Um dos pontos que temos de rever quando vamos estudar em profundidade o que se esconde por trás dos conceitos de Xamanismo, Magia e Bruxaria é nosso próprio paradigma de historicidade.
Temos uma educação formal que nos provê ‘verdades’ prontas, que insinuam uma visão da História dentro de paradigmas que cada vez mais se provam não serem verdadeiros, que representam apenas a força dominante dos vencedores, que constroem sua versão dos fatos e condenam os derrotados a desaparecerem da própria História, provocando-lhes não só a morte e a destruição enquanto seres vivos, mas também apagando todas informações sobre estes deserdados da história.
A civilização que domina o mundo hoje, com seus juízos impostos pela bolsa de valores, com corporações atuando como novos senhores feudais a determinar os princípios sobre os quais devemos viver, com as religiões de massa, ao lado da mídia, em uma luta para impor padrões quanto ao pensar e agir da humanidade, isto é resultado de um processo histórico complexo, no qual grupos diversos atuaram conscientemente para não apenas vencer outros grupos, mas para estabelecer um domínio, quer escravizando em corpo ou alma, pela força das armas ou das religiões dogmáticas, quer matando grupos étnicos inteiros seguindo da destruição de todos os dados culturais desses povos.
Temos uma espécie de neodarwinismo social que nos obriga a crer que esta civilização, pelo fato de ter alcançado um surpreendente desenvolvimento tecnológico é o pináculo da evolução social humana.
Estamos presos de tal forma a estes paradigmas que pouco percebemos como várias das obras que se referem a Magia, a Bruxaria e ao Xamanismo o fazem descaracterizando tais artes, tais tradições de seus contextos, tentando ‘explicar’ ou ‘demonstrar’ que tais caminhos são ‘evoluídos’, caindo na armadilha de usar os critérios do dominador como instrumento de avaliação. O Xamanismo, a Magia e a Bruxaria tem seus próprios critérios cognitivos, são campos complexos em si mesmos.
Podemos fazer uma analogia com o que ocorre na Acupuntura. Ela funciona e muito bem. E a ciência ocidental tenta explicar que tal nódulo nervoso, ativado pela agulha faz isso e aquilo, mas não é real e nem necessária esta explicação, porque a Acupuntura já foi explicada em seus próprios termos há milhares de anos. O estudo dos meridianos, da energia tal qual ela se manifesta em suas polaridades Yin e Yang, como sedar e ativar, tudo isso já faz parte do corpo de conhecimento da Acupuntura.
Da mesma forma a Magia, o Xamanismo e a Bruxaria já tem suas próprias explicações do porquê funcionam, do porquê são reais, e toda tentativa de tentar limitar estes vastos campos com explicações limitadas oriundas de abordagens pseudocientíficas servirá apenas para criar confusão.
O Positivismo, e a Ciência que dele resultou, tem uma abordagem amarrada ao senso comum, tão limitada que é natural não conseguir sequer conceber a vastidão que existe por detrás dos conceitos de Magia, Xamanismo e Bruxaria.
Só agora com a Mecânica Quântica, com ramos sofisticados da Psicologia e outras áreas de vanguarda da ciência se torna possível estabelecer novamente um diálogo entre estes campos.
Portanto, vamos compreender que a Magia, o Xamanismo e a Bruxaria estão dentro de outro contexto cultural, são artes-ciências, oriundas de uma civilização ancestral que há milênios existiu. Depois de sua queda, a humanidade que restou regrediu a um estado de perda quase completa deste saber. Mas tal saber ficou guardado em irmandades durante a era na qual a tirania passou a assumir o controle sobre o mundo, escravizando outros, tornando tudo e todos meras ‘coisas’ a lhes servir. E assim, estas artes-ciências continuaram preservadas através das linhagens em seus grupos de praticantes e herdeiros.
Podemos compreender aqui que as torturas da Inquisição nunca foram destinadas ao ‘arrependimento’ dos ‘hereges’ mas a tentativa de extrair desses iniciados e iniciadas algo de sua arte-ciência. Com as migalhas extraídas nas câmaras de tortura, com fragmentos revelados por alguns, foi se formando o que geraria as ciências e as universidades da modernidade.
Este é um lado desconhecido da ‘história das ciências’ que poucos contam, o tanto do ‘saber’ oficial que foi ‘arrancado’ nas masmorras e câmaras de tortura, dos ‘hereges’.
É fato conhecido que mesmo Newton, Galileu e outros tantos ‘pais’ da ciência moderna tinham um ativo contato com o ‘ocultismo’, ‘hermetismo’, gnose e afins.
Assim sendo, para irmos ao estudo da Magia, do Xamanismo e da Bruxaria não devemos nos deixar impregnar por pseudo-histórias, por abordagens equivocadas do que foi o nosso passado, temos de ousar procurar os fatos na linha de acontecimentos. Existem aqueles que creem em outra linha de história, e creem não por concordância passiva, por mera aceitação, mas acreditam creem porque foram levados(as) a presenciar por si as evidências desta outra linha.
Somos ‘sócios’ de uma visão de mundo.
Estamos em uma prisão perceptiva que em última instância é mantida porque aceitamos que seja assim. Esse nosso incrível poder de dar realidade ao que cremos ser verdadeiro é subestimado em nós.
Somos a somatória de nossas crenças, nem sempre as que verbalizamos e as que fingimos adotar, somos a manifestação do que interiormente cremos.
A força de nossa crença é tremenda, não é à toa que diferentes grupos competem e tentam a todo momento estipular o que é real e o que não é real para a humanidade. Sempre com o propósito subliminar de manter sua descrição de mundo em vigor.
A História de fato, mas não oficial, conta ter a humanidade atual surgido de uma fase após uma profunda queda. Sem pecados aqui, sem castigos ou leituras assim. Uma queda causada por eventos impessoais, quando todo nosso planeta ingressou em um ‘eclipse’. Em uma sombra onde ficamos isolados de um tipo de energia que vem do centro da Galáxia (ver texto sobre Hunab Ku), da singularidade, que tragando tudo a sua volta gera a forma espiral dessa galáxia, na periferia da qual vivemos.
E neste eclipse, como em um inverno, a energia favorecida no planeta propiciou um tipo de gente ambiciosa, insegura, determinada a impor a todos seu modo de vida para assim se sentirem seguras. “Um só deus, um só senhor, uma só fé” e tudo que isto representa (por exemplo, o projeto imperialista e o conceito de guerras eternas).
E a Bruxaria, a Magia e o Xamanismo passaram a ser perseguidos e temidos, pois são caminhos de liberdade. Quem pretende tornar o mundo um vasto curral de escravos, animais e humanos, e deles fazer uso como ‘coisas’ não aprecia que existam homens e mulheres que não lhe são acessíveis, nem por suas manipulações e nem mesmo com o uso da sua pretensa força política, econômica e militar.
As Eras de perseguição se tornaram cada vez mais intensas, o braço que se forma sobre o Império Romano, depois com a Igreja Romana, é ávido em destruir todos os sinais da antiga civilização planetária, da qual as diversas tribos sabiam um dia ter feito parte.
O sentido da antiga civilização planetária não tem nada a ver com a atual. Hoje temos dispositivos como celulares e computadores que nos dão a impressão de um homo sapiens ‘evoluído’ porque podemos entrar em sintonia com outras pessoas, em diferentes tempos e espaço.
Toda essa tecnologia é um simulacro, como um ciborgue que amplia de certa forma suas habilidades naturais. Porém, somos mais que isso. Na ancestral civilização planetária, a sintonia era por outros meios. Cada corpo humano é por si só um gerador e captador de ondas, assim entravam em plena sintonia com outras pessoas de todos os cantos deste mundo, e também de outros.
A Internet não acessa outros mundos. Então para entendermos como viviam estes povos antes desse momento de queda, de desconexão, temos que usar muito nossa intuição, para evitar falsear a percepção com os preconceitos ‘históricos’ (anacronismos) que herdamos dos condicionamentos que nos impuseram. Foi uma queda que levou toda uma civilização planetária a se esfacelar, mas que mantém, apesar do trabalho violento dos grupos dominantes em ocultar todas as evidências, alguns sinais desta época anterior de amplo conhecimento.
As pirâmides no Egito, as três mais antigas e principais no planalto de Gizé, juntamente à esfinge, Angkor no Camboja, Menires, Dolmens e câmaras em Carnac, França. Os grandes desenhos nas Ilhas Britânicas e ruínas encontradas no mar ao redor do Japão. Todos estes e mais lugares que nem se sabem existir, estão alinhados de tal forma que agora não apontam exatamente para nada significativo, apesar do fato de estarem sempre alinhados de alguma forma com os equinócios e os solstícios.
Mas se levarmos em consideração a precessão dos equinócios, fenômeno astronômico que desloca o eixo da terra em relação a elíptica das estrelas a nossa volta, e se fizermos os ajustes, estes marcos ancestrais todos se alinham a uma rede que os relaciona. Quando monumentos de um canto da terra se alinham com suas constelações significativas, monumentos ancestrais em outras partes do globo fazem o mesmo.
Os astroarqueólogos são aqueles que usam o conhecimento astronômico para entender melhor a complexidade dessas ancestrais culturas, sobre as quais cada vez mais ouvimos falar. Culturas muito mais sofisticadas que a atual ‘cultura’ tecnológica que nos domina e nos faz extensões biológicas das máquinas, além de nos enganar negando-nos a magia. Promovendo simulacros estereotipados de vida e prazer. E impondo a ideia que o “homem das cavernas” era algum bruto insosso, o qual evoluiu através de mutações até que surgissem culturas como a egípcia, a chinesa e as civilizações nas terras hoje chamadas de América.
Assim promovem a ideia que esta civilização dominante é a mais evoluída que aqui já existiu e que suas respostas ao desafio de estarmos vivos são as melhores já dadas.
Em vez de ensinarmos as novas gerações a buscarem respostas, a perguntarem com eficiência, acabamos nos limitando a condicioná-las a memorizarem respostas prontas, para passarem nos pseudo-testes que o mundo lhes aplicará. Enquanto a verdadeira prova ficará esquecida. Assim as práticas da Bruxaria, do Xamanismo e da Magia são vistas como superstições pueris, de um tempo no qual as benesses da ciência ainda não haviam ‘esclarecido’ as coisas.
Existem ramos que pretendem ser da árvore do Xamanismo, da Bruxaria e da Magia mas operam com paradigmas que nos são completamente estranhos. Como alguém que coisifica o mundo e os seres sencientes pode mergulhar em caminhos vivos, nos quais sentir a Vida é condição fundamental? É claro que essa informação é totalmente equivocada e nada mais equivocado há que pseudo-estudiosos de Magia, Xamanismo e Bruxaria querendo demonstrar que suas práticas são ‘científicas’.
É a ciência contemporânea que ainda tem de fazer muito esforço para compreender a ancestral e ampla abordagem da realidade que o Xamanismo, a Magia e a Bruxaria realizam, e não o contrário. Assim como é o Avô que deve ter a paciência de compreender e falar na linguagem que seu neto entenda e não o contrário. A ciência contemporânea tem seu valor sim, tem seus méritos, quando não está a serviço de grupos dominadores, de egos inflados de ‘catedráticos’ que prezam mais sua posição na ‘comunidade acadêmica’ do que a verdade em si, quando não está a serviço de laboratórios farmacêuticos voltados apenas ao lucro e similares, essa ciência, o método científico, é um caminho inteligente e funcional de abordar a realidade em busca de respostas efetivas para os grandes mistérios que nos envolvem.
Assim como existem cientistas que operam em diversos graus de profundidade e genialidade vamos encontrar magistas, xamãs e bruxos(as) de diversos naipes. Não podemos generalizar nestes campos. Há pessoas com as mais diversas formas de ser e posturas que se aproximam da ciência e por analogia podemos entender o mesmo de pessoas que se aproximam do campo transcendental. O fruto é a artimanha da árvore, para que a semente permaneça e seja levada onde amplie.
Os mistérios da semente, de seu tempo na Terra, de seu morrer para nascer de novo. O vencer da terra resistente e escura que se apresenta após a primeira porta. Passar pela noite e então também resistir ao ofuscante dia claro. Como planta completa aprender a crescer, tanto em raízes como em caule e galhos, pois a copa só acariciará as nuvens quando as raízes se sentirem firmes nos mundos mais profundos. Os ritos mágicos são, ainda hoje, a mesma representação destes mistérios, entre outros.
O Caminho nos leva ao recolhimento da semente que se deixa ir enquanto grão para poder realizar seu ‘Ser Árvore’. Cada fase de nossa caminhada nesta trilha está nestes ritos traçada e simbolizada. Assim, a atenta observação da Natureza e seus fluxos marca todos os ritos ancestrais. Quando ritualizar era reatualizar o mito, tornar-se o mito encarnado, por vivência ativa e não mera incorporação.
O primeiro ponto a recuperar neste trabalho é a consciência de que a Terra é a grande provedora. Seus ciclos, em relação a si e aos astros e corpos celestes que nos circundam em suas elipses irregulares, são os momentos de trabalharmos com os fluxos por tais alinhamentos gerados.
Experimente sentir o poder da Terra pelos próximos dias, observe cada árvore, cada planta que aparece durante o seu dia. Tens um lugar de terra que podes mexer? Pois como lidar com a Magia, o Xamanismo e a Bruxaria sem um contato real e efetivo com a TERRA?