Sempre lembrando…
Não esqueçam de ver o sorriso despreocupado nestas palavras.
Escrever ideias tem a limitação de passar formas pensamento sem os tons de voz, sem as expressões faciais e corporais e tantos outros sinais subliminares presentes em uma conversação face a face. Componentes que ajudam a compreender o que já é em si só um esforço concentrado expressar oralmente através da linguagem formalizada.
Temos que ter o cuidado para não projetarmos nossas interpretações pessoais, mas tentar nos descentrarmos, nos ‘desegotizarmos’, como diria Piaget. Sairmos da posição do “eu”…
Compreender cada povo e cada cultura, cada forma de expressão da vida…
As vezes posso ter dado a impressão que aludi ao caminho búdico tibetano como algo confuso. De forma alguma. Tenho profunda admiração pela escola búdica tibetana desde o dia em que no centro cultural Vergueiro, participando da mandala da cura, realizada por lamas, vi nos olhos dos que conversei uma pureza diferente. Assim quaisquer que sejam as jangadas que usem para auxiliar na travessia rumo a outra margem, têm algo de paz, algo que já vi em alguns monges cristãos, alguns sufis, alguns xamãs.
Quando aprendi na prática que não importa o caminho, desde que este tenha coração, soube que os lamas possuem um caminho que leva ao despertar efetivo. Como curiosidade antropológica me permitam compartilhar a forma através da qual esta linhagem de xamãs que integro vê os lamas.
Alguns dos estrangeiros, isso é, não índios, como eu, que se ligaram a essa linhagem de xamãs eram daoxíê Sí-e* (道學 僊 - vide notas), eremitas que vivendo em peregrinação foram ter a Tailândia e arredores, onde a civilização que ali florescia tem tal semelhança com a do período olmeca e anteriores que ainda instiga os pesquisadores.
Dali vieram ter ao México e contaram da prática de monges poderosos que viviam no alto das neves eternas. Tais monges eram curadores e conheciam muitas formas de magia. Eles tinham desenvolvido um profundo conhecimento da natureza da vida e da consciência.
Eles sabiam que se um se uma pessoa, durante a vida, desenvolvesse a consciência de si. Haveria chance de prosseguir existindo.
Caso contrário apenas se dissolveria como a espessa névoa vai com o vento ao meio da manhã, dissipar-se pela mata, toda e, ao meio dia, nem lembrança dela restará àquele que por ela atravessou quando o dia nascia e ainda carpe o pasto, tudo roçando, carpe, mas não carpe ‘die’.
Contavam que tais monges em grandes mosteiros sabiam que as experiências, os jeitos de ser, de sentir, de pensar, de agir, iam de um indiví-duo para outro, se misturando em tramas e depois se separando, como se um tapete fosse tecido e depois desfeito, e sua lã, aproveitada em outros tapetes.
Cada novo tapete gera uma forma final, um novo e único tapete, mas sua lã veio de outro tapete. E eis que certo dia um tapete acorda e diz: Hoje sonhei que fui um tapete em frente a vasta lareira do imperador. E se sente orgulhoso por isso. Ele tem algo do tapete da lareira do imperador.
Os monges descobriram isso com sua clarividência. Mas eles não eram mais o tapete da lareira do imperador. Podiam até mesmo usar o que traziam de aprendizado dali. Mas eram um novo tapete, único e singular. E podiam até mesmo se lembrar de muitos outros tapetes que as várias cores de lãs que o compunham haviam antes composto.
Lembrar tapetes sendo feitos e desfeitos, até o distante dia em que cada lã daquela foi pela primeira vez fiada, pela primeira vez cardada. A distante roca original que pegou a lã cardada e fez fio, fio que tecido e retecido em tantos tapetes esteve.
E mesmo assim, ainda perplexo, o tapete resultante dos fios confunde-se com eles, negando-se tapete. Descobriram também que quanto mais se trabalha o ser, mais lãs juntas vão de tapete a tapete e em certos casos chega a ocorrer uma autêntica reencarnação, um tapete é desfeito e refeito com a mesma lã. Ainda assim a resultante é única, distinta.
Pois é isso que o tapeceiro, incriado, aplicado em tramar tapetes, busca! Revelar-se a si mesmo, como em uma brincadeira de esconde-esconde.
Tais monges passaram então a ir em busca das fibras que compunham aqueles ‘tapetes’ com quem treinavam. Durante a vida o monge treina, e ao morrer, os parceiros monges seguiam sinais e encontravam várias fibras do antigo companheiro.
Para explicar às pessoas o que faziam usaram conceitos mais simples como reencarnação. Tais monges podem muito bem ser os antepassados espirituais dos lamas tibetanos.
Paz Profunda!!!
Nuvem Que Passa
Notas
🗣️daoxíê Sí-e(m)
道學 僊
“Assembleia de imortais oferecendo votos de vida longa”
Dinastia Ming ou Qing
🗣️sí-e(m)
“hsien”
caractere chinês simplificado: 仙
caractere chinês tradicional: 僊
pinyin: xiān
Wade–Giles: hsien
fala-se🗣️sí-e(m)
O dào 道
道 = 辶 + 首
dào = chuò + shǒu
辶 (chuò)
Este radical é associado a movimento ou caminhada.
Relaciona-se a viagem ou a um caminho.
首 (shǒu)
Este caractere significa “cabeça” ou “líder”.
O daoxíê
道學
学 (xíê)
Aprender, estudar.
conectados a escola identificada especificamente como 道 dào. Além
de pessoas que transcenderam a condição humana, ‘Sí-e(m)’ pode se
referir a animais mágicos, muitas vezes vistos como criaturas
sobrenaturais.
‘etimo’nômias’ na forma de trocadilhos, e define ‘Sí-e(m)’ 仙 como
“envelhecer e não morrer” e o explica como alguém que 遷 (qiān) “se
muda para” as montanhas.
e 山 (shān; '‘montanha’'). Sua forma histórica é 僊: uma combinação
de 人 e 移 / 䙴 (qiān; “mudança para”).
chinês, como xiānrén (仙人; “pessoa imortal; transcendente”), xiānnǚ
(仙女; "mulher imortal; mulher celestial.
e(m)’ associado a mundo mágicos para descrever a imortalidade
espiritual, às vezes usando a palavra yuren 羽人 ou “pessoa
emplumada”, descritos com qualidades como ‘providos de penas’ e
‘com a habilidade de voar’, através de formas pensamento como
yǔhuà (羽化, com "pena; asa"). O termo yuren 羽人 ou “pessoa
emplumada” posteriormente se tornou mais uma forma para dizer 道
學 daoxíê, praticante do dào.
Grande Ocultação disse:
'Se você confundir os fios constantes do Céu
e violar a verdadeira forma das coisas,
então o Céu Escuro não alcançará nenhuma realização.
Em vez disso,
os animais se dispersarão de seus rebanhos,
os pássaros chorarão a noite toda,
o desastre chegará à grama e às árvores,
o infortúnio alcançará até os insetos.
Ah, isso é culpa dos homens que "governam"!'
'Então o que devo fazer?'
disse o Chefe das Nuvens.
'Ah',
disse Grande Ocultação,
‘você está muito longe!
僊 [ ‘Sí-e(m)’ – Levante-se!]
僊 [ ‘Sí-e(m)’ – Levante-se!]
mexa-se e vá embora!’
O Chefe Nuvem disse:
‘Mestre Celestial,
tem sido realmente difícil
para mim me encontrar com você
— imploro uma palavra de instrução!’
‘Bem, então — nutrição mental!’
disse Grande Ocultação.
‘Você só precisa
descansar na inação
e as coisas se transformarão.
Esmague sua forma e corpo,
cuspa a audição e a visão,
esqueça que você é uma coisa entre outras coisas,
e você pode se juntar em grande unidade
com o profundo e ilimitado.
Desfaça a mente,
descarte o espírito,
fique em branco e
sem alma,
e as dez mil coisas,
uma por uma,
retornarão à raiz
— retornarão à raiz
e não saberão por quê.
Caos escuro e indiferenciado
— até o fim da vida ninguém se afastará dele.
Mas se você tentar conhecê-lo,
você já se afastou dele.
Não pergunte qual é seu nome,
não tente observar sua forma.
As coisas viverão naturalmente,
fim de si mesmas.’
O Chefe Nuvem disse:
‘O Mestre Celestial
me favoreceu com esta Virtude,
me instruiu neste Silêncio.
Durante toda vida
estive procurando por isso,
e agora finalmente encontrei!’
Ele curvou a cabeça duas vezes, levantou-se, despediu-se e foi embora.
Em conexão consciente com a Totalidade,
Admiração e Reconhecimento incomensurável
ao Velho Homem Nawal A Lex Sed Rex
e de forma muito especial ao
Velho Velho Homem Nawal Oo’Moto,
assim como todos e todas
que o precederam.
Uni K. A.
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