sábado, 12 de abril de 2025

Uma conversa sobre o poder pessoal

P - Poder pessoal é o poder da pessoa?

R - Não, a pessoa, a persona, a máscara, aquilo que fizeram de nós não tem poder, a pessoa social, a pessoa, que é fruto da socialização, é um animal domesticado, é uma máquina, como diria Gurdjieff, não pode ter nenhum poder, antes é manipulada por outras pessoas, instituições e poderes, apesar de muitas e muitas vezes estar cheia de si. Aqui é preciso entender bem o que significa o termo 'pessoa'. No XG a pessoa se quer existe, é um fantasma, sendo assim como poderia ter algum poder? Por isso que escolas como o Quarto Caminho dizem que a capacidade de FAZER é algo raro, pois FAZER implica em PODER, poder de (auto)realização. Como uma pessoa, uma máquina pode fazer algo? Uma máquina apenas segue a sua programação, uma pessoa social apenas segue o seu condicionamento e assim sonha que está fazendo algo, confunde o fazer, a ação consciente com a reação mecânica típica das máquinas. A pessoa comum acha que fazer é algo ligado ao trabalho, ao emprego, a uma função social para ganhar dinheiro. É muito comum numa conversa qualquer, comum e corrente, alguém iniciar um bate-papo fazendo a clássica pergunta: - O que você faz? Ou ainda: - No que você trabalha? Ou então: - O que você está fazendo da vida? 

Ora, um PERSONAgem não atua, não faz nada e não pode fazer nada a não ser representar um papel do qual não tem consciência. É mecânica, portanto, não tem poder. Vemos isso estampado na vida comum e corrente toda a hora quando a pessoa, por exemplo, precisa empreender uma mudança de hábitos seja por um motivo de saúde ou de carestia. Mesmo havendo necessidade, devido a uma força externa, de mudar os hábitos, para uma pessoa comum e corrente é muito difícil, portanto fazê-lo de uma forma deliberada, voluntária e consciente é impossível. Máquinas não possuem consciência de si mesmas a ponto de realizarem mudanças que impliquem em deixarem de ser máquinas, elas apenas podem se tornar máquinas melhores, pessoas melhores, como um produto de 1ª, 2ª, 3ª geração e daí por diante.

P - Se é assim por que nas obras do Dr. Carlos Castaneda é usada a expressão poder pessoal?

R - É tarefa das novas gerações ir aperfeiçoando os termos, as palavras. Poder pessoal é um termo paradoxal, contraditório se formos olhar para uma das primeiras técnicas comportamentais ensinadas por Don Juan Matus para o Dr. Carlos Castaneda justamente para obter poder pessoal, alcançar o silêncio interior, parar o mundo, livrar-se da pressão coercitiva da primeira atenção: apagar a história pessoal. E aqui devolvo a pergunta: ora, se vamos apagar a história pessoal, se vamos nos liberar da pessoa social e dos frutos podres da socialização como vamos usar a expressão poder pessoal?

P - Que outro termo poderíamos empregar?

R - Na obra do próprio nagual Carlos Castaneda temos uma palavra que nos parece mais adequada: impecabilidade. O termo ficou muito bem definido como economia de energia, melhor uso da energia, dar o melhor de si no que tange a própria energia, seu uso, acúmulo e alinhamento com o Poder. E aqui usamos o Poder com letra maiúscula para denotar que tal Poder é de natureza impessoal, ou seja, a pessoa não tem o Poder, na verdade é o Poder que tem a pessoa, de um tal modo que a própria pessoa é dissolvida pelo Poder, tornando-se vazia no sentido do si mesmo, destituída do eu, do ego, mas ao mesmo tempo preenchida pelo Poder, tal como a gota que se funde ao oceano, talvez por isso o Dr. Carlos tenha usado em sua obra final uma outra metáfora para referir-se ao Poder: o Mar Escuro da Consciência.

P - Como uma máquina pode deixar de ser máquina e entrar nesse caminho?

R - Isso não depende dela, depende do próprio Poder, é muito difícil, quase impossível compreender isso, que só existe a Águia e os comandos da Águia, é Ela quem define, enquanto poder impessoal, por isso, para quem estuda as obras do Dr. Carlos Castaneda, é preciso compreender a fundo o significado de que "não há voluntários no caminho dos guerreiros(as). Um homem (uma mulher) tem que ser obrigado(a) contra a sua própria vontade a entrar no caminho dos(as) guerreiros(as)".

P - Isso não faz dos guerreiros(as) algo superior a pessoa comum?

R - Ao final e ao cabo todos serão devorados pela Águia, tudo o que um(a) guerreiro(a) faz é alinhar-se aos comandos da Águia, não sobra assim nenhum espaço para qualquer tipo de autoimportância. 

Modak

Um comentário:

Uni disse...

A questão crítica está relacionada aos pronomes, verbos, advérbios e preposições possessivas, como por exemplo 'ter'. Quem tem o que? Essa é uma pergunta fácil de ser respondida quando se sabe que os fatos energéticos constituem de forma inexorável o não dualismo, constatado por toda e qualquer faceta verdadeira do caminho como aquela conhecida por Advaita Vedanta através de Adi Shankara Acharya. A descrição de mundo apresentada através do Toltecayolt, ou a sintaxe nawal, se parece dual a primeira vista, Nawal / Tonal, Águia / Ordens da Águia, assim como em Kemet, Amun / Réê. Porém basta uma pequena visita a qualquer dicionário nahuatl para descobrir que nawal quer dizer 'aquilo que está oculto' / 'aquilo que está disfarçado' e que tonal é sinônimo 'daquilo que está aparente'. Não é necessário nenhum doutorado para deduzir que aquilo que está disfarçado, está disfarçado daquilo que está aparente. Portanto, a sintaxe nawal, assim como em qualquer outra faceta verdadeira do caminho, é não dual. Com relação ao termo 'Poder Pessoal', assim como muitas outras expressões que foram utilizadas para se pôr em palavras aquilo que está além do alcance da linguagem formalizada, carrega uma herança histórica de quando a espreita ainda não havia sido incorporada a práxis do caminho. É um termo que faz sentido para aquelas personalidades da totalidade que operam através da falsa premissa da 'ideia de EU', porém é uma expressão bizarra do ponto de vista do 'não EU'. Assim a forma mais acertada de se referir a essa questão através de palavras é “Poder Impessoal”. E sim, qualquer indivi-duo pode acumular poder impessoal. Acumular é diferente de ter, pois é o poder impessoal que tem a nós e não o contrário.

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