Mostrando postagens com marcador Pensamentos. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Pensamentos. Mostrar todas as postagens

domingo, 17 de dezembro de 2023

Meditação: ecologia do espírito



Saúde é o silêncio dos órgãos.

Iluminação é o silêncio da mente.

A saúde do espírito é a iluminação, o êxtase.

Meditação é um estado da mente.

Ou da não-mente.

Concentração é a técnica para alcançá-lo.

Postura é a forma física para atingi-lo.

Concentração e postura são as duas faces, mental e física, da moeda meditativa.

Meditação é clareza, iluminação, êxtase, silêncio.

Definir meditação não é meditação.

Paz sem limites, êxtase incomensurável, terror místico do eu.

Palavras.

Meditar vai além das palavras. A voz do silêncio. A flor de Kashyapa.

O escrito não pode ser meditação, é no máximo uma definição sobre, uma tentativa intelectual de ampliar limites conceituais, aproximando-se sem nunca chegar ao real. O dedo apontando para a Lua.

A postura firme do lótus, a clareza tranqüila do lago são metáforas naturais da meditação.

Sentar em lótus, contemplar o lago quase nunca tranqüilo da mente, observar os pensamentos ondulantes, estar ciente do fluxo da respiração: eis uma técnica para o kensho.

Orar não é meditar. Entoar mantrans não é meditar. Visualizar mandalas não é meditar. Resolver koans também não.

Essas são técnicas, ferramentas de concentração.

Meditar é um estado onde se processa o fim do diálogo interno.

Como eu posso conversar incessantemente comigo mesmo?

Ao conversar comigo mesmo não sou um, sou muitos.

Ao conversar comigo mesmo em voz alta dirão: - Louco!

Ao conversar comigo mesmo mentalmente encubro a loucura.

A loucura é uma doença da mente.

A maioria de nós padece dessa doença e por isso não a percebemos como tal. Tornou-se lugar comum. Normal. Assim o doente considera-se são. Os valores se invertem. Não nos tocamos dessa inversão, eventualmente? São acessos de cura, lampejos de saúde, insights da alma que ainda resiste.

Estamos a tanto tempo doentes que nos esquecemos de nossa condição de natural saúde.

O eu, eu e mais eu é a doença da mente.

Meditação é a cura.

Gaia Ciência. Nietzche nos fala da recuperação da saúde e Buda aponta para a Terra como sua testemunha. Gaia Ciência.

Curar-se é nos tornarmos aquilo que somos: Budas. Humanos. Condutos do Espírito.

Quem em mim conversa, discute, pensa comigo?

Se assim é como posso estar em paz?

Meditar é transcender esse pensar de eu, eu e mais eu.

Então me torno um:

Concentração.

Então me torno nenhum:

Meditação.

Nesse vazio há plenitude.

Nisso consiste o caminho.

Quem conhecendo a meta buscará algo fora dela?

Nossa natureza, nossa essência é essa mesma iluminação.

Estamos distantes de nós mesmos. Sem paz, desconhecendo a nós mesmos.

Se não temos paz em nossa mente como vamos ter paz em nosso mundo?

O exterior reflete o interior.

E apesar de todas as nossas palavras, de toda a nossa cultura, ainda não sabemos a resposta:

Quem sou eu?

Meditação é a resposta não discursiva a essa questão, é a revelação de nossa natureza.

Nossa natureza não é diversa da Natureza. Somos parte daquilo que acreditamos ilusoriamente ser externo a nós mesmos. Vencer essa ilusão dual é um passo no caminho da meditação.

O caminho da meditação, então, pode ser definido como uma ecologia do espírito, pois restabelecemos o equilíbrio natural com nós mesmos.

Assim, ao descobrirmos quem somos nós entenderemos, de fato, o seguinte koan, variante zen do axioma gnóstico.

Um discípulo perguntou ao seu mestre Zen:

"Como posso fazer com que as montanhas, os rios e a grande Terra me beneficiem?"

Respondeu o mestre:

"Vós deveis beneficiar as montanhas, os rios e a grande Terra."

Koan: A mente Zen é a nutrição da Terra. A mente da Terra é a nossa nutrição.

D.R.
05/02/08

segunda-feira, 4 de dezembro de 2023

Arcano 11


A força que percorre o universo

Percorre o teu corpo.

Não pode ser diferente.

Teu corpo não é em verdade teu.

É o corpo do universo.

A manifestação do poder.

Perfeito, brilhante, pleno de saúde e luz.

A força do universo que percorre teu corpo

Te faz compreender que és um com a força

tornando-te então nenhum.

Sendo tudo não és nada.

No pináculo do poder desabrocha a flor sutil da humildade.

A plenitude que se manifesta em ti,

É apenas plenitude, presente em tudo, em todos.

Essa consciência da plenitude não pode ser contida em nenhuma palavra criada pelo homem: deus, amor, espírito, nada significam sem a consciência dessa força em si. É um imbecil aquele que olha o dedo que aponta para o céu sem olhar para o céu.

Assim não podes reverenciar ou adorar deus ou deuses, pois tal força está presente em ti, aqui e agora, não és algo distinto ou distante de tal poder. Reverencia o Poder em si através da impecabilidade.

Eu Sou. Tu És. Unos com o Poder. Sê consciente e isso é suficiente.

Se perguntam se acredito em deus digo que não, pois como posso acreditar se o vejo no sol brilhante, no céu azul, no vento suave, nas árvores frondosas, no mar revolto, nos pássaros e aves, na música vibrante, no belo sorriso da mulher amada, no olhar deslumbrado da criança, na força de vida que percorre meu corpo?

Acreditar em deuses ou deus é alienar-se da força em si para alimentar vampiros que manipulam as multidões para se fazerem o que não são.

Não preciso acreditar no que vejo e sinto presente e pulsante em tudo.

A crença é para cegos e insensíveis. A consciência dispensa a crença. A crença oblitera a mente e o coração.

Destrói a crença e deixa brilhar o sol da verdade em tua mente. Destrói toda forma de autopiedade. Destrói os ídolos, as religiões e as igrejas e bebe direto da água da vida. Já foi dito: Não há religião superior à Verdade.

Silencia e procura sentir a força em si.

DR

quarta-feira, 29 de novembro de 2023

Sobre a servidão moderna - documentário

O problema do ser humano-escravo não é tanto o fato em si, ser escravo, mas a constatação de que ele 'ama' as suas correntes: ele 'ama' a sua religião, ele 'ama' o seu time de futebol, ele 'ama' o seu partido político, ele 'ama' aquilo que o oprime, ela 'ama' os seus vícios, ela 'ama' aparecer e ser o garoto propaganda do sistema, ela 'ama' os produtos que o sistema neo-escravista vende, impõe e de forma sutil o obriga a consumir. Onde está escrito 'ama' entenda-se 'apega-se', mas usamos o termo 'ama" pois ele tem uma conotação relativa ao grau de ilusão ou de alienação do escravo às suas próprias correntes. O escravo acredita que suas correntes são fator de segurança, e de fato são, mas não para ele, e sim para aqueles que se julgam seus senhores.

"O escravo, dentro da perspectiva nietzschiana, é aquele que, por impotência, não consegue afirmar-se, não leva sua força até seu limite. A perda de plasticidade o torna rígido, ele se perde em seu mundo, sem conhecer as ferramentas que poderiam ajudá-lo ou sem saber manejá-las. O perigo mora na possibilidade assustadora de que a moral dos escravos passe a criar valores. E, para o horror de Nietzsche, isso acontece. Não que o fraco possa realmente criar valores, em razão de sua condição, isso ele não pode, mas está dentro de suas possibilidades inverter os valores, dando-lhes uma nova feição e anunciá-los como se fossem inteiramente novos" - mais em Nietzche - ressentimento e inversão de valores, por Rafael Trindade.

“A servidão moderna é uma escravidão voluntária, consentida pela multidão de escravos que se arrastam pela face da Terra. Eles mesmos compram as mercadorias que os escravizam cada vez mais. Eles mesmos procuram um trabalho cada vez mais alienante que lhes é dado, demonstram estar suficientemente domados. Eles mesmos escolhem os mestres a quem deverão servir. Para que essa tragédia absurda possa ter lugar foi necessário tirar dessa classe a consciência de sua exploração e de sua alienação. Aí está a estranha modernidade da nossa época. Contrariamente aos escravos da Antiguidade, aos servos da Idade Média e aos operários das primeiras revoluções industriais, estamos hoje frente a uma classe totalmente escravizada, só que não sabe, ou melhor, não quer saber. Eles ignoram o que deveria ser a única e legítima reação dos explorados. Aceitam sem discutir a vida lamentável que se planejou para eles. A renúncia e a resignação são a fonte de sua desgraça.”

Produção: De la Servitude Moderne (Original). Ano produção, 2009. Dirigido por, Jean-François Brient. Estreia. 2009 ( Mundial ) Outras datas. Duração, 52 minutos.

Idioma/Legendas: Francês/Português


Da servidão moderna - Jean-François Brient from Juliane Meira Winckler on Vimeo.

terça-feira, 28 de novembro de 2023

Do amor

O  amor divino é uma expressão redundante, pois o amor é divino, assim como o divino é amor. 


O ser se revela Deus quando ama. 


Amar não é mero desejo, amar transcende o desejo, supera o eu, dissolve-o, é nesse sentido amar é um morrer.


Amar é a nossa verdadeira natureza, nos faz divinos, nos revela em nossa plena humanidade.  


A humanidade é a encarnação do amor, e se assim não é isso apenas mostra como estamos distantes de nossa própria natureza e da verdadeira condição humana. 


Não precisamos crer em Deus quando realmente amamos, pois no amor somos a própria expressão divina em sentimento, em pensamento e em ação. 


Não é por acaso que seres iluminados dizem, simplesmente, que a sua religião é o amor. 


‘Eu me amo’ é uma expressão sem sentido, pois onde há amor não existe eu. "Ouvindo não a mim, mas ao Logos, é sábio concordar ser tudo-um."¹


DR

 


¹ Primeiro dos aforismos de Heráclito de Éfeso.

segunda-feira, 30 de maio de 2022

Sobre a Presença

 



Podemos nos ligar profunda_mente à Presença de um Mestre Espiritual pela via da meditação. 


Não é necessário que seja um Mestre físico ou encarnado, pois não há tantos disponíveis ou acessíveis, mas se tal for possível e houver afinidade espiritual é bom que se faça. Em geral, o Poder determina isso. 


Contudo, não é absolutamente necessário. E não é absolutamente necessário pois a Presença de um Mestre é a própria Presença presente em cada um


Entenda-se aqui PRESENÇA como o Ser, que é presente, existente em cada um de nós, eis o princípio divinal, brilhante, autoiluminado ‘Eu Sou’, que é comum a todos. 


Sendo comum a todos permite que através da Presença de um Mestre autorrealizado acessemos a nossa própria Presença. 


Um Mestre é assim uma ‘ponte’ espiritual para que atravessemos a ilusão egoica na direção da Presença, da Unidade. 


Na verdade, após a ‘travessia’ veremos que nunca houve ‘ponte’, pois teremos realizado a unidade fundamental do Ser. 


A chave aqui é a lembrança de Si. 


Lembrar de Si é lembrar da própria Presença Eu Sou, o Observador, a Testemunha Silenciosa. 


Tal conceito do Trabalho Esotérico ou do Trabalho sobre si liga-se a outro conceito: a Observação de si. 


Lembrar de Si é lembrar do Observador, pois é Ele que observa o si, o ego. O ego é o observado, mas quem observa é o Ser.


Por isso é que Gurdjieff diz que no início a observação de si é muito difícil, pois não temos acesso ao Ser, ao Observador, já que estamos identificados com o ego, o observado, os pensamentos, as reações mecânicas, o condicionado. 


O Ser trabalha desde ‘dentro’ através de inquietudes espirituais que estimulam a Busca. Dessa forma o buscador busca na verdade a Si mesmo (ou como diria a música de Milton Nascimento: Eu, caçador de mim) em meio aos escombros do ego. 


Um Mestre realizado é um espelho, um modelo, uma referência daquilo mesmo que podemos ser, e que somos.


sexta-feira, 12 de novembro de 2021

Nossa principal ilusão

Esta é a nossa principal ilusão, pois o principal erro que cometemos com nós mesmos é nos considerarmos como um só - Ouspensky em O Quarto Caminho.

Nossa principal ilusão, nossa principal corrente.

Nos considerarmos como um, como detentor de um único eu.

A palavra eu para referir-se a si mesmo não é correta, mas não basta saber isso de um ponto de vista intelectual. Não basta saber de um ponto de vista teórico, é necessário dar-se conta em si mesmo e perceber a legião que existe dentro de nós.

Legião é o termos que o cristianismo esotérico, o gnosticismo utiliza para definir o humano, aquela corda esticada, como diria Nietzsche, entre o animal e o além do homem.

E chegaram ao outro lado do mar, à província dos gadarenos.

E, saindo ele do barco, lhe saiu logo ao seu encontro, dos sepulcros, um homem com espírito imundo;

O qual tinha a sua morada nos sepulcros, e nem ainda com cadeias o podia alguém prender;

Porque, tendo sido muitas vezes preso com grilhões e cadeias, as cadeias foram por ele feitas em pedaços, e os grilhões em migalhas, e ninguém o podia amansar.

E andava sempre, de dia e de noite, clamando pelos montes, e pelos sepulcros, e ferindo-se com pedras.

E, quando viu Jesus ao longe, correu e adorou-o.

E, clamando com grande voz, disse: Que tenho eu contigo, Jesus, Filho do Deus Altíssimo? Conjuro-te por Deus que não me atormentes.

(Porque lhe dizia: Sai deste homem, espírito imundo.)

E perguntou-lhe: Qual é o teu nome? E lhe respondeu, dizendo: Legião é o meu nome, porque somos muitos.

Marcos 5:1-9




terça-feira, 5 de outubro de 2021

Reencontro

Não é uma busca, mas um reencontro; 

não é um conhecimento, antes um reconhecimento. 

Não é uma paixão, mas o próprio amor. 

E assim a perfeição nasce da perfeição para tornar-se o que é: 

Deus em você.






segunda-feira, 13 de setembro de 2021

Intento - 1ª parte

Definir o intento é um desafio.

Intentar o desafio é intentar o intento.

Para o senso comum intento é propósito, objetivo e finalidade, é obter algo, lograr um objetivo, alcançar um propósito, realizar, materializar ou precipitar alguma coisa.

Para o guerreiro é diferente, pois intentar é uma finalidade em si mesma, intentamos o próprio intento, nos alinhamos com o intento, com o poder e nos tornamos o próprio poder, assim a arte de intentar ou a maestria do intento é uma autorrealização, um movimento interior e também exterior por tratar-se de um alinhamento.

Alinhamento é um termo com um significado especial dentro do xamanismo guerreiro, dentro do xamanismo tolteca, dentro do nagualismo ou da ideologia dos xamãs da linhagem de Carlos Castaneda e de Don Juan Matus.

Nós temos que nos alinhar ao Poder para poder intentar, entrar em ressonância com comandos que percorrem o Universo em todas as direções e nos harmonizar, nos sintonizar e nos alinhar com eles.

O alinhamento exige algumas qualidades, pede determinadas prerrogativas anímicas que poderíamos chamar de fé, humildade, aceitação, aquiescência, capacidade de decisão afinada com as determinações do Poder. Mas a capacidade principal aqui é aquilo que os xamãs definem como silêncio interior, que é a capacidade principal para acessar o conhecimento silencioso e as determinações do Poder, do Intento.

Assim o Intento é o Poder Universal por excelência, muito além do homem, mas que pode ser manipulado pelo ser humano a partir do silêncio interior, pois o humano possui uma conexão própria, um elo de conexão específico ao Intento

Intento! Intento! Intento!

DR

quarta-feira, 30 de junho de 2021

Sobre as regras do jogo

 Não viemos para este mundo para mudar as regras do jogo, mas para vencer a "Banca" em seu próprio jogo a partir de nós mesmos.





segunda-feira, 28 de junho de 2021

Hóspede

 Quem reforma uma casa onde se é apenas um hóspede? 


Que hóspede se meteria a reformar uma casa onde está de passagem?


E se o hóspede se desse conta que é um prisioneiro?


Ou que não é bem-vindo na casa?


Ou que serve a interesses nessa hospedagem que não são seus?


Ou que a casa não é uma hospedagem, mas um hospital (psiquiátrico)?


Não se veria "um estranho no ninho"?


Aliás, hospedagem e hospital bebem na mesma fonte latina (etimológica): hospes.


Ninguém duvida que a Terra é um planeta, mas, metaforicamente, não seria um hotel-fazenda?


Um hotel-fazenda cheio de criações, inclusive criações humanas (humaneiros), assim como há criações de galinhas, de vacas, etc.


Mas quem é o dono do hotel-fazenda? Ah, os humanos se consideram os donos, mas eles estão aqui só de passagem, têm apenas uma posse provisória e o dono de algo que dura tanto, como a Terra, não poderia ser uma criatura tão fugaz. Isso faz sentido?


Um planeta com mais de 4 bilhões de anos não poderia ter como dono uma espécie tão recente, tão nova na história planetária e que ainda destrói a hospedagem. Isso é o cúmulo da arrogância, o ápice da ilusão. Ilusão marcada por eventos tão singelos quanto ignorados.


Hotel,hospital mundo; quarto,corpo. Morte, encerramento da estadia, carimbo no passaporte para outro mundo.


Sim, a morte é a marca do hóspede, de sua condição de hóspede no albergue do mundo. Mas ele julga-se o tal, acha-se no domínio sendo apenas nada. Ah, a vaidade! O pecado predileto deste hóspede, que mesmo se achando o topo da cadeia alimentar morre de medo de um vírus. Curioso, não?

quinta-feira, 1 de fevereiro de 2018

Qual a sua paranóia predileta?

Qual a sua paranoia predileta?

Se formos levar em conta a etimologia da palavra paranoia todos o são, varia apenas a intensidade e o tipo.

Do Grego paranoia, “loucura, doença mental”, de PARA-, “ao lado, além”, mais NOOS, “mente”.

Ou seja a mente fora do seu lugar.

Mas o que significa este lugar. Qual o lugar da mente?

Talvez a palavra paranoia nos revele mais sobre isto.

Paranoia é um tipo de ansiedade, ansiedade persecutória, a pessoa sente-se perseguida. A ansiedade projeta a mente sempre para o futuro, portanto, tira a mente do presente e daquilo que é. Coloca a mente num outro "lugar", num outro tempo: o futuro.

A mente fixada no futuro movida pela ansiedade estaria fora do seu "lugar" pois fora do seu tempo? A alienação do presente para viver uma fantasia mental, uma projeção delirante, uma imaginação negativa estruturada, coerente e lógica, apesar de mentirosa? Temos uma convincente e convicta farsa crônica.

Quantas coisas não são capazes de tirar a mente do seu lugar? Muitíssimas.

Paranoia, medo, ansiedade persecutória é apenas uma delas, contudo é a palavra paranoia que carrega em sua origem esta noção de bagunça mental, de desalinhamento, de mente fora do seu lugar, então é ela que nos permite uma análise da nossa própria loucura através de um raciocínio específico.

Faço parte da chamada tribo dos conspiranoicos e noto que as pessoas que compõem esta tribo são capazes de ver numa cedilha o rabo do próprio Satanás.

Há vários tipos de paranoia. Um tipo bem popular e comum é o ciúme. Ciúme é paranoia. Não é à toa que se brinca dizendo: chifre é uma coisa que colocaram na sua cabeça. Talvez por isto o Diabo tenha chifres pois ele é o fomentador da paranoia e o alvo predileto de paranoicos religiosos. O Diabo é uma metáfora para o nosso querido ego. O ego é diabólico, pois ele é um projetor poderoso de forças do inconsciente sob o filtro de uma aparente racionalidade, o ego é um lacaio da sombra, ele não se sabe escravo e age de forma tal que expressa a ideia de Sartre: o inferno são os outros.

Temos então o tipo ciúme e o tipo persecutório. Mas há um outro tipo, relativamente comum, é o tipo grandeza, com ares de mitomania, sente-se a encarnação de um grande personagem ou deus, julgando ter poderes especiais, é aquele que se sente capaz de fazer chover. Conheço alguns, o que me preocupas deveras, considerando-se a lei da atração. Normalmente vejo estes tipos associados de alguma maneira a parte espiritual, são "misticoides", relatam suas grandes experiências, fascinados por si mesmos e alimentam um poderoso medo da morte, lutam a todo custo para afirmar ou justificar sua suposta grandeza, deste tipo o Diabo representado pelo ator Al Pacino no filme Advogado do Diabo disse:

- A vaidade é o meu pecado predileto.


Este tipo ainda pode ver, sentir, perceber que estão lhe fazendo mal através de magias, feitiços e outras artes mágicas, mas seu suposto poder sempre o protege, sente-se atacado mas se acredita invencível, é capaz de tornar-se iniciado em tradições místicas para justificar sua suposta condição de grande hierarca. Pode tornar-se assassino, psicopata mesmo, justificando tal coisa por ser um enviado da Justiça Divina, um executor da lei espiritual.

Outro tipo interessante que já encontramos é o tipo somático, ele manifesta em seu corpo ou em sua percepção fantasiosa uma série de impressões olfativas, gustativas, visuais ou auditivas que justificam a sua paranoia, um clássico exemplo de efeito nocebo, o lado negativo do efeito placebo.

Por fim temos o paranoico amoroso, ele idealiza uma pessoa a coloca num pedestal e acredita firmemente que esta pessoa o ama, de um ponto de vista espiritual e fantástico.

Em geral os paranoicos tornam-se muitos refratários ao contato social, são anti-sociais, quase sociopatas, fecham-se em suas cavernas, isolam-se e são extremamente introspectivos e seletivos em suas relações. Julgam-se de alguma formas especiais, distintos do mundo, alguns se acreditam encarnações de seres alienígenas e justificam isto de uma maneira bastante lógica pelo seu próprio comportamento estranho.

Como paranoico contumaz me vejo ou já me vi em alguns tipos e o melhor antídoto contra esta tendência psíquica é basear-nos em evidências concretas e orientamos a nossa razão e imaginação dentro de um contexto onde a mente se encontre em seu “lugar”, assentada no presente, sem as elucubrações fantásticas típicas da paranoia, usando a meditação e a própria razão de uma forma implacável para questionar as nossas próprias projeções psíquicas.

Sejamos paranoicos, mas com moderação, afinal há um prazer secreto em crer-se capaz de perceber os segredos e conspirações deste mundo sejam elas reais ou não. Evitemos toda a viagem na Hellman´s Airline, se possível.

Certamente a paranoia interessa aos podres poderes que regem esta era de ferro - Kali Yuga - pois ela nos impede de ver e de agir de uma maneira positiva para mudarmos a nossa própria realidade.

Mas, por vezes, a teoria (da conspiração) se confirma como prática da conspiração, pois a ficção também imita a realidade.

DR

quarta-feira, 31 de janeiro de 2018

Vaidade


A maior dificuldade que enfrentamos ao informar as pessoas que elas estão sendo enganadas é a vaidade, pois ninguém quer acreditar que foi enganado por tanto tempo sem perceber que estava sendo.


A maior prova disto é quando a informação revelada se dá no âmbito das relações cotidianas, pois ninguém quer acreditar que o outro, que é como você, mais um na multidão, está de posse de um conhecimento desse nível, então você acaba por ser taxado de teórico da conspiração ou paranóico de plantão. Mesmo que as informações sejam passadas com clareza, lógica e evidências o aparente ceticismo está cimentado numa vaidade tão estruturada que é muito difícil a pessoa ceder diante de argumentos mesmo cabais.

Assim uma definição possível de vaidade é o culto do reflexo das próprias crenças.

Fanatismo, ceticismo, estupidez e paranóia são apenas variações conceituais da mesma vaidade.

O principal objeto de culto dessa vaidade chama-se TV, que se tornou uma projeção na mente da maioria das pessoas. Ainda há tempo, desligue-a. A gente se vê por aqui, ou por aí.

Contudo, a informação pura e simples, mesmo embasada em dados reais não é suficiente para amparar novas decisões, pois estas não são tomadas no nível puramente racional, precisam atingir camadas mais profundas da psique. Sabedores disso alguns, desde o início do século passado, amparado nas teorias de Freud, resolveram utilizar tal informação para simplesmente manipular as pessoas em seus pontos mais fracos: vaidade, luxúria e medo.

Assim uma mulher pode ter mais de 40 pares de sapato, um homem ter um potente Porsche para trafegar no trânsito de Sampa e um humilde trabalhador pode torcer por seu time de jogadores milionários simplesmente porque isso os faz se sentirem do jeito que a propaganda lhes sugeriu, mesmo que seja absolutamente desnecessário e até mesmo completamente absurdo.

O consumismo não é o consumo de coisas, mas sim de emoções.

Assim nós, as pessoas, nos tornamos produtos que consomem produtos para satisfazer desejos e emoções artificialmente induzidas. Por exemplo: a emoção propiciada pela certeza e pelo senso comum nos dá uma sensação de (pseudo)segurança e dizemos em alto e bom som: - Teoria da conspiração! E assim seguimos um comando sintático, um clichê produzido pelo sistema dominante. Consumimos a produção intelectual do sistema sem nos darmos conta. Nos acreditamos bem informados quando somos apenas bem domesticados.

Como diz o diabo de Al Pacino no filme Advogado do Diabo: a vaidade é o meu pecado predileto.

A sorte é que alguns de nós estamos conscientes, em certo nível, de nossa própria vaidade. E podemos rir dela.

DR

quarta-feira, 18 de outubro de 2017

Intento - 3ª parte

Por que somos tão difíceis de sermos convencidos de nosso próprio poder? Por que não podemos acreditar que somos inacreditáveis? Por que devemos, como seres mágicos, nos conformar à mediocridade da racionalidade estabelecida pela cultura dominante?

***

A mestria do intento é o enigma do espírito, ou o paradoxo do
abstrato — os pensamentos e ações dos feiticeiros projetados além de nossa condição humana.

(...)

“Tudo pelo que fiz você passar, cada uma das coisas que lhe
mostrei era apenas um instrumento para convencê-lo de que há mais coisas do que o olho pode perceber. Não necessitamos de ninguém para nos ensinar feitiçaria, porque de fato não há nada a aprender. O que necessitamos é de um professor para nos convencer de que há poder incalculável ao alcance de nossos dedos. Que paradoxo estranho! Cada guerreiro na trilha do conhecimento pensa, num momento ou outro, que está aprendendo feitiçaria, mas tudo o que está fazendo é permitir a si mesmo ser convencido do poder oculto em seu ser, e que pode alcançá-lo.
— E isto que está fazendo, Don Juan, convencendo-me?
— Isso mesmo. Estou tentando convencê-lo de que pode alcançar esse poder. Passei pela mesma coisa. E era tão difícil de ser convencido quanto você.
— Uma vez que o alcançamos, o que fazemos exatamente com ele, Don Juan?
— Nada. Uma vez que o alcançamos, este irá, por si mesmo, fazer uso de campos de energia que estão disponíveis para nós, embora inacessíveis. E isto, como eu disse, é feitiçaria. Começamos então a ver, isto é, perceber, algo mais; não como imaginação, mas como real e concreto. E então começamos a conhecer sem a necessidade de usar palavras. E o que cada um de nós faz com esta percepção aumentada, com aquele conhecimento silencioso, depende de nosso próprio temperamento.

O Poder do Silêncio, de Carlos Castaneda

Intento - 2ª parte

Nós não temos a menor ideia do poder que temos, um poder infinito, a mestria do intento. Por isso o estudo do conceito fundamental do intento é essencial, estamos lidando com a pedra de toque do conhecimento ancestral dos xamãs.

A arte suprema dos xamãs, justo aquilo que não querem que nós saibamos, porque permitiria que aqueles que nos controlam perdessem o seu poder, um poder de manipular a consciência que não prima pela liberdade, mas pela condição escrava.

Assim intentar é a expressão prática da liberdade humana para além da própria razão, mas que não a dispensa, antes a supera.

Introdução ao Poder do Silêncio, de Carlos Castaneda.

Em várias ocasiões Don Juan tentou, para o meu proveito, dar nome ao seu conhecimento. Ele sentia que o nome mais apropriado era nagualismo, mas que o termo era obscuro demais. Chamá-lo simplesmente “conhecimento” tornava-o vago, e chamá-lo “bruxaria” seria rebaixá-lo. “A MESTRIA DO INTENTO” era muito abstrata, e “a busca da liberdade total” longa demais e metafórica. Finalmente, por ser incapaz de encontrar um nome mais apropriado, chamou-o “feitiçaria”, embora admitisse não ser realmente adequado.

DR

terça-feira, 3 de novembro de 2015

A natureza do guerreiro

Salve!

A natureza do guerreiro é tal que ele é feliz na guerra. Mas não falamos aqui da guerra contra outrem e sim de auto-superação, portanto, qualquer um que forneça ao guerreiro tal chance é por ele abençoado e não se trata em absoluto de uma questão pessoal, vencer-se é a alegria suprema do guerreiro, seu maior gozo, seu êxtase sem fim.

sexta-feira, 4 de setembro de 2015

Sobre a impecabilidade

Nós não perdemos para os outros e nem para as situações, nós perdemos para as nossas próprias emoções negativas. Nós perdemos para o ódio, para a auto-importância, para a nossa inveja, gula e cobiça. E o que nós perdemos? A nós mesmos e o melhor dos outros. Perdemos a nossa impecabilidade, energia e saúde. Perdemos a nossa alma.

O filme a seguir é uma bela reflexão sobre o tema:




Sinal de Fumaça

Entre a vaidade e o medo

Quando era garoto, lá pelos anos 60 e 70, em plena ditadura militar, quase todo o dia tinha que sair na porrada por causa da provocação dos ...