quarta-feira, 16 de abril de 2025

Pranayama, a ciência do alento

Apresento esse texto porque a prática do pranayama é fundamental para o domínio e redistribuição da energia para aqueles que seguem pelo caminho do(a) guerreiro(a) ou pela prática tântrica ou mesmo por qualquer caminho que busque um equilíbrio vital. Apesar de mestres como Gurdjieff a criticarem só tirei dela excelentes resultados. Boas práticas!

A ciência do alento

Habitualmente, não temos o costume de observar a nossa respiração. Em verdade, como os nossos olhos só veem o que está à frente, não criamos o hábito de perceber o que se passa no nosso corpo. Esta percepção precisa ser desenvolvida. Observe a sua respiração da forma como ela está sendo realizada neste momento. O fluxo respiratório é muito forte. Se você quiser pará-lo, experimente trancar a respiração. É impossível. E, esta é a força vital pela qual você vive. Você quer viver como quer intensamente respirar. Quando as fossas nasais estiverem obstruídos, você limpa. E, quando estiverem fechadas? Geralmente as pessoas respiram pela boca e isso é um grande erro.

Pode-se viver respirando pela boca mas não se pode viver bem. A respiração bucal impede a formação da pressão ideal no interior dos alvéolos pulmonares para a perfeita assimilação do oxigênio; o ar inspirado nunca será tão bom quanto o inspirado pelas narinas porque não será filtrado. As fossas nasais filtram e aquecem o ar até a temperatura ideal.

É preferível respirar devagar do que rápido exceto em caso de extrema necessidade, pois o ar que entra rápido, certamente não será devidamente aquecido. A respiração lenta aquieta o biorritmo cardíaco e aquieta também as ondas cerebrais¹. Favorece a oxigenação sanguínea porque dá mais tempo aos pulmões realizar suas trocas gasosas(sangue venoso transforma-se em arterial). O sangue venoso é um sangue carregado de detritos, resultado da "digestão" celular e que será eliminado pela expiração e renovada pela inspiração quando uma quantidade suficiente de oxigênio é transferido para o sangue. É evidente, também, que outros elementos químicos presentes no ar sejam absorvidos pelo processo maravilhoso da respiração.

As fases da respiração

Quase todos conhecem as duas fases da respiração: inspiração e expiração. Mas isto é a metade dos movimentos respiratórios.

A respiração tem 4 fases²

1) inspiração 

2) pausa com ar 

3) expiração e 

4) pausa sem ar ou com pouco ar dependendo do caso. 

A inspiração é todo período no qual o ar entra nos pulmões a partir do meio ambiente. É seguido por uma pausa que pode ser curta ou longa e este é o período no qual o sangue venoso presente no interior dos pulmões tem condições de se reciclar absorvendo oxigênio do ar inspirado. Logo após é seguido por uma expiração que é o momento em que o sangue já anteriormente oxigenado é bombeado para a circulação sanguínea ao mesmo tempo em que detritos do sangue venoso são expulsos pela expiração ao mundo atmosférico. Em seguida vem a fase da pausa sem ar que é quando os pulmões se enche de sangue venoso que aguarda uma carga de oxigênio que logo chegará junto com a inspiração e este ciclo acontece do início da nossa vida junto com a natureza e vai até o fim da nossa existência.

Momentos para relaxar:

A princípio, não existem mais momentos específicos para relaxar. É bom tirar férias mas os efeitos perduram por pouco tempo. Em poucos dias, entramos no ritmo do trabalho. Sendo assim, é preciso que o nosso dia a dia incorpore os momentos para relaxar. Se o trabalho lhe der prazer, melhor ainda. Conversas agradáveis, atitudes mentais corretas, sabedoria e ponderações com bom senso são muito importantes. Mas, é sabido que nem sempre o ritmo do dia a dia permite tamanho ambiente positivo. Seres humanos em relação geram necessariamente conflitos. Estes conflitos impedirão ou diminuirão o seu potencial de descontração. Saiba, então, deixar tudo de lado, não para sempre, lógico, mas por alguns momentos. Deixe tudo de lado e vá conversar com seus amigos, mude de ambiente mental(pense em outras coisas) insista em pensar em coisas, pessoas, e assuntos contrárias às coisas que te preocupam. Sabemos que pensar neuroticamente por muito tempo em conflitos e problemas não nos ajudam a encontrar a verdadeira solução. As melhores soluções vem quando estamos relaxados. Isto acontece porque quando estamos estressados, a inquietação é tamanha que as agitações das ondas mentais impedem de ver melhor o próprio problema e, então, as soluções encontradas não são muito boas. Profundas reflexões e ponderações feitas em silêncio interior com as ondas cerebrais aquietadas produzem melhores soluções. Dessa forma, os momentos para relaxar deixar de ser atribuídas exclusivamente às férias ou fins de semana e passam a ser possíveis àquelas pessoas possuidoras das técnicas adequadas para produzir os estados mentais desejados.

O que aumenta a sua vitalidade?

Não vou cogitar sobre as coisas que podem aumentar a sua vitalidade senão as que aumentam a vitalidade de fato.

1 - Atividades físicas adequadas: sei que muitos acham que caminhar é um grande exercício mas creio que isso é consideração de quem acha que o mínimo é o bastante. Não. Gostaria de considerar junto contigo que caminhar não é, em absoluto, um ótimo exercício físico, senão, o mínimo, porque, em condições normais, aquele que nem caminhar pode, é considerado doente. Então, quando se fala em trabalhar o corpo quer dizer outras atividades específicas além de caminhar. O corpo humano tem recursos, possibilidades e poderes que quem não toma contato com técnicas que possibilitem o desabrochar, não consegue nem acreditar. Muita gente sedentária acha que ter dores no corpo, cansaço, má digestão, etc.. sejam coisas comuns mas estes sintomas são raras nas pessoas verdadeiramente saudáveis. É preciso auto-avaliação e conhecimento dos gostos pessoais mais o conhecimento das técnicas corporais, pelo menos, para que se possa chegar a escolher o seu esporte. O Yôga, por exemplo, sem ser esporte nem arte marcial, porque é filosofia, possui inúmeras técnicas corporais excelentes para fortalecer musculatura, sistema nervoso, glandular, flexibilidade e alongamento muscular.

Por onde entra a nossa vitalidade?

Basicamente, as "portas" por onde entram a vitalidade são quatro: boca(alimentos), pulmão, pele e psiquismo.

ARTE DE RESPIRAR BEM: PRÁNÁYÁMA

A palavra pránáyáma é composta de dois radicais: prana que significa bio-energia, alento primordial, energia vital e yama que significa domínio. Literalmente, pránáyáma quer dizer domínio da bio-energia.

Nos textos clássicos do Yôga, emprega-se o termo com diferentes significados mas todos eles giram em torno do que acabo de mostrar. A definição que explica melhor o significado é a seguinte: pránáyáma é a parte do Yôga que trata do domínio das energias psíquicas mediante a regulação do movimento respiratório.

Os yogis afirmam que quando o domínio do movimento respiratório é conseguido com perfeição, consegue-se a faculdade de governar à vontade todas as forças inerentes à natureza do homem, adquire-se o domínio completo do funcionamento interno do corpo, desenvolvem-se novas faculdades mentais.

PRANA é força vital do Universo. É o princípio de todo o dinamismo, força e movimento. No homem, é dessa força vital que é feito o corpo sutil, diferente do físico, mas graças ao qual se realizam todos os fenômenos energéticos do organismo. Regulam as relações que se desenvolvem dentro do indivíduo e as que se realizam entre este e o mundo. É o substrato vital, energético, de todas as funções orgânicas e psíquicas. É o elemento dinamizante de toda a espécie de substâncias. Prana é o princípio sutil da energia atuante no mundo fenomênico. Está mais além da percepção normal do homem, mas como tantas outras coisas que ele não pode perceber, segundo seu funcionamento habitual, faz parte integrante da imensa riqueza e variedade da criação.

O homem extrai PRANA de diversas fontes: do Sol, do Ar, dos Alimentos, etc..., embora não seja nenhum dos elementos físicos ou químicos que os compõem. Circula através dos milhares de nadis ou canais sutis que constitum substancialmente o corpo sutil e se armazena nos ou centros que, por sua vez, são as estações especializadas diversos chakras encarregadas da distribuição prânica por todo o organismo psíquico.

O que se veio a chamar "força nervosa" não é senão uma das manifestações do Prana. A vitalidade de uma pessoa, sua irradiação sua irradiação magnética, sua "personalidade", são expressões de prana. A quantidade de Prana que maneja um indivíduo constitui seu verdadeiro capital energético. A sutil fisiologia indiana assinala a existência de cinco "ares vitais" ou vayús principais que, também recebem o nome genérico dos cinco pranas vitais. São: prana, apana, vyana, samana e udana. Os mais significativos de todos eles são prana e apana.

Prana, em seu verdadeiro sentido, como primeiro vayú, é a energia da função absorvente, atrativa, integradora: tira do ambiente a energia que o indivíduo necessita, principalmente , através do ar inalado.

Apana é a força vital de ação propulsora, expulsiva, desintegradora: expele os elementos que não necessita, que o estorvam. Sua função no aspecto fisiológico manifesta-se, principalmente nas excreções: urina, matérias fecais e emissão de sêmen³.

Vyana é o ar vital que penetra todo o corpo e faz circular a energia derivada do alimento e da respiração em todo o corpo.

Samana é o prana situado na região gástrica. Sua função é a digestão.

Udana é o prana situado na garganta e sua função é a deglutição. Um dos ares vitais que penetra o corpo humano suprindo-o de energia vital. Também situado na cavidade toráxica, controla a entrada do ar e dos alimentos.

A finalidade imediata do Yôga através do pránáyáma é a união, harmonia ou equilíbrio destas duas energias: prana e apana. O ponto que une ou separa ambas as energias ou movimentos é precisamente o kumbhaka (retenção) ou ponto neutro, tanto o interno como o externo. Daí, sua importância no Yôga.

Cada estado de consciência tem seu quadro completo de ritmo de todas as funções. Daí que, no mudar, por exemplo, o ritmo respiratório, produz-se automaticamente a correspondente mudança das demais funções. O tipo da respiração de uma pessoa alegre caminha sempre junto com a mesma euforia afetiva e a mesma produtividade mental(salvo, é claro, diferenças individuais); a pessoa ativa, criadora mas serena e equilibrada tem um ritmo respiratório que é próprio dessas qualidades e qualquer pessoa que respire do mesmo modo(basicamente), sentir-se-á igual. Claro está que falamos de uma respiração estável, contínua, convertida em automática e não de uma determinada instância em que se respire de um ou de outro modo.

OS EFEITOS DA RESPIRAÇÃO

Nos alvéolos pulmonares ocorrem o intercâmbio gasoso. Aumenta a pressão interna no tórax e no abdomen que produz maior afluência do sangue numa e noutra região, com o consequente estímulo do trabalho cardíaco. A respiração promove o transporte do oxigênio e do anídrido carbônico no interior do corpo, realiza constante massageamento do coração e dos órgãos e vísceras abdominais por causa dos movimentos rítmicos da respiração. Promove a transformação dos sangue venoso em arterial, regulariza o equilíbrio ácido-base no organismo, torna possível a combustão orgânica, altera o humor e o estado emocional, influencia os atos do pensar, fornece ao organismo grande parte da energia vital de que necessita estimulando os intercâmbios nutritivos das células, tecidos e órgãos de todo o corpo.

SIGNIFICADO PSICOLÓGICO DA RESPIRAÇÃO

A inspiração é o primeiro ato do homem ao nascer. A respiração é um ato vital que a pessoa executa como um todo. Com a respiração, estabelece sua primeira relação com o exterior. O primeiro ato do homem é, pois, um ato de natureza social. Pela respiração, o homem mantém contato permanente e ininterrupto com o mundo que o rodeia, num intercâmbio vital de primeira necessidade.

A respiração vem a ser a atividade vital que mantém o homem no mundo através de seu aparelho respiratório. A respiração se realiza através de dois níveis diferentes: o nível consciente ou voluntário e o nível inconsciente, automático ou involuntário.

Existe uma estreita relação entre a personalidade profunda ou nível inconsciente e a respiração profunda, assim como entre a respiração superficial e a personalidade consciente ou superficial.

Respiração profunda refere-se a uma autêntica profundidade, que quer dizer, também, totalidade. Em geral, o homem não sabe o que seja respirar profundamente confundindo-o com o inspirar com muita força, com encher os pulmões sob pressão, com risco de prejudicar inclusive seu próprio organismo.

Para respirar profunda e totalmente é necessário que não haja impedimento algum na livre entrada e saída do ar, de acordo com a verdadeira capacidade e necessidade do indivíduo. Exige que os movimentos de inspiração e expiração funcionem sem inibição alguma, consciente ou inconsciente. Respirar totalmente implica em relacionar-se inteiramente com o mundo que nos rodeia, sem temores, restrições ou reservas, com todo nosso ser. Se há tensões emocionais reprimidas, existem também contrações musculares inconscientes que impossibilitam qualquer ação livre. É toda a pessoa que respira e não apenas seus pulmões e seu diafragma; é toda a pessoa que se expressa biologicamente através da respiração, como em qualquer outro aspecto vital e, se a pessoa, em seu íntimo está reprimindo algo, necessariamente se expressará reprimindo também a sua respiração.

O homem, geralmente, não sabe e não pode respirar totalmente. Perdeu ou distorceu o profundo e sadio automatismo da respiração correta. Por debaixo de sua respiração superficial, a única de que é consciente, o homem está realizando uma retenção de ar quase permanente, que não é outra coisa senão uma expressão fisiológica de sua perturbação emocional, de seu inconsciente egocêntrico. Análogo mecanismo é encontrado nas perturbações do aparelho digestivo.

Existe uma evidente relação entre os níveis superficiais e os profundos da respiração como existe também entre o inconsciente e o consciente psicológicos.

Se a respiração superficial se aprofunda, ambos os níveis põe-se em contato, estabelecendo-se uma comunicação direta entre os mesmos, produzindo-se uma verdadeira transfusão de energia do inconsciente para o consciente, com o que não somente diminui a tensão e o gasto energético que esta exige, mas também, ao mesmo tempo, aumenta o capital energético do "eu consciente". Este vai assim, ampliando-se e aprofundando-se: as energias que alimentavam a personalidade subconsciente incorporam-se, então à consciência vígil, o que se sente como uma extraordinária sensação de alívio, de descanso e ampliação da mente, dos afetos e da vontade; numa palavra: como fecunda expansão de consciência.

A respiração é, portanto, o único processo que, sendo profundamente vegetativo, automático e inconsciente, pode, ao mesmo tempo fazer-se regular e dirigir-se conscientemente com a vontade. Neste fato particular que a natureza coloca à nossa disposição, os yogis viram, há vários séculos, um meio para poder penetrar, diretamente com a mente, nesses níveis profundos e manejar, libertando-as da inconsciência, as energias psíquicas do mundo vegetativo e do inconsciente.

TIPOS E FASES DA RESPIRAÇÃO

Segundo a região mais trabalhada pode ser superior, média, diafragmática ou completa. Segundo o volume do dar inspirado pode ser superficial ou profunda. A respiração pode ter frequência rápida, lenta, irregular ou rítmica. As fases da respiração são: inspiração, expiração e suspensão(pausa). A polaridade pode ser positiva ou negativa.

RESPIRAÇÃO EM GERAL

A prática dos exercícios de ásanas (posições) e de pránáyáma (controle do alento) produz uma mudança definida na respiração habitual. A maior elasticidade dos pulmões e do aparelho muscular respiratório conseguida com os exercícios traduz-se por uma respiração muito mais profunda. Entra maior quantidade de oxigênio no fim do dia o que aumenta a purificação do sangue e, por conseguinte, revitaliza-se todo o organismo. Acentua-se a ação da massagem mecânica produzida pelos movimentos da inspiração e da expiração sobre o coração, estômago, pâncreas, fígado, rins e intestinos, graças a que as funções desses órgãos ficam eficazmente estimulados. A saúde melhora rapidamente. Transtornos funcionais de vários tipos são prontamente corrigidos e eleva-se o tônus vital de todo o organismo em geral.

ALGUMAS TÉCNICAS RESPIRATÓRIAS BÁSICAS

a)ARDHA PRANA KRIYA - (Respiração abdominal)

Inspire projetando o abdômen para fora. Retenha o ar por alguns segundos. Expire projetando o abdômen para dentro. Mantenha a coluna ereta e com as mãos em jnãna mudrá.

É o melhor exercício de ação sedativa sobre o sistema nervoso. Nele predomina, de modo natural, a expiração, de ação eminentemente vagotônica. Elimina todas as tensões e contrações abdominais, facilitando o trabalho a todo aparelho digestivo. Proporciona o estado de repouso e do relaxamento da musculatura dando descanso ao aparelho locomotor e ao sistema nervoso central. É a respiração ideal como exercício especial das pessoas super excitadas, tensas, preocupadas, hiperativas.

b) RESPIRAÇÃO EMBRIONÁRIA

O objetivo principal deste exercício respiratório é procurar obter uma longa vida.

A respiração embrionária é auto-suficiente. Realiza um processo preparatório para concentração mental e contemplação. Sentado em qualquer posição de meditação, manter a respiração encerrada no diafragma de maneira a que um pêlo colocado entre o nariz e a boca não se mova.

c) CHANDRA PRÁNÁYÁMA

Sente-se em qualquer ásana confortável. Conserve cabeça, o pescoço e o tronco numa linha reta. Feche a narina direita com o polegar direito. Inspire lentamente através da narina esquerda, durante o máximo de tempo que puder. Faça-o confortavelmente. Expire depois muito lentamente pela mesma narina.

d) SURYA PRÁNÁYÁMA

Feche a narina esquerda com os dedos minguinho e anular da mão direita e inspire e expire através da narina direita. Faça-a lentamente.

e) PRANA KRIYA

devem estar em jñana mudrá. Inspire projetando o abdômen para fora. Continue inspirando e expandindo o tórax lateralmente e elevando os ombros e tombando a cabeça para trás, inspire o máximo. Permaneça o máximo de tempo sem forçar nada e comece a expirar lentamente. Abaixa a cabeça, os ombros e recolhe o abdômen esvaziando os pulmões por completo. Repetir sem chegar ao cansaço físico.

A respiração completa ou integral exercita todos os músculos, cartilagens e articulações do aparelho respiratório, assim como é evidente alcançarem os pulmões sua máxima elasticidade, atua eficazmente sobre o sistema circulatório, aparelho digestivo, sistema nervoso e glandular; desenvolve a capacidade e o hábito de respirar de modo profundo, completo e espontâneo e, por fim, produz os efeitos psicológicos que descrevemos antes. Maneja-se assim, maior quantidade de oxigênio sem outras consequências senão a de elevar o tônus vital, que repercute favoravelmente em todas as funções físicas e psíquicas em geral.

Observações:

A prática abusiva e incorreta dos exercícios de pránáyáma pode produzir graves transtornos físicos e psíquicos principalmente do tipo nervoso, cardíaco e pulmonar.

Os exercícios de pránáyáma produzem efeitos muito intensos e reais e é preciso usar de grande prudência e sentido comum para sua prática adequada.

Boa saúde, clara percepção do assunto, vida moral elevada, discernimento, capacidade de auto-observação, prudência e decisão são os requisitos básicos que é necessário reunir quem queira praticar os exercícios de pránáyáma sem qualquer risco.

f) VAMAH KRAMA(respiração alternada)

Inspire pela narina esquerda e exale pela narina direita. Não retenha a respiração. Depois, inspire pela narina direita e expire pela narina esquerda. Isso completa um ciclo. Repita de seis a dez vezes no início.

Após um mês de práticas respiratórias, retenha a respiração o máximo de tempo que puder fazê-lo sem desconforto. Isso se chama kumbhaka (retenção).

g) SUKHA PURVAKA (respiração alternada com biorritmo)

Inspire profundamente pela narina esquerda, depois retenha a respiração sem fazer força e a seguir expire lentamente pela narina direita. Agora, inspire pela narina direita, retenha a respiração e máximo que puder fazê-lo confortavelmente e depois expire pela narina esquerda. Utilize o biorritmo 1:4:2 podendo aumentar gradativamente para 16:64:32.

h) SHAVÁSANA PRÁNÁYÁMA

Deite-se de costas. Relaxe o corpo e a mente. Inspire profundamente e retenha a respiração sem fazer força e expire lentamente. Repita OM mentalmente enquanto estiver inspirando, retendo a respiração e expirando. Você se sentirá como novo.

i) BHÁSTRIKA

Sente-se numa posição firme e agradável com as mãos em jñana mudrá. Inspire e expire muito rapidamente, com ruído, durante dez segundos. Depois, inspire profundamente e expire lentamente. Isto perfaz um ciclo. Faça seis ciclos. O bhástrika gera calor e é especialmente indicado no inverno. A prática prolongada deste pránáyáma pode curar asma e a tuberculose.

j) KAPALABHATI

O kapalabhati é semelhante à bhástrika mas neste, a expiração é feita com uma súbita e vigorosa expulsão de ar. A inspiração deve ser mais lenta e sem ruido. Este respiratório consta como um exercício de kriya nas obras de Hatha Yôga. É um exercício que desobstrui as vias respiratórias. Tem o mesmo efeito curativo que o bhástrika.

k) UJJAYI

Inspire lentamente pelas duas narinas de maneira suave e uniforme, prenda a respiração o máximo de tempo que puder e expire por ambas as narinas. Ao inspirar e expirar, feche parcialmente a glote. Um som suave e uniforme se produzirá. Este exercício tira o calor da cabeça, aumenta o fogo gástrico e pode curar doenças da garganta e dos pulmões.

l) SITKARI

Coloque a ponta da língua na parte superior da boca, no palato, com a boca levemente aberta, aspirar com suavidade. Pode ser feita também com a ponta da língua entre os dentes e aspirando suavemente o ar produzindo um som sibilante. Exale pelas narinas.

Este exercício aumenta a beleza física do praticante e dá vigor ao corpo. Dissipa a fome, sede, indolência e o sono.

m) SITALI

Colocando a língua em forma de calha entre os dentes semicerrados e adiantando um pouco além dos lábios. Aspire o ar pela boca com um ruído sibilante igual a "si". Retenha o ar tanto quanto seja possível com comodidade. Expire lentamente pelas narinas.

Este pránáyáma purifica o sangue, elimina a sede e a fome, esfria o organismo. É indicado para dispepsia, inflamação do fígado, febre, má digestão e desordens biliares.

n) BHRAMARI

Sente-se em padmásana ou siddhásana. Inspire rapidamente pelas fossas nasais imitando o som de um zangão. Expire rapidamente por ambas fossas nasais imitando o zumbido de uma abelha.

A descrição do bhramari pránáyáma de acordo com o Gheranda Samhita é a seguinte: Feche os ouvidos com os polegares. Inspire pelas fossas nasais retendo o ar nos pulmões tanto quanto possível e exale por ambas fossas nasais. Este exercício deverá ser praticado num lugar calmo e livre de ruídos pela noite.

o) MURCHA

Sente-se em padmásana. Inspire profundamente e retenha o ar realizando o Jalandhara Bandha(pressão do queixo contra o peito). Permaneça o máximo de tempo. Expire lentamente. Este pránáyáma insensibiliza a mente e dá felicidade.

p) PLAVINI

Fechar a glótis e absorva o ar, pouco a pouco até encher o estômago. O ar pode ser expulso do estômago através da prática do Uddiyana Bandha.

q) RAJAS PRÁNÁYÁMA

Variante no. 1 - Inspirar elevando os braços até a altura dos ombros e após suave retenção, expirar lentamente baixando os braços.

Variante no. 2 - Inspirar elevando os braços até acima da cabeça. Tombe a cabeça para trás. Permaneça pelo menos 10 segundos. Expire lentamente baixando os braços sincronizando o movimento dos braços com a expiração.

Promove uma oxigenação perfeita e desperta a consciência do corpo e da respiração.

r) KUMBHAKA (retenção)

Existem dois tipos de kumbhakas: sahita e kevala.

Sahita é aquela que se relaciona com a inspiração e expiração. Kevala é exclusivamente retenção sem importar-se com o ritmo. No Kevala Kumbhaka não se regula nem a inspiração nem a expiração. Durante a prática do Kumbhaka, a mente deverá concentrar-se no Purusha ou no Ájña Chakra, o ponto entre sobrancelhas.

s) SOPRO "HÁ"

De pé, com as pernas ligeiramente afastadas, relaxe o corpo. Inspire profundamente pelas narinas elevando os braços, simultaneamente, até acima da cabeça. Sem dobrar os joelhos, abaixe vigorosamente e rapidamente os braços e o tronco emitindo a sílaba "há" bem alto. Permaneça alguns segundos assim e depois retorne a posição inicial. Durante o sopro, solte a garganta e o diafragma. Repetir 3 a 10 vezes.

Elimina impurezas e resíduos pulmonares. Promove a descontração interior.

t) RESPIRAÇÃO PARA FORTALECER OS NERVOS

De pé, com as pernas afastadas na largura de um ombro, expire. Agora, inspire elevando os braços a frente até a altura dos ombros. Cerre os punhos com força. Mantendo os pulmões pleno de ar, contraia os braços com vigor, trazendo os punhos de encontnro aos ombros três vezes. Quando levar os braços para frente para depois contrair, leve os braços resistindo como se estivesse que vencer uma grande resistência contrária ao movimento. Fazer devagar e com grande esforço até a ponto de tremer. Ao expirar, baixe os braços afrouxando-os e deixando cair suavemente.

Aumenta a resistência do sistema nervoso. Dá segurança interior e aumenta as faculdades mentais.

Arquivos de Nuit


Notas

¹ Essa é a definição de Patanjali para Yoga em seus Sutras: Yogás Citta Vritt Nirodhah: o aquietamento das ondas mentais é Yoga.

² Segundo o Vijnanabhairava Tantra, na primeira prática indicada por Shiva à Shakti: A Shakti suprema se revela quando a inspiração e a expiração nascem e morrem nos dois pontos extremos, superior e inferior. Assim, entre duas respirações, experimente o espaço infinito.

³ Devemos compreender que o sêmen é o substrato essencial de tudo o que consumimos e a própria força vital que gera a vida e a consciência, portanto, não é mera excreção ou estorvo como pode ser lido ou interpretado nessa passagem do texto.


terça-feira, 15 de abril de 2025

A Vara e a Serpente

Tudo o que sei é o que significa para os guerreiros(as). Eles não ignoram que a única energia real que possuímos é a energia sexual, que confere vida. Esse conhecimento toma-os permanentemente conscientes de sua responsabilidade - O Fogo Interior, de Carlos Castaneda.

A Energia Criadora Sexual assume muitos símbolos e formas nas diferentes tradições. Ela é a Fonte de nosso Ser no mundo.

Viemos das águas sexuais de nossa mãe e de nosso pai.

Somos o fruto desse conhecimento sagrado do amor. O Amor se polariza para criar.

A água evaporada, a nuvem, se polariza para gerar o filho raio.

22 Assim Moisés foi instruído em toda a sabedoria dos egípcios, e era poderoso em palavras e obras - Atos 7.

Moisés era um sacerdote egípcio. Foi criado pelos egípcios, pelo Faraó e sua filha.

Interessante que o Egito é uma civilização que junta magia e política com perfeição. O Faraó era ao mesmo tempo rei e sacerdote.

Moisés significa aquele que nasceu das águas. É um símbolo para todo o humano, pois todo humano nasce das águas. Encontramos o arquétipo em outros personagens até mais antigos como Karna (do Mahabharata, um dos filhos de Kunti) e Sargão (da Acádia). Toda a vida nasce das águas. O Rio Nilo era sagrado para os antigos egípcios por isso. Assim como o Ganges para os indianos.

A vida que nasce das águas é como o espermatozoide que adentra ao óvulo, fecundando-o.

As águas seminais do homem que fecundam a terra uterina da mulher.

A vara sagrada do homem fazendo a água da vida emanar da rocha-uterina-divina da mulher.

Falo e Útero, Ás de Paus e Ás de Copas gerando e regenerando a vida.

A Vara, o Cajado é um símbolo de poder. A Taça, o Graal é um outro símbolo de poder.

A dualidade atrativa gerando e regenerando a Vida.

Essa dualidade é uma marca em diversas histórias míticas.

Vejamos a seguinte dualidade, a Vara-Serpente.

A vara é um símbolo do Falo, da energia sexual masculina.

A serpente é um símbolo da Fluidez, dos Ciclos, da Regeneração, da energia sexual feminina.

A Energia Sexual é por excelência feminina, por isso no homem e na mulher Ela é a Shakti, a Força (do arcano 11 do Tarot), a Kundalini.

"A Minha serpente é uma extensão da Sua".

Essas são palavras mágicas entre o Sacerdote e a Sacerdotisa que expressam a união mágica do masculino e do feminino.

Vou citar agora algo que fará alguns amigos (as) pagãos arrepiarem-se...risos.

Eis um exemplo da dualidade masculino-feminino, Vara-Serpente.

Há uma história mágica e mítica na Bíblia onde Moisés (com Arão) transforma a Vara em Serpente e de novo a Serpente em Vara, em Êxodo 4 e 7:

2 Ao que lhe perguntou o Senhor: Que é isso na tua mão. Disse Moisés: uma vara.
3 Ordenou-lhe o Senhor: Lança-a no chão. Ele a lançou no chão, e ela se tornou em cobra; e Moisés fugiu dela.
4 Então disse o Senhor a Moisés: Estende a mão e pega-lhe pela cauda (estendeu ele a mão e lhe pegou, e ela se tornou em vara na sua mão);

e

9 Quando Faraó vos disser: Apresentai da vossa parte algum milagre; dirás a Arão: Toma a tua vara, e lança-a diante de Faraó, para que se torne em serpente.
10 Então Moisés e Arão foram ter com Faraó, e fizeram assim como o Senhor ordenara. Arão lançou a sua vara diante de Faraó e diante dos seus servos, e ela se tornou em serpente.
11 Faraó também mandou vir os sábios e encantadores; e eles, os magos do Egito, também fizeram o mesmo com os seus encantamentos.
12 Pois cada um deles lançou a sua vara, e elas se tornaram em serpentes; mas a vara de Arão tragou as varas deles.

A Vara é um símbolo clássico do poder mágico. Ela simboliza a força do Mago(a) e do Iniciado(a). Representa sua Vontade em domar em si as muitas vontades. Representa também a Coluna Espinhal do ser humano.

A Vara que se torna em Serpente é a própria Força Sexual ascendendo ao longo dos canais sutis da coluna espinhal humana. A Serpente do Éden enroscada em torno da Árvore do Conhecimento é um símbolo da Serpente Kundalini enroscada em nosso Corpo. Nosso Corpo é a Árvore do Conhecimento onde habita a Deusa Serpente.

Qualquer praticante do caminho que acumula e recanaliza sua energia sexual criadora pode senti-la como vida pulsante ao longo de seu canal espinhal.

O Poder de um Mago se determina pelo nível de ascensão da Serpente ao longo da Vara.

A Serpente de Moisés engoliu as Serpentes dos Magos Egípcios porque seu poder era maior. Isso também pode significar que os judeus absorveriam a sabedoria egípcia, da qual Moisés era herdeiro. Moisés era um sacerdote egípcio. Foi o avatar da Era de Áries. Há uma imagem de Moisés com dois chifres, como um deus cornudo. Esse é um clássico símbolo pagão que nada tem a ver com um sentido pejorativo ou do mal.

A Vara transformada em Serpente simboliza a transformação e a transmutação da Energia Sexual Criadora.

Os cornos de Moisés simbolizam o cérebro direito e esquerdo plenamente desenvolvidos e fecundados pela Energia Sexual Criadora Transmutada.

Transformar a Serpente em Vara e vice-versa é um símbolo do processo alquímico do Solve et Coagula.

A Serpente é o poder de dissolução. A Vara, o poder de coagulação. Expressões polarizadas da mesma Energia.

Modak

sábado, 12 de abril de 2025

Uma conversa sobre o poder pessoal

P - Poder pessoal é o poder da pessoa?

R - Não, a pessoa, a persona, a máscara, aquilo que fizeram de nós não tem poder, a pessoa social, a pessoa, que é fruto da socialização, é um animal domesticado, é uma máquina, como diria Gurdjieff, não pode ter nenhum poder, antes é manipulada por outras pessoas, instituições e poderes, apesar de muitas e muitas vezes estar cheia de si. Aqui é preciso entender bem o que significa o termo 'pessoa'. No XG a pessoa se quer existe, é um fantasma, sendo assim como poderia ter algum poder? Por isso que escolas como o Quarto Caminho dizem que a capacidade de FAZER é algo raro, pois FAZER implica em PODER, poder de (auto)realização. Como uma pessoa, uma máquina pode fazer algo? Uma máquina apenas segue a sua programação, uma pessoa social apenas segue o seu condicionamento e assim sonha que está fazendo algo, confunde o fazer, a ação consciente com a reação mecânica típica das máquinas. A pessoa comum acha que fazer é algo ligado ao trabalho, ao emprego, a uma função social para ganhar dinheiro. É muito comum numa conversa qualquer, comum e corrente, alguém iniciar um bate-papo fazendo a clássica pergunta: - O que você faz? Ou ainda: - No que você trabalha? Ou então: - O que você está fazendo da vida? 

Ora, um PERSONAgem não atua, não faz nada e não pode fazer nada a não ser representar um papel do qual não tem consciência. É mecânica, portanto, não tem poder. Vemos isso estampado na vida comum e corrente toda a hora quando a pessoa, por exemplo, precisa empreender uma mudança de hábitos seja por um motivo de saúde ou de carestia. Mesmo havendo necessidade, devido a uma força externa, de mudar os hábitos, para uma pessoa comum e corrente é muito difícil, portanto fazê-lo de uma forma deliberada, voluntária e consciente é impossível. Máquinas não possuem consciência de si mesmas a ponto de realizarem mudanças que impliquem em deixarem de ser máquinas, elas apenas podem se tornar máquinas melhores, pessoas melhores, como um produto de 1ª, 2ª, 3ª geração e daí por diante.

P - Se é assim por que nas obras do Dr. Carlos Castaneda é usada a expressão poder pessoal?

R - É tarefa das novas gerações ir aperfeiçoando os termos, as palavras. Poder pessoal é um termo paradoxal, contraditório se formos olhar para uma das primeiras técnicas comportamentais ensinadas por Don Juan Matus para o Dr. Carlos Castaneda justamente para obter poder pessoal, alcançar o silêncio interior, parar o mundo, livrar-se da pressão coercitiva da primeira atenção: apagar a história pessoal. E aqui devolvo a pergunta: ora, se vamos apagar a história pessoal, se vamos nos liberar da pessoa social e dos frutos podres da socialização como vamos usar a expressão poder pessoal?

P - Que outro termo poderíamos empregar?

R - Na obra do próprio nagual Carlos Castaneda temos uma palavra que nos parece mais adequada: impecabilidade. O termo ficou muito bem definido como economia de energia, melhor uso da energia, dar o melhor de si no que tange a própria energia, seu uso, acúmulo e alinhamento com o Poder. E aqui usamos o Poder com letra maiúscula para denotar que tal Poder é de natureza impessoal, ou seja, a pessoa não tem o Poder, na verdade é o Poder que tem a pessoa, de um tal modo que a própria pessoa é dissolvida pelo Poder, tornando-se vazia no sentido do si mesmo, destituída do eu, do ego, mas ao mesmo tempo preenchida pelo Poder, tal como a gota que se funde ao oceano, talvez por isso o Dr. Carlos tenha usado em sua obra final uma outra metáfora para referir-se ao Poder: o Mar Escuro da Consciência.

P - Como uma máquina pode deixar de ser máquina e entrar nesse caminho?

R - Isso não depende dela, depende do próprio Poder, é muito difícil, quase impossível compreender isso, que só existe a Águia e os comandos da Águia, é Ela quem define, enquanto poder impessoal, por isso, para quem estuda as obras do Dr. Carlos Castaneda, é preciso compreender a fundo o significado de que "não há voluntários no caminho dos guerreiros(as). Um homem (uma mulher) tem que ser obrigado(a) contra a sua própria vontade a entrar no caminho dos(as) guerreiros(as)".

P - Isso não faz dos guerreiros(as) algo superior a pessoa comum?

R - Ao final e ao cabo todos serão devorados pela Águia, tudo o que um(a) guerreiro(a) faz é alinhar-se aos comandos da Águia, não sobra assim nenhum espaço para qualquer tipo de autoimportância. 

Modak

sexta-feira, 11 de abril de 2025

Estoicismo nawal e o falso sentimento da autoimportância

Estoicismo, a filosofia de 2 mil anos cada vez mais usada como ...
O nagual Carlos Castaneda definia o nagualismo como a práxis da Fenomenologia.

Se formos pensar em termos filosóficos, devido a natureza prática e sóbria de tal práxis, veremos que o Nawalismo pode ser visto como uma escola estoica, um estoicismo, tendo muitos pontos de contato com tal filosofia, como neste pensamento de Epicteto, que era um famoso filósofo estoico e ao mesmo tempo escravo:

"A filosofia não visa a assegurar qualquer coisa externa ao homem. Isso seria admitir algo que está além de seu próprio objeto. Pois assim como o material do carpinteiro é a madeira, e o do estatuário é o bronze, a matéria-prima da arte de viver é a própria vida de cada pessoa".

Pode-se dizer que a matéria-prima de cada guerreiro(a) é a sua própria energia.

"Um guerreiro deve cultivar o sentimento de que ele tem tudo de que precisa para a viagem extravagante que é sua vida. O que conta para um guerreiro é estar vivo. A vida em si é suficiente, autoexplicativa e completa" - Carlos Castaneda, A Roda do Tempo.


sábado, 5 de abril de 2025

Lamas e Xamãs (Atualizado e com notas)

 


         Sempre lembrando…

         Não esqueçam de ver o sorriso despreocupado nestas palavras.

     Escrever ideias tem a limitação de passar formas pensamento sem os tons de voz, sem as expressões faciais e corporais e tantos outros sinais subliminares presentes em uma conversação face a face. Componentes que ajudam a compreender o que já é em si só um esforço concentrado expressar oralmente através da linguagem formalizada.

  Temos que ter o cuidado para não projetarmos nossas interpretações pessoais, mas tentar nos descentrarmos, nos ‘desegotizarmos’, como diria Piaget. Sairmos da posição do “eu”…

     Compreender cada povo e cada cultura, cada forma de expressão da vida…

     As vezes posso ter dado a impressão que aludi ao caminho búdico tibetano como algo confuso. De forma alguma. Tenho profunda admiração pela escola búdica tibetana desde o dia em que no centro cultural Vergueiro, participando da mandala da cura, realizada por lamas, vi nos olhos dos que conversei uma pureza diferente. Assim quaisquer que sejam as jangadas que usem para auxiliar na travessia rumo a outra margem, têm algo de paz, algo que já vi em alguns monges cristãos, alguns sufis, alguns xamãs.

    Quando aprendi na prática que não importa o caminho, desde que este tenha coração, soube que os lamas possuem um caminho que leva ao despertar efetivo. Como curiosidade antropológica me permitam compartilhar a forma através da qual esta linhagem de xamãs que integro vê os lamas.

   Alguns dos estrangeiros, isso é, não índios, como eu, que se ligaram a essa linhagem de xamãs eram daoxíê Sí-e* (道學 僊 - vide notas), eremitas que vivendo em peregrinação foram ter a Tailândia e arredores, onde a civilização que ali florescia tem tal semelhança com a do período olmeca e anteriores que ainda instiga os pesquisadores.

   Dali vieram ter ao México e contaram da prática de monges poderosos que viviam no alto das neves eternas. Tais monges eram curadores e conheciam muitas formas de magia. Eles tinham desenvolvido um profundo conhecimento da natureza da vida e da consciência.

  Eles sabiam que se um se uma pessoa, durante a vida, desenvolvesse a consciência de si. Haveria chance de prosseguir existindo.

    Caso contrário apenas se dissolveria como a espessa névoa vai com o vento ao meio da manhã, dissipar-se pela mata, toda e, ao meio dia, nem lembrança dela restará àquele que por ela atravessou quando o dia nascia e ainda carpe o pasto, tudo roçando, carpe, mas não carpe ‘die’.

    Contavam que tais monges em grandes mosteiros sabiam que as experiências, os jeitos de ser, de sentir, de pensar, de agir, iam de um indiví-duo para outro, se misturando em tramas e depois se separando, como se um tapete fosse tecido e depois desfeito, e sua lã, aproveitada em outros tapetes.

    Cada novo tapete gera uma forma final, um novo e único tapete, mas sua lã veio de outro tapete. E eis que certo dia um tapete acorda e diz: Hoje sonhei que fui um tapete em frente a vasta lareira do imperador. E se sente orgulhoso por isso. Ele tem algo do tapete da lareira do imperador.

    Os monges descobriram isso com sua clarividência. Mas eles não eram mais o tapete da lareira do imperador. Podiam até mesmo usar o que traziam de aprendizado dali. Mas eram um novo tapete, único e singular. E podiam até mesmo se lembrar de muitos outros tapetes que as várias cores de lãs que o compunham haviam antes composto.

    Lembrar tapetes sendo feitos e desfeitos, até o distante dia em que cada lã daquela foi pela primeira vez fiada, pela primeira vez cardada. A distante roca original que pegou a lã cardada e fez fio, fio que tecido e retecido em tantos tapetes esteve. 

   E mesmo assim, ainda perplexo, o tapete resultante dos fios confunde-se com eles, negando-se tapete. Descobriram também que quanto mais se trabalha o ser, mais lãs juntas vão de tapete a tapete e em certos casos chega a ocorrer uma autêntica reencarnação, um tapete é desfeito e refeito com a mesma lã. Ainda assim a resultante é única, distinta.

    Pois é isso que o tapeceiro, incriado, aplicado em tramar tapetes, busca! Revelar-se a si mesmo, como em uma brincadeira de esconde-esconde.

  Tais monges passaram então a ir em busca das fibras que compunham aqueles ‘tapetes’ com quem treinavam. Durante a vida o monge treina, e ao morrer, os parceiros monges seguiam sinais e encontravam várias fibras do antigo companheiro.

   Para explicar às pessoas o que faziam usaram conceitos mais simples como reencarnação. Tais monges podem muito bem ser os antepassados espirituais dos lamas tibetanos.

      Paz Profunda!!!

Nuvem Que Passa



Notas 

 

🗣️daoxíê Sí-e(m)

道學 僊

 


Ilustração - Assembléia Si-e(m)

Assembleia de imortais oferecendo votos de vida longa  

Dinastia Ming ou Qing

 

🗣️sí-e(m)

hsien”

caractere chinês simplificado:

caractere chinês tradicional:   

pinyin: xiān

Wade–Giles: hsien

fala-se🗣️sí-e(m)



O dào


= +

dào = chuò + shǒu


(chuò)

Este radical é associado a movimento ou caminhada.

 Relaciona-se a viagem ou a um caminho.


(shǒu)

Este caractere significa “cabeça” ou “líder”.



O daoxíê

 道學


(xíê)

Aprender, estudar.



    Assim 道學 🗣️daoxíê quer dizer o estudo do caminho divino, o

caminho da totalidade, ou mesmo o aprendizado do caminho do

coração, do puro sentir, o qual se dá sem palavras e sem a

interferência das emoções que são resultado das interpretações,

leituras, classificações e julgamentos que se passam no campo

mental, ou seja, o sentir puro, apenas a faculdade de sentir, a qual

chamamos de coração, mas que não tem absolutamente nenhuma

relação com o órgão físico, pois é uma habilidade do corpo

energético, da energia, da consciência silenciosa, insipida, inodora,

incolor e pura, que nada mais é do que a própria totalidade

presente em cada uma de todas as entidades sencientes.


    Tradicionalmente, ‘sí-e(m)’ refere-se a entidades que aprimoraram

um corpo espiritual imortal que sobrevive após a morte assim como

habilidades aparentemente sobrenaturais ou mágicas em vida.

Entidades que estabeleceram uma conexão com os reinos celestiais

inacessíveis aos mortais, mas que são diferente dos deuses na

mitologia chinesa e no taoísmo, os quais sempre foram inerentemente

sobrenaturais.


    ‘Sí-e(m)’ é alcançado por meio do autoaprimoramento energético,

ou Nèidān 内丹, a alquimia interna. Uma série de abordagens

esotéricas e práticas físicas, mentais e espirituais que os praticantes

do caminho do coração, 道學 aoxíê, usam para exercitar a vida e

aprimorar um corpo espiritual imortal que sobreviverá após a morte.

É também conhecido como Jindan (金丹 “elixir dourado”) e inclui

praticas como o Tai chi, exercícios respiratórios, meditação,

visualização, cuidados com a energia sexual e exercícios daoyin, que

mais tarde evoluíram para qigong.


    ‘Sí-e(m)’ é também usado para se referir a figuras frequentemente

benevolentes de grande significado histórico, espiritual e cultural. O

道學 daoxíê em sua faceta Quanzhen possui uma variedade de

definições para ‘Sí-e(m)’, incluindo um significado metafórico onde

o termo significa simplesmente uma pessoa boa e com princípios.


    Os ‘Sí-e(m)’ são considerados “pessoas divinas” que eram

humanos e ascenderam por meio do trabalho árduo, estudos formais e

artes guerreiras". Admirados pelos praticantes do 道學 daoxíê, os 

quais imitam seu exemplo na vida cotidiana. Apreciado desde 

tempos imemoriais até os dias de hoje de várias maneiras em 

diferentes culturas e escolas espirituais na China. Os ‘Sí-e(m)’ 

podem praticar ações consideradas boas ou más, e nem todos são

conectados a escola identificada especificamente como
dào. Além

de pessoas que transcenderam a condição humana, ‘Sí-e(m)’ pode se

referir a animais mágicos, muitas vezes vistos como criaturas

sobrenaturais.



    O dicionário Shiming, de aproximadamente 200 d.C., fornece

 ‘etimo’nômias’ na forma de trocadilhos, e define ‘Sí-e(m)’
como

“envelhecer e não morrer” e o explica como alguém que
(qiān) “se

muda para” as montanhas.


    O caractere ‘Sí-e(m)’ é uma combinação de (rén; '‘pessoa’')

e 山 (shān; '‘montanha’'). Sua forma histórica é
: uma combinação

de
e / (qiān; “mudança para”).


    ‘Sí-e(m)’ é frequentemente usado em palavras compostas em

chinês, como xiānrén (
仙人; “pessoa imortal; transcendente”), xiānnǚ

(
仙女; "mulher imortal; mulher celestial.


    Textos antigos como os textos Zhuangzi, Chuci e Liezi usam ‘Sí-

e(m)’ associado a mundo mágicos para descrever a imortalidade

espiritual, às vezes usando a palavra yuren
羽人 ou “pessoa

emplumada”, descritos com qualidades como ‘providos de penas’ e

‘com a habilidade de voar’, através de formas pensamento como

yǔhuà (
羽化, com "pena; asa"). O termo yuren 羽人 ou “pessoa

emplumada” posteriormente se tornou mais uma forma para dizer 道

學 daoxíê, praticante do dào.


    Durante as Seis Dinastias, os ‘Sí-e(m)’ eram um assunto comum 

nas histórias de zhiguai ( 志怪 é um termo chinês que se refere a um 

gênero literário que se concentra em histórias de fenômenos 

sobrenaturais, estranhos ou inexplicáveis.). Os ‘Sí-e(m)’ 

frequentemente tinham poderes (dào) “mágicos”, incluindo a 

habilidade de “andar...através de paredes ou ficar...na luz sem lançar 

sombra.”


    O Capítulo 11 do Zhuangzi, '[Livro do] Mestre Zhuang', século III 

a.C. usa o caractere arcaico para ‘Sí-e(m)’, e tem uma parábola 

sobre o 'Chefe das Nuvens' (雲將; Yún jiāng) dialogando com o 

'Grande Ocultação' (鴻濛; Hóngméng):


Grande Ocultação disse: 

'Se você confundir os fios constantes do Céu

e violar a verdadeira forma das coisas,

então o Céu Escuro não alcançará nenhuma realização.


Em vez disso,

os animais se dispersarão de seus rebanhos,

os pássaros chorarão a noite toda,

o desastre chegará à grama e às árvores,

o infortúnio alcançará até os insetos. 


Ah, isso é culpa dos homens que "governam"!'

'Então o que devo fazer?' 

disse o Chefe das Nuvens.


'Ah', 

disse Grande Ocultação,

‘você está muito longe!

僊 [ ‘Sí-e(m)’ – Levante-se!]

僊 [ ‘Sí-e(m)’ – Levante-se!]

mexa-se e vá embora!’


O Chefe Nuvem disse:

‘Mestre Celestial,

tem sido realmente difícil

para mim me encontrar com você

 — imploro uma palavra de instrução!’


‘Bem, então — nutrição mental!’ 

disse Grande Ocultação.

‘Você só precisa

descansar na inação 

e as coisas se transformarão.

Esmague sua forma e corpo,

cuspa a audição e a visão,

esqueça que você é uma coisa entre outras coisas,

e você pode se juntar em grande unidade

com o profundo e ilimitado.

Desfaça a mente,

descarte o espírito,

fique em branco e

sem alma,

e as dez mil coisas,

uma por uma,

retornarão à raiz

— retornarão à raiz 

e não saberão por quê. 

Caos escuro e indiferenciado 

— até o fim da vida ninguém se afastará dele.

Mas se você tentar conhecê-lo,

você já se afastou dele.

Não pergunte qual é seu nome,

não tente observar sua forma.

As coisas viverão naturalmente,

fim de si mesmas.’


O Chefe Nuvem disse:

‘O Mestre Celestial

me favoreceu com esta Virtude,

me instruiu neste Silêncio.


Durante toda vida

estive procurando por isso,

e agora finalmente encontrei!’

Ele curvou a cabeça duas vezes, levantou-se, despediu-se e foi embora.


Em conexão consciente com a Totalidade,

Admiração e Reconhecimento incomensurável

ao Velho Homem Nawal A Lex Sed Rex

e de forma muito especial ao

Velho Velho Homem Nawal Oo’Moto,

assim como todos e todas 

que o precederam.

Uni K. A.


 

Sinal de Fumaça

Pranayama, a ciência do alento

Apresento esse texto porque a prática do pranayama é fundamental para o domínio e redistribuição da energia para aqueles que seguem pelo cam...