quinta-feira, 6 de março de 2025

A Revelação Alienígena


A revelação alienígena já ocorreu, mas nada tem a ver com essa que querem nos apresentar.

Pois a que está em voga agora, conduzida por um (des)governo que sempre ocultou os fatos e por um narcisista maligno propagador de falsas narrativas, marionete da pós-verdade, não merece nenhum crédito, nenhuma confiança.

A rede está armada e muitos incautos caíram e cairão. Vão misturar verdades e mentiras, farão o jogo da manipulação para assegurar a fonte de suprimentos deles, nós.

Religiões tem sido usadas ao longo da História como instrumentos de manipulação.

Agora pretendem criar uma religião alienígena, com os novos anjos e demônios na versão alien. Teremos até um salvador alien. Vários projetos religiosos são conduzidos e incensados dentro desta concepção: cientologia, mórmons, raelismo, etc.

Aliás, alienígena é um termo que espelha muito bem o nosso egocentrismo, pois excetuando a nós mesmos tudo o mais no universo pode ser categorizado como tal.

Tal egocentrismo é que precisa ser revelado em sua origem, tal condição não é natural, é anti-natural, até por destruir a própria casa, assassinar os seus semelhantes, matar a própria Mãe e cuspir no próprio prato que come, o planeta Água.

Mas quem quer revelar a si mesmo?

Olhamos para fora, mas não olhamos para nós mesmos.

A verdadeira revelação já ocorreu, mas quem tem olhos para ver e ouvidos para escutar?

Para a revelação de fato ocorrer (para que ela se tornasse clara, apesar de pública) uma outra precisaria acontecer e ela nos diz respeito. A antiga frase no frontispício do Templo de Delfos nunca fez tanto sentido.

Nosce Te Ipsum

E se não formos o topo da cadeira alimentar?

E se além de nós algo nos consome?

- Não! Não! Não! Absurdo!

Ecoa a voz no fundo mental, conduzindo o espetáculo macabro nas sombras.

Consumidores sendo consumidos, cevados para o abate.

O Senhor é meu pastor, nada me faltará,
Ele me faz repousar,
Através de verdes pastos, Ele me leva por águas tranquilas,
Com facas brilhantes, 
Ele liberta minha alma,
Ele me pendura em ganchos, em lugares altos.
Ele me converte a costeletas de cordeiro.
Porque eis que Ele tem grande poder e muita fome.
 Pink Floyd na música "Ovelhas".

O nosso problema maior talvez seja a esperança, a droga mais vendida pelas religiões, aquela espera pela salvação externa, pois ninguém quer travar uma luta encarniçada contra o verdadeiro inimigo ao encarar a si mesmo, sua própria mente, que mente e diz: eu sou você (ver o filme Revólver postado aqui).

F.


Um conto sobre os predadores, por Nuvem que Passa (livro)

Saudações! 

Temos aqui um capítulo do romance escrito pelo homem nawal, conhecido nas redes sociais como Nuvem que Passa (uma de suas espreitas). O tema vem bem a calhar, pois trata daquilo que Don Juan Matus chamou de "o tópico dos tópicos", o tema dos predadores, revelado pelo Dr. Carlos Castaneda no capítulo 15 do Lado Ativo do Infinito. Ao mesmo tempo este capítulo do romance, a ser lançado, bordeja outros assuntos que são importantes dentro do Xamanismo Guerreiro através do recurso literário da ficção, pois algumas verdades são mais digeríveis assadas no forno da lenda do que servidas de forma nua e crua.

Ao tocar no tema dos predadores, dos sombrios (termo usado pelo nawal A Lex Sed Rex) somos levados a refletir sobre a própria sombra que há em nós e sobre os riscos que existem dentro da "senda do fio da navalha, cheia de perigos por dentro e por fora", e que, inevitavelmente, se apresentam diante daquele(a) que busca, de fato, o conhecimento.


"Aquele que luta com monstros deve acautelar-se 
para não tornar-se também um monstro. 
Quando se olha muito tempo para um abismo, 
o abismo também olha para você"
Friedrich Nietzche.


*********************************************


Felipe sabia que seu passo era decisivo.

Em algum ponto daquela caverna estava o seu elo de contato.

Desta vez iria além do contato, além do intermediário.

Iria falar com um deles. Ir ao Mundo deles.

Como seria estar lá naquele mundo estranho de sombras mutantes?

Um mundo de seres predadores, conhecedores de segredos de poder.

Ainda se sentia um pouco alterado pelos exercícios que realizara preparando-se para este encontro.

Seus anos de treinamento na Escola de Torhn permitiam-lhe adequar sua percepção a outros níveis de realidade.

Aprendera muito sobre a percepção.

Entendia plenamente que era um ente perceptivo e isto importava.

O que era percebido, o que via a sua volta como realidade, quer física, quer social, era um arranjo perceptivo criado a partir de um consenso.

Visitara muitos mundos e vira como de fato havia sempre um acordo mudo, uma mesma visão da realidade era partilhada por muitos e isso criava um mundo.

Assim pensara até agora.

Há bem pouco descobrira que os mundos e a consciência existem por si.

Toda a existência é composta de energia consciente de si mesma.

Somos entes perceptivos, mas o que percebemos vem lá de fora, são impulsos, irradiações que escolhemos perceber de tal ou qual forma.

O que criamos é nossa interpretação da realidade e esta interpretação está originalmente determindada pelo meio que nos educou.

Felipe aprendeu a rever tudo isso e a criar uma nova visão da realidade.
Felipe sabia de tudo isso e muito mais, mas ainda assim seu coração estava acelerado para um praticante dos exercícios pranayamas.

É para ele estranho praticá-los agora.

Pois tais exercícios lhe foram ensinados pelos mestres e mestras das Escolas de Torhn e neste instante cada passo seu é objetivamente um caminhar na negação de tudo que lhe foi ensinado ali.

Mas Felipe aprendeu a ser suficientemente cínico, para lidar consigo mesmo a princípio.

E assim acalma seus batimenos cardíacos e vai mais longe , amplia ao máximo sua percepção.

Dentro em breve estará no mundo de seres poderosos e predadores.

Seres que desejam a Teia dos Mundos para si.

Felipe descobriu que os Conquistadores eram apenas os capatazes, que os verdadeiros donos do poder eram seres misteriosos alienígenas, usando dos serviços dos Conquistadores rumo a seus próprios fins.

Felipe foi mais longe, teve acesso a esses misteriosos seres.

Sua interação com tais consciências alienígenas o transformaram.

Ele compreendeu aspectos novos do poder e da existência.

Foi seduzido a pactuar com tais seres.

Lhe prometeram torná-lo um deles, não um capataz como os outros, mas um deles.
E agora ali estava ele, dando os passos finais para tal transformação.

Era um traidor e por sua responsabilidade o que poderia levar ainda muito tempo para acontecer, a queda da maior parte da teia nas mãos dos Conquistadoras, agora era algo cada vez mais próximo.

A Teia dos Mundos.

Uma teia, como em uma teia de aranha os mundos se dispuseram pelos abismos vazios.

Se imaginares uma teia, cada ponto de junção de um fio com o outro é um mundo e as linhas entre os mundos são os túneis que ligam de fato um mundo a quatro ou mais outros.

Através desses túneis os seres iam e vinham pela teia, os reinos se comunicavam interagiam e cresciam.

Por eons assim foi.

Mas então surgiram os Consquistadores.

Uma coalizão de sacerdotes seguidores de um culto de culpa, medo e submissão, sempre a espera de uma felicidade futura, assim facilmente manipuláveis no presente.

Eles corromperam guerreiros para servi-los e assim criaram um novo poder.

Esses Conquistadores tiveram seu poder ampliado de uma forma que eles mesmos não esperavam.

Foram apoiados por forças poderosas em suas imaturas disputas por poder e supremacia.

Felipe sabe que não são esses vulneráveis senhores e senhoras de reinos e mundos ou seus estratagemas violentos e destrutivos que, de fato, promovem sua ascenção, mas sim o apoio desses misteriosos seres: os Sombrios.

Inteligências Sofisticadas que vieram à Teia dos Mundos e aqui ficaram presos. Agora desejam tudo destruir para poderem se soltar.

Como uma vespa moribunda capturada em seu vôo que vê na destruição da Teia sua única esperança de salvação.

Forças em luta pela sobrevivência, como a vespa e a aranha na mata.

Felipe sabe que os sombrios são fortes, e vencerão. Assim acredita.

Essa é sua certeza, por isso está pronto a dar um novo passo.

Ele esteve com oráculos, consultou fontes fidedignas de videntes e miradores de estrelas.

Uma fase de grande transformação está se aproximando.

Será um ciclo de desintegração de tudo o que está construído para que só o real resista e o que foi fundado em falhas bases pereça.

Os Conquistadores são destruidores, são alimentados por essa força de forma inconsciente.

Os Sombrios através dos Salvatores canalizam mais e mais energia para si. Dentro em pouco seu poder será mais e mais sensível.

O poder.

Era isto que interessava a Felipe.

"Somos o poder que temos".

Esta frase marcara profundamente a mente de Felipe, frase ouvida do mais carinhoso tom a mais assustadora ira.

Seu pai jamais permitira que ele esquecesse que era dele, só dele a responsabilidade de manter o poder na família.

Felipe ria do seu velho e decrépito pai.

Ele tinha razão em parte.

E a terrível disiciplina que lhe impingiu facilitou seu treinamento, impediu que desenvolvesse emocionalismos inúteis como seus companheiros de estudo.

Balder, o filho de Torhn.

Um semi-deus.

Enquanto Felipe viveria por muitos e muitos katuns, como todos os outros de sua raça, Balder viveria por muitos e muitos baktuns.

Foram amigos, mas Balder era um idealista, com sonhos de nobreza, de servir ao seu povo e outras tolices de mentes imaturas que não compreendem a dura solidão e ferocidade do mundo.

Balder tinha a fraqueza da compaixão e Felipe não suportava tal fraqueza.

Tornaram-se competidores em tudo até que a hábil direção da escola colocou-os em campus diferentes visando impedir o surgir de uma rivalidade mais séria.

Felipe estava agora no último trecho da longa caverna.

Aqui ela se abre em duas entradas distintas.

Quem habitaria o eremitério da esquerda?

Já dentro do lado direito continuou a descer e descer, depois subiu muitos degraus encaracolados tendo a um lado inscrições e desenhos de uma beleza inquietante, símbolos grafados antes dos tempos atuais, por seres que há muito partiram.

Após contarem uma história de poder e força, da conquista de poderes e mundos por feiticeiros e feiticeiras de vasto poder as inscrições terminam abruptamente com avisos em tinta brilhante sobre os perigos que cercavam tais caminhos e que o poder exterior era sempre ilusório.

Símbolos alertando ao que sobe sobre os riscos que ele está prestes a desencadear sobre si e sobre seu povo.

- "Talvez mais, talvez muitos povos", pensava consigo.

Poucos já estiveram naquelas cavernas, onde ao redor de grossas estalactites e estalagmites degraus espiralados levam a muitos nichos nelas escavados.

Se, talvez, Felipe tivesse ido mais cedo para as Escolas no Estado de Torhn, se houvesse recebido outra educação, talvez sua consciência, forjada a partir de influências mais despertas, tivesse o poder de alterar seus próximos passos.

Mas Felipe é filho de Irgio, e Irgio foi um pequeno senhor de poucas terras e muitas ambições.

A frustração de seus planos foi atribuída a sua falta de poder e o pequeno Felipe teve seu intelecto brilhante, sua grande força interior doutrinados para buscar o poder, o poder sobre outros.

Felipe esteve nas Escolas de Torhn.

Foi um aluno brilhante, mas fugiu.

Faz poucos kins, há poucos kins atras ele estava em seu retiro, preparando-se para testar suas habilidades nas trilhas místicas da floresta Icamiaba.

As Icamiabas.

Mulheres guerreiras que viviam no mundo-floresta.

Icamiabas, As Escolas de Tohrn estão em seu mundo e nele tem santuário.

A vasta floresta Icamiaba, com suas milenares árvores Uru, cheias de tal poder que em elo com sonhadoras Icamiabas podem impedir que qualquer nave sobre elas voem.

O mundo Icamiaba com seus vastos 2 continentes cobertos de florestas.

Em um ponto dessas florestas está o Estado de Thorn, um lugar ancestral.

Ali estudaram em outros tempos todos os futuros governantes de vários povos.

Homens e mulheres aprimoravam ali seu talento para apoiar seu povo em seus caminhos de vida.

O Estado de Thorn, protegido de leste a norte, de norte a sudoeste pela floresta Uru.

De sudoeste a leste um grande abismo, uma fissura na casca de terra, aberto para bolsões de uma substância instável da qual bolhas de plásmica energia sobem até muitos metros da fissura e que ao explodirem emanam tal radiação que mesmo os mais experientes voadores em tapetes de El Sarer não conseguem passar sobre a fissura.

Assim, naturalmente protegida, por muitos baktuns, está a Escola de Torhn, com suas alas, uma grande cidade, integrada à grande floresta, esculpida na rocha e armada sobre o grande lago.

O Estado de Torhn é uma confederação composta por muitos núcleos, onde habitantes de diversos mundos, ou mesmo de povos diferentes do mesmo mundo se estabeleceram após terem conseguido fugir da invasão de seus lares natais pelas tropas dos Conquistadores.

Arquiteturas de todo o tipo serviam como salas de aula, áreas de treino e laboratórios.

Com o crescente poder dos Conquistadores, uma coalizão de senhores e senhoras ambiciosos e belicosos, sem nenhuma ética e prontos a usar outros seres humanos como objeto para alcançar seus objetivos, os povos que ainda estavam livres enviavam seus futuros líderes para que se desenvolvessem e fossem sábios e sábias em seu governar.

Mas os Conquistadores cresciam e se tornavam mais fortes.

Se autointitulam "Nóbiles" e fazem pactos entre si, contra aqueles que ainda apoiam as velhas câmaras do povo, onde todo cidadão podia discutir sobre os destinos de sua comunidade.

Antes, entre os povos da maioria dos mundos da teia, eram os chefes figuras de grande capacidade de consenso, a semelhança do que ainda ocorre em algumas tribos.

Palavras distantes ecoaram em sua mente:

-“Portanto, o que esta nova elite de poder vem fazer é destruir a capacidade de autonomia, de ver e perceber com senso apurado o mundo.

Sistematicamente os conquistadores destroem nos mundos que dominam a capacidade dos seres de tomarem decisões. Assim, em poucas gerações, doutrinados e limitados entregam os seres o controle de suas vidas e a capacidade de decidir a gigantescos organismos, as instituições que os Salvatores mantém para dominar ideologicamente os mundos, nos quais as armas já mataram aqueles que poderiam reagir.

Porque assim isolados, inseguros, cairemos nas malhas da rede desses pescadores de consciência.

Assistiremos mundos e mundos renunciarem à liberdade do mar, para nadar em tanques seguros, tediosamente seguros. Até serem servidos no jantar.

Um súbito ranger de ferrolhos arrancou Felipe de seus devaneios.

Por que a aula de Tessálio lhe viera à mente agora?

Sim, Tessálio tinha razão.

Mas ele mesmo estava preso.

Felipe ousara mais, iria mais longe.

"Busque o inesperado, faça o novo."

Será que seus mestres apoiariam o "novo”que estava pronto a fazer, o inesperado?

Talvez não fosse novo seu ato, pois a traição bem antiga é, mas inesperado sem dúvida seu ato seria.

Tinha certeza que Tessálio e o Xamã já sabiam de suas reais intenções.

Eles não negariam seu acesso ao coração da teia se já não soubessem o que de fato levava em sua mente.

Com certeza já sabiam há muito de suas reais intenções e estavam tentando atraí-lo de volta.

Sim, desde alguns tuns, muitos tuns estavam agindo de forma diferente com ele.
Sentiu uma ponta de raiva dentro de si por não ter percebido antes o que agora lhe era óbvio.

Todos a sua volta já sabiam que ele era um traidor.

Até mesmo Aliaanará, a forma sutil como ela tomou de volta a esmeralda que ele recebera dela tuns atrás e que era um elo entre ele e as Icamiabas.

Bancara o tolo e sua importância pessoal reagia a isso.

Tolos.

Espertos, mas tolos.

Eles mesmo não alertavam para o perigo do Poder?

Teriam uma noção exata do que era o Poder de fato?

Com suas disciplinas éticas viviam a conter-se, não exercendo plenamente suas possibilidades.

Não, este caminho poderia levar alguns a algum lugar mas não era definitivamente o caminho de Felipe.

Ele sabia que estava ali para testar o poder pleno, um caminho solitário.

Solidão.

Saudade.

Aliaanará.

Ela negou-se a estar com ele.

Como era possível negar o amor e a imortalidade por um conjunto de ideais falsos de liberdade e ética.

Alianará. Ela o amava também, mas o que era o amor?

Não seria apenas uma forma do corpo manifestar uma extrema atração sexual, um reconhecer de cheiros e texturas que gritam aos gens que carregamos que encontraram no outro um vetor de bons elementos para cruzamento?

Compreendia a absoluta falta de sentido em tudo, a efemeridade de tudo e todos, e a vã ilusão de seus planos.

"O poder que temos é o que somos".

Disso ele tinha certeza.

Todos diziam isso.

Mas nas Escolas de Torhn eles insisitam em usar o poder interior e não interferir com o exterior.

Essa era a fraqueza deles.

Mais tarde saberia usá-la.

Teria coragem de estar no ataque?

Ele sabia qual era o ponto fraco de toda a proteção ao Estado de Torhn.

A mata era a guardiã daquele mundo e era protegida por magia.

Mas em Midgard havia um elemento artificial.

Plutônio.

Ele era instável demais e ao mesmo tempo inacessível a magia dos teúrgicos.

Aliaanará.

Teria coragem de enfrentá-la, como oponente?

Ele a conhecera na Escola de Torhn.

Apaixonou-se por ela como as sombras de um pântano se apaixonam pela luz límpida da aurora.

Com intensidade e tristeza por saber que tal luz seguiria seu caminho e ele, pântano, já estava condenado a mergulhar mais e mais em suas sombras, em busca de algo que poucos ousavam vislumbrar:

O poder.

Viveram juntos segundo os costumes da escola, em alojamentos para os que desejavam viver com alguém.

Aliaanará era a provável sucessora da líder das Icamiabas do seu continente (o mundo Icamiaba possui apenas dois vastos continentes, gelados nos polos e todo o resto coberto de floresta,  no mais é um grande mar).

Embora partilhassem um incrível afeto, já àquela época, Felipe sabia qual era seu destino.

Ele buscava o poder, o poder puro.

E sabia que o poder sobre si mesmo tão alardeado pelos adeptos do Chi interior não lhe seria suficiente.

"O ser humano é muito diminuto perante o vasto todo. Se desejo conhecer o poder exercê-lo-ei além das fronteiras de mim mesmo."

Tudo isso passou pela mente de Felipe, mas quando a grande e pesada porta de ferro frio se abriu sua mente estava limpa e aberta.

Felipe mais uma vez usou o saber de seu treinamento.

Limpou sua mente de tudo, inclusive dos conceitos que eles lhes deram.

Assim nada estava a perturbar-lhe a percepção quando sentiu a energia dos Sombrios ativando o portal.

Pela primeira vez iria além do espelho.

O espelho não mais seria o canal de contato entre ele e o misterioso ser das Sombras que há muito era seu real mestre.

Agora Felipe estava pronto.

Sem intermediários.

Seu lance já estava dado.

A mensagem que enviara ao conselho dos Senhores e Senhoras reunidos no Reino de Bispou já devia estar sendo lida.

Com que assombro não estaria sendo ouvida.

Se os Senhores e Senhoras da guerra, maioria no conselho, entendessem a vantagem que lhes estava sendo oferecida não excitariam em dar total apoio a Felipe.

Bispou tentaria impedir, mas Felipe tinha o trunfo final.

Bispou era um crente.

A religião dos Salvatores era apenas um instrumento de manobra ideológica para converter e dominar os povos.

A maioria dos Senhores e Senhoras tinha um comprometimento apenas formal e aparente com tais credos.

Mas Bispou secretamente acreditava em certos credos dos Salvatores, acredita em seus deuses. Participara dos rituais secretos onde o Prior dos Salvatores e seus aliados contatavam os Deuses.

Deuses!

Eram seres de incrível poder, consciências muito mais amplas e profundas.

Mas seres, não deuses.

Bispou apesar de todo o poder de suas legiões, criadas em condições extremas, era frágil por ser um seguidor.

Ele havia transformado seu mundo num lugar terrível para gerar ‘soldados perfeitos’.

Apenas um elite vivia em condições mínimas, o resto do planeta condenado a uma vida em condições sub humanas, em situações de extrema penúria e expostos a climas desregulados devido a agressões constantes ao meio ambiente.

Além das tantas outras agressões, Bispou e seus engenheiros comportamentais levavam todos a experimentarem, aquele profundo senso de derrota, inutilidade e frustração que depois bem trabalhados geravam máquinas humanas prontas a matar, odiando o que quer que lhes mandassem odiar, inconscientes da magia e do valor das próprias vidas, assim sem nenhum respeito para com qualquer vida.

Nesse meio adverso Bispou treinava seus soldados desde crianças.

Eram verdadeiras máquinas de matar, resistentes, bitolados, incapazes de pensar por si mesmos exceto em assuntos onde a destruição do inimigo fosse a meta.

E inimigo era sempre aquele que Bispou habilmente sabia apontar, mostrando que se fossem eliminados haveria uma vida melhor para todos.

Seu exército genocida e as armas que desenvolvera, testando-as inclusive em seu próprio mundo, lhe dava grande poder no Conselho.

Ele era um dos líderes dos Conquistadores.

Mas com sua crença era manipulável.

Como muitos outros cria nas manobras dos Salvatores e em seus Deuses.

Tinha a carência de um pai psicológico, o medo de assumir a solidão da existência e o profundo desamparo ao qual todos estão de fato expostos.

Felipe recebera outra educação e aprendera que existem seres em muitas escalas de poder, mas eram seres, não deuses.

E ele entraria em contato com tais seres agora.

Estaria em sua morada.

Sorriu ante a ironia do que estava por fazer.

Pensou nos personagens das sagas sagradas dos vários povos que diziam ter conversado com seus deuses ou intermediários destes.

Ao menos Felipe sabia que ele não seria logrado.

Não era um crente devoto amedrontado em busca de um pai psicológico que atravessava o portal.

Era um ser consciente que havia aprendido a desenvolver um profundo senso de análise e observação.

Então atravessou a moldura do grande espelho ígneo.

De fato o fogo não o queimou.

Mas o brilho o levou para muito, muito longe, fora da teia, um mundo parasita, no nosso preso.

Felipe estava num vasto túnel.

Sentia tudo a sua volta em tons de enxofre e ocre.

Alguns seres em forma de chamas bruxuleantes mas semi-opacos se aproximaram.

Subitamente todo o local tomou a forma de uma vasta sala de piso quadriculado e horizontes a perder de vista.

-Não! - disse Felipe e sua voz era um som disforme e pesado, como uma gosma sólida a escorregar pela língua e sair no ar a sua frente.

A imagem desapareceu e voltaram ao túnel que pulsava com estranha vitalidade.

-"Não fale, sentiu ele em sua mente. Faça como nós".

-"Não quero ilusões que acalmem meus sentidos".

Felipe notou certa perplexidade.

Não estavam preparados para tais atitudes.

Ele tinha o treinamento das Escolas de Torhn a seu favor.

Não antropomorfizaria as imagens ficando em lugares paradisíacos que com certeza essas criaturas eram capazes de gerar drenando informações a partir de suas carência profundas.

Aprendera o suficiente para não ser assombrado por seus fantasmas interiores.

Se ia negociar com esses seres desejava estar num ambiente nitidamente alienígena para que seus sentidos estivessem aguçados.

Observou tudo a sua volta.

Era aquele o lugar que o recebiam.

As formas parecendo chamas de vela, que seriam?

Uma delas se destacou do grupo e se aproximou.

Pulsou sua luz até tomar uma forma humanóide.

Felipe sorriu sarcástico.

Aquela forma insinuava sinais de um ser que conhecia bem.

Tudo muito discreto, nada que percebesse se não fosse seu treinamento.

Emitiu seus sentimentos e o ser voltou a sua forma bruxeleante, porém muito, muito mais opaco que uma vela.

Sensações, texturas, sons e cheiros inundaram-lhe a percepção.

Uma torrente de informações sensoriais.

Felipe percebeu o que isso significava.

Eles estavam se comunicando com ele em via direta, sem usar de subterfúgios, de mitos de sua própria cultura.

Sua percepção absorveu as informações contidas naquela comunicação.

Levaria alguns meses em seu próprio mundo para linearizar tudo aquilo, mas a essência lhe era clara.

Fora aceito como aliado, não como servo.

Ele conseguira.

O pacto era um sucesso.

Deixou que uma aparente empolgação o envolvesse e notou que os seres se tornaram menos em guarda ao senti-la.

Felipe se perguntava quantos como ele conseguiram tal aliança?

Só quando estava em seu quarto na segurança de sua câmara que Felipe permitiu-se demonstrar um pouco de suas verdadeiras percepções.

Havia sido um sucesso.

Ele sabia que havia conseguido.

Estava exausto.

Não operava naquele nível de energia há tuns.

Sim, há tuns seus mestres e mestras na Escola de Torhn não o expunham mais a tais campos de energia.

Então já sabiam de sua traição há tanto tempo?

Não importava isso agora.

Ele estava aliado a poderes muito maiores que o "ético caminho" de Torhn e sua escola.

O cosmos é caótico demais.

Há momento que temos de forçá-lo para algum lado.

Domar o dragão.

Uma imagem vem a memória de Felipe.

Tessálio, em uma aula treino.

Ele fala sobre domar o dragão.

Mas ensina a trabalhar o dragão interior.

Felipe sabe que está ousando.

Tais racionalismos o incomodam.

Precisa de energia.

Toca um gongo que ecoa um som ondulante até os corredores, saem para as varandas do pátio interno e despertam a jovem que dorme ao lado da fonte das 7 pedras.

A jovem se ergue, caminha como em transe, só, para estar na porta do quarto de Felipe.

As portas que dão para o corredor do pátio, guardadas por 4 mulheres da guarda pessoal de Felipe.

As guardas pessoais de Felipe estão atentas e, como ouviram o gongo, deixam a jovem passar.

As pesadas portas de bronze com o desenho do dragão incrustado em pedras vermelhas e metal amarelo e verde se abrem.

A mulher entra e observa ausente a cena. As portas são fechadas.

Felipe acaba de acender a grande lareira que fica num canto do quarto.

O quarto redondo tem a um lado uma grande cama com dossel.

Felipe sabe que mesmo no auge de seu poder não poderá abandonar por muito tempo esta região.

É aqui que está o epicentro de seu poder, é seu ponto de máximo poder e sua obra exigirá sempre tal foco.

Aquela cama precisa ser preparada magicamente.

Os sonhadores entre os povos ligados as Escolas de Torhn são muitos e habilidosos.

Não pode arriscar ser abordado por algum agora.

Havia também o pacto com Aliaanará.

Tal pacto o tornava accessível a mulher líder de um poderoso povo, um povo que Felipe sabia que não poderia nunca destruir totalmente.

Ataques limitados como o que faria em breve ainda eram possíveis, mas as Icamiabas possuíam uma magia que estava além de seu poder.

Elas encontrariam seu fim se toda a teia fosse destruída, mas antes deveriam ser mantidas acuadas, mas não destruídas.

Isso lhe tranquilizava em parte.

A menos que Aliaanará se arriscasse desnecessariamente não precisaria matá-la.

Aliaanará viva mantinha uma parte dele mesmo ainda viva.

Ficou de pé observando o fogo crescer na lareira.

A jovem se aproximou.

Era uma escrava enviada por um dos povos que já se submetera a nova ordem que sua mensagem ao conselho criara.

A jovem estava em transe e trazia a bandeira da casa reinante em sua cintura.

Felipe sabia o que devia fazer.

Criar um escudo psíquico a sua volta para que nunca fosse rastreado em sonho.

Sangue seria o veículo.

Sangue virginal.

Suavemente deitou a jovem na cama.

Entre as almofadas acetinadas e o tecido aveludado da colcha a jovem começou a sentir as ondas de energia que Felipe irradiava.

Pulsando o feixe de fibras que todo ser orgânico possui, os humanóides na altura do umbigo, ele já tocava a jovem levando-a a vibrar em desejo.

O corpo maduro, ainda virgem, fora prisioneira de um dos Templos dos Povos das Montanhas de Yarcvr , onde as sacerdotisas virgens guardam seus mistérios e seus himens da curiosidade masculina.

Aos poucos a jovem ardia em prazer.

Felipe entoou os mantras tântricos e a jovem arfou, sequiosa de um membro viril que matasse a fome de seu corpo, até então quase toda saciada nos ritos de sua irmandade.

O som tocava as terminações nervosas, biológicas e o velho instinto, ancestral e dominante possuiu a jovem.

O transe era pleno.

Pulsando seu corpo no mesmo tom Felipe conduziu a jovem pelos caminhos do êxtase tântrico.

Seus corpos se contemplaram, se tocaram com a leveza da brisa e a intensidade das tempestades.

Suor e saliva aos poucos se misturaram.

Sons em tons, específicos tons.

Felipe sabia como conduzir a jovem agora.

Ela estava totalmente entregue em suas mãos.

E ele estava excitado totalmente excitado.

Nunca fora além desse ponto, pois em toda a Escola de Torhn se considera necromancia usar outro ser sem este estar consciente.

Mas o ato que a pouco realizara ao ir ao mundo dos parasitas Sombrios lhe tornava imune a toda consciência moral que ainda pudesse possuir.

A jovem em suas mãos não tem consciência treinada para operar em tais níveis de energia.

Está em transe, vivendo fantasias não realizadas.

Prisioneira de fantasias.

Felipe pulsa seu chacra raiz.

O som, a forma geométrica, a cor, o tom.

A jovem responde.

Ela está tomada, seus centros superiores foram ligados, mas os básicos não sabem como conectá-los.

Felipe liga-se neles.

Chacra a chacra, até que a mulher entra em tal êxtase que ele mesmo quase perde o controle tal o prazer que o possui. Mas sabe manter-se no limiar, sabe envolver-se sem se entregar.

Pleno de um poder estranho ele controla sua ejaculação e conduz a energia pelo caduceu.

Pulsa um campo a sua volta, a volta de onde está e só então deixa que seu membro penetre totalmente a mulher.

Um gemido a leva ao explodir do transe.

Um pequeno fluxo de sangue escorre até a bandeira do povo que a capturou e enviou como tributo.

Já há sangue no pendão.

Sangue dos mortos na luta para salvar a bandeira milenar dos que pretendiam vender seu povo.

Monges ferozes e hábeis, mas poucos.

Desarmados e perplexos demais.

Alguém já disse em algum lugar que a invenção de armas permitiu aos covardes e desonrados dominar o mundo.

Dois sangues, o poder do medo e o poder do prazer inconsciente.

Felipe estava com sua consciência ampliadíssima.

Era um tantrista, adepto do mais terrível e abominável tantra.

Capaz de manter sua consciência operando mesmo em tais níveis de amplitude.

Forjou a bolha de proteção ao redor de si e criou outra ao redor da grande cama.

Sua consciência estava ampla, bordejando outros mundos de pura energia.

Voltou para o mundo cotidiano com os gritos da jovem.

O olhar ensandecido, saltados.

Felipe sabia o que havia acontecido.

Ela fora exposta a mais poder que poderia elaborar conscientemente.

Subitamente inundado por tanto poder seu racional se queimara, se desfizera.

Como um cristal arquivo que se apaga se for exposto a um pulso de certo tom.

Felipe equilibrou sua pulsação e permitiu que uma aparência humana retornasse ao seu olhar.

Era disciplinado o bastante para nunca olhar no espelho, mas sabia que nunca mais teria um olhar humano, a não ser esta paródia vulgar que só o ocultava o fato dos não treinados.

Como enfrentaria o olhar de seus antigos mestres e amigos quando os visse?

Tolice, se os visse novamente seria para assinar suas sentenças de morte, pois ele agora consumara o ato que iniciara há muito, muito tempo, naquele ensolarado dia que descera para os túneis secretos sob o castelo, ainda adolescente, para ser apresentado ao elo sombrio, o ser intermediário que o levara até seu mestre.

Naquele dia trocara o dia ensolarado pelas sombrias cavernas e acreditava dentro de si mesmo nunca ter saído realmente das sombras.

Há tempos se tornara um desgarrado.

Hoje apenas confirmara tal ato.

Chamou suas guardas e elas levaram a jovem.

Quando os gritos da jovem foram ficando distantes, perdidos nos corredores de pedra que levam as alas internas da fortaleza, deixou de pensar no que os soldados fariam com ela.

Sentou-se num nicho de pedra que tinha num dos cantos.

Sobre o nicho cristais das sete cores num arranjo exótico.

Um campo de nulificação.

Ali, dentro daquele campo nenhum psíquico poderia rastreá-lo.

Abriu uma pequena gaveta e dela tirou uma flauta de tom acobreado.

Era uma flauta Parola.

Flautas que eram vendidas com grandes blocos de uma pedra usados como cofre.

O cofre era um cubo da pedra dentro de uma camada de um material radioativo de alta intensidade que ficava dentro de outra pedra.

Assim, nesse arranjo sanduíche ficava o cofre interior.

A flauta, ao ser tocada, criava um cone até o cofre interno, uma abertura.

Se por algum outro meio tentassem abrir o cubo-cofre o material radioativo vazaria, destruindo o material no seu interior e contaminando todo o ambiente e todos que estivessem próximos.

O bico da flauta, onde a língua devia tocar, era mantido liso com um veneno específico, algo que era geneticamente desenvolvido para só não afetar uma específica pessoa.

Era um artificio engenhoso.

Mas o que guardaria Felipe ali?

Um grosso volume de folhas finíssimas.

Capa dura, de madeira talhada e incrustações.

Felipe abre o grande livro e com uma pena e tinteiro põe-se a escrever.

O que não escreveria em seu diário o homem que estava a trair toda a teia e condenar bilhões de seres a morte ou a escravidão?

Nuvem que passa

segunda-feira, 3 de março de 2025

Como canalizar a energia sexual

A energia sexual é um ponto fundamental. Não é à toa que é chamada de brilho da consciência dentro do Xamanismo Guerreiro. Mas é um assunto difícil e espinhoso para quem busca dar os primeiros passos no Caminho já que é "a única energia real que possuímos, que confere vida", pois "através da energia sexual a Águia confere a consciência".

Nesse vídeo temos dicas básicas no que tange a observação de si e da energia sexual, sobre como livrar-se da compulsão e como tornar-se mais consciente no que tange ao uso da energia criadora.


sábado, 1 de março de 2025

Um filme de ação inteligente: Revólver (sobre a mente do predador)




O ego deve ser conscientemente ignorado.

Uma metáfora sobre o primeiro inimigo do homem de conhecimento dentro da tradição tolteca: o medo.

Mas também uma reflexão sobre a estrutura egóica da mente ou aquilo que a tradição tolteca chama de "mente do predador". É isso que há sob o manto da ação neste interessante filme de Guy Ritchie, praticamente um contra-ponto aos filmes de ação, por ser muito inteligente e provocar a reflexão como poucos filmes de ação fizeram. Um exemplo deste tipo de filme é Matrix, Hero, Cidade das Sombras e 13º andar. A diferença de Revólver é que ele é inesperado, cria um efeito surpresa, pois segue a estética do filme de ação. Vale a pena conferir. Naturalmente que fiz aqui uma leitura pessoal e várias outras leituras são possíveis como ficará estampado no final do filme.

Link: https://solarmovieru.com/movie/revolver-12282.html

O filme também pode ser visto no YT dublado ou no Prime Vídeo legendado (para quem é assinante).

Ano de Lançamento: 2006
Gênero: Ação

Sinopse: Depois de Jogos, Trapaças e Dois Canos Fumegantes e Snatch – Porcos e Diamantes, Guy Ritchie volta em Revólver, a história do perturbado Jake, bandidão que sai da cadeia disposto a vingar os anos em que esteve preso. Sua missão é destruir a vida de Macha, um poderoso chefão que passa a maior parte do tempo vestido de rídiculas cuecas, mas que manda matar sem dó. Os dois se envolvem com Lord John, o mais temido de todos os facínoras. Jake, Macha e Lord não são flores que se cheirem. O encontro dos três é nitroglicerina pura pronta para explodir.

obs: publicado inicialmente em 26/10/2011.



sexta-feira, 28 de fevereiro de 2025

Os 3 tipos

Nós vivemos num país, quiçá num mundo, onde a mudança de hábitos já deixou de ser uma opção existencial, agora é um necessidade imperiosa de sobrevivência.

Falar em mudança de hábitos parece um paradoxo nesse momento, pois tal mudança é por definição uma ação de dentro para fora. Quando ela ocorre de fora para dentro ela é uma imposição.

A mudança de hábitos é uma atitude revolucionária, rebelde, insurgente, consciente e não reativa.

Ser forçado a mudar, mudar a contragosto, sujeitar-se a uma imposição externa não é mudar de fato, pois quando a situação se alterar, e não for mais impositiva, a tendência é retornar ao padrão comportamental anterior.

É dito que o Buda falava sobre três tipos de pessoas, comparando-as a burros, paralelo que em si mesmo já é revelador da nossa tendência a apegar-se a padrões. Então, há três tipos de burros (pessoas):

1 - aquele burro que vê a sombra do chicote e isso já basta para ele andar.

2 - o burro que só anda quando leva chicotada.

3 - e um outro que mesmo a base de chicotada não arreda pé, o empacado.

Poderia se dizer que o primeiro burro é capaz de mudar seus hábitos ao vislumbrar a necessidade para tal. O segundo só muda se for obrigado (pelo "carma", pela vida, pelo meio). E, por fim, o terceiro, que não muda nem a chicotadas.

Muita gente se acha o primeiro burro, mas se assim fosse por que estamos do jeito que estamos vivendo todo esse carma coletivo?

O que nos impede realmente de mudar a despeito de tudo e por causa de tudo?

Para concluir, caso você se ache o tal, o Buda nos revela, já de início, que todos nós somos burros, mas há uma chance de deixar de sê-lo.

obs: pelo desculpas aos burros verdadeiros pelo uso da imagem, que não espelha a nossa verdadeira burrice enquanto espécie.

quinta-feira, 27 de fevereiro de 2025

Meninos na esquina e homens de conhecimento




O mensageiro me disse que o hotel tinha restaurante e, quando desci para comer, vi que havia mesinhas na calçada. Era uma arrumação bonita, numa esquina, debaixo de uma arcada baixa de tijolos, em linhas modernas.

Estava fresco lá fora e havia mesas vazias, e no entanto preferi ficar dentro do hotel, onde estava mais abafado. Tinha reparado, ao chegar, que havia um grupo de engraxates sentados no meio-fio diante do restaurante e estava certo de que me perseguiriam se fosse sentar-me numa mesinha lá fora.

De onde eu estava sentado, via o grupo de garotos pela vidraça. Dois rapazes sentaram-se a uma das mesas e os garotos os rodearam, pedindo para engraxar os sapatos deles. Os rapazes recusaram e fiquei abismado ao ver que os garotos não insistiram, voltando a sentar no meio-fio. Depois de certo tempo, três homens de terno levantaram-se e os garotos correram para a mesa deles e começaram a comer as sobras de comida; em alguns segundos, os pratos estavam raspados, O mesmo aconteceu com os restos em todas as outras mesas.

Reparei que os garotos eram bastante cuidadosos; se derramavam água, enxugavam-na com seus próprios panos de engraxar. Notei, também, como eram meticulosos em seus métodos de limpeza. Comiam até os cubinhos de gelo deixados nos copos d'água e as fatias de limão do chá, com casca e tudo. Não desperdiçavam absolutamente nada.

Durante o tempo em que fiquei no hotel, descobri que havia um acordo entre os garotos e a gerência do restaurante: era permitido aos garotos ficarem no local para ganhar algum dinheiro dos hóspedes e também comer os restos, desde que não apoquentassem ninguém nem quebrassem nada.

Havia onze deles ao todo, de cinco a doze anos de idade; mas o mais velho era mantido a distância do resto do grupo. Os outros o ignoravam propositadamente, provocando-o com uma cantilena de que já tinha pelos púbicos e que era muito velho para estar entre eles.

Depois de passar três dias vendo-os procurarem como abutres os mais parcos restos, fiquei muito desanimado, e saí daquela cidade achando que não havia esperança para aquelas crianças, cujo mundo já era moldado por sua luta quotidiana por migalhas.

— Tem pena deles? — exclamou Dom Juan, em tom de pergunta.
— Por certo — disse eu.
— Por quê?
— Porque me preocupo com o bem-estar de meus semelhantes. São crianças e o mundo deles é feio e vulgar.
— Espere! Espere! Como pode dizer que o mundo deles é feio e vulgar? — perguntou Dom Juan, fazendo pouco de minha declaração. — Você acha que sua. sorte é melhor, não é?

Respondi que sim; e ele me perguntou por quê; disse-lhe que, em comparação com o mundo daquelas crianças, o meu era infinitamente mais variado e rico de experiências e oportunidades para a satisfação pessoal e o desenvolvimento. O riso de Dom Juan era simpático e sincero. Falou que eu não estava tendo cuidado com minhas palavras, que eu não podia saber da riqueza e oportunidade do mundo daquelas crianças.

Achei que Dora Juan estava sendo teimoso. Pensei mesmo que ele estava adotando o ponto de vista oposto só para me aborrecer. Acreditava sinceramente que aquelas crianças não tinham a menor possibilidade de desenvolvimento intelectual. Discuti meu ponto de vista mais um pouco e então Dom Juan me perguntou, abruptamente;

— Você uma vez não me disse que, em sua opinião, a maior realização da pessoa era tornar-se um homem de conhecimento?

Eu tinha dito aquilo, e repeti que, em minha opinião, ser um homem de conhecimento era uma das maiores realizações intelectuais.

— Acha que o seu mundo muito rico algum dia o ajudaria a tornar-se um homem de conhecimento? — perguntou Dom Juan, com um ligeiro sarcasmo.

Não respondi, e ele tornou a fazer a pergunta, de maneira diferente, coisa que sempre faço com ele quando acho que não está entendendo.

— Em outras palavras — disse ele, sorrindo abertamente, sabendo certamente que eu estava vendo seu artifício — a sua liberdade e oportunidades o ajudam a tomar-se um homem de conhecimento?

— Não! — respondi, enfaticamente.

— Então, como é que pôde ter pena daquelas crianças? — continuou ele, muito sério. — Qualquer delas pode tornar-se um homem de conhecimento. Todos os homens de conhecimento que conheço foram garotos como os que você viu comendo sobras e lambendo as mesas.

O argumento de Dom Juan deixou-me com uma sensação incômoda. Eu não tinha sentido pena daquelas crianças desprivilegiadas por não terem o que comer, mas sim porque, a meu ver, o mundo delas já as condenara a serem intelectualmente inadequadas. E no entanto, para Dom Juan qualquer delas poderia conseguir o que eu acreditava ser a epítome da realização intelectual do homem, o objetivo de ser um homem de conhecimento. Meu motivo de compaixão por elas era incongruente. Dom Juan me pilhara direitinho.

— Talvez você tenha razão — disse eu. — Mas como é que se pode evitar o desejo, o desejo sincero, de ajudar a seu semelhante?

— De que modo você acha que se pode ajudá-los?

— Aliviando a carga deles. O mínimo que se pode fazer por seu semelhante é procurar modificá-lo. Você mesmo está empenhado nisso. Não está?

— Não estou, não. Não sei o que modificar nem por que modificar nada em meus semelhantes.

— E eu, Dom Juan? Não me estava ensinando para eu poder modificar-me?

— Não. Não estou tentando modificá-lo. Pode acontecer que um dia você se torne um homem de conhecimento, não há meio de se saber isso, mas tal fato não o modificará. Um dia talvez você consiga ver os homens de outro modo e então compreenderá que não há meio de modificar nada neles.

— Qual é esse outro modo de ver, Dom Juan?

— Os homens parecem diferentes quando você vê. O fuminho o ajudará a ver os homens como fibras de luz.

— Fibras de luz?

— Sim, Fibras, como teias de aranhas brancas. Fios muito finos que circulam da cabeça ao umbigo. Assim, o homem parece um ovo de fibras circundantes. E seus braços e pernas são como espinhos luminosos, espocando em todas as direções.

— É assim que todos aparecem?

— Todos. Além disso, todos os homens estão em contato com tudo o mais, não por suas mãos, mas por meio de um punhado de fibras compridas que saem do centro de seu abdômen. Essas fibras ligam o homem a seu ambiente; mantêm seu equilíbrio; dão-lhe estabilidade. Assim, como algum dia você poderá ver, o homem é um ovo luminoso, quer ele seja mendigo ou rei, e não há jeito de modificar nada, ou melhor, o que poderia ser modificado naquele ovo luminoso? O quê?

Uma Estranha Realidade, de Carlos Castaneda.

quarta-feira, 26 de fevereiro de 2025

Predador e ponto de aglutinação, por Nuvem que Passa



obs: carregue o vídeo enquanto lê.

Date: Sex Mai 26, 2000 12:57 am
Assunto: Predador e ponto de aglutinação

Olá
Sim.

O texto do Fernando foi excelente, um dos temas mais complexos e polêmicos dos não menos polêmicos tópicos apresentados pelo Doutor Carlos Castañeda.

Elaborando o texto sobre o "ponto de aglutinação" que em breve enviarei para a lista, pude apreciar o trabalho hercúleo que o Doutor Carlos Castañeda teve em trazer conceitos tão singulares ao alcance de nossa limitada mentalidade ocidentalizada, gerada dentro desta cultura bitolada e consumista.

Com a banalização do chamado esoterismo, quando a fantasia corre solta e o comércio desenfreado que transforma o Xamanismo em lucrativo meio de alguns ganharem dinheiro, sem a correspondente qualidade do produto apresentado, quando o estilo do povo nativo é deturpado em ideias totalmente cristianizadas e ocidentalizadas sob a capa de termos ancestrais, é um bálsamo ler as obras de Charles Spider (um dos nomes do novo nagual) e de suas companheiras.

Mas também é profundamente inquietante pois eles nos trazem de volta a questões que fazemos de tudo para fugir.

Primeiro ponto que lutamos para esquecer é que esta posição confortável que temos na vida, este estar numa casa, com comida, cercado de distrações, tudo isto, é de uma ilusão ímpar.

Para manter tudo isso temos que de alguma forma doar nossa energia a este sistema.

E dia após dia, a tal luta pela sobrevivência pode nos tirar a energia da vida, pouco a pouco, nos sugando.

Este nosso primeiro desafio, aprender a responder as demandas do meio sem nos destruirmos para isso.

Isso não é uma metáfora.

MATRIX não é mera metáfora, é descritiva da condição humana.

Apenas a realidade é pior, pois nossos dominadores, a espécie predadora que nos pastoreia é uma espécie consciente de si, com toda a complexidade que a vida consciente de si é capaz de gerar.

Eu tive acesso a esse tema muito novo, por meios que num outro momento comentarei.

O fato é que comecei a escrever um livro, que estou para lançar agora, onde chamo tais seres de "Sombrios". Isso começou há 16 anos, quando comecei o livro.

Sempre considerei esse tema o mais difícil de colocar em qualquer lugar que ia ser facilitador de alguma vivência, dar palestras ou mesmo escrever sobre o tema Xamanismo. Sempre considerei esse tema impossível de falar com as pessoas.

E ao mesmo tempo me sentia culpado de não falar sobre algo tão sério, tão fundamental.

Quando há coisa de ano e meio li as indicações sobre isso na obra do Novo Nagual um novo horizonte se abriu, um peso enorme saiu de minha consciência.

Não era culpa, era um senso de responsabilidade.

Em vários momentos da minha jornada a obra dos naguais toltecas forneceu subsídio para que eu desse crédito, entendesse ou mesmo não perdesse a sanidade mental, devido a resultantes do caminho que trilhando ainda estou.

Mas a única coisa que eu mesmo não sabia como transmitir, por ser inacreditável, era a tal ideia de sermos mero rebanho de uma espécie alienígena que nos pastoreia ativamente, consumindo nossa energia de forma completa, que nada sobra para requisitarmos nossas reais conexões com a realidade que nos cerca, com a Eternidade.

Este texto coloca uma coisa muito importante.

A mente que usamos no nosso cotidiano é a prisão.

Esta mente não é nossa.

É uma instalação alienígena no mais puro sentido dessa palavra.

E é através dela que nossos pastores nos mantém em seu rebanho aguardando a tosquia sazonal e ao final a degola.

Portanto é claro que uma parte de nosso ser vai gritar que isso é viagem pura.

Tolice sem par, coisa sem sentido e quando menos percebermos já vamos estar pensando em outra coisa, querendo ir a algum lugar, uma ansiedade brota no peito e nos dissipamos, deixamos de ter foco na principal questão.

A mente que usamos normalmente é uma instalação.

O segredo é que podemos ir além dela e então vamos nos libertar, ganhando como bônus tal instalação.

Essa mente gera uma relação com a realidade estática, temos uma realidade apenas, um mundo no qual ficamos fixos.

Agora podemos entrar num tema amplo.

A forma que certos povos compreendem a realidade.

Para alguns povos a realidade é composta em essência de infinitas linhas de energia se estendendo ao infinito em todas as direções mas sem nunca se cruzarem.

Percebam que essa imagem é inacessível a mente usual.

Não temos experiência em perceber um cenário assim. Linhas em todas as direções mas que nunca se cruzam.

Nós seres humanos somos aglomerados de pedaços dessas linhas.

Dizer pedaços seria uma aproximação.

O fato é que somos igual uma bexiga cheia de fios de fibra ótica.

Mas a quase totalidade dos fios está apagada, está adormecida.

Nesta bola toda, só um feixe de fios está aceso.

Um feixe de fios que ocupa um posição central na bola, no sentido longitudinal e na altura de 2/3 da bola há um ponto de brilho intenso.

Esse ponto tem ao seu redor um halo, um brilho.

É esse brilho que ativa esse feixe único que está aceso.

Esse feixe está em ressonância com um feixe externo, com um dos grandes feixes que existem.

Os feixes, internos e externos, em ressonância assim estão porque dos incontáveis fios de energia que passam por esta bola de fibras óticas, apenas um pequeno feixe passa por esse ponto, esse ponto que "aglutina" a percepção.

É o brilho ao redor do ponto que estimula a "consciência" nas fibras que estão dentro da bola.

Assim as fibras selecionadas pelo ponto que aglutina a percepção acendem fibras iguais no interior do casulo, com o brilho da consciência. E nos tornamos conscientes de um mundo.

Como emitir um som numa corda de violão e outra afinada no mesmo tom, ressonar.

Enquanto o ponto continuar aglutinando as mesmas fibras vamos viver na mesma realidade.

O que chamamos educação quer formal quer informal, é uma tática para forçar o ponto de aglutinação a se fixar numa freqüência, isto é, num conjunto de fibras que é o "campo comum" onde foi criada essa civilização dominante.

Fixados nessas fibras, estamos com nossa consciência presa na mesma descrição da realidade de todos a nossa volta.

Se deslocarmos esse ponto que aglutina a percepção para outras fibras, ou seja, para outra área da nossa bola luminosa, da bola luminosa que somos, vamos alterar completamente a percepção temos da realidade e se mudarmos o suficiente o mundo que chamamos de real vai desaparecer e estaremos noutro mundo.

Sonhando a principio, mas se mudarmos profundamente o ponto de aglutinação de sua posição vamos entrar com toda nossa fisicalidade, integralmente, em outros mundos, vamos sumir desse mundo.

Segundo Mariano Aureliano contou a Isidoro Baltazar temos 600 mundos inteiros que podemos ir, ou seja, 600 pontos dentro da bola luminosa que somos, que ao deslocar o ponto de aglutinação para lá, vamos entrar em mundos outros.

O que surpreende nessa abordagem da realidade é sua amplitude e simplicidade.

Os físicos quando descobriram o comportamento das sub-partículas e da luz, ficaram perdidos tentando adaptar suas observações da realidade a teoria newtoniana, até que perceberam que o problema não era no comportamento do mundo que lhes era desvendado em seus ciclotrons, mas o modelo que usavam de paradigma.

Esse modelo de realidade apresentado pelo Doutor Carlos Castaneda, um cientista social que foi noutra cultura, julgada extinta, recuperar uma abordagem da realidade que está para a magia e o esoterismo convencional como a física quântica está para a física newtoniana.

No entanto pontes se constroem com física newtoniana. O homem foi a Lua usando física newtoniana nos cálculos da rota e manobras.

Por isso o chamado a este caminho é para poucos(as).

É para quem já sentiu a busca do mais que humano em nós.

Além do humano, além de nossa forma humana estão as metas desse caminho.

Ele existe em muitas tradições, os Taoístas, Andarilhos do Deserto, descendentes dos Aesires, discipulos do Tathagata, nos que usam o Arco-Íris Bifrost, enfim, em muitos ramos esses antigos conhecimentos vicejaram e amadureceram até chegar ao nosso momento, ao nosso tempo espaço.

O Xamanismo Guerreiro pretende, antes de mais nada, liberdade sobre si mesmo.

Liberdade dessa força alienígena que comentávamos linhas atrás, a qual vc já deve ter esquecido, pois é essa uma das melhores artimanhas dessa força predadora, não se fazer notar.

E assim, ficamos presos a uma condição existencial que torna permanente esse vampirizar funesto de nossa energia durante toda nossa vida.

O corpo humano metaboliza a energia telúrica e a energia do sol.

Também as energias estelares e planetárias são processadas pelo corpo, mas em doses mínimas, pois o tipo de limitação perceptual ao qual estamos presos, nos impede de perceber plenamente as energias cósmicas que incidem sobre nós, tanto quanto a luz do sol.

Físicos sabem que neutrinos passam por nós a todo instante e por vezes se surpreendem quando em seus experimentos partículas vindas do espaço, que chamam de raios cósmicos, atravessam anteparos e afetam seus experimentos.

Nós recebemos energias das mais diversas em nossos corpos.

Ao metabolizarmos estas energias inconscientemente, respondemos com emocionalismos ou pensamentos a tais estímulos.

Assim racionalismos e emocionalismos nos levam a agir e agindo acreditamos que estamos fazendo, quando na realidade está tudo acontecendo, estamos apenas respondendo ao que os astros, nossas influências genéticas, a alma coletiva da Terra, o tonal dos tempos e tantos outros fatores, 48 em nosso mundo, nos levam a fazer.

E enquanto apenas respondemos mecanicamente nossa energia é levada embora.

Sim, a energia destinada a fazer de nós navegantes da Eternidade, exploradores dos mistérios da existência, não em teoria ou "filosofações" mas na prática, numa viagem empolgante pelos mistérios da existência, esta energia é sugada e levada embora para alimentar seres de outro mundo.

E nós nos limitamos a este mundo a este tempo, crendo que os objetivos reais da vida é ter o carro do ano, ter status, representar papéis para ser bem quisto, querido(a) e aprovado pelo meio. Com a desculpa que mais tarde teremos tempo para nós passamos a vida correndo atrás de uma das formas de prisão desse sistema.

"Dinheiro".

Dinheiro é um meio, mas quando ele se torna um fim em si mesmo, passamos a por toda a energia nele, na sua busca. Assim vive a maior parte do mundo, preocupado (a) com dinheiro, atrás de dinheiro. Mas o dinheiro é algo simbólico, não tem valor em si.

Portanto, colocamos uma energia tremenda em algo que em si não tem valor.

Para onde vai essa montanha de energia que dedicamos ao "dinheiro".

Deus, no sentido que este termo foi construído nessa cultura dominante e Dinheiro, são os dois conceitos vazios aos quais a maior parte da humanidade dedica sua energia.

E dedicando sua energia a conceitos vazios em si esta energia acaba indo para algum lugar.

Portanto, o caminho do Xamanismo Guerreiro é um caminho de liberdade.

Um dia quiçá, liberdade total, mas aqui e agora a liberdade mínima necessária para trilharmos de fato o Caminho e não apenas fantasiarmos em achismos e desculpas mil que nos levam a um semi-agir, a um mecanicismo servil.

Como na lenda da tigresa, temos que nos recordar que somos tigres criados entre ovelhas e por isso deturpados em nossa realidade.

Urge que despertemos para nossa real condição, urge que voltemos, discreta e sobriamente, a nossa realidade essencial. Esse é o começo de tudo para quem busca a Liberdade.

Deixar o rebanho e fazer isso com tal sutileza que ninguém perceba o fato.

Ovelha
Sheep

Inocentemente passando o seu tempo no pasto afastado
Harmlessly passing your time in the grassland away

Apenas vagamente ciente de um certo desconforto no ar
Only dimly aware of a certain unease in the air

É melhor tomar cuidado
You better watch out

Pode haver cães por perto
There may be dogs about

Eu olhei para além do rio Jordão e já vi que
I've looked over Jordan and I have seen

As coisas não são o que parecem ser
Things are not what they seem


O que você ganha fingindo que o perigo não é real?
What do you get for pretending the danger's not real?

Submissos e obedientes, vocês seguem o líder
Meek and obedient, you follow the leader

Descendo pelos corredores estreitos até o Vale de Aço
Down well trodden corridors into the Valley of Steel


Mas que surpresa!
What a surprise!

Um olhar de choque terminal nos seus olhos
A look of terminal shock in your eyes

Agora as coisas são o que realmente parecem ser
Now things are really what they seem

Não, isto não é um sonho ruim
No, this is no bad dream


(Pedra, pedra, pedra)
(Stone, stone, stone)


(O Senhor é meu pastor, nada me faltará)
(The Lord is my shepherd, I shall not want)

(Ele me faz repousar)
(He makes me down to lie)

(Através de verdes pastos, Ele me leva por águas tranquilas)
(Through pastures green, He leadeth me the silent waters by)

(Com facas brilhantes, Ele liberta minha alma)
(With bright knives, He releaseth my soul)

(Ele me pendura em ganchos em lugares altos)
(He maketh me to hang on hooks in high places)

(Ele me converte a costeletas de cordeiro)
(He converteth me to lamb cutlets)

(Porque eis que Ele tem grande poder e muita fome)
(For lo, He hath great power and great hunger)

(Quando chegar o dia que, nós, pessoas humildes)
(When cometh the day we lowly ones)

(Através da reflexão silenciosa e grande dedicação)
(Through quiet reflection and great dedication)

(Dominaremos a arte do karatê)
(Master the art of karate)

(Eis que nos levantaremos)
(Lo, we shall rise up)

(E, então, nós faremos os olhos dos sodomitas lacrimejar)
(And then we'll make the bugger's eyes water)


Sangrando e balbuciando, caímos em seu pescoço com um grito
Bleating and babbling we fell on his neck with a scream

Onda após onda de vingadores dementes
Wave upon wave of demented avengers

Marchando alegremente, sem obscuridade, sonho adentro
March cheerfully out of obscurity into the dream

Você ouviu as novidades?
Have you heard the news?

Os cães estão mortos!
The dogs are dead!

É melhor você ficar em casa e fazer o que lhe mandaram
You better stay home and do as you're told

Fique fora da estrada se quiser envelhecer
Get out of the road if you want to grow old

Sinal de Fumaça

Entrevistas com parceiros de Carlos Castaneda: Jacobo Grinberg

As Testemunhas do Nawal Entrevistas com parceiros de Carlos Castaneda Texto de Jacobo Grinberg Havíamos tido a oportunidade de participar de...