Após dias de chuva, estou no sul de minas, o sol começa a brilhar forte, intenso.
Após todos esses dias na umidade é um prazer sentir a luz solar quente, intensa.
Uma amiga da minha irmã que está hospedada aqui em casa, ela é de Itajubá e as estradas para lá estão impedidas, pela manhã, quando tomávamos o desjejum na varanda, ao sol, desembolorando, fez uma colocação que me chamou a atenção para um tema sério.
Ela disse: "E aí, você como pagão já fez seus ritos de agradecimento pelo sol ter voltado? "
Olhei para o sol brilhando intenso no céu azul e muitas ideias vieram a minha mente.
O sol está lá, num dos pontos da elipse das órbitas planetárias. Ele não foi embora nem voltou. Esteve sempre ali, não ficou nem mais nem menos intenso. Não "desejou " que chovesse, tão pouco que parasse de chover. Ele apenas está lá, podemos ou não nos sintonizar com ele. Como dizem os beduínos do deserto:
"Não se implora ao sol por misericórdia ao meio do dia. Procura-se a sombra".
Não é o sol responsável pelo desequilíbrio ecológico que gera essas chuvas concentradas neste período, depois de um longo período de seca.
O que me chamou a atenção no comentário foi como nos equivocamos ao avaliar certos eventos e como fomos impregnados de posturas que mesmo superadas intelectualmente, ainda nos tangem, ainda nos influenciam. Queremos atribuir ao paganismo uma relação idêntica aos dos religiosos. Como já coloquei outras vezes um (a) pagão (ã) não "ora aos deuses" "implorando humildemente favores". Um(a) pagão (ã) entra em sintonia com as potências da vida e age em harmonia com esses fluxos.
Magia é a forma do pagão se aliar aos poderes que nos cercam, não orações de pedintes. Tais potências que imprecisamente chamamos de deuses e deusas, não respondem a "oração" mas ao poder pessoal e a precisão da magia empregada. Fato.
Ao contrário do religioso que reza para deus ajudar e quando nada recebe, ou até o contrário acontece, se julga sendo "castigado" ou "testado", um pagão sabe que se realizou o rito de forma correta e tem poder pessoal suficiente vai atingir o que procura. Magia!
É difícil mudar a mentalidade, a forma de abordar a realidade.
Acompanho isso no meu cotidiano profissional, pois meu trabalho é lidar com a mudança de cultura dentro de uma empresa, auxiliar no baixar à resistência à mudanças, quebra de velhos paradigmas, pois só assim os programas de qualidade total e melhoria contínua podem ser de fato aplicados.
Na maioria das empresas que entramos, muitas das quais já tem o ISO, não aconteceu essa mudança, apenas decoraram procedimentos e acabam se estressando muito pois ficam "imitando", "seguindo" sem compreender de fato toda a nova mentalidade que um programa de qualidade exige. Isso é tão profundo que cansei de ver pessoas colocarem verbalmente certos pontos e agirem exatamente em linhas opostas sem nem perceberem isso. E as falhas ocorrem quando tentam manter as mesmas posturas antigas num contexto de qualidade total. Não funciona, gera problemas.
O mesmo vejo no paganismo.
Muitas pessoas subitamente percebem que o paganismo tem um apelo profundo. Sentem ressonância e mergulham no mesmo, mas trazem para o paganismo suas antigas posturas existenciais. Não operam em si uma profunda transformação conceitual, não reavaliam sua percepção da realidade circundante, apenas pegam os mesmos conceitos e os resignificam, isto é dão rótulos novos, mas continuam com a mesma bagagem conceitual.
Como já dissemos anteriormente, iniciar-se é morrer para o velho ser que éramos e nascer para um novo ser.
Morrer é transformar-se, é deixar para trás um estilo de ser, de agir, de pensar e sentir e ousar encontrar um novo estilo. Sem essa mudança estrutural não houve iniciação. Rituais portentosos podem ter ocorrido, mas o sentido fundamental da iniciação, morrer e renascer, não foi alcançado. E morrer é deixar o velho e nascer novamente, de si, por si, puro(a) , ingênuo(a), pronto(a) a reaprender o mundo. Essa a purificação necessária, despir-se de todos os "eus" conceituais que nos impregnaram para conseguir ver a realidade como ela é, não como nos condicionaram a vê-la.
Se lerem atentamente todos os livros que contam sobre a iniciação de um(a) xamã verão que é isto que o(a) pessoa ou grupo que inicia faz. Desmonta sistematicamente a antiga visão de mundo e "educa" o(a) aprendiz a mergulhar numa nova abordagem da realidade.
Vivemos num mundo totalmente manipulado.
Os meios de comunicação para a massa torcem as informações de forma sutil ou até acintosa, a fim de que o poder continue nas mãos dos que se julgam donos do mundo.
Como pagãos(ãs) e xamãs somos os(as) herdeiros(as) espirituais de povos que perderam, em parte, as históricas batalhas pela sobrevivência. Poucos param para pensar sobre isso, mas no litoral brasileiro, em Cusco, em Yucatã e tantos outros pontos do continente travou-se uma batalha entre duas mentalidades e a mais grosseira, mais violenta, mais vil venceu. Quantos povos foram cruelmente assassinados e aculturados?
Perdemos, em parte, estas batalhas. Digo em parte pois o fato de estarmos aqui, numa lista, debatendo o tema, mostra que ao mesmo tempo que exércitos matavam ou escravizavam os corpos de nossos ancestrais espirituais e padres convertores lhes matavam ou escravizavam a essência, alguns conseguiram escapar, o elo foi mantido e hoje renasce com intensidade.
Mas enquanto civilização os povos pagãos foram exterminados. Quando penso nisso há um certo pesar. A civilização hoje dominante nos impregnou de um neodarwinismo social que faz crer ser este modelo civilizatório o melhor e "um resultado natural da evolução". Nada mais falso.
As mortes, guerra, conflitos, inquisição, interferências imperialistas ainda hoje em andamento, nada mais são que o testemunho sangrento que este modelo de civilização é tão artificial que precisa de um trabalho intenso de desequilíbrio para existir. É mantido pelo poder de armas, exércitos e forças conversoras.
A explosão populacional, a exploração de seres humanos como objetos, negando-lhes sua condição de sujeito, essa padronização da vida em horários estanques, a perda do elo com a natureza, tornada objeto a ser explorado, não uma força viva e dinâmica tudo isso foi progressivamente desenvolvido para chegar a esta civilização.
As civilizações anteriores, os povos nativos da América e Europa, por exemplo, tinham outro estilo de vida, outra relação com a vida. O paganismo é um resgatar deste outro estilo de vida, em sintonia com a Natureza, como uma força viva, não apenas fonte de matéria prima. Óbvio que não podemos voltar atrás no tempo, tentar viver como os celtas viviam, como os índios, mas podemos aprender muitos aspectos com eles. Sabemos que tomamos banho todo dia não por influência da " desenvolvida" cultura europeia, mas graças aos índios e as amas negras. Há muitos hábitos saudáveis que vem desses povos e a forma de se relacionar com a vida, com a natureza e com a magia pode muito ser fortalecida quando entramos no universo pagão.
Estamos numa guerra. Uma guerra muito mais séria que a Guerra fria. De um lado temos os que lutam pela consciência, do outro pela inconsciência.
Há grupos espalhados pelo mundo em ação totalmente egoísta. Quem assiste Arquivo X tem uma boa analogia naquele sindicato que opera sob a proteção de rótulos como " segredo de estado" e "defesa nacional". Existem vários desses grupos espalhados pelo mundo, lutando apenas pelos seus interesses, prontos a sacrificar coletividades inteiras para se manter no poder. São herdeiros diretos de grupos que há tempos vem lutando pelo poder total sobre a humanidade.
Júlio César começou todo um trabalho sistemático para isolar as antigas tradições, poucos sabem que foi ele o primeiro a queimar uma parte da Biblioteca de Alexandria a fim de destruir certos elementos da tradição. O ataque aos celtas e outros povos foi só mais um passo desse agir rumo a uma tirania mundial. Cortez, Pizarro, Custer, Fernão Dias e tantos outros são alguns dos facínoras, assassinos, que numa lista de criminosos contra a humanidade figuram junto a Hitler e Milosevic, homens que perseguiram e destruíram outros povos com requintes de crueldade. Não podemos nos esquecer da inquisição que tentou destruir os elos da tradição que ainda resistiam e impedir a ciência de se desenvolver. E hoje temos os evangélicos invadindo aldeias e destruindo a cultura nativa para impor suas crenças.
Sabe como levamos um índio a perder seu respeito e amor pela terra, a vender sua mata e permitir que rasgue a mãe terra e poluam seus rios para minerar?
Basta convertê-lo, ensinar que os deuses, a Deusa, os ancestrais, o curupira e o anhangá, são demônios, que só Jesus salva e é só aceitá-lo como salvador pessoal e pronto. Se acabarem com o mundo não tema, deus vai dar um novo céu e uma nova terra ao eleito, só os pagãos tem que preocupar com a preservação do mundo, pois sabem que irão para o inferno quando este mundo acabar.
E assim continua a transformação desse mundo, um paraíso, num inferno.
Mas a luta está em andamento e como diz Marilyn Fergunson estamos no meio de uma revolução silenciosa.
Não é mais tempo de revolução com armas, que só ajudam as fábricas de armas a lucrar mais. Como dizem meus amigos sufis estamos no tempo de um Jihad da pena, um Jihad de conhecimento.
Como acreditam os xamãs e magos estamos numa guerra mágica.
É a única forma de levarmos o mundo de volta a um estado de equilíbrio. Na parte oeste da Park Avenue, na rua 68 em Nova York há dois belos edifícios, frente a frente. Um deles é a embaixada russa na ONU, que já foi URSS, o "grande inimigo", do outro lado está o Conselho de Relações estrangeiras (CFR) provavelmente uma das mais influentes organizações semi-públicas no campo da política internacional. Atua desde 1939 e os analistas políticos internacionais são unânimes em declarar que controla o departamento de estado americano. Nomes como Nelson Rockfeller, Henry Kinssinger e Nixon estão a este grupo associados.
Existe um livro "Honorable men" ( Little Brown Co., N.Y. , 1950) que na página 51 demonstra que tanto a articulação da segunda guerra mundial como a entrada dos EUA na mesma deve-se aos banqueiros do CFR. Interessante que como sempre financiam os dois lados, pois entre os membros do CFR encontram-se acionistas majoritários de bancos europeus como o Banco Henry Schoroeder (que financiou Sullivan e Cromwell) que patrocinaram Hitler (ver o documentário Zeitgeist).
Há uma luta acontecendo agora e para estes auto proclamados donos do mundo a destruição da Natureza vai continuar .
Entro neste tema para deixar claro que a "engenharia religiosa" destes grupos não tem limites e agora agem de forma ainda mais intensa em muito do que se vê por aí como Nova Era. Como a estapafúrdia teoria que 2/3 da humanidade vai morrer agora, para "purificar o planeta". Os "inferiores" vão embora e só ficam os superiores, claro, os que agem dentro de tal ou qual forma, sempre de acordo com o grupo que prega tais sandices.
Tais profetas do apocalipse já erraram feio desde a década de 80, mas sempre renascem pondo outra data e há sempre aqueles que preferem crer que alguém lá fora vem resolver tudo, que assumir que somos nós que temos que arregaçar as mangas e trabalhar para que uma nova era de equilíbrio venha à tona.
A Era de Aquário está aí, um novo ciclo, é como o sol de primavera voltando, mas do que adianta o sol primaveril voltar com sua chuva benfazeja se o solo não estiver arado e pronto, se a semente não está pronta?
É preciso muita insensibilidade para falar friamente da morte de 2/3 da população.
Eu estive esses dias indo a alguns postos de desabrigados aqui em Minas, por causa das enchentes, fomos levar leite da nossa fazenda e de alguns vizinhos. Ver as crianças e velhos é especialmente tocante.
Eu proporia pegar esses teóricos do apocalipse, que do conforto de suas casas ficam a falar sobre tais temas e colocá-los em campos de refugiados, creio que aprenderiam um pouco sobre algo que o budismo chama de compaixão e que eu chamo de gentileza.
Esta teoria está plenamente de acordo com a agenda dos nazistas, dos militantes de extrema direita de todos os blocos.
As pesquisas de armas biológicas nos EUA e em outros blocos buscam justamente isso, pragas seletivas que exterminem parte da população.
É muita ingenuidade acreditar que se houver uma crise global os verdadeiros donos do poder vão morrer.
Já estudaram um pouco o que há embaixo das montanhas rochosas dos EUA?
No mundo inteiro abrigos foram construídos para as elites do poder e preparados para os mais diversos tipos de contratempos, de catástrofes naturais a radiação atômica.
Assim como as potências usam o fenômeno UFO (real e complexo em si) para continuar as experiências com seres humanos dos nazistas, usam dessas tolices messiâncas para impedir que o único caminho viável, uma ação clara e incisiva, consciente e transformadora por parte de todos nós seja tomada.
É como o Brasil, que ao invés de resolver seus problemas, como moralizar as estatais e transformá-las em empresas eficientes e decentes, a gerar fundos para os gastos da União, como saúde, previdência e educação, prefere assumir que somos todos incompetentes, incapazes de eleger gente decente, incapazes de administrar com eficiência e vamos vender tudo ao capital estrangeiro, que tem mostrado muiiiiiita competência mesmo, vejam o caso da telefonia como pálido exemplo. E vão mostrar como são sensíveis as necessidades do país, quando da primeira crise mundial demitirem milhares.
Pode parecer que fugi do tema, mas não.
Fui a esta arena política para colocar que estamos na guerra do anel, como na outra era, contada por Tolkien.
Nunca o anel esteve tão perto de ser destruído, nunca esteve tão perto de Saruman.
E a luta tem que ser em todos os campos.
Assim cada vez que nos reunimos, como no dia 22 de Dezembro, no mundo inteiro em celebração (não adoração) a Deusa, cada rito que fazemos, cada vez que o paganismo se fortalece estamos novamente nos alinhando aos povos nativos de todos os continentes, aos pagãos de todos os mundos, desse e dos mundos paralelos onde se refugiaram.
E não adianta fazer como outros movimentos que tentaram fugir do sistema, a luta é de dentro para fora, nossas posturas é que mudam o mundo.
É esta a luta que está sendo travada, uma luta que ganhamos terreno quando somos felizes, quando realizamos nossos mais profundos sonhos, quando vivemos prazerosamente.
A mãe Terra está doente.
Cada vez que ritualizamos somos como uma agulha de acupuntura a tonificá-la.
Como bem coloca-se em Matrix, o ser humano deixou a condição de mamífero, que entra sempre em relação simbiótica com o meio onde vive, para assumir a condição de vírus.
Temos que curar esse comportamento, antes de mais nada em nós mesmos.
E então agir incisivamente.
Atos simples, como não comprar produtos que sejam agressivos ao meio ou venham de empresas que de uma forma ou de outra prejudiquem o meio ou usem mão de obra escrava.
É um primeiro passo, e como diz Lao Tsé, uma longa viagem começa com o primeiro passo.
Se estes primeiros passos forem dados poderemos ir mais longe, como trabalhar magicamente para transmutar todo o urânio 235 e o plutônio em elementos inofensivos.
Há uma batalha entre vida e morte, consciência e inconsciência.
Vale dela participar.
Se mais não for, para que o sorriso não desapareça no rosto de nossas crianças.
Se mais não for, por gentileza, um total gentileza para com a vida.
Nuvem que Passa
01/2000