domingo, 20 de julho de 2025

Citações do livro "Encontros com o Nagual", de Armando Torres



Conversações com Carlos Castaneda


"A intensidade é a única coisa que pode nos salvar do aborrecimento"




1 - A Revolução dos Bruxos

Um dos presentes quis saber qual era a posição dos bruxos diante da guerra. Seu rosto refletiu aborrecimento.

"O que você quer que eu diga? - perguntou - Que são pacifistas? Pois não são! A eles não interessa nosso destino como homens comuns e normais! Entendam de uma vez por todas! Um guerreiro é feito para o combate, seu descanso é a guerra".

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...a guerra do bruxo não está dirigida contra os outros, mas contra suas próprias fraquezas.

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O guerreiro sabe que vive em um universo predatório. Não pode baixar a guarda. Por onde quer que olhe, ele vê uma luta incessante, e sabe que é merecedora de respeito, porque é uma luta mortal.

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Seu adversário não é seu semelhante, mas seus próprios apegos e fraquezas.

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Afirmava que a situação da humanidade em geral é horrenda, e que enfatizar certos grupos é uma forma disfarçada de racismo.

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Quando eu lhe expunha minha preocupação pelas pessoas, ele indicava minha incipiente papada e me dizia: 'não se engane, Carlitos, pois se você se interessasse de verdade pela condição humana, não trataria a si mesmo como a um porco'.

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"Quando sentir que a mente coletiva o pressiona, tentando convencê-lo de que se concentre nas aparências do mundo, repita para seu interior esta tremenda verdade: 'eu vou morrer, não sou importante, ninguém o é!' Saber isso é a única coisa que importa".

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A tragédia do homem atual não é sua condição social, senão a falta de vontade de mudar a si mesmo. 

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Ele me ensinou que a ordem do mundo não tem que ser como nos dizem, que eu posso deixá-lo de lado quando eu quiser. Eu não estou obrigado a manter uma imagem para os outros, a viver um inventário que não me convém. Meu campo de batalha é o caminho do guerreiro!

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2 - A Importância Pessoal

Acrescentou que a informação de que precisamos para ampliarmos a consciência se esconde nos lugares mais improváveis; e que se não fôssemos tão rígidos como normalmente somos, tudo à nossa volta nos contaria segredos incríveis.

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"O caminho para converter um ser humano normal num guerreiro é muito árduo. Sempre intervém nossa sensação de estar no centro de tudo, de sermos necessários e termos a última palavra. Nós nos sentimos importantes. E quando a pessoa é importante, qualquer intento de mudança se converte em um processo lento, complicado e doloroso”.

"Esse sentimento nos segrega. Se não fosse por ele, todos nós fluiríamos no mar da consciência e saberíamos que nosso eu pessoal não existe para si mesmo: seu destino é alimentar a Águia”.

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...nós não estamos obrigados a viver em uma única realidade, porque o universo está construído com princípios muito maleáveis que podem se acomodar em formas quase infinitas, produzindo incontáveis gamas de percepção.

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"Nossa herança é uma casa estável onde viver, mas nós a transformamos em uma fortaleza para a defesa do eu, melhor dizendo, em um cárcere onde condenamos nossa energia a consumir-se em prisão perpétua. Nossos melhores anos, sentimentos e forças se vão no conserto e na sustentação daquela casa porque nós acabamos nos identificando com ela”.

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"Por causa de nossa importância, nós estamos cheios até as bordas de rancores, invejas e frustrações. Nós nos deixamos guiar pelos sentimentos de indulgência e fugimos da tarefa de nos conhecer a nós mesmos com pretextos como: 'me dá preguiça' ou 'que cansaço!'. Por trás de tudo isso há uma ansiedade que tentamos silenciar com um diálogo interno cada vez mais denso e menos natural".

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Carlos continuou explicando que a auto-importância se alimenta da mesma classe de energia que nos permite "ensonhar". Portanto, perdê-la é a condição básica do nagualismo, porque libera para nosso uso um excedente de energia; porque sem essa precaução, o caminho do guerreiro poderia nos converter em umas aberrações.

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"Assim, antes de mais nada, deem-se conta disso. Peguem uma cartolina e escrevam nela: 'A importância pessoal mata', e pendurem-na no lugar mais visível da casa. Leia essa frase diariamente, tente se lembrar dela no seu trabalho, medite sobre ela. Talvez chegue o momento em que seu significado penetre em seu interior e você decida fazer algo. O dar-se conta é por si mesmo uma grande ajuda porque a luta contra o eu gera seu próprio impulso.

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"Percebam que a importância pessoal é um veneno implacável. Nós não temos tempo e o antídoto é a urgência. É agora ou nunca!”.

"Uma vez que vocês tenham dissecado seus sentimentos, devem aprender como canalizar seus esforços mais além da faixa do interesse humano, até o lugar da não piedade. Para os videntes, esse lugar é uma área de nossa luminosidade tão funcional como é a área da racionalidade. Nós podemos aprender a avaliar o mundo de um ponto de vista desapegado, da mesma que nós aprendemos, quando crianças, a avaliá-lo a partir da razão. Só que o desapego, como ponto de enfoque da atenção, está muito mais próximo da realidade energética das coisas”.

"Sem essa precaução, a convulsão emocional resultante do exercício de espreitar a nossa autoimportância pode ser tão dolorosa que o aprendiz pode ficar louco ou ser levado ao suicídio. Quando ele aprender a contemplar o mundo a partir da não compaixão, intuindo que por trás de toda a situação que implique um desgaste energético há um universo impessoal, o aprendiz deixa de ser um nó de sentimentos e se torna um ser fluido”.

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"Um modo de definir a importância pessoal, é entendendo-a como a projeção de nossas fraquezas através da interação social. É como os gritos e atitudes prepotentes que adotam alguns animais pequenos para dissimular o fato de que na realidade eles não têm defesas. Somos importantes porque nós temos medo, e quanto mais medo, mais ego.

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"Ao não termos compaixão, podemos enfrentar com elegância o impacto de nossa extinção pessoal. A morte é a força que dá ao guerreiro valor e moderação. Só olhando através de seus olhos nos damos conta de que nós não somos importantes. Então ela vem viver ao nosso lado e começa a nos transmitir seus segredos”.

3 - O Caminho do Guerreiro

"...a ousadia do guerreiro nasce do contato com sua morte iminente".

"Narrou a história de uma moça que chegou um dia no escritório de seu editor, pôs uma esteira no chão, sentou-se sobre ela e disse: "Daqui eu não saio até falar com Carlos Castaneda!" Todas as tentativas com o fim de desencorajá-la desse propósito foram inúteis, pois ela permaneceu inflexível. Então o editor chamou a Carlos pelo telefone e o avisou que uma louca exigia sua presença".

"O que eu podia fazer? Fui para lá e me coloquei diante dela. Quando eu lhe perguntei a razão de seu estranho comportamento, ela me falou que, estando mortalmente doente, tinha ido ao deserto para morrer. Mas, enquanto meditava em solidão, entendeu que ainda não tinha esgotado tudo e decidiu jogar sua última carta. Que, para ela, significava conhecer pessoalmente o nagual”.

"Impressionado por sua história eu lhe fiz uma proposta sem igual: 'Deixe tudo e venha para o mundo dos bruxos. E ela respondeu imediatamente: 'Jogo!' Quando eu escutei sua resposta me eriçaram os pelos, porque isso mesmo era o que me falava don Juan: 'Se vamos jogar, ora, joguemos! Mas joguemos a morte”.

"Assim é o sentimento do bruxo diante do seu destino: 'Aposto minha vida neste intento, nada menos. Eu sei que o meu fim me espera em qualquer parte e não há nada que eu possa fazer para evitá-lo. Portanto, estando definido o meu caminho, aceito a responsabilidade de viver plenamente e arriscar tudo numa única jogada”.

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"...para quem já morreu, cada segundo de vida é um presente".

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"O aspecto da impecabilidade que mais concerne à nossa vida diária, é saber até onde o exercício de nossa liberdade afeta a outros e evitar os esbarrões a todo custo. Ocasionalmente, nossas relações com os demais geram fricções e expectativas. Um bruxo em pé de guerra se previne contra tais esbarrões e se converte em um caçador de sinais. Se não há sinais, ele não interage com as pessoas; limita-se a esperar, porque, assim como não tem tempo, tem toda a paciência do mundo. Sabe que há muito em jogo e não está disposto a arruinar tudo por um passo em falso”.

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"Como não se desespera por relacionar-se com ninguém, o guerreiro pode escolher seus afetos com sobriedade e desprendimento, tomando cuidado a todo momento para que as pessoas com as quais consente em ter relações sejam compatíveis com sua energia. O segredo para ter tal claridade de visão consiste em se identificar e não se identificar. O bruxo se identifica com o abstrato, não com o mundo. Isso lhe permite ser independente e cuidar-se sozinho".

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"Percebam que, diante do destino, cada um de nós está sozinho. Assim, que tomem o comando da sua própria vida. Um guerreiro lapida os detalhes, desenvolve sua imaginação e põe à prova seu engenho para resolver as situações. É inconcebível que se sinta inválido, porque tem autodomínio e não necessita nada de ninguém. Ao se concentrar nos detalhes, aprende a cultivar a fineza, a sutileza e a elegância".

"Don Vicente Medrano dizia que a beleza desta guerra reside nos pontos que não se veem. Essa é a marca registrada do bruxo,

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4 - A Consciência da Morte

"A premissa dos bruxos para tratar com este tipo de prática é o silêncio mental. E a qualidade de silêncio requerido para algo tão descomunal quanto parar o mundo, só pode vir de um contato direto com a grande verdade de nossa existência: que todos nós vamos morrer".

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"Se vocês querem conhecer a si mesmos, sejam conscientes de sua morte pessoal. Ela não é negociável e é a única coisa que vocês realmente têm. Todo o resto poderá falhar, mas a morte não, a ela podem dar por certo. Aprendam a usá-la para produzir efeitos verdadeiros em suas vidas".

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"Uma vez alinhados com a morte, estarão em condições de dar o seguinte passo: reduzir ao mínimo a bagagem. Este é um mundo prisão e é necessário sair como fugitivos, sem levar nada”.

“Os seres humanos são viajantes por natureza. Voar e conhecer outros horizontes é nosso destino. Por acaso você sai de viagem com sua cama ou com a mesa em que come? Sintetiza sua vida!".

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"O poder que nos rege nos deu escolhas. Ou nós passamos a vida dando voltas ao redor de nossos hábitos, ou nos animamos a conhecer outros mundos. Só a consciência da morte pode nos dar a sacudidela necessária”.

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"A pessoa comum passa a existência inteira sem parar para meditar, porque ela pensa que a morte está ao término da vida; afinal de contas, nós sempre teremos tempo para ela! Mas um guerreiro sabe que isso não é certo. A morte vive a seu lado, a um braço de distância, permanentemente alerta, olhando-nos disposta a saltar à menor provocação. O guerreiro transforma seu medo animal à extinção em uma oportunidade de prazer, porque ele sabe que tudo aquilo que ele tem é este momento. Pensem como guerreiros, todos vamos morrer!"

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"Ao contrário do homem comum, os bruxos estão ávidos de qualquer situação que os leve além da interpretação social. Que melhor oportunidade que a própria extinção? Graças às suas frequentes incursões pelo desconhecido, eles sabem que a morte não é natural, é mágica. As coisas naturais estão sujeitas a leis, a morte não. Morrer é sempre um evento pessoal, e por essa única causa, é um ato de poder”.

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"A morte não é brincadeira não, é de verdade! Se não fosse por ela não haveria força alguma no que os bruxos fazem. Ela o envolve pessoalmente, queira ou não. Você pode ser tão cínico a ponto de descartar outros tópicos dos ensinamentos, mas você não pode debochar de seu fim, porque está além de sua decisão e é implacável”

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"Quando um guerreiro põe em xeque suas rotinas, quando já não lhe importa estar acompanhado ou estar só, porque tem escutado o sussurro silencioso do espírito, então a pessoa pode dizer que, verdadeiramente, está morto. A partir dali, as coisas mais simples da vida se tornam para ele extraordinárias”.

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"Se vocês querem dar espaço ao desconhecido, deem entrada à sua extinção pessoal. Aceitem seu destino como o fato inevitável que é. Purifiquem esse sentimento, fazendo-se responsáveis pelo incrível evento de estarem vivos. Não implorem à morte; ela não é condescendente com os que hesitam. Invoquem-na conscientes de que vieram à este mundo para conhecê-la. Desafiem-na, ainda sabendo que, façamos o que façamos, não temos a menor possibilidade de vencê-la. Ela é tão gentil com o guerreiro como é impiedosa com o homem comum".

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"É inventariar seus entes queridos e todo mundo que lhes interesse. Uma vez que os classifiquem, de acordo com o grau de sentimentos que vocês têm por eles, vão pegar um por um e passá-los pela morte".

Eu pude notar um murmúrio de consternação que sacudiu seus ouvintes.

Fazendo um gesto tranquilizador, Carlos acrescentou:

“Não se assustem! A morte não tem nada de macabro. O macabro é que não possamos enfrentá-la com deliberação”.

"Vocês devem levar a cabo o exercício à meia noite, quando a fixação de nosso ponto de aglutinação se move e estamos dispostos a acreditar em fantasmas. É muito fácil, vocês evocarão os seus entes queridos através de seu fim inevitável. Não pensem em como ou quando eles morrerão. Simplesmente, tomem consciência de que algum dia eles já não estarão aqui. Um por um eles partirão, só Deus sabe em que ordem, e não importará o que você possa fazer para evitá-lo”.

"Ao evocá-los assim, vocês não os prejudicarão, pelo contrário!, estarão os colocando na perspectiva apropriada. O ponto de enfoque da morte é prodigioso, restabelece os verdadeiros valores da vida".

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5 - A Drenagem de Energia

“Os bruxos sustentam que falar de nós mesmos nos faz acessíveis e fracos, enquanto que aprender a estar quieto nos enche de poder. Um princípio do caminho do conhecimento é fazer da própria vida algo tão imprevisto que nem mesmo o próprio sujeito sabe o que vai acontecer”.

“O único modo de sair do inventário coletivo é nos distanciando daqueles que nos conhecem bem. Passado um tempo, as muralhas mentais que nos aprisionam se abrandam um pouco e começam a ceder. É então que se apresentam oportunidades genuínas de mudança e nós podemos tomar o controle de nossas vidas”.


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"Continuou dizendo que a energia se distribui pelo universo na forma de camadas. Todos os seres conscientes pertencem a uma delas e nós podemos sintonizar a energia de outras faixas graças a um fenômeno conhecido como "o alinhamento da percepção".

"Em alguns pontos as camadas se cruzam, gerando vórtices de energia, onde se dão lugar fenômenos da maior importância para os bruxos que Veem. Lá as condições para o alinhamento são ótimas e isto ocorre de um modo espontâneo. Os videntes falam de passagens, pontes e barreiras no espaço onde as coordenadas do tempo se anulam e a consciência do viajante penetra em mundos estranhos. Seres inorgânicos provenientes de todos os cantos do universo aproveitam esses pontos para cruzarem a fronteira para a Terra. E nós também podemos fazer a mesma coisa".


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“Quando duas pessoas entram em relação, o que acontece é um intercâmbio de emanações. Nossas fibras de luz interagem, ainda que nós não queiramos, ou ainda sem que sequer percebamos. É uma lei que a energia flua de onde há mais para onde há menos. Como nós passamos a vida em uma constante interação, o normal é que, ao fim, a pessoa seja muito pouco de si mesmo e muito do que os outros deixaram em nós”.

“Porém, os guerreiros aprendem a violar a lei da troca energética por meio de exercícios como a recapitulação, cujo fim é recuperar a energia. Dessa maneira eles ficam autossuficientes, eles recuperam seu capital e devolvem escrupulosamente tudo o que ‘emprestaram’. Como já não há desgaste, pode ser dito que seus ovos luminosos são térmicos”.


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“O tema dos intercâmbios é da mais séria implicação em nossas vidas e deu lugar ao dito ‘diga-me com quem andas e eu te direi quem és’. Esse ditado que não só descreve um estado de afinidade psicológica entre duas pessoas, mas um efeito energético mensurável que um bruxo pode perceber. Se você quiser ser você mesmo, aprenda a andar sozinho”.

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"O propósito do sexo vai mais além, pois nos conecta com o mistério da origem de todas as coisas, porque o universo surgiu de uma única explosão que dura até hoje e se expressa toda vez que fazemos amor. Se a fonte do que nós somos é o poder germinal, então o centro de nosso trabalho interior é a recanalização da energia sexual".

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Explicou que, geralmente, os novos videntes optam por uma posição de celibato e autossuficiência, porque eles são muito avaros com a energia deles e preferem dedicá-la ao aumento de sua consciência. Os mundos de que são testemunhas em suas viagens pelo infinito fazem com que todas as outras coisas, até mesmo o ato sexual, pareçam pálidas e carentes de atrativos.

"Don Juan dizia que fazer amor é para aqueles que não têm apegos".

Respondendo a outra pergunta, ele disse que não há um "problema sexual" em si, mas indivíduos com seus próprios e muito particulares dilemas para resolver.


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Atendendo a outra pergunta, sustentou que o melhor modo de cortar a drenagem de energia que acontece pela sexualidade é aprendendo a ter expressões magnânimas, que contradigam e recanalizem a fixação de nossa atenção.

“Nós recebemos a vida como um presente cósmico e é nosso privilégio refletir aquele gesto com desprendimento total. Graças a seu desapego, o guerreiro está em posição de fazer do amor dele um cheque em branco, incondicional, um afeto abstrato, porque não parte do desejo. Que maravilha!”.

“Contra tudo que o homem médio possa pensar, a natureza dos bruxos é teluricamente passional. Só que seu objetivo já não é carnal. Eles viram a cola que une todas as coisas, uma onda de paixão que inunda o universo e que não pode ser detida, porque, se fosse, tudo seria reduzido a nada”.


“Através de seu ver, eles estabeleceram sua base na pedra angular da consciência: o mais poderoso estado da atenção individual. O amor deles é uma realidade demolidora que vibra em cada respiração, intenta em cada gesto e adquire sentido em cada palavra; uma força que os impelem a explorar, a correr riscos e a evoluir, dando o melhor de si a cada momento”.

"Os bruxos descobriram a forma mais refinada de amor, porque eles amam a si mesmos. Eles sabem que tudo aquilo que nós damos para fora é um reflexo do que nós temos dentro. Eles puseram o poder da paixão ao serviço do ser, e isto lhes dá o impulso necessário para empreender a única busca que conta: a de si mesmo".


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6 - A Recapitulação

“Afortunadamente, no âmbito da energia não existem coisas como o tempo e o espaço. Dessa forma, é possível voltar ao lugar e ao momento mesmo onde aconteceram os eventos a serem revividos. Não é muito difícil, já que todos sabemos muito bem onde nos dói”.

“Recapitular é espreitar nossas rotinas, submetendo-a a um escrutínio sistemático e impiedoso. É a atividade que nos permite visualizar nossa vida como totalidade e não como uma sucessão eventual de momentos. Porém, e ainda que isto possa parecer estranho, só os bruxos recapitulam como norma; o resto das pessoas apenas o faz por casualidade”.


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"A recapitulação é a herança dos antigos videntes, a prática básica, a essência da bruxaria. Sem ela não há nenhum caminho".

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 "Uma forma muito rentável do exercício, acessível a todos nós, é a recapitulação fortuita. Se vocês perceberem, nós estamos constantemente recapitulando. Todas as recordações que conformam nosso diálogo interno podem ser classificadas como tal. Porém, nós os evocamos de forma involuntária. Em vez de os observar em silêncio, nós os julgamos, interagimos visceralmente com eles. Isso é lamentável. Um guerreiro tira proveito da oportunidade, porque essas recordações, aparentemente ao acaso, são avisos de nosso lado silencioso".

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“A recapitulação parte de dentro e se sustenta sozinha. É uma questão de silenciar a mente e então nosso corpo energético toma o controle, fazendo o que para ele é uma delícia fazer. Você se sente bem, confortado; longe de dar trabalho, o deixa descansado. Seu corpo percebe isso como uma ducha inefável de energia”.

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“No princípio, recapitular pode nos dar algum trabalho, porque nossa mente não está acostumada à disciplina. Mas, depois de fechar as feridas mais dolorosas, a energia se reconhece a si mesma e nós vamos ficando viciados no exercício. Dessa maneira, cada partícula de luz que recuperamos nos ajuda a ganhar mais”.

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“De imediato, corta nosso diálogo interno. Quando um guerreiro consegue parar seu diálogo está estreitando relações com sua energia. Isso o libera da obrigação da memória e da carga dos sentimentos, e deixa um resíduo energético que pode ser investido no aumento das fronteiras da percepção. O guerreiro começa a apreciar a coisa genuína, não a interpretação. Pela primeira vez, faz contato com o consenso dos bruxos que é a descrição de uma realidade inconcebivelmente integrada”.

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7 - O Umbral do Silêncio

Enfatizando as palavras, especificou que a bruxaria é a arte do silêncio.

“O silêncio é uma passagem entre os mundos. Ao calar nossa mente, emergem aspectos incríveis de nosso ser. A partir desse momento, a pessoa se torna um veículo do intento e todos os seus atos começam a emanar poder”.

"Durante minha aprendizagem, meu benfeitor me mostrou prodígios inexplicáveis que me espantavam, mas, ao mesmo tempo, despertavam minha ambição. Eu também queria ser poderoso como ele! Frequentemente lhe perguntava como eu poderia aprender seus truques, mas ele colocava um dedo sobre seus lábios e ficava me vendo. Foi apenas muitos anos mais tarde que eu pude apreciar completamente a magnífica lição de sua resposta. A chave dos bruxos é o silêncio".


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Explicou que o silêncio mental não é só a ausência de pensamentos. Realmente, trata-se de suspender os juízos, de testemunhar sem interpretar. Sustentou que entrar no silêncio pode ser definido, de acordo com o modo contraditório dos bruxos, como "aprender a pensar sem palavras".

“Para muitos de vocês o que eu estou dizendo não faz sentido, porque estão acostumados a consultar tudo com a mente. O irônico é que, para começar, os pensamentos nem mesmo são 
nossos, eles soam através de nós, o que é diferente. E, como nos acossam desde que temos feito uso de razão, nós terminamos nos acostumando com eles”.

“Se perguntam à mente, ela lhes dirá que o propósito dos bruxos é tolice, porque não se pode demonstrá-lo com a razão. Em vez de lhes aconselhar que vão e verifiquem honestamente esse propósito, ela os ordenará que se escondam atrás de um sólido bloco de interpretações. Portanto, se querem ter uma oportunidade, só lhes resta uma saída: desconectem a mente! A liberdade se consegue sem pensar”.


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"Don Juan afirmava que somos animais predadores que, à força de nos amansarmos, acabamos nos transformando em ruminantes. Passamos a vida regurgitando uma lista interminável de opiniões sobre quase tudo. Os pensamentos nos chegam em torrentes e se encaixam um no outro até encher o espaço da mente. Esse barulho não tem nenhuma utilidade porque praticamente em sua totalidade é dirigido ao engrandecimento do ego.

"Devido ao fato de que vai contra tudo o que nos foi ensinado desde crianças, o silêncio deve ser intentado com ânimo de combate. Neste momento, vocês têem uma grande vantagem: a experiência dos espreitadores. Os bruxos de agora pretendem passar pelo mundo sem chamar a atenção, tratando a todos igualmente. Um guerreiro espreitador é o dono da situação, para o bem ou para o mal, porque há algo terrivelmente efetivo em atuar sem a mente".


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“A técnica de observar, quer dizer, de contemplar o mundo sem idéias preconcebidas, funciona muito bem com os elementos. Por exemplo, com as chamas, as quedas de água, as formas das nuvens ou o pôr do sol. Os novos videntes o chamam ‘enganar a máquina’, porque, em essência, consiste em aprender a intentar uma nova descrição”.

“A pessoa tem que lutar corajosamente para conseguir isto, mas, depois que ocorre, o novo estado de consciência se sustenta naturalmente. É como por o pé na porta; já que está aberta, é questão de acumular energia suficiente para passar ao outro lado”.

“O importante é que nosso intento seja inteligente. De nada vale que nos esforcemos para chegar ao silêncio se primeiro não criarmos condições favoráveis para que se sustente. Portanto, além de treinar na observação dos elementos, um guerreiro é obrigado a fazer algo muito simples, mas muito difícil: ordenar sua vida”.


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“Se o que nós queremos é acumular silêncio profundo, de efeitos duradouros, o melhor não fazer é a solidão. Junto com a economia da energia e o abandono desses que nos dão por feitos. Aprender a estar só é o terceiro princípio prático do caminho”.

“O mundo do guerreiro é a coisa mais solitária que há. Até mesmo quando vários aprendizes se unem para viajar pelas rotas do poder, cada um sabe que está sozinho, que não pode esperar nada do outro nem depender de ninguém. O máximo que ele pode fazer é compartilhar o caminho com aqueles que o acompanham”.

"Estar só requer um grande esforço, porque nós ainda não aprendemos a superar o comando genético da socialização. No princípio, o aprendiz deve ser forçado a isto pelo seu mestre, através de armadilhas se for necessário. Mas com o tempo aprende a desfrutá-lo. É normal que os bruxos busquem o silêncio na solidão da montanha ou do deserto e que vivam sozinhos durante longos períodos".


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"Por outro lado, a solidão do guerreiro é como o retiro dos enamorados, desses que procuram um nicho remoto para escrever poemas a seu amor. E seu amor está em todos os lugares, porque é esta terra que por tão pouco tempo veio pisar. Assim, onde quer que vá, o guerreiro se entrega a seu romance. É natural que, às vezes, evite lidar com o mundo; o silêncio interior é solitário".

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"A resistência da descrição do mundo pode ir de uns segundos a uma hora ou mais; contudo, não é eterno. Vencê-la por meio de um intento contínuo é o que os bruxos chamam de "chegar ao limiar do silêncio".

“Essa ruptura se sente fisicamente, como um ruído na base do crânio ou como o som de um sino. A partir daí, é uma questão de quanta força foi acumulada”.


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“Apesar de ser indefinível, podemos medir o silêncio pelos seus resultados. Seu efeito final, o que os bruxos procuram com avidez, é que ele nos sintoniza com uma dimensão magnífica de nosso ser, onde temos acesso a um conhecimento instantâneo e total que não é composto de razões, mas de certezas. As velhas tradições descrevem esse estado como ‘o reino do céu’, mas os bruxos o preferem chamar por um nome menos pessoal: o conhecimento silencioso”.


Citações do livro "Encontros com o Nagual", de Armando Torres










    

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