Por que somos tão difíceis de sermos convencidos de nosso próprio poder? Por que não podemos acreditar que somos inacreditáveis? Por que devemos, como seres mágicos, nos conformar à mediocridade da racionalidade estabelecida pela cultura dominante?
***
A mestria do intento é o enigma do espírito, ou o paradoxo do
abstrato — os pensamentos e ações dos feiticeiros projetados além de nossa condição humana.
(...)
“Tudo pelo que fiz você passar, cada uma das coisas que lhe
mostrei era apenas um instrumento para convencê-lo de que há mais coisas do que o olho pode perceber. Não necessitamos de ninguém para nos ensinar feitiçaria, porque de fato não há nada a aprender. O que necessitamos é de um professor para nos convencer de que há poder incalculável ao alcance de nossos dedos. Que paradoxo estranho! Cada guerreiro na trilha do conhecimento pensa, num momento ou outro, que está aprendendo feitiçaria, mas tudo o que está fazendo é permitir a si mesmo ser convencido do poder oculto em seu ser, e que pode alcançá-lo.
— E isto que está fazendo, Don Juan, convencendo-me?
— Isso mesmo. Estou tentando convencê-lo de que pode alcançar esse poder. Passei pela mesma coisa. E era tão difícil de ser convencido quanto você.
— Uma vez que o alcançamos, o que fazemos exatamente com ele, Don Juan?
— Nada. Uma vez que o alcançamos, este irá, por si mesmo, fazer uso de campos de energia que estão disponíveis para nós, embora inacessíveis. E isto, como eu disse, é feitiçaria. Começamos então a ver, isto é, perceber, algo mais; não como imaginação, mas como real e concreto. E então começamos a conhecer sem a necessidade de usar palavras. E o que cada um de nós faz com esta percepção aumentada, com aquele conhecimento silencioso, depende de nosso próprio temperamento.
O Poder do Silêncio, de Carlos Castaneda