terça-feira, 18 de fevereiro de 2025

Sinal de fumaça: disponibilização dos escritos do xamã Nuvem que Passa

Caminhantes,

Atualizando e reforçando este sinal de fumaça.

Já estão estão disponíveis os textos do nawal Nuvem que Passa relativos à lista Ventania (outros materiais ainda virão, estão no forno em preparação), que tem o foco no chamado Xamanismo Guerreiro, Xamanismo Tolteca ou Nagualismo.

Os textos encontram-se em Di-Fusão Now All  -  https://uni-om.github.io/ 

Para acessar o material basta navegar pelo site sem precisar pagar pedágio, enviar PIX ou assemelhados, não vamos encher o saco de ninguém nesse sentido, o único que pedimos é que enviem esse material, link, para potenciais interessados nos dando uma força na divulgação. Não são necessários nem login, nem senha para entrar no site, que é de natureza estática, não é um espaço de discussão, mas de difusão, Di-Fusão Now All.

O espaço para discussão desses temas por ora é por aqui mesmo, no Pistas do Caminho.

Em breve, dentro de alguns dias ou semanas, teremos disponível o livro em PDF "Bruxaria, Magia e Xamanismo" - BruMaX, aqueles(as) interessados(as) basta deixar um contato para que possamos fazer o envio sem custo algum.

"Há braços"!

No Intento!

***

Está sendo feito um trabalho para disponibilizar todo o material escrito pelo xamã Nuvem que Passa que foi produzido através das listas de discussão nos anos em torno da virada do milênio. Trata-se de muito, mas muito material mesmo e que deve ficar disponível, num site específico para tal, no próximo ano astrológico, logo ali, no final de março de 2025.

Também vamos disponibilizar de forma gratuita um primeiro livro em PDF intitulado BruMax - Bruxaria, Magia e Xamanismo - envolvendo a abordagem desses temas que era própria do Nuvem que Passa.

Outros livros se seguirão. Por exemplo, devemos ter um livro em PDF baseado nos textos da lista Ventania, uma lista focada dentro do Xamanismo Guerreiro ou Nagualismo.

Um romance de autoria do Nuvem que Passa também deve vir à luz, no qual o conhecimento xamânico  traveste-se de ficção.

Também estamos buscando as pessoas que de alguma forma ajudaram a reunir tão vasto material para que possamos dar os devidos créditos. Ao longo dos anos algumas pessoas ficaram, digamos assim, como guardiães desses textos e queremos agradecê-las pelas contribuições que fizeram.

Naturalmente o tempo passou, temos aí 20 anos transcorridos, as pessoas perderam o contato, é natural, mas de alguma maneira intentamos retomar agora. Estamos lançando essa rede virtual na vasta teia da internet. Emitimos esse sinal de fumaça pelo espaço cibernético. Aqueles(as) que quiserem receber o material podem entrar em contato conosco por aqui, nos comentários, ou mandar um email para donan.ramak@gmail.com

E mesmo com o transcorrer do tempo os textos continuam vivos, atuais, impregnados daquele intento da busca pela liberdade de percepção que marca a linhagem guerreira. Sim, o espírito do homem nos permitiu contato com outra linhagem além da linhagem fechada pelo nagual de três pontas, o Dr. Carlos Castaneda.

De antemão deixamos aqui o nosso agradecimento a cada um que contribuiu e também ao espírito do homem, pois é como já foi escrito: 

"Se um guerreiro quiser pagar por todos os favores que recebeu e não tiver ninguém em particular a quem fazer seu pagamento, pode fazê-lo ao espírito do homem. Essa conta tem sempre um saldo muito pequeno e o que se botar ali é mais do que suficiente" - Roda do Tempo, de Carlos Castaneda.

O que é ser um Hopi?

O que é ser um Hopi? Talvez possamos perguntar: o que é ser?

O que é ser um Tolteca?

O que é ser um homem de conhecimento?

O que é ser?

Quem eu sou? Eis a pergunta da auto-investigação de Ramana Maharshi, atma-vichara.

Qual o mistério de ser?

Tais perguntas não tem respostas autênticas que possam ser dadas pela mente...

Um pouco dessas reflexões por um nativo hopi, Ramson Lomatewama, lembrando que há aqui dois significados para tal palavra um exotérico, digamos assim, e outro mais profundo...


segunda-feira, 17 de fevereiro de 2025

A sujeira na unha do pé de Buda



Meditação é o paraíso do presente. 

Se a mente está no presente não percebemos a mente ordinária, sentimos uma outra mente, a mente de Buda, a mente iluminada. 

A antevisão dessa outra mente causa um temor estranho na mente ordinária.

A meditação é a entrada na mente verdadeira do ser humano. 

A meditação é o acesso à natureza real e divina do homem. Na meditação estamos focados no agora, no presente, não oscilamos nem para o futuro, nem para o passado, importa apenas este momento, o agora, o presente, a ocupação real. Não há futuro, nem preocupação. Não há passado, nem pós-ocupação. Ocupação de verdade só é possível no presente. Todas as outras ocupações fora do presente não são ocupações reais, são fantasias da mente fragmentada no passado ou no futuro, são atos mecânicos. Em meditação há apenas ocupação do ser. Há apenas foco no agora. Não há passado ressentido, nem futuro ansioso. Há apenas ISTO, o presente, a Vida pulsante, a respiração e tudo o que está acontecendo neste preciso e desprendido momento.

Meditação – ocupação, agora, presente, realidade, paraíso, foco, postura, elegância, calma, agilidade sem pressa. O pensamento assemelha-se a um rio caudaloso e sereno ou a um lago que parece o espelho do céu.

Distração – quase sempre estamos distraídos com pensamentos que nos levam ao passado ou ao futuro. Há falatório interior, há "fofoca neuronal", há turbulência dispersiva na mente. O fluxo dual do diálogo interior incessante e obsessivo opera entre passado e futuro em ondas emocionais negativas.

Passado: ressentimento, mágoa, saudade que dói, apego, raiva, culpa.

Futuro: expectativa ansiosa, planejamento excessivo, preocupação incessante, tentativa de controle do que não pode ser controlado.

Na meditação somos um, somos inteiros.

Na distração somos muitos, somos legião, somos dispersos.

Simbolicamente, na meditação somos como os santos, pois a aureola dos santos é um símbolo da integração com o divino, com a totalidade.

Por analogia de contrários, na dispersão mental feita de um diálogo interno incessante somos demônios, torturados pela dualidade dos chifres, símbolo da dicotomia da mente que alterna entre passado e futuro.

É claro que isso é apenas uma metáfora. A meditação transcende o santo e o profano, categorias próprias de uma teologia não iluminada. Aliás, só há teologias não iluminadas, pois a meditação, a iluminação é a sua própria teologia, o conhecimento da divindade em nós mesmos de forma direta, a realização da enteogenia do próprio homem.

Teologias e escritos sagrados são, como dizem os mestres zen, dedos apontando para a Lua.

Esse texto é apenas a sujeira na unha do pé de Buda.

F.

domingo, 16 de fevereiro de 2025

"Ter consciência por escolha"

"Às pessoas cuja a labuta ultrapassa as ideias e invade o domínio do "real": aos ecólogos das terras áridas, onde quer que estejam, não importa a época, fica dedicada esta tentativa de profecia, com humildade e admiração".

"...decidiu praticar uma das lições do corpo-mente ensinadas por sua mãe. Três inspirações rápidas acionaram a resposta: caiu numa consciência flutuante... focalizando sua percepção... dilatação arterial... evitando o mecanismo divagador da mente... ter consciência por escolha... sangue enriquecido regando as áreas sobrecarregadas... “não se obtém comida-abrigo-liberdade somente com o instinto”... a consciência animal é incapaz de se estender além do momento presente e não conhece a ideia de que suas vítimas possam se extinguir... o animal destrói e não produz... os prazeres animais permanecem próximos dos níveis de sensação e evitam o perceptivo... os humanos necessitam de uma tela de fundo através da qual possam perceber seu universo... consciência focalizada por escolha, isso produz a sua tela... a integridade corporal segue o fluxo sanguíneo-neural de acordo com a mais profunda consciência das necessidades celulares... todas as coisas/células/seres são inconstantes... lute pela permanência de fluxo interno..."

Duna (livro primeiro), de Frank Hebert.

Dica: ler o texto "Agir Conscientemente", por Nuvem que Passa.

sábado, 15 de fevereiro de 2025

Alienígenas: extra-terrestres, extra-dimensionais e criptozoológicos, em documento oficial do Congresso dos EUA

13 de novembro de 2024: Subcomissão de Segurança Cibernética, Tecnologia da Informação e Governo

Audiência conjunta da Inovação e da Subcomissão de Segurança Nacional, Fronteira e Relações Exteriores intitulada “Fenômenos Anômalos Não Identificados: Expondo a Verdade”

 Pergunta (deputado Eric Burlison): “É possível que UAPs sejam extradimensionais em vez de extraterrestres? O que quero dizer com isso é — é possível que UAPs não se encaixem na narrativa tradicional de alienígenas de outro planeta, mas poderiam ser entidades de outras dimensões.”

Resposta (Luis Elizondo,  agente sênior de classificação do Advanced Aerospace Threat Identification Program (“AATIP”) dentro do Departamento de Defesa (“DoD”) ):

Sim.

Vários cientistas dentro da AATIP propuseram que o UAP pode ter origens interdimensionais ou mesmo criptozoológicas.

Aproveitando o conhecimento de ponta da física quântica e da consciência humana, alguns cientistas sugeriram que a inteligência não humana — potencialmente responsável por operar certos UAP — pode ser tão essencial ao nosso ambiente quanto outros fenômenos naturais.

No entanto, atualmente não temos as ferramentas para observá-los ou medi-los usando métodos científicos convencionais.

Outra hipótese apresentada pelos cientistas da AATIP sugere que o UAP pode se originar das profundezas dos nossos oceanos. Há uma correlação bem documentada entre grandes corpos d'água e a atividade de UAP, o que pode explicar por que a Marinha dos EUA relatou mais incidentes do que os outros Serviços. Notavelmente, em junho de 2024, a Administração Oceânica e Atmosférica Nacional relatou que apenas 26,1% do fundo do mar global foi mapeado com tecnologia moderna de alta resolução.

Fonte: https://content.newparadigminstitute.org/uploads/2025/02/House-Oversight-QFR-Elizondo-Dec.-2024.pdf

Material  traduzido via Google.


quinta-feira, 13 de fevereiro de 2025

O termo "alienígena" na obra do Dr. Carlos Castaneda - 2ª parte


 

- Você deve entender de uma vez por todas que essas são coisas normais na vida de um feiticeiro. Você não está ficando louco; está simplesmente ouvindo a voz do emissário do sonhar. Depois de atravessar o primeiro ou o segundo portão do sonhar, os feiticeiros chegam a uma fronteira de energia e começam a ver coisas ou a ouvir vozes. Na verdade não são vozes, e sim uma única voz. Os feiticeiros chamam-na de voz do emissário do sonho.

- O que é o emissário do sonho?

- Energia alienígena consciente. Energia alienígena que procura ajudar os sonhadores dizendo coisas. O problema com o emissário do sonho é que ele só pode dizer o que os feiticeiros já sabem ou deveriam saber, se valessem o que comem.

- Dizer que é uma energia alienígena consciente não me ajuda em nada, Dom Juan. Que tipo de energia? Benigna, maligna, certa, errada, o quê?

- É exatamente o que eu disse: energia alienígena. Uma força impessoal que transformamos em muito pessoal, porque tem uma voz. Alguns feiticeiros têm confiança absoluta nela. Até mesmo a vêem. Ou, como aconteceu com você, simplesmente ouvem-na como voz de homem ou de mulher. E a voz pode falar com eles sobre o estado das coisas, o que na maior parte das vezes é visto como um conselho sagrado.

- Por que alguns de nós ouvimos essa energia como se fosse uma voz?

- Nós vemos ou ouvimos porque mantemos o ponto de aglutinação fixo num determinado posicionamento; quanto mais intensa a fixação, mais intensa nossa percepção do emissário. Cuidado! Você pode vê-lo e senti-lo como uma mulher nua.

Dom Juan riu do que disse, mas eu estava assustado demais para levar na brincadeira.

- Essa força é capaz de se materializar?

- Certamente. E tudo depende de como o ponto de aglutinação está fixo. Mas fique tranquilo, se você for capaz de manter um grau de desapego, nada acontece. O emissário continua sendo o que é: uma força impessoal que age em nós por causa da fixação do ponto de aglutinação.

- E o conselho dele é garantido?

- Não pode ser um conselho. Ele só diz o que é o quê, e nós tiramos as conclusões.

Contei a Dom Juan o que a voz me havia dito.

- É como eu falei - Dom Juan observou. - O emissário não disse nada de novo. Sua afirmação estava correta, mas só na aparência era uma coisa reveladora. O que o emissário fez foi meramente repetir o que você já sabia.

- Acho que não posso dizer que já sabia aquilo, Dom Juan.

- Pode sim. Agora você sabe infinitamente mais sobre o mistério do universo do que suspeitava em termos racionais. Mas esse é o mal dos seres humanos: sabemos mais sobre o mistério do universo do que suspeitaríamos. Ter experimentado sozinho esse fenômeno incrível, sem o apoio de Dom Juan, fez com que eu me sentisse exaltado. Queria mais informações sobre o emissário. Comecei a perguntar a Dom Juan se ele também ouvia a voz do emissário.

Ele me interrompeu e disse com um sorriso largo:

- Sim, sim. O emissário também fala comigo. Quando eu era jovem costumava vê-lo como um frade vestindo um capuz preto. Um frade falador que me deixava apavorado todas as vezes em que surgia. Depois, quando meu medo ficou mais manobrável, ele tomou-se uma voz sem corpo, que até hoje me diz coisas.

- Que tipo de coisas, Dom Juan?

- Qualquer coisa em que eu focalize meu intento; coisas que não quero ter o problema de rastrear sozinho. Como, por exemplo, detalhes sobre o comportamento de meus aprendizes. O que eles fazem quando não estou por perto. Ele me diz coisas sobre você, em particular. O emissário me diz tudo que você faz.

Naquele ponto eu realmente não me preocupava com a direção que nossa conversa tomara. Revirei freneticamente o pensamento em busca de perguntas sobre outros tópicos, enquanto ele gargalhava.

- O emissário do sonho é um ser inorgânico? - perguntei.

- Digamos que o emissário do sonho é uma força que vem das esferas dos seres inorgânicos. É por isso que os sonhadores sempre o encontram.

- Quer dizer, Dom Juan, que todo sonhador ouve ou enxerga o emissário do sonho?

- Todos ouvem o emissário; muito poucos o veem ou sentem-no.

- Você tem alguma explicação para isso?

- Não. Mas realmente não me preocupo com o emissário. Num determinado ponto de minha vida precisei decidir se me concentrava nos seres inorgânicos e seguia as pegadas dos feiticeiros antigos ou se recusava isso tudo. Meu professor, o Nagual Julian, me ajudou a decidir pela recusa. Nunca me arrependi dessa decisão.

- Você acha que eu deveria recusar os seres inorgânicos, Dom Juan?

Ele não respondeu. Em vez disso explicou que toda a esfera dos seres inorgânicos tem sempre uma postura de ensinar. Talvez porque tenham uma consciência mais profunda do que a nossa, os seres inorgânicos sentem-se compelidos a nos manter debaixo de suas asas.

- E eu não vejo nenhum sentido em virar aluno deles - acrescentou. - O preço é alto demais.

- Qual é o preço?

- Nossas vidas, nossa energia, nossa devoção a eles. Em outras palavras, nossa  liberdade. 

A Arte do Sonhar, de Carlos Castaneda, Cap. 04, Fixando o Ponto de Aglutinação.

terça-feira, 11 de fevereiro de 2025

Bruxaria, Magia e Xamanismo - parte 11 (final) - por Nuvem que Passa

Caminhos Naturais

Magia, Xamanismo e Bruxaria são caminhos amplos, caminhos que envolvem tradições ancestrais, tradições que surgiram como resultado do trabalho dedicado, de estudo sistemático do mundo por parte de gerações incontáveis de praticantes.

Existem muitas vertentes que se autodenominam com estes termos¹, o que exige do(a) buscador(a) sincero(a) muita atenção, pois existe a Tradição e existem também muitos achismos sobre o que é a TRADIÇÃO. Existem ramos deste conhecimento que vêm da mais remota ancestralidade, mas existem também ramos bem recentes destes conhecimentos nascidos do trabalho de pessoas que se interessaram pelo tema, mas em vez de manter o SABER da TRADIÇÃO, o impregnaram com seus (pre)conceitos.

Há também o(a) iniciado(a) que recebeu conhecimento e energia de uma Tradição. E existem aquelas pessoas que se arvoram em herdeiros(as) apenas para fazer desses caminhos um campo para seus egotismos, campo para suas idiossincrasias pessoais.

É fácil reconhecer pessoas assim, adotam sempre uma atitude proselitista, sempre querendo provar que ‘seu’ caminho é ‘superior’ e veem nos títulos e graus iniciáticos a justificativa para vangloriar-se e se exibir, deixando óbvio que a iniciação não resolveu nada em sua realidade existencial, apenas serviu para ampliar a autoimportância.

Muitas pessoas vão ao Poder sem trabalhar a vaidade pessoal, impérios inteiros caíram no passado devido a isso — o mergulho no além, no transcendente, sem antes resolver o imanente, o aqui e agora.

Existem muitas tradições e propostas que se apresentam sob essas denominações, e é importante frisar que as colocações que faço se referem a caminhos telúricos, caminhos cuja sintonia com a TERRA enquanto ser vivo e consciente é fundamental.

O ser humano foi se afastando da Terra enquanto ser vivo em sua caminhada através das eras. Vamos observar que com o advento da agricultura e das cidades as pessoas foram levadas a operarem em um ritmo diferente, embora ainda ligado aos ciclos da Natureza.

Entretanto, com a perseguição das tradições ancestrais pela Igreja Românica e o advento da era industrial, há um rompimento com a percepção dos ciclos naturais. Os seres humanos, em sua maioria, passam a viver em ritmos completamente artificiais cada vez mais isolados da Natureza.

Portanto, caminhos telúricos exigem todo um trabalho de ressintonia por parte de quem foi criado no ritmo da cidade e da indústria.

A proposta do Xamanismo, da Magia e da Bruxaria, no contexto telúrico, difere um pouco daquelas tradições voltadas a seguir preceitos prontos. Estes caminhos telúricos valorizam a prática. Estão ligados a uma sintonia efetiva entre quem os pratica e os ciclos e forças da natureza, sem que, no entanto, haja adoração de forças ou seres.

Aqui não há projeção de um ‘pai-mãe’ psicológicos, mas sim uma clara proposta de compreender entes e poderes como forças impessoais, sem projetar nossos medos (quando transformamos esses seres em ‘demônios’), nem projetar nossas carências (quando transformamos esses seres em ‘anjos’). A proposta é perceber que tais entes são o que são. Energia consciente alienígena com as quais podemos entrar em contato, desde que saibamos o que estamos fazendo.

Nestes caminhos, ritualizar em um Solstício e trabalhar com o Sol não é adorar forças, mas elaborar uma teia de ressonância com estas forças que passam por estes momentos de poder como o Solstício. É saber que somos parte do Sol e que ritualizar é reatualizar o mito em nós.

Uma xamã que conheço insiste sempre que quando praticantes destes caminhos se ajoelham na Terra, estão se aninhando no seio de sua mãe, nunca implorando ou se subjugando para adorar uma força externa.

Trabalhamos a partir da sensibilidade das pessoas neste enfoque. Cada rito, cada celebração acontece em sintonia com as forças da Natureza e suas manifestações.

Somos parte da Natureza, a Natureza nos criou para desempenharmos um papel muito específico em um amplo contexto. Como enzimas em um organismo cósmico, nosso existir está em harmonia com o existir da Terra, da Vida e de seus ciclos.

O que chamamos de emoção e raciocínio, estas duas formas que temos de reagir a realidade circundante, não nasce em nós. Pois para estes caminhos fica claro, após as práticas de auto-observação, que as emoções e as racionalizações acontecem em nosso campo emocional e mental, mas não ‘nascem’ em nós.

Assim como nosso código genético, assim como os carmas, as emoções e raciocínios que reproduzimos vem sendo elaborados pelos organismos há eras, com finalidades que vão além de nossa compreensão racional.

Este é o primeiro trabalho que uma escola iniciática propõe ao(à) neófito(a): aprender sobre si mesmo(a)². Diferenciar o que fizeram de nós, daquilo que somos em essência, uma essência perceptiva que pode ir além das programações recebidas e originar um ser livre. Que nasce de si, para si, em um contexto distinto daquele que originalmente nascemos.

Podemos ir além do mero emocionar e aprender a SENTIR. Podemos ir além do mero raciocinar e aprender a PENSAR. Podemos ir além do mero reagir e aprender a AGIR. Mas isto exige dedicação, disciplina e um trabalho árduo, pois não temos ‘tendência’ a isto e sim a nos acomodarmos.

Por isso percebemos que todo trabalho iniciático, quando profundo e não apenas formal, implica uma fase de morte para a antiga vida e do renascimento para um novo ciclo.

O ser que nasceu dentro deste contexto que chamamos realidade, tem um script pronto, um papel a desempenhar na realidade da vida.

Energias que vêm dos planetas e de outras realidades passam por nós e as elaboramos para que sejam absorvidas pela Terra, por isso considero perfeita a analogia com enzimas para nossa condição.

Somos metabolizadores de energias diversas na direção da Eternidade para a TERRA e também da TERRA para a ETERNIDADE. Essa me parece a origem dos ritos telúricos, momentos nos quais praticamos de forma consciente este nosso papel de transformadores de energias diversas.

Mas quando queremos ir além disso, quando queremos ir além dessa vida ‘programada’ então surge o caminho iniciático, que nos leva ao confronto com realidades que muitas vezes deixamos de lado. Este aspecto é bem sutil. Há diferenças entre as práticas da Magia, da Bruxaria e do Xamanismo que colocam o ser humano em sintonia com a realidade a sua volta e possibilitam a função transformadora acontecer. Ritos de harmonização com a mudança das estações, com as fases da Lua e muitos outros que podem ser praticados sem que isto implique uma mudança profunda de consciência.

Gurdjieff diz que temos amortecedores, crenças e posturas existenciais que atenuam ou mesmo afastam nossa percepção de certas realidades existenciais. São as abordagens que herdamos das religiões e de certas filosofias de vida, que servem para ‘apaziguar a percepção da realidade’, as abordagens consoladoras.

Assim vamos encontrar muitos caminhos que se denominam ‘xamânicos’, ‘bruxos’, ‘mágicos’ mas que estão totalmente dentro dos paradigmas dos cultos oficiais, onde as mesmas ideias de “pai do céu”, “pecado”, “culpa” e outros conceitos que são a base das religiões oficiais, são adotados apenas com nomes diferentes, mas expressam as mesmas crenças.

O Xamanismo, a Bruxaria e a Magia são abordagens pragmáticas da realidade, não oferecem consolo, do contrário, começam o trabalho por vezes doloroso mas necessário de desmontar todos os ‘amortecedores’, as explicações que nos deram e as quais aceitamos sobre nossa própria realidade e o mundo a nossa volta.

Estes são caminhos naturais, ou seja, não valorizam em demasia a mente racional, pois consideram que a mente racional é fruto de uma série de convenções. Quando tentamos explicar e descrever a realidade, o fazemos através de palavras, e estas têm limites.

A palavra é fantástica, tem um poder tremendo, estamos nos comunicando aqui graças à palavra, mas ela tem limites. Existem fronteiras além das quais esta é ineficaz, pois a sintaxe de nossa linguagem é convencionada, vem da memória, dos códigos já apreendidos. E o novo, o além da realidade não pode ser expresso com base no já vivido.

Por isto o ‘silêncio’ é tido como o grande revelador, a forma mais sofisticada de conhecimento, que vem não da mente racional mas de um estado de insight, o qual brota a partir de práticas que conduzem a este estado ‘alterado’ de consciência que é o silêncio.

Assim o Xamanismo, a Magia e a Bruxaria tem sua base em práticas e estruturas de conhecimento que permitem uma participação efetiva do(a) aprendiz. Nestes caminhos é considerado conhecimento o que praticamos. Apenas falar teoricamente a respeito destes implica dizer muito pouco.

Esta crença exagerada na palavra é um atributo desta civilização na qual estamos. Há um “livro sagrado”, a “palavra de Deus”, rezas e orações. Em caminhos profundos como o Zen, o Taoismo e outros tem-se a mesma percepção que o Xamanismo, a Bruxaria e a Magia. Palavras aludem, mas não revelam. A experiência do transcendente precisa ser vivida diretamente, as palavras ajudam um pouco, porém a vivência direta se dá no ‘silêncio’.

No Xamanismo, na Bruxaria e na Magia a Tradição está contida em ritos, práticas e conhecimentos que restabelecem a sintonia do ser humano com a VIDA, com a NATUREZA e com a TERRA enquanto ser vivo e consciente.

Acreditamos que durante a existência da humanidade fomos contatados por diferentes tipos de seres. Muitos ramos de Magia colocaram esses seres como ‘Deuses e Deusas’, ‘anjos’ e também ‘demônios’ quando considerados ‘inimigos’.


Na Magia, Xamanismo e Bruxaria que estudamos aqui há a plena consciência que vivemos em um universo predador, um universo em que há luta pela consciência e energia. Assim procuramos evitar posturas de adoração em relação a estas forças e seres. Mesmo que alguns deles estejam para nós como uma estrela está para uma vela, ainda assim, são seres. E apesar de apresentarem ciclo de vida com enorme duração, nascem e morrem como nós.

O ser humano, vivendo na cidade e longe da natureza, pode alimentar algumas fantasias sobre a realidade que não vingariam se o mesmo estivesse em uma mata. Quando estamos a sós em uma floresta ficamos agudamente conscientes de que estamos entregues às nossas habilidades e que ninguém virá nos ‘proteger’. O mesmo acontece quando soltos na Eternidade e visitando outros mundos.

Ao deixarmos os mundos da ilusão, os mundos que não geram energia em si mas apenas foram projetados pela força de comunidades ancestrais, vamos encontrar mundos diversos, com seres diversos, com sua própria realidade, realidade que corresponde a seus próprios interesses.

Não há ‘guias protetores’, ou ‘anjos bondosos’ para a concepção do Xamanismo, da Magia e da Bruxaria que estudamos aqui. Podemos estabelecer relações de simbiose e mutualismo com seres de outras realidades, mas para isso se faz necessário foco e atenção total, do contrário correremos riscos tremendos de nos colocarmos à mercê de forças e seres que possuem sua própria agenda.

O Xamanismo, a Magia e a Bruxaria que estamos estudando aqui não colocam o ser humano como ‘ápice’ da Criação, aliás a própria ideia de criação é questionada. Trabalhamos com a noção de ‘emanação’, fomos emanados, nós e toda a existência, a partir da ‘Não-existência’. Esta emanação revela a própria ETERNIDADE assim como suas realizações.

De forma que em um trabalho iniciático mais profundo nesses caminhos não temos uma abordagem antropocêntrica da realidade, não vemos entidades apenas com forma humana, nem reduzimos a realidade aos limites da percepção humana. Mas procuramos justamente desenvolver nossa habilidade de mergulharmos no ‘não humano’, no além do humano, algo que só é possível depois de realizarmos plenamente nossa humanidade. Pois para irmos além do humano precisamos antes conhecer de fato o humano. E não estagnar nesta postura muitas vezes insossa e alienada que nos é imposta.

Expandir a consciência exige que tenhamos consciência. Operacionalizar a VONTADE é algo que exige trabalho e a capacidade de sair da mera ‘reação’ para irmos à ‘ação’. Por isto a auto-observação é fundamental para reunirmos informações sobre o que somos de fato, sobre o que fizeram de nós e então termos a coragem de abandonar o já marcado caminho que nos foi imposto para ousar o novo, o impensado. Então deixamos de ‘sobreviver’ e começamos a viver, algo raro em nossos dias de pessoas que ‘seguem’ e se alienam de si mesmas.

É um desafio que vale a pena entretanto.

Nuvem que Passa


Notas

¹ Nas obras do Dr. Carlos Castaneda vemos que o termo "feitiçaria" é usado para tentar definir o conhecimento transmitido por Don Juan Matus, e conforme o próprio entendimento de seu aprendiz outras definições iam sendo dadas, por exemplo: 

"Em várias ocasiões Don Juan tentou, para o meu proveito, dar nome ao seu conhecimento. Ele sentia que o nome mais apropriado era nagualismo, mas que o termo era obscuro demais. Chamá-lo simplesmente “conhecimento” tornava-o vago, e chamá-lo “bruxaria” seria rebaixá-lo. “A mestria do intento” era muito abstrata, e “a busca da liberdade total” longa demais e metafórica. Finalmente, por ser incapaz de encontrar um nome mais apropriado, chamou-o “feitiçaria”, embora admitisse não ser realmente adequado" - O Poder do Silêncio, de Carlos Castaneda.

² Recomendamos o texto "O Trabalho", do mesmo autor.

Sinal de Fumaça

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