quinta-feira, 7 de novembro de 2024

Bruxaria, Magia e Xamanismo - parte 4 - por Nuvem que Passa

Percepção versus Descrição

Quando olhamos para o mundo a nossa volta notamos que ele tem um contexto, uma historicidade. Refiro-me ao mundo social, ao mundo tal qual vemos em nossas relações cotidianas. As pessoas em nossas vidas teceram eventos, conosco e em suas próprias esferas, que criam uma historicidade, um conjunto de fatores que nos ajuda a ‘localizar’ pessoas e eventos na nossa percepção. É uma grande magia isso que fazemos, tecer eventos na vasta e emaranhada teia da existência e dar uma solução de continuidade a isto, criando o que chamamos de ‘realidade sensível’.

É muito importante libertarmos nossa memória das falsas histórias e falseados mitos que nos impuseram. Tal liberdade não é atingida apenas pelo intelectual. 

Temos que usar MAGIA para podermos ir além. Precisamos de ritos que reatualizem o mito que perdemos, nosso mito original, que foi oculto de nós pelo falso brilho da personalidade que em nós criaram. Não somos apenas o que fizeram de nós.

Somos entidades perceptivas, percebemos.

Aquilo que é percebido nos foi ensinado.

A percepção em si não, mas a interpretação sim.

Peirce¹ nos oferece uma abordagem segundo a qual em um primeiro instante temos a percepção plena do evento, sem o ‘enformamento’ das palavras, do conceitual. Depois vamos conceituar, vamos significar. A secundidade, o momento no qual usamos os signos linguísticos para nos comunicarmos com nós mesmos, o diálogo interno que nos leva a compreender e sentir o mundo tal qual o fazemos, é também um limite.

Linguagem implica código, algo que compara o que é sentido-percebido, com o conjunto de memórias já existentes. Assim, os Caminhos profundos insistem que, na memória, no já vivido, não há o novo. 

O novo só pode ser criado na magia do instante presente.

Por isso a ‘iluminação’, o ‘despertar’, o Satori é sem palavras. Na percepção há só presença, já na interpretação, vamos usar palavras-conceitos para designar, aludir, apontar para o que desejamos expressar.

O diálogo interno de uma época possui matizes comuns, bandas de variação mensuráveis entre os membros de uma mesma nação. Mas, no mundo em que estamos, diferentes formas de ser em várias nações foram sistematicamente destruídas. Etnias nativas inteiras foram cruelmente dizimadas ou escravizadas. E ainda hoje, pastores e diversos pregadores das religiões que servem aos conquistadores continuam escravizando os povos nativos em corpo e alma.
Temos esse condicionamento como herança, por isso é tão importante a quem vai trilhar o Caminho da MAGIA, do XAMANISMO ou da BRUXARIA ter sua jornada pessoal de poder, onde encontra consigo mesmo, com suas fraquezas e forças e descobre-se um ente perceptivo livre de qualquer condicionamento, de qualquer rótulo que lhe queiram dar.

Em todos os caminhos temos que ter a coragem de morrer para o velho para renascermos de nós, por nós e para nossa meta. Quando um certo momento chega, se torna redundante continuar a usar termos como ‘magista’, ‘xamã’ ou ‘bruxo(a)’, pois vamos compreender o que está além das palavras, coisas que só com o brilho do olhar, o tom de voz, o vento presente e respiração sincrônica se pode transmitir de verdade. No mais, como fazemos aqui, é só aludir, só apontar para algo que nos toca vindo da ETERNIDADE. Algo que a civilização de escravos(as) foi levada a esquecer mas que nós lembramos. E buscamos agir com o que lembramos e aprendemos.

Assim, MAGIA, XAMANISMO e BRUXARIA são caminhos de liberdade que nos auxiliam a recuperarmos a nós mesmos, caminhos onde o PODER é acessível. Mas não somos ‘donos(as)’ desse poder! Somos apenas acessíveis a Ele. Esses caminhos foram perseguidos e são ainda hoje desmerecidos e injuriados. Por que o sistema que cria escravos teme tanto tais caminhos?

São caminhos onde a realidade é outra. Vasta como uma cebola de incontáveis camadas em que tudo a que nos referimos como realidade são apenas camadas. São caminhos que redespertam em nós nosso poder interior e o brilho de nossos olhos quando estamos de fato vivos e não sobrevivendo. Isso sempre incomodou aqueles que pactuam com a morte para ter poder sobre os vivos.

Dividir para governar tem sido a meta destes conquistadores. Povos nativos sendo destruídos porque realizaram alianças equivocadas, líderes inescrupulosos e manipuladores, sequiosos de poder momentâneo, levaram seus povos a minar a força dos vastos impérios como o Andino. A praga comportamental que se abateu sobre a humanidade em ação. Impérios! Gerando ódios que enfraquecem as nações quando estas mais precisam ser fortes. Assim o ocaso do Mundo Ancestral veio e a longa noite começou. Mas a noite segue seu curso e há algo de alvorada no ar

Hoje a espécie humana tem seu estilo de diálogo interno moldado pelo fenômeno da interação entre culturas diversas, via meios de comunicação para as massas ou ainda pela internet.

Portanto, avaliar a MAGIA, o XAMANISMO e a BRUXARIA a partir de nossa época é delicado. Ainda estamos recuperando a amplitude perceptiva necessária para realmente entender os profundos caminhos que se escondem atrás de tão incompreendidos rótulos. Estes caminhos carregam mensagens secretas que sobrevivem apesar de toda a perseguição. Elos com outros povos e mundos que, ao contrário do que a falsa história conta, não foram destruídos ou sumiram, mas apenas mudaram para outra camada da ‘cebola’. A partir da qual nos chegam sinais constantes.

Mas tais sinais são deturpados pelos conquistadores. Histórias despropositadas encobrem a real origem de tais sinais. Nossos ancestrais não foram destruídos, partiram e nos acenam de outras ilhas de realidade entre o vasto Mar da Consciência. Os carcereiros tentam nos iludir;: - Não é nada! É Vênus brilhando. É um balão meteorológico. Estais louco! Vamos te dar remédios para que voltes ao ‘normal’! Estas e outras formas são meios efetivos de impedir que percebamos a realidade mais ampla e os sinais que nos chegam. Nascemos neste mundo onde nossos ancestrais foram escravizados. Ambos, tanto o conquistador como os conquistados, são escravos do mesmo sistema que usa os conquistadores para estender seus domínios para onde ainda se é livre. E da fusão do conquistador com o conquistado surgimos nós, híbridos, aqui, cheios de potencial mas em grande parte ignorando tudo isso.

O positivismo e outras escolas, que se declaram únicos caminhos para a compreensão efetiva da realidade, são resultantes da ERA Industrial e de uma abordagem supersticiosa da realidade. As limitações da ciência positivista ainda não foram completamente superadas, nem tão pouco os paradigmas de religiões, ainda dominantes, que foram desenvolvidas em suas formas atuais pelas elites governantes dos conquistadores e que querem agora ter sua própria historicidade, vil, mascarada, pois, em realidade, sempre foram instrumentos da conquista.

Mas então cerraremos fileiras com os ateus, os agnósticos, os que em nada creem? Estaremos com os cínicos, que descrentes de tudo negam a própria felicidade para apenas com sarcasmo aplaudir a destruição do mundo deixando que a indolência lhes encha de intelectualizados argumentos para não agir? Somos meros acidentes cósmicos de algo sem nenhum sentido? O que é crer para nós?

Confiar cegamente em um pai/mãe psicológico que sane nossas carências e oculta de nós o fato de nossa solitude frente a incomensurável eternidade que envolve a nós, efêmeras criaturas?

Os(as) Xamãs, Bruxos(as) e Magistas de todas as eras que nos antecederam foram sempre homens e mulheres que souberam se ligar a outra linhagem de conhecimento, tão sistêmica como a ciência, ampla como a filosofia, mística e profundamente artística. Tinham uma abordagem da REALIDADE bem distinta, mas totalmente pragmática e efetiva, isto é, seu conhecimento se traduzia em ATOS de PODER e não apenas em elucubrações teóricas. Tal Arte-Ciência tinha no ser humano seu instrumento de prospecção e avaliação de outras realidades perceptivas.

Em tais caminhos é o ser humano que se amplia e se desenvolve para investigar outros mundos. Não com naves pretendemos ir a outros mundos. Não queremos minerar outros mundos, queremos aprender mais.

XAMÃS, BRUXOS(AS) e MAGISTAS vão a outros mundos pela força de seus conhecimentos. Conhecimento que faz parte da herança ancestral presente em um caminho pleno. Conhecimentos que em câmaras de torturas a Inquisição quis roubar-nos.

Foi com o que escorreu pelo vão dos dedos ao apertar com força a substância viva do conhecimento que protegia os capturados que se construiu esta civilização industrial, que explora e subjuga a Natureza, nossa Mãe de fato, não de crença. Esta civilização que aí está é fruto de um conjunto de atitudes tomadas por todas as pessoas que dela fazem parte.

Assim temos vários grupos lutando pelo poder de dizer às pessoas como devem sentir e pensar o mundo. Este estado de heteronomia existencial é estimulado e facilitado de formas as mais diversas, basta notar como o mundo está hoje.

Heterônomo, ausente de si mesmo, fora de eixo, suicida. Sim suicida, pois o que é uma civilização que armazena formas de se destruir? Este tipo de condicionamento gera bons servos ao sistema, mas os critérios cognitivos, os paradigmas da MAGIA, do XAMANISMO e da BRUXARIA são muito distantes desses hoje usados. E não são poucos aqueles que usam essas denominações como rótulos para tentar legitimizar caminhos cheios de caprichos que mais prendem do que libertam.

Existem pseudo-caminhos de magia, de xamanismo e de bruxaria, mas estamos falando aqui de MAGIA, de XAMANISMO e de BRUXARIA e, em tais caminhos, a conquista da autonomia existencial é necessária, é fundamental, pois quem viaja por muitos mundos deve estar sempre pronto a lidar com as mais inesperadas situações. É a habilidade de reagir com tranquilidade e foco em qualquer situação que permite ao(a) magista, ao(a) xamã e ao(a) bruxo(a) serem realmente a expressão do caminho que trilham. Somos unos com o caminho apenas quando o expressamos pela força de nossos atos. A força de nossos atos é medida pela veracidade de nossas vidas, pelo estado de nosso corpo, pela força de nossa mente, pela habilidade de harmonizar as emoções até que surja em nós o sentimento pleno.

A BRUXARIA, a MAGIA e o XAMANISMO são caminhos de essência. Toda vez que alguém trilha por ego, pelos valores mesquinhos e ausentes de significação efetiva da personalidade, cria confusões para si e para outros. Temos um mundo confuso à nossa volta, pois foi gerado a partir da luta entre personalidades em busca do poder, uns sobre os outros, sobre todos. Grupos querendo subjugar grupos, dominar em vez de interagir criativamente.

Nesta guerra de dominação, grupos foram muito além de seus próprios limites naturais e se impuseram como império global e, pouco a pouco, estamos assistindo as nações nativas, fonte de energia sonhadora para o mundo, serem destruídas. O mundo é sustentado pelo sonho dos povos, se padronizarmos demais os sonhos do mundo, ele se desintegrará por excesso de emanações da mesma banda.

De certa forma parece que esta civilização se matará de tédio. Não podemos mais deixar que as civilizações imperialistas dominem nosso sonhar, dominem nossas visões.

Somos herdeiros dos povos nativos, é hora de recuperarmos as antigas visões, é hora de vivermos dentro de nosso modo de vida. Garanto-lhes que é possível. Basta coragem, e foco e o caminho se revelará. Este é o desafio.

Qual é sua VISÃO?

Vive de acordo com seu Coração?

Sua mente é sua auxiliar em investigar o mundo ou uma tirana que lhe impõe uma visão pronta da realidade?

A qualidade das respostas a estas perguntas revela muito sobre tuas chances de compreender de fato o que abordamos aqui. Pois se a MAGIA, o XAMANISMO e a BRUXARIA tem algo a ensinar é para seres inteiros ou que buscam de fato se tornarem plenos.

Existem dois níveis de MAGIA, de XAMANISMO e de BRUXARIA. Em um nível são caminhos para nos reintegrarmos a realidade mais ampla da existência, para nos recuperarmos desse estado robótico sonambúlico em que fomos colocados. Um caminho de reencontro, um religare. Depois que ‘acordamos’, que morremos e nascemos de novo a vida continua. Há todo um novo desafio agora. Lidar com o mundo sem pertencer ao mesmo. Deixar de ser escravo e ao mesmo tempo evitar ser tolo a ponto de se tornar um alvo dos neo-inquisidores, que, muito mais sutis e aparelhados, continuam em ação. É aí então que surge o segundo nível da MAGIA, BRUXARIA e XAMANISMO. Aquele que ensina conhecimentos mais sutis e profundos. A maior parte do material que existe publicado fala da primeira fase do trabalho, do contato com estes caminhos.



Notas

¹ Charles Sanders Peirce (10 de setembro de 1839 – 19 de abril de 1914) foi um cientista, matemático, lógico e filósofo estadunidense, às vezes conhecido como “o pai do pragmatismo”. De acordo com o filósofo Paul Weiss, Peirce foi “o mais original e versátil dos filósofos americanos e o maior lógico dos Estados Unidos”. Bertrand Russell escreveu que “ele foi uma das mentes mais originais do final do século XIX e certamente o maior pensador americano de todos os tempos”. Seus trabalhos apresentam importantes contribuições à lógica, matemática, filosofia e, principalmente à semiótica.


 

Arcano 19: uma oportunidade para a totalidade.



O portal solar está aberto.

Os navegantes acessam a sua origem e brilham em consciência, as sementes estelares brotam e despertam para um novo mundo enquanto o velho em estertor de morte ainda tenta sobreviver.

A luz é intensa demais, faz ver ou cega, ilumina ou queima, revela, desvela, abala as estruturas.

O próprio sol físico em atividade intensa, cheio de explosões, 'flares' e ejeções de massa coronal neste ciclo solar 25, expressa o que ocorre em níveis mais altos, não só mudanças climáticas ou atmosféricas, mas também mudanças conscienciais e espirituais se impõe por forças muito além do humano, para nós é uma questão de alinhamento e sincronicidade.

A política reflete a geopolítica, a geopolítica espelha a exopolítica e o espírito, apesar dos pesares, paira sobre todos em sua vertiginosa descida e em nossa ascendente espiral pela ponte do arco-íris.

Imagem captada dia 07/11/2024 do calendário artificial gregoriano, neste dia onde pode-se sonhar um outro sonho, kin 123, Noite Rítmica Azul.

segunda-feira, 4 de novembro de 2024

Consciência -Tempo - Morte -Vida, por Nuvem que Passa.


Assunto: Consciência -Tempo- Morte-Vida 

Data: Seg Mai 1, 2000 9:29 pm - Lista Ventania

Saudações!

O que motivou esse mail foi um texto enviado pelo Sombra, que lhe foi enviado pelo Lobo do Cerrado. O saber Tolteca, ao contrário do que o senso comum e opinião corrente crê, não foi transmitido ao mundo apenas pelo Nagual de 3 pontas. Outros naguais, de outros clãs também se juntaram a mesma força que ainda se manifesta de tempos em tempos, quando uma tradição que se julga extinta subitamente floresce e dá uma bela e inspiradora flor.

Como se agitam e se incomodam os que pensaram ter derrubado todas as árvores floridas de nossas terras e deixado apenas aquelas espécies que parasitam, cultivadas em regime de plantation (monoculturas).

O povo nativo dessas terras, isto é, aqueles que em alma e/ou corpo nasceram nestas terras sempre foi explorado em função de impérios externos. Esta forma de viver existe há tanto tempo… Esse sonho foi imposto ao mundo num lento processo que se torna evidente com Júlio César queimando uma parte da biblioteca de Alexandria e importando para Roma o estilo faraônico de governar e dominar pela religião.

Religião e exército, a força ideológica e das armas se unem sob a égide dos ideais de uma sociedade escravocrata, estamental e já em decadência. O resto é história. Depois de criarem um cristianismo para seus interesses, despindo a doutrina de tudo que pudesse levar a autoconsciência, perseguiram todos os grupos que mantinham interpretações mais ligadas "ao espírito".

Cátaros, albigenses, Templários, Cristãos Celtas, esses e muitos outros grupos que se recusaram à conversão, foram trucidados. Durou séculos esta histeria e magicamente, necromanticamente, impuseram um "trauma" a alma do mundo. A consciência coletiva do mundo foi "imprimida", "traumatizada" com os ritos necromantes dos inquisidores, que atuaram no "novo mundo" tanto quanto no velho.

Depois de destruir a cultura e a tradição ancestral se organizaram em feudos poderosos, alianças instáveis foram feitas e se lançaram à conquista de outros lugares, para manter o modelo de colônias produtoras de matéria-prima a baixo custo, possessões fornecedoras de escravos. A descoberta deste continente e sua invasão, genocídio de sua população nativa e saque de suas riquezas ainda continua, mas há os que querem comemorar os "500 anos", data da qual pateticamente quiseram fazer uma data "histórica" revelando a natureza das elites dominadoras, capatazes dos verdadeiros lordes feudais, que ainda estão sobre o muro que separa mundos, viventes de sobreviventes.

Vieram, destruíram os povos e os apagaram da história. Foi tal a sentença de morte traçada aos povos nativos que falamos dos índios como se não mais existissem. Vejam as abordagens tidas por histórias: "os índios foram..." quase sempre citados no passado e como algo já destruído, ocultando o fato que as populações nativas ainda tem muitos núcleos sobreviventes, agora, neste momento, lutando tenazmente pela vida e continuidade, contra multinacionais, garimpeiros, madeireiros e fazendeiros que querem apenas um pouco mais de dinheiro para seus luxos e sacrificam culturas inteiras. Vidas, preciosas vidas perdidas para sempre.

Dos gelados polos às florestas equatoriais esse continente já era habitado. Povos dos mais diversos aqui viviam. Civilizações de uma complexidade tal que a mais simples delas tornaria muito pálida a chamada ofuscante civilização helênica ou qualquer outra que seja usada ainda como base da cultura hora dominante. Na península de Yucatã, nos contrafortes andinos, nos desertos, nas planícies nas quais hoje está os EUA, no norte gelado, no extremo sul, em muitos lugares floresceram civilizações que apenas seus monumentos de pedras, seus inquietantes sinais grafados ao solo, só passíveis de serem lidos de grande altitude, são resquícios silenciosos da outrora exuberante e sofisticada cultura que aqui vivia.

Civilizações que eram herdeiras de outro tempo, do qual é muito difícil falar. Nossa percepção de mundo é fruto de uma "leitura" que fazemos da realidade. Usamos como referencial para esta leitura informações da memória. A memória compõe nosso repertório em cima do qual fazemos associações com as experiências que já temos para garantir nossa "compreensão". Falar destes outros tempos entra numa esfera de vivências que não existe na memória fornecida por essa civilização. Essa Era tem forte a imagem cinematográfica. E criam outras épocas com vestes e cenários, maquiagem e expressões, mas esquecem que a percepção do mundo em outras épocas era diferente. 

Os toltecas chamam isso de tonal dos tempos. O tonal coletivo de uma era. Nestes outros tempos uma civilização planetária havia existido, como essa, na qual eu, do interior de Minas, escrevo para vocês em pontos diferentes do planeta. Mas esta outra civilização planetária tinha conhecimentos que parecem mais arrojados, e a maior prova disso é a falta de vestígios dessa ancestral civilização.

Notem que há uma tendência de só conhecer um povo do passado, usando os métodos modernos, pelos vestígios que deixaram. Assim, um povo ecológico, harmônico com o meio, que desenvolveu uma tecnologia limpa e não poluente, que reintegrava tudo que gastava na natureza mantendo um equilíbrio ideal com o meio, não deixa vestígios. E os métodos oficiais de pesquisa não terão "provas palpáveis de sua existência. Mas existem outras qualidades de "vestígios". 

As lendas e tradições de todos povos deixam sobreviver os que nem rastro nem poeira na estrada da história deixaram. O caminho interior de cada povo nativo é uma certeza de vida e continuidade. Frente a efemeridade, a inconstância, a mutabilidade constante de tudo que foi criado, de tudo que "existe" os povos naturais criaram linhas de transmissão de seu saber. 

Saber para um povo natural é conseguir expressar em atos concretos o que diz conhecer.

Não tem sentido teoria separada da prática na abordagem da realidade dos povos naturais, onde cada dia é um desafio, onde não se compra comida e água em supermercado, mas depende-se completamente da habilidade e do poder pessoal para as mais básicas necessidades. Ir no mato aliviar os intestinos pode ser um risco de vida se você não sabe andar no mato ou não está em harmonia com ele. Povos dessa mentalidade criaram o que chamamos "caminhos naturais."

Naturais porque aprenderam com a própria Natureza. E a Natureza, a fonte de tudo, a sagrada Natureza que os(as) xamãs de todas as épocas têm por fonte de seu poder e de sua sustentação, era também um limite. Esse foi o primeiro paradoxo que encontraram. Sabiam que a Natureza só desenvolveu o ser humano até um certo ponto, até o ponto que lhe interessa. O ser humano é como uma enzima no organismo do ser Terra. Temos uma função, captar energias cósmicas e transmutá-las para a absorção do ser Terra que como todo organismo só pode absorver energia dentro de um espectro.

Como a celulose pode ser digerida pelos ruminantes e não por nós, há substâncias que vêm da Eternidade e são fundamentais à vida do ser Terra, como a glicose ou certos aminoácidos ao nosso organismo, mas que não podem ser absorvidos em sua forma original. Assim como as proteínas têm que ser decompostas em seus aminoácidos fundamentais para serem absorvidas nutricionalmente pelo organismo, nós, através de nossa respiração, do alimento que ingerimos, captamos e transformamos elementos.

O que os(as) xamãs sabem é que também todas as nossas vivências, tudo que nosso corpo experimenta, estão transmutando energias vindas da Eternidade. O que vemos, o que sentimos tatilmente, o que cheiramos, o que ouvimos, o que degustamos tudo isso nos "alimenta" também. A qualidade de nossa energia interior é a somatória de tudo isso. E estamos a todo instante com nossos atos, emoções e pensamentos processando substâncias de naturezas diversas e transformando-as em novas classes de substâncias que serão absorvidas pelo Ser Terra. Os(as) xamãs toltecas perceberam que os ritos eram formas sofisticadas que os antigos usavam para criar certos alinhamentos de energia que potencializavam a entrada em estados alterados de consciência. Eles usavam os ritos como mapas. Pelo rito sabiam a "trilha energética" que tinham seguido para chegar no mundo ao qual se projetavam, pelo rito podiam assegurar a volta. Por sorte muitos dos ritos que os imitadores praticam hoje estão incompletos, ou seus praticantes se veriam jogados subitamente em mundos estranhos sem terem o suficiente treinamento para lidar com isto, pois outro fato que os(as) xamãs toltecas perceberam foi a natureza predadora da Realidade. Quem já passou um tempo em florestas sabe disso, cai por terra a bobeira patética dessa crença civilizada em mundos de seres bonzinhos a nos consolar e ajudar.

É engraçado o civilizado julgar os índios "ingênuos" e "crianças". É interessante observar como o civilizado vive apenas numa camada da cebola, trancafiado em suas celas conceituais e ignorando o incontável número de realidades alternativas que o bordejam a cada instante. E este civilizado tem uma alta performance de domínio desta realidade. O civilizado é ultra especializado em sua cultura, mas como a cultura dominante é alienada da realidade natural, como a cultura dominante é escravizadora e limitante perceptualmente, uma cegueira produzida pelo excesso de luz que existe ao tentar se super especializar, ser um expert desta cultura não nos prepara para a verdadeira viagem à ETernidade que nos cerca, a outras ilhas de realidade tonal na vastidão do Nagual.

Foi aí que os povos nativos tiveram parte de sua derrota. Os povos nativos tinham sua magia em FM. Os conquistadores, desde os primeiros aos facínoras e assassinos cruéis vindos de além mar, eles funcionavam em AM, apenas. Quando os xamãs vieram usar sua magia para defender seus povos dos invasores, (estes) não viram os jaguares mágicos, não viram as criaturas mágicas evocadas, não perceberam os ataques energéticos dos xamãs. O poder dos invasores era sua visão limitada de mundo. Assim, desde o começo do contato o civilizado tira o nativo de sua multivisão e o restringe. Exemplo claro: "Esqueçam seus Deuses e Deusas. Só existe um: "O nosso", só uma verdade: "A nossa".

E é pela imposição de sua cultura com a aculturação quase total do nativo que os conquistadores têm conseguido criar um só estado de consciência padrão em todo o mundo. Com uma banda ampla de variação, mas o mundo está preso. Na antiga Bagdá tapetes voadores não voam mais. As bruxas ainda temem voar a luz da lua. Aos românticos sonhadores que me responderam que ainda voam pergunto quantas viu, concretamente, nesta sua vida? 

O mundo está dominado por um estado de consciência implantado. Junto com suas armas e suas doenças os conquistadores trouxeram seus credos de culpa, medo, insegurança e ausência de si mesmo. Doutrinaram nossos antepassados e implantaram um condicionamento que tem algo de atávico, por isso complexo de se livrar. Assim, compreender o caminho do Xamanismo Tolteca, especialmente dos clãs guerreiros, exige uma mudança de paradigmas. E esta mudança não é apenas conceitual. A mudança que os guerreiros e guerreiras Toltecas buscam é a mudança mais radical, mais profunda possível. Buscam mudar todo seu SER no mundo.

Se voltarmos a nossa analogia de enzimas, todos os seres humanos fazem parte de um organismo. Vivemos nossas vidas, nos emocionamos, aprendemos, enfim acreditamos que temos um "EU" que criamos nossa vida e estamos sempre fazendo algo. Os(as) espreitadores(as) Toltecas mirando os seres humanos em seu dia a dia concluíram exatamente o oposto. Para os(as) espreitadores(as) os seres humanos agem como agem dentro de um esquema pré-montado. Não há agir, há reagir. Tudo mecânico e cheio de hábitos. Tudo dentro de um esquema. Um esquema vasto é verdade, que permite muitas combinações e permutas entre seus elementos, criando uma ilusão de criatividade e inovação, mas um sistema fechado.

Isto chocou os(as) miradores(as) espreitadores(as). Levou-os(as) a profundas considerações. E perceberam que a consciência é dada ao ser humano para ser enriquecida pelo processo de existir, mas depois é tomada. Como um rio que deságua no mar. Como uma nuvem que atinge seu nível limite de densidade e se desfaz em chuva. Pode voltar diretamente para o mar, ou atravessar terras, plantas, seres e ventos, mas voltará ao mar. Como tantos seres sobrevivem após o fim do tonal, porém espectros, não mais totalidades e ainda assim no final, entregam a consciência ao mar escuro de onde ela veio. Os(as) videntes perceberam que existia outro aspecto no ser humano. A energia vital. Esta energia vital era a que animava a célula-ovo. Esta energia vital surgia como resultante de "n" vetores. A energia dos genes no óvulo e esperma, a energia da relação sexual que geraria aquele novo ser, as conjunções astrológicas daquele momento, a energia telúrica presente no local e tantas outras forças que agiriam sobre aquele ser nascente.

A energia vital pode ser enriquecida e desenvolvida. E, então, os(as) Videntes fizeram a descoberta que é considerada por nós que os estudamos e trabalhamos com seu saber, a mais importante descoberta, se é que podemos colocar gradações quando falamos do incomensurável. 

A energia vital pode aprender a ser consciente. 

A consciência que temos usado da consciência que a Eternidade nos empresta é sempre fragmentária, é composta de multiplicidade. Mas a consciência de nós mesmos pode surgir una. Sim, ela pode brotar única, focada. Essa condição de singularidade não é a separatividade dos muitos egos que nos compõe. Estes sim tem uma postura seccionada da realidade na qual se acham inseridos. Desenvolver essa consciência de “si mesmo" é o trabalho desenvolvido pelos Toltecas sobre várias formas. O importante é enfatizar isso. Quando conseguimos nos tornarmos conscientes de nós mesmos, independente da situação vivida, quando não estamos diluídos na experiência ou no ambiente, quando estamos focados estamos funcionando a partir de uma autoconsciência que raramente, muito raramente se desenvolve naturalmente. Este desenvolvimento não é natural, no sentido de que a Natureza nunca vai produzi-lo.

A esfera onde a Natureza atua só precisa nos desenvolver até o ponto que lhe serve. E somos enzimas, outros aspectos não fazem parte do papel original. Entretanto, no passado remoto, homens e mulheres esbarraram em outras possibilidades existenciais. E as explorando corajosamente criaram esta TRADIÇÃO que resistindo a tanta destruição ainda floresce, no desértico mundo deixado pelos conquistadores. Quando criamos um corpo de energia, algo que os xamãs toltecas insistem em dizer que deve ser desenvolvido, construído mesmo, esta essência perceptiva que somos pode se apoiar não apenas na consciência que nos foi dada e será tirada, mas também nesta energia vital que aprendeu a ser consciente.

Os(as) videntes Toltecas insistem que um conjunto de comportamentos estratégicos forjam uma qualidade essencial de alto valor. 

Implacabilidade, 

Astúcia, 

Paciência e 

Gentileza são conceitos que os(as) videntes Toltecas redimensionaram para abranger o estilo de comportamento estratégico que eles apontavam como ideal para levar-nos a um estilo de agir, pensar e sentir que continuariam sendo válidos mesmo quando penetrássemos nos mundos mais distantes e bizarros. Mesmo onde nossas referências nenhum valor tem, esse conjunto de comportamentos, tendo sido trabalhado nos mínimos atos cotidianos, em cada instante, criam uma linha de agir sóbria que predomina em qualquer âmbito da vastidão da ETernidade.

Além do que, agir com foco e consciência no aqui e agora, ao invés de dissipar a energia, como os atos "comuns" fazem, pelo contrário ampliam a energia. E energia acumulada é poder pessoal. Cada ato de um(a) xamã é ritualístico. Cada palavra é um canto de poder. Não em sentidos rebuscados ou pomposos, não cerimoniosos. Um(a) xamã, se lida com o Mito gerado pelos Toltecas, sabe que a morte é sua conselheira, que seu encontro com a mesma é inevitável, que um dia terá que morrer e abandonar a consciência que lhe foi emprestada para elaborar em tramas mais complexas suas fibras constituintes. Buscamos mudar o matiz desse quadro, mas o desafio permanece. Assim não temos o dia seguinte, nem mesmo o instante seguinte. Temos apenas a plenitude do aqui e agora , onde procuramos ser tudo que somos, sem esperar nenhum "momento especial" ou "sinal prodigioso" que nos convença que o momento chegou e devemos agir com a plenitude de nosso ser e todos nossos recursos.

Num mundo onde a Morte é a caçadora, tempo para perder é algo que não temos. E precisamos morrer, só quando morrermos para o que nos condicionaram a ser poderemos renascer neste outro plano. A porta de entrada do Caminho Tolteca é a Morte. A morte e o sacrifício. Sacrificar toda a infelicidade e todo o desequilíbrio que o mundo civilizado lhe deu. Morrer para tudo que impede o encontro consigo. Acordar desse sonho. Leiam esta mensagem do xamã tolteca D. Miguel Ruiz:

Antes de nascermos, os que existiram anteriormente a nós criaram um grande sonho externo que denominamos sonho da sociedade ou sonho do planeta. Este sonho é um sonho de bilhões de sonhos pessoais menores, que juntos formam o sonho da família, da comunidade e de toda a humanidade. O sonho inclui todas as regras da sociedade, suas crenças, suas leis, suas religiões, suas culturas e formas de ser.  Quando somos crianças até os três anos, não vivemos esses sonhos. Somos livres deles, mas logo somos aprisionados por eles quando começam o processo de socialização e cobrança sobre nós. É aí que começam as regras que irão governar o nosso sonho, que é o sonho de todos. Quando crianças não temos a oportunidade de escolher nossas crenças, mas concordamos com a informação que nos foi passada sobre o sonho do planeta por intermédio de outros seres humanos. Assim, somos capturados pelos sonhos exteriores, concordamos, com tudo que dizem os adultos, e isso é chamado de fé. Ter fé é acreditar incondicionalmente. Era melhor esse processo ser chamado de domesticação do que socialização, pois é isso que ele é. E é através dessa domesticação que aprendemos como viver e sonhar. O sonho da sociedade passa então a gerar todas nossas ações, e passamos a viver por um processo de recompensa, pois quando fazemos algo que é certo para o sonho geralmente recebemos algum elogio ou presente como recompensa, se fazemos o contrário somos crucificados e chamados de rebeldes (Os Quatro Compromissos, Dom Miguel Ruiz, Ed. Best Seller).

Já quando estudamos o caminho Tolteca para a liberdade, descobrimos que eles possuem um verdadeiro mapa para libertar-se da domesticação. Eles comparam o Juiz, a Vítima e o Sistema de Crenças a um parasita que invade a nossa mente humana. Do ponto de vista Tolteca, todos os seres humanos domesticados são doentes. São doentes porque existe um parasita que controla a mente e o cérebro. A comida para os parasitas, são as emoções negativas produzidas pelo medo. Se repararmos na definição parasita, descobrimos que um parasita é um ser vivo que vive de outros seres vivos, sugando sua energia sem nenhuma contribuição útil em troca e machucando o hospedeiro pouco a pouco. O Juiz, a Vítima e o Sistema de Crenças se encaixam bem nessa descrição. Uma das funções do cérebro é transformar energia material em energia emocional. Nosso cérebro é uma fábrica de emoções. E temos dito que a função da mente é sonhar. Os toltecas acreditam que os parasitas controlam nossa mente e nosso sonho pessoal. Os parasitas sonham pela nossa mente e vivem sua vida por intermédio de seu corpo. Sobrevivem nas emoções que vêm do medo, e se alegram com o drama e o sofrimento. A liberdade que procuramos é usar nossa própria mente e corpo para viver nossa vida, em vez da vida do Sistema de Crenças. 

Quando descobrimos que a mente é controlada pelo Juiz, a Vítima, e o "nós" verdadeiro fica num canto, temos duas escolhas. Uma escolha é continuar vivendo da forma que somos, e continuar vivendo o sonho do planeta. A segunda escolha é fazer como quando éramos crianças e os pais nos tentavam domesticar. Podemos nos rebelar e dizer "Não!". Podemos declarar uma guerra contra os parasitas, uma guerra pela nossa independência, uma guerra pelo direito de usar nossa própria mente e nosso cérebro.

Por isso nas tradições xamânicas em todas as América, as pessoas chamam a si de Guerreiros, pois estão em guerra contra os parasitas em suas mentes. 

Esse é o real significado de um Guerreiro. O Guerreiro é o que se rebela contra a invasão dos parasitas. Mas sermos Guerreiros, não significa que sempre iremos ganhar a guerra; podemos ganhar ou perder, mas sempre damos o melhor de nós e temos uma chance de ser livres outra vez. Escolher esse caminho nos dá, no mínimo, a dignidade da rebelião e nos assegura que não seremos vítimas inocentes de nossas emoções frívolas ou do veneno emocional de outros.

Na melhor das hipóteses, ser Guerreiros nos fornece uma oportunidade de transcender o sonho do planeta e alterar o sonho pessoal para um sonho que chamamos céu. Assim como o inferno, o céu é um local que só existe no interior de nossa mente. É um lugar de alegria, onde podemos ficar felizes, onde somos livres para amar e ser quem realmente somos. Podemos alcançar o céu enquanto somos vivos; não precisamos esperar até morrer. O Criador está presente e o reino dos céus se encontra em toda parte, mas primeiro precisamos ter olhos e ouvidos para enxergar e escutar de verdade. 

Precisamos estar livres dos parasitas. O parasita pode ser encarado com um monstro de mil cabeças. Cada cabeça do parasita é um dos medos que temos. Se queremos ser livres, temos de destruir o parasita. Uma das soluções é atacar o parasita de frente, o que significa enfrentarmos cada um dos nossos medos um por um. Esse é um processo lento, mas funciona. Uma segunda abordagem é parar de alimentar o parasita. Se não dermos comida a ele, podemos matá-lo de fome. Para fazer isso temos que controlar nossas emoções, precisamos nos abster de alimentar as emoções que derivam do medo. Isso é muito fácil de falar, mas difícil de realizar. É difícil porque o Juiz e a Vítima controlam nossa mente. Uma terceira solução é chamada de Iniciação dos Mortos. Essa iniciação é encontrada em muitas escolas esotéricas e tradições xamânicas ao redor do mundo, como no Egito, Índia, na Grécia e nas Américas. Trata-se de uma morte simbólica, que mata o parasita sem magoar nosso corpo físico. Quando morremos simbolicamente, o parasita tem de morrer. É uma solução mais rápida do que as duas primeiras, porém muito mais difícil de executar. Precisamos de muita coragem para enfrentar a morte. Precisamos ser fortes. E sinceramente, espero que todos Nós consigamos enfrentá-la de frente.

Sempre me sinto tocado pela urgência quando leio estas palavras. Notem que me refiro a uma urgência não ansiosa, falo de um estado de foco onde não resta nenhuma dúvida que tudo o que está contido aí, nestas palavras, são realidades que busco trabalhar a cada instante para que sejam realidades efetivas em minha vida.

O tempo é agora, o lugar é onde você está. Não racionalize, sinta, pense de verdade. Entre em sintonia, flua. O momento traz em si o infinito. Basta começar a sair do sonho do mundo. Basta começar a sonhar outro sonho. Na realidade de sua vida. Comece a deixar sua condição de escravidão e subjugação. Há outros sonhadores que já fizeram isso. Sinta a trilha e venha. Há um mundo novo aqui, acontecendo, fora da "Matrix" onde vc é pilha e engrenagem, Ele já começou. Não é um "estado abstrato e fugidio". É uma realidade vivenciada e manifesta. A ponte do Arco-Íris já está plena. Ela conduz a este novo estado de consciência. Os que sabem atravessá-la já estão vivendo neste novo mundo. O novo sol está desabrochando. Sacrifique o arcaico e ultrapassado, o condicionado e limitado, o medo e a culpa, os limites e a tristeza em seu interior. A vaidade e a importância pessoal são seus maiores inimigos, não perca tempo criando falsos fantasmas e se assombrando com eles. Não jogue seu Tempo fora. Você não tem a ETernidade, não tem vidas ou algo assim. Somos efêmeros seres, os Toltecas sabem que vão morrer e criam nesse saber uma das fontes de sua força ao invés de fugir desta constatação com teorias consoladoras. 

Tempo. Um mistério.

Tempo

Time



Ticking away the moments that make up a dull day. You fritter and waste the hours in an off hand way. Kicking around on a piece of ground in your home town.

Waiting for someone or something to show you the way.

Tired of lying in the sunshine stayng home the watch the rain. You are young and life is long and there is time to kill today. And then one day you find ten years have got behind you. No one told you when to run, you missed the starting gun.

And you run and you run to catch up with the sun , but it's sinking. And racing around to come up behind you again.The sun is the same in the relative way , but you're older.

And shorter of breath and one day closer to death. Every year is getting shorter , never seem to find the time. Plans that either come to naught or half a page of scribbled lines.

Hanging on in quiet desperation is the English way.The times is gone the song is over, thought I'd something more to say. 

Vale meditarmos um pouco no sentido e intensidade que damos ao Tempo mágico de nossa estadia sobre este mundo mágico e maravilhoso.


Ps - O texto em destaque no meio da mensagem é de D. Miguel Ruiz, xamã Tolteca e um dos reveladores deste ciclo. A música "Time", Pink Floyd.


sexta-feira, 11 de outubro de 2024

Bruxaria, Magia e Xamanismo - parte 3 - por Nuvem que Passa

Narrativa versus História

Um dos pontos que temos de rever quando vamos estudar em profundidade o que se esconde por trás dos conceitos de Xamanismo, Magia e Bruxaria é nosso próprio paradigma de historicidade.

Temos uma educação formal que nos provê ‘verdades’ prontas, que insinuam uma visão da História dentro de paradigmas que cada vez mais se provam não serem verdadeiros, que representam apenas a força dominante dos vencedores, que constroem sua versão dos fatos e condenam os derrotados a desaparecerem da própria História, provocando-lhes não só a morte e a destruição enquanto seres vivos, mas também apagando todas informações sobre estes deserdados da história.

A civilização que domina o mundo hoje, com seus juízos impostos pela bolsa de valores, com corporações atuando como novos senhores feudais a determinar os princípios sobre os quais devemos viver, com as religiões de massa, ao lado da mídia, em uma luta para impor padrões quanto ao pensar e agir da humanidade, isto é resultado de um processo histórico complexo, no qual grupos diversos atuaram conscientemente para não apenas vencer outros grupos, mas para estabelecer um domínio, quer escravizando em corpo ou alma, pela força das armas ou das religiões dogmáticas, quer matando grupos étnicos inteiros seguindo da destruição de todos os dados culturais desses povos.

Temos uma espécie de neodarwinismo social que nos obriga a crer que esta civilização, pelo fato de ter alcançado um surpreendente desenvolvimento tecnológico é o pináculo da evolução social humana.

Estamos presos de tal forma a estes paradigmas que pouco percebemos como várias das obras que se referem a Magia, a Bruxaria e ao Xamanismo o fazem descaracterizando tais artes, tais tradições de seus contextos, tentando ‘explicar’ ou ‘demonstrar’ que tais caminhos são ‘evoluídos’, caindo na armadilha de usar os critérios do dominador como instrumento de avaliação. O Xamanismo, a Magia e a Bruxaria tem seus próprios critérios cognitivos, são campos complexos em si mesmos.

Podemos fazer uma analogia com o que ocorre na Acupuntura. Ela funciona e muito bem. E a ciência ocidental tenta explicar que tal nódulo nervoso, ativado pela agulha faz isso e aquilo, mas não é real e nem necessária esta explicação, porque a Acupuntura já foi explicada em seus próprios termos há milhares de anos. O estudo dos meridianos, da energia tal qual ela se manifesta em suas polaridades Yin e Yang, como sedar e ativar, tudo isso já faz parte do corpo de conhecimento da Acupuntura.

Da mesma forma a Magia, o Xamanismo e a Bruxaria já tem suas próprias explicações do porquê funcionam, do porquê são reais, e toda tentativa de tentar limitar estes vastos campos com explicações limitadas oriundas de abordagens pseudocientíficas servirá apenas para criar confusão.

O Positivismo, e a Ciência que dele resultou, tem uma abordagem amarrada ao senso comum, tão limitada que é natural não conseguir sequer conceber a vastidão que existe por detrás dos conceitos de Magia, Xamanismo e Bruxaria.

Só agora com a Mecânica Quântica, com ramos sofisticados da Psicologia e outras áreas de vanguarda da ciência se torna possível estabelecer novamente um diálogo entre estes campos.

Portanto, vamos compreender que a Magia, o Xamanismo e a Bruxaria estão dentro de outro contexto cultural, são artes-ciências, oriundas de uma civilização ancestral que há milênios existiu. Depois de sua queda, a humanidade que restou regrediu a um estado de perda quase completa deste saber. Mas tal saber ficou guardado em irmandades durante a era na qual a tirania passou a assumir o controle sobre o mundo, escravizando outros, tornando tudo e todos meras ‘coisas’ a lhes servir. E assim, estas artes-ciências continuaram preservadas através das linhagens em seus grupos de praticantes e herdeiros.

Podemos compreender aqui que as torturas da Inquisição nunca foram destinadas ao ‘arrependimento’ dos ‘hereges’ mas a tentativa de extrair desses iniciados e iniciadas algo de sua arte-ciência. Com as migalhas extraídas nas câmaras de tortura, com fragmentos revelados por alguns, foi se formando o que geraria as ciências e as universidades da modernidade.

Este é um lado desconhecido da ‘história das ciências’ que poucos contam, o tanto do ‘saber’ oficial que foi ‘arrancado’ nas masmorras e câmaras de tortura, dos ‘hereges’.

É fato conhecido que mesmo Newton, Galileu e outros tantos ‘pais’ da ciência moderna tinham um ativo contato com o ‘ocultismo’, ‘hermetismo’, gnose e afins.

Assim sendo, para irmos ao estudo da Magia, do Xamanismo e da Bruxaria não devemos nos deixar impregnar por pseudo-histórias, por abordagens equivocadas do que foi o nosso passado, temos de ousar procurar os fatos na linha de acontecimentos. Existem aqueles que creem em outra linha de história, e creem não por concordância passiva, por mera aceitação, mas acreditam creem porque foram levados(as) a presenciar por si as evidências desta outra linha.

Somos ‘sócios’ de uma visão de mundo.

Estamos em uma prisão perceptiva que em última instância é mantida porque aceitamos que seja assim. Esse nosso incrível poder de dar realidade ao que cremos ser verdadeiro é subestimado em nós.

Somos a somatória de nossas crenças, nem sempre as que verbalizamos e as que fingimos adotar, somos a manifestação do que interiormente cremos.

A força de nossa crença é tremenda, não é à toa que diferentes grupos competem e tentam a todo momento estipular o que é real e o que não é real para a humanidade. Sempre com o propósito subliminar de manter sua descrição de mundo em vigor.

A História de fato, mas não oficial, conta ter a humanidade atual surgido de uma fase após uma profunda queda. Sem pecados aqui, sem castigos ou leituras assim. Uma queda causada por eventos impessoais, quando todo nosso planeta ingressou em um ‘eclipse’. Em uma sombra onde ficamos isolados de um tipo de energia que vem do centro da Galáxia (ver texto sobre Hunab Ku), da singularidade, que tragando tudo a sua volta gera a forma espiral dessa galáxia, na periferia da qual vivemos.

E neste eclipse, como em um inverno, a energia favorecida no planeta propiciou um tipo de gente ambiciosa, insegura, determinada a impor a todos seu modo de vida para assim se sentirem seguras. “Um só deus, um só senhor, uma só fé” e tudo que isto representa (por exemplo, o projeto imperialista e o conceito de guerras eternas).

E a Bruxaria, a Magia e o Xamanismo passaram a ser perseguidos e temidos, pois são caminhos de liberdade. Quem pretende tornar o mundo um vasto curral de escravos, animais e humanos, e deles fazer uso como ‘coisas’ não aprecia que existam homens e mulheres que não lhe são acessíveis, nem por suas manipulações e nem mesmo com o uso da sua pretensa força política, econômica e militar.

As Eras de perseguição se tornaram cada vez mais intensas, o braço que se forma sobre o Império Romano, depois com a Igreja Romana, é ávido em destruir todos os sinais da antiga civilização planetária, da qual as diversas tribos sabiam um dia ter feito parte.

O sentido da antiga civilização planetária não tem nada a ver com a atual. Hoje temos dispositivos como celulares e computadores que nos dão a impressão de um homo sapiens ‘evoluído’ porque podemos entrar em sintonia com outras pessoas, em diferentes tempos e espaço.

Toda essa tecnologia é um simulacro, como um ciborgue que amplia de certa forma suas habilidades naturais. Porém, somos mais que isso. Na ancestral civilização planetária, a sintonia era por outros meios. Cada corpo humano é por si só um gerador e captador de ondas, assim entravam em plena sintonia com outras pessoas de todos os cantos deste mundo, e também de outros.

A Internet não acessa outros mundos. Então para entendermos como viviam estes povos antes desse momento de queda, de desconexão, temos que usar muito nossa intuição, para evitar falsear a percepção com os preconceitos ‘históricos’ (anacronismos) que herdamos dos condicionamentos que nos impuseram. Foi uma queda que levou toda uma civilização planetária a se esfacelar, mas que mantém, apesar do trabalho violento dos grupos dominantes em ocultar todas as evidências, alguns sinais desta época anterior de amplo conhecimento.

As pirâmides no Egito, as três mais antigas e principais no planalto de Gizé, juntamente à esfinge, Angkor no Camboja, Menires, Dolmens e câmaras em Carnac, França. Os grandes desenhos nas Ilhas Britânicas e ruínas encontradas no mar ao redor do Japão. Todos estes e mais lugares que nem se sabem existir, estão alinhados de tal forma que agora não apontam exatamente para nada significativo, apesar do fato de estarem sempre alinhados de alguma forma com os equinócios e os solstícios.

Mas se levarmos em consideração a precessão dos equinócios, fenômeno astronômico que desloca o eixo da terra em relação a elíptica das estrelas a nossa volta, e se fizermos os ajustes, estes marcos ancestrais todos se alinham a uma rede que os relaciona. Quando monumentos de um canto da terra se alinham com suas constelações significativas, monumentos ancestrais em outras partes do globo fazem o mesmo.

Os astroarqueólogos são aqueles que usam o conhecimento astronômico para entender melhor a complexidade dessas ancestrais culturas, sobre as quais cada vez mais ouvimos falar. Culturas muito mais sofisticadas que a atual ‘cultura’ tecnológica que nos domina e nos faz extensões biológicas das máquinas, além de nos enganar negando-nos a magia. Promovendo simulacros estereotipados de vida e prazer. E impondo a ideia que o “homem das cavernas” era algum bruto insosso, o qual evoluiu através de mutações até que surgissem culturas como a egípcia, a chinesa e as civilizações nas terras hoje chamadas de América.

Assim promovem a ideia que esta civilização dominante é a mais evoluída que aqui já existiu e que suas respostas ao desafio de estarmos vivos são as melhores já dadas.

Em vez de ensinarmos as novas gerações a buscarem respostas, a perguntarem com eficiência, acabamos nos limitando a condicioná-las a memorizarem respostas prontas, para passarem nos pseudo-testes que o mundo lhes aplicará. Enquanto a verdadeira prova ficará esquecida. Assim as práticas da Bruxaria, do Xamanismo e da Magia são vistas como superstições pueris, de um tempo no qual as benesses da ciência ainda não haviam ‘esclarecido’ as coisas.

Existem ramos que pretendem ser da árvore do Xamanismo, da Bruxaria e da Magia mas operam com paradigmas que nos são completamente estranhos. Como alguém que coisifica o mundo e os seres sencientes pode mergulhar em caminhos vivos, nos quais sentir a Vida é condição fundamental? É claro que essa informação é totalmente equivocada e nada mais equivocado há que pseudo-estudiosos de Magia, Xamanismo e Bruxaria querendo demonstrar que suas práticas são ‘científicas’.

É a ciência contemporânea que ainda tem de fazer muito esforço para compreender a ancestral e ampla abordagem da realidade que o Xamanismo, a Magia e a Bruxaria realizam, e não o contrário. Assim como é o Avô que deve ter a paciência de compreender e falar na linguagem que seu neto entenda e não o contrário. A ciência contemporânea tem seu valor sim, tem seus méritos, quando não está a serviço de grupos dominadores, de egos inflados de ‘catedráticos’ que prezam mais sua posição na ‘comunidade acadêmica’ do que a verdade em si, quando não está a serviço de laboratórios farmacêuticos voltados apenas ao lucro e similares, essa ciência, o método científico, é um caminho inteligente e funcional de abordar a realidade em busca de respostas efetivas para os grandes mistérios que nos envolvem.

Assim como existem cientistas que operam em diversos graus de profundidade e genialidade vamos encontrar magistas, xamãs e bruxos(as) de diversos naipes. Não podemos generalizar nestes campos. Há pessoas com as mais diversas formas de ser e posturas que se aproximam da ciência e por analogia podemos entender o mesmo de pessoas que se aproximam do campo transcendental. O fruto é a artimanha da árvore, para que a semente permaneça e seja levada onde amplie.

Os mistérios da semente, de seu tempo na Terra, de seu morrer para nascer de novo. O vencer da terra resistente e escura que se apresenta após a primeira porta. Passar pela noite e então também resistir ao ofuscante dia claro. Como planta completa aprender a crescer, tanto em raízes como em caule e galhos, pois a copa só acariciará as nuvens quando as raízes se sentirem firmes nos mundos mais profundos. Os ritos mágicos são, ainda hoje, a mesma representação destes mistérios, entre outros.

O Caminho nos leva ao recolhimento da semente que se deixa ir enquanto grão para poder realizar seu ‘Ser Árvore’. Cada fase de nossa caminhada nesta trilha está nestes ritos traçada e simbolizada. Assim, a atenta observação da Natureza e seus fluxos marca todos os ritos ancestrais. Quando ritualizar era reatualizar o mito, tornar-se o mito encarnado, por vivência ativa e não mera incorporação.

O primeiro ponto a recuperar neste trabalho é a consciência de que a Terra é a grande provedora. Seus ciclos, em relação a si e aos astros e corpos celestes que nos circundam em suas elipses irregulares, são os momentos de trabalharmos com os fluxos por tais alinhamentos gerados.

Experimente sentir o poder da Terra pelos próximos dias, observe cada árvore, cada planta que aparece durante o seu dia. Tens um lugar de terra que podes mexer? Pois como lidar com a Magia, o Xamanismo e a Bruxaria sem um contato real e efetivo com a TERRA?

Nuvem que Passa


quinta-feira, 10 de outubro de 2024

Reflexão do Momento - Princípios Mana e Pono da Filosofia Kahuna.

Aquilo que funciona é um dos critérios para a verdade sobre algo (pono), mas é necessário compreender o porquê, a causa, pois o efeito placebo, por exemplo, funciona, não devido a coisa em si, mas devido à crença no poder da coisa, ou seja, o verdadeiro poder está na mente que crê.

 "A tua fé te salvou", como já foi dito. 

O poder dentro do ser humano é impressionante (mana), mas fomos condicionados a crer num poder externo a nós mesmos, o que solapa o nosso poder pessoal.

quarta-feira, 4 de setembro de 2024

O segundo filtro do Xamanismo Guerreiro em Viagem a Ixtlan


Ah, a vaidade... Eis o meu pecado favorito! Tal como dito no filme "O Advogado do Diabo". Assume tantas formas, que também já foi escrito que tudo é vaidade.

Auto-importância, achar-se o tal, considerar-se o cara, julgar-se alguém especial, ter-se em alta conta, sentir-se o pica das galáxias ou a diva suprema só é possível se temos história pessoal, o primeiro filtro.

A história pessoal se dá em função dos outros, pois precisamos reafirmar a nós mesmos, o que "fizeram de nós" diante dos outros. Sem os outros como espelho de nós mesmos não pode haver história pessoal e a auto-importância não se sustenta. Não faz sentido, por exemplo, tirarmos uma "selfie" de nós mesmos se não vamos expô-la para ninguém. As penas do pavão são ostentadas para os outros.

A auto-importância se revela no culto ao eu que depende, dentro do contexto sócio-cultural, do reconhecimento alheio, portanto, da história pessoal.

Não ter auto-importância não significa, por outro lado, sentir-se menos, por baixo, miserável pecador ou o verme no cocô do cavalo do bandido, isso também é considerado auto-importância no Xamanismo Guerreiro. O pecador se (auto)considera tanto quanto qualquer outro "pavão", pois o foco da própria atenção continua nele mesmo.

"Negar a si próprio é uma indulgência. A indulgência de negar é de longe a pior; obriga-nos a crer que estamos fazendo grandes coisas, quando na verdade só estamos fixados em nós mesmos¹".

Por isso a auto-importância é o disfarce, ou o outro lado da moeda do ego, da auto-piedade, faz com que toda a nossa energia e toda a nossa atenção fique fixada em nós mesmos.

A auto-importância desaparece quando não nos sentimos nem mais e nem mesmos que ninguém, é a posição do ponto de aglutinação de "nobody", a posição da implacabilidade, a posição na qual descobrimos que a "Deusa Morte" - o terceiro filtro - coroa à todos, humanos ou divinos, pois ela nivela à todos e nos faz retornar à Fonte da qual tudo emana.

A auto-importância é como um feitiço para a nossa mente, já que nos faz crer que somos imortais, seres que não vão morrer e desaparecer na poeira dos tempos.

Lendo e refletindo sobre o Xamanismo Comportamental em Viagem à Ixtlan vemos um sistema de conhecimento onde os elementos se conectam, um levando ao outro e formando um todo que culmina numa nova forma de ser: o(a) guerreiro(a).

Estamos diante de um sistema de conhecimento que pode ser testado na prática, a despeito das acusações de plágio e dos ataques dos detratores de plantão contra a obra do nagual Carlos Castaneda.

Esse sistema de conhecimento consiste num conjunto de atitudes interligadas e harmônicas que visam basicamente a utilização ótima de nossa energia, uma economia excelente da energia (impecabilidade) para atingirmos todo o nosso potencial como seres humanos e mágicos.

A questão da auto-importância é crucial no Trabalho sobre si mesmo no Xamanismo Guerreiro, pois se trata de um dos fatores de maior drenagem de nossa energia e poder pessoal.

Pode você tratar todos os seres a partir de uma visão equânime?

Pode você responder a pergunta: quem eu sou?

Pode você entender profundamente a estória budista que se segue?

A carroça

Um Imperador, sabendo que um grande sábio Zen estava às portas de seu palácio, foi até ele para fazer uma importante pergunta: 

"Mestre, onde está o Eu?" 

O mestre então pediu-lhe: 

"Por favor traga-me aquela carroça que está lá." 

A carroça foi trazida. O sábio perguntou: 

"O que é isso?" 

"Uma carroça, é claro," respondeu o Imperador. 

O mestre pediu que retirasse os cavalos que puxavam a carroça. Então disse: 

"Os cavalos são a carroça?" 

"Não." 

O mestre pediu que as rodas fossem retiradas. 

"As rodas são a carroça?" 

"Não, mestre." 

O mestre pediu que retirassem os assentos. 

"Os assentos são a carroça?" 

"Não, eles não são a carroça." 

Finalmente apontou para o eixo e falou: 

"O eixo é a carroça?" 

"Não, mestre, não são." 

Então o sábio concluiu: 

"Da mesma forma que a carroça, o Eu não pode ser definido por suas partes. O Eu não está aqui, não está lá. O Eu não se encontra em parte alguma. Ele não existe. E não existindo, ele existe." 

Dito isso, ele começou a se afastar do surpreso monarca. Quando estava já afastado, voltou-se e perguntou-lhe: 

"Onde Eu estou?"

Pode você responder a pergunta: onde eu estou?

A própria percepção de nossa interdependência da Natureza, se aguda, pode levar ao colapso da auto-importância ao revelar que aquilo que chamamos eu é um conjunto de agregados reunidos no tempo-espaço e que prende o ponto de aglutinação nesta percepção estreita do real.


Notas

¹ Roda do Tempo e Uma Estranha Realidade

sábado, 6 de julho de 2024

Viagem a Ixtlan: o primeiro filtro no caminho do Xamanismo Guerreiro - 2

O Xamanismo Guerreiro é um caminho para muito poucos. Alguma dúvida disso?

Apagar a história pessoal, abandonar todas as pessoas que o conhecem bem, desapegar-se de suas relações sociais, tornar-se um desconhecido ou espreitar a si mesmo, pois a espreita começa justamente nesse estilo comportamental de apagar-se, ocultar-se, tornar-se um mistério para si e para os outros, não é coisa pouca ou que interessa a qualquer um. Exige cuidado, exige estratégia, não é coisa para se fazer se não há um compromisso efetivo com o caminho já que tal atitude se for precipitada ou intempestiva pode levar a um desastre social e pessoal.

Por esse primeiro filtro já se sabe se o caminho é ou não para você, se você não pode desapegar-se de suas relações, de quem você pensa que é (na verdade daquilo que fizeram de você, a sua máscara social).

Sem tal "filtro" não há mudança ou revolução pessoal, não há deslocamento do ponto de aglutinação para outras posições, o caminho do guerreiro (a) não se abre, mantém-se o 'status quo' existencial, mais do mesmo, escravo de si e dos outros.

Mas suponhamos que se adote tal estilo comportamental, dificilmente alguém o fará por livre e espontânea vontade, a própria vida, o Poder pode induzi-lo a tal, e aí como agir, por onde começar, o que fazer? Simplesmente sair fora de seu círculo social pode não ser conveniente. É possível apagar a história pessoal de dentro do próprio círculo social?

- Sim, é possível.

- Mas como?

- Através da mudança gradual de hábitos.

- Explique melhor.

- Simples. Estamos associados aos outros através de nossos hábitos, se mudamos nossos hábitos nossas relações sociais se desfazem. É como um viciado que deixa de se drogar, ele deixa de fazer parte do círculo social dos drogados, mas naturalmente tal círculo social fará de tudo para que ele retome o vício ou o velho padrão. A velha sociedade não quer perder nenhuma de suas ovelhas.

- Pode dar um outro exemplo, um exemplo pessoal?

- Sim. Dentro da família ou no trabalho, tradicionalmente, qual o momento no qual ocorre maior socialização?

- Muitas vezes na hora da comida, em torno da mesa.

- Digamos que você mude seus hábitos alimentares, por exemplo, comece a praticar jejum, seja o jejum intermitente ou o jejum mais longo.

- Humm...

- Só essa simples mudança vai detonar um processo de corte de laços, o que vai gerar um afastamento natural. Qualquer outra mudança de hábitos alimentares que seja diferente do seu círculo social já provocará um afastamento de tal círculo, um afastamento gradativo, estratégico, mas cheio de possíveis recaídas. Naturalmente que tal mudança deve ser saudável, positiva para si. Por essas e por outras é que não há procedimentos específicos ou definidos no caminho, de acordo com as condições de vida de cada um deve-se implementar as atitudes adequadas, criativas, afinal o caminho faz-se no caminhar.

- Apagar-se é um primeiro passo sem o qual o próximo não pode ocorrer: livrar-se da vaidade que não presta, da autoimportância, a próxima recomendação de Don Juan Matus em Viagem a Ixtlan. Vemos aqui que se um passo decorre do outro temos em verdade um sistema de conhecimento que leva a uma nova percepção de si e do mundo.


Bruxaria, Magia e Xamanismo - parte 4 - por Nuvem que Passa

Percepção versus Descrição Quando olhamos para o mundo a nossa volta notamos que ele tem um contexto, uma historicidade. Refiro-me ao mundo ...