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quinta-feira, 21 de dezembro de 2023

A Obra do Nagual, por Nuvem que passa


"A obra de Carlos Castañeda poder ser considerada como uma das obras mais interessantes e revolucionárias de nosso século. Ali conceitos completamente novos são apresentados, abordagens realmente novas da realidade e da nossa percepção das mesmas, são apresentadas lado a lado com conhecimentos similares a encontrados no Taoismo, certas linhas de budhismo, islamismo, hinduismo, cristianismo, judaísmo chamadas de "esotéricas". 

Existe um livro que tenta provar que Castaneda não viveu nenhuma das experiências que narra, o background espaço temporal que ele usa como contexto para expor os conhecimentos ali liberados pela primeira vez fora dos fechadíssimos, discretos e ciosos grupos que exploram há milênios esse mesmo saber. 

Para alguém que ensina a ausência de história pessoal nada mais coerente que ter um livro publicado por um estudioso sério desmentindo o fundo "pessoal" dos conhecimentos apresentados.

O Doutor Carlos Castañeda tenta mostrar ser a América possuidora de civilizações tão complexas como as que deixaram seus sinais em outras partes do Globo. Perguntas fundamentais que resultaram como resposta à Arte, à Magia ou à Ciência oficial, em outras partes do mundo, aqui geraram formas de magia e ciência muito complexas e a dizimação quase completa dos povos nativos, ainda em curso, diga-se de passagem, não quebrou esse elo de transmissão.

Uma leitura atenta dos 3 primeiros livros nos quais este relato é mais intenso, revela que as informações chave, como os 4 inimigos daquele(a) que busca o conhecimento, tem valor intrínseco, independente do contexto em que foram apresentadas. O valor do conhecimento expresso vai muito além do contexto onde ele está inserido. Se o Doutor Carlos Castañeda estava aprendendo com o velho índio no deserto mexicano ou no parque de sua cidade ou em seu quintal em Los Angeles não é este o ponto focal. 

Mas o que me interessa bastante é que numa era de paparazzis que são de uma forma ou de outra, corresponsáveis pela morte de uma princesa do Império Britânico, num mundo onde ninguém passa totalmente despercebido, num mundo cheio de recursos, alguém que passou os últimos anos de sua vida dando seminários para mais de 300 pessoas em cada um deles, nos EUA e na Europa, não tenha mais que algumas poucas e contraditórias fotos suas. Nesta era de total invasão da privacidade em nome dessa imprensa marrom que sustenta o esporte preferido, mexericos, desde que os hábitos das cortes parecem ter contaminado nossas vidas, nesta era da imagem, quase nenhuma foto.

E depois que ele "morreu" de câncer de fígado, como Krishnamurti antes dele, em prometeica herança, o seu livro, mais vendido por meses, foi um livro chamado "Passes Mágicos" - Um livro de posturas de poder, em fotos, para longevidade e bem estar, saúde e harmonia. 

Contradição, paradoxo, os que leem Castañeda são birutas mesmo, derreteram o cérebro brincando com plantas de poder? 

O que sinto após tornar a ler a obra inteira de uma vez em duas semanas, é que estamos diante de um tratado, algo que supera grande parte dos tratados de magia escrito no século passado, embora integre harmonicamente os conceitos apresentados por muitas escolas competentes. 

De alguma forma, nunca saberemos exatamente como, C. C., também conhecido como Joe, ou como Isidoro Baltazar ou outros nomes, entrou em contato com um saber ancestral. Por anos ele conviveu com homens e mulheres que eram herdeiros diretos desse saber. 

Ponto um: nenhum desses homens ou mulheres tinham a menor intenção de criar uma seita, uma religião ou fazer proselitismo de seu saber. Eles estavam apenas perpetuando uma linhagem. Estavam dando continuidade a uma magia antiga, a uma linhagem de poder e ser que começara em tempo indeterminado, na Era mítica. Cada um desses homens e mulheres afirmaram que só como mito poder-se-ia viver plenamente o caminho que eles apontavam ao relutante aprendiz. E por ser relutante, por ser difícil ele era bastante apreciado. Num caminho onde voluntários são vistos com reservas, pois voluntários costumam acreditar que sabem o que estão procurando e deturpam o conhecimento para adaptar-se a seus padrões preconcebidos. Pois para aqueles homens e mulheres, ao menos foram homens e mulheres um dia, voluntários raramente eram bem-vindos. Voluntários têm ideias muito preconcebidas e raramente aceitam mudar realmente, não aceitam a morte que toda iniciação propõe. 

E aprendendo de uma forma muito complexa começou Carlos Castañeda a aprender com aquele grupo. E nesse aprendizado se viu ludibriado várias vezes pelo velho índio que era estranhamente inteligente e sofisticado, coisas que o preconceito acadêmico raramente permite a um "nativo". Ludibriado, pois enquanto sua atenção estava fixa em algum aspecto que lhe era colocado a frente, a verdadeira ação de D. Juan Matus, também conhecido como John Michael Abelar e Mariano Aureliano, entre outros, enquanto o verdadeiro aprendizado acontecia disfarçadamente, evitando que sua mente racional e condicionada lutasse contra tal saber, deixando que ele sedimentasse como ganho efetivo. Aprendizado complexo, pois lidava também com um outro estado de consciência que antes dele nenhuma escola esotérica explicitou com tanta clareza. Todos sabemos que estar dentro de uma escola, estar ligado a um mestre ou mestra cria uma atmosfera psíquica própria, a energia de quem ensina, quando é real, permite um catalisar do processo de aprendizagem, baixa a energia de ativação necessária para se alcançar certos resultados. 

O método proposto pela escola Tolteca é muito sutil. Num nível alterado de consciência, num nível específico, onde a lembrança do dia a dia fica mais fraca, um nível que não é lembrado no dia a dia, neste nível ocorre outra parte do treinamento do aprendiz. Aqui ele recebe conhecimentos de grande poder, conhecimentos que estarão protegidos pelo esquecimento até que o aprendiz tenha energia suficiente para acessar tal nível por si. Por isso ler a obra de C.C. implica em compreender que tudo que é apresentado tem uma complexidade muito maior. 

C.C. começa seu caminho público quando aparece na mídia e vira guru alternativo, padrinho da nova Era, pela exaltação dos alucinógenos¹ como caminho para se tornar "um homem de conhecimento". Quando chega em Viagem a Ixtlan ele muda suas colocações revelando que os aspectos mais importantes do saber que estava recebendo não eram de forma alguma as viagens que tivera sob efeito das plantas de poder. 

E coloca que partes que havia anotado e deixado de lado se revelavam agora a espinha dorsal do sistema que começava a vislumbrar atrás dos atos aparentemente malucos de seu informante índio. Um velho que, exceto por um companheiro ainda mais louco, D. Genaro, que representava ser realmente demente e capaz de fazer coisas que estarreciam a mente linear, parecia viver isolado e fora do mundo em algum ponto do México, na região de Sonora. 

Quando C.C. lançou Viagem a Ixtlan, seu trabalho de mestrado, obteve uma resposta diferente da mídia.  Pouco a pouco os meios de comunicação passaram a desgostar de sua mensagem, o governo mexicano, conhecido por uma política sistemática de extermínio dos povos nativos, ainda hoje em andamento, vide Chiapas, ficou preocupado. Os povos nativos de todo o continente pela primeira vez tinham suas reais tradições trazidas à tona, quando digo reais digo suas tradições esotéricas, não o arremedo exterior que ficou reproduzido pelos sobreviventes, exilados de si mesmos, como os africanos vieram exilados de sua terra. E neste continente, por estarem exilados de si mesmos, não puderam levar nada, nada sobrou e o mito da puerilidade dos ritos e crenças dos nativos dessas terras ganhou força. 

Mas um grupo continuou ensinando seu aprendiz sem se ocupar disso. Escrever os livros era uma tarefa que C.C. recebera de seu mestre iniciador e cumpri-la era sua missão. Viagem a Ixtlan é um livro de acesso ao Xamanismo Guerreiro. E é importante notar que estamos falando de Xamanismo Guerreiro. O Xamanismo que sobreviveu graças aos iniciados dos clãs guerreiros que sobreviveram aos massacres, primeiro de outras tribos em guerras várias, como os Astecas já um século antes da Conquista, depois dos invasores de além do oceano, que vinham para dizimar e apagar da história da ancestral civilização que se manifestava em muitas formas por todo o continente. 

O fato é que aquele grupo vem da linhagem guerreira, por isso nada mais ilusório que querer fazer proselitismo das ideias de Carlos Castañeda. A obra é o relato de uma linhagem, um partilhar de conhecimentos úteis a quem segue um determinado caminho. Como todo caminho rumo ao despertar tem muitas ideias que servem a todos que desejam uma vida mais plena e forte, mas as nuances mais importantes do processo são algo específico para quem busca o despertar na forma que os(as) xamãs guerreiros(as) consideram a mais adequada para se tornar um ser pleno quando adentrarmos outros mundos. Entrar em outros mundos, atingir outros estados de consciência com autonomia e liberdade, não como servos de criaturas ancestrais que já vivem nessas outras esferas e tem a terrível mania de nos tomar sob sua tutela, a um pesado preço: nossa liberdade. 

É nesse contexto que C.C. aprende e certo dia caminhando numa cidade do interior do México tem outro "assalto a sua razão". O caipira, o índio eremita estava na cidade grande, de terno e gravata, meias combinando como D. Juan mesmo chama a atenção. E começa uma nova fase do aprendizado. Um conceito complexo é apresentado: Tonal e Nagual. E a obra ganha nova profundidade, conhecimentos complexos são apresentados e o inusitado também entra em cena. D. Juan Matus e D. Genaro desaparecem. 

Antes disso criam um drama iniciático catártico e como ato final Carlos Castaneda vai pular num precipício voluntariamente junto com outros aprendizes, corroborando em si e por si, os ensinamentos que havia recebido. O interessante é que em toda a história subsequente a trajetória iniciática fica mais forte e os conhecimentos que acompanham a narrativa são dos mais interessantes. Carlos Castaneda justifica a publicação de sua obra como resultado de um "acidente". D. Juan quando o encontrou pensou que ele, C.C., fosse um nagual, um homem dividido, alguém com um tipo de energia suficientemente elaborada para não apenas aprender a complexa arte da magia tolteca mas também ser um guia de um grupo de xamãs.

No Xamanismo Tolteca não há mestres, gurus ou nada disso, existem apenas homens e mulheres que têm suas posições no grupo, de acordo com seus "ventos" ou conformações energéticas. O líder do grupo é um homem ou mulher que tenha uma energia extra, chamados de Naguais. Um homem ou mulher nagual, graças a sua energia extra pode ajudar o grupo a ir além da vastidão da Eternidade, rumo aos reais objetivos dos "Nuevos Videntes": Liberdade Total! Mas com o passar do tempo descobriu que C.C.não tinha energia para continuar a linhagem². Daí que C.C. e suas companheiras, só citadas nos últimos livros, resolvem publicar relatos de toda sua busca e uma parte dos ensinamentos recebidos, já que fechavam a porta dessa linhagem e não queriam que tal saber simplesmente deixasse esse mundo. Se isto é exato, se de fato ocorreu assim ou é apenas uma esperta manobra do espreitador C.C. para apresentar sua obra ao mundo e escapar da condição de messias e guru que ainda assim lhe foi imputada, fica em segundo plano. O fato é que tivemos acesso a essa linhagem de conhecimento que apresenta conceitos complexos e diferentes, ancestrais em sua origem, originais em sua forma de colocar. 

A obra do nagual - parte 2

O Nagualismo trazido ao nosso conhecimento pela obra do antropólogo doutor Carlos Castaneda apresenta temas dos mais interessantes. 

C.C. após passar por experiências intensas, como o ataque que sofreu nas mãos da feiticeira Soledad, que poderia tê-lo matado, começa a resgatar outra dimensão do seu aprendizado, que havia estado guardada em outra frequência de seu ser. Como se fosse um aparelho de rádio, C.C. descobre que além das ondas AM onde vive, mundo que chama de real, há outro mundo operando em ondas de FM. Ele vai percebendo, a princípio desordenadamente depois, pouco a pouco com mais coerência que tudo que pensava compreender de seu treinamento é apenas a ponta de um iceberg de algo muito mais complexo. 

Começo por aqui este tema para deixar claro que a obra do Doutor Carlos Castañeda não pode ser lida pela metade. Só a leitura completa da obra , todos os volumes, permitem uma abordagem mais adequada do que ele pretende transmitir. Ele esteve exposto a magistrais manipuladores dos estados de consciência que um ser humano pode alcançar e cuidaram para que a parte mais profunda e complexa de seu aprendizado acontecesse neste outro nível, em FM.

Com o auxílio de "La Gorda" ele relembra fragmentos deste mundo paralelo no qual esteve vivendo, essa vida paralela onde aprendia com todo o "grupo do Nagual" composto por 16 pessoas, cada uma depositária de um aspecto do antigo saber Tolteca, herdado e mantido por todos esses milhares de anos, bem nas barbas da orgulhosa e prepotente civilização que pretendia escravizar corpos e almas para seus fins. Cada um dos 16 integrantes do grupo era expert num aspecto do saber dos antigos Toltecas, eram elementos vivos e dinâmicos de um mito, de uma tradição. Isto é um ponto dos mais importantes para quem estuda o caminho Tolteca. Ele não pode ser criado como nós entendemos criação, ele não pode ser forjado em nossas frágeis forjas. 

Embora a herança dos Toltecas, a Liberdade Total, possa ser requerida por muitos, embora não seja necessário estar num grupo nagualístico para reivindicar acesso a herança Tolteca, um grupo Tolteca tradicional está dentro de parâmetros próprios, não aleatórios e não acessíveis a uma manipulação artificial. Embora os conquistadores houvessem tentado exterminar a antiga tradição eles falharam. Os quatro ventos, as quatro direções do mundo, os quatro pilares, enfim, o cerne do poder dos antigos nativos permanecia (e permanece), sendo transmitido em palavras e atos de poder. 

C.C. se lembra de como foi apresentado a cada uma dessas pessoas, como foi testado e trabalhado para abandonar seu falso eu, essa multidão criada pelo Sistema. Abandonar o que acreditava ser para de fato mergulhar na essência perceptiva que era e que poderia desenvolver a tal ponto que poderia ao final, transcender o apelo de morrer e entrar num estado alternativo de continuidade. 

D. Juan Matus, Genaro, Silvio Manuel, Vicente. 

Quatro homens que herdam aspectos do saber Tolteca e o ensinam a C.C. Silvio Manoel, mestre do Intento, poderoso e assustador feiticeiro no princípio para o ainda imaturo C.C. mas que vai se revelar um excelente dançarino, verdadeiro pé de valsa que ensina as companheiras de C.C., já de um grupo diferente do que é citado nos livros até então, a dançarem "a dança do intento", onde(no qual) os passes mágicos da Tensegridade, exercícios de movimento para liberar e fluir a energia em nós, são associados a dança gerando movimentos de grande poder. 

O mundo onde C.C. se vê inserido é complexo e não podemos querer encontrar aí uma textura comum a nossa "realidade" pois, embora material, este mundo está noutra camada da cebola, muito perto desta, é verdade, mas ainda assim distinto. Os conceitos que C.C. recebe de seus iniciadores e iniciadoras vem da ancestral civilização que existiu na região onde hoje estende-se o estado mexicano e algumas outras republicas sulamericanas, mais um pedaço que hoje está nas mãos dos EUA. Esta civilização atingiu seu ápice em algum momento que situa-se há aproximadamente 4000 anos de nosso tempo. Então, algo ocorreu e eles e elas se foram, para alhures. 

Os que ficaram reorganizaram o que restou desse saber e surgiu um segundo ciclo civilizatório com o saber herdado, uma Era de Prata, se chamarmos a Era do auge deste poder de Era de Ouro. Mas então chegaram os primeiros povos conquistadores. Outros povos nativos que vinham com algo diferente em sua mente. Eles só captavam AM não eram mais capazes de sintonizar em FM. Este limite era também uma proteção. Quando poderosos feiticeiros convocavam seus "aliados" e "animais de poder" muitas vezes nada conseguiam, apenas uma flechada ou bordunada e eram mortos. Muitos foram mortos e a civilização mágica caiu. Alguns poucos sobreviveram e em seu refúgio começaram a estudar porque eles haviam conseguido sobreviver e outros não. Por que a magia deles funcionara e a de tantos outros não. 

A primeira coisa que descobriram é que o que consideravam ser o plano "espiritual", um plano superior e mais forte que este era na realidade outra face da moeda, mais vasto é verdade, mas não superior. E que a maioria dos sobreviventes era do clã guerreiro, que ainda se dedicava às práticas físicas e aos trabalhos corporais, revelando que o poder a mais que tinham, o fator determinante para a sua sobrevivência, foi o poder do corpo. 

Este ponto foi fundamental para seus novos estudos, começaram a trabalhar algumas questões antigas e descobriram que resolver este mundo antes de mergulhar na eternidade é gerar condições de energia para evitar se diluir na amplitude da eternidade. Aí começaram um novo caminho, com uma profunda crítica aos hábitos de seus antepassados,  que não foram suficientes para mantê-los vivos, algo fundamental. Quando estavam no auge desse processo, duzentos anos aproximadamente após a queda de uma porção significativa das aldeias ainda resistentes ao domínio dos Astecas chegaram os invasores iberos, estes sim bárbaros e tirânicos. Sob esta condição de profunda opressão os sobreviventes forjaram seu conhecimento, exigente, disciplinado, guerreiro.

Data: Ter Mai 2, 2000 8:27 am

A Obra do nagual 3

A partir de agora o texto só vai interessar ou mesmo ser realmente compreendido aos que estudam a obra do novo nagual. O trabalho que C.C. tem em sistematizar a experiência pela qual passou e colocá-la em palavras é em si mesmo uma das mais complexas abordagens antropológicas de uma civilização em tudo e por tudo alienígena à atual. 

Culturalmente alienígena, vejam bem. 

C.C. se torna praticante, mas não deixa de ser um homem racional do ocidente, que busca explicar, que busca sistematizar o saber que lhe está sendo apresentado. Ele aplica as ferramentas cognitivas e os novos modelos de realidade que lhe são demonstrados junto com a nova "descrição de mundo" que lhe é apresentada nas questões mais fortes de nosso tempo e traz uma sutileza de abordagem da realidade na qual estamos inseridos, que distingue sua obra. 

Ele mostra que tudo é Trabalho, que nada vem de graça (Nada neste mundo é um presente. O que tiver de ser aprendido será aprendido da maneira mais dura, em Roda do Tempo, de Carlos Castaneda.). Vai concordar com Gurdjieff e outros que já haviam dito que os planos da Eternidade para o ser humano nada tem que o permita se considerar "eleito", "favorecido". O ser humano tem uma função cósmica. Ao nascer ganha a consciência. Durante a vida desenvolve e matura essa consciência. Para ao final, a força motriz e original da existência, chamada Águia ou mar escuro da consciência, receba de volta essa consciência enriquecida, imediatamente após a morte ou algum tempo depois, pois a consciência pode sobreviver em várias formas nos muitos mundos que existem paralelos a esse. 

O forte das descobertas dos Toltecas é que existe um caminho alternativo. Que existe uma chance que é apresentada de tal forma que não vamos ler abordagem equivalente em nenhuma outra obra apresentada no ocidente como reveladora da sabedoria ancestral. 

O ser humano pode, a partir de certas práticas, no decorrer de sua vida, escapar dessa dissolução e entrar num estado alternativo de consciência que é quase uma eternidade, embora ainda aqui, fique claro que há um limite. 

Esta abordagem muda toda uma concepção muito em voga nos meios esotéricos. Vidas após vidas para evoluir, para chegar a algum lugar. 

O Xamanismo Guerreiro dos Toltecas afasta toda essa ideia e coloca essa vida como única, como a mais importante e o campo onde a batalha contra nossos oponentes devem ser travadas. 

Quem são esses oponentes? 

Demônios, seres perigosos de outros mundos? 

Os mais perigosos estão em nós, são eles que podem abrir a porta da fortaleza quando o exterior tenta atacar. Se eles forem vencidos, os exteriores perdem seu poder. Aos que buscam o conhecimento quatro já foram apresentados: 

O medo, que paralisa, a clareza que cega, que gera a arrogância de tudo saber, esquecendo que num mundo em expansão o aprendizado é constante, o poder que fascina e aprisiona criando marionetes que se julgam entes poderosos quando na realidade servem os que julgam dominar e a velhice, compreendida como a incapacidade de pôr em atos o que sabemos

São inimigos constantes, nunca totalmente vencidos, sempre prontos a voltar e tomar o controle da situação. 

A importância pessoal é apontada como sua principal arma. 

Há uma estratégia fundamental nesta luta: Desmontar as rotinas da vida, para estar atento a cada momento, sem entrar no "piloto automático". 

Apagar pouco a pouco a história pessoal. 

Essas são as práticas mágicas ensinadas ao aprendiz. E embora pareçam a alguns tolas, quem ousa realizá-las compreenderá que esteve tecendo sua capa mágica, que esteve forjando sua arma mágica, que se chamará Implacabilidade e também esteve trabalhando seu escudo, a ausência de importância pessoal, que tem sua chave na ausência de piedade por si mesmo.

Quando a estratégia da ação abrange o ser implacável, paciente, astuto e gentil, sabe o aprendiz que chegou num ponto decisivo. 

Sua energia acumulada expulsa sua percepção da condição "normal" que até então era mantida. 

Surge um desassossego.

O mundo não é o mesmo, não é mais satisfatório, há algo que te chama além. O chamado do infinito tem vários nomes em cada cultura , mas o fato é que quem já o ouviu nunca mais irá ficar tranquilo se ceder a mediocridade de uma vida conformada ao cotidiano. 

O chamado do infinito tem a estranha habilidade de despertar em nós um senso crítico interior que sempre nos dirá, quer queiramos saber ou não, se continuamos fazendo do dom da vida um caminho para a liberdade ou se voltamos e cedemos e nos vendemos por algum preço ou conforto, ao sistema, à "Matrix".

C.C. percebe que foi isso que aprendeu e aprende que seu campo de batalha era o mundo das cidades, os lugares onde ia, onde estudava, era ali que deveria aprender a aplicar tudo que aprendeu e atingir a condição singular, onde tudo que havia herdado lhe ajudaria a ser ele mesmo, um evento conectado ao infinito, mas único. 

Como um vetor resultante que subitamente deixa de ser apenas o resultado de todas as forças exercidas sobre o móvel, mas se torna uma força ele mesmo, uma força nascida de si mesmo, uma vontade plena. 

C.C. experimenta muitas possibilidades de aglutinar mundos. Vai a muitos lugares diferentes e explora o mistério do ponto de aglutinação, conhecimento de um ineditismo ímpar. Não há conceito similar a esse em outras obras e cito isso aqui para que todos percebam que estamos diante de um conceito "novo", algo raro nessa era de reedições e releituras. 

O ponto de aglutinação será nosso próximo tema.

Nuvem que Passa

Notas

¹ O termo alucinógeno não é adequado, pois não se trata de alucinações, mas de estado alterados de consciência nos quais pode-se interagir com outras realidades de uma forma funcional e pragmática na busca por conhecimento e energia. Uma alternativa poderia ser o termo enteógeno, que nos remete a uma jornada interior pela qual exploramos aspectos mais vastos de nosso ser envolvendo outros aspectos da consciência.

² Ver sobre o regulamento do nagual de três pontas.



segunda-feira, 18 de dezembro de 2023

Ayahuasca e plantas de poder




Saudações!


Tenho lido os mails sobre Ayahuasca, ou Runipan¹, que é um termo que também uso mais para tal planta de poder. Creio que para falarmos sobre o tema deveríamos ir mais fundo. Como sabem considero falar e escrever um ato de poder, portanto, vem por aí um texto longo e que exige um grau de foco para ser realmente compreendido, recomendo mesmo que seja impresso para ser lido. 


Vamos começar pelo conceito de planta de poder. Este termo foi trazido a público pelo Doutor Carlos Castaneda, como tantos outros do Xamanismo hoje utilizados. 


Por que planta de poder? 


A definição de uma planta de poder é dada pela sua energia. 


Mirando as plantas os videntes notam que toda planta tem também um ovo luminoso ao seu redor. Por vezes esse ovo luminoso é pouco maior do que a própria planta, mas algumas plantas têm uma incrível e vasta projeção luminosa a sua volta, o que revela serem "plantas de poder". Há outro aspecto, as plantas se comunicam com a Terra de uma forma muito mais profunda do que nós, criaturas móveis, que também temos uma raiz, que se projeta na frente de nosso ovo luminoso, um fio Terra que todos temos e que sulca a energia da Terra enquanto nos movemos. 


As propriedades das plantas são conhecidas há milênios. As plantas podem curar, matar e induzir a estados alterados de consciência. Várias tradições xamânicas demonstram que o caminho rumo à descoberta das potencialidades que trazemos ocultas dentro de nós aconteceu, porque, por sugestão de "entes" de outros mundos, ou por curiosidade e mesmo fome, alguns homens e mulheres ingeriram tais plantas, entrando em estados alterados de consciência. 


Alguns deles foram mais longe e transformaram esse resultado errático em campo de estudo, sistematizando o que hoje conhecemos como tradição xamânica, nascida na alvorada dos Tempos. Não há nenhuma cultura nativa do mundo que não conheça ou deixe de fazer uso ritual das plantas de poder. E o que aconteceu a esta cultura na qual estamos inseridos, que negou e reprimiu tais procedimentos, substituindo com o insosso pão e vinho do rito cristão os antigos ritos de ingestão de plantas de poder? O vício e o desequilíbrio das drogas químicas, com o terror armado do tráfico e tudo mais que assistimos. 


O ser humano necessita do êxtase, do estado promovido antes pelos grandes rituais coletivos, onde em catarse provocada por danças, sons rítmicos e beberagens várias certas substâncias eram produzidas, para os fins do Ser Terra e de todo o esquema cósmico no qual estamos inseridos. 


O que se busca com a ingestão de uma planta de poder? 


Ampliar o estado de consciência, entrar em outra dimensão da realidade, normalmente inacessível a nossos sentidos comuns, a nossa forma usual de sentir e perceber o mundo. 


Por que usamos uma planta de poder? 


Para essa ampliação de nossa consciência , pois. 


Por que nos alimentamos? 


Por que sem alimentação não teremos matéria prima para manter nosso corpo vivo, com a constante renovação celular exigida para tal mister, tão pouco teremos energia para executar nossos processos existenciais. Sem alimentarmo-nos não pensamos, não sentimos, não agimos. Já pararam para pensar nisso, como é uma necessidade fundamental se alimentar. Os jejuns² tem várias virtudes, uma delas nos ensinar o que é sentir o corpo clamando por alimento, sua energia se findando. Tive algumas aventuras, que, entregue a mim mesmo, despido dos recursos que a vida "civilizada" nos dá, senti fome de verdade, que vem depois de mais de 36 horas sem alimentar-se. 


Além do alimento sólido precisamos ingerir água. Outra necessidade fundamental, já que sabemos que o Ser mundo no qual vivemos é feito predominantemente de água em nossa constituição. Alimento, água, isto precisamos ter para nos mover. Em tempos e locais sem supermercados, sem entrepostos de venda, ir suprir essas necessidades fundamentais dá um certo trabalho. A relação evidente de dependência fica mais clara. Os modos confortáveis da civilização que os conquistadores instalaram nos lugares conquistados cria uma falsa relação com o meio e assim, a indolência natural é acentuada, permitindo uma leitura da realidade que entorpece o senso de urgência não ansiosa, o estado de alerta constante que caracteriza quem está desperto. 


Como bem citado, Matrix é uma pálida alusão a uma realidade aterrorizante aos mais frágeis, que um (a) guerreiro encara com a mesma tranquilidade focada com que encara a não menos assombrosa ETernidade que nos cerca, envolve e nos empresta a consciência para que a amadureçamos, a mutemos através de nossas vivências e então, a pede de volta, um pedir que não precisa ser recusado, só ser atendido de outra forma, de uma forma criativa e ousada, como tudo mais que os(as) buscadores(as) da liberdade realizam. 


Comida, água. 

Necessidades básicas, dependências. 

Pouco paramos para pensar como temos dependências fundamentais em nossa vida. 

Alimentar-se e beber água. 

Tudo que vc leu até aqui só o fez porque se alimentou. 


A qualidade de sua alimentação determina muito a qualidade do tipo de substâncias que você vai gerar como matéria prima para a reconstrução celular constante que existe em nosso organismo, como também fornece energia para que tudo isso ocorra. Pois se está havendo uma regeneração celular constante, nossas células estão morrendo e nascendo, estamos sempre mutando também a nível corporal. A ilusão da solidez nos impede de ver isso, mas somos eventos dinâmicos, não pontos estáticos num contexto artificialmente gerado, aceito por convenção. 


O alimento entra no corpo. É mastigado, deglutido, vai para o estômago, sofre ali uma digestão mecânica e enzimática. Usando substâncias várias produzidas pelo corpo, as enzimas decompõem os elementos ingeridos em estruturas absorvíveis pelo organismo. Um exemplo da importância das enzimas é nossa incapacidade de digerir celulose. Nosso organismo não produz esse tipo de enzima. Assim a celulose entra e sai com a mesma natureza química, tendo sofrido apenas alterações de natureza física (mastigada, etc.) O alimento vai para as células, via circulação. Vejam os importantes glóbulos vermelhos, cheio do real material mágico da Alquimia, não o ouro, usado como símbolo e mais tarde distração. Mas o Ferro, o elemento mais abundante do planeta. Com a hemoglobina vai o terceiro alimento, o terceiro fator fundamental para nossa vida, além do que comemos e bebemos. 


O AR. 


Bem mais que o Oxigênio, que no entanto cumpre fundamental função para a vida e, também é, paradoxalmente, fator de entropia no organismo (as oxidações, fatores como radicais livres, etc.). Dentro da célula é a combinação de certas substâncias tiradas dos alimentos com o Oxigênio é que vai gerar energia para todos os processos que resultam no que chamamos de vida. O alimento está absorvido pelo organismo. Agora não há mais alimento e corpo, há só corpo com toda a matéria absorvida integrada em si. O ar se mistura com outros elementos. Respondemos a cada inspiração com uma expiração. Se o oxigênio é o que buscamos quando inspiramos, é gás carbônico que devolvemos quando expiramos. As plantas expiram oxigênio, na fotossíntese, e inspiram gás carbônico. Podemos nos tornar grandes amigos das árvores, algo difícil em nossos tempos pelo estado de guerra que nossa espécie declarou a estas belas companheiras. 


Isso é um processo simbiótico, como em simbiose vivem certas bactérias em nosso intestino, nos ajudando em processos digestivos e se alimentando enquanto isso. A simbiose com o mundo das plantas é muito profícuo. Mas da mesma forma que tiramos a vida no mundo animal para nos alimentar, tiramos a vida no mundo vegetal. Pois nos alimentamos de plantas também. Cada pé de alface que arrancamos, tem o mesmo sentido quando atiramos uma flecha ou armamos uma armadilha para capturar uma caça. Aquele pé de alface sentia o tempo, sentia as estrelas e as noites de luar, sentia o sol quando nasce e se põe, sentia a vida em toda sua expressão. Suas raízes vinham da mãe terra, onde nascera de semente, onde tivera que abrir seu espaço e uma dia surpreso se viu irrompendo num outro nível da realidade e da Terra, seu útero seguro, que lhe alimentava e protegia, vinha agora o desafio dos ventos, das chuvas de pedra, dos estranhos seres que se moviam de outra forma. Pois mesmo uma alface sabe que mobilidade e repouso são conceitos muito relativos. Essa alface, tanto quanto um porco do mato, uma galinha, uma capivara, tinham o prazer da vida em suas veias, quer por ela corresse o sangue ou a seiva. Mas como muitos perderam o Sentir e lhes restou apenas raciocinar, que é bem menos que pensar, esta percepção foi perdida. 


Quando compreendemos que as plantas têm esse nível de poder e consciência podemos entender o que é uma planta de poder, o que é convidar Runipan para partilhar conosco seu poder. Em um animal fica mais claro isso. Um(a) caçador(a) quando vai pela mata sabe que também somos caça. O vento que trás os cheiros também leva o seu. Quem já esteve em mata sabe que a gente sente o cheiro da onça de longe, ela exala um cheiro forte. Um caçador está preparado, ele vai a caça. Isto permite que ele estabeleça uma relação diferente com seu alimento. Quando o pega ele foi a face da Morte para sua caça. 


Se for sábio vai reconhecer que um dia a Morte poderá se mostrar da mesma forma para ele e na impossibilidade de saber mesmo o que vai lhe acontecer e quando, vive cada instante na plenitude de si. Quando aquele animal for comido a qualidade daquela carne, a força que ali estava, o poder, vai se impregnar na substância orgânica. Cada naco daquela caça, quer cru, quer assado ao fogo, vai ter consigo um pouco do poder daquela caça que correu livre, que viveu e metabolizou um aspecto da consciência da Eternidade, como todo ser vivo e consciente faz. 


Em um de seus aspectos a Vida é consciência. Sintam a diferença entre este alimento, em termos de poder e energia contidas e transmitidas a quem dela ingere, se comparado a um bife feito num restaurante, por um cozinheiro com raiva da gerência e com medo de perder seu emprego, servido por alguém que também está mals consigo, num lugar fechado, sem luz do sol, cheio de pessoas que fazem da refeição um momento de ansiedade e confusão a mais. Veja como esta civilização se alimenta mal, com vegetais e animais criados em grande quantidade, sem energia selvagem, por isso criando uma perigosa tendência a sermos nós também, domesticados servilmente. 


Esta diferença também ocorre no uso das plantas de poder. 


Primeiro, o que é uma planta de poder? 


É uma planta que tem muita consciência e algumas de suas fibras de consciência tem paralelo com as nossas de forma acentuada. A planta de poder carrega em si uma energia peculiar. Como toda energia orgânica tem sua densificação num ponto do organismo. É nos chamados "alcalóides" que essa energia peculiar se assenta nas plantas de poder. A composição química não é o único segredo. É na fórmula espacial das moléculas que está a força desses alcalóides. Eles têm tal conformação espacial que formam certas cadeias, têm padrões de ressonância os quais uma vez dentro do organismo ativam partes do corpo que estão adormecidas há milênios, falando em termos de espécie. 


Partes de nosso ser que ressoam a outras realidades, que nos permitem ver, ouvir, sentir, degustar e cheirar de formas completamente novas, além de levar a outros estados perceptivos que a partir de certo limiar já não mais estão no corpo denso, mas no corpo de energia, contraparte deste que conhecemos. 


Para todas essas manobras, porém não basta apenas a ingestão da planta de poder, há que se ter energia. 


Quando os predadores³ (ver texto sobre Predadores e Ponto de Aglutinação) chegaram e começaram a dominar a espécie humana, pouco a pouco, certas habilidades antes naturais foram sendo perdidas. Com a energia sendo consumida pelos predadores certas habilidades deixaram de ser atingidas enquanto potência realizada. Ficamos só com certa lembrança, certa intuição de que somos capazes, mas sem a condição energética para realizar. Por isso há tanta ênfase em reduzir nossa preocupação conosco mesmo, com nossa importância pessoal. 


Pois o que julgamos ser nós mesmos, nosso "eu" é tão somente um aglomerado de jeitos de pensar, sentir e agir, que nos deram e que nós absorvemos, por imitação ou imposição. Ë neste aglomerado travestido de "eu" que estão as grades de nossas celas, onde somos mantidos ignorantes de nós mesmos e de nossa real condição. Fomos condicionados a agir de tal ou qual forma. E assim respondemos aos estímulos, raramente agimos. Reagimos, mas raramente agimos. Estes estilos de agir, pensar e sentir não são a nossa "essência perceptiva". Somos o percebedor, mas estamos identificados com o percebido e parte desse percebido é um conjunto de estilos de agir, de pensar e de sentir que chamamos "eu". Se formos mais fundo na observação de nós mesmos teremos que reconhecer que nem é pensar, nem é sentir, nem é agir o que acontece. 


Raramente pensamos, na maior parte do tempo o que fazemos é raciocinar, que é um treino válido, mas limitado apenas a esta realidade convencional na qual vivemos. Raciocinar é operar apenas numa condição de memória, interpretando os dados recebidos a partir de um repertório. Uma condição de secundidade no dizer de C. Pierce. Pensar é mais amplo. Raciocinamos para treinar nossas habilidades a mergulhar no pensar, que entre outras coisas é criativo, realmente criativo, no sentido xamânico do termo. 


Nos emocionamos, para treinar o sentir. Emocionar-se é responder a estímulos, dos mais diversos, mas é resposta. A singularidade humana se manifesta em nós quando somos capazes de formular nossas próprias perguntas, ao invés de apenas repetir as respostas que nos fizeram decorar. Em todos os níveis e sentidos. E como tem demonstrado os behavioristas, para ira de muitos que se enamoraram da maquinaria mental, como dizia Skinner, os seres reagem, raras vezes agem, embora a natureza do estímulo está, na maioria das vezes, fora de seu espectro de percepção consciente. 


Mas podemos ir além. Podemos de fato sentir, pensar e agir. Para isso precisamos expandir nossa consciência, abarcar novos e mais complexos paradigmas sobre os quais construir nossa abordagem da realidade. Mas expandir consciência implica em tê-la. Como dizia Gurdjieff não se pode expandir a consciência inconscientemente. E aqui entra o ponto chave da questão das plantas de poder, como também da nossa relação com seres de outras realidades, tema de outro mail que estou mandando. 


Se usarmos as plantas de poder, a partir de nosso "eu normal", se usarmos as plantas de poder sem antes encontrarmos aquele lugar silencioso em nós, onde podemos ouvir a voz de nossa testemunha interior, estaremos usando o tremendo poder das mesmas, sua consciência intensificada que ingerimos, para apenas alimentar as projeções do que chamo "falsa personalidade", conjunto de formas de agir, pensar e sentir (que na realidade é reagir, raciocinar e emocionar-se) que apenas desejam que tudo fique como está, que é vaidosa, que é indolente, que tem medo e disfarça seu medo com arrogância, que é covarde e disfarça sua covardia com imprudência. Sem um claro trabalho sobre si mesmo, o uso de plantas de poder tem efeitos sempre questionáveis.

 

Foi essa a queda dos Antigos Videntes, alertam os Toltecas deste ciclo, encontraram maravilhas, mas o fizeram a partir de seu "eu" não cultivado. Expandir-se em estados estáticos de contemplação confusa dos mundos que existem além disso tem uma utilidade duvidosa para quem busca o viver estratégico e a compreensão efetiva daquilo que está à sua volta. 


Há outro detalhe. 


Existem pessoas que após certa idade param de produzir a enzima que digerem o leite. Assim sendo, se ingerirem o leite terão vários problemas, como alergias, doenças respiratórias. Mas para outras essa enzima continua ativa pela vida toda e assim, podem beber leite como bezerros até o fim da vida, quando a Terra os beberá também. Da mesma forma, as plantas de poder podem ser inócuas, debilitantes dentro de graus toleráveis ou intensamente debilitantes de acordo com cada pessoa. Existem pessoas que têm a habilidade de metabolizar os alcalóides, outras não. Por isso vamos encontrar pessoas que podem ter acesso às plantas de poder sem nenhum dano a sua estrutura física e outras não. 


E não só isso. 


Há também a questão da energia pessoal fundamental. Alguns têm essa energia em grande quantidade. Outros em pequena, alguns quase nenhuma. Essa energia que é determinada pelo grau de tesão com que a relação entre nossos pais aconteceu quando nos gerou, determina de forma inequívoca, quem pode e quem não pode trilhar certos caminhos. E por certo o caminho das plantas de poder não é único, muito menos o mais recomendado para quem busca a sobriedade. 


Atenção: Não quis dizer que o caminho das plantas de poder não pode ser trilhado com sobriedade. Disse que é um caminho que facilita a ausência de sobriedade. A planta de poder solta seu ponto de aglutinação. Ele pode sair errático e cair em qualquer novo alinhamento. Como os sonhos antes de serem controlados. E podemos nos arriscar a cair em mundos além de nossas possibilidades energéticas. Por isso, como tudo que se refere ao Conhecimento não pode ser trilhado com diletantismo. Há que se saber por que e como está fazendo isto. 


Segundo ponto importante, o uso em grupo. Todo trabalho coletivo usando plantas de poder exige a presença de um(a) condutor (a) preparado, alguém capaz de auxiliar no conduzir dos estados de consciência alterada que vão se produzir ali. Tem que saber usar da voz, dos tons, da energia do ambiente, tem que sentir cada um dos que estão ali para auxiliá-los, se necessário. O limite de um grupo de trabalho é o limite da capacidade do guia, do que conduz a canoa com os que trabalham juntos. 


Um efeito colateral de um trabalho grupal com plantas de poder é a entrada em ressonância entre os campos de energia dos participantes. Por isso se misturar a qualquer grupo de pessoas para usar qualquer tipo de plantas de poder é, no mínimo, imprudente. Se isso for feito de forma sóbria e focada, os participantes terão uma energia extra gerada pelo propósito grupal. Acima de oito rompem uma barreira energética importante, a barreira da personalidade. Mas tudo isso deve ser lido com uma mente muito diferente da mente usual. 


E aí entramos no foco desse tema: Os predadores⁵, que nos deram sua mente, e agora temos essa forma de pensar que não é natural a nossa espécie. Temos duas mentes, uma nossa mesma, fruto da somatória de nossas experiências. E uma outra, que os xamãs Toltecas chamam de "instalação alienígena". Ambas têm suas peculiaridades. Mas a mente do predador que está acoplada a nossa tem uma forma de ser que nos desequilibra e limita, para que sirvamos aos seus propósitos. A melhor analogia a isso foi dada por Matrix (famoso filme dos irmãos Wachowski, lançado em 1999). O ser humano deixou a condição de mamífero e se tornou destruidor como um vírus. Essa segunda natureza destruidora que temos não é realmente nossa. Foi implantada em nós. Um condicionamento. Como nos piores filmes classe B de ficção científica somos um grupo de escravos, mantidos numa sofisticada prisão, a prisão chamada "realidade". A realidade que vemos lá fora é mais sutil que a mostrada em Matrix, porém. Ali era uma simulação criada por máquinas. Aqui, há algo sim lá fora, vivemos num mundo gerador de energia, não num mundo espectro. As árvores, as pedras, tudo que nos cerca são itens geradores de energia. Vivemos num mundo que está doente com nossas agressões, mas ainda vivo e com energia. Nós processamos essa energia, como células, como enzimas do Ser Terra. Somos tipos de enzimas do Ser Terra, metabolizamos substâncias que na sua forma original o Ser Terra não poderia absorver. 


Não só substâncias físicas que metabolizamos, mas também as energéticas, vindas da eternidade, que metabolizamos de tantas formas em nosso sentir, pensar e agir, mesmo quando ele é mero emocionar, raciocinar e reagir, atitudes mecânicas. Portanto, temos que tomar cuidado com este detalhe para não nos limitarmos a uma dupla prisão. Somos células da Terra, somos parte do sistema orgânico que lhe possibilita existir e, além disso, estamos há alguns milênios escravizados por uma espécie de seres inorgânicos, isto é sem organismo, que vindos de alhures da Eternidade, nos pastoreiam agora, consumindo nossa energia, como os Massari fazem com seu gado (os Massari, povo da África, não matam o gado, tiram sangue deles e preparam sua comida com esse sangue. Sangram o gado pela vida toda do animal sem matá-lo.). 


Mas a prisão ao Ser Terra não é uma prisão. Só o ser humano da civilização industrial pensaria assim. Nossa ligação com o Ser Terra é simbiótica. Como organelas (mitocôndria, por exemplo) que migraram para dentro das células, mas eram seres independentes, que entraram em processo simbiótico para melhorar suas condições de vida e continuidade podemos nos sentir ligados ao SER Terra e aí passamos a uma troca justa onde metabolizamos energias para o Ser Terra e em resposta temos condições mais amplas para nossa sobrevivência e tempo para investigarmos os desafios que nos esperam. Condições de lutar pela Liberdade. Mas a resposta predadora existe em toda a ETernidade. A condição predadora da Realidade é algo que escapa aos(as) que estão escravizados(as). Por isso qualquer contato com seres de outra realidade devem ser conduzidos com o máximo de sobriedade e bom senso. Nessa nossa ligação simbiótica com o SER Terra podemos recuperar uma condição de ação disciplinada e focada, um estilo de vida que nos coloca vibracionalmente além do alcance destes seres que escravizam os humanos. E uma vez tendo alcançado esta primeira liberdade, teremos condição de seguir no Caminho e trabalhar pela segunda liberdade, a liberdade da condição de célula da Terra, que tem a consciência como empréstimo, que um dia vai ser tomado de volta. 


O segredo de tudo está na energia vital, que temos junto com a consciência. A consciência precisa ser devolvida, a energia vital não. E todo o treino de certas escolas visa isso, "despertarmos" isto é tornar a energia vital consciente de si mesma. E este trabalho pode ser auxiliado ou retardado pelo uso das plantas de poder. Tudo depende da forma que fazemos esse uso. 


Um último adendo. 


As mulheres raramente precisam de plantas de poder. Elas já tem um órgão que faz o papel que as plantas de poder tem para os homens. O útero na mulher é um órgão mágico por excelência. O assunto é amplo, mas creio que alguns pontos fundamentais foram expressos.

Nuvem que Passa

Data: Seg Mai 29, 2000 8:15 pm

Assunto: Re: [ventania] Runipan (Ayahuasca)



Notas


¹ Runipan significa homem forte. Ayahuasca, em Quéchua, quer dizer “cipó dos espíritos, vinho das almas Existem mais de 40 nomes diferentes para esta planta de poder, na verdade a combinação de duas ou mais plantas. Dentre eles temos: Natema, Yagé, Nepe, Ayahuasca, Santo Daime, Vegetal, Dapa, Pinde, Runipan, Bejuco Bravo; Bejuco de Oro; Caapi (Tupi, Brazil); Mado, Mado Bidada e Rami-Wetsem (Culina); Nucnu Huasca e Shimbaya Huasca (Quechua); Kamalampi (Piro); Punga Huasca; Rambi e Shuri (Sharanahua); Ayahuasca Amarillo; Ayawasca; Nishi e Oni (Shipibo); Ayahuasca Negro; Ayahuasca Blanco; Ayahuasca Trueno, Cielo Ayahuasca; Népe; Xono; Datém; Kamarampi; Pindé (Cayapa); Natema (Jivaro); Iona; Mii; Nixi; Pae; Ka-Hee’ (Makuna); Mi-Hi (Kubeo); Kuma-Basere; Wai-Bu-Ku-Kihoa-Ma; Wenan-Duri-Guda-Hubea-Ma; Yaiya-Suava-Kahi-Ma; Wai-Buhua-Guda-Hebea-Ma; Myoki-Buku-Guda-Hubea-Ma (Barasana); Ka-Hee-Riama; Mene’-Kají-Ma; Yaiya-Suána-Kahi-Ma; Kahí-Vaibucuru-Rijoma; Kaju’uri-Kahi-Ma; Mene’-Kají-Ma; Kahí-Somoma’ (Tucano); Tsiputsueni, Tsipu-Wetseni; Tsipu-Makuni; Amarrón Huasca, Inde Huasca (Ingano); Oó-Fa; Yahé (Kofan); Bi’-ã-Yahé; Sia-Sewi-Yahé; Sese-Yahé; Weki-Yajé; Yai-Yajé; Nea-Yajé; Noro-Yajé; Sise-Yajé (Shushufindi Siona); Shillinto (Peru); Nepi (Colorado); Wai-Yajé; Yajé-Oco; Beji-Yajé; So’-Om-Wa-Wai-Yajé; Kwi-Ku-Yajé; Aso-Yajé; Wati-Yajé; Kido-Yajé; Weko-Yajé; Weki-Yajé; Usebo-Yajé; Yai-Yajé; Ga-Tokama-Yai-Yajé; Zi-Simi-Yajé; Hamo-Weko-Yajé (Sionas do Putomayo); Shuri-Fisopa; Shuri-Oshinipa; Shuri-Oshpa (Sharananahua).


² O jejum intermitente, por exemplo, pode ser usado como uma prática para aumento de energia, vitalidade e despertar. A base científica de tal prática decorre dos trabalhos do prêmio nobel de Medicina de 2016, o biólogo japonês Yoshinori Ohsumi. O próprio jejum é uma prática de vários povos nativos como preparação para o ritual com Runipan e envolve um conceito mais amplo do que não-comer, adentrando na esfera do pensar e do falar.


³ Ver o capítulo 15 do livro O Lado Ativo do Infinito, de Carlos Castaneda, bem como a entrevista do xamã Credo Mutwa à David Icke:


https://www.youtube.com/watch?v=HLVQAHu6itQ&t=80s.


Secundidade - a arena da existência cotidiana, estamos continuamente esbarrando em fatos que nos são "externos", tropeçando em obstáculos, coisas reais, factivas que não cedem ao sabor de nossas fantasias. O simples fato de estarmos vivos, existindo, significa, a todo momento, que estamos reagindo em relação ao mundo. Existir é sentir a acção de fatos externos resistindo à nossa vontade. Existir é estar numa relação, tomar um lugar na infinita miríade das determinações do universo, resistir e reagir, ocupar um tempo e espaço particulares. Onde quer que haja um fenômeno, há uma qualidade, isto é, sua primeiridade. Mas a qualidade é apenas uma parte do fenômeno, visto que, para existir, a qualidade tem que estar encarnada numa matéria. O fato de existir (secundidade) está nessa corporificação material. Assim sendo, Secundidade é quando o sujeito lê com compreensão e profundidade de seu conteúdo. Como exemplo: "o homem comeu banana", e na cabeça do sujeito, ele compreende que o homem comeu a banana e possivelmente visualiza os dois elementos e a ação da frase - https://pt.wikipedia.org/wiki/Semiótica#Charles_Sanders_Peirce.


 A cristianização em torno de Runipan ou Ayahuasca pode ter o dedo, a mão e o pé de tais seres, que vem a beber de canudinho da energia gerada em tais trabalhos grupais e que são os “mentores” de muitos líderes de tais organizações religiosas cristianizadas em torno de Runipan.

sábado, 2 de dezembro de 2023

Somos pontes, por Nuvem que Passa.




A grandeza do homem consiste em que ele é uma ponte e não um fim; o que nos pode agradar no homem é ele ser transição e queda - Nietzche.
 
Aloha!


Ultimamente tenho questionado algumas abordagens intelectuais ou fantasiosas da realidade a nossa volta e sobre nós mesmos.

Faz já um tempo isso, mas ultimamente estive com uma pessoa ligada ao Taoísmo e nestes meses fiquei muito chocado em perceber que os conceitos, as definições, todas elas, desde as mais chãs as mais transcendentes, todas são emanadas de um nível, emoções ou raciocínios.

É muito forte perceber isso, perceber que a maior parte do que chamamos "nosso jeito de agir" é um movimento de reação.

A ação brotando da gente mesmo, de nossa própria vontade, de nossa intenção é algo raro ainda, a maior parte da humanidade planetária segue modelos prontos, tem paradigmas impostos, não escolhidos e a flexibilidade perceptiva está endurecida.

Raciocinar e emocionar lida com tipos de comportamento que respondem a uma programação ideológica de vários grupos. O que chamam de "mundo oficial" , a abordagem da realidade que temos por final e determinante precisa ser contemplada, meditada, observada com foco para irmos além do repetir daquilo que já existe, que já se mostrou insuficiente para o tamanho do desafio de ajudar este planeta como um todo a se curar, a voltar ao seu estado de equilíbrio com o meio e consigo mesmo.

Há um novo tempo começando, após a noite está raiando a manhã.

Hunab Ku ressurge.

Estamos numa dimensão da realidade que nos colocaram.

A opção do Xamanismo é mostrar como mudar a realidade sem nos desviar de um caminho de liberdade.

SENTIR e PENSAR são formas diferentes de usar aquilo que treinamos usando o emocionar-se e o raciocinar.

Podemos atravessar toda a existência limitando-nos a apenas nos emocionarmos dentro dos estímulos que vem da "realidade", podemos ficar nos conceitos racionais que explicam o mundo dominante atual, podemos por toda a vida apenas teorizarmos sobre questionamentos ao modelo vigente mas na realidade cotidiana servir de várias formas a manutenção do mundo tal qual ele é, tal quais os conquistadores nos impuseram.

Escolher deixar de fato, em ato, de manter esse sistema destrutivo que domina ainda o cenário mundial é reconhecer que os conquistadores ainda estão no poder, que o mundo virou de fato um grande mercado onde o mais importante para grande número de pessoas é o gerar de capitais e poder de controle em comportamento.

Mas há outras opções por aí.

Há outros caminhos, caminhos sutis, que não se impõe, apenas se revelam existentes, apenas emanam o que são, como o Sol surgindo na cinzenta cidade.

Perceber a realidade em outros níveis.

Me parece que esta energia de Hunab Ku que está chegando agora ao planeta, está impregnada de novas e desafiantes formas de existência, mas dentro de uma perspectiva equilibrada em relação ao meio.

Estar em harmonia é um caminho para o Ser.

Estou trabalhando com consultoria para projetos sustentáveis e dentro de uma proposta de Melhoria Contínua. Tem empresa que entro uma vez por semana as 5:30, para passar o treinamento na entrada do pessoal na linha de produção. O tempo, o horário, a tal 5:30. Uma vez por semana este horário está lá e a gente tem que chegar no horário.

Neste momento é irônico ler que o "tempo não existe". Às vezes LEIO TEXTOS com uma abordagem sobre o tempo que me parece perdida em uma abordagem racional.

Creio que o Xamanismo Guerreiro propõe uma outra relação com o tempo e neste sentido o tempo de fato não existe, mas nesse mundo, gerado por esta posição comum que o ponto de aglutinação foi fixado, há um tempo acontecendo

Quem trabalha em qualquer setor da economia oficial em algum momento está ligado ao tempo, tendo que cumprir horários, efetivos.

Horários, são 7:10, daqui a pouco estarei num escritório, uma empresa, pessoas focadas nos desafios do mercado ali.

Tantas influências, mas o que chamam de realidade ali é um conceito de "realidade" de uma sociedade.

É complexo isso, entender que nossa "abordagem da realidade" é no começo fruto dos condicionamentos que recebemos e continuamos recebendo.

Este primeiro momento, quando reconhecemos que somos um ente perceptivo, que somos um ponto perceptivo, ponto adimensional, isto muda muita coisa. Pois podemos deixar de nos identificar com o que "fizeram de nós" e podemos de fato mergulhar nesse lugar interior, silencioso, singular, de onde podemos brotar sinceramente como novidade e não mera repetição do que já foi realizado. O papel dos caminhos é mostrar a liberdade e a relação direta nossa com a Fonte.

Isto é fantástico, somos ponte, ponte entre mundos diversos que se encontram pelo nosso existir.

Somos pontes.

A diferença da proposta de observar a realidade que o Xamanismo faz permite entrar numa linha de existência singular, própria e nesta "unidade" podemos ir além das programações que herdamos enquanto membro de uma espécie cumprindo funções para o metabolismo do organismo cósmico onde estamos inseridos(as).

Observar o mundo como ele é em si.

Sentir a realidade que nos envolve pelo que ela passa de fato, estar atento no aqui e agora do momento onde estou.

O Xamanismo Guerreiro restaura uma linha que permanece secreta há eras, trás a possibilidade de entendermos um pouco mais, mesmo racionalmente, outra forma de abordar o mundo, a ação impecável, astuciosa, paciente e gentil.

Esta combinação de estilos de agir faz com que realmente ocorra um "agir" e não um mero reagir, que às vezes até vem disfarçado de atividade, de conhecimento, de sistema, de caminho, mas não o é.

A ação brota da vontade, sem vontade não "há ação de fato", só reação, estaremos agindo por causas que foram deflagradas em outros tempos, estamos respondendo ao contexto social onde estamos inseridos representando um papel ao qual fomos acostumados desde que nos tornamos "maduros e autossuficientes". Ser maduro e autossuficiente é uma forma de se colocar das pessoas que neste mundo conseguem "se manter".

É um desafio se manter nesse mundo, de fato, com equilíbrio, existem várias formas, na realidade toda pessoa que está na sociedade de alguma forma está se mantendo enquanto "indivíduo".

É interessante observar isso, todos têm nomes, profissões, aparências, enfim cada uma das pessoas do mundo de hoje, cada indivíduo onde quer que esteja, é uma possibilidade humana, cada ser humano que nasce hoje está exposto a uma descrição de mundo que, em linha gerais, se tornou impressionantemente comum por este estranho fenômeno que alguns chamam de "globalização".

Desde umas 10.500 voltas do Sol atrás que não acontece uma civilização global e integrada como esta que estamos.

Agora estamos de novo, sintonizados com vários tipos de estilos de vida que podemos adotar como resposta constante, como ação base mesmo.

Atitude.

Mas será que é só isso o "me manter", será que não estamos presos num jeito de agir e relacionar, tanto com o meio como com a gente mesmo?

Será que não temos que rever todas as nossa verdades constantemente, ampliando a percepção da realidade?

É este ponto que tenho percebido, os outros mundos, as experiências advindas do trabalho mágico, revelam realidades que não dá nem prá aludir com palavras.

É tão ampla a mudança resultante de um caminho de autonomia existencial e são tão restritas as propostas fruto desse mundo condicionado, doutrinado, limitado, conquistado que nos ensinaram a perceber como "única" realidade.

O desafio nestes caminhos é trilhar com foco, evitar "naufragar" no tempestuoso mar que às vezes surge, tão pouco se deixar prender pelos mares paradisíacos. Para os(as) xamãs guerreiros(as) há a aventura da Eternidade, sem ficar preso em nada, mesmo os Deuses e Deusas ao fim do Mahavantara ou mesmo do Kalpa, se verão dissolvidos, frente a este fim, este dissolver em tantas possibilidades há uma liberdade diferente acenando da 3ª porta, sutil.

Há uma era de comércio e comerciantes e algumas classes outras que ainda gravitam em torno do dinheiro também, assim, acabamos restritos a um planeta onde indústrias de armas e destruição desenvolvem tecnologias para garantir o poder aos grupos que servem.

E por diversos meios há um domínio, mas agora questionado, sobre nossas vidas e os destinos do mundo.

O importante é reconhecer que estamos em outro tempo, outro espaço, a era de dominação acabou, o domínio de grupos não justifica mais, há uma realidade muito ampla vindo do Centro da Galáxia.

Dentro de mais ou menos 10 voltas ao redor Sol estaremos recebendo o pulsar do coração da galáxia, o momento no qual a força do centro da galáxia emite pulsos de sua presença, o mundo se vê perante o abismo e tem a coragem de saltar, livre, só, pleno.

Há mundos novos voltando e dizem que muitos dos que se foram na última pulsação voltam, trazendo novas amizades.

A Tribo do Arco Íris está em ação.

Chegou o tempo mágico.

Começou, não há mais tempo de investir a energia nossa em modelos de realidades que vieram dos conquistadores.

É chegado o momento de vestirmos nossas cores reais e começarmos a ousar, a agir, para manifestar na realidade o que sabemos estar vindo de outros mundos.

Os grupos dominantes continuam desenvolvendo suas estratégias para que o mundo inteiro tenha uma uniforme e pouco variante percepção da realidade, para que nesta visão programada se adapte a esse modelo de produção global que estes(as) neo senhores(as) feudais, alguns comerciantes, militares e mais algumas facções como igrejas e outras, estão impondo aos seres humanos como visão única de realidade.

Observar isso com foco é muito importante, é momento de entender que tudo que chamamos de realidade é apenas uma descrição, a descrição que a Igreja com os Invasores trouxeram até este continente, se aproveitaram de disputas tolas das tribos aqui viventes e impuseram um modelo de civilização.

Hoje estamos tendo a chance de saber um pouco mais, de conhecer mais as formas de viver de povos nativos ancestrais, quando estavam em contato com a VIDA, consigo mesmos, então viviam de forma harmônica, presenciando mistérios de todo escopo.

Pra mim é claro que esta sociedade que aí está é uma sociedade gerada pelos conquistadores, tem muitos valores de uma sociedade de escravos(as) por isso para de fato compreender e trilhar o caminho do(a) guerreiro(a) do Arco Íris é necessário compreender os fatos que nos levaram a ser membros de uma sociedade de escravos(as) e trabalhar ativamente para sair dessa.

Parece-me que o começo de tudo é observar, observar a gente mesmo e tudo a nossa volta, para descobrir o que as coisas e eventos, as pessoas e situações, são de fato, não nos limitarmos a uma descrição de mundo que nos dão pronta, mas ousar construir outra abordagem da realidade.

É fundamental observarmos a nós mesmos, lembrar de nós mesmos, é fundamental deixarmos de ser um conjunto de estilos de reagir, emocionar e raciocinar e chamar esse aglomerado de "eu".

Uma chave que as tradições nos trazem é a percepção que devemos ter sempre um trabalho eficaz no corpo Tonal, o tonal, o dia a dia, a chamada realidade, deve ser bem resolvida, precisamos viver plenamente nesta realidade, antes de ir para outras realidades, a Tradição ensina que se lidamos satisfatoriamente no mundo "real" já estamos preparando nossas habilidades da segunda atenção para operar com eficiência em outras realidades.

Há um mundo acontecendo a nossa volta, um mundo composto de muitos mundos, cada ser humano é um "parente da mesma fonte" como alguns chamam, toda a vida é nossa "parenta", estamos ligados ao respirar e fluir da Eternidade através de nós, por nós, além de nós...

A percepção de realidade que um Caminho nos desperta permite que mudemos completamente nossa relação com a realidade, não apenas conceitualmente mas efetivamente.

Um dos conceitos fundamentais do Xamanismo é a ligação com a Terra, enquanto energia, feminina, manifesta na Natureza, em suas facetas amplas, do brilho dos olhos do predador na floresta, a sutileza de um beija-flor numa flor rica em néctar, o mistério da vida, em todas suas formas.

Conectar-se a Vida é uma necessidade do Xamanismo, no Xamanismo aprendemos que somos parte da Terra, desligados (as) por ação bitolante do sistema dominante e seus vetores.

Assim o primeiro desafio além de observarmos a nós mesmos é estarmos conectados a essa energia de forma plena, algo que está muito longe do que julgamos ser isto.

Parece-me que o começo de tudo é aprender que podemos de fato "vir a existir" enquanto ser singular e a necessidade de guardarmos energia para que nossa percepção possa captar realidades outras além das que nos foram condicionadas.

É muito importante lembrar que Xamanismo vem de uma civilização distinta com paradigmas distintos, então os valores que damos as palavras que usamos não tem acesso direto aos valores destas civilizações, que ao contrário dessa civilização escravizada e restrita, possuíam uma abordagem da realidade ampla, complexa, dinâmica.

A tradição mágica está aí, apenas visível aos que "olham envesgados”.

Alguns mitos já bem "popularizados" e algumas lendas sobreviventes da tremenda perseguição que a História e os fatos desses povos sofreram ainda estão por aí, mas nos caminhos secretos nunca o saber deixou de fluir, como límpido rio da tradição espiritual .

É importante lembrar disso, ritos e conhecimentos de vários povos foram destruídos na tentativa de assegurar a escravização que continua de forma acentuada, basta olhar com atenção o mundo a sua volta.

Há uma conexão diferente de um (a) xamã com a Terra.

Esta conexão não surge por "fantasia", ou por apenas reinterpretarmos todos os conceitos que assimilamos nesse período de vida exposta a "educação" do sistema.

Não adianta apenas mudar os títulos, não adianta mudar nomes, falar as mesmas coisas com conceitos diferentes, o mergulho em nós mesmos tem de ser profundo, além de toda programação, até chegar naquela dimensão silenciosa que está apta a expressar não "o que fizeram de nós" , mas o que de fato somos, entes perceptivos, atiçando o brilho da consciência com nossa percepção.

Percebemos.

Algo é percebido.

Mas não precisamos interpretar esse algo como determina nossa educação, podemos ir em busca de outras interpretações da realidade, oriundas de desafios de vida com intenções mais amplas, mais profundas, ao invés de servir grupos de poderosos, servir modelos prontos de realidade gerados por pessoas, dentro da forma humana, ousar ir além, em busca de uma fugidia liberdade, que até na palavra apenas alude a algo que está noutro estado, noutra realidade.

É muito importante para quem trilha a proposta Tolteca reconhecer que a força e a magnitude da civilização Tolteca não foi um dado racial, falamos de um xamanismo aberto a todas as correntes humanas, a todas as correntes vivas, o velho nagual fala das árvores¹ no quintal de uma das casas do grupo, como árvores guerreiras que também estão no grupo.

Portanto, as possibilidades do Caminho Guerreiro são surpreendentes e além de nossa imaginação, já sempre algo que brota, espontaneamente, insights que revelam linhas de agir e existir, que nos colocam em sintonia com outras esferas da existência, mundos completos, onde podemos escapar da escravidão e construir vidas completamente satisfatórias.

A civilização dominante, mesmo em seus aspectos espiritualizados coloca que os minerais "evoluem" em vegetais, os vegetais em animais e os animais em seres humanos.

É um consenso entre a maior parte dos caminhos conhecidos por espirituais, que existe uma "evolução" e cada reino está num "nível evolutivo diferente”.

O Xamanismo que estamos estudando aqui faz parte de outra abordagem da realidade, uma abordagem onde pedras, plantas, animais, nós, somos formas distintas da manifestação da mesma Fonte, da mesma origem emanamos, cada um de nós está singularizando porções de energia e consciência que ganhamos ao nascermos, que vieram da fonte.

O foco é ir além.

Assim existe energia e consciência em minerais, vegetais e animais, como também nos seres inorgânicos, que tem consciência e energia, mas não forma orgânica, assim, nessa diversidade é importante profundo foco no aqui e agora, onde quer que seja esse aqui e agora, neste mundo ou em "mundos outros que não este".

Essa mudança de foco perceptivo permite nos relacionarmos com o "PODER" com nossos sentimentos, não com descrições racionais, também longe de emocionalismos, assim como o PENSAMENTO, o pensar pode surgir como uma nova forma de lidar com o mundo, além do racional, o Sentir também pode ser empregado no lugar de emocionalismos vãos, ao invés de agirmos em procedimentos que reforçam o sono e a inconsciência podemos agir nos mínimos detalhes, em cada momento, para irmos além dos limites que nos impuseram e resgatar nossa liberdade perceptiva, a liberdade fundamental para um ser perceptivo.

Parece-me que à medida que conseguimos entrar em outras descrições de realidades nossas possibilidades existenciais vão além do descritível em palavras.

O tal Silêncio que tanto falam, é um estado indescritível, não é vazio embora nada ali exista.

Somos seres perceptivos, percebemos, mas o que interpretamos da interpretação veio de um condicionamento, daí que considero muito importante podermos conscientemente trabalhar nossos condicionamentos interiores, através da auto-observação para começar detectando-os.

Parece-me fundamental essa percepção que precisamos começar nos libertando dos limites e condicionamentos perceptivos que nos impuseram ao nos "educar", os condicionamentos que recebemos de nossos pais e parentes e meio social da infância.

É muito importante estudar o meio do qual viemos, há muita coisa que julgamos "nossas" e vamos descobrir que foram apenas respostas, imitando ou brigando, com padrões que foram impostos.

No caminho de irmos mais ao fundo em nós mesmos vamos vencendo níveis com os quais nos identificamos, Gurdjieff chama de "falsa personalidade", o conjunto de estilos de reagir, emocionar e raciocinar que nos enganamos acreditando que é um "eu" quando é apenas um aglomerado, forjado pela educação e situações de vida.

Temos tantos condicionamentos que geralmente quem impõe apenas repete o que acredita certo, perpetua sua visão de mundo mesmo sem se identificar com ela.

Um caminho com coração busca outros desafios.

É, apenas, é.

Não há como trilhar o desafio Tolteca e não trilhar apenas caminhos com coração, apenas...

As propostas Toltecas utilizam muita energia, é vital descobrirmos caminhos que não dissipem nossa energia, assim agir aqui e agora com foco em atitudes com "coração" é uma forma de atingir outra forma de participar da realidade, uma forma tão mais ampla que num certo momento a interação com níveis fora desta realidade se torna possível, estar aqui e agora começa a ser praticado.

Parece-me que é neste momento que precisamos mais de equilíbrio, pois a partir desse instante nenhuma explicação, nenhum amortecedor vai mais fazer efeito, podem disfarçar de vez em quando, mas a liberdade completa de perceber a essência infinita da realidade, não permite mais que nos limitemos a explicações racionais da realidade.

A razão é uma dimensão da realidade, é fruto de uma posição do ponto de aglutinação, se mudamos o ponto de lugar vamos alinhar mundos de outras realidades, com outras formas de relação.

Este o desafio que todos enfrentam, aprender a entrar em outras descrições da realidade, aprender a "funcionar'" em outras realidades.

É um tema que voltaremos neste alvorecer de Hunab Ku.



Nuvem que passa
 Julho 17, 2002 7:48 AM

Notas

¹ O Poder do Silêncio, página 56 e 57, 3ª edição, editora Record:

Estava fresco e quieto no pátio da casa de Don Juan como no claustro de um convento. Havia uma grande quantidade de árvores frutíferas plantadas bem juntas, o que parecia controlar a temperatura e absorver todos os ruídos. Quando fui a primeira vez em sua casa, havia feito comentários críticos sobre a maneira e lógica pela qual as árvores frutíferas haviam sido plantadas. Eu lhes daria mais espaço. Sua resposta foi que aquelas árvores não eram propriedade sua, eram árvores guerreiras livres e independentes que se haviam juntado ao seu grupo de guerreiros, e que meus comentários, que se aplicavam a árvores comuns, não eram relevantes.

Sua resposta soou metafórica para mim. O que eu não sabia então era que Don Juan tornava literalmente o que dizia.

Don Juan e eu estávamos agora sentados em cadeiras de vime de frente para as árvores frutíferas. Todas as árvores estavam dando fruto.

Comentei que não era apenas uma visão bonita mas também extremamente intrigante, pois não era a estação das frutas.

— Há uma história interessante a respeito — admitiu. — Como sabe, essas árvores são guerreiros do meu grupo. Estão dando frutos agora porque todos os membros do meu grupo têm conversado e expressado sentimentos sobre nossa viagem definitiva, aqui diante delas. E as árvores sabem agora que quando embarcamos em nossa viagem definitiva, irão acompanhar-nos.

Olhei para ele, espantado.— Não posso deixá-las para trás. São guerreiros também.

Entraram contudo para o grupo do nagual. E sabem como me sinto a seu respeito. O ponto de aglutinação das árvores está localizado muito baixo em seu enorme casulo luminoso, e isso lhes permite conhecer nossos sentimentos, por exemplo, os sentimentos que estamos tendo agora enquanto discutimos minha viagem definitiva.

Autodomínio

Quando verdadeiramente convencido verás que não é preciso a ninguém convencer. O convencimento do outro é uma violência. Isso fez da polític...