segunda-feira, 6 de novembro de 2023
Conexão com o Centro da Galáxia - Hunab Ku
domingo, 5 de novembro de 2023
Egrégoras e energia natural - 1ª parte

Essa questão das coisas e seres que "geram" poder e das que são apenas espectros é um assunto muito importante para quem "navega" por mundos outros que não esse. Uma das coisas mais importantes para quem flui pela Eternidade é reconhecer quais os lugares e seres geram energia a partir de si mesmo e quais são apenas formas espectrais, criadas pela intenção de outros seres, formas geradas, que podem ter até seu poder, mas poder dos mais limitados, poder reduzido. Existem mundos criados pelo intento de poderosos (as) xamãs ancestrais, existem cidades, templos, enfim, um infinito número de lugares que foram gerados com os mais diversos propósitos ao longo de todos esses tempos que seres conscientes existiram neste mundo.
Grande parte do treinamento inicial de um(a) xamã guerreiro é aprender a ver a energia diretamente, além das barreiras da socialização. Por isso tais caminhos começam com o ir além da "forma humana", além do conjunto de estilos de raciocinar, de emocionar e reagir que temos em nós, que temos por nós. Somos, a princípio, apenas esse aglomerado, mas parte de nossa magia consiste em podermos mergulhar rumo a essência perceptiva que no cerne somos, e podemos, então, tornar nossa consciência um aspecto singular da vastidão inominável que é o Mar Escuro da Consciência¹.
Quando nos tornamos realmente existentes, quando nos lembramos de nós mesmos e deixamos de nos confundir com a ilusão, com o mitote² que criaram a nossa volta, para nele nos diluirmos e não nos percebermos ente singular, quando este "despertar" ocorre, só aí um(a) xamã é considerado existente, só aí começa a aventura efetiva que por um tempo incontável tem levado aos Xamãs que esse caminho trilham a serem conhecidos como "desafiantes da morte".
Quando vamos falar de Xamanismo do ponto de sentir o mundo desta linhagem é necessário que compreendamos bem que vamos usar palavras para apontar ao que está além das palavras. As palavras quais tais as usamos hoje estão numa sintaxe que representa o resultado da ação desse sistema escravizador que hoje domina o mundo. Portanto, as palavras determinadas pelos escravizadores não podem em si conduzir a liberdade. Mas parte da magia do Xamanismo é transformar correntes em asas, grilhões em chaves que abram as masmorras perceptuais onde trancaram nossa espécie e reduziram nossa realidade mágica a esta tacanha normalidade dos boçais capatazes que administram a senzala, para os senhores e senhoras feudais contemporâneos.
A palavra egrégora é uma palavra complexa. Não conhecemos a etimologia da mesma, não sabemos ainda a partir de que ideias semânticas foi formada, mas o que interessa então é que ela designa algo que existe. Se estamos imersos no vasto Mar da Consciência e Energia uma egrégora é um tanque, um armazém de energia que tem uma "tonalidade", uma "característica" própria, singular, por vezes chega uma egrégora a ter personalidade e em casos mais raros, mas registrados, há egrégoras que adquiriram mesmo singularidade existencial. Um dia lhes conto uma história de uma Divindade que surgiu como egrégora na Mongólia e hoje é um ser singular e consciente de si.
Mas uma egrégora não gera energia por si. Ela é alimentada, é resultante, daqueles que a geram e a mantém. Ordens iniciáticas realizam ritos com certos padrões comuns em todas suas secções entre outras coisas para alimentar a mesma egrégora, fortalecer a "alma grupo" da irmandade. Um exemplo de ação de egrégora é o poder das seitas evangélicas em pegar um cara que é viciado, perdido na vida e por o cara "na linha", entendendo eles que na linha quer dizer, um bom "trabalhador" que "serve" ao sistema eficientemente, sendo assim também um bom consumidor. Embora, se formos além das aparências veremos que é usado para tão escravizante propósito, no qual tais seitas usam um conhecimento sutil, a força da egrégora. Alimentada pelas orações, pelos movimentos pentecostais onde aspectos de energias ancestrais são evocadas, a egrégora do grupo é potencializada. Quando a pessoa, em cerimônia fortemente catártica, se "entrega a Jesus" e o "aceita como salvador pessoal", imediatamente a conexão com a egrégora é realizada e a força do grupo aumenta a força do individuo e ele consegue "se endireitar" (sic!).
Hoje a magia renasce, nós herdeiros espirituais e genéticos dos povos nativos podemos nos revelar mais abertamente, podemos falar de nossos sentimentos, do que as Avós e os Avôs nos contaram, mas isso porque a Igreja perdeu sua força de poder dominante no modo de pensar dos povos.
Onde foi dado um golpe forte nessa queda?
Quando João XXXIII tirou o latim, quebrando a união ritualística que gerava uma poderosa egrégora a essa herdeira direta do Império Romano, com seus Papas-Césares. Assim a egrégora é um reservatório de energia com uma programação, não é energia bruta, virgem, intocada, é energia já polarizada por alguém, ou algum grupo, quer conscientemente, quer inconscientemente.
A egrégora de um time de futebol tem um poder fortíssimo. E há outras egrégoras, como a da Coca Cola, como a de personagens fortes que começam em livros tidos por ficção, mas com o passar do tempo passam a ter tal presença na dimensão mítica da humanidade que eles tem força de existentes. A galera caoticista usa esses tanques de energia que estão por aí e ninguém percebe o poder. O Xamanismo através de sua história já usou tudo isso, já cultuou seres como deuses, já personificou os poderes da natureza, antropomorfizando a tal ponto tais forças que ficou muito da fantasia e quase nada do símbolo puro em muitas representações de deuses e deusas dos nativos, tais quais hoje se nos apresentam.
Muitos homens e mulheres xamãs se tornaram "deuses e deusas" para seus povos, atraíram entes que tinham tal vastidão de poder que foram tidos por "deuses e deusas" pelos que eram levados a adorá-los, muitas vezes com sangue e sacrifícios, que davam a energia que tais entes precisavam para atingir os "pedidos" dos fiéis.
O Xamanismo Guerreiro, frente as árduas condições em que sobreviveu muito aprendeu. Conquista de outros povos nativos, depois invasão dos atrozes e desumanos europeus, que praticavam contra os nativos todo grau de violência, quer física, quer moral, quer cognitiva, quando os afastavam de suas tradições e lhes impunham suas tacanhas crenças, a estes povos nativos, possuidores de cosmogonias, de conhecimentos sobre si e a realidade circundante que eram tão transcendentes que sequer visíveis foram aos bestializados conquistadores, que destruíam joias e monumentos de Saber apenas para derreter o ouro e a prata que ali estavam.
Os homens e mulheres xamãs que sobreviveram aos ataques, cujos "poderes" realmente "funcionaram" frente aos invasores começaram a perceber muitas coisas, quando, já como fugitivos, se reencontraram. As histórias contam desses encontros entre diversas "linhagens" de xamãs que sobreviveram a seus "centros de poder". Os arrogantes e ensimesmados homens e mulheres que criaram tantas cidades-estados pelas Américas, que dominaram tantos povos, as confrarias que formavam e os poderes que partilhavam, o domínio sobre outros que exerciam, criando tipos diversos de imperialismos, onde outros deviam trabalhar para que eles e elas, os iniciados, pudessem desenvolver ainda mais o intricado e complexo, o assombroso e poderoso conhecimento que tinham, mas que na hora do ataque a poucos serviu.
Duas classes de xamãs escaparam destes confrontos. Povos inteiros guiados pelos seus homens e mulheres xamãs deixaram essa realidade e foram viver em outros mundos. Os(as) xamãs do clã guerreiro, do qual algumas linhagens conhecidas hoje, como a do Nagual Charles Spider, descendem. Estes povos que migraram para outros mundos não o fizeram apenas para mundos geradores de energia. Alguns povos, como alguns grupos e mesmo alguns (as) xamãs isoladamente, criaram na amplitude da "Segunda Atenção" ilhas de existência. É um dos poderes do Sonhar, poder criar um mundo réplica de um que exista, ou mesmo algo totalmente novo, só pelo poder do Intento do(a) xamã que assim age³. Mas tais mundos são mundos espectros, mundos que não geram energia e este é o perigo de se desenvolver em corpo sonhador sem amadurecer primeiro, sem sair dos joguinhos e dos pueris paradigmas que as religiões e as pretensas filosofias espiritualistas nos deram sobre o que são "mundos evoluídos", "mundos superiores" e os "seres de luz e pureza" que nos esperam lá. Os que ficaram, os que sobreviveram mas não migraram para outros mundos, quer mundos geradores de energia como este, quer os mundos espectros onde criaram réplicas da civilização que deixavam, todos aprenderam muito. Estes que foram ainda voltam muitas vezes a este mundo, para nós do Xamanismo, muito do que se tem por contato "extraterrestre", quando envolve seres humanóides e mesmo os seres totalmente iguais a nós, está muito mais ligado com estes "humanos" que partiram um dia do que com seres oriundos de outros mundos, que serão inimaginavelmente diferentes, já que gerados em outras realidades, logo em outro conjunto de estímulos.
Mas o que importa agora é que os (as) sobreviventes aprenderam algo muito importante. Primeiro reduziram a extrema dependência que tinham de seus "protetores", de seus "entes amigos" , de seus "aliados". Perceberam que estes seres tinham também seus limites, podiam mesmo ajudar como batedores, muitos dos que estavam vivos ali estavam vivos porque esses entes os avisaram e puderam fugir a tempo, os alertaram de emboscadas. Mas perceberam que tais entes só agiam diretamente sobre os atacantes se tivesse o(a) xamã que a este ente era ligado, "poder pessoal", isto é, "energia acumulada" suficiente. É sempre a energia do xamã que permite a um ente de outra realidade se manifestar nesse mundo. Também notaram que muitas "armas mágicas", muitas das "peças de poder" pela quais tanto lutaram entre si, tantas vidas foram usadas para as conseguir, tinham um valor também relativo, uma arma de poder depende completamente do poder pessoal de quem a utiliza. Então começaram a perceber que muita coisa que praticavam tinha grande apelo, mas não tinha real valor de sobrevivência e estes homens e mulheres, que já foram um dia conhecidos como "desafiadores da morte" continuaram a sua trilha, estudando, praticando e aprendendo enquanto lutavam para sobreviver.
Veio a invasão dos europeus e tudo ficou ainda mais exigente aos que tentavam sobreviver. O poder de cada um destes conquistadores era terrível e o povo nativo estava longe de ter a crueldade e o sadismo desses conquistadores que praticavam atrocidades para "se divertir". Por esporte matavam centenas, trucidaram a mais bela cidade do ocidente que existia na ainda florescente cultura asteca, estes que haviam conquistado um povo mais antigo, que haviam quase destruídos xamãs que guardavam um saber milenar, eram agora destruídos por um povo ainda mais sanguinário, um povo para o qual todo sentido de humanidade e respeito pela vida havia sido perdido. Servindo a seus dois deuses, a Riqueza e o Sofrimento, os invasores cuidaram de roubar toda riqueza que puderam deste povo dominado e destruir a alegria pura e verdadeira destas gentes em um holocausto a seu deus do sofrimento e do sacríficio.
Nestas condições de extrema opressão o Xamanismo Guerreiro se escondeu em várias linhagens, que para se proteger perderam até mesmo contato uma com as outras. Algumas conseguiram ir para o "velho mundo" (frase totalmente sem sentido pois perto da ancestralidade destas terras, como o planalto central brasileito, o "velho mundo" é apenas uma criança), outros se refugiaram no anonimato de vidas simples em vilas camponesas, aparentemente servindo ao sistema dominante que estava se implantando e assim, sutilmente, sumiram da história para permanecerem vivos na Eternidade. Parte das descobertas dessas linhagens hoje começa a ser veiculada de forma mais aberta novamente, e nós temos a tremenda sorte de ter acesso as mesmas. O que sabemos a partir deste conhecimento acumulado é que uma situação geradora de energia nos alimenta, nos amplia, nos fortalece e uma situação espectral, vai de uma forma ou de outra consumir nossa energia.
Como tudo que um(a) xamã faz depende de energia vital é de suma importância para os praticantes discernir entre uma situação geradora de energia e uma espectral. No caso de uma egrégora é uma ligação em certo equilíbrio, você doa sua energia para a egrégora e ela te apoia. Mas quando vamos a mundos espectrais, a "templos no astral" e a uma série de lugares, que podem ser até por demais agradáveis, onde apenas "soltamos" energia, aí estamos numa condição não geradora de energia e corremos o risco de estar até mesmo num lugar que "vampiriza" energia. Existem mundos que só de irmos lá nos alimentam com sua energia e isto nos dá uma energia extra, algo que os(as) xamãs buscam disciplinadamente, pois precisamos de muita energia para todas as manobras que o Xamanismo nos permite. Para quem está familiarizado com o mundo dos aliados sabe o quanto temos que ser disciplinados para dar esses "mergulhinhos" naquele mundo de cavernas vivas e nos alimentarmos, só de estarmos ali, da inquietante energia que dele emana, sempre correndo o risco de cair nas artimanhas desses entes manipuladores.
Parece que em tudo isso, só o firme intento da Liberdade Total consegue mesmo nos tornar imunes a todos esses riscos. Por isso, no Xamanismo Guerreiro, não trabalhamos com divindades criadas pelo ser humano, ou egrégoras conscientes, buscamos diretamente na fonte, vamos à Terra, enquanto ser vivo e a seus poderes e manifestações, como ventos, cachoeiras, trovões, montanhas, chuva, vales, enfim, vamos a força manifesta em si, não a "representações" das mesmas. Existem energias oriundas dos astros, de planetas, de cometas, de meteoros, existe a poeira cósmica de cada estrela cadente, enfim, existe uma infinidade de modalidades de energia que a todo instante estão chegando até nós. Assim um xamã do raio vai usar o raio como seu instrumento de poder, um xamã das nuvens vai usar as nuvens e assim por diante, mas pode ficar adorando uma divindade que "representa" tal poder, ou efetivamente ir a uma "simbiose" com tais poderes, reconhecendo-os como aspectos conscientes da Totalidade, tanto quanto nós somos e assim estabelecendo uma ação conjunta com esses poderes.
O Xamanismo Guerreiro é magia, não pode reconhecer coisas como "rezar" para algum poder. O termo rezar, tal qual é usado hoje, vem num contexto de pedir, de suplicar, de um ser suplicante implorando e chantageando uma força superior, tentando suborná-la com sacrifícios e promessas para que ela ceda e atenda o "suplicante".
A pergunta é: tecnicamente, em termos de magia prática, qual a diferença de se utilizar um e outro?
Como tudo mais no universo do Xamanismo, depende do poder pessoal do praticante. Quem tem poder pessoal pode usar uma tampa de coca-cola como escudo, quem não tem pode ter o escudo de ypê do líder do clã da onça pintada que nem vai conseguir ativar o poder que está ali, contido naquele escudo ancestral.
Quando utilizamos uma energia "natural" estamos nos associando a uma força que tem sua própria consciência, assim juntamos nosso "intento" a um poder que pode ampliar e potencializar esse intento numa esfera muito maior que apenas a humana.
Quando usamos o poder de uma egrégora, sabendo que ela foi gerada por seres humanos quando muito teremos um poder mais amplo, quando uma egrégora é realmente ancestral e assim foi alimentanda inicialmente nos tempos "míticos" tendo seu poder, sua "baraka".
O Ser Terra é muito mais poderoso que qualquer egrégora humana criada, é mais antigo, mais pleno, e está em sintonias com certos "planos" que nós humanos sequer intuímos existir. Assim, quando nos conectamos ao Ser Mundo para agir magicamente estamos na realidade entrando em sintonia com um poder que transcende o humano, e tal poder "mais que humano" é uma energia muito mais poderosa para trabalhar no alcançar dos nossos objetivos do que um rito que estamos realizando com um poder "humano", por mais ancestral que seja este.
É bem interessante isso mesmo, isso é um dos aspectos que nós homens temos que aprender com a força feminina, ser mais maleáveis, fluir com menos rigidez. Essa minha amiga que está comigo esses dias tem falado muito sobre isso, sobre sentir o Tao, a totalidade que é também consciente de si e que está sempre sinalizando em nosso caminho. O detalhe é que estamos presos a raciocinar a realidade e os sinais do Tao são para os (as) que pensam. Estamos presos em nos emocionar com a realidade e os sinais do Tao são para os (as) que sentem. Estamos presos em reagir e os sinais do Tao nos pedem o AGIR.
Estarmos atentos e profundamente sensíveis a nós mesmos e ao mundo ao nosso redor é sempre uma forma eficiente de caminhar, seja neste mundo, seja em mundos outros que não esse.
Nuvem que passa
(escrito em 27/12/2000)
Notas
¹ Termo usado pelo novo nagual, Carlos Castaneda, em sua última obra: O Lado Ativo do Infinito. Equivale ao termo Águia usado pelos antigos xamãs desta linhagem, outros termos são Espírito, Infinito. De forma simples é o Poder que nos cerca. Nosso elo de conexão com o Mar Escuro da Consciência é o ponto de aglutinação, nossa essência perceptiva.
²Mitote, segundo Dom Miguel Ruiz, autor do livro Os 4 Compromissos:
sexta-feira, 3 de novembro de 2023
Xamanismo e Taoismo, por Nuvem que Passa.
Xamanismo e Taoismo
"Podes fazer o corpo e o espírito se harmonizarem a ponto de se tornarem inseparáveis?
Podes tornar tua respiração terna e suave como de uma criança?
Podes anular os pensamentos até purificar toda tua energia?
Podes governar o Império beneficiando a humanidade por meio da não ação?
Podes ser totalmente passivo, vendo abrirem-se e cerrarem-se as portas da Eternidade?
Compreendendo estas coisas podes permanecer como se não compreendesses nada?"
O trecho acima é do Tao Te King, o livro deixado por Lao Tsé ao deixar a China, quando da instauração de um estado de coisas nos quais ele percebeu uma era de deterioração e resolveu deixar o local. Conta a tradição que, ao atingir as muralhas, um dos guardas, admirado de sua sabedoria, pediu-lhe que deixasse algo escrito, para quando o período ruim passasse e novamente as pessoas buscassem o conhecimento essencial. Deixou-nos então o sábio, graças a este misterioso guarda de fronteira, cujo nome não sabemos, o livro, repleto de textos como o que está escrito acima.
O Taoísmo é de natureza xamânica, ou, se quiserem, o Xamanismo é de natureza taoística.
Antropologicamente vamos encontrar em estudos sobre o Taoísmo essa afirmação, é uma tradição que se enquadra no Xamanismo.
Ambas as escolas são caminhos que prezam valores e lidam com paradigmas que fazem da natureza algo vivo e dinâmico, que permeiam a realidade à nossa volta com mundos e seres e que trabalham com o desenvolvimento pleno do ser humano.
Quando chegamos no caminho temos muitas fantasias em nós, muitas projeções que nos iludem e podem mesmo nos confundir a tal ponto que podemos perder o elo com um Caminho e nos conectarmos a coisas fantasiosas apenas porque satisfazem e compensam nossas carências e medos.
A estrutura de um Caminho é complexa e o melhor é não se iludir, pois agir a cada instante como se fosse o último, ter foco no momento, ter um estilo de ação que expressem atitudes implacáveis, astutas, pacientes e gentis, tudo isso com sobriedade e desapego, não são palavras vazias, mas estilos comportamentais que são como katas, treinos onde fazemos os movimentos para ensinar o corpo a agir por si e com eficiência quando necessário.
Artes Marciais diversas emanam do Taoísmo, os Hsiens taoístas das montanhas, eremitas ou vivendo em pequenos grupos em cavernas nas faldas do Himalaia são exemplos de taoístas que têm também a ver com a imagem que temos de um(a) xamã: alguém que cavalga o poder.
As pessoas com as quais estudei tinham uma profunda influência do Taoismo. Oomoto é da região do Cantão, na China. Por isso tenho trabalhado bastante nessa interface entre a abordagem taoísta do mundo, originário de uma cultura complexa e ancestral. e o Xamanismo, que, também é, em seus vários ramos, originário dos povos nativos, em conexão ampla com a ancestralidade.
O Taoísmo aborda a realidade com grande similitude ao Caminho dos(as) guerreiros(as) xamãs¹.
Diferenças apenas no sentido de usar uma outra linguagem, uma linguagem que se afasta mais do ocidente e se parece mais com a linguagem que os antigos Maias, Toltecas, Olmecs e outros usavam.
Cada ideograma da língua chinesa é muito rico em conteúdo. Por isso ler uma tradução do Tao Te King é sempre uma aproximação da expressão original, como ler Nietzsche traduzido é sempre uma aproximação em compreender esse homem que antes de filósofo era um poeta.
Meditar sobre um texto desse permite conexões sutis.
O corpo e o espírito se harmonizam.
Esta é uma proposta do Xamanismo Guerreiro, se considerarmos o termo espírito aqui como o corpo de energia. Considerando ainda espírito como a energia da Totalidade, podemos levar nosso corpo a harmonizar-se com a realidade à nossa volta.
O Xamanismo trabalha com essa ideia e o Taoísmo também, levar o corpo a despertar, a eliminar de si todas as impurezas e toxicidades que possam ter nele se impregnado e então começar uma trilha de poder em direção a plenitude do contato com a energia viva que nos circunda em várias instâncias, uma força polar, uma força que ora opera num espectro, ora noutro, que flui e em seu fluir solve e coagula, criando e destruindo com isso, tudo que existe. Entramos no meio desse fluxo e começamos a aprender como usar esses fluxos para nossos fins, para atingirmos nossas metas.
No Taoísmo, temos um caminho similar e em ambos o que espera o(a) viajante é o frio olho do dragão que mira a ETERNIDADE.
Por: Nuvem que Passa em Sábado, 03 de Agosto de 2002 - 04:32:28 (Brasília)
Notas
¹ Na linhagem de Dom Juan Matus houve um nagual chamado Lujan, praticante de artes marciais chinesas - Kung Fu - que integrou os Passes Mágicos com a Arte Marcial chinesa. Certa vez, praticando em lugar público, ouvimos um jovem perguntar ao seu pai ou professor se os movimentos que praticávamos - Tensegridade - era um tipo de super Tai Chi. De outra feita quando praticávamos Tai Chi com um mestre chinês ele repetidas vezes nos perguntou se já tínhamos praticado Tai Chi antes. Parece que ele percebeu em nossa energia uma harmonia decorrente da prática dos Passes Mágicos, o que mostra que Xamanismo e Taoismo, de fato, possuem uma raiz comum, como comprovamos por via direta. Alguns movimentos de Tensegridade são verdadeiros katas, por exemplo: rastreando a energia, movimento ensinado no primeiro seminário de Tensegridade feito no Brasil, no ano 2000.
quinta-feira, 2 de novembro de 2023
Quando o mundo virou coisa: a Carta do Chefe Indígena Sealth
Um belo exemplo sobre o tema desse texto - "Quando o mundo virou coisa" - encontramos nas palavras do Chefe Indígena Sealth, em sua famosa carta (1854), na qual responde à oferta de dinheiro feita pelo governo estadunidense por "suas" terras. Percebe-se a diferença abismal entre o paradigma ou visão de mundo de um representante dos povos nativos e a visão de mundo "coisificante" do homem branco. A seguir a Carta.
Se nós não somos donos da frescura do ar e do brilho da água, como você pode comprá-los?
Cada parte da Terra é sagrada para o meu povo.
Cada pinha brilhante, cada praia de areia, cada névoa nas florestas escuras, cada inseto transparente, zumbindo, é sagrado na memória e na experiência de meu povo.
A energia que flui pelas árvores traz consigo a memória e a experiência do meu povo.
A energia que flui pelas árvores traz consigo as memórias do homem vermelho.
Os mortos do homem branco se esquecem da sua pátria quando vão caminhar entre as estrelas.
Nossos mortos nunca se esquecem desta bela Terra, pois ela é a mãe do homem vermelho.
Somos parte da Terra e ela é parte de nós.
As flores perfumadas são nossas irmãs, os cervos, o cavalo, a grande águia, estes são nossos irmãos.
Os picos rochosos, as seivas nas campinas, o calor do corpo do pônei, e o homem, todos pertencem à mesma família.
Assim, quando o Grande Chefe em Washington manda dizer que quer comprar nossa terra, ele pede muito de nós.
O Grande Chefe manda dizer que reservará para nós um lugar onde poderemos viver confortavelmente. Ele será nosso pai e nós seremos seus filhos.
Então vamos considerar sua oferta de comprar a terra. Mas não vai ser fácil. Pois esta terra é sagrada para nós.
A água brilhante que se move nos riachos e rios não é simplesmente água, mas o sangue de nossos ancestrais.
Se vendermos a terra para vocês, vocês devem se lembrar de que ela é o sangue sagrado de nossos ancestrais.
Se nós vendermos a terra para vocês, vocês devem se lembrar de que ela é sagrada, e vocês devem ensinar a seus filhos que ela é sagrada e que cada reflexo do além na água clara dos lagos fala de coisas da vida de meu povo.
O murmúrio da água é a voz do pai de meu pai.
Os rios nossos irmãos saciam nossa sede.
Os rios levam nossas canoas e alimentam nossas crianças.
Se vendermos nossa terra para vocês, vocês devem lembrar-se de ensinar a seus filhos que os rios são irmãos nossos, e de vocês, e consequentemente vocês devem ter para com os rios o mesmo carinho que têm para com seus irmãos.
Nós sabemos que o homem branco não entende nossas maneiras.
Para ele um pedaço de terra é igual ao outro, pois ele é um estranho que chega à noite e tira da terra tudo o que precisa.
A Terra não é seu irmão, mas seu inimigo e quando ele o vence, segue em frente.
Ele deixa para trás os túmulos de seus pais, e não se importa.
Ele sequestra a Terra de seus filhos, e não se importa.
O túmulo de seu pai, e o direito de primogenitura de seus filhos são esquecidos.
Ele ameaça sua mãe, a Terra, e seu irmão, do mesmo modo, como coisas que comprou, roubou, vendeu como carneiros ou contas brilhantes.
Seu apetite devorará a Terra e deixará atrás de si apenas um deserto.
Não sei.
Nossas maneiras são diferentes das suas.
A visão de suas cidades aflige os olhos do homem vermelho.
Mas talvez seja porque o homem vermelho é selvagem e não entende.
Não existe lugar tranquilo nas cidades do homem branco.
Não há onde se possa escutar o abrir das folhas na primavera, ou o ruído das asas de um inseto.
Mas talvez seja porque eu sou um selvagem e não entendo.
A confusão parece servir apenas para insultar os ouvidos.
E o que é a vida se um homem não pode ouvir o choro solitário de um curiango ou as conversas dos sapos, à noite, em volta de uma lagoa.
Sou um homem vermelho e não entendo.
O índio prefere o som macio do vento lançando-se sobre a face do lago, e o cheiro do próprio vento, purificado por uma chuva de meio-dia, ou perfumado pelos pinheiros.
O ar é precioso para o homem vermelho, pois todas as coisas compartilham o mesmo hálito – a fera, a árvore, o homem, todos compartilham o mesmo hálito.
O homem branco parece não perceber o ar que respira. Como um moribundo há dias esperando a morte, ele é insensível ao mau cheiro.
Mas se vendermos nossa terra, vocês devem se lembrar de que o ar é precioso para nós, que o ar compartilha seus espíritos com toda a vida que ele sustenta.
Mas se vendermos nossa terra, vocês devem mantê-la separada e sagrada, como um lugar onde mesmo o homem branco pode ir para sentir o vento que é adoçado pelas flores da campina.
Assim, vamos considerar sua oferta de comprar nossa terra.
Se resolvermos aceitar, eu imporei uma condição – o homem branco deve tratar os animais desta terra como se fossem seus irmãos.
Sou um selvagem e não entendo de outra forma.
Vi mil búfalos apodrecendo na pradaria, abandonados pelo homem branco que os matou da janela de um trem que passava.
Sou um selvagem e não entendo como o cavalo de ferro que fuma pode se tornar mais importante que o búfalo, que nós só matamos para ficarmos vivos.
O que é o homem sem os animais?
Se todos os animais acabassem, o homem morreria de uma grande solidão do espírito.
Pois tudo o que acontece aos animais, logo acontece ao homem.
Todas as coisas estão ligadas.
Vocês devem ensinar a seus filhos que o chão sob seus pés é as cinzas de nossos avós.
Para que eles respeitem a terra, digam a seus filhos que a Terra é rica com as vidas de nossos parentes.
Ensinem as seus filhos o que ensinamos aos nossos, que a Terra é nossa mãe.
Tudo o que acontece à Terra, acontece aos filhos da Terra.
Se os homens cospem no chão, eles cospem em si mesmos.
Isto nós sabemos – a Terra não pertence ao homem – o homem pertence à Terra.
Isto nós sabemos.
Todas as coisas estão ligadas como o sangue que une uma família.
Todas as coisas estão ligadas.
Tudo o que acontece à Terra – acontece aos filhos da Terra.
O homem não teceu a teia da vida – ele é meramente um fio dela.
O que quer que ele faça à teia, ele faz a si mesmo.
Mesmo o homem branco, cujo Deus anda e fala com ele como de amigo para amigo, não pode ficar isento do destino comum.
Podemos ser irmãos, afinal de contas.
Veremos.
De uma coisa nós sabemos, que o homem branco pode um dia descobrir – nosso Deus é o mesmo Deus.
Vocês podem pensar agora que vocês O possuem como desejam possuir nossa terra, mas vocês não podem fazê-lo.
Ele é Deus do homem, e Sua compaixão é igual tanto para com o homem vermelho quanto para com o branco.
A Terra é preciosa para Ele, e danificar a Terra é acumular desprezo por seu Criador.
Os brancos também passarão, talvez antes de todas as outras tribos.
Mas em seu desaparecimento vocês brilharão com intensidade, queimados pela força do Deus que os trouxe a esta terra e para algum propósito especial lhes deu domínio sobre esta terra e sobre o homem vermelho.
Esse destino é um mistério para nós, pois não entendemos quando osbúfalos são mortos, os cavalos selvagens são domados, os recantos secretos da floresta carregados pelo cheiro de muitos homens, e a vista das montanhas maduras manchadas por fios que falam.
Onde está o bosque?
Acabou.
Onde está a águia?
Acabou.
O fim dos vivos e o começo da sobrevivência.
Quando o mundo virou coisa
"Ou a saudade dos que não se deixam ser coisas, hoje vivendo entre quem foi levado à se crer coisa"
Aloha viajante entre mundos!
Convido-o a sentar-se nessa fogueira virtual para que eu possa partilhar contigo aquilo que foi partilhado comigo, o avô que me contou também um dia ouviu de seu avô que ouviu do seu e de boca para ouvido vai nas raízes da árvore da existência, até antes da palavra, antes da aurora dos tempos.
O que alerto são os limites, palavras aludem, mas tu não podes sentir o brilho do meu olhar aqui, não podes perceber o tom da minha voz, não posso partilhar a "chincha" contigo assim te acautela e lembra que será necessária uma grande intenção firme de tua parte para que aquilo que estou a declarar seja compreensível.
Não toquei meu tambor para ti, para que nossos corações entrassem no mesmo compasso, e com os barulhos falsos da cidade te acautela, peço que te sintonizes além da ilusão desses ritmos que nos impuseram, o ritmo das "coisas".
Não dançamos juntos nossas danças de poder para que nossos corpos reconhecessem os clãs que nos originaram.
Entretanto, apesar de todo estes limites confio que os ventos que evoco quando escrevo estas palavras nesta manhã de chuva branda na Mantiqueira nos permitirão partilhar mais que palavras e nos colocar em compreensão com o sentimento.
Para que haja compreensão e não caias apenas em interpretações.
Pois hoje em muitos lugares do mundo os homens e mulheres, entes mágicos e seres vivos que nunca se deixaram ser coisas começam a sair de seus esconderijos para o canto de guerra da Batalha da Tribo do Arco Íris.
Existe um sinal chegando, como uma poderosa trombeta de chifre do animal ancestral, tocada pelos lábios da própria vastidão da ETernidade, vem avisando: uma nova era está se aproximando.
Quando roubaram o fogo e deixaram apenas o frio neste mundo, entes pactuaram com os Quichés: "Deem o coração de seus prisioneiros e traremos o fogo de volta."
Os índios Quichés entregaram o sangue de seus prisioneiros e se salvaram do frio.
E assim foi se repetindo, com povos diversos que vem entregando a esperança de seus filhos, o sorriso nos lábios de nossas crianças, a dignidade de nossos anciões, a vida das matas e dos rios, assim muitos povos pactuaram com este inimigo coisificador, que se espalhou pelo mundo e gerou este estado de coisas que aí está: o mundo das coisas, sem gentes, sem vida, sem alegria, só coisas.
Mas alguns não aceitaram o preço. Os Cakchiqueles, por exemplo, não aceitaram o preço.
Os Cakchiqueles, primos dos Quichés e também herdeiros dos Maias, deslizaram com os pés de pluma através da fumaça e roubaram o fogo e esconderam na cova de suas montanhas.
E então surgiram duas linhagens, os que coisificam tudo para servir ao estado que aí está e quem não se deixa dominar, pois magia viva não tem como ser contida em celas, grilhões ou conversões tacanhas.
E assim temos feitos, nós guerreiros e guerreiras da Tribo do Arco-Íris, não cedemos, astutamente continuamos sendo "magia" onde tudo virara coisa.
Não somos coisas, somos Magia Viva.
A proposta é partilhar informações fundamentais, para podermos falar do que vem por aí, precisamos falar dos que partiram pra entender quem está voltando.
Embora partir e voltar sejam só modos de pormos marcos num vasto caminho, no eterno aqui e agora que vivemos.
Vou falar do tempo antes desse, quando cada erva rasteira, cada animal que corre, voa ou nada, cada árvore e cada pedra tinha em si um valor e um poder reconhecido e assim como os clãs humanos viviam em seus ciclos e suas formas de interagir com a vida e com o mistério da consciência também essas outras formas de vida assim existiam, assim viviam em ritmos e segredos.
Quando nós seres humanos e animais e plantas podíamos nos comunicar de outra forma e a Vida era vista como uma grande viagem da Consciência pela ETERNIDADE.
A sociedade atual substitui tudo isso por uma interpretação que fez, nos prendeu a um conjunto de critérios validativos e chamou isso de "realidade".
As manadas de elefantes nas savanas, os golfinhos e baleias no mar, os pássaros em migração, o urso cinzento no frio polar, todos sempre tiveram seu papel, tudo sempre teve sua importância e cada ser humano era importante, cada árvore era importante, cada animal era importante.
Para nós das tradições nativas tudo está interligado. A Existência começa num momento mágico no qual a TOTALIDADE emana de si mesma. Vejam bem, não disse "foi criada", disse 'emana'. É um conceito completamente diferente.
Uma pedra cai em tranquilo lago, gera onda, que gera outra onda, que gera outra, assim somos nós, temos em nós uma força primordial, por isso alguns de nós são aparentados aos clãs dos animais que correm, outros dos que voam, de plantas e pedras diversas, somos faces diversas de uma mesma realidade, tudo está interligado.
Houve um tempo em que não éramos coisas, nem cercados estávamos de coisas, mas éramos mistérios e estávamos cercados de mistérios. Por isso a caça era momento mágico, onde as necessidades de um grupo eram saciadas, quer um grupo humano, quer um leão e sua família, um jaguar, um condor.
Houve um tempo que a vida surgiu, pródiga e se espalhou. Para nós, dos caminhos nativos, isso aconteceu em vários ciclos. Todas as tradições nativas falam das várias fases da vida, dos vários ciclos de existência, dos "mundos que existiram" antes desse.
É interessante notar que a perspectiva dominante, inclusive a judaico-cristã, gera um desenvolvimento no tempo, um mundo é criado, seres são criados e então as coisas passam a se desenvolver no tempo.
Para os povos nativos a abordagem é mais forte no espaço, os Maias, Hoppes, Anassazi, os Pueblos e tantos outros povos falam de mundos anteriores a esse depois da chegada nesse mundo.
As eras não são apenas no Tempo... há mundos antes desses... Chegamos nesse mundo e agora vem o desafio: "para onde iremos?"
Cada mundo com seus seres, com a vida se manifestando.
Então temos um momento que podemos dizer "há milhares de anos atrás"... no qual na "África, na Ásia, na Europa, nas Américas e na Oceania" temos povos vivendo em harmonia com a Terra, com a Vida.
Seres humanos de linhagens diferentes (o homo sapiens não dominava ainda) convivendo com entes de outros mundos, e com os animais e plantas se relacionando como realidades vivas.
Para nós que trilhamos os caminhos nativos há um momento fundamental para compreender quando a humanidade deixou de trilhar o caminho de sintonia com a Natureza e entrou nesta outra linha de ação, que resultou neste estado de total degradação.
Houve um momento, que acontece de diferentes formas para cada povo, que a maneira de se relacionar do ser humano com a natureza se transforma e a vida não é mais "VIDA", mas sim coisa. A Natureza deixa de ser parte de nós mesmos e se torna "matéria prima".
O ser humano passa a exercer o poder sobre os grupos imediatos, passa a ser "dono do rebanho", depois "dono da Terra", depois "dono dos escravos e servos", e, então, "dono" substitui o participante. A NATUREZA não é mais viva, é coisa.
Dentro de uma relação ancestral com a natureza, uma lança, uma flecha, um vaso, uma cumbuca, uma panela, tudo que é usado tem um valor muito mais amplo que o utilitário, faz parte da vida, faz parte da história daquele grupo, daquela pessoa, daquela família... e isto se perdeu quase completamente hoje.
E então chegamos no momento em que tudo foi tornado coisa.
É daqui que precisamos sair, nós, herdeiros dos conquistadores, pois não podemos nos esquecer disso: somos antes de mais nada os herdeiros dos conquistadores e se vamos deixar de ser coisas, de tratar tudo como coisas, precisamos iniciar este trabalho em nós mesmos.
É o primeiro desafio.
"Descoisificarmos" a nós e nossas relações.
Nos coisificaram, agora nosso desafio é ir além desse estado.
Só então podemos dar os próximos passos.
Precisamos descobrir que somos mais que "o que fizeram de nós", que somos Magia Viva, pronta para ser desperta.
Eu, Nuvem que passa, falei. Ho!
(04/11/2001)
Nota: um belo exemplo sobre o tema desse texto - "Quando o mundo virou coisa" - encontramos nas palavras do Chefe Indígena Sealth, em sua famosa carta (1854), na qual responde à oferta de dinheiro feita pelo governo estadunidense por "suas" terras. Percebe-se a diferença abismal entre o paradigma ou visão de mundo de um representante dos povos nativos e a visão de mundo "coisificante" do homem branco.
sexta-feira, 27 de outubro de 2023
Há muito pouco valor na instrução
— Você me ensinou, Don Juan, mais do que qualquer outra pessoa em minha vida inteira — protestei.
— Ensinei-lhe todos os tipos de coisa para prender sua atenção. Você irá jurar, entretanto, que esse ensinamento foi a parte importante. Há muito pouco valor na instrução. Os feiticeiros afirmam que mover o ponto de aglutinação é tudo que importa. E esse movimento, como você bem sabe, depende de acúmulo de energia e não de instrução.
Então ele fez uma afirmação contraditória. Disse que qualquer ser humano que seguisse uma sequência específica e simples de ações poderia aprender a mover seu ponto de aglutinação.
Retruquei que ele estava contradizendo a si mesmo. Para mim, uma sequência de ações significa instruções; significa procedimentos.
— No mundo dos feiticeiros há apenas contradições de termos — replicou.
— Na prática não há contradições. A sequência de ações sobre a que estou falando é uma que se origina de estar consciente. Para tornar-se consciente dessas sequências você necessita de um nagual. É por isso que falei que o nagual proporciona uma chance mínima, mas essa chance mínima não é instrução, como a que você necessita para aprender a operar uma máquina.
Don Juan explicou que a sequência específica que tinha em mente exigia estar consciente de que a auto-estima é a força que mantém o ponto de aglutinação fíxo. Quando a auto-estima é podada, a energia que requer não é mais gasta. Essa energia aumentada serve então como o trampolim que lança o ponto de aglutinação, automaticamente e sem premeditação, para uma viagem inconcebível.
Uma vez que o ponto de aglutinação se moveu, o próprio movimento implica afastar-se da auto-reflexão, e isto, por sua vez, assegura um elo de conexão limpo com o espírito. Comentou que, afinal, era a auto-reflexão que havia desconectado o homem do espírito em primeiro lugar.
— Como já lhe expliquei — continuou Don Juan —, a feitiçaria é uma viagem de retorno. Voltamos vitoriosos ao espírito, tendo descido ao inferno. E do inferno trazemos troféus. O entendimento é um de nossos troféus.
O Poder do Silêncio, de Carlos Castaneda.
quarta-feira, 25 de outubro de 2023
Gatilhos e transição planetária (reedição)
A hora se aproxima, a transição planetária se acelera, o ponto de encaixe da Terra se desloca, os sinais estão por toda a parte, por exemplo: as mudanças no núcleo da Terra - parada e inversão -, tanto no plano pessoal quanto no coletivo, e neste existem basicamente alguns “gatilhos” para os quais deve se estar atento, são eles:
1 - escalada do confronto militar na Ucrânia: terceira guerra mundial, que, pelo visto, final de outubro de 2023, com a nova frente aberta no Oriente Médio, é a opção principal do Império.
2 - nova pandemia;
3 - mudanças climáticas;
4 - invasão alienígena “fake”;
5 - surgimento de um pretenso salvador da humanidade;
6 - “reset” financeiro.
Esses “gatilhos” estão na pauta dos dominadores globais, a turma do “Eles vivem, nós dormimos” (ver filme "Eles Vivem" - AQUI).
Alguns falam que estamos nos minutos finais da prorrogação, mas só há prorrogação quando o jogo está empatado. A metáfora da prorrogação futebolística não é adequada, prefiro a metáfora enxadrística.
Os dominadores globais já não estão mais no controle, eles estão literalmente descontrolados, o jogo para eles já está perdido, mas em vez de elegantemente declinarem o rei no tabuleiro de xadrez geopolítico e exopolítico, querem ir até as últimas consequências sem largar o osso, podendo mesmo levar o conflito militar para o campo das armas nucleares, o que atualmente fere as regras do jogo e provoca uma interferência “de fora”.
- Por que eles querem ir até as últimas consequências?
- Por que precisam de recursos humanos.
- Como assim?
- Humanos são alimento para os dominadores globais.
- O quê???
- Você conhece a expressão “recursos humanos” que há nas corporações?
- Sim, mas estamos falando de mão de obra e não de alimentos.
- Num certo nível a consciência humana e suas emoções alimentam esses seres. A consciência humana é alimento para os dominadores globais. Aqui não estamos falando da elite humana no poder, pois tal elite responde a uma outra elite não-humana que usa a consciência como fonte de nutrição.
- Que viagem…
- Não é tanto assim… se você parar para pensar nas religiões que usam a emoção humana como fonte de alimento. Questione-se: por que os pretensos deuses das mais diferentes religiões precisam da adoração, do louvor e do temor de seus crentes? Há uma razão para tal, já que tal energia alimenta esses seres que logicamente não são seres sagrados, pois se fossem de fato o que afirmam ser - deuses - não precisariam dos serviços prestados pelos “recursos humanos” via religião.
- Então somos gado para esses pretensos deuses ou dominadores globais?
- Basta ver a metáfora muito comum empregada por alguns livros ditos sagrados onde somos comparados a ovelhas ou outros recursos animais, por exemplo:
Portanto, livrarei as minhas ovelhas, para que não sirvam mais de rapina, e julgarei entre ovelhas e ovelhas - Ezequiel 34:22.
E quanto a vós, ó ovelhas minhas, assim diz o Senhor DEUS: Eis que eu julgarei entre ovelhas e ovelhas, entre carneiros e bodes - Ezequiel 34:17.
Vós, pois, ó ovelhas minhas, ovelhas do meu pasto; homens sois; porém eu sou o vosso Deus, diz o Senhor DEUS - Ezequiel 34:31
E porá as ovelhas à sua direita, mas os bodes à esquerda - Mateus 25:33.
- O apocalipse(em grego, revelação) nada mais é do que a revelação da verdadeira condição da humanidade submetida a pretensos deuses: somos para eles recursos humanos semelhantes a recursos minerais, vegetais ou animais. Isso é lógico e não deveria surpreender ou chocar, exceto pela nossa auto-importância. Contudo, porém, todavia, entretanto é chegada a hora do fim das religiões e da abolição humana, mas muitos ainda vão querer adorar os seus senhores e continuarem a servi-los como alimento em outros rincões, pois a Terra será livre por si mesma: a transição do planeta é do Planeta, isso precisa ficar claro, já a ascensão da humanidade é outra história, pois depende do esforço de cada um. E o nosso papel é nos livrarmos desse sistema de crenças do Império e sermos capazes de operar com autonomia moral, intelectual e existencial, auxiliando no movimento do ponto de aglutinação da Terra (ver texto "A Tarefa do Nagual" - AQUI).
Sinal de Fumaça
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