sexta-feira, 11 de outubro de 2024

Bruxaria, Magia e Xamanismo - parte 3 - por Nuvem que Passa

Narrativa versus História

Um dos pontos que temos de rever quando vamos estudar em profundidade o que se esconde por trás dos conceitos de Xamanismo, Magia e Bruxaria é nosso próprio paradigma de historicidade.

Temos uma educação formal que nos provê ‘verdades’ prontas, que insinuam uma visão da História dentro de paradigmas que cada vez mais se provam não serem verdadeiros, que representam apenas a força dominante dos vencedores, que constroem sua versão dos fatos e condenam os derrotados a desaparecerem da própria História, provocando-lhes não só a morte e a destruição enquanto seres vivos, mas também apagando todas informações sobre estes deserdados da história.

A civilização que domina o mundo hoje, com seus juízos impostos pela bolsa de valores, com corporações atuando como novos senhores feudais a determinar os princípios sobre os quais devemos viver, com as religiões de massa, ao lado da mídia, em uma luta para impor padrões quanto ao pensar e agir da humanidade, isto é resultado de um processo histórico complexo, no qual grupos diversos atuaram conscientemente para não apenas vencer outros grupos, mas para estabelecer um domínio, quer escravizando em corpo ou alma, pela força das armas ou das religiões dogmáticas, quer matando grupos étnicos inteiros seguindo da destruição de todos os dados culturais desses povos.

Temos uma espécie de neodarwinismo social que nos obriga a crer que esta civilização, pelo fato de ter alcançado um surpreendente desenvolvimento tecnológico é o pináculo da evolução social humana.

Estamos presos de tal forma a estes paradigmas que pouco percebemos como várias das obras que se referem a Magia, a Bruxaria e ao Xamanismo o fazem descaracterizando tais artes, tais tradições de seus contextos, tentando ‘explicar’ ou ‘demonstrar’ que tais caminhos são ‘evoluídos’, caindo na armadilha de usar os critérios do dominador como instrumento de avaliação. O Xamanismo, a Magia e a Bruxaria tem seus próprios critérios cognitivos, são campos complexos em si mesmos.

Podemos fazer uma analogia com o que ocorre na Acupuntura. Ela funciona e muito bem. E a ciência ocidental tenta explicar que tal nódulo nervoso, ativado pela agulha faz isso e aquilo, mas não é real e nem necessária esta explicação, porque a Acupuntura já foi explicada em seus próprios termos há milhares de anos. O estudo dos meridianos, da energia tal qual ela se manifesta em suas polaridades Yin e Yang, como sedar e ativar, tudo isso já faz parte do corpo de conhecimento da Acupuntura.

Da mesma forma a Magia, o Xamanismo e a Bruxaria já tem suas próprias explicações do porquê funcionam, do porquê são reais, e toda tentativa de tentar limitar estes vastos campos com explicações limitadas oriundas de abordagens pseudocientíficas servirá apenas para criar confusão.

O Positivismo, e a Ciência que dele resultou, tem uma abordagem amarrada ao senso comum, tão limitada que é natural não conseguir sequer conceber a vastidão que existe por detrás dos conceitos de Magia, Xamanismo e Bruxaria.

Só agora com a Mecânica Quântica, com ramos sofisticados da Psicologia e outras áreas de vanguarda da ciência se torna possível estabelecer novamente um diálogo entre estes campos.

Portanto, vamos compreender que a Magia, o Xamanismo e a Bruxaria estão dentro de outro contexto cultural, são artes-ciências, oriundas de uma civilização ancestral que há milênios existiu. Depois de sua queda, a humanidade que restou regrediu a um estado de perda quase completa deste saber. Mas tal saber ficou guardado em irmandades durante a era na qual a tirania passou a assumir o controle sobre o mundo, escravizando outros, tornando tudo e todos meras ‘coisas’ a lhes servir. E assim, estas artes-ciências continuaram preservadas através das linhagens em seus grupos de praticantes e herdeiros.

Podemos compreender aqui que as torturas da Inquisição nunca foram destinadas ao ‘arrependimento’ dos ‘hereges’ mas a tentativa de extrair desses iniciados e iniciadas algo de sua arte-ciência. Com as migalhas extraídas nas câmaras de tortura, com fragmentos revelados por alguns, foi se formando o que geraria as ciências e as universidades da modernidade.

Este é um lado desconhecido da ‘história das ciências’ que poucos contam, o tanto do ‘saber’ oficial que foi ‘arrancado’ nas masmorras e câmaras de tortura, dos ‘hereges’.

É fato conhecido que mesmo Newton, Galileu e outros tantos ‘pais’ da ciência moderna tinham um ativo contato com o ‘ocultismo’, ‘hermetismo’, gnose e afins.

Assim sendo, para irmos ao estudo da Magia, do Xamanismo e da Bruxaria não devemos nos deixar impregnar por pseudo-histórias, por abordagens equivocadas do que foi o nosso passado, temos de ousar procurar os fatos na linha de acontecimentos. Existem aqueles que creem em outra linha de história, e creem não por concordância passiva, por mera aceitação, mas acreditam creem porque foram levados(as) a presenciar por si as evidências desta outra linha.

Somos ‘sócios’ de uma visão de mundo.

Estamos em uma prisão perceptiva que em última instância é mantida porque aceitamos que seja assim. Esse nosso incrível poder de dar realidade ao que cremos ser verdadeiro é subestimado em nós.

Somos a somatória de nossas crenças, nem sempre as que verbalizamos e as que fingimos adotar, somos a manifestação do que interiormente cremos.

A força de nossa crença é tremenda, não é à toa que diferentes grupos competem e tentam a todo momento estipular o que é real e o que não é real para a humanidade. Sempre com o propósito subliminar de manter sua descrição de mundo em vigor.

A História de fato, mas não oficial, conta ter a humanidade atual surgido de uma fase após uma profunda queda. Sem pecados aqui, sem castigos ou leituras assim. Uma queda causada por eventos impessoais, quando todo nosso planeta ingressou em um ‘eclipse’. Em uma sombra onde ficamos isolados de um tipo de energia que vem do centro da Galáxia (ver texto sobre Hunab Ku), da singularidade, que tragando tudo a sua volta gera a forma espiral dessa galáxia, na periferia da qual vivemos.

E neste eclipse, como em um inverno, a energia favorecida no planeta propiciou um tipo de gente ambiciosa, insegura, determinada a impor a todos seu modo de vida para assim se sentirem seguras. “Um só deus, um só senhor, uma só fé” e tudo que isto representa (por exemplo, o projeto imperialista e o conceito de guerras eternas).

E a Bruxaria, a Magia e o Xamanismo passaram a ser perseguidos e temidos, pois são caminhos de liberdade. Quem pretende tornar o mundo um vasto curral de escravos, animais e humanos, e deles fazer uso como ‘coisas’ não aprecia que existam homens e mulheres que não lhe são acessíveis, nem por suas manipulações e nem mesmo com o uso da sua pretensa força política, econômica e militar.

As Eras de perseguição se tornaram cada vez mais intensas, o braço que se forma sobre o Império Romano, depois com a Igreja Romana, é ávido em destruir todos os sinais da antiga civilização planetária, da qual as diversas tribos sabiam um dia ter feito parte.

O sentido da antiga civilização planetária não tem nada a ver com a atual. Hoje temos dispositivos como celulares e computadores que nos dão a impressão de um homo sapiens ‘evoluído’ porque podemos entrar em sintonia com outras pessoas, em diferentes tempos e espaço.

Toda essa tecnologia é um simulacro, como um ciborgue que amplia de certa forma suas habilidades naturais. Porém, somos mais que isso. Na ancestral civilização planetária, a sintonia era por outros meios. Cada corpo humano é por si só um gerador e captador de ondas, assim entravam em plena sintonia com outras pessoas de todos os cantos deste mundo, e também de outros.

A Internet não acessa outros mundos. Então para entendermos como viviam estes povos antes desse momento de queda, de desconexão, temos que usar muito nossa intuição, para evitar falsear a percepção com os preconceitos ‘históricos’ (anacronismos) que herdamos dos condicionamentos que nos impuseram. Foi uma queda que levou toda uma civilização planetária a se esfacelar, mas que mantém, apesar do trabalho violento dos grupos dominantes em ocultar todas as evidências, alguns sinais desta época anterior de amplo conhecimento.

As pirâmides no Egito, as três mais antigas e principais no planalto de Gizé, juntamente à esfinge, Angkor no Camboja, Menires, Dolmens e câmaras em Carnac, França. Os grandes desenhos nas Ilhas Britânicas e ruínas encontradas no mar ao redor do Japão. Todos estes e mais lugares que nem se sabem existir, estão alinhados de tal forma que agora não apontam exatamente para nada significativo, apesar do fato de estarem sempre alinhados de alguma forma com os equinócios e os solstícios.

Mas se levarmos em consideração a precessão dos equinócios, fenômeno astronômico que desloca o eixo da terra em relação a elíptica das estrelas a nossa volta, e se fizermos os ajustes, estes marcos ancestrais todos se alinham a uma rede que os relaciona. Quando monumentos de um canto da terra se alinham com suas constelações significativas, monumentos ancestrais em outras partes do globo fazem o mesmo.

Os astroarqueólogos são aqueles que usam o conhecimento astronômico para entender melhor a complexidade dessas ancestrais culturas, sobre as quais cada vez mais ouvimos falar. Culturas muito mais sofisticadas que a atual ‘cultura’ tecnológica que nos domina e nos faz extensões biológicas das máquinas, além de nos enganar negando-nos a magia. Promovendo simulacros estereotipados de vida e prazer. E impondo a ideia que o “homem das cavernas” era algum bruto insosso, o qual evoluiu através de mutações até que surgissem culturas como a egípcia, a chinesa e as civilizações nas terras hoje chamadas de América.

Assim promovem a ideia que esta civilização dominante é a mais evoluída que aqui já existiu e que suas respostas ao desafio de estarmos vivos são as melhores já dadas.

Em vez de ensinarmos as novas gerações a buscarem respostas, a perguntarem com eficiência, acabamos nos limitando a condicioná-las a memorizarem respostas prontas, para passarem nos pseudo-testes que o mundo lhes aplicará. Enquanto a verdadeira prova ficará esquecida. Assim as práticas da Bruxaria, do Xamanismo e da Magia são vistas como superstições pueris, de um tempo no qual as benesses da ciência ainda não haviam ‘esclarecido’ as coisas.

Existem ramos que pretendem ser da árvore do Xamanismo, da Bruxaria e da Magia mas operam com paradigmas que nos são completamente estranhos. Como alguém que coisifica o mundo e os seres sencientes pode mergulhar em caminhos vivos, nos quais sentir a Vida é condição fundamental? É claro que essa informação é totalmente equivocada e nada mais equivocado há que pseudo-estudiosos de Magia, Xamanismo e Bruxaria querendo demonstrar que suas práticas são ‘científicas’.

É a ciência contemporânea que ainda tem de fazer muito esforço para compreender a ancestral e ampla abordagem da realidade que o Xamanismo, a Magia e a Bruxaria realizam, e não o contrário. Assim como é o Avô que deve ter a paciência de compreender e falar na linguagem que seu neto entenda e não o contrário. A ciência contemporânea tem seu valor sim, tem seus méritos, quando não está a serviço de grupos dominadores, de egos inflados de ‘catedráticos’ que prezam mais sua posição na ‘comunidade acadêmica’ do que a verdade em si, quando não está a serviço de laboratórios farmacêuticos voltados apenas ao lucro e similares, essa ciência, o método científico, é um caminho inteligente e funcional de abordar a realidade em busca de respostas efetivas para os grandes mistérios que nos envolvem.

Assim como existem cientistas que operam em diversos graus de profundidade e genialidade vamos encontrar magistas, xamãs e bruxos(as) de diversos naipes. Não podemos generalizar nestes campos. Há pessoas com as mais diversas formas de ser e posturas que se aproximam da ciência e por analogia podemos entender o mesmo de pessoas que se aproximam do campo transcendental. O fruto é a artimanha da árvore, para que a semente permaneça e seja levada onde amplie.

Os mistérios da semente, de seu tempo na Terra, de seu morrer para nascer de novo. O vencer da terra resistente e escura que se apresenta após a primeira porta. Passar pela noite e então também resistir ao ofuscante dia claro. Como planta completa aprender a crescer, tanto em raízes como em caule e galhos, pois a copa só acariciará as nuvens quando as raízes se sentirem firmes nos mundos mais profundos. Os ritos mágicos são, ainda hoje, a mesma representação destes mistérios, entre outros.

O Caminho nos leva ao recolhimento da semente que se deixa ir enquanto grão para poder realizar seu ‘Ser Árvore’. Cada fase de nossa caminhada nesta trilha está nestes ritos traçada e simbolizada. Assim, a atenta observação da Natureza e seus fluxos marca todos os ritos ancestrais. Quando ritualizar era reatualizar o mito, tornar-se o mito encarnado, por vivência ativa e não mera incorporação.

O primeiro ponto a recuperar neste trabalho é a consciência de que a Terra é a grande provedora. Seus ciclos, em relação a si e aos astros e corpos celestes que nos circundam em suas elipses irregulares, são os momentos de trabalharmos com os fluxos por tais alinhamentos gerados.

Experimente sentir o poder da Terra pelos próximos dias, observe cada árvore, cada planta que aparece durante o seu dia. Tens um lugar de terra que podes mexer? Pois como lidar com a Magia, o Xamanismo e a Bruxaria sem um contato real e efetivo com a TERRA?

Nuvem que Passa


quinta-feira, 10 de outubro de 2024

Reflexão do Momento - Princípios Mana e Pono da Filosofia Kahuna.

Aquilo que funciona é um dos critérios para a verdade sobre algo (pono), mas é necessário compreender o porquê, a causa, pois o efeito placebo, por exemplo, funciona, não devido a coisa em si, mas devido à crença no poder da coisa, ou seja, o verdadeiro poder está na mente que crê.

 "A tua fé te salvou", como já foi dito. 

O poder dentro do ser humano é impressionante (mana), mas fomos condicionados a crer num poder externo a nós mesmos, o que solapa o nosso poder pessoal.

quarta-feira, 4 de setembro de 2024

O segundo filtro do Xamanismo Guerreiro em Viagem a Ixtlan


Ah, a vaidade... Eis o meu pecado favorito! Tal como dito no filme "O Advogado do Diabo". Assume tantas formas, que também já foi escrito que tudo é vaidade.

Auto-importância, achar-se o tal, considerar-se o cara, julgar-se alguém especial, ter-se em alta conta, sentir-se o pica das galáxias ou a diva suprema só é possível se temos história pessoal, o primeiro filtro.

A história pessoal se dá em função dos outros, pois precisamos reafirmar a nós mesmos, o que "fizeram de nós" diante dos outros. Sem os outros como espelho de nós mesmos não pode haver história pessoal e a auto-importância não se sustenta. Não faz sentido, por exemplo, tirarmos uma "selfie" de nós mesmos se não vamos expô-la para ninguém. As penas do pavão são ostentadas para os outros.

A auto-importância se revela no culto ao eu que depende, dentro do contexto sócio-cultural, do reconhecimento alheio, portanto, da história pessoal.

Não ter auto-importância não significa, por outro lado, sentir-se menos, por baixo, miserável pecador ou o verme no cocô do cavalo do bandido, isso também é considerado auto-importância no Xamanismo Guerreiro. O pecador se (auto)considera tanto quanto qualquer outro "pavão", pois o foco da própria atenção continua nele mesmo.

"Negar a si próprio é uma indulgência. A indulgência de negar é de longe a pior; obriga-nos a crer que estamos fazendo grandes coisas, quando na verdade só estamos fixados em nós mesmos¹".

Por isso a auto-importância é o disfarce, ou o outro lado da moeda do ego, da auto-piedade, faz com que toda a nossa energia e toda a nossa atenção fique fixada em nós mesmos.

A auto-importância desaparece quando não nos sentimos nem mais e nem mesmos que ninguém, é a posição do ponto de aglutinação de "nobody", a posição da implacabilidade, a posição na qual descobrimos que a "Deusa Morte" - o terceiro filtro - coroa à todos, humanos ou divinos, pois ela nivela à todos e nos faz retornar à Fonte da qual tudo emana.

A auto-importância é como um feitiço para a nossa mente, já que nos faz crer que somos imortais, seres que não vão morrer e desaparecer na poeira dos tempos.

Lendo e refletindo sobre o Xamanismo Comportamental em Viagem à Ixtlan vemos um sistema de conhecimento onde os elementos se conectam, um levando ao outro e formando um todo que culmina numa nova forma de ser: o(a) guerreiro(a).

Estamos diante de um sistema de conhecimento que pode ser testado na prática, a despeito das acusações de plágio e dos ataques dos detratores de plantão contra a obra do nagual Carlos Castaneda.

Esse sistema de conhecimento consiste num conjunto de atitudes interligadas e harmônicas que visam basicamente a utilização ótima de nossa energia, uma economia excelente da energia (impecabilidade) para atingirmos todo o nosso potencial como seres humanos e mágicos.

A questão da auto-importância é crucial no Trabalho sobre si mesmo no Xamanismo Guerreiro, pois se trata de um dos fatores de maior drenagem de nossa energia e poder pessoal.

Pode você tratar todos os seres a partir de uma visão equânime?

Pode você responder a pergunta: quem eu sou?

Pode você entender profundamente a estória budista que se segue?

A carroça

Um Imperador, sabendo que um grande sábio Zen estava às portas de seu palácio, foi até ele para fazer uma importante pergunta: 

"Mestre, onde está o Eu?" 

O mestre então pediu-lhe: 

"Por favor traga-me aquela carroça que está lá." 

A carroça foi trazida. O sábio perguntou: 

"O que é isso?" 

"Uma carroça, é claro," respondeu o Imperador. 

O mestre pediu que retirasse os cavalos que puxavam a carroça. Então disse: 

"Os cavalos são a carroça?" 

"Não." 

O mestre pediu que as rodas fossem retiradas. 

"As rodas são a carroça?" 

"Não, mestre." 

O mestre pediu que retirassem os assentos. 

"Os assentos são a carroça?" 

"Não, eles não são a carroça." 

Finalmente apontou para o eixo e falou: 

"O eixo é a carroça?" 

"Não, mestre, não são." 

Então o sábio concluiu: 

"Da mesma forma que a carroça, o Eu não pode ser definido por suas partes. O Eu não está aqui, não está lá. O Eu não se encontra em parte alguma. Ele não existe. E não existindo, ele existe." 

Dito isso, ele começou a se afastar do surpreso monarca. Quando estava já afastado, voltou-se e perguntou-lhe: 

"Onde Eu estou?"

Pode você responder a pergunta: onde eu estou?

A própria percepção de nossa interdependência da Natureza, se aguda, pode levar ao colapso da auto-importância ao revelar que aquilo que chamamos eu é um conjunto de agregados reunidos no tempo-espaço e que prende o ponto de aglutinação nesta percepção estreita do real.


Notas

¹ Roda do Tempo e Uma Estranha Realidade

sábado, 6 de julho de 2024

Viagem a Ixtlan: o primeiro filtro no caminho do Xamanismo Guerreiro - 2

O Xamanismo Guerreiro é um caminho para muito poucos. Alguma dúvida disso?

Apagar a história pessoal, abandonar todas as pessoas que o conhecem bem, desapegar-se de suas relações sociais, tornar-se um desconhecido ou espreitar a si mesmo, pois a espreita começa justamente nesse estilo comportamental de apagar-se, ocultar-se, tornar-se um mistério para si e para os outros, não é coisa pouca ou que interessa a qualquer um. Exige cuidado, exige estratégia, não é coisa para se fazer se não há um compromisso efetivo com o caminho já que tal atitude se for precipitada ou intempestiva pode levar a um desastre social e pessoal.

Por esse primeiro filtro já se sabe se o caminho é ou não para você, se você não pode desapegar-se de suas relações, de quem você pensa que é (na verdade daquilo que fizeram de você, a sua máscara social).

Sem tal "filtro" não há mudança ou revolução pessoal, não há deslocamento do ponto de aglutinação para outras posições, o caminho do guerreiro (a) não se abre, mantém-se o 'status quo' existencial, mais do mesmo, escravo de si e dos outros.

Mas suponhamos que se adote tal estilo comportamental, dificilmente alguém o fará por livre e espontânea vontade, a própria vida, o Poder pode induzi-lo a tal, e aí como agir, por onde começar, o que fazer? Simplesmente sair fora de seu círculo social pode não ser conveniente. É possível apagar a história pessoal de dentro do próprio círculo social?

- Sim, é possível.

- Mas como?

- Através da mudança gradual de hábitos.

- Explique melhor.

- Simples. Estamos associados aos outros através de nossos hábitos, se mudamos nossos hábitos nossas relações sociais se desfazem. É como um viciado que deixa de se drogar, ele deixa de fazer parte do círculo social dos drogados, mas naturalmente tal círculo social fará de tudo para que ele retome o vício ou o velho padrão. A velha sociedade não quer perder nenhuma de suas ovelhas.

- Pode dar um outro exemplo, um exemplo pessoal?

- Sim. Dentro da família ou no trabalho, tradicionalmente, qual o momento no qual ocorre maior socialização?

- Muitas vezes na hora da comida, em torno da mesa.

- Digamos que você mude seus hábitos alimentares, por exemplo, comece a praticar jejum, seja o jejum intermitente ou o jejum mais longo.

- Humm...

- Só essa simples mudança vai detonar um processo de corte de laços, o que vai gerar um afastamento natural. Qualquer outra mudança de hábitos alimentares que seja diferente do seu círculo social já provocará um afastamento de tal círculo, um afastamento gradativo, estratégico, mas cheio de possíveis recaídas. Naturalmente que tal mudança deve ser saudável, positiva para si. Por essas e por outras é que não há procedimentos específicos ou definidos no caminho, de acordo com as condições de vida de cada um deve-se implementar as atitudes adequadas, criativas, afinal o caminho faz-se no caminhar.

- Apagar-se é um primeiro passo sem o qual o próximo não pode ocorrer: livrar-se da vaidade que não presta, da autoimportância, a próxima recomendação de Don Juan Matus em Viagem a Ixtlan. Vemos aqui que se um passo decorre do outro temos em verdade um sistema de conhecimento que leva a uma nova percepção de si e do mundo.


quinta-feira, 23 de maio de 2024

Viagem a Ixtlan: o primeiro filtro no caminho do Xamanismo Guerreiro - 1

Um blog que se propõe a ser uma introdução ao Xamanismo Guerreiro precisa começar justamente por um dos primeiros passos no caminho, mas qual seria ele?

Uma das primeiras técnicas ensinadas por Dom Juan Matus à Carlos Castaneda consistia num ato simples e poderoso: apagar a história pessoal, tal como transcrito do livro Viagem a Ixtlan:

— Comece com coisas simples, assim como não revelar o que você realmente faz. Depois, deve abandonar todas as pessoas que o conheçam realmente bem. Assim, você construirá uma névoa em torno de si.

— Mas isso é absurdo — protestei. — Por que as pessoas não me podem conhecer? O que há de errado nisso?

— O que há de errado é que, uma vez que o conheçam, você é coisa em que eles se fiam e, desse momento em diante, não poderá romper o fio dos pensamentos deles. Pessoalmente, gosto da liberdade total de ser desconhecido. Ninguém me conhece com certeza absoluta, como as pessoas o conhecem, por exemplo.

***

A pergunta que devemos fazer para quem pretende seguir tal caminho é simples: podemos abandonar as pessoas que nos conhecem realmente bem?

Numa sociedade em que quase todos querem ser conhecidos, famosos e ficarem bem na foto, especialmente nas redes sociais, apagar a história pessoal é um paradigma completamente diferente.


sexta-feira, 17 de maio de 2024

Autodomínio

Quando verdadeiramente convencido verás que não é preciso a ninguém convencer.

O convencimento do outro é uma violência.

Isso fez da política uma guerra. Também a religião, o futebol, a filosofia, a magia e tudo o mais.

Egos sobrepondo egos numa luta contínua pelo domínio do outro, as vezes sutil, as vezes grosseira, por via mental ou física, que exige de quem quer libertar-se a via transcendente do autodomínio.

O autodomínio torna-se assim uma necessidade para não ser dominado, e o caminho dos budas transforma-se então num imperativo categórico da alma.

Para além de dominadores e dominados a via espiritual oferece o único caminho de escape, um caminho onde a palavra de ordem nos diz que só a disciplina salva.

Alguns chamaram tal via de "caminho do guerreiro".



quarta-feira, 15 de maio de 2024

O mais díficil


[10] Quanto a cada uma das coisas que sucedem contigo, lembra, voltando a atenção para ti mesmo, de buscar alguma capacidade que sirva para cada uma delas. Caso vires um belo homem ou uma bela mulher, descobrirás para isso a capacidade do autodomínio. Caso uma tarefa extenuante se apresente, descobrirás a perseverança. Caso a injúria, a paciência. Habituando-te desse modo, as representações não te arrebatarão.

Consciência -Tempo - Morte -Vida, por Nuvem que Passa.

Assunto: Consciência -Tempo- Morte-Vida  Data: Seg Mai 1, 2000 9:29 pm - Lista Ventania Saudações! O que motivou esse mail foi um texto envi...