O tema do sonhar é de grande interesse. Poderíamos começar definindo o que é sonhar. Para o Xamanismo, sonhadores são os(as) que atuam conscientemente com o corpo de energia. Temos esse corpo físico que desenvolvemos, melhor dizendo, que se desenvolve até o estado maduro, depois começa a envelhecer e "morre", isto é, deixa de atuar com a força da vida, deixa de existir enquanto organismo e retorna a entropia, retorna ao solve para depois coagular em outras formas.
Operamos na realidade cotidiana com nossa natureza física, atuamos com nosso corpo e este atuar também é "mais ou menos", pois atuamos com pouca consciência do que é realmente nosso corpo, das imensas possibilidades que trazemos.
Existem disciplinas como o Rolfing, os trabalhos de Moshe Fedelkreins, Mathias Alexander, Gurdjieff e outros que lidam com esta questão do uso limitado e robótico que fazemos de nosso corpo, como tensionamos partes desnecessárias, como usamos mal nosso corpo e como temos pouca consciência do mesmo.
Mas apesar de tudo isso o corpo físico é que nos dá esta sensação de continuidade, quando acordamos todas as manhãs vamos nos lembrando de coisas que já foram e temos uma solução de continuidade, algo que gera o que chamamos "eu".
Nos sonhos comuns a consciência é errática, não há solução de continuidade, não há uma "vida", mas várias ocorrências, em mundos espectros ou mesmo fugidios mergulhos em realidades efetivas, mas sem o corpo de energia ter sido totalmente desenvolvido estamos apenas vivenciando erráticos deslocamentos do ponto de aglutinação.
Assim como o corpo cria o sentido de existência nessa realidade, o corpo de energia, o corpo "sonhador" cria a continuidade que permite a percepção operar com foco e precisão em mundos outros que não esse.
Quando sonhamos estamos em outra condição da realidade, damos um salto quântico, mesmo que andemos pelos lugares daqui, até que o corpo de energia esteja plenamente pronto e sejamos capazes de sonhar com este mundo, nossas incursões aqui são feitas como entidades de energia.
Um dos problemas chaves da viagem para outros estados de ser é que quando existimos enquanto entidade energética pura perdemos a habilidade de atuar sobre a matéria dessa dimensão.
Entes diversos que se projetam através dos mundos passam pelo mesmo.
Atuar no mundo físico a partir do corpo energético se faz possível apenas quando "sonhamos acordado", ou seja, atuamos num estado de consciência onde o ponto de aglutinação se desloca para uma posição onde o corpo de sonho e o corpo físico se fundem, tendo um partilhado o poder do outro.
Esse estado é conhecido como "fundindo as duas identidades" e é atingido após um longo caminho de disciplina e trabalho.
Por isso quando assistimos filmes como "O Tigre e o Dragão" fica parecendo pueril e exagerado o estilo de luta dos adeptos do estilo interno, quando na realidade estão apenas operando com outros níveis, mais que o corpo apenas, embora este profundamente treinado seja a porta primeira para esse estado.
Quando comecei a trabalhar com o corpo de sonho usava a ideia de olhar em lugares onde não olhava, em cima de um guarda roupa, na face superior de um lustre, em cima da porta, o desenho da madeira ali, em cima do telhado, para depois ir no outro dia ver se o que vi estava lá.
Muito interessante essa ideia de mexer os objetos enquanto no corpo de energia. Apenas o cuidado de não ficar absorvido me parece recomendável.
Quando no sonho estamos sempre noutra "camada da cebola", pois estamos noutra condição de realidade e de percepção.
Afetar esta realidade a partir de outra realidade é possível?
Pelo que me contaram da história dos antigos povos que desenvolveram sofisticadas civilizações, vivendo nestas "camadas da cebola", o fato de atuarem apenas nestas outras camadas os levou a deixar de lado este aspecto da realidade.
Quando os povos invasores vieram a grande maioria foi dizimada, a casca grossa dos limites perceptivos destes conquistadores não permitia que a percepção destes (as) feiticeiros deslocassem seus pontos de aglutinação para posições onde vivenciariam o poder do (a) feiticeiro.
Protegidos por uma mente que limita e veda a percepção atacaram com ferocidade e civilizações inteiras quase foram dizimadas.
Mais tarde outros conquistadores viriam, ainda mais violentos e destruidores.
Cá estamos na civilização resultante destas ondas de conquista.
Sabemos quem perdeu as batalhas.
Só os (as) dotados (as) de poder pessoal conseguiram sobreviver, com eles (as) a magia funcionou.
Poder pessoal parece ser a chave da ponte entre o corpo de energia e o corpo físico.
Tudo isso que falei é a opinião de um homem falando do sonhar.
Para as mulheres é completamente diferente, tendo útero as mulheres sonham diretamente, sem toda essa elucubração que nós homens nos enredamos.
Mas tal compreensão tem seu valor também, a mente é um escudo eficiente frente aos ataques da ETERNIDADE.
Nuvem que passa
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