terça-feira, 9 de janeiro de 2024

Disciplina - 1ª parte

«Segundo uma antiga história zen um aluno teria dito ao mestre Ichu: "Por favor, escreva-me algo com grande sabedoria". O mestre Ichu tomou de seu pincel e escreveu uma só palavra: "Atenção".

O aluno indagou: "É tudo?". O mestre escreveu então: "Atenção. Atenção".

O aluno ficou irritado. "Não me parece que seja profundo nem sutil." Em resposta, o mestre escreveu simplesmente: "Atenção. Atenção. Atenção". Frustrado, o aluno exigiu: "O que significa essa palavra 'atenção'?". E o mestre Ichu disse: "Atenção significa atenção".

Em lugar de 'atenção' poderíamos usar 'percepção consciente'. Atenção ou percepção consciente é o segredo da vida, o cerne da prática. Como o aluno nessa história, consideramos esse ensinamento uma decepção; é árido e desinteressante. Queremos algo excitante em nossa prática! A simples atenção entedia! Perguntamos: a prática é só isso? Quando os alunos aparecem para falar comigo, ouço queixas e mais queixas: o horário do retiro, o alimento, o serviço, eu mesma, e assim por diante. Mas as questões que as pessoas estão me trazendo não são mais relevantes ou importantes do que um evento "trivial" como esfolar um dedo. Como colocamos as nossas almofadas? Como escovamos os nossos dentes? Como varremos o chão ou fatiamos uma cenoura? Pensamos que estamos aqui para dar conta de questões "mais importantes", como os problemas que temos com nossos cônjuges, nossos trabalhos profissionais, nossa saúde etc.

Não queremos nos incomodar com as "pequenas" coisas, por exemplo como seguramos nossos talheres ou onde pomos a colher. Mesmo assim, são esses atos que constituem o estofo de nossa vida, de um momento a outro. Não é uma questão de importância; é uma questão de prestar atenção, de estar conscientemente perceptivo. Por quê? Porque cada momento da vida é absoluto em si. E isso é tudo o que existe. Não existe mais nada além deste momento presente; não existe passado, não existe futuro, não existe nada além disto. Por isso, quando não prestamos atenção a cada pequeno 'isto', perdemos tudo. E o conteúdo do 'isto' pode ser qualquer coisa. 'Isto' pode ser endireitar nossos colchonetes de praticar, fatiar uma cebola, visitar alguém que não desejamos visitar. Não importa o conteúdo do que seja o momento; cada momento é absoluto. É só isso que existe e que jamais existirá.

Se conseguíssemos prestar totalmente atenção, nunca ficaríamos contrariados. Se estamos contrariados, é axiomático que não estamos prestando atenção. Se perdemos não apenas um só momento, mas um momento depois do outro, estamos em apuros. Vamos supor que fui condenada a ser decapitada na guilhotina. Agora estou caminhando e subindo os degraus que levam ao cadafalso. Consigo manter minha atenção no momento? Consigo estar consciente de cada passo, passo a passo? Consigo colocar minha cabeça na guilhotina cuidadosamente para assim servir bem ao algoz? Se eu conseguir viver e morrer dessa maneira, não surgem quaisquer problemas. Nossos problemas aparecem quando subordinamos este momento a alguma outra coisa, a nossos pensamentos autocentrados: não é só este momento, mas o que 'eu quero'. Revestimos o momento com as nossas prioridades pessoais, o dia inteiro. E é assim que começamos a ter dificuldades.

Uma outra história antiga diz respeito a um grupo de ladrões que invade o estúdio de um mestre zen e lhe diz que iam decepá-lo. Ele comentou: "Por favor, aguardem até amanhã de manhã. Preciso concluir um certo trabalho". Assim, passou a noite completando o trabalho, bebendo chá e desfrutando. Escreveu um poema simples no qual comparava sua cabeça decepada a uma brisa primaveril e o entregou aos ladrões como um presente quando eles voltaram. O mestre entendia bem o que era praticar. Temos dificuldade em compreender essa história porque temos todos um imenso apego à nossa cabeça, que queremos que permaneça sobre nossos ombros. Não é nosso desejo particular que nossas cabeças sejam decepadas. Estamos determinados a que a vida prossiga do jeito como 'nós' queremos que prossiga. Quando isso não acontece, ficamos com raiva, confusos, deprimidos, ou de alguma forma contrariados. Não é ruim em si ter esses sentimentos, mas quem quer uma vida comandada por eles?

Quando a atenção ao momento presente é desviada para alguma versão de "Eu tenho de conseguir as coisas 'ao meu modo', cria-se uma distância entre nossa percepção consciente e a realidade tal como é, neste momento preciso. Nessa distância ou fosso despejamos todos os males de nossa vida. Criamos uma distância atrás da outra, em seqüência, o dia inteiro. A finalidade da prática é anular essas distâncias, é reduzir o tempo que passamos ausentes, prisioneiros de nosso sonho autocentrado. No entanto, cometemos um erro se pensamos que a solução está em que 'eu' presto atenção. Não é "EU varro chão", "EU fatio a cebola", "EU dirijo o carro". Embora essa prática seja necessária nos estágios preliminares, ela continua alimentando os pensamentos autocentrados ao denominar a pessoa como um "EU" para o qual a experiência está presente. Um jeito melhor de entender é a simples percepção consciente: apenas vivenciar, vivenciar, vivenciar. Na simples percepção consciente, não há distância, não há espaço para pensamentos autocentrados aparecerem.

Em alguns centros zen, os alunos são solicitados a se envolver em ações em câmera exageradamente lenta, por exemplo abaixando objetos e erguendo-os muito devagar. Essa atenção autoconsciente é diferente da simples percepção consciente, do apenas fazer o abaixa-levanta. A receita para se viver é simplesmente fazer o que estamos fazendo. Não estando autoconsciente do que faz; só fazendo. Quando ocorrem os pensamentos autocentrados, então erramos de bonde e aparece a distância. Essa distância ou fosso é o local de nascimento dos problemas e transtornos que nos atormentam.»

Charlotte Joko Beck - Nada de Especial - Vivendo Zen.

segunda-feira, 8 de janeiro de 2024

Premissas do Caminho do Guerreiro.



Conferência de Taisha Abelar (Janeiro de 1994)

A conferência desta noite é sobre "parar". 

Para "parar" necessitamos fazer apenas uma coisa: decidir ser um guerreiro ou não.

O ponto de aglutinação flutua naturalmente ao dormir. Também se move sob a influência de drogas, meditação profunda, fome, privação sensorial.

O ponto de aglutinação situa-se atrás de vocês, na altura das omoplatas.

Os feiticeiros usam a disciplina para mover seus pontos de aglutinação.

Qualquer um de nós pode ver a energia, inclusive agora, porém podemos não estar imediatamente conscientes disso. As crianças pequenas, por outro lado, percebem energia diretamente. De todas as formas quando são maiores, os "acomodadores" (adultos) os introduzem no mundo da realidade ordinária. Em lugar de ver energia sem forma, uma criança um dia perceberá a configuração energética na forma de uma mesa, um cão, uma árvore, etc.

Assim a percepção pura da criança é moldada pelos "acomodadores"(adultos).

Primeiro e antes de mais nada vivemos num mundo de energia. Apenas secundariamente vivemos em um mundo de objetos. A posição do ponto de aglutinação determina a realidade que perceberemos.

Os bruxos (presumivelmente de forma diferente dos artistas da fome ou da privação sensorial - faquires) buscam fixar o ponto de aglutinação em uma nova posição (e não apenas movê-lo) para aglutinar energia outra vez em uma nova série de "objetos" e , portanto, em uma nova realidade.

Este mundo não é tão importante como pensamos que é. Nossa linguagem é parcial; chamamos de realidade quando é apenas uma das tantas posições do ponto de aglutinação. Para a nossa conveniência vamos nos referir a ela como realidade ordinária.

Geralmente, assim que os acomodadores façam seu trabalho de ajudar-nos a perceber as variadas configurações de energia como objetos, o ponto de aglutinação fica fixo e não move-se mais depois. Estamos obrigados a ficar identificados com o mundo da vida diária até a nossa morte.

E quanto a morte, do ponto de vista dos bruxos, não é o rápido processo que parece ser. O brilho do ponto de aglutinação diminui rapidamente, porém todas as fibras energéticas que compõe o ovo energético do ser humano podem levar um bom tempo para dispersar-se. O processo também pode ser demorado, por exemplo, se alguém é enterrado em um ataúde de chumbo logo após morrer.

A alternativa a estar preso por toda a vida em uma posição do ponto de aglutinação é move-lo mediante a prática da disciplina e logo fixá-lo em uma nova posição enquanto estamos conscientes.

Um fundamento firme no caminho do guerreiro é o que se requer para a difícil tarefa de "parar" e "sonhar".

Disciplina não é a mesma coisa que a praticada por mulheres católicas em um convento. Nem a mesma coisa que a que é usada como prática pelas monjas. Não é levantar-se cedo para fazer aeróbica antes de ir para o trabalho ou comer prudentemente. Isso são apenas rotinas, hábitos, não a disciplina do guerreiro.

Desde o ponto de vista de um guerreiro, espreitador ou sonhador, a disciplina é algo abstrato. É estar vinculado inquebrantavelmente a um propósito. Assim que a atual implementação da disciplina é muito flexível e fluida. Requer coragem de aço. Não há lugar para dúvidas e vacilação, os quais de outro lado nos colocam atrás, no mundo de todos os dias, de justificativas e autopiedade.

A disciplina conduz a harmonia, ao bem-estar e ao equilíbrio. A vida diária, por outro lado, é feita de negligência e indulgência.

Um propósito inquebrantável e inflexível é o que se requer para a disciplina em nossa busca pela liberdade.

Na conferência recente da livraria Fênix alguns de vocês estiveram ali - Carlos Castaneda deu uma palestra sobre o caminho do guerreiro.

Não podem aprender a ser guerreiros!

É apenas uma decisão que tem que tomar um dia vocês mesmos e por conta própria. Pedir a alguém que lhes ensine como ser um guerreiro é uma abordagem errônea . É a abordagem de "eu sou um pobre coitado".

Carlos Castaneda disse que primeiro e antes de mais nada, o evento transformante na vida de um guerreiro, a base para chegar a ser um guerreiro, é aceitar a responsabilidade da própria morte. Esta é a linha de partida. Não assumam que são imortais.

Encarem o infinito e a morte no espelho através da noite!

Apenas fazendo isto, tomando a morte como uma conselheira desta maneira, muitas coisas cairão por terra, muitas coisas desaparecerão em vocês.

Assumam a responsabilidade de sua percepção do mundo. Não apenas a simples percepção na qual nasceram . Em lugar de intentar o movimento de seus pontos de aglutinação a outras áreas do ovo luminoso, se ajustam o seu próprio cinto(!), se cortam o supérfluo em suas vidas, o ponto de aglutinação se deslocará por conta própria sem ajuda de rotinas ou exercícios por parte de vocês. A lâmpada da consciência, brilhará forte quando cortarmos o excesso de bagagem que carregamos (preocupações, autopiedade, etc), brilhará sobre todas as outras possíveis posições do ponto de aglutinação.

A segunda regra para ser um guerreiro é pagar suas dívidas. Um guerreiro é muito generoso. Ele ou ela não olha o mundo em termos do que as outras pessoas lhe devem. O guerreiro olha o mundo em termos de oportunidades para saldar suas dívidas com outras pessoas e assim não estar completamente atado para sempre.

Isto de pagar as dívidas conduz a um afeto imparcial por todas as coisas. Muito do que consideramos afeto é comércio de favores com outras pessoas. O guerreiro, por outro lado, dá afeto sem esperança de devolução. Não que o guerreiro esteja tratando de eliminar o afeto ou ser uma pessoa insensível. O afeto do guerreiro é tão imparcial que se libera das relações de todos os dias. O afeto do guerreiro é tão imparcial que se o guerreiro vai a outra realidade completamente diferente desta, seu afeto estende-se à todos os outros novos seres que existam nessa realidade.

Se alguém realmente nos feriu, isto também necessita ser devolvido. O conceito de pagar as dívidas não é uma idéia sentimental, limitado a corresponder as boas relações. O ponto é liberar-se de todas as relações. Se estão apegados a alguém que os feriu, podem necessitar desligar-se dessa relação devolvendo o dano. Assim não é uma questão moral; é uma via de mão dupla.

O sendeiro do guerreiro é uma escotilha de escape, um lugar onde se pode ir depois de ter desmantelado sua vida diária. Não há lugar para o medo, para a indulgência, pena de si , para a culpa ou a nostalgia quando se está rumando para o desconhecido.

Uma determinação inquebrantável é o único caminho que podem tomar ou lhes acontecerão coisas terríveis uma vez que tenham acumulado suficiente energia (mediante o uso da morte como conselheira para cortar o excesso de bagagem).

Não podem estar meio dispostos ou com apenas parte de sua energia, pois lhes acontecerá coisas piores (antes não tivessem enveredado por esse caminho).

Recuperem a energia usada para sustentar o mundo da vida diária. O mundo da vida diária é um edifício gigantesco, porém apóia-se apenas sobre três pilares:

1 - Como nos apresentamos ao mundo. Como nos encaixamos na estrutura da ordem social. A recapitulação nos permite pensar em tudo isto; como nos encaixamos é um espelho de como os outros nos vêem em suas esperanças e temores. Tudo isto requer ENERGIA. O guerreiro em transformação nota que ele ou ela está de cara com a morte e então percebe que conduta e que intensidade é apropriada sob esta luz.

O segundo pilar é nossa necessidade biológica de encontrar um par e nos reproduzirmos. Somos animais sociais. Os bruxos dizem "deixem que outros o façam". Os bruxos necessitam da energia para parar com a dança social e a necessidade biológica para alcançar a Liberdade. Nós não queremos ser a flor que floresce e morre para propagar a espécie. A segurança da família é uma das mais fortes atrações da ordem social. Existe um tremendo medo a estar só, a morrer só. Os bruxos tem que aprender a estar sós, por longos períodos. Esse é o motivo pelo qual Don Juan sempre nos provou deixando-nos sós, por nossa conta, para ver como manejamos a solidão. Porque temos tanto medo de não ver filmes, não ter amigos? É também muito importante aprender a ter silêncio mental, solidão mental, por longos períodos. O mundo então irá colapsar por si mesmo sem o diálogo interno! Sonhar também é muito solitário, encarando os perigos no mundo dos sonhos sozinhos.

Estamos falando acerca de "parar" esta noite e de ter que usar a solidão. Como mulheres, nós não queremos ser uma solteirona, uma amarga solteirona, com um lunar(?) e costeletas nas bochechas(?). Nós aprendemos essas coisas, a necessidade de ser formosas para apanhar um bom marido e temos fundado a indústria cosmética inteira com nossos medos e preocupações. Na recapitulação temos uma chance para ver isto e buscar alternativas.

O caminho do guerreiro (é não ser apanhado no imperativo biológico de formar um par e na dança social motivada pela solidão) é uma transformação que envolve uma afeto sem limites. Não contar o número de romances que temos ou estar em uma relação e sonhar com alternativas que seriam inclusive melhores para nós. O afeto do guerreiro transcende tanto a ordem social que o guerreiro pode mover-se a outra posição do ponto de aglutinação, inclusive um universo desconhecido, e estar todavia cheio de afeto. Assim não tenham medo de fazer em pedaços esse segundo pilar da realidade diária, pois se o fazem não vão deixar afeto ou sentimento algum.

3 - O terceiro pilar da realidade diária é muito sutil; é a importância pessoal. Nós brincamos a respeito de colar um adesivo(?): "a importância pessoal mata", por que o falso sentido de importância pessoal nos mina, é uma grande causa de suicídio, sem mencionar que nos tira o prazer de viver. Qualquer um manifesta a importância pessoal de uma maneira ou de outra, seja querendo ser o melhor em algo ou querendo se fazer de mártir ou sendo o pior - a síndrome do "usa meus ossos como degraus para tua própria glória". Não substituam a falsa humildade ou a falsa modéstia pelo orgulho de sua importância pessoal.

Uma coisa importante para dar-se conta é que vocês não são mais nem menos importantes que qualquer coisa viva. Para dizer de outra forma, somos como formigas em um formigueiro, levando sua carga especialmente grande e pensando que é a mais importante, a melhor, quando em um momento alguém pode pisar nessas formiga e suas companheiras e todas elas serão iguais em sua morte. Algo vai pisar em todos nós algum dia da mesma maneira. Todos somos iguais e a importância pessoal não é nada, exceto um prêmio da ordem social da realidade diária, como droga destilada dentro de seus cérebros para mantê-los escravos da ordem social. É melhor mudar, tomem sua energia agora mesmo e rumem em direção a Liberdade.

O "seletor"(o espírito) é um simples modelo mecânico de uma agulha apontando em uma certa direção e nós alinhamos nossa configuração energética em uma nova posição do ponto de aglutinação. O seletor faz tudo por vocês se tiverem energia suficiente, traz certas coisas do universo para vocês. Uma vez que tenham restaurado sua energia mediante a recapitulação não há necessidade de cânticos ou rituais especiais para mover o ponto de aglutinação. Para onde, como ou porque o seletor move o ponto de aglutinação nós não sabemos; tudo o que podemos fazer é acompanhar o movimento e atuar impecavelmente sob a pressão do "seletor".

A espreita: Eu e os espreitadores em geral usamos a conduta para mover o ponto de aglutinação, para criar um máximo de dissonância cognitiva. Não se pode eleger para onde mover o ponto quando se está vivendo como espreitador, porque se elegem não vão ter suficiente dissonância cognitiva entre a velha e a nova posição. Este é o motivo pelo qual os guerreiros estão sob tremendas pressões, porque o "seletor"- ou o Espírito - elege difíceis novas posições, que são tão atemorizantes ou diferentes que as vezes o ponto de aglutinação de um guerreiro, quando está sujeito a pressão para mover-se, começa a vibrar no lugar devido; isto se pode ver energeticamente. Se o guerreiro cai em lapsos de diálogo interno sobre o que deve fazer então o ponto de aglutinação acaba voltando a posição usual.

Toma uma tremenda pressão mover o ponto de aglutinação e o que necessitamos é manter a pressão alta; porém deverá ser uma pressão harmoniosa ou poderemos ficar loucos. Uma vez que tenham energia suficiente e intento inflexível o ponto se deslocará muito facilmente e sem problemas, e depois que tenham feito a recapitulação, o ponto de aglutinação se moverá sem que nos demos conta disso.

Eu tive certas tarefas eleitas para mim pelo seletor. Tive que viver completamente como diferentes pessoas. Isto não era apenas atuar durante o dia ou sendo consciente de que estava atuando. Era uma completa imersão em um novo ser, as 24 horas do dia. Torna-se uma nova pessoa.

Deixe-me ser Sheila Waters para vocês (ela pôs uma peruca e lentes). Tenho que usar lentes quando sou Sheila Waters.

Sheila Waters foi apontada para mim pelo seletor (o Espírito ou como queiram chamá-lo). Tive que chegar a ser uma mulher de negócios, obter um MBA, licença legal do Estado, investimentos, manter relações de negócios com empresários, contadores e todo tipo de gente do mundo dos negócios. Tive que fazer muitas coisas, fiz e perdi fortunas. Porque quando estamos nessa posição existe uma natural tendência a buscar o êxito, não fracassar, tão natural é a tendência a fazer montanhas de dinheiro, e não apenas manter ou perder dinheiro. Se alguém não atua impecavelmente é fácil perder dinheiro por não escutar a própria voz interna. Decidi que tinha que possuir uma madeireira muito grande no norte e foi realmente uma grande empresa, perfeita em todos os aspectos, exceto por estar perto de MT. St. Helena e quando o vulcão entrou em erupção tudo perdeu-se.

Outras pessoas (tirou a lente e a peruca): no México estive sob a supervisão de Emilito. Ele foi mais um espectador ou um guardião que um mestre. Não interferia para nada nos cenários que o seletor elegia para mim.

Foi Ricky, a primeira posição eleita para mim, um gringo americano machão, fazendo-se passar por um mexicano. Vesti roupas de homem, passei por homem e tive romances com uma dama e até cheguei a usar banheiros masculinos. Não me peçam para que lhes conte o que tive que fazer para usar banheiros masculinos. Vou relatar em meu próximo livro: "A Espreita e o Duplo".

A segunda posição eleita por mim foi uma mulher ingênua do Texas, sobrinha de umas mulheres mexicanas, que em realidade eram supostamente feiticeiras do grupo de Don Juan. Tinha o cabelo rubro e me encontrava nas esquinas esperando atrair homens à essa condição virginal, pois eu atuava como uma virgem e meu cabelo chamava muito a atenção.

É essencial ser absolutamente fluido. Esse é o ponto de todos os exercícios de não-fazer, assim podemos ser absolutamente fluidos e quando o seletor mover seus pontos de aglutinação terão a disciplina necessária para poder fixa-lo na nova posição.

Não podem agir como cínicos manipuladores da conduta. Tem que ser real para vocês, absolutamente real.

Depois fui uma mendiga louca, sentada nas escadarias das igrejas, atacadas por pulgas e mosquitos o dia inteiro. E mesmo sendo alérgica a picaduras em meu papel de mendiga louca não me cuidava e ninguém me incomodava. Eu era uma mendiga louca e desleixada. Ficava ali todo o tempo, vendo o mundo passar e ninguém me notava.

Para concluir, nada é real, apenas uma manipulação da conduta, apenas um resultado da fixação acidental do ponto de aglutinação no nascimento. Isto é o que os espreitadores aprendem ao serem tantas pessoas diferentes. Cada posição é igualmente real e, portanto, igualmente fantasma Nós apreciamos nossas posições presentes, porém mesmo as mais reais são apenas fantasmas quando se movem o ponto de aglutinação.

Toma anos de recapitulação solapar o sentido da realidade. Ao mesmo tempo tive que substituir a realidade com o caminho do guerreiro para evitar a armadilha do cinismo. Mudar nossa forma de responder, reagir ao mundo dentro da arte da loucura controlada, a delícia do guerreiro.

Se temos energia, todas as coisas que o Espírito põe ao seu redor tornam-se eventos de beleza e força. No mais alto sentido suas vidas tornam-se prenhes da arte de viver.

Recordem que vocês já estão mortos, são fantasmas como qualquer outra coisa. Percam o sentido da importância pessoal. Saibam, mas além da sombra da dúvida, que nada é real.

- - - - - - - - - o - - - - - - - - - - 

Perguntas e respostas (as perguntas eram inaudíveis no jardim):
Depois da recapitulação e do não-fazer, então, poderão Ver.

Mover-se dentro de outra banda (alinhamento) do ovo luminoso é como morrer, porque o brilho da consciência do mundo diário terá ido embora. A consciência estará todavia com vocês, porém estarão percebendo uma realidade diferente. Para a realidade ordinária vocês já encontrar-se-ão mortos.

Existem semelhanças entre as teorias de acupuntura chinesa e as descrições dos bruxos quanto ao corpo energético. Se desenham os principais meridianos, eles formam um ovo igual ao que os bruxos descrevem. Também a teoria chinesa diz que nascemos com uma quantidade limitada de energia intrínseca, a mesma visão dos bruxos.

Também algumas pessoas nascem energeticamente mais poderosas que outras. Por exemplo, se os pais são fortes energeticamente e o bebê é criado com leite materno. Porém não se preocupem se não nasceram com uma especial abundância de energia, se formos cuidadosos com nossa energia teremos tudo o que é preciso. 

Também podem receber sacudidas extras quando movem o ponto de aglutinação. Precisamos apenas ser disciplinados na guarda de nossa energia.

Nietzsche dizia que qualquer coisa que não nos mata me fortalece. Esta é a forma que os bruxos pensam. Por outro lado cuidem-se dos filósofos, pois são famosos loucos auto-indulgentes.

Sobre a recapitulação não há um método, Existe um método, porém não é importante se movem a cabeça num sentido ou no outro ou se estabelecem um tempo regular ou um montão de tempo. O importante é o intento inflexível para recapitular, depois o Espírito os guiará dentro da forma correta tanto com relação a forma correra quanto ao tempo ou a quantidade de práticas. Com o intento o tempo se estabelece por si mesmo. Quando tenham o intento correto vão ter 27 gerações de bruxos por trás de vocês.

1 - Intentem.

2 - Façam com integridade. Não se vangloriem ou comparem-se com outros . A competição é a pior coisa do mundo. É o suporte primário para terceiro pilar da realidade diária, o sentido de autoimportância pessoal.

3 - Disciplina, ordem, harmonia. Não deixem tudo à sorte, ao menos intentem. A maioria das pessoas faz uma lista e seguem atrás.

Respirem. A direção não é importante, o importante é usar a recapitulação para trazer a energia.

Uma carta enviada a Carlos Castaneda dizia: Recapitulei durante a noite, posso unir-me a seu grupo agora?

A recapitulação toma toda uma vida. Não se faz em uma noite.

domingo, 7 de janeiro de 2024

A reencarnação é uma escravidão?



Eu tenho muitos amigos espíritas e nesse texto há uma série de questões incômodas, inclusive a ideia de que a reencarnação é uma forma escravidão. E se for? Faz anos que abordamos este tipo de questão aqui no blog e que é o tipo de questão que nos leva a questionar com uma certa lógica paradigmas muito bem estabelecidos e pouco colocados em xeque. Segue o texto, a fonte é citada ao final. Nem é preciso dizer que tudo aqui deve ser visto como elementos de reflexão e não como verdade absoluta, mas está dito ;-).

A reencarnação é uma escravidão

Roda do Samsara – O ciclo de nascimento e morte

Já alguma vez te perguntaste porque reencarnamos?

Porque é que temos vidas tão curtas e, na maioria das vezes, os únicos caminhos espirituais são oferecidos apenas por religiões ou professores muito duvidosos?

Ou porque essas religiões são construídas sobre estruturas hierárquicas?

Já te perguntaste porque há tanta maldade no mundo?

E porque que essas pessoas más, tornam-se os líderes dos homens?

E a grande pergunta sobre a reencarnação:

Porque não nos lembramos das nossas vidas passadas?

Como podemos resolver a nossa vida passada, se nem sequer nos lembramos dela?

Vivemos as nossas vidas, sendo perseguidos pelas nossas vidas passadas e, no entanto, não podemos vê-las.

Carregamos os hábitos residuais e características dos nossos antigos Eus, no entanto, não temos a mínima ideia de onde vieram. Na maioria das vezes, não temos ideia de como eles nos afetam no presente.

Portanto, como podemos resolver os nossos problemas do passado?

Especialmente  porque nos afetam, mesmo nesta vida?

Qual foi a pessoa religiosa ou professor espiritual, ou canalizador ou iogue que já respondeu a esta pergunta de forma satisfatória:

Porque não nos lembramos das nossas vidas passadas?

A resposta pode ser assustadora.

Está escrito nos textos védicos e purânicos, que a humanidade viveu longos períodos de vida durante a era dourada. Eles passavam a vida em meditação profunda e estavam em equilíbrio e harmonia com a Mãe Natureza. Então, algo aconteceu.

Nas lendas, mitos e textos antigos, descreve-se a queda do homem.

“O homem é perfeito em sua origem, um ser divino que se degenerou naquilo que somos.” A. Schwaller de Lubicz (O Milagre Egípcio)

” … O homem primitivo era o modelo mais verdadeiro e representante do homem e, todo o progresso humano desde então, embora ascendente em algumas coisas, tem estado em grande parte em incessante deterioração … Todo o mundo que veio a seguir depois do homem primitivo, honrou e até mesmo adorou os seus primeiros pais como próprios deuses de luz, conhecimento e grandeza”. Joseph A. Seiss (Evangelho nas estrelas)

“Em seguida, ela acrescentou uma profecia na qual previu o fim da Era Divina e o início de um nova, em que os Verões seriam sem flores, as vacas dariam menos leite e as mulheres seriam desenvergonhadas e os homens sem forças, uma Era onde as árvores não teriam frutos e os mares sem peixes, quando os idosos dariam falsos conselhos e os legisladores fariam leis injustas, quando os guerreiros se trairiam uns aos outros e os homens seriam ladrões e não haveria mais virtude no mundo”. (profecia de Badb, Rainha Guerreira da Irlanda ) 

Então, o que causou essa “queda”?

Podemos ver que em um determinado momento, os deuses vieram do céu  e, os seres humanos aprenderam a agricultura e a pecuária, que é a escravidão dos animais. Com esse conhecimento, vieram as cidades, os reis, os sistemas hierárquicos de controlo, os exércitos, a guerra, escravidão e a adoração e sacrifícios dos deuses.

Esta foi a queda do homem. A humanidade saiu do equilíbrio e harmonia com a Mãe Natureza e, assim, começou a perder a virtude.

Então, quem eram esses deuses que vieram e deram este conhecimento a humanidade? De onde vieram? Eles não são da Terra. Eles vieram para escravizar a humanidade, para exigir sacrifícios de carne e osso, inclusive sacrifícios humanos.

Eles exigiram que fossem adorados. E, como lemos no Antigo Testamento, Jeová destruía raças inteiras, ou ordenava que o seu “povo escolhido” destruísse por ele.

Os gnósticos chamavam esses deuses de Arcontes.

Don Juan chamou-lhes de Predadores …

Esses deuses têm se alimentado da humanidade há milhares de anos …

Eles nos consideram seu rebanho, assim como consideramos os animais da fazenda. Como acima, assim abaixo. Eles alimentam-se das nossas emoções e energias negativas e alimentam-se da nossa adoração a eles. Eles gostam especialmente de sangue e sofrimento, então criam conflitos, violência e guerras entre os homens.

Observe que a maioria das guerras foram entre religiões…

Mas também nos controlam através das religiões, ideologias, governos, sociedades, propaganda a imprensa, etc.

Outra maneira de nos controlar é através da reencarnação.

A reencarnação é uma forma de escravidão. 

Após a queda, a duração de vida do homem foi drasticamente reduzida. Antes da era atual, os homens apenas viviam uma vida média curta, de 25 a 40 anos. Isso não é tempo suficiente para descobrir o que é a vida, especialmente se tudo o que recebiam era as religiões dos deuses.

Tinham que trabalhar o dia todo, criar as suas famílias e em seguida morriam.

E depois surge a pergunta, porque não nos lembramos das nossas vidas passadas.

Nascemos constantemente na ignorância e o único conhecimento disponível, era o que os "deuses" nos deram – religiões e ideologias. Depois de poucos anos, morremos na ignorância e, em seguida, voltamos de novo. Isso mantém o rebanho em ordem.

Sem qualquer recordação, estamos presos na ignorância, sem as ferramentas adequadas para nos libertarmos. Ocasionalmente, algumas grandes almas foram capazes de se libertar, mas os sacerdotes tomaram o controlo dos seus ensinamentos. Eles os deturparam e os transformaram em religiões.

Vivemos numa matriz, onde uma construção artificial de luz foi sobreposta sobre o mundo real.

Assim como no filme, Matrix, somos simplesmente baterias que alimentam os "deuses". Esta é a nossa situação, onde nascemos e morremos numa matriz e somos alimento para entidades "malignas". E claro, eles têm os seus lacaios aqui na Terra que mantêm o rebanho em linha.

Portanto, a próxima pergunta é:

O que acontece quando morremos?

Quando morremos, entramos na matriz cósmica, uma outra construção de luz falsa que chamamos de céu.

As nossas almas estão presas nesta prisão dos "deuses". Depois de passarmos algum tempo no falso céu, voltamos novamente no mesmo ciclo. Isso é chamado a roda de samsara, o ciclo de nascimento e morte.

A única saída desta prisão é despertar para quem realmente somos.

Abandonar todas as falsas crenças, deuses, anjos, gurus, etc. e, parar de alimentar esses falsos deuses com a nossa adoração, com o nosso sangue, com as nossas emoções e pensamentos negativos e, abandonar todo o jogo.

“Para ver o universo como ele é, deves avançar um passo para além da rede. Não é difícil fazê-lo, porque a rede está cheia de buracos. Observe a rede e as suas inúmeras contradições. Tu o fazes e o desfazes a cada passo. Tu queres paz, amor e felicidade e, trabalhas duro para criar dor, ódio e guerra. Desejas longevidade e comes em excesso. Desejas ter amigos e os exploras. Veja a sua rede feita de tais contradições e remove-as – a sua própria visão fará com que desapareçam” - Nisargadatta Maharaj.

Veja a Matriz por aquilo que é. Parece todo-poderosa, sem qualquer via de fuga, mas ela está cheia de buracos.

Se tiveres uma mente aberta, discernimento e os olhos para ver, todo este jogo não é nada mais do que um castelo de cartas. Através de perguntas simples, pude dar muitos exemplos de como toda essa matriz está caindo aos pedaços.

A pergunta é,

Vais acordar, ou  vais permitir ser arrastado na rede, para continuares na roda de nascimento e morte?

Imagine o quão sortudo és de teres tido contacto com as chaves para escapar desta prisão.

Podes ver o quão confuso podem ser todas as religiões, as filosofias New Age, os falsos professores e ensinamentos?

Vejo que existem alguns grandes mestres que brilham acima de toda essa confusão. Aprenda deles o que puderes, mas prepare o seu próprio caminho em direção ao seu Ser interior.

Liberte-se da prisão.

Fonte:

Reincarnation Is Enslavement by Greg Calise / https://gracianoconstantino.com/2016/04/15/a-reencarnacao-e-uma-escravidao/

Sabemos, realmente, que somos mortais?


Sabemos, realmente, que somos mortais?

O fato da morte, da dissolução ao final desta existência nos coloca em um ponto completamente diferente de todos os caminhos tidos por espiritualistas e esotéricos hoje em moda.

"Espreitamos a nós mesmos como seres mortais ou imortais?"

A diferença do enfoque desta espreita é determinante em nossas posturas existenciais.

Conversando com muitas pessoas em situações diversas noto muitas delas alegando que trabalham com os paradigmas toltecas, mas neste ponto da continuidade da existência tentam sempre elocubrar, tergiversar, enfim, há sempre um "medo" de encarar a morte como o evento que dissolve nossa existência individual.

Concordo contigo na reação a esse fato, há um "sobressalto" inicial, por vezes assustador, mas logo depois vem a certeza que tudo que temos é esse "aqui e agora".

É tão profundo este jeito de viver, de se relacionar com o mundo, cada instante, cada momento, pode ser o momento final, pode ser o ponto final em nosso discurso existencial, assim, para alguém que lida com esta abordagem do caminho, não há dúvida que cada instante é tudo que temos e a qualidade de nossa vida em cada momento determina se estamos fluindo pelo Mar Escuro da Consciência ou continuamos na condição de navegantes num rodamoinho artificial, que nos leva para o fundo tendo a ilusão que estamos indo para algum lugar.

Está demonstrado que a energia disciplinada e focada é "ruim" para os predadores, eles não apreciam esse estilo de comportamento, assim agir com foco e disciplina é impregnar nossa energia pessoal de um "gosto" que não agrada os predadores.

Quando nos conscientizamos que só há o aqui e agora, tudo muda.

Descobrimos que não podemos perder tempo, não podemos nos manter num caminho sem coração, pode não haver um amanhã ou um "depois" para dizermos a quem amamos, o tanto que amamos, para fazer em cada momento de nossas vidas o que queremos e não o que querem por nós.

Precisamos olhar a nossa realidade circundante e corajosamente questionar : estou num caminho com coração?

É aqui que gostaria de estar?

Se houver um não como resposta a questão é: por que não mudamos já?

Ou estamos esperando papai do céu?

É radical, é revolucionária a proposta de vida daí resultante.

Sem dúvida alguma é a plena compreensão desta abordagem que nos dá a força e a integridade para fazermos de cada ato um gesto para o infinito, um gesto para a Eternidade.

É muito bom enfatizar isso pois tem pessoas que se aproximam das propostas Toltecas achando que estão em alguma religião que se "seguirmos os preceitos" encontraremos alguma "recompensa", "reinos do céu", " prêmios sagrados".

Total ilusão.

Um trabalho de vida inteira pode resultar em nada, pode levar a lugar nenhum.

É interessante compreender que pode haver um sobrevivência de personalidade após a morte física.

Temos muitos casos em várias tradições de seres que continuam a se comunicar após a morte, mas o que o caminho Tolteca coloca é que nestes casos temos "filamentos" sobrevivendo, os mesmos filamentos que voltam para a Eternidade um dia, os mesmos filamentos que vão e voltam, "encarnado" em outros seres e confundidos com "minha vida anterior" pelas práticas reencarnacionistas.

O conjunto de fibras que "animamos" durante a vida pode se cristalizar, há cristalizações de vários tipos, este ser pode sobreviver se, por diversos caminhos, tivermos criados um corpo de energia, vai sobreviver ainda mais tempo se certas medidas forem tomadas, vejam o trabalho dos ancestrais em mumificar o corpo ou agir de formas outras para garantir que o corpo dure por muito tempo.

Mas todas estas práticas apenas geram uma sobrevida, não a pretensa imortalidade.

No Fogo Interior D. Juan Matus revela uma linhagem de desafiadores da morte que enterraram seus corpos físicos em certos locais do México, o problema dessas práticas é que levam a um estado de continuidade, mas não de liberdade.

A sutileza do Caminho Tolteca, revolucionariamente ele não apenas trabalha as questões dos(as) desafiadores(as) da morte mas foi além, descobriu esta possibilidade, essa chance que temos de ter chance de reivindicar o "presente da águia", podermos entrar noutra condição de atenção, noutra condição de realidade que não é nem a primeira atenção, esta que nos circunda, nem a segunda atenção, que abrange mundos outros que não este, mas um estado misterioso, chamado de terceira atenção, onde, após morrermos e abandonarmos esta primeira e segunda atenção, após devolvermos a consciência que nos foi "emprestada" para a desenvolvermos com nossas experiências, podemos reivindicar, se tivermos energia e intento para isso, um estado existencial distinto.

Mas tudo isto são possibilidades, algo que "pode" acontecer, para o qual não temos nenhuma certeza.

Por isso, a meu ver, o (a) praticante do caminho Tolteca, intenta estes objetivos com sua mais profunda percepção e isto reflete na VIDA.

Para meu entender, praticar as propostas do Caminho Tolteca é um ato de cada instante, de cada momento, cada mínimo ato é um profundo desafio.

Ler este mail, a postura que estamos, nosso cocar colocado, nossa sintonia, atos simples como lavar um copo, andar, estar onde estamos, tudo isto é tido como um desafio, como um trabalho para ampliar a consciência e nos afastar da condição robotizante que é a " normal" e nos despertar para as tremendas possibilidades ao nosso alcance.

Fomos condicionados a agir como máquinas, em vários setores de nossas vidas, estar aqui e agora, pleno, isto muda tudo, se nos conscientizamos que a vida é única, que esta vida é tudo que temos de fato, que este momento é nosso único e efêmero instante, tudo muda, nossa qualidade de existência se transforma para outros valores e podemos ousar deixar de sermos robôs e entrarmos na condição distinta de seres vivos, auto-conscientes.

Estou numa empresa que dou consultoria em São Paulo. Fico observando como as pessoas são sugadas na cidade grande para estarem mais robotizadas, fora dos ciclos da natureza.

Agora enquanto escrevia este mail fui até a linha de produção passar para eles uns exercícios físicos de alongamento, destinado a evitar LER (lesões por efeitos repetitivos).

Fiquei observando como as pessoas fazem as coisas automaticamente, nestes momentos que paramos para estes exercícios há uma mudança do "automatismo", por alguns instantes elas estão ali mais presentes, o sorriso, os comentários, é incrível observar como a energia muda por alguns instantes.

Mas alguns instantes depois já voltam a uma participação mais "dormente".

E nós?

Como estamos?

O dia todo, cada instante é um desafio ou temos "momentos" e depois permitimos que os "problemas" do dia a dia, nossas atividades outras nos consumam e nos adormeçam?

O desafio do (a) praticante de caminhos como o Tolteca é justamente ir além do automatismo, é despertar de fato para nossas potencialidades interiores.

Só aí temos vida, antes temos sobrevivência.

É muito interessante observar isso.

Não fomos "criados" para este estado, não é nosso destino "evoluirmos" para esta condição.

Não é um “caminho" espiritual.

O Caminho Tolteca é uma descoberta, resultado do estudo, da observação, dos erros e acertos de gerações incontáveis de homens e mulheres.

É muito trabalhoso porque não é "natural", é um caminho de desafios constantes e crescentes.

É muito importante entender isso, o Caminho Tolteca não é uma "revelação".

Se estudamos com cuidado vamos notar que no começo o caminho Tolteca ajudou a induzir muito erros, vejam os ancestrais desafiantes da morte, as armadilhas sutis que caíram.

Notem por exemplo quantos praticantes caíram no mundo dos seres inorgânicos, os desafios iniciais quando julgavam que a segunda atenção era um mundo "espiritual", "superior", como tantos caminhos ainda hoje julgam ser, enfim, tais equívocos só foram superados pela prática e observação de incontáveis gerações.

E é interessante observar que muitas práticas que são apresentadas como Xamanismo hoje, são abordagens dentro desses paradigmas ancestrais.

Os (as) Toltecas não foram apenas um povo no sentido étnico. A comunidade xamanística Tolteca foi um estado de consciência, atuando em vários pontos de uma vasta região.

Eventos intensos foram forçando mudanças perceptivas quanto a realidade.

Foram momentos duros, como a invasão e subjugação, primeiro pelos povos nativos mesmo, como Astecas e outros, depois pelos conquistadores europeus que levaram o Caminho Tolteca a afastar-se de tudo que era mera fantasia e buscar um pragmatismo cada vez maior e efetivo.

Dentro de sua tribo os(as) Toltecas eram capazes de manipular o ponto de aglutinação de todas as pessoas que estavam ali, mas quando chegaram os invasores tudo mudou, poderosos(as) xamãs morrendo como moscas.

Os(as) sobreviventes foram então avaliar, avaliar como eles sobreviveram e os outros não, como seus " aliados" os ajudaram e aos outros não e então muita coisa mudou, pois começaram a perceber que a questão chave estava no "poder pessoal".

Hoje somos herdeiros desse caminho, os novíssimos videntes.

Os antigos videntes, adeptos de práticas que valorizavam mais os fenômenos e o contato com a segunda atenção como se ela fosse um mundo "espiritual" e tal, evoluiu para o caminho dos novos videntes, quando sob ataque de grupos diversos os herdeiros e herdeiras do Caminho foram se aprofundando em práticas mais profundas e de efeitos pragmáticos e hoje, graças a ação implacável do Nagual de 3 pontas, podemos partilhar deste milenar saber e arriscarmos nossa chance de continuar a aventura que nos é proposta, a chance de termos chance.

Cá estamos, praticantes deste desafio intentando esse sonho fugidio.

Nuvem que Passa
 Qui Jul 4, 2002 10:17 am

Homenagem à Morte com Mantra



sábado, 6 de janeiro de 2024

A morte como companheira: sabedoria saturnal.



Sobre a brevidade da vida /Autor: Sêneca 
Tradução: William Li

3 – 1: Todos os espíritos que alguma vez brilharam consentirão neste único ponto: jamais se cansarão de se espantar com a cegueira das mentes humanas. 

Não se suporta que as propriedades sejam invadidas por ninguém, e, se houver uma pequena discórdia quanto à medida de seus limites, os homens recorrem a pedras e armas; no entanto, permitem que outros se intrometam em suas vidas, a ponto de eles próprios induzirem seus futuros possessores; não se encontra ninguém que queira dividir seu dinheiro, mas a vida, entre quantos cada um a distribui! São avaros em preservar seu patrimônio, enquanto, quando se trata de desperdiçar o tempo, são muito pródigos com relação à única coisa em que a avareza é justificada. 

Por isso, agrada-me interrogar um qualquer, dentre a multidão dos mais velhos: “Vemos que chegaste ao fim da vida, contas já cem ou mais anos. Vamos! Faz o cômputo de tua existência. Calcula quanto deste tempo credor, amante, superior ou cliente, te subtraiu e quanto ainda as querelas conjugais, as reprimendas aos escravos, as atarefadas perambulações pela cidade; acrescenta as doenças que nós próprios nos causamos e também todo o tempo perdido: verás que tens menos anos de vida do que contas. 

Faz um esforço de memória: quando tiveste uma resolução seguida?

 Quão poucas vezes um dia qualquer decorreu como planejaras! 

Quando empregaste teu tempo contigo mesmo? 

Quando mantiveste a aparência imperturbável, o ânimo intrépido?

 Quantas obras fizeste para ti próprio? 

Quantos não terão esbanjado tua vida, sem que percebesses o que estavas perdendo; o quanto de tua vida não subtraíram sofrimentos desnecessários, tolos contentamentos, ávidas paixões, inúteis conversações, e quão pouco não te restou do que era teu! 

Compreendes que morres prematuramente. Qual é pois o motivo?

 Vivestes como se fósseis viver para sempre, nunca vos ocorreu que sois frágeis, não notais quanto tempo já passou; vós o perdeis, como se ele fosse farto e abundante, ao passo que aquele mesmo dia que é dado ao serviço de outro homem ou outra coisa seja o último.

Como mortais, vos aterrorizais de tudo, mas desejais tudo como se fôsseis imortais.

Ouvirás muitos dizerem: “Aos cinquenta anos me refugiarei no ócio, aos sessenta estarei livre de meus encargos.” 

E que fiador tens de uma vida tão longa? 

E quem garantirá que tudo irá conforme planejas? 

Não te envergonhas de reservar para ti apenas as sobras da vida e destinar à meditação somente a idade que já não serve mais para nada? 

Quão tarde começas a viver, quando já é hora de deixar de fazê-lo. Que negligência tão louca a dos mortais, de adiar para o quinquagésimo ou sexagésimo ano os prudentes juízos, e a partir deste ponto, ao qual poucos chegaram, querer começar a viver! 

sexta-feira, 5 de janeiro de 2024

2024: Saturno, o minimalista existencial.

Começou 2024, do ponto de vista das calendas temos um ano novo fiscal. A Zumbilândia comemorou com fogos e explosões a virada da folhinha para reiniciar tudo como dantes no quartel de Abrantes.

Mas, do ponto de vista astrológico, o ano só começa mesmo no dia 20 de março - o ponto vernal - , quando temos o primeiríssimo grau de Áries na roda zodiacal e o Equinócio de Outono aqui no hemisfério sul. Assim, por enquanto, estamos sob a influência não de Saturno, mas da Lua, regente de 2023.

2024 é o ano de Saturno, mas na verdade desde 2017 estamos num ciclo de 36 anos que é regido por Ele, segundo a tradição que vem dos caldeus, então estaremos agora com a energia de Saturno ao quadrado.

Saturno tem, indevidamente, má fama e era chamado pelos antigos de grande maléfico, quando na verdade o grande maléfico é a ignorância não reconhecida. Façamos, pois, justiça à Saturno (para os romanos) ou Cronos (para os gregos).

Precisamos esclarecer esse mal entendido olhando para o mito de Saturno - ♄. Saturno ficou conhecido por devorar os seus filhos (talvez daí venha a sua má fama como grande maléfico ou talvez seja pelo fato de ter cortado os bagos do pai Urano) já que não queria perder o poder para a próxima geração. Isso é um padrão dos donos do poder de todos os tempos e lugares, o apego ao próprio poder. 

Curiosamente, sem ter a consciência de que o desapego é em si mesmo um poder, o poder de libertar-se do passado e não ficar escravo às coisas. Assim os donos do poder na verdade são possuídos pelo próprio poder e tornam-se escravos. Por isso no Xamanismo Guerreiro o poder é tido como o terceiro inimigo¹ do homem de conhecimento. Não é possível avançar no caminho quando caímos na armadilha do (apego ao) poder.

E aqui vemos um outro lado de Saturno, pois a energia saturnal, segue, como qualquer outra energia, o princípio da polaridade em Magia, princípio oriundo da tradição hermética. Assim a energia de Saturno contém em si essa dualidade: o apego e o desapego, o querer reter e o let go. Certamente quando mais nos apegamos a uma situação que deve ir mais nós sofremos e se compreendemos a necessidade de deixar ir nos abrimos ao novo. Eis uma lição saturnal. Deixar ir, deixar fluir o rio do tempo. Tempo que é uma das palavras chaves de Saturno ou Cronos, senhor do rio do tempo. O tempo que se vai, e se esvai, anuncia um novo tempo na ampulheta de Saturno. Ainda assim algo permanece, são as areias do tempo.

Quem decide sobre a polarização dessa energia, obviamente, somos nós quando estamos conscientes e atentos ao que se passa e ao que logo se passará. O momento do Trabalho é aqui e agora, assim podemos no fundir voluntariamente com Saturno é nos tornarmos senhores de nosso tempo, do que fazemos com ele, de como o aproveitamos, pois Saturno, polarizado positivamente, é a consciência do tempo, do aqui e do agora, nos abrindo a possibilidade para um tempo além do tempo e que toca a eternidade, o eterno agora. Ou usamos o nosso tempo com sabedoria ou seremos devorados pelo tempo.

Para vencer o tempo precisamos de sabedoria (Quíron, filho de Saturno com uma ninfa), foi o que fez Reia diante de Saturno. Cansada de entregar seus filhos para serem devorados ela ludibriou Cronos ao entregar-lhe uma pedra envolvida em panos, um simulacro. Os donos do poder em geral estão tão cientes de si e de seu poder (por ser acharem os "fodões") que acabam por negligenciar suas tarefas e se deixam envolver por artimanhas. O ego acaba por cegar deuses e homens. Ora, em termos simbólicos, os xamãs guerreiros fazem o mesmo que Reia, entregam ao "Senhor do Tempo", a Águia, uma imitação daquilo que ela deseja: memórias, arquivos existenciais, experiência de vida através da técnica da recapitulação, eis o poder da recapitulação. Dessa forma eles retém para si a energia vital e ludibriam a Águia, numa manobra de espreita suprema. Nos mitos há muito ensinamento oculto.

Por isso já dizia Paracelso, grande astrólogo e alquimista:

"O homem sábio domina os astros, as estrelas não obrigam aquilo que não desejamos. Se alguém tem mais do que o outro não é por causa das estrelas, mas porque tem mais aptidão, e aptidão é coisa do espírito. A alma humana é feita dos mesmos elementos das estrelas. Deus guia as estrelas, a razão guia os homens. As influências planetárias estão em toda a Natureza: assim como o homem atrai as qualidades venenosas da Lua, a Lua também atrai as más influências do homem e as distribui com seus raios". 

Compreendido que Saturno não é benéfico ou maléfico, entendido que a energia é regida pelo princípio da polaridade, cabe a nós através do agir conscientemente usar, manipular e aproveitar essa energia de forma estratégica.

Contudo não podemos negar o fato que a maioria da humanidade opera em modo zumbi. A Zumbilândia tem motivos para temer Saturno, não por causa da energia em si, mas justamente por causa do estado de inconsciência próprio dos zumbis. Na verdade o estado de zumbi é temível em si mesmo, pois a zumbilândia é incapaz de aproveitar adequadamente qualquer coisa ou situação. A negatividade que permeia a nossa sociedade e a nossa cultura é gigantesca e tem gerado um stress que leva a um colapso global, no qual a possibilidade de uma terceira guerra mundial com formato de cogumelo atômico se faz cada vez maior.

Por isso o ano de Saturno (ao quadrado), 2024, é preocupante e ao mesmo tempo interessante como objeto de estudo, pois padrões astrais e celestes que se repetiram no passado e influenciaram certas situações estão de novo reaparecendo. Ciclos que se repetem, mas que não são exatamente iguais.

Só que nessa história toda há um detalhe, para o Brasil e, portanto, para os brasileiros a regência de Saturno será tripla, pois quando o Sol estiver a zero graus de Áries no dia 20 de março do corrente, pelo horário de Brasília, no céu do Brasil estará ascendendo o signo de Capricórnio que tem como regente ele mesmo: Cronos-Saturno. O influxo energético de Saturno amplificado vai tornar todas as questões relativas à Saturno muito mais significativas no Brasil.

O tipo de pergunta que devemos nos fazer diante da foice saturnina, diante da energia saturnal que chega amplificada é: o que é supérfluo, dispensável, inútil que preciso cortar de minha vida? Que padrões de comportamento não são mais necessários pois são drenantes de minha energia, de meu poder pessoal e que não estão alinhados com um propósito maior? Quais são os meus apegos que me impedem de fluir no rio do tempo? Saturno nos coloca diante do segundo princípio da arte da espreita: eliminar o supérfluo de nossas vidas. Saturno é um minimalista existencial.

A abordagem que fazemos aqui é mais de uma vertente moderna da Astrologia. Uma abordagem mais tradicional já falaria das cabeças que rolarão para aqueles que pisaram muito na bola e que ocupam postos de poder. Deve ter muita gente que ocupa posições de poder na atualidade na lista negra de Saturno, com certeza.  Quem viver, verá. E é a Astrologia tradicional que encara Saturno como o grande maléfico e Marte (nosso "queridinho" para quem trilha o caminho do guerreiro) como o pequeno maléfico. Para nós cabe aqui o princípio da polaridade, pois em nossa visão a Astrologia é tributária da Tradição Hermética na medida em que se baseia no princípio da correspondência de Hermes Trismegisto, não sendo apropriado definir uma energia planetária como boa ou ruim em si mesma. A mesma visão encontramos, por exemplo, na Umbanda tradicional, no qual Omulu-Abaluaiê, é visto como temível e maléfico. Ora, Omulu na Umbanda tem grandes afinidades com Saturno. Tal Orixá em si mesmo não é bom ou mau, é uma energia cósmica neutra que opera através de determinadas fontes naturais de nosso planeta ou nos locais nos quais seus "agentes" atuam. 

A energia de Saturno se conecta com a energia de Omulu, com a energia de Nanã e de todas as falanges que atuam na chamada calunga pequena (cemitério). No próximo ciclo astrológico, portanto, todas essas falanges estarão operando com grande força, em especial no Brasil. São falanges de natureza severa, protetoras além da conta, mas severas. Não são raras as histórias de médiuns que operavam com tais falanges e que por pisarem na bola foram abrupta e rapidamente desencarnados. Um caso conhecido é do famoso médium Zé Arigó, que trabalhava com o chamado Dr. Fritz, um agente espiritual que trabalha dentro da energia de Omulu.

É uma energia disciplinadora e se é verdade que só a disciplina salva então pode-se dizer que só Saturno salva ;-)

Se formos associar Saturno com o Tarot deveremos ressaltar pelo menos três arcanos: a Morte, o Julgamento e o Eremita.

A palavra corte é uma palavra chave para a força saturnina, não é à toa que o mito liga-se com a foice, é com ela que Saturno suplanta seu pai, Urano. Associa-se assim com cortar o mal, eliminar o supérfluo, operar (cirurgicamente), sanar, curar, desencarnar e com a sábia conselheira do guerreiro(a): a morte. Ora, é preciso que o velho morra para que o novo surja. Assim a força saturnina além de ligar-se aos Orixás Omulu e Nanã, também vincula-se a um dos deuses da trimurti hindu: Shiva, o destruidor. Dessa forma o ano promete ser um ano de colheita e também de separação do joio e do trigo.





Notas

¹ "O poder é o mais forte de todos os inimigos. E naturalmente a coisa mais fácil é ceder; afinal de contas, o homem é realmente invencível. Ele comanda; começa correndo riscos calculados e termina estabelecendo regras, porque é um senhor. "Um homem nesse estágio quase nem nota seu terceiro inimigo se aproximando. E, de repente, sem saber, certamente terá perdido a batalha. Seu inimigo o terá transformado num ser cruel e caprichoso.
- E ele perderá o poder?
- Não, ele nunca perderá sua clareza nem seu poder.
- Então o que o distinguirá de um homem de conhecimento?
- Um homem que é derrotado pelo poder morre sem saber manejá-lo. O poder é apenas uma carga em seu destino. Um homem desses não tem domínio sobre si, e não sabe quando ou como usar seu poder - A Erva do Diabo ou Os Ensinamentos de Don Juan Matus.

terça-feira, 2 de janeiro de 2024

Conto das Areias, uma lição saturnal (por 2024).


Um rio borbulhante chegou a um deserto e constatou que não poderia cruzá-lo. A água estava desaparecendo, cada vez mais depressa na areia fina. Disse o Rio em voz alta: 

- O meu destino é cruzar este deserto, mas não vejo como. 

Respondeu a voz do Deserto, na língua secreta da Natureza, dizendo:

- O vento cruza o deserto, e você pode fazer o mesmo. 

- Mas todas as vezes que tento fazê-lo, sou absorvido pela areia; e ainda que me precipite no deserto, só consigo percorrer uma distância pequena. 

- O vento não se precipita na areia do deserto. 

- Mas o vento sabe voar, e eu não sei. 

- Você está pensando de maneira errada: tentar voar pelos próprios meios é absurdo. Permita ao vento que ele o carregue por sobre a areia. 

- Mas como pode ser uma coisa dessas? 

- Deixe que o vento o absorva. 

- O Rio protestou, dizendo que não queria perder a individualidade daquela maneira. Se consentisse nisso, poderia não tornar a existir.

Essa, disse a Areia, era uma forma de lógica que não se coadunava de maneira alguma com a realidade. Quando absorvia umidade, e o Vento Transportava-o por sobre o deserto e, depois, deixava-o cair de novo em forma de chuva. 

E a chuva voltava a ser um rio. 

- Mas - perguntou o Rio - , como poderei saber se isso é verdade?

-É verdade, sim, e você precisa acreditar pois, do contrário, será simplesmente tragado pelas areias para formar, depois de vários milhões de anos, um pântano. 

- Mas, se as coisas são assim, serei o mesmo rio que sou agora?

- Seja como for, você não poderá continuar sendo o mesmo rio que é agora. Você não tem escolha, embora pareça tê-la. O vento carregará sua essência, sua melhor parte. Quando tornar a ser um rio, nas montanhas que moram além das areias, os homens talvez lhe dêem um nome diferente; mas você mesmo, essencialmente, saberá que continua a ser o mesmo. Atualmente, você se chama rio tal e tal só porque não sabe em que parte dele reside a sua essência. 

E, assim, o Rio cruzou o deserto erguido nos braços do Vento bem-vindo, que o levantou com vagar e cuidado e, a seguir, o deixou cair, com delicada firmeza, sobre as montanhas de uma terra distante. 

- Agora - disse o Rio - aprendi minha verdadeira identidade. 

Mas ocorreu-lhe uma pergunta, que borborejou enquanto deslizava célere: 

-Por que não pude chegar, sozinho, a essa conclusão? Por que foi preciso que as areias pensassem por mim? Que teria acontecido se eu não tivesse prestado atenção? 

Súbito, uma vozinha falou ao Rio. Provinha de um grão de Areia. 

Só as Areias o sabem, porque viram acontecer; além disso, estendem-se do rio à montanha. Formaram o elo, e têm sua função a cumprir, como tudo o mais. O modo como o rio da vida terá de comportar-se em sua jornada está escrito nas Areias.


Conto sufi, sem autoria.


Bruxaria, Magia e Xamanismo - parte 2 - por Nuvem que Passa

Vivemos em uma civilização globalizada. O fato é que hoje, em termos de mundo, estamos integrados de uma forma muito intensa. Se algo aconte...