quarta-feira, 4 de setembro de 2024

O segundo filtro do Xamanismo Guerreiro em Viagem a Ixtlan


Ah, a vaidade... Eis o meu pecado favorito! Tal como dito no filme "O Advogado do Diabo". Assume tantas formas, que também já foi escrito que tudo é vaidade.

Auto-importância, achar-se o tal, considerar-se o cara, julgar-se alguém especial, ter-se em alta conta, sentir-se o pica das galáxias ou a diva suprema só é possível se temos história pessoal, o primeiro filtro.

A história pessoal se dá em função dos outros, pois precisamos reafirmar a nós mesmos, o que "fizeram de nós" diante dos outros. Sem os outros como espelho de nós mesmos não pode haver história pessoal e a auto-importância não se sustenta. Não faz sentido, por exemplo, tirarmos uma "selfie" de nós mesmos se não vamos expô-la para ninguém. As penas do pavão são ostentadas para os outros.

A auto-importância se revela no culto ao eu que depende, dentro do contexto sócio-cultural, do reconhecimento alheio, portanto, da história pessoal.

Não ter auto-importância não significa, por outro lado, sentir-se menos, por baixo, miserável pecador ou o verme no cocô do cavalo do bandido, isso também é considerado auto-importância no Xamanismo Guerreiro. O pecador se (auto)considera tanto quanto qualquer outro "pavão", pois o foco da própria atenção continua nele mesmo.

"Negar a si próprio é uma indulgência. A indulgência de negar é de longe a pior; obriga-nos a crer que estamos fazendo grandes coisas, quando na verdade só estamos fixados em nós mesmos¹".

Por isso a auto-importância é o disfarce, ou o outro lado da moeda do ego, da auto-piedade, faz com que toda a nossa energia e toda a nossa atenção fique fixada em nós mesmos.

A auto-importância desaparece quando não nos sentimos nem mais e nem mesmos que ninguém, é a posição do ponto de aglutinação de "nobody", a posição da implacabilidade, a posição na qual descobrimos que a "Deusa Morte" - o terceiro filtro - coroa à todos, humanos ou divinos, pois ela nivela à todos e nos faz retornar à Fonte da qual tudo emana.

A auto-importância é como um feitiço para a nossa mente, já que nos faz crer que somos imortais, seres que não vão morrer e desaparecer na poeira dos tempos.

Lendo e refletindo sobre o Xamanismo Comportamental em Viagem à Ixtlan vemos um sistema de conhecimento onde os elementos se conectam, um levando ao outro e formando um todo que culmina numa nova forma de ser: o(a) guerreiro(a).

Estamos diante de um sistema de conhecimento que pode ser testado na prática, a despeito das acusações de plágio e dos ataques dos detratores de plantão contra a obra do nagual Carlos Castaneda.

Esse sistema de conhecimento consiste num conjunto de atitudes interligadas e harmônicas que visam basicamente a utilização ótima de nossa energia, uma economia excelente da energia (impecabilidade) para atingirmos todo o nosso potencial como seres humanos e mágicos.

A questão da auto-importância é crucial no Trabalho sobre si mesmo no Xamanismo Guerreiro, pois se trata de um dos fatores de maior drenagem de nossa energia e poder pessoal.

Pode você tratar todos os seres a partir de uma visão equânime?

Pode você responder a pergunta: quem eu sou?

Pode você entender profundamente a estória budista que se segue?

A carroça

Um Imperador, sabendo que um grande sábio Zen estava às portas de seu palácio, foi até ele para fazer uma importante pergunta: 

"Mestre, onde está o Eu?" 

O mestre então pediu-lhe: 

"Por favor traga-me aquela carroça que está lá." 

A carroça foi trazida. O sábio perguntou: 

"O que é isso?" 

"Uma carroça, é claro," respondeu o Imperador. 

O mestre pediu que retirasse os cavalos que puxavam a carroça. Então disse: 

"Os cavalos são a carroça?" 

"Não." 

O mestre pediu que as rodas fossem retiradas. 

"As rodas são a carroça?" 

"Não, mestre." 

O mestre pediu que retirassem os assentos. 

"Os assentos são a carroça?" 

"Não, eles não são a carroça." 

Finalmente apontou para o eixo e falou: 

"O eixo é a carroça?" 

"Não, mestre, não são." 

Então o sábio concluiu: 

"Da mesma forma que a carroça, o Eu não pode ser definido por suas partes. O Eu não está aqui, não está lá. O Eu não se encontra em parte alguma. Ele não existe. E não existindo, ele existe." 

Dito isso, ele começou a se afastar do surpreso monarca. Quando estava já afastado, voltou-se e perguntou-lhe: 

"Onde Eu estou?"

Pode você responder a pergunta: onde eu estou?

A própria percepção de nossa interdependência da Natureza, se aguda, pode levar ao colapso da auto-importância ao revelar que aquilo que chamamos eu é um conjunto de agregados reunidos no tempo-espaço e que prende o ponto de aglutinação nesta percepção estreita do real.


Notas

¹ Roda do Tempo e Uma Estranha Realidade

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