Na vida, o olhar da opinião, o contraste dos interesses, a luta das cobiças obrigam a gente a calar os trapos velhos, a disfarçar os rasgões e os remendos, a não estender ao mundo as revelações que faz à consciência; e o melhor da obrigação é quando, à força de embaçar os outros, embaça-se um homem a si mesmo, porque em tal caso poupa-se o vexame, que é uma sensação penosa, e a hipocrisia, que é um vício hediondo. Mas, na morte, que diferença! Que desabafo! Que liberdade! Como a gente pode sacudir fora a capa, deitar ao fosso as lantejoulas, despregar-se, despintar-se, desafeitar-se, confessar lisamente o que foi e o que deixou de ser! Porque, em suma, já não há vizinhos, nem amigos, nem inimigos, nem conhecidos, nem estranhos; não há plateia.
O olhar da opinião, esse olhar agudo e judicial, perde a virtude, logo que pisamos o território da morte; não digo que ele se não estenda para cá, e nos não examine e julgue; mas a nós é que não se nos dá do exame nem do julgamento. Senhores vivos, não há nada tão incomensurável como o desdém dos finados.
Machado de Assis. Memórias póstumas de Brás Cubas. São Paulo: Ciranda Cultural, 2018. p. 49.
Um comentário:
Boas postagens. Percebo grande interesse nas investigações das razões e propósitos do ser humano.
Vasto conteúdo.
Porém coisas que se opõem Intrinsecamente, em sua origem filosófica e seu resultados.
Infelizmente essa é a condição de termos acesso a tantos assuntos na internet.
Grandíssima maioria dos assuntos misteriosos, esotéricos, ocultistas...são válidos pelo conhecimento factual, de sua existência.
Mas a verdade é uma só. Simples assim.
If you know what I mean...
Abraço. Bom trabalho
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