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quinta-feira, 30 de janeiro de 2025

Bruxaria, Magia e Xamanismo - parte 9 - por Nuvem que Passa


                                                         Caminhos

(vem do Latim  vulgar camminus, de origem celta, e deriva de uma raiz Indo-Europeia gam -, que passa a ideia  de “deslocar-se, andar”)

A humanidade hoje vive em um modelo de civilização que tem uma historicidade. Houve uma influência de fatores para chegar onde chegou. Quando estudamos com cuidado esses fatores podemos descobrir duas ações predominantes na formação do modo de viver que hoje observamos.

Desde a Idade Média vemos a Igreja Católica Apostólica Romana atuando principalmente na destruição de todos os caminhos verdadeiros, incluindo caminhos cristãos como Cátaros, Albigenses, Cristãos Celtas e, principalmente, os gnósticos. A ação através da Inquisição perseguiu herdeiros e herdeiras das práticas ancestrais obrigando todos a pensar, agir, sentir e perceber exclusivamente de acordo com a ‘visão’ de realidade imposta por suas ‘verdades’.

Isto aconteceu não só na Europa mas também aqui nas Américas. Onde, após abençoar a invasão, saque e genocídio das culturas originárias, a Igreja impõem seu modo de vida às populações locais, erradicando com violência as práticas nativas e a sabedoria ancestral, considerando-as como práticas ‘diabólicas’, puníveis por meio de tortura e morte.

O mesmo é feito com os africanos, que já chegam nas Américas em uma condição desfavorável. Isolados de sua terra, separados de sua gente e em condição de escravidão. A Igreja destrói os valores ancestrais e cria uma alienação cultural. Impede a fusão das culturas branca, nativa e negra e assim previne que integrem seus conhecimentos, aproveitando o melhor de cada cultura.

A cultura branca europeia, já isolada de sua ancestralidade e forçada a seguir os ditames impostos pela Igreja, passa a oprimir as culturas negra e nativa. Impondo seu modo de vida e sua religiosidade, negam a estes povos dominados a condição de sujeitos de sua história, reduzindo-os a ‘ferramentas’, objetos.

Portanto, a relação com o meio e com a vida sofre neste processo suas primeiras deturpações. O deus cristão é externo à realidade, cria o mundo e põe as coisas em movimento a partir do lado de fora desta. Há então uma primeira falha, o casal original desobedece suas ordens, come do fruto proibido e é expulso do paraíso. A seguir, segundo as lendas bíblicas, ocorre uma nova ‘decepção’ de Deus com sua criação e consequentemente um novo castigo, o dilúvio, do qual só escapam, guardados em uma ‘arca’, uma única família e um casal animal de cada espécie.

Depois aparece o próprio filho desse deus, nascido de uma virgem com a missão de ‘morrer’ para salvar a todos, para estabelecer uma nova aliança. Se opondo a este trabalho de ‘salvação’ divina é colocado uma outra personagem, um opositor chamado demônio, diabo, lúcifer, satã, cujo papel é “corromper almas” e “tentar os fiéis” levando-os a abandonar a ‘trilha da verdade’.

Em linhas gerais é isto que nos foi apresentado como religião, uma luta entre um princípio ‘bom’ e um princípio ‘mau’. Um deus que de fora da realidade vai lhe ‘testar’ a vida toda, e se você falhar, vai “arder no fogo do inferno”. Além dos testes aplicados por deus há as “tentações do diabo”. Agregados a esses conceitos, estão a negação do corpo, tido como inferior, da sexualidade, do prazer, da mulher e da liberdade.

Muitos associam os caminhos nativos da magia e da bruxaria à práticas do ‘mal’, à ‘magia negra’ e outras tolices perpetradas pelas superstições, crendices e deturpações engendradas pela Igreja em sua senda para monopolizar ‘a verdade’.

A disseminação do modo de pensar, sentir e ver a realidade imposto com a ascensão da Igreja, estabelece o momento em que perdemos nossa ligação com a Vida e seus fluxos, com a Natureza e as expressões desta. As quais nossos ancestrais se referiam como Divindades.

A Igreja, com sua metodologia de conversão destinada à criação de fiéis, usurpou várias festividades e entidades pagãs. Como a festa de Mitra, em 25 de dezembro, que foi cooptada como comemoração do nascimento de seu messias. A Páscoa, da qual o coelho e os ovos são símbolos pagãos da Deusa Ostara, assim como uma infinidade de outras entidades que foram cooptadas como santos e santas em seu calendário litúrgico.

A Igreja é a responsável imediata pelo isolamento do homem. Ao colocar o ser humano à parte da criação, destrói a abordagem orgânica e sistêmica que o Xamanismo, a Magia natural e a Bruxaria sempre mantiveram do ser humano com a natureza e seus ciclos, a qual pode ser expressa pela frase: “somos parte da teia da vida, tudo que fazemos à Terra fazemos a nós mesmos”. Isso é negado pelo dogma da Igreja e também pela posterior reforma protestante, onde se acredita apenas na crença de “Jesus como salvador pessoal” para que, pelo poder do sangue derramado, todos sejam ‘salvos’.

Após o advento da Igreja Românica ocorre outro momento em que os paradigmas humanos mudam, nos afastando ainda mais da sintonia com a Vida e com a Natureza. É a revolução industrial, com a qual uma transformação tremenda acontece na humanidade. Novos valores são impostos às populações e tudo o que restava de uma perspectiva orgânica em relação à natureza é apagado. A Natureza, antes sentida como algo vivo e consciente, é agora coisificada e transformada em coisa. Nossa relação com esta, conosco mesmo e com tudo a nossa volta é transformada de forma radical. A era agrícola na qual vivíamos até então é ‘superada’ e uma nova relação, totalmente artificial, é estabelecida para a vida humana. Fomos padronizados para que os turnos nas fábricas funcionem. As pessoas passam a dormir, acordar, comer e descansar aproximadamente no mesmo horário, assim o ritmo que agora seguem não é mais o ritmo da Natureza, do nascer e pôr do sol e nem o ritmo das estações. Mas o ritmo do apito das fábricas.

Tudo foi padronizado. Com os métodos tayloristas de especialização do trabalho, cada pessoa passou a executar apenas uma única tarefa — simples e repetitiva! Esse modus operandi deixou as fábricas e tomou várias outras linhas de vida. Tudo foi sincronizado para que os horários respondessem as necessidades das fábricas e da produção.

Nenhum arauto da Era Industrial aceitaria que a “Terra é viva e sagrada”. O ideal do ‘progresso’ foi vendido e imposto, e quando repelido meios violentos foram utilizados para garantir sua implementação. Na década de 70 as imagens de tratores derrubando árvores para construir a Transamazônica eram exibidas como sinal de ‘progresso’.

A extração irracional de matéria- prima, a poluição de rios, mares e mananciais, do ar e da terra. Tudo isso revela como fomos isolados da realidade vida e passamos a viver em uma realidade morte, onde só o lucro importa. Lucro de poucos que mantém as massas submissas e servis com o velho discurso de que vamos crescer juntos. Nada mais falso, o crescimento sem limites e contínuo, outro mito da era industrial, se revela uma falácia — recursos naturais são finitos! Em realidade os mais ricos continuam mais ricos e os mais pobres já caíram aquém da linha da miséria há muito tempo.

Esta Era Industrial que estamos deixando para trás desde a década de 60, ainda influencia profundamente nosso modo de ser. Nos isolou ainda mais da natureza. As pessoas foram morar em cidades, seguindo ritmos outros, a exploração dos recursos naturais e a poluição do solo, da água e do ar atingiram níveis alarmantes, níveis que ameaçam a própria sobrevivência humana neste planeta.

Assim, começando com a ação da Igreja, somada com a ação da revolução industrial, fomos completamente isolados da Natureza, seus fluxos e forças. Resgatar estes elos com a Natureza, com as forças e potências que nela estão, e limpar nossa percepção dos conceitos outorgados pela religião e pela era industrial não é um trabalho simples. Por isso observamos tantas pessoas se dizendo ‘pagãs’, praticantes de ‘xamanismo’, praticantes de ‘bruxaria’ e praticantes de ‘magia’, mas ainda assim, exibindo posturas existenciais completamente fora destes caminhos.

Não basta vestir uma paramenta, pegar uns ‘objetos mágicos’, ler alguns livros e repetir palavras em línguas estrangeiras para ser pagão(ã), xamã, bruxo(a), magista. Não basta deixar de chamar a divindade de Deus e começar a chamar de Deusa, ou outro nome.

Mudar o gênero não resolve a questão de compreendermos a divindade como um pai psicológico, não resolve a questão que fomos condicionados a uma divindade feita à nossa imagem e semelhança. Projeção de nossos medos e inseguranças. A mudança é muito mais complexa, do contrário teremos somente uma fantasiosa mudança de aparência sem nada substancial.

Lidar, de fato, com estes caminhos, provoca mudanças profundas e estruturais em nós. Nos desconecta desse mundo desequilibrado em evidente rota de autodestruição e nos reconecta a caminhos ancestrais em harmonia com a Vida. Caminhos que nunca foram realmente destruídos, por mais que os pseudo-donos do mundo o tentassem fazê-lo. Caminhos que se ocultaram, sumindo da própria História e continuaram secretamente de boca para ouvido, em segredo, até estes dias de hoje, onde temos a chance de assistir o renascimento de tais linhagens, pois os fluxos energéticos que nos chegam da Eternidade novamente geram condições propícias para que tais caminhos se revelem e se manifestem.

Sempre há quem se aproxime destes caminhos em busca da essência, mas há também aqueles que apenas imitam a forma, se prendendo às aparências, sem acessar e praticar o conteúdo. A escolha é individual. Depende de nossa postura ao buscarmos tais caminhos, se queremos fantasias e brincadeiras ou se procuramos de verdade respostas às profundas indagações que vibram naquelas pessoas que realmente sentiram o apelo da Eternidade em suas vidas.

Há um consenso entre os(as) praticantes desses caminhos, não são caminhos para ‘seguidores’, não há como ‘seguir’, são para praticantes, só ‘caminhando’ nos mantemos nestes caminhos, seguidores(as) encontram apenas simulacros de tais caminhos.

Há uma ‘consciência’ viva em tais caminhos, a Intenção acumulada dos(as) praticantes por incontáveis gerações se alinha com os(as) praticantes. Assim vale a antiga máxima alquímica, “quando nos colocamos sinceramente em busca do caminho ele também se coloca com a mesma diligência em nosso encalço”.

Nuvem que Passa

 

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