.

Existem várias formas para anotar. Tu podes colocar vários palitos de fósforo ou grãos de arroz em um bolso da calça, e cada vez que a palavra forma-pensamento “eu” aparecer em seu campo mental, propositadamente ou não, passe um palito ou grão para o outro bolso, ao final do dia tente lembrar de cada momento em que o termo “eu” passou pela sua cabeça e confira se o número de lembranças é o mesmo de palitos ou grãos que usou para contar.

O ideal é que apenas se tire os palitos ou grãos do bolso depois de ter sido feita essa lembrança. É um exercício que ativa certos níveis de conexões internas que permitem acessar uma qualidade de energia sutil, a qualidade de energia que nos permite entender melhor que a ‘Intenção’ desses(as) xamãs, magistas e bruxos(as) da ancestralidade ainda está viva e que nós podemos nos conectar a esta linha de força.

Isto é uma informação que as linhagens xamânicas, mágicas e bruxas da Tradição tem em comum também, são caminhos com conexões profundas, cujas estruturas interiores estão em harmonia com o fluxo do próprio Tao, da Eternidade, do Intento.

O que diferencia uma linhagem tradicional efetiva nestes caminhos de uma falsa, é a realidade da energia primordial que trazem em si. Em diferentes religiões dão diferentes nomes a isso, ‘graça’, baraka.

Quando o caminho que se coloca como xamanismo, magia ou bruxaria tem mesmo essa energia viva, por transmissão direta, há uma conexão com um nível de poder muito mais amplo. Quando conectados(as) a uma linhagem assim cada esforço que empenhamos rumo a nossa meta reverbera com a própria linhagem a qual, em contrapartida, também trabalha em nós.

É sobre isso que falamos aqui. Não em definir xamanismo, bruxaria ou magia de forma linear, em conceitos tirados do sistema que se esmera em negar tais abordagens da realidade.

O que trabalhamos aqui é para o mergulho de cada um, que por estas palavras aqui se sintoniza, com a realidade vida que reflete tais caminhos. E para perceber isso há uma pergunta que tens de responder ao guardião deste portal, pois só a resposta sincera poderá realmente lhe levar para o próximo momento deste encontro. A questão é:

Qual a realidade da sua vida?

É uma pergunta dinâmica, que respondes dia a dia, instante a instante. A qualidade da tua resposta determina a qualidade da tua compreensão do que vem pela frente.

Nuvem que Passa

Notas

¹
Segundo Alvin Toffler teríamos três ondas ou três grandes mudanças na história humana gerada pelo avanço tecnológico:
  
3ª Onda = Revolução Tecnológica ou Informacional (sociedade pós-industrial);
2ª Onda = Revolução Industrial (sociedade industrial - século XVII);
1ª Onda = Revolução Agrícola (sociedades rurais ou agrárias).

Poderíamos dizer que os bruxos, xamãs e magistas de fato intentam uma 4ª onda: a revolução da percepção ou, metaforicamente, o sonho dos mil gatos. Para bruxos, xamas e magistas uma quarta onda poderá ser possível se atentarmos para o fato seguinte: a maior das tecnologias que dispomos é o potencial desconhecido dentro do ser humano.

²
Como não raras vezes a ficção revela a realidade fica a sugestão cultural: livro e série "O Homem do Castelo Alto", tal obra aborda a questão das diversas linhas temporais, do multiverso e de diferentes faixas de realidade coexistindo simultaneamente. Tal obra é do autor de Caçador de Androides, Philip K. Dick.

Wikipédia: Philip Kindred Dick ou Philip K. Dick, também conhecido pelas iniciais PKD, foi um escritor norte-americano de ficção científica que alterou profundamente este gênero literário, explorando temas políticos, filosóficos e sociais, autoritarismo, realidades alternativas e estados alterados de consciência.

³ A ideia deste parágrafo é bem ambientada numa cena do filme Matrix (1999), no diálogo inicial entre Neo e Trinity numa boate:

Neo: - O que é a Matrix?

Trinity: - A resposta está lá fora, procurando por você e vai encontrá-lo, se você quiser.



Este é um conceito fundamental e o início de tudo em termos da Bruxaria, da Magia e do Xamanismo. Nesse último a auto-observação é chamada de espreita de si, mas não nos deixemos enganar pela simples palavra, pois o conceito para ser de fato entendido precisa ser praticado. Fica-se muitos anos no esforço constante de buscar observar-se até que isto ocorra de fato. Recomendamos nesse sentido um texto do autor chamado "O Trabalho".




quarta-feira, 24 de janeiro de 2024

Auto-estranhamento


Eu não sei dizer quem sou...

Mas sei que não sou o mesmo de outros ontens.

Contudo, quem sabe?

O tempo seria um espelho no qual vejo diferentes passados? 

Ou um jogo de cartas marcadas pela morte?

E se a vida continua quem permanece? Quem desvanece? Quem se esquece ou quem se lembra? 

Nesses momentos o ponto (de interrogação) que sou estremece.

Qual a pergunta que nunca foi feita?

Sou um entrante de mim mesmo?

Como posso modificar o que sou quando o que sou é modificação?

Posso revolucionar-me?

De todas as revoluções há aquela que é mais difícil, apesar de totalmente possível, portanto não utópica, onde tudo favorece em seu desfavor e para a qual não há desculpas, pois esta revolução muito própria e solitária é, ao mesmo tempo, estranha e comum (a todos), na qual o ser só pode vir a sucumbir diante de si. Ou não. 

Eis a solidão do(a) guerreiro(a).

DR


sexta-feira, 19 de janeiro de 2024

A espada de duplo fio da inveja

“Não sejamos ávidos da vanglória. Nada de provocações, nada de invejas entre nós” (Gal 5, 26).

A inveja é alegria e tristeza ao mesmo tempo, alegria pela tristeza do outro e tristeza pela alegria do próximo, é o pecado oculto, ninguém o admite e isto ocorre por que há um outro pecado que esconde a inveja. A inveja como pecado é tão humilhante, mais tão humilhante que seu sujeito não quer se ver e faz tudo para não se ver, e isto mesmo é a inveja, in_veja, um não ver. Ninguém que ver em si algo tão dilacerante para um outro pecado, pecado capital: o orgulho. É o orgulho que não pode admitir a inveja, pois este reconhecimento implica em olhar a nossa derrota, a nossa inferioridade, a nossa incapacidade. O orgulhoso só quer sair sempre vitorioso e ter a última palavra. O invejoso quer ver apenas a derrocada do outro, mas não a própria, por isto Dante Alighieri apresentou o invejoso com os olhos costurados por arame em seu Purgatório.

Naturalmente, a inveja é um pecado óbice para aqueles que buscam se auto-conhecer, pois nos impede de ver a nós mesmos, assim como a ira que cega e o orgulho que ofusca, a inveja nos impede de ver antes de tudo a nossa própria singularidade, pois sobrevive apenas num desejo de comparação entre pessoas que não podem ser na verdade comparadas, pois todos somos únicos. Se reconheço em cada um a sua própria singularidade como a inveja pode subsistir? Mas vivemos numa sociedade que estimula a comparação constantemente apesar de sermos incomparáveis.

A inveja possui dois servos fiéis e usa destes dois servos fiéis para secretar o seu veneno, são servos poderosos e operam através da língua humana como se fossem dois demônios ou dois obsessores, para usar a linguagem mais moderna, a versão atualizada da palavra demônio: obsessor.

Se a inveja for vista como uma espada pontiaguda estes dois obsessores compõe a espada de duplo fio da inveja: a crítica e a fofoca.

A crítica e a fofoca compõe a assessoria de imprensa da inveja, uma assessoria de bastidores e esgotos.

Reparem que tanto um como o outro seguem o mesmo estilo de sua senhora inveja, nunca se apresentam, sempre se dão pelas costas, as escondidas, agem de forma astuta, velada, secreta, de forma indireta pois não podem revelar a sua senhora sempre envolta em trevas, em cantos escuros e mentiras. Como o invejoso, o crítico da vida alheia e o fofoqueiro sempre realiza suas falas pelas costas daquele que é o objeto de sua língua ele revela uma outra qualidade terrível que o próprio Dante Alighieri coloca no último círculo dantesco. Imagine alguém que por trás fala mal e pela frente lhe trata bem, lhe cumprimenta abraça e até beija. Isto nos lembra Judas que traiu Jesus (terá traído mesmo? Dizem, e essa é fala fofoqueira por excelência, pois o fofoqueiro sutil coloca sempre o sujeito elíptico para encobrir a si mesmo, que Jesus a cruz rogou ao pai da seguinte forma: - Por que me abandonastes?) com um beijo e nos faz perguntar: quem não tem inveja?

Quem não tiver apresente-se, trata-se de uma raridade, tão rara que dá até para desconfiar.

Já a inveja é legião.

E horrorizados vemos aquilo que não consegue olhar com alegria pelo bem que o outro é.

E vemos que nos fizemos tal como somos pela própria inveja não admitida.

Porque admiti-la destrói o nosso ser no mundo, por isso está escondida de ti por trás da ira, da crítica , do sacrifício ou da falsa rebeldia, com seus rebentos disformes da reclamação, da fofoca e do despacho de língua ferina.

Inveja. Veja in, olhe dentro, expurgue-a pelo olhar compreensivo, na figa da auto-observação, pois cada qual possui um dom divino para benefício de todos.

Oh, auto-estima minada!
Ó mediocridade de si!
Ó maldita e mal-olhada, escondes em ti teu próprio bem.




quinta-feira, 23 de novembro de 2023

Observação de si, atenção e pequenos hábitos

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A impecabilidade começa com um único ato, que tem de ser deliberado, preciso e fundamentado. Se esse ato é repetido pelo tempo suficiente, adquire-se o senso de um intento inflexível, que pode ser aplicado a qualquer outra coisa. Se isso é realizado, o caminho é claro. Uma coisa leva à outra até que o guerreiro perceba todo o seu potencial - Carlos Castaneda.


A observação de si é muito difícil. Quanto mais tentarem, mais perceberão isso. No momento, devem exercitar-se nela, não objetivando um resultado, mas para compreender que não podem se observar. Até agora imaginaram que se viam e se conheciam.

Estou falando de uma observação de si objetiva. Objetivamente, vocês não são capazes de se ver nem por um minuto, porque trata-se aí de uma função diferente: a função do amo (do ser).

Se acreditarem que podem observar-se por cinco minutos, isso é falso; seja vinte minutos ou um minuto, dá no mesmo. Se constatarem simplesmente que não podem observar-se, então terão razão. Sua meta é chegar a isso.

Para alcançar essa meta, devem tentar e tornar a tentar. Se tentarem o resultado não será a observação de si no sentido pleno da palavra. No entanto, o próprio fato de tentar fortificar a sua atenção. Aprenderão a se concentrar melhor. Tudo isso será útil a vocês mais tarde. Só mais tarde é que poderão começar a se lembrar verdadeiramente de si mesmos.

Hoje só dispõem de uma atenção parcial, proveniente, por exemplo, do corpo ou do sentimento.

Se trabalharem conscienciosamente, vocês se lembrarão de si mesmos e não mais, porém menos, porque a lembrança de si mesmo é cada vez mais exigente. Isto não é tão fácil, tão barato .

O exercício da observação de si é suficiente durante anos. Não tentem mais nada. Se trabalharem conscienciosamente, verão do que necessitam.

Pergunta : Como podemos adquirir atenção?

Resposta : Ninguém tem atenção. Sua meta deve ser adquiri-la. A observação de si só é possível depois que se adquire atenção. Comecem por pequenas coisas.

P.: Por quais coisas pequenas devemos começar? Que devemos fazer?

R.: A sua constante agitação nervosa faz os outros sentirem, consciente ou inconscientemente, que você não tem autoridade alguma e é um pobre coitado. Você não pode ser alguém mexendo-se continuamente como está fazendo sempre. A primeira coisa que você deve fazer é parar essa agitação. Faça disso a sua meta, o seu deus! Peça até mesmo a sua família que o ajude; depois disso, talvez possa adquirir atenção. Eis um exemplo do que significa fazer.

Outro exemplo: aquele que ambiciona se tornar pianista só poderá aprender aos poucos. Se você quiser executar melodias sem praticar antes, nunca poderá tocar verdadeiras melodias. O que vai tocar será uma cacofonia penosa de ouvir e que o fará ser destestado pelos outros. Ocorre o mesmo no domínio psicológico: para se adquirir algo é preciso uma longa prática.

Tente fazer primeiro coisas bem pequenas. Se você quiser começar de imediato por coisas grandes, nunca chegará a ser nada; as suas manifestações terão efeitos igualmente cacofônicos, que farão com que as pessoas o detestem.

P.: Que devo fazer?

R.: Há duas maneiras de fazer: uma por automatismo e a outra para alcançar uma meta. Escolha uma pequena coisa que não é capaz de fazer e faça dela a sua meta, o seu deus. Não deixe que nada se interponha. Olhe só para isso. Então, se você conseguir isso, será possível para mim dar-lhe uma tarefa maior. Por ora, você tem olhos maiores que a barriga, aspira fazer coisas grandes demais e nunca as poderá fazer. É um apetite anormal que o desvia das pequenas coisas que você seria capaz de fazer. Destrua esse apetite, esqueça-se das coisas grandes. Tome como meta vencer um pequeno hábito.

P.: Creio que falar demais é meu pior defeito. Seria uma boa tarefa não tentar falar tanto?

R.: Para você é uma meta muito boa. Você estraga tudo com a sua tagarelice, que prejudica inclusive seus negócios. Ao falar demais, as suas palavras não têm peso nenhum. Tente superar isso. Se conseguir, todas as espécies de benção fluirão para você. Sem dúvida, é uma meta muito boa, mas é uma coisa grande, não é uma coisa pequena. Eu lhe prometo que, se você conseguir isso, mesmo que eu não esteja aqui, eu vou sabê-lo e lhe mandarei ajuda, para que saiba o que deve fazer a seguir.

P.: Suportar as manifestações dos outros seria uma boa tarefa?

R.: Suportar as manifestações dos outros é uma coisa grande, talvez a maior para um homem. Só o homem realizado é capaz disso. Comece fixando como meta a capacidade de suportar uma manifestação de alguém que você não pode aguentar hoje sem se exasperar.

Se "quiser", "poderá". Sem querer, nunca poderá. Querer é a coisa mais poderosa do mundo. Com um querer consciente, tudo se consegue.

P.: Eu me lembro com frequência de minha meta, mas não tenho energia para fazer o que sinto que devo fazer.

R.: O homem não tem energia para atingir as metas que fixou para si, porque toda a sua força, acumulada durante a noite, durante o seu estado passivo, é desperdiçada em manifestações negativas, que são manifestações automáticas, ao contrário das manifestações positivas, voluntárias.

Para aqueles dentre vocês que já são capazes de se lembrar automaticamente de sua meta, mas que não tem força para realizá-la: sentem-se sozinhos durante uma hora pelo menos; relaxem todos os seus músculos. Deixem desenrolar suas associações mas sem deixar-se absorver-se por elas. Digam a elas: "Se me deixarem fazer agora o que quero, mais tarde lhes darei o que desejarem". Olhem para as suas associações como se fossem outra pessoa, para não se identificar com elas.

Ao cabo de uma hora, peguem uma folha de papel e escrevam nela sua meta. Façam desse papel o seu deus. Que fora dele nada exista. Tirem-no do bolso e leiam-no constantemente, todos os dias. Assim a meta se tornará parte de você mesmo; de início teoricamente, depois realmente.

Para adquirir energia, pratique o exercício que consiste em ficar sentado tranquilamente, com todos os músculos relaxados, como se estivessem mortos. Só quando estiver tudo calmo em você, depois de uma hora, é que tomará sua decisão. Não permita que as associações o absorvam. Fixar uma meta voluntária e alcançá-la gera magnetismo e capacidade de "fazer".

P.: Que é o magnetismo?

R.: Num grupo verdadeiro, se poderia dar uma resposta verdadeira a essa pergunta. Digamos que o homem tem em si duas substâncias: a substância dos elementos ativos do corpo físico e a substância proveniente dos elementos ativos da matéria astral.

Quando se combinam, essas duas substâncias formam uma terceira. Essa substância composta se concentra, por um lado em certas partes do homem e, por outro, forma uma atmosfera em torno dele, semelhante a atmosfera que envolve um planeta.

Sob a ação de outros planetas, a atmosfera de um planeta adquire ou perde continuamente substâncias. O homem está cercado de outros homens, do mesmo modo que os planetas estão cercado de outros planetas. Quando, dentro de certos limites, duas atmosferas se encontram e são "simpáticas", se estabelece entre elas uma relação que dá resultados de conformidade com as leis. Algo circula. A quantidade de atmosfera continua a mesma, mas a qualidade muda. O homem pode controlar a sua atmosfera.

É como a eletricidade: há o positivo e o negativo. Um ou outro pode ser aumentado e levado a fluir como uma corrente. Todas as coisas tem uma eletricidade positiva e negativa. No homem, os desejos e não-desejos podem ser positivos e negativos. A matéria astral se opõem sempre a matéria física. Nos tempos antigos, os sacerdotes eram capazes de curar as doenças através da benção . Alguns deles tinham que por suas mãos sobre os doentes, outros podiam curar a curta distância e outros à grande distância. Um sacerdote era um homem que tinha "substâncias compostas" e podia se servir delas para curar os outros. Um sacerdote era um "magnetizador". Os doentes carecem de "substâncias compostas", carecem de magnetismo, carecem de "vida".

Se estiverem concentradas, essas substâncias compostas podem ser vistas. Uma aura, um halo, é algo real e às vezes pode ser vista em lugares santos ou igrejas (ou locais de poder).

Mesmer descobriu o uso dessa substância. Para ser capaz de utiliza-la, é preciso primeiro adquiri-la.

O mesmo ocorre com a atenção.

Só se adquire atenção pelo trabalho consciente e pelo sofrimento voluntário, por pequenas ações realizadas conscientemente.

Faça de uma pequena meta o seu deus; isso o levará a adquirir magnetismo. O magnetismo, como a eletricidade, pode ser concentrado e transformado em corrente.

Em "Gurdjieff fala a seus alunos", págs. 94 à 98, Ed. Pensamento.

terça-feira, 7 de novembro de 2023

O começo de tudo: a auto-observação

Se olhar para si mesmo fosse algo comum o ser humano não teria necessidade de escolas esotéricas, mestres, gurus ou terapeutas. E olhar para si mesmo para poder se conhecer só é possível devido a presença de algo que nos tira de nossa própria presença: o outro. Sartre disse que o inferno é o outro. O dono do inferno é Satã, que significa o adversário, o outro. Assim o outro é Satã, parafraseando Sartre. Inferno e Satã são apenas metáforas para a consciência adormecida ou identificada. É pelo enfrentamento estratégico e implacável com o outro que percebemos a nós mesmos e notamos que o outro é um espelho de nós mesmos. Isso é observar-se, perceber no outro um espelho de si. É preciso fazê-lo sempre, o tempo todo e sem fim. Esse é o caminho. Olhar para si mesmo sem julgar ou justificar e olhar para o outro da mesma maneira, vendo as manobras do ego aqui e lá, é um exercício de implacabilidade e espreita de si.

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....TUDO QUE AS MINHAS TENTATIVAS DE LEMBRANÇA DE SI
ME MOSTRARAM, ME
CONVENCEU BEM CEDO DE QUE EU ESTAVA
DIANTE DE UM PROBLEMA NOVO
COM QUE A CIÊNCIA E A FILOSOFIA NÃO TINHAM SE DEPARADO...
P.D. Ouspensky

Todo o trabalho deriva do homem que começa a observar-se. A auto-observação é que nos permite mudar interiormente. Não devemos confundir o observar com o conhecer. Falando superficialmente, podemos dizer que alguém sabe, por exemplo, que está sentado em uma cadeira, mas isto não quer dizer que a está observando. Falando mais profundamente, talvez uma pessoa saiba que está em um estado negativo, mas isto não quer dizer que o está observando.

A auto-observação é um ato de atenção dirigida para dentro, para o que está acontecendo na pessoa. A atenção deve ser ativa, isto é, dirigida. No caso, por exemplo, de uma pessoa a quem se tem antipatia, é possível notar os pensamentos que se acumulam na mente, o coro de vozes que falam dentro de nós, o que estão dizendo, as emoções desagradáveis que surgem, etc. Também notamos que estamos tratando interiormente muito mal à pessoa a quem temos antipatia. Para ver tudo isso é necessária uma atenção dirigida.

A atenção vem do lado observante, os pensamentos as emoções e os movimentos pertencem ao lado observado, isto é, há que dividir-nos em dois, observador e observado. O lado do observador é interior ao lado observado, ou está por cima dele; mas seu poder de consciência independente varia, porque a qualquer momento poderá ficar submerso.

Nesse caso ficará completamente identificado com o estado negativo. Aí a pessoa não observa o estado, porque ela mesma é o estado. Cabe dizer que o fato de ser negativo é conhecido, mas não é observado.

Muitas vezes também se confunde o pensar com o observar. Pensar e observar são bem diferentes. Um homem pode pensar todo dia a respeito de sua pessoa e não auto-observar-se sequer por um momento. Observar nossos pensamentos não é a mesma coisa que pensar. O Quarto Caminho ensina que o homem deve observar tudo nele, sempre como se não fosse ele, mas sim outro. Isto significa que ele deve chegar a dizer:

"O que está fazendo esse eu?"

E não "o que eu estou fazendo?" Então vê os pensamentos que se sucedem, as emoções, as comédias privadas, os dramas pessoais, as elaboradas mentiras, as desculpas e justificativas, os discursos, que passam sucessivamente. No instante seguinte, cai outra vez no sono e desempenha seu papel em todos eles, isto é, atua na comédia que compôs e crê que é verdadeira.

É preciso que um homem seja capaz de dizer: "isto não sou eu", a todas as peças e canções estabelecidas, a todas as representações que se sucedem nele, a todas as vozes que toma pela sua. Sabe-se que, às vezes, antes de dormir, ouvimos fortes vozes na cabeça. São os eus que estão falando. Durante o dia, passam o tempo todo falando, só que os tomamos por Eu, por nós mesmos.

Quando você encontra-se em um estado desagradável e auto-observa-se durante alguns minutos, notará grupos diferentes de eus desagradáveis que tentam, um após o outro, ocupar-se da situação e tirar proveito dela. Isto se deve a que os eus negativos vivem sendo negativos. Sua vida consiste em pensar negativamente ou sentir negativamente, isto é, em proporcionar-lhe pensamentos negativos e sentimentos negativos. Deleitam-se em fazê-lo porque para eles assim é a vida.

No trabalho sobre si, é preciso observar sinceramente quando se goza dos estados negativos, em especial quando se goza secretamente deles. Se um homem sente prazer sendo negativo, sejam quais forem as formas de ser negativo, e são muitas, não poderá separar-se delas. Não é possível separar-se de algo pelo qual sente-se um afeto secreto. Em realidade, o que ocorre é que a pessoa identifica-se com os eus negativos por meio de um afeto secreto e assim sente seu gozo, porque seja qual for a coisa com a qual uma pessoa identifique-se, converte-se nela.

É preciso observar a fala interior (VERBALIZAÇÃO) e o lugar de onde provém. A fala interior automática é a semente de muitos estados desagradáveis futuros e também da fala exterior equivocada.

Existe a prática do Silêncio Interior. Não se trata de impedir que algo penetre na mente, mas pratica-se o silêncio interior com relação a algo que já está na mente e do qual deve-se ter percepção, mas é preciso não tocá-lo com a língua interior, com o discurso interior, ou seja, não usar a verbalização. A fala interior sempre se ocupa dos estados negativos e forja muitas frases desagradáveis que, de súbito, acham expressão na fala exterior, talvez muito tempo depois.

A fala interior mecânica produz confusão interior, é feita de diferentes formas de mentiras, de meias verdades ou de verdades que se relacionam entre si de modo incorreto, com algo que se agregou ou se omitiu. Em outras palavras, é mentir para si mesmo.

Tudo isso pertence à purificação da vida emocional. Mecanicamente, só simpatizamos com nós mesmos e temos antipatia ou ódio daqueles que não simpatizam conosco. Não é possível o desenvolvimento interior, a menos que as emoções deixem de fundamentar-se unicamente na auto-simpatia (AUTO-IDENTIFICAÇÃO). Talvez uma pessoa se dê conta que diz coisas que, se as recebesse, não as toleraria. Dentro de nós mesmos, todos os outros são impotentes. Podemos arrastar uma pessoa para nossa caverna secreta e fazer com ela o que quisermos. Podemos ser naturalmente corteses mas, neste trabalho, cujo propósito é purificar e organizar a vida interior, isto não basta. O que realmente conta é a maneira como os homens se comportam interna e invisivelmente uns com os outros.

Todo ensinamento esotérico, desde a mais remota Antigüidade, refere-se ao conhecimento de si. O trabalho psicológico aplica-se à nossa realidade invisível, na qual moramos psicologicamente; refere-se à conquista de si, ao domínio de si. Mas uma das maiores dificuldades é justamente, imaginarmos que nos vemos e nos conhecemos integralmente, e isto nos impede de compreender o que significa verdadeiramente a auto-observação e o que quer dizer começar a conhecer-se a si mesmo.

Só quem compreende plenamente a dificuldade de despertar pode compreender a necessidade de um prolongado e árduo trabalho sobre si, com o fim de despertar. VEJAMOS BEM, PROLONGADO TRABALHO SOBRE SI.

Neste trabalho, é preciso dissolver a fantasia e a imaginação negativa. A fantasia pode satisfazer todos os centros, de modo que o homem fica satisfeito com o imaginário em lugar do real. O poder da fantasia mantém os homens hipnotizados, porque o homem sonha que está desperto ou a ponto de despertar. Contudo, geralmente passa-se muito tempo neste trabalho antes que uma pessoa comece a observar sua fantasia. E é difícil observá-la, porque quando a observamos, ela se detém, isto é, tão logo chega a atenção dirigida, a fantasia cessa. Nosso estado de hipnose impede toda observação real e direta. Imaginamos que somos pessoas respeitáveis e agradáveis, e não podemos ver através da bruma de nossa fantasia que não o somos em absoluto.

Por isso é imperativo conhecer o modo correto para trabalhar o que se observa, por enquanto estamos apenas estudando o básico do sistema, e comprovando em nós que assim é, mas muito cuidado para não cair na armadilha de acharmos que podemos realizar um trabalho de auto-observação correta para alcançar a consciência de SI sem ajuda e sem preparo. Já foi dito aqui "nesta lista" que neste caminho sem vontade é impossível evoluir e que sem ajuda é igualmente impossível evoluir. Será que tem alguém aqui que pode dizer que desenvolveu a vontade plenamente? Vamos então criar as condições para que a vontade se desenvolva em nós, ainda é muito cedo para tentar saltos maiores que as pernas, é bem melhor um passo seguro de cada vez que dar um salto para o desconhecido e bater com a cara no muro. temos muita coisa para conversar sobre o sistema, oportunamente veremos as técnicas para criarmos um observador eficiente. Por hora é solicitado a auto-observação como forma de constatar em si a veracidade do que dizemos aqui sobre os muitos "eus", centros, funções, estados de presença, consciência, compartimentos, amortecedores, emoções negativas, sono, vigília, observação de si, consideração interior, identificação, 4c, Gurdjieff, evolução possível, abordagem do sistema, contexto, aqui agora etc, para que possamos partir para algo mais profundo se realmente a nossa vontade para isso se prestar.

Flávio

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