Nestas conferências, temos falado do homem, não o bastante, mas o suficiente para fins práticos; falamos um pouco do Universo, mas vejo que a ideia de escola e do trabalho de escola ainda está muito vaga e à vezes mesclada com concepções ordinárias, que não levam a nada. A ideia de escola deve ser considerada simplesmente: uma escola é um lugar onde aprendemos algo. Mas deve sempre haver certa ordem nas coisas e não podemos aprender sem obedecer a essa ordem. Falando das escolas ligadas a algum tipo de escola superior (sem essa ligação uma escola não tem nenhum sentido), eu disse que, em tais escolas, devemos trabalhar sobre o nosso ser, ao mesmo tempo que sobre o nosso conhecimento, porque, do contrário, todo o nosso conhecimento será absolutamente inútil e não tiraremos qualquer proveito dele. As ideias esotéricas que não são interpretadas de maneira prática tomam-se mera filosofia, simples ginástica intelectual que não pode levar a parte alguma.Dei-lhes todas as palavras necessárias ao estudo do sistema e expliquei a posição deste em relação aos outros sistemas. Devem estar lembrados de que falei dos diferentes caminhos e, do que eu disse sobre eles, resulta mais ou menos que este sistema pertence ao Quarto Caminho, isto é, tem todas as peculiaridades e características das escolas do Quarto Caminho. Disse então que uma escola depende do nível das pessoas que estudam nela, e esse nível depende do nível de ser.Para o desenvolvimento do ser a escola é necessária - muitas pessoas trabalhando na mesma direção de acordo com os princípios e métodos da escola. Aquilo que um homem não pode fazer, muitas pessoas trabalhando juntas podem fazer(princípio da massa crítica). Quando encontrei este sistema, convenci-me muito depressa de que ele estava ligado às escolas e, dessa maneira, tinha atravessado a história escrita ou não. Durante esse tempo, os métodos foram inventados e aperfeiçoados.As escolas podem ser de graus diferentes, mas, no momento, considero escola todos os tipos de escolas preparatórias que conduzem numa certa direção, e uma organização que pode ser chamada uma "escola" do Quarto Caminho é aquela que apresenta três forças no seu trabalho. O que é importante compreender é que há uma espécie de segredo no trabalho de escola, não no sentido de algo realmente escondido, mas algo que tem que ser explicado. A ideia é essa. Se considerarmos o trabalho de escola como uma oitava ascendente, saberemos que, em cada oitava, há dois intervalos ou claros, entre mi e fá e entre si e dó. Para ultrapassar esses claros, sem mudar o caráter e a linha do trabalho, é necessário saber como preenchê-las. Assim, se eu quiser assegurar a direção do trabalho em linha reta, deverei trabalhar simultaneamente em três linhas. Se eu trabalhar apenas numa linha, ou em duas, a direção mudará. Se eu trabalhar em três linhas, ou três oitavas, uma linha ajudará a outra a atravessar o intervalo, dando-lhe o choque necessário. É muito importante compreender isso. O trabalho de escola utiliza muitas ideias cósmicas, e as três linhas de trabalho são um arranjo especial para salvaguardar a direção justa do trabalho e para torná-lo bem sucedido.A primeira linha é o trabalho sobre si mesmo: estudo de si mesmo, estudo do sistema e a tentativa de mudar pelo menos as manifestações mais mecânicas. Esta é a linha mais importante. A segunda linha é o trabalho com as outras pessoas. Não podemos trabalhar sozinhos (princípio do pequeno tirano); um certo atrito, o incômodo e a dificuldade de trabalhar com as outras pessoas criam os choques necessários. A terceira linha é o trabalho para a escola, para a organização (princípio do sacrifício). Essa última linha assume diversos aspectos para diferentes pessoas.O princípio das três linhas é que as três oitavas devem caminhar simultaneamente e paralelas entre si, mas elas não começam todas ao mesmo tempo e, desse modo, quando uma linha atinge um intervalo, outra linha entra para ajudá-la a atravessar esse intervalo, uma vez que os lugares destes não coincidem. Se um homem é igualmente ativo em todas as três linhas, isso o livra de muitos acontecimentos acidentais. Naturalmente, a primeira linha começa primeiro. Na primeira linha de trabalho, recebemos conhecimento, ideias, ajuda. Essa linha se refere apenas a nós mesmos, é inteiramente egocêntrica. Na segunda linha, devemos não só receber como dar - transmitir conhecimento e ideias, servir de exemplo e muitas outras coisas. Ela se relaciona com as pessoas no trabalho, de modo que, nesta linha, trabalhamos, em parte, para nós mesmos e, em parte, para os outros. Na terceira linha, devemos pensar no trabalho em geral, na escola ou organização como um todo. Temos que pensar no que é útil, no que é necessário à escola, naquilo de que ela tem necessidade, de modo que a terceira linha diz respeito à ideia global de escola e todo o presente e futuro do trabalho. Se o homem não pensar sobre isso e não o compreender, então as primeiras duas linhas não produzirão o seu pleno efeito. É essa a maneira como o trabalho de escola é organizado e a razão pela qual as três linhas são necessárias; só podemos receber choques adicionais e os benefícios totais do trabalho, se trabalhando nas três linhas.Relacionam-se as três linhas de trabalho com a ideia de certo e errado, tudo o que ajuda a primeira linha, isto é, o nosso trabalho pessoal, é correto. Mas, na segunda linha, não podemos ter tudo para nós; temos que pensar nos outros que estão no trabalho, temos que aprender não só a compreender como a explicar, devemos dar aos outros. E, em pouco tempo, veremos que só podemos compreender certas coisas explicando-as aos outros. O círculo se toma mais amplo, o certo e o errado se tornam maiores. A terceira linha já tem relação com o mundo exterior, e bom e mau passam a ser aquilo que ajuda ou prejudica a existência e o trabalho de toda a escola, de modo que o círculo torna-se ainda mais amplo. Essa é a maneira de pensar nessa questão.Chamo particularmente a atenção de vocês para o estudo e a compreensão da ideia das três linhas. É um dos princípios fundamentais do trabalho de escola. Se o pusermos em prática, muitas coisas se abrirão para nós. Este sistema está repleto de tais instrumentos. Se os utilizamos, eles abrem muitas portas.O primeiro princípio do trabalho é que os esforços dão resultados proporcionais à compreensão. Se não compreendermos, não haverá resultados; se, de fato, compreendermos, os resultados serão de acordo com o nível da nossa compreensão. Assim, a primeira condição é compreender, e mesmo antes disso, devemos saber o que é compreender e o modo como adquirir a compreensão correta. O trabalho verdadeiro deve ser o trabalho sobre o ser, mas este exige compreensão das metas, condições e métodos do trabalho. A meta do trabalho é instituir uma escola. Para isso, é necessário trabalhar de acordo com os métodos e regras da escola, e trabalhar nas três linhas. O estabelecimento de uma escola significa muitas coisas.Há duas condições no trabalho com que devemos começar; a primeira é que não devemos acreditar em nada, devemos verificar tudo; a segunda, e até a mais importante condição se refere a fazer. Não deveremos fazer nada, enquanto não compreendermos por que e para que fim fazemos algo. Essas duas condições devem ser compreendidas e lembradas. É verdade que podemos nos dar conta de que não sabemos nada e não sabemos o que fazer. Nesse caso, sempre podemos pedir orientação, mas, se a pedirmos, teremos que aceitá-la e obedecer a ela.Até agora trabalhamos na primeira linha, estudamos o que nos foi dado e explicado e tentamos compreender. Agora, se quisermos continuar, deveremos tentar trabalhar na segunda linha e, se possível, na terceira. Temos que tentar pensar em como encontrar mais trabalho na primeira linha, como passar para a segunda linha e como nos aproximar do trabalho na terceira linha. Sem isso, o nosso estudo não dará nenhum resultado.Façam agora perguntas até que estejam persuadidos de que compreendem as três linhas de trabalho: o que cada linha significa, por que são necessárias, o que é necessário a cada uma delas, etc. O proveito que podemos obter é sempre proporcional à nossa compreensão. Quanto mais conscientemente trabalharmos, mais poderemos obter. É por isso que é tão importante que tudo isso seja explicado e compreendido.Pergunta: De que maneira precisamos de três linhas de trabalho?Resposta: No início, tudo depende da mente; ela deve ser educada, deve despertar. Mais tarde, dependerá da emoção. Para isso, precisamos de uma escola, devemos encontrar outras pessoas que saibam mais do que nós e devemos examinar as coisas com elas. Sem dúvida, se ficarmos sozinhos, esqueceremos as coisas que aprendemos, porque há tantos momentos em nós, que as coisas simplesmente desaparecem da nossa mente. É por isso que um homem não pode trabalhar sozinho e apenas o trabalho conjugado de muitas pessoas juntas pode produzir os resultados necessários. Há muitos obstáculos, muitos fatores que nos mantêm dormindo e tornam impossível o nosso despertar. As coisas que aprendemos simplesmente desaparecerão, se nada as favorecerem, e o que pode favorecê-las? Só outras pessoas à nossa volta.Em princípio, devemos trabalhar na aquisição de conhecimento, de material, de prática. Em seguida, quando obtivermos uma certa quantidade, começaremos a trabalhar com outras pessoas, de modo que uma pessoa será útil a outra e ajudará a outra. Na segunda linha, devido a certa organização especial, estamos em condições de trabalhar para outros, não apenas para nós. E, posteriormente, podemos compreender de que modo podemos ser úteis à escola. É tudo uma questão de compreensão. Na terceira linha, trabalhamos para a escola apenas, não para nós. Se trabalharmos nessas três linhas, depois de algum tempo essa organização se tornará uma escola para nós; mas, para as outras pessoas, que trabalham apenas numa linha, ela não será uma escola. Lembrem-se de que eu disse que uma escola é uma organização onde podemos não só adquirir conhecimento, mas também mudar o nosso ser. Uma escola dessa natureza nem sempre é a mesma, tem qualidades mágicas e pode ser um tipo de escola para uma pessoa e algo completamente diferente para outra. Devemos compreender que tudo que podemos receber, todas as ideias, todo o conhecimento possível, toda a ajuda, vêm da escola. Mas a escola não assegura coisa alguma. Considerem uma universidade comum, onde se dão apenas conhecimento e instrução. Ela pode nos assegurar uma certa quantidade de conhecimento, mas, ainda assim, só se trabalharmos. Mas, quando se apresenta a ideia de mudança de ser, não é possível nenhuma garantia, de modo que as pessoas podem estar na mesma escola, na mesma organização e podem estar em diferentes níveis.Pergunta: O senhor falou das metas e das necessidades da escola. Poderia nos dizer quais são?Resposta: Primeiro temos que nos preparar para compreendê-las. Temos ideias da escola, de modo que devemos fazer uso delas: isso nos ajudará a compreender as escolas. Se nós mesmos não fizermos nada e falarmos sobre as escolas, só criaremos imaginação e nada mais. Devemos tirar partido das ideias que temos, do contrário as escolas não existirão para nós. Devemos ter a nossa própria meta e ela deve coincidir com a meta da escola, deve fazer parte dela.Pergunta: A diferença entre a primeira e a terceira linhas indica que a escola tem metas diferentes do desenvolvimento dos seus membros, tais como, por exemplo, a perpetuação do seu próprio conhecimento?Resposta: Não apenas isso. Pode haver muitas coisas, porque ela é considerada numa linha de tempo diferente. Em relação a nós só podemos considerar o presente. Em relação à escola o tempo é mais longo.Pode ser útil lembrar-lhes como esse trabalho começou. Há muito tempo atrás, cheguei à conclusão de que muitas coisas existiam no homem que podiam ser despertadas, mas vi que isso não levava a nada, porque, num momento, elas estão despertas e, noutro, desaparecem, uma vez que não há nenhum controle. Desse modo, dei-me conta da necessidade da escola e comecei a procurar uma, mais uma vez em conexão com os poderes que eu chamava "miraculosos". Finalmente, encontrei uma escola e entrei em contato com muitas ideias. São as ideias que estamos estudando agora. Para esse estudo, é necessário uma organização; primeiro, para que as pessoas possam estudar essas ideias e, em seguida, para que possam ser preparadas para um estágio posterior. Esta é uma das razões para a existência de uma organização e só aqueles que já fizeram algo por si mesmos é que têm um lugar nela. Enquanto estiverem em poder da falsa personalidade, não podem ser úteis a si mesmos nem ao trabalho. Por isso, a primeira meta de quem esteja interessado no trabalho é estudar-se e descobrir o que deve ser mudado. Só quando certas coisas tenham mudado é que um homem está efetivamente preparado para o trabalho ativo. Uma coisa deve estar ligada a outra. Devemos compreender que o estudo pessoal está ligado à organização e ao estudo das ideias gerais. Com a ajuda dessas ideias podemos descobrir muito mais: quanto mais tivermos, mais poderemos descobrir. O trabalho nunca chega ao fim; o fim está muito distante. Ele não pode ser teórico; cada uma dessas ideias deve tornar-se prática. Há muitas coisas nesse sistema que um homem comum não pode inventar. Algumas, podemos descobrir sozinhos; outras, só podemos compreender se nos forem dadas, mas do contrário não. E há uma terceira espécie de coisas que não podemos em absoluto compreender. É necessário compreender essas graduações.
segunda-feira, 20 de novembro de 2023
O Quarto Caminho (livro), por P.D. Ouspensky
Nestas conferências, temos falado do homem, não o bastante, mas o suficiente para fins práticos; falamos um pouco do Universo, mas vejo que a ideia de escola e do trabalho de escola ainda está muito vaga e à vezes mesclada com concepções ordinárias, que não levam a nada. A ideia de escola deve ser considerada simplesmente: uma escola é um lugar onde aprendemos algo. Mas deve sempre haver certa ordem nas coisas e não podemos aprender sem obedecer a essa ordem. Falando das escolas ligadas a algum tipo de escola superior (sem essa ligação uma escola não tem nenhum sentido), eu disse que, em tais escolas, devemos trabalhar sobre o nosso ser, ao mesmo tempo que sobre o nosso conhecimento, porque, do contrário, todo o nosso conhecimento será absolutamente inútil e não tiraremos qualquer proveito dele. As ideias esotéricas que não são interpretadas de maneira prática tomam-se mera filosofia, simples ginástica intelectual que não pode levar a parte alguma.Dei-lhes todas as palavras necessárias ao estudo do sistema e expliquei a posição deste em relação aos outros sistemas. Devem estar lembrados de que falei dos diferentes caminhos e, do que eu disse sobre eles, resulta mais ou menos que este sistema pertence ao Quarto Caminho, isto é, tem todas as peculiaridades e características das escolas do Quarto Caminho. Disse então que uma escola depende do nível das pessoas que estudam nela, e esse nível depende do nível de ser.Para o desenvolvimento do ser a escola é necessária - muitas pessoas trabalhando na mesma direção de acordo com os princípios e métodos da escola. Aquilo que um homem não pode fazer, muitas pessoas trabalhando juntas podem fazer(princípio da massa crítica). Quando encontrei este sistema, convenci-me muito depressa de que ele estava ligado às escolas e, dessa maneira, tinha atravessado a história escrita ou não. Durante esse tempo, os métodos foram inventados e aperfeiçoados.As escolas podem ser de graus diferentes, mas, no momento, considero escola todos os tipos de escolas preparatórias que conduzem numa certa direção, e uma organização que pode ser chamada uma "escola" do Quarto Caminho é aquela que apresenta três forças no seu trabalho. O que é importante compreender é que há uma espécie de segredo no trabalho de escola, não no sentido de algo realmente escondido, mas algo que tem que ser explicado. A ideia é essa. Se considerarmos o trabalho de escola como uma oitava ascendente, saberemos que, em cada oitava, há dois intervalos ou claros, entre mi e fá e entre si e dó. Para ultrapassar esses claros, sem mudar o caráter e a linha do trabalho, é necessário saber como preenchê-las. Assim, se eu quiser assegurar a direção do trabalho em linha reta, deverei trabalhar simultaneamente em três linhas. Se eu trabalhar apenas numa linha, ou em duas, a direção mudará. Se eu trabalhar em três linhas, ou três oitavas, uma linha ajudará a outra a atravessar o intervalo, dando-lhe o choque necessário. É muito importante compreender isso. O trabalho de escola utiliza muitas ideias cósmicas, e as três linhas de trabalho são um arranjo especial para salvaguardar a direção justa do trabalho e para torná-lo bem sucedido.A primeira linha é o trabalho sobre si mesmo: estudo de si mesmo, estudo do sistema e a tentativa de mudar pelo menos as manifestações mais mecânicas. Esta é a linha mais importante. A segunda linha é o trabalho com as outras pessoas. Não podemos trabalhar sozinhos (princípio do pequeno tirano); um certo atrito, o incômodo e a dificuldade de trabalhar com as outras pessoas criam os choques necessários. A terceira linha é o trabalho para a escola, para a organização (princípio do sacrifício). Essa última linha assume diversos aspectos para diferentes pessoas.O princípio das três linhas é que as três oitavas devem caminhar simultaneamente e paralelas entre si, mas elas não começam todas ao mesmo tempo e, desse modo, quando uma linha atinge um intervalo, outra linha entra para ajudá-la a atravessar esse intervalo, uma vez que os lugares destes não coincidem. Se um homem é igualmente ativo em todas as três linhas, isso o livra de muitos acontecimentos acidentais. Naturalmente, a primeira linha começa primeiro. Na primeira linha de trabalho, recebemos conhecimento, ideias, ajuda. Essa linha se refere apenas a nós mesmos, é inteiramente egocêntrica. Na segunda linha, devemos não só receber como dar - transmitir conhecimento e ideias, servir de exemplo e muitas outras coisas. Ela se relaciona com as pessoas no trabalho, de modo que, nesta linha, trabalhamos, em parte, para nós mesmos e, em parte, para os outros. Na terceira linha, devemos pensar no trabalho em geral, na escola ou organização como um todo. Temos que pensar no que é útil, no que é necessário à escola, naquilo de que ela tem necessidade, de modo que a terceira linha diz respeito à ideia global de escola e todo o presente e futuro do trabalho. Se o homem não pensar sobre isso e não o compreender, então as primeiras duas linhas não produzirão o seu pleno efeito. É essa a maneira como o trabalho de escola é organizado e a razão pela qual as três linhas são necessárias; só podemos receber choques adicionais e os benefícios totais do trabalho, se trabalhando nas três linhas.Relacionam-se as três linhas de trabalho com a ideia de certo e errado, tudo o que ajuda a primeira linha, isto é, o nosso trabalho pessoal, é correto. Mas, na segunda linha, não podemos ter tudo para nós; temos que pensar nos outros que estão no trabalho, temos que aprender não só a compreender como a explicar, devemos dar aos outros. E, em pouco tempo, veremos que só podemos compreender certas coisas explicando-as aos outros. O círculo se toma mais amplo, o certo e o errado se tornam maiores. A terceira linha já tem relação com o mundo exterior, e bom e mau passam a ser aquilo que ajuda ou prejudica a existência e o trabalho de toda a escola, de modo que o círculo torna-se ainda mais amplo. Essa é a maneira de pensar nessa questão.Chamo particularmente a atenção de vocês para o estudo e a compreensão da ideia das três linhas. É um dos princípios fundamentais do trabalho de escola. Se o pusermos em prática, muitas coisas se abrirão para nós. Este sistema está repleto de tais instrumentos. Se os utilizamos, eles abrem muitas portas.O primeiro princípio do trabalho é que os esforços dão resultados proporcionais à compreensão. Se não compreendermos, não haverá resultados; se, de fato, compreendermos, os resultados serão de acordo com o nível da nossa compreensão. Assim, a primeira condição é compreender, e mesmo antes disso, devemos saber o que é compreender e o modo como adquirir a compreensão correta. O trabalho verdadeiro deve ser o trabalho sobre o ser, mas este exige compreensão das metas, condições e métodos do trabalho. A meta do trabalho é instituir uma escola. Para isso, é necessário trabalhar de acordo com os métodos e regras da escola, e trabalhar nas três linhas. O estabelecimento de uma escola significa muitas coisas.Há duas condições no trabalho com que devemos começar; a primeira é que não devemos acreditar em nada, devemos verificar tudo; a segunda, e até a mais importante condição se refere a fazer. Não deveremos fazer nada, enquanto não compreendermos por que e para que fim fazemos algo. Essas duas condições devem ser compreendidas e lembradas. É verdade que podemos nos dar conta de que não sabemos nada e não sabemos o que fazer. Nesse caso, sempre podemos pedir orientação, mas, se a pedirmos, teremos que aceitá-la e obedecer a ela.Até agora trabalhamos na primeira linha, estudamos o que nos foi dado e explicado e tentamos compreender. Agora, se quisermos continuar, deveremos tentar trabalhar na segunda linha e, se possível, na terceira. Temos que tentar pensar em como encontrar mais trabalho na primeira linha, como passar para a segunda linha e como nos aproximar do trabalho na terceira linha. Sem isso, o nosso estudo não dará nenhum resultado.Façam agora perguntas até que estejam persuadidos de que compreendem as três linhas de trabalho: o que cada linha significa, por que são necessárias, o que é necessário a cada uma delas, etc. O proveito que podemos obter é sempre proporcional à nossa compreensão. Quanto mais conscientemente trabalharmos, mais poderemos obter. É por isso que é tão importante que tudo isso seja explicado e compreendido.Pergunta: De que maneira precisamos de três linhas de trabalho?Resposta: No início, tudo depende da mente; ela deve ser educada, deve despertar. Mais tarde, dependerá da emoção. Para isso, precisamos de uma escola, devemos encontrar outras pessoas que saibam mais do que nós e devemos examinar as coisas com elas. Sem dúvida, se ficarmos sozinhos, esqueceremos as coisas que aprendemos, porque há tantos momentos em nós, que as coisas simplesmente desaparecem da nossa mente. É por isso que um homem não pode trabalhar sozinho e apenas o trabalho conjugado de muitas pessoas juntas pode produzir os resultados necessários. Há muitos obstáculos, muitos fatores que nos mantêm dormindo e tornam impossível o nosso despertar. As coisas que aprendemos simplesmente desaparecerão, se nada as favorecerem, e o que pode favorecê-las? Só outras pessoas à nossa volta.Em princípio, devemos trabalhar na aquisição de conhecimento, de material, de prática. Em seguida, quando obtivermos uma certa quantidade, começaremos a trabalhar com outras pessoas, de modo que uma pessoa será útil a outra e ajudará a outra. Na segunda linha, devido a certa organização especial, estamos em condições de trabalhar para outros, não apenas para nós. E, posteriormente, podemos compreender de que modo podemos ser úteis à escola. É tudo uma questão de compreensão. Na terceira linha, trabalhamos para a escola apenas, não para nós. Se trabalharmos nessas três linhas, depois de algum tempo essa organização se tornará uma escola para nós; mas, para as outras pessoas, que trabalham apenas numa linha, ela não será uma escola. Lembrem-se de que eu disse que uma escola é uma organização onde podemos não só adquirir conhecimento, mas também mudar o nosso ser. Uma escola dessa natureza nem sempre é a mesma, tem qualidades mágicas e pode ser um tipo de escola para uma pessoa e algo completamente diferente para outra. Devemos compreender que tudo que podemos receber, todas as ideias, todo o conhecimento possível, toda a ajuda, vêm da escola. Mas a escola não assegura coisa alguma. Considerem uma universidade comum, onde se dão apenas conhecimento e instrução. Ela pode nos assegurar uma certa quantidade de conhecimento, mas, ainda assim, só se trabalharmos. Mas, quando se apresenta a ideia de mudança de ser, não é possível nenhuma garantia, de modo que as pessoas podem estar na mesma escola, na mesma organização e podem estar em diferentes níveis.Pergunta: O senhor falou das metas e das necessidades da escola. Poderia nos dizer quais são?Resposta: Primeiro temos que nos preparar para compreendê-las. Temos ideias da escola, de modo que devemos fazer uso delas: isso nos ajudará a compreender as escolas. Se nós mesmos não fizermos nada e falarmos sobre as escolas, só criaremos imaginação e nada mais. Devemos tirar partido das ideias que temos, do contrário as escolas não existirão para nós. Devemos ter a nossa própria meta e ela deve coincidir com a meta da escola, deve fazer parte dela.Pergunta: A diferença entre a primeira e a terceira linhas indica que a escola tem metas diferentes do desenvolvimento dos seus membros, tais como, por exemplo, a perpetuação do seu próprio conhecimento?Resposta: Não apenas isso. Pode haver muitas coisas, porque ela é considerada numa linha de tempo diferente. Em relação a nós só podemos considerar o presente. Em relação à escola o tempo é mais longo.Pode ser útil lembrar-lhes como esse trabalho começou. Há muito tempo atrás, cheguei à conclusão de que muitas coisas existiam no homem que podiam ser despertadas, mas vi que isso não levava a nada, porque, num momento, elas estão despertas e, noutro, desaparecem, uma vez que não há nenhum controle. Desse modo, dei-me conta da necessidade da escola e comecei a procurar uma, mais uma vez em conexão com os poderes que eu chamava "miraculosos". Finalmente, encontrei uma escola e entrei em contato com muitas ideias. São as ideias que estamos estudando agora. Para esse estudo, é necessário uma organização; primeiro, para que as pessoas possam estudar essas ideias e, em seguida, para que possam ser preparadas para um estágio posterior. Esta é uma das razões para a existência de uma organização e só aqueles que já fizeram algo por si mesmos é que têm um lugar nela. Enquanto estiverem em poder da falsa personalidade, não podem ser úteis a si mesmos nem ao trabalho. Por isso, a primeira meta de quem esteja interessado no trabalho é estudar-se e descobrir o que deve ser mudado. Só quando certas coisas tenham mudado é que um homem está efetivamente preparado para o trabalho ativo. Uma coisa deve estar ligada a outra. Devemos compreender que o estudo pessoal está ligado à organização e ao estudo das ideias gerais. Com a ajuda dessas ideias podemos descobrir muito mais: quanto mais tivermos, mais poderemos descobrir. O trabalho nunca chega ao fim; o fim está muito distante. Ele não pode ser teórico; cada uma dessas ideias deve tornar-se prática. Há muitas coisas nesse sistema que um homem comum não pode inventar. Algumas, podemos descobrir sozinhos; outras, só podemos compreender se nos forem dadas, mas do contrário não. E há uma terceira espécie de coisas que não podemos em absoluto compreender. É necessário compreender essas graduações.
sexta-feira, 17 de novembro de 2023
Anasazi, arte rupestre e alienígenas
Já tinha ouvido falar nos Anasazis, misterioso povo indígena que viveu a mais de 600 atrás no sudoeste dos EUA e que desapareceu sem deixar vestígios, em duas situações diferentes. Uma foi uma citação en passant nos textos publicados do Nuvem que Passa e a outra foi num episódio da famosa série Arquivo X, muito popular nos anos 90, se não me engano no episódio que fecha a 2ª temporada, na qual o termo anasazi é traduzido como antigos alienígenas.
É bem conhecida a ligação entre os povos nativos e o chamado povo das estrelas.
Aqui cabe fazermos uma diferenciação entre povos das estrelas, mais comumente entendidos como extraterrestres, e alienígenas. Os primeiros tem como referência a própria Terra e opera na faixa de realidade em que estamos atuando enquanto humanidade prisioneira desta faixa. Já aqueles, os alienígenas, são de fato estranhos a nós tanto em termos culturais, quanto no sentido dimensional, pois podem operar não só nesta faixa de realidade em que estamos presos como também operar noutras faixas de realidade, agindo, portanto hiperdimensionalmente.
É importante essa diferenciação, pois muito do que os povos nativos revelaram em pinturas rupestres, tal como a que está aqui exposta, não necessariamente se apresenta na realidade ordinária ou cotidiana como são os avistamentos de ovnis, ufos e uaps, ou ainda a revelação de seres biológicos não humanos (com DNA híbrido, segundo pesquisadores da Universidade ICA, Peru) tal como as chamadas múmias de Nazca apresentadas no Congresso do México neste ano de 2023.
No livro-catálogo de raças estelares escrito pela arqueóloga Elena Dannan identificamos uma espécie que muito se assemelha a pintura rupestre em destaque. Parece tratar-se de um Akhara (Mantis) Negro (lado direito da imagem a seguir do ponto de vista de quem olha):
"Chamados também de Negros Altos. Seus corpos parecem vestidos de um exoesqueleto brilhante com juntas extras em seus braços e pernas. Eles têm diferentes níveis de características humanoides. Seus olhos vão de dourados a um vermelho brilhante. Acredita-se que os mais humanoides sejam híbridos. Não trabalham para os coletivos Grey, nem Órion, mas sim independentemente em programas de sua própria curiosidade científica e também assistem as espécies terrenas no despertar de sua consciência - página 210 e 211 do livro Um Presente das Estrelas.
DR
O Ponto de Aglutinação, por Nuvem que Passa
Estive observando as opiniões que surgiram sobre este tema bem complexo que é o ponto de aglutinação.
É um tema que não faz parte da chamada literatura esotérica europeia e mesmo na oriental nada encontraremos exato sobre tal tema¹, certas confusões, como um pretenso chacra das costas, me parecem mais associação livre que factual.
O ponto de aglutinação não aparece em nenhuma outra obra além daquelas que vêm dos que estiveram em contato com a Tradição Tolteca, ou seja, Dr. Carlos Castañeda, Florinda Donner e Taisha Abelar.
Para falarmos sobre o ponto de aglutinação temos que ir aos paradigmas desse caminho e como é visto aqui o ser humano.
A realidade física do ser humano é tida como uma realidade incluída num campo mais amplo, um corpo de energia que todos possuímos.
Esse corpo possui um duplo que pode ser desenvolvido.
Para os videntes toltecas somos dois feijões incrivelmente unidos, com o lado esquerdo, ou corpo esquerdo, com um tipo de movimento na sua energia, via de regra bem adormecido e hipofuncional, e o lado direito sob domínio da mente (instalação alienígena em nós²) assim pulsando mais dinamicamente, mas isto não significa que haja autoconsciência, há apenas consciência.
É bem sutil a diferença pragmática que tal definição de ser humano coloca.
Vamos mais profundamente nisso.
Para os videntes toltecas somos feitos da mesma natureza de toda a eternidade a nossa volta.
Fibras autoconscientes.
Certas porções de fibras em nós ficam despertas, entram em ressonância com as grandes fibras da eternidade e então aglutinam uma realidade.
Existe em nosso corpo energético, na altura das omoplatas, a distância de um braço estendido para trás, uma bola do tamanho aproximado de uma bola de tênis.
É esta bola luminosa dentro da luminosidade de nosso corpo de energia, ou mesmo na sua superfície, que escolhe um conjunto de fibras das infinitas que atravessam nosso ser luminoso.
Seleciona e aglutina o que está ali, que vamos chamar de mundo, pessoas, coisas, etc…
De uma forma muito tosca podemos dizer que é como um sintonizador de um rádio.
Somos o rádio, com potenciais estações dentro de nós, onde este ponto para (se fixa) determina que o tipo de consciência ali presente se manifeste e quando plenamente em sintonia com fibras da Eternidade teremos a percepção de um mundo completo e inclusivo.
Se a percepção for errática, oscilante e sem foco diremos que aconteceram alucinações, houve a percepção mas não o foco ou a energia necessárias para manter a percepção da nova realidade percebida.
Todos nós temos o ponto de aglutinação originalmente fixo num conjunto de fibras que determina a percepção da realidade tal qual a partilhamos.
Não escolhemos isso, nos foi imposto.
Faz parte do condicionamento que nos coloca num lugar da Eternidade bem limitado.
Falar exatamente o que é o ponto de aglutinação ou mesmo sobre nossa natureza energética é difícil, bem difícil.
Porque nosso vocabulário, a sintaxe de nossa comunicação está envolvida com outros paradigmas, assim sempre que "falamos" ou escrevemos sobre ponto de aglutinação ou outras peculiaridades de nossa realidade energética estamos sempre nos "aproximando" da realidade descrita, com maior ou menor grau de exatidão, nunca total.
Sentir efetivamente o que tudo isto que foi colocado acima significa é mudar toda a relação com a realidade, mudança que podemos comparar com a sensação que NEO, em Matrix, tem quando olha pela janela do carro para lugares que "vivia", onde "comia", etc.
Compreender a complexidade do ponto de aglutinação é descobrir que durante toda a vida "isto" viveu em nós, "isso olhou", "isso entendeu", sendo "isso " um conjunto de jeitos de raciocinar, emocionar e reagir que tomamos por "eu".
A iniciação do(a) xamã é sempre um caminho no qual ele se desintegra, se desfaz de tudo que dele fizeram e então é reconstruído pela força mesma da Mãe Natureza e redivivo começa outra vida, não mais presa às antigas formas, mas nascido(a) de si, por si vai agora trilhar um caminho que, quiçá, levá-lo(a) para muito, muito longe.
O caminho do guerreiro tolteca é antes de mais nada pragmático, assim só podemos mesmo dizer que entendemos algo neste campo quando praticamos por nós mesmos.
Considero surpreendente a obra do novo nagual, realmente ele trás à tona um mundo coerente, estranho, mágico e assombroso.
Os conceitos ali presentes tem definições que são tão precisas, simples e elegantes que se tornam verdadeiras definições fundamentais sobre a fenomenologia da existência e os mistérios da consciência.
No fruto de minha própria experiência são os tratados sobre o tema que mais oferecem preciosas orientações para levar à compreensão sobre o que vivenciamos em outras realidades.
Somos um conjunto de sentimentos, de pensamentos, de jeitos de agir.
Expressamos isso de acordo com o tipo de fibras, das incontáveis que somos constituídos, que ativamos.
Como fibras óticas só onde a luz passa se acende. As outras ficam dormindo.
Agora, nesse momento, temos o poder de perceber outras realidades, de alinhar mundos completos.
Estas outras possibilidades estão em nós, mas temos de treinar para desenvolvê-las. E ter energia para isso.
Pensamos em "deslocar a consciência para outros mundos, para outros estados".
E não é questão de deslocar a consciência, é a percepção que vai, vamos deslocar a percepção, vamos perceber outros filamentos, outros tipos de consciência.
Quando estivermos percebendo outros tipos de consciência vamos estar ressoando a eles e vamos dizer que estamos neste estado de consciência, que nossa consciência viajou até aquele mundo.
Mas a sutileza é que a percepção, o ente perceptivo que somos, é que viaja, de um estado para outro desta vasta substância imponderável chamada consciência, matéria virgem original da qual tudo é gerado.
Por isso ficamos presos onde estamos.
Por abordarmos conhecimentos novos com práticas velhas.
Trazemos muitas vezes, para o Xamanismo, um conjunto de crendices e concepções de mundo que nada tem a ver com a visão de realidade dos povos nativos. Trazemos crenças de escravos para um mundo onde cada um busca ser plena liberdade.
Somos uma essência perceptiva.
Percebemos o mundo à nossa volta. O problema é que interpretamos essa percepção em termos de um limite socialmente imposto. Energias em diferentes comprimentos de onda tocam nossos sentidos, tocam todo o nosso corpo. Mas só decodificamos aquilo que aprendemos a decodificar.
Assim sendo só interpretamos do mundo aquilo que já está em nossos referenciais, deixando escapar uma amplitude de possibilidades perceptivas inimagináveis.
É quando um ente de outro mundo vira “um vento estranho" ou algo "vagamente familiar".
Quando entramos na trilha do Xamanismo aprendemos que cada momento deve ser vivido intensamente como se fosse o único.
Cada momento é vivido intensamente como se fosse o único porque é o único, não há equívoco aqui para quem está intensamente presente.
Só há o momento no qual inspiramos, expiramos e o espaço entre esses dois instantes, o aqui e agora.
Isto é fundamental para ampliar nossa percepção de forma a ir além dos moldes que nos condicionaram.
O que os(as) xamãs fazem é usar outra explicação, outro modelo da realidade para construir uma segunda visão do mundo, é chamado "o modo de sentir do feiticeiro".
Mas a sutileza dos guerreiros toltecas é que eles não se afundam nessa nova visão de mundo e nunca mais se permitem cair no grau de adormecimento e mecanicidade que estavam na primeira visão de mundo, chamada por eles de "primeira atenção".
Muitos povos entram na segunda visão de mundo com suas mentes lineares e emoções reativas, com seus modos de ser e agir sem nenhum trabalho maior.
Assim, se vierem de povos equilibrados e autônomos, realizados e não coercivos, ótimo, mas se forem egressos de sistemas sociais que os deturparam que tipo de pessoas com poderes reais teremos?
Temos cientistas que pesquisam a cura da AIDS e cientistas que pesquisam formas eficientes de matar populações selecionadas.
Xamãs há em igual diversidade.
Temos que tomar cuidado em não cair em ingenuidades, de mundos angelicais e seres bons nos protegendo sempre.
Temos que aprender a lutar com nossa força, nossa presença e aliança com seres que saibamos lidar, para não nos tornarmos servos de servos como tantos antes de nós.
A atenção é o mistério para os Guerreiros Toltecas.
A atenção está em tudo que é vivo.
A primeira atenção é o aspecto da atenção que cobre o conhecido, todo ele, mesmo o que ainda desconhecemos mas será conhecido um dia.
Há algo que podemos chamar de ordem aqui, embora tenha sempre cuidado com este tipo de termo.
Há outra atenção, a "Segunda Atenção".
A própria palavra vastidão se encolhe em significado frente a imensidão das possibilidades cognitivas acessíveis em termos de segunda atenção.
Muitos encontraram a segunda atenção e aqui viram, pela vastidão, um mundo superior ao humano.
E assim em viagens sucessivas por esta vastidão classificaram de acordo com suas concepções pessoais os sete mundos visitáveis pela nossa percepção usando o corpo de energia, sete mundos inteiros que podem ser alinhados e assim vivenciados.
Não sei porque 7, não sou chegado em "numerologismos", pois sinto que os números são mistérios reais, não coisa para limitar ao intelecto.
A segunda atenção é a atenção do corpo energético.
Este segundo corpo que temos e que um dia, em delicada manobra, temos que desgrudar do primeiro, o famoso "partir em dois" da tradição tolteca.
Os(as) xamãs guerreiros(as) se multiplicam também, mas por cissiparidade, criam a si mesmos de si mesmos.
Este é um aspecto bem interessante do xamanismo guerreiro proposto pelos Toltecas e que encontraremos algo incrivelmente similar em certos caminhos Taoistas (ver texto Taoismo e Xamanismo, faces diferentes da mesma Arte).
Continuar a vida de outra forma.
Os xamãs toltecas do clã guerreiro não geram filhos, continuam de outra forma, e essa reprodução em dois, no corpo físico e "no outro", o "sósia" é uma dessas complexas fases de cissiparidade que os(as) xamãs de algumas linhagens, sabidamente a tolteca, realizam.
Vocês devem ter lido no livro da Florinda Donner, Sonhos Lúcidos, sobre os seres Esperanza e Zelador que eram seres criados no Infinito por uma sonhadora do grupo de D. Juan Matus e que vivia junto com a Florinda do grupo do velho nagual.
Existiam Esperanza e o Zelador por força do intento dessa sonhadora espetacular do grupo do velho nagual, que deslocou seu ponto de aglutinação a uma posição e mundo onde era possível realizar isso.
Tais ideias são anos-luz de distância das "normalmente" aceitas por esoterismos.
Os(as) xamãs de certas linhagens descobriram segredos e os vem mantendo atualizados pela sua prática por milênios. Sabem que podem expandir-se de forma muito ampla.
Por isso começam o caminho lembrando-se de si (conceito que vem do Quarto Caminho e que na tradição tolteca tem algo a ver com a espreita de si. Sugerimos o texto de Gurdjieff que chamamos de "Visão de um Espreitador").
Dois, aqui e aqui, o sósia, o duplo, o "outro", corpo astral, corpo de energia, corpo de sonho, enfim termos não faltam para tentar definir este outro estado de realização energética.
E por que isso acontece?
Porque praticamos algum rito, ingerimos algo, nos privamos de "n" coisas, por alguma causa aleatória?
Muitas vezes sim, mas quem trilha o Xamanismo tem a busca de ter um maior equilíbrio com estes movimentos da consciência, este ir e vir entre mundos e possibilidades perceptivas e indo fundo nisso vai compreender que algo em si determina sua forma de ser, sentir, pensar, agir.
Este algo é o ponto de aglutinação.
Todas essas mudanças ocorrem porque o ponto de aglutinação se move e alinha novas fibras interiores com fibras exteriores.
Em sua praticidade muitos (as) xamãs decidiram:
Vamos direto ao Ponto.
Ao ponto de aglutinação.
Se é ele que determina tudo, então, tudo se resume em como movê-lo. E chegaram na vontade.
E descobriram o INTENTO.
Que são meras palavras, mas que indicam portentosas realizações acessíveis a todos nós pelo uso estratégico de nossa energia vital.
Mover o ponto de aglutinação.
Essa bola de tênis luminosa é prenhe em luz.
Onde está o ponto de aglutinação é onde está nossa consciência.
E é este equívoco que os Toltecas sanam.
A consciência nos foi dada, nos será tirada.
Mas o ponto de aglutinação enquanto foca diferentes tipos e estados de consciência, ainda está movido por fatores mecânicos, ditos fortuitos.
Entretanto, podemos treinar para soltar o ponto de aglutinação, isto é, soltar nossa percepção para que ela vá a outras frequências, a outras realidades e nelas nos colocarmos de forma equilibrada e presente.
O ponto de aglutinação pode levar a energia da vida que está no corpo, a força vital, a se reconhecer como força em si e aprender a ser consciente com a consciência.
Este segredo sutil esteve entre os alquimistas, esteve entre comunidades templárias, entre construtores de templos, em solitários eremitérios de Hsiens taoistas, em vários tempos e lugares, entre pessoas diversas hoje, em diversos lugares.
A força vital em nós não é requerida pela Eternidade.
A Eternidade absorve de volta a consciência que chocou no ovo cósmico³ que veio pelo espaço-tempo resultar em tua vida.
Tem toda uma sequência de energias em curso no meio que estamos inseridos agora. Nós entramos numa história já acontecendo e sairemos dela antes de concluir.
Somos passageiros e nos esquecemos disso. Somos nós mesmos portadores de genes que carregam uma linguagem primordial para algum dia ser lida por alguém, lá na frente.
Somos um momento da vida e isto precisa ser reconhecido, nossa efemeridade frente a totalidade do universo.
Não nascemos como estrelas, seres de quasares, pulsars, não somos entes gerados a beira de um buraco negro, nossa vida tem meros 100, 120 anos de possibilidade plena neste corpo , mais que isso teríamos que recorrer a práticas de continuidade da vida que tem se mostrado como armadilhas.
A efemeridade de nossa condição nos mostra muita coisa e nos coloca frente a certas questões. Fomos tornados terrivelmente servis. Adoramos servir deuses, deusas, mestres, enfim, estamos sempre nos colocando na posição de seguidores.
O Xamanismo é ação e seguidores reagem, não AGEM (ver texto Agir Conscientemente, Aqui e Agora - hiperlink), que é nosso objetivo.
Frente a uma estrela, o que pode uma vela?
Continuar a arder me parece o devido.
Mas muitos de nós tem ido a outros mundos, entrado em contato com seres conscientes de incrível poder e voltam adorando outros entes.
Muitos recebem as novas posições do ponto de aglutinação como "dons de poder", isto gera dependências e é um risco ser colocado numa posição de consciência que podemos não ter os recursos energéticos para administrar.
Estar em sintonia e harmonizar-se com a Natureza é distinto de cultuar entes diversos em busca de sua parceria em poder.
Os cultos de pedido, de implorar, de ir em busca de algo como favor extremo é algo estranho à índole viril (intento inflexível) do Xamanismo.
Há uma grande diferença. De um lado temos os cultos que lidam com as forças da Natureza, que podem, às vezes, em virtude do povo que vieram, até antropomorfizar as forças naturais em formas, como interpretações mais desavisadas dos ritos africanos e indígenas.
Noutra vertente temos os cultos que adoram seres, entes de incrível poder, que podem se arrogar a posições de criador e de senhor absoluto, mas são nitidamente entes, em briga com outros entes e criando seres escravos da fé para servir em suas batalhas (a disputa mítica - Maha Lilah - entre Brahma, Shiva e Vishnu que nos revela a tradição hindu mostra justamente isso: seres criadores disputando entre si quem é o mais forte e quem é o criador deste universo, que é apenas um entre muitos, e cá entre nós, não é dos melhores, haja vista o aspecto predador desta realidade e o grau de sofrimento que tal condição impõe aos que aqui vivem. Sugiro estudar o trabalho do brasileiro Rogério de Freitas: Quem é Brahma, Vishnu e Shiva?). Isto tem acontecido desde a antiguidade, os sacrifícios aos deuses de certos povos tinham duas naturezas bastantes distintas.
Uma delas era a natureza de equilíbrio de forças.
Haviam formas de equilibrar certas forças em oferta de sangue e vida, uma magia perigosa, mas que era praticada por sacerdotes e sacerdotisas experientes, frente a um vulcão, conseguindo mantê-lo inativo por um longo período, frente a desastres naturais como seca, chuva em excesso, terremotos.
Embora a ciência moderna arrogue-se na explicação "positivista" de todos esses fenômenos há princípios de incerteza, há aspectos quânticos da questão que só agora os "positivistas" têm meios de avaliar.
Como em outros campos, a arrogância da ciência positivista do século passado revela mais desconhecimento e inexistência de teorias amplas e sofisticadas o suficiente para abordar a complexidade do conhecimento nativo.
A ciência positivista agiu como o estudante do ciclo de alfabetização que ri de um colega mais avançado resolvendo problemas matemáticos com variáveis. Dirá que está mistificando, inventando, por desconhecer as possibilidades envolvidas. A ciência positivista, com sua abordagem restrita à primeira atenção e, ainda, um aspecto bem limitado dessa área, quis limitar a suas estreitas definições uma ciência milenar, resultante da transformação dinâmica do conhecimento por eras e eras de praticantes.
Os povos nativos foram e são herdeiros da antiga ARTE CIÊNCIA MAGIA dos povos que viveram em uma civilização ancestral, também planetária. Herdaram vários tipos de saber e muitos herdaram o que se poderia chamar de necromancia (que seria mais tarde erroneamente deturpado no termo magia negra, de necro, negro, mas necro aqui quer dizer morte). A magia da morte tirava proveito da morte de outros. Sem moralismos ao julgar isso, apenas nos atendo aos fatos. Havia e há magia da vida, magia que realiza com a vida e magia da morte, magia que realiza com a força da morte. É uma forma de agir, tem poder, para quem só se preocupa com o poder, funciona, é real.
E os cultos de sacrifício existiram e existem, hoje por vezes disfarçados como guerra, ou o pretenso extermínio de espécimes impuros dos campos de concentração antigos e atuais.
O fato é que sangue, muito sangue ainda é oferecido a vários tipos de forças, naturais e entes. E o mundo aí está, onde está, em flagrante desequilíbrio. Os impérios Incas e Maias se salvaram com seus sacrifícios de sangue? Funciona mesmo? São questões profundas a quem estuda o tema. A consciência coletiva está caminhando rumo à autodestruição, isto é nítido para qualquer um que olhe sensatamente o mundo à sua volta.
Assim sendo, frente a esses fatos evidentes, mudar o ponto de aglutinação, movimentar o ponto de aglutinação, alinhar outras realidades, ir a outros mundos deixou de ser um treinamento a mais no caminho dos (as) xamãs mas se tornou necessidade de sobrevivência.
Assim o tópico PONTO de AGLUTINAÇÃO não pode ser definido.
D. Juan Matus recomenda que repitamos sem nos preocupar em entender, só intentemos :
"O ponto de aglutinação é chave de todos os mistérios" (coloquei uma frase aproximada da dele, o sentido é esse, não as palavras, no "Arte de Sonhar" encontram a frase exata⁴) Mas a mente pode "participar " do conhecimento. Em nenhum momento os(as) xamãs desprezam a mente. Ao contrário, valorizam bastante, a ponto dos Toltecas considerarem a mente bem trabalhada o único escudo que temos contra os assaltos do Infinito.
O problema é a mente tacanha que ao invés de participar do conhecimento, respondendo em atos e não reagindo, se transformando sob seu mágico toque, quer congelar, analisar, dissecar o conhecimento para linearizá-lo aos limites cognitivos aos quais foi aprisionada.
A mente é bem mais que esta faculdade de raciocinar que usamos.
Sentimentos é algo mais amplo que o emocionar que temos.
Agir é mais criativo e efetivo que o mero reagir, a estímulos conscientes ou inconscientes, estímulos que vêm do meio ou nascem de combinações fortuitas de humores, hormônios, posições planetárias e outros fatores mil.
A posição do ponto de aglutinação determina isto.
Esse é um mistério digno de meditação.
Quando compreendemos isso compreendemos a tremenda importância de desenvolver a Vontade. Vontade no sentido Tolteca do termo não tem nada a ver com os sentidos que até agora demos a esse termo. É uma forma de falar sobre uma força concreta, que nasce em tentáculos abaixo de nosso umbigo, um conjunto de fibras que precisamos nos tornar sensíveis. Parte da recapitulação (ver texto sobre Recapitulação de 09/08/2001 - hiperlink) é sentir essas fibras como magnetos, tirando da cena recapitulada toda a energia nossa, como magnetos que desmontassem uma imagem por atrair as partículas fundamentais, inspiramos essa energia e a trazemos de volta para nossa realidade aqui e agora. Depois ao expirar é com estas fibras que enviamos como mangueiras em jato, a energia externa que ficou impregnada em nós, devolvendo-a para a Eternidade. Esse tipo de prática é deveras importante, pois é a forma que os(as) xamãs encontraram de oferecer a Eternidade o retorno do investimento que ela fez em nós.
Ela nos deu consciência e junto veio a vida. A consciência foi-nos dada para que a desenvolvêssemos e refinássemos pelo processo de estar vivo. Ao final há a tomada de volta, o dissolver da consciência que estava sendo trabalhada no mistério da vida em nosso corpo, no vasto mar da Consciência vai-se a consciência. Alguns sobrevivem mais ou menos um pouco de formas diversas, mas sempre algo incompletas, sobrevida que por vezes se torna prisão.
Ao recapitularmos o ponto de aglutinação se desloca para fibras dentro de nós onde estão armazenados aqueles momentos. Em nossas células e em nossas fibras ficam armazenados todos os momentos que temos. Os xamãs toltecas usam isso para ensinar, dedicando parte do treinamento para o lado direito, o mundo comum e outro tipo de treinamento no lado esquerdo, o qual é sempre esquecido por longo período até que o lado direito tenha amadurecido e desenvolvido a sutileza e o autocontrole que caracterizam os(as) xamãs guerreiros.
Neste nível de realização, juntar as duas realidades, chamado "juntar os dois lados", torna um(a) xamã um homem ou uma mulher que tem "duas faces", uma olhando para cada lado. É uma forma de falar da fusão do corpo físico com o de energia, depois de separar e desenvolver amplamente as habilidades do corpo direito (primeira atenção, treinada na vida cotidiana , com tarefas e estudos) e do corpo esquerdo (treinado no sonhar, é a segunda atenção) os corpos se fundem criando um ser íntegro, que agora tem as duas possibilidades ao seu acesso, a primeira atenção e a segunda.
Aqui os (as) xamãs guerreiros (as) estão sós.
Pois a forma de entrar em outros mundos é muito solitária, algumas vezes temos a sorte de termos algumas pessoas junto, na maioria das vezes os(as) xamãs guerreiros(as) entram espreitadoramente em outros mundos e ali se maravilham com o que presenciam. E tal maravilhar nos torna cientes que ali estamos porque nosso ponto de aglutinação se deslocou além de certos limites dentro do ovo luminoso e deixou de enfatizar as fibras da realidade "normal", nos colocando assim em outro mundo, totalmente inclusivo. Assim viajamos a outros mundos, deslocando nosso ponto de aglutinação. Não há métodos e receita de bolo aqui, só INTENTO e ENERGIA. É um dado sutil que os ancestrais Toltecas nos revelaram.
Não precisamos de naves para ir a outros mundos.
Temos a tecnologia em nós mesmos.
Não precisamos dos teletransportes da Enterprise.
Temos a tecnologia em nós.
E só precisamos de energia e intento para conseguir acionar tudo isso.
É um desafio, é uma longa caminhada , mas durante o caminho já descobriremos tantas maravilhas...
E somos nós então um ponto de aglutinação que tem a chance de aprender durante a vida como fazer a energia vital tornar-se consciente de si.
Para que no momento no qual a Eternidade vier receber a consciência que em nós implantou, possa ela levar tudo, e a força vital retida pelo ponto de aglutinação não se dissipe junto.
Por um instante todo o mundo se desaba, tudo deixa de existir, mas o xamã, a xamã mantém-se no que chamam o último bastião da consciência, um senso de permanência além mesmo da consciência em tudo que havia se mostrado para nós.
Então há uma chance de escapar, pelo menos.
Deixar tudo, TUDO para a ETERNIDADE, tudo que foi conhecido, tudo que era ainda possível de ser conhecido nas esferas infindas da primeira e segunda atenção.
Depois desse abandonar de tudo, desse esvaziar de si , desse morrer pleno para o que ficou, tomar então um outro tipo de consciência que parece ter sempre estado ali, mas estava eclipsada pelas outras duas.
Chamam isso de Terceira atenção, nos tornamos seres inorgânicos, mas não pelo caminho antigo, onde os(as) xamãs adquiriam uma vida como seres inorgânicos, mas dentro dos túneis do mundo deles, sendo sugados em sua energia existencial.
Atingir a terceira atenção é também chamado de "consciência total".
Arder com o fogo interior é uma ideia interessante, complexa. Quando chega a hora de ir-se o (a) xamã libera seu ponto de aglutinação para que ele faça a última viagem, a última dança que todos temos acesso, mas só os que treinam para isso usufruem completamente.
A vida de um(a) xamã é passada em posições muito diferentes do ponto de aglutinação.
Por isto os (as) xamãs desenvolvem a primeira atenção a um estado mais amplo chamado "consciência intensificada" , ou ainda "sonhar acordado". Neste estado vivem os (as) xamãs. Deste estado vão e voltam de outros mundos, por vezes incrivelmente distante deste, vivendo as mais desconcertantes experiências e sempre voltando.
Quando ao término de toda uma vida de trabalho o(a) xamã decide ir além, rumo à "liberdade total", libera seu ponto de aglutinação.
Ele ricocheteia em todos os diferentes e distantes pontos dentro de seu corpo luminoso nos quais o (a) xamã vivenciou experiências efetivas. Isso gera uma energia tremenda que é mesclada a energia da consciência da própria Terra que o (a) xamã com anos de uso está pronto para usar mais uma vez. Definitiva vez. Pois uma mudança vai acontecer.
E a tremenda energia contida no corpo é surpreendida pela força da dissolução quando o(a) xamã se abre para o "Derrubador"⁵ não para que ele o lance em posição distante no nível da segunda atenção, mas para que tal força impulsione seu ponto de aglutinação a uma posição específica, que ele (a) vem intentando pela vida afora.
A força do derrubador chega com a força vital ainda plena e intacta, eis uma das chaves do processo, entrar na totalidade com a força da vida intacta.
ARDER com o Fogo Interior.
LIBERDADE total.
E então arde e desaparece da face da Terra, livre como se nunca houvesse existido.
Algumas abordagens indiretas ao complexo tema do Ponto de Aglutinação.
Nuvem que Passa - Sáb Out 21, 2000 7:49 pm
Notas
¹ De fato, ao longo de todos esses anos, mais de 20, também não encontrei nada semelhante ao conceito original e essencial do Nagualismo, do Xamanismo Guerreiro, dos Ensinamentos de Don Juan Matus, mas encontrei uma revista do Centro Zen da América Latina intitulada: Punto de Encaje. Na 7ª edição de tal revista o monge zen Kosen Thibaut explica o porquê da revista ter como nome "Ponto de Aglutinação" e traça paralelos entre o Zen e o Nagualismo. O texto pode ser lido AQUI. Algumas tradições usam o termo mente, que em alguns contextos podem ser compreendido como ponto de aglutinação, mas tal termo é muito genérico e com variados usos não servindo de fato ao que a obra original do nagual Carlos Castaneda apresenta.
² Ver texto intitulado Sombras de Lama para compreender esse tópico "instalação alienígena em nós".
³ Muitas tradições usam o termo ovo cósmico, na hindu chama-se Brahma-anda ou Hiraṇyagarbha, para explicar a origem do Universo. Parece-nos que o modelo ovoide é um padrão que se liga aos mitos de origem e contém ensinamentos sobre a nossa verdadeira natureza em termos energéticos e sobre o Trabalho que temos que realizar em termos esotéricos para gestar a nós mesmos. O autor, Nuvem que Passa, gostava de referir-se a uma história chamada "A Fêmea Condor"
⁴ Dependendo da tradução a frase pode ser: a essência da feitiçaria é o mistério do ponto de aglutinação, “o ponto crucial da feitiçaria é o mistério do ponto de aglutinação” ou “o mistério do ponto de aglutinação é tudo na feitiçaria. Ou melhor, tudo na feitiçaria depende da manipulação do ponto de aglutinação”, Arte do Sonhar, de Carlos Castaneda, 6ª edição, Editora Record, página 192.
⁵ "...os videntes o descrevem como uma linha eterna de anéis iridescentes, ou bolas de fogo, que rolam incessantemente na direção dos seres vivos. Os seres orgânicos luminosos recebem a força rolante de frente, até o dia em que a força mostra-se excessiva para eles e as criaturas finalmente entram em colapso, Os antigos videntes ficaram fascinados quando viram como o derrubador então os derruba e os faz rolar para o bico da Águia, para serem devorados. Foi essa a razão de lhe darem o nome de derrubador".
"— Quando o ponto de aglutinação se desloca involuntariamente, a força rolante fende o casulo — continuou. — Falei muitas vezes sobre uma fenda que o homem tem abaixo do umbigo. Não exatamente abaixo do próprio umbigo, mas no casulo, na altura do umbigo. A fenda é mais como uma depressão, uma falha natural no casulo, cujo resto da superfície é liso. É lá que o derrubador nos golpeia incessantemente, e é nesse ponto que o casulo se fende.
Continuou explicando que quando se trata de um pequeno deslocamento do ponto de aglutinação, a fenda é muito pequena, e o casulo se restaura rapidamente. As pessoas sentem o que todos experimentam em alguma ocasião; veem manchas de cor e formas contorcidas que persistem até com os olhos fechados. Se o deslocamento é considerável, a fenda também é extensa, e leva tempo para o casulo reparar-se. É o caso de guerreiros que usam propositadamente plantas de poder para provocar o deslocamento, ou de gente que toma drogas e inadvertidamente faz a mesma coisa. Nesses casos, as pessoas sentem-se entorpecidas e frias; têm dificuldade de falar ou mesmo pensar; é como se tivessem sido congeladas de dentro para fora (religiosos do Santo Daime reconhecem tal fenômeno e o chamam de "o frio da morte").
Dom Juan disse que nos casos em que o ponto de aglutinação se desloca drasticamente por efeito de um trauma ou de uma doença mortal, a força rolante produz uma rachadura no comprimento do casulo; o casulo desaba e se enrola sobre si mesmo, e o indivíduo morre" - extraído do livro Fogo Interior, de Carlos Castaneda, capítulo 14 - A força rolante.
Zen, ponto de aglutinação e silêncio interior
Um aluno de Castaneda me perguntou se o título desta publicação, Punto de Encaje, havia sido escolhido para zombar de Castaneda ou com outra intenção. Bem, por que usar uma expressão que pertence a outra tradição, a outro ensinamento que não é Zen, para intitular o nosso jornal? Não seria uma forma de perseguir bruxas, de seduzir bruxas...?
Nos ensinamentos de Buda distinguem-se duas correntes: a corrente "Hinayana" - em sânscrito, pequeno veículo - que favorece o desenvolvimento pessoal através de um comportamento rigoroso e um tanto ascético para salvar-se e alcançar o despertar, escapando assim à doença, à velhice e à morte; e a corrente “Mahayana”, que significa grande veículo, onde se deseja, pelo contrário, salvar todas as existências, mesmo que seja necessário cruzar a porta da liberdade por último. Porém, como separar essas duas tendências, esses dois aspectos, que foram -ambos- ensinados pelo Buda Shakyamuni? Isto foi o que um dos meus professores, Rempo Niwa Zenji, me expressou muito claramente quando critiquei o Budismo Hinayana. “Você não conhece o Budismo Hinayana”, ele me disse naquela ocasião.
Em todo o caso, o aspecto do "desenvolvimento pessoal", sobre o qual pessoalmente conheço muito pouco no budismo, parece-me expresso de forma extremamente original e atraente na obra de Carlos Castaneda, seja budista ou não, o conteúdo dos seus livros tornou me deixou profundamente feliz e me encheu de carinho por seu autor. Por isso escolhi "Punto de Encaje" como título do meu diário, porque expressa um pouco do nosso ensinamento Zen; por simpatia, amizade e respeito por aquele velho mestre Don Juan, que através de sua magia fez refletir e sonhar toda uma geração de gringos. Essa foi a razão pela qual escolhi esse título.
Não sei se este diário vai durar muito mais tempo. Em todo o caso, queria que fosse um meio de expressão livre e mágico que nos permitisse comunicar uma cultura profunda e séria. E então, como não sonhar em me associar a pessoas valiosas e altamente puras – se é que existem – para tentar dar aos homens uma parte de verdadeira humanidade e algumas raízes muito profundas, e, assim, tentar nos alinhar em um mesmo ponto?
Proponho então, caso seja do interesse de vocês, comparar dois trechos que tratam aproximadamente do mesmo tema, neste caso, o ponto de aglutinação. Os ensinamentos de Don Juan, por um lado, e os do sexto patriarca Zen chinês, por outro, que expressam a respeito do silêncio interior e da interrupção do diálogo interno - ou monólogo - algumas semelhanças óbvias:
Extraído do livro “Fogo Interior”, de Carlos Castaneda:
“...Ele insistiu muitas vezes que é o diálogo interno que mantém o ponto de aglutinação fixo em sua posição original.
-“Uma vez alcançado o silêncio, tudo é possível” - disse ele.
Castaneda, seu aluno, respondeu: “Tenho consciência de que, em geral, deixei de falar comigo mesmo, mas não sei como consegui isso...”.
A professora responde: “Explicar é a própria simplicidade. Você quis e, consequentemente, instituiu uma nova tentativa, um novo comando, e, com o tempo, o que era apenas o seu comando passou a ser o comando da Águia; o nó está feito, também nos ensina a desfazê-lo." E Don Juan conclui: “É uma das descobertas mais extraordinárias dos novos videntes o fato de que nosso comando pode se tornar o comando da Águia”.
Em outras palavras, que nosso comando individual possa se tornar visceral, universal. “O diálogo interno é interrompido como começou, por um ato de vontade”, diz Don Juan.
Quando lemos isso, parece muito simples. Ancoramos a realidade através do nosso diálogo interno e basta querer desancorá-la através do silêncio interior. E é isso. Mas já que falamos de magia, de vontade, de querer, devemos pensar, antes de tudo, no querer extraordinário e na magia fabulosa que cada um de nós teve que exibir para nascer neste mundo, na façanha que cada um de nós tinha que realizar para focar na realidade. O que motivou tal feito? Esse querer nascer, esse querer viver, essa necessidade de conforto, de razão, essa necessidade do limitado, da felicidade, do amor, da família, do seu corpo, do tempo. Um instante, um momento único suspenso na eternidade, de razoável segurança. Que magia fabulosa!
E agora dizem-me que a burguesia de Los Angeles paga duzentos dólares para mover o seu ponto de aglutinação. Como acreditar? Não há um único ser humano que queira desvendar, e muito menos por vontade própria, aquilo que fixou com tanto talento: a realidade. O problema é que muitas vezes ficamos entediados nesta realidade. Então, gostaríamos de alterá-lo, ou pelo menos fazer algumas correções. Por exemplo, permanecer jovem sem cirurgia estética, ser uma bruxa cheia de poderes capaz de apavorar os homens, imaginar um mundo Disney para si... e tantos desejos espirituais egoístas, mas tão legítimos! Fugir da morte e da dissolução do ego, perpetuar sua consciência individual por muito tempo. Ainda se desdobrar e poder amar duas pessoas ao mesmo tempo, voar sem asa delta para surpreender seus vizinhos. Ou, simplesmente, sentir o efeito das drogas mais fabulosas sem qualquer sanção criminal... O mundo tem fome de sonhos, e isso é normal.
Então, sonhemos juntos que o mundo inteiro acorde para o fato de que tudo isso não passa de um sonho; e vamos garantir que esse sonho não se transforme em pesadelo. Ou vamos aprender a superar o pesadelo. Acabei de encontrar a definição de Zen: aprender a superar o pesadelo. Para isso, o Zazen é a atitude mais forte. Aí as pessoas vão me perguntar, porque querem resultados comprovativos, visíveis, prováveis: "Mestre, você conseguiu superar o seu pesadelo?" Eu lhes respondo: quando vocês conseguirem, vocês descobrirão, porque vocês mesmos são meu pesadelo. Todo este mundo é o meu pesadelo, porque pratico Mahayana, o grande veículo: pacificar todas as existências para que o pesadelo cesse, tal é o caminho do Buda.
Aqui está o ensinamento do sexto patriarca Zen chinês (Houei Neng, Eno em japonês; viveu entre 638 e 713 DC), a respeito do ponto de aglutinação e do silêncio interior:
"Desde sempre, meus amigos, nosso método fez do "não-pensamento" seu princípio, do "sem aparência" seu corpo e do "sem fixação" seu fundamento. O adepto do "sem aparências", estando no próprio coração das aparências está desvinculada das aparências. Quem pratica o "não-pensamento" não pensa, mesmo que esteja pensando. Quanto à "não-fixação", é a própria essência do homem. Os pensamentos correm sem parar: um passou, outro está passando, um outro chega... encadeiam-se sem nunca parar; mas se, por um só instante, esta corrente for cortada, o seu corpo absoluto afasta-se imediatamente do seu corpo de carne, e na sucessão dos momentos subsequentes, nenhum pensamento pode fixar-se no mais ínfimo fenômeno. Pois se alguém parar seu pensamento por um único momento, todos os pensamentos param e ficamos livres de toda escravidão. Assim, sem nos basearmos em nada, estabelecemos o nosso método. Meus amigos, "sem aparência" consiste em desapegar-se de todas as aparências externas."
A “nova era” de Buenos Aires vai me perguntar: “Sim, mas para que serve?”
Quando o mestre Kodo Sawaki respondeu ao meu próprio professor, Taisen Deshimaru, “não serve para nada”, este só tinha uma paixão na vida e esta até ao último suspiro: praticar zazen. E o Mestre Keizan diz, a respeito da experiência zazen: "Alto como uma montanha, profundo como o oceano, sem mostrar picos ou profundezas insondáveis, invisível, brilhante, impensado. A fonte é clara em sua manifestação silenciosa, Nosso corpo se manifesta abrangendo o céu e terra, a água pura não tem certo, nem errado, o espaço nunca terá interior e exterior. Como pode o objeto ou conhecimento existir? Isso sempre esteve conosco, mas sem nunca ter um nome. Aqueles que realizam esse conhecimento e essa visão têm uma arte sutil, pacífica e impecável chamada zazen, que é o estado de absorção, a fé de todos os estados de concentração."
Em outras palavras, isso significa que o zazen se torna a própria Águia.
Kosen Thibaut -12 de marzo de 1996 - La Habana, Cuba
O Poder da Recapitulação
“O poder da recapitulação,” disse don Juan, “é que ela agita todo o lixo de nossas vidas e o faz emergir.”
"Sem que soubessem, o mar escuro da consciência tomava a consciência em forma de suas experiências de vida, mas não tocava em sua força vital no caso daqueles feiticeiros que recapitularam suas vidas do modo mais completo possível. Os feiticeiros descobriram uma verdade gigantesca com relação às forças do universo: o mar escuro da consciência quer apenas a nossa experiência de vida, não a nossa força vital."
“Os feiticeiros acreditam,” continuou don Juan, “que ao recapitular nossas vidas, tudo o que foi decantado para o fundo, como disse para você, vem à superfície. Nós percebemos nossas contradições, nossas repetições, mas algo em nós aciona uma tremenda resistência em recapitular. Os feiticeiros dizem que a estrada fica livre apenas depois de esforços tremendos, depois de uma gigantesca convulsão, depois do aparecimento na tela de nossa memória de um evento que faz tremer nossas bases com terrível claridade de detalhes. É o evento que nos arrasta ao momento real em que nós o vivemos. Os feiticeiros chamam esse evento de o condutor, porque a partir daí cada evento que tocamos será revivido, não meramente relembrado.
Carlos Castaneda, O Lado Ativo do Infinito.
Este tema da recapitulação vale a pena ser comentado, é um dos pilares do processo apontado pelo Xamanismo Guerreiro e por outros caminhos também.
É fato que todos recapitulamos ao morrer.
O mar escuro de consciência, a fonte que nos doou a consciência ao final da existência toma de volta para si tal consciência, que se dilui no vasto mar, nele diluindo o teor de nossas experiências, metabolizadas pelo processo de estarmos vivos e percebermos.
Ao final da existência o ponto de aglutinação, a percepção, tudo que somos, pois o resto é emprestado, passa por todas as experiências de vida que tivemos, não é um recordar mental, é um viver de novo mesmo, algumas pessoas que quase morreram e voltaram falam desse "passar da vida".
Por isso os videntes toltecas desenvolveram a técnica de viver neste mundo em consciência intensificada e ir a muitos mundos, não humanos principalmente, se lançar as vastidões do infinito e retornar a esta terra, este tempo onde temos nossas vidas.
Imaginem onde um(a) xamã pleno como os que ensinaram o nagual de 3 partes não iam?
E voltavam, viviam ali, na casa do México por exemplo onde faziam seus piqueniques, onde D. Juan Matus cozinhava rabadas apimentadas para deleite de todos.
Esse ir a extremos da segunda atenção e voltar tem um porquê.
Nossos ancestrais espirituais foram, e foram e foram, alguns tão indo ainda, mas isto se revelou uma armadilha. Eles pensavam que o nagual, a segunda atenção fosse algo como hoje se pensa em plano espiritual, algo que vai subindo, ficando mais "puro" , mais "pleno".
Os (as) novos(as) videntes resolveram essa armadilha, perceberam que a segunda atenção é só a contraparte da primeira, vasta, muito mais vasta, mas apenas uma contraparte, ir -se por ela é apenas adiar um fim, não vencê-lo.
Descobriram outra possibilidade.
O vasto mar da consciência quer de volta apenas a consciência, que é sua de fato, mas nada quer com a força da vida que temos.
O ente perceptivo ao morrer abre mão da consciência. Ao passar por todas as experiências de vida o ponto de aglutinação libera uma tremenda energia pois, ao contrário dos caminhos antigos, os (as) nuevos videntes não foram progressivamente a outras realidades, ascendendo uma fibra de cada vez.
Foram aleatoriamente a muitas realidades, imaginem a cena de uma bexiga transparente, cheia de fibras óticas. Um ponto de luz sai de um feixe aceso e vai acendendo os outros, dos mais distantes aos mais próximos.
Isso libera um tipo de energia estupendo, essa energia, se for usada com intento permite a quem isso faz dar um salto em direção a outro estado, abandonamos a primeira e a segunda atenção, mas absorvemos uma "terceira atenção", estado que só cito prá dizer que existe e já é muito.
Este caminho faz com que os (as) xamãs guerreiros (as) tenham práticas que lhe permitam chegar a este objetivo.
O ente perceptivo que somos pode se "individualizar".
Podemos ser nós mesmos, podemos ser mais do que "fizeram de nós". Para os(as) xamãs guerreiros(as), muitas linhagens, taoistas, hinduístas, sufis, budistas, o ser humano existe para cumprir um papel dentro de um amplo esquema cósmico.
Não fomos "criados a imagem e semelhança de deus para reinar sobre a criação".
Tais histórias atestam a necessidade humana de fugir da constatação do nada que somos. Somos como enzimas, cumprimos um papel na existência e voltamos pro "caldão" de onde viemos.
Isso se tudo for seguir o caminho "natural".
Mas é neste nada que os (as) xamãs guerreiros encontraram poder para ir além, pois se tão infímos somos podemos mesmo escapar deste intento primeiro da realidade e astutamente nos esgueirarmos pelos mundos, alcançando um estado que metaforicamente chamamos de "liberdade total".
Para realizar este desafio supremo precisamos de muita energia, antes de mais nada. E esta energia tão necessária, durante a vida, foi sendo perdida pelos atos, nas pessoas e vivências que tivemos.
Deixamos pedaços nossos em pessoas, situações, em cenas, lugares e estes pedaços de energia que ficaram nos fazem falta, pois só com toda nossa TOTALIDADE podemos desafiar os designios primeiros da FONTE, da ÁGUIA e "como um jato, passar além de seu bico, livres, rumo a LIBERDADE.
Esse sonho já foi sonhado antes, isso o torna realizável.
Recapitular é um exercício para recuperar esta energia, estes pedaços de nós que fomos sem saber, deixando pela estrada de nossa vida.
Os budistas de várias linhagem o realizam, taoístas, sufis, muitas tradições trabalham com esse recapitular da vida.
Por quê?
Para quê?
Como? O que é recapitular?
É antes de mais nada lembrar, lembrar de um evento que aconteceu, começa assim, então não para aí, se nos colocamos na atitude coerente desse momento, se estamos focados nesse momento com o devido "intento" algo em nós é afetado e nosso ponto de aglutinação, isto é, nossa percepção, é deslocada para o "momentum" energético onde aquele fato recapitulado aconteceu.
Todos os fatos da vida devem ser recapitulados, por isso se diz que a recapitulação dura a vida inteira, temos sempre camadas mais profundas para recapitular.
Recapitulando descobri que vivemos em várias dimensões ao mesmo tempo, temos múltiplas vidas e mesmo nessa vida aqui e agora nós só lembramos de uma camada superficial do mundo, recapitular nos dá energia, nos devolve a energia.
Nossas possibilidades existenciais são incríveis, posso citar apenas o exemplo de uma mulher do grupo de D. Juan MAtus que sonhando trazia para este mundo Esperanza, uma curandeira, e o Zelador, intelectual simpático que cuidava de uma das casas do grupo.
Esses mistérios são pertubadores, fascinantes, somos magia num grau impensado e ficamos aqui nestas percepções tolas e limitadas de mundo, acreditando mesmo que é a bolsa de valores, a seleção brasileira, a alta do dolar que importa.
Presos a uma mídia que serve ao conquistador e por isso oblitera nossa percepção, ficamos sendo alimentados com lixo cultural e embotados em nossa realidade existencial.
Noticia é a tragédia, a violência, meios sutis de aumentar o medo, pois sabem que se te mantiverem com medo do que está a tua volta tu não questionará o sistema que lhe escraviza.
E cada dia surge um novo processo contra o bode expiatório da vez para que não vejamos nosso país sendo entregue aos sempre vorazes mercantilistas, a companhia das indias ocidentais do momento.
Vivemos neste contexto histórico e deixamos nossa energia neste mundo, ele é mantido também com nossa energia, cada vez que assistimos um programa de tv, cada vez que lemos jornais, que comentamos sobre esses assuntos. Não são apenas nossos impostos, cobrados em cada bala, em cada cafezinho que tomamos, que sustentam esse sistema. Nós o sustentamos com a força de nossa intenção e nossa energia, toda nossa vida desde que nascemos, tem sido sustentar esta realidade, que nos anula, mas nos mantém como galinhas em granja, alimentados se botamos nossos ovos, para logo nos abater.
Recapitular, portanto, é também uma atitude da Tribo do Arco Íris em sua luta pacífica e silenciosa pela retomada dos direitos de nossos ancestrais, de outra abordagem da realidade.
Quando tiramos a energia dos eventos passados e deixamos apenas a que ele tinha estamos também tirando a energia desses eventos que ficou impregnada em nós.
Só assim podemos mudar nossa percepção da realidade, do contrário será apenas uma mudança intelectual. Porque em cada interação que temos deixamos energia nossa e levamos a energia do lugar, das pessoas, de tudo que ali ocorreu. E sabemos que percebemos uma vastidão da qual só registramos a mínima parte.
Quando recapitulamos vamos tirando a energia que ficou e devolvendo a que ficou impregnada em nós, isto é, vamos resgatando nossa energia singular.
Isso amplia nosso poder pessoal.
Vai além, revendo os eventos de nossa vida aprendemos a reconhecer "o que fizeram de nós" e podemos ir além desse estado e sermos "eu mesmo" , ser singular, único, que só existirá nesta efêmera mas bela existência por umcurto tempo.
E, se vamos existir por tão curto tempo, com a morte sempre há um braço de distância à esquerda, como não viver intensamente cada momento, presente, pleno(a), como seguir dividido(a), fragmentado(a)?
Temos em nós tudo que precisamos para essa fantástica jornada que é viver. Por falta de saber perdemos nossa energia, perdemos nossa força da vida e deixamos pedaços de nós com pessoas, eventos, lugares.
A recapitulação é mais que lembrar, começa assim, mas não é uma revisão psicanálitica.
Pela magia da respiração damos uma dimensão extra a esse exercicio.
A prática usual recomenda escrever uma lista com as pessoas que conhecemos, todas.
Depois dessa fase o ideal é sentar-se em um lugar calmo, com o mínimo de interferências externas.
Reduzir as influências externas é muito importante para uma real recapitulação, recebemos muitas "impressões" das coisas a nossa volta.
Florinda Matus fez sua recapitulação em um caixote construido ao seu redor.
Certa vez morei, em Sampa, numa casa que tinha uma escada e em baixo dela fizeram um armário.
O armário não tinha prateleiras. Durante anos usei aquele armário para recapitular. Eu trabalhava a noite e durante o dia ficava só em casa, as pessoas que moravam comigo trabalhavam de dia, assim tinha silêncio durante a tarde e recolhimento.
Comento isso porque me parece que essas condições são muito importantes, a qualidade da recapitulação sofre influências desses dados. Taisha recapitulou numa caverna. Este dado de estar num ambiente mais restrito focaliza energias da pele que em outras estâncias estariam sendo "tocadas" por vibrações sutis, que podemos não perceber conscientemente mas estão de fato em ação.
Além de um lugar adequado a recapitulação pode ser fortalecida por passes mágicos para a recapitulação que quem faz Tensegridade pode partilhar com quem não faz.
No Shün que é a Arte do Movimento que prático antes de fazer a "limpeza do poço", como seria a traduçao do nome que damos a essa prática, existem movimentos que são feitos.
Vou sintetizá-los para ajudar quem não tem acesso a grupos dessas práticas como:
Primeiro espreguiçar bem, muito, mexer boca, olhos, puxar o corpo todo pelos dedos, sentir os dedos dos pés e mãos.
Depois, "acordar o corpo" que é com os joelhos meio flexionados, braços a frente com as mãos em garras, pés alinhados com ombros e tensionar o corpo inteiro, tensionar mesmo, ir expirando, contraindo o abdomem e tensionando até ficaralguns instantes sem ar e todo tenso, então se soltar, dar uns pulos es acudir braços, mãos e pernas como se estivesse saindo de uma piscina e tirando a água do corpo.
Então sentar numa cadeira ou chão e o corpo tá pronto prá recapitular.
Costas eretas, pode se encostar numa parede ou apoio para as costas, olhando para frente, solta todo o ar, até sentir-se vazio. Então vira a cabeça toda prá esquerda, queixo no ombro esquerdo. Faz uma respiração vazia, isto é, vira a cabeça até o ombro direito mas sem respirar, vazio. Depois inspira indo prá esquerda e expira indo prá direita.
Intente que a inspiração absorve toda tua energia que está na cena e a expiração devolve toda energia da cena que ficou em ti.
Então vá deixando a lembrança fluir, sinta-se na cena, mas não julge, apenas observe. Julgar, lamentar-se são formas de prender-se, de anular o valor da prática.
O importante é ir a cena e observar com foco o ocorrido, deixa que o aprendizado venha, não crie interpretações mentais do tipo: "agora vou agir assim ou assado", "a partir de hoje vou ser assim" estas propostas são respostas da mente desequilibrada que temos em nós, é "o que fizeram de nós" não querendo perder o controle e jogando como sempre aprendeu: "agora serei a criança boazinha e farei tudo direito para agradar a todos e ao papai do céu!"
O trabalho aqui é observar com neutralidade e recuperar a energia perdida, deixando ali a que ficou impregnada em nós.
Podemos usar a recapitulação como o tremendo instrumental que é para nos livrar de tudo que não somos, que apenas impuseram a nós.
Há várias dicas, fazer uma lista com todos os eventos da vida, tem muita informação sobre técnicas por aí, basta pesquisar.
Uma prática muito válida é lembrar do dia todo ao deitar-se para dormir. Eu prático ir lembrando do momento que sentei para relembrar, já indo dormir, voltando cena a cena até chegar na hora de manhã que abri os olhos.
Esta prática diária tem várias resultantes, dá prá gente antes de mais nada um dimensionamento de como tem horas durante o dia que estamos "no piloto automático" ausentes de nós mesmos.
São instrumentais de guerra, a guerra contra os limites em nossa busca de liberdade.
Um(a) xamã guerreiro(a) da liberdade total luta este tipo de batalha, estes são nossos treinos de combate.
A Fêmea Condor

Conta-se que vivia em alto ponto nos Andes um condor fêmea.
Por razões que existem para justificar essa história essa condor estava chocando 11 ovos.
Sim, 11 ovos no mesmo ninho, nas alturas colocado, sob a grande condor protegidos dos ventos gelados.
Do nada que eram, possibilidades erráticas, começaram os ovos a se tornar sementes, potenciais seres, os genes misturados, vindos de sua longa estrada traziam consigo o aprendizado de tantas combinações.
Num certo momento os ovos começaram a ter um contato telepático entre si.
E passaram a conversar.
Sobre o que conversavam?
Ora , falavam sobre coisas de ovos, sobre suas fantasias de estar vivendo, da "realidade" que criam viver.
Com o passar do tempo os ovos notaram que um estado de limitação, de opressão se estabelecia entre eles.
Sentiam um certo desconforto e parecia que o desconforto aumentava com o passar do tempo.
Algo os limitava, algo os prendia, mas não sabiam o quê.
Não percebiam que estando se desenvolvendo era natural que a casca os fizesse sentirem-se presos.
Então um entre eles resolveu ser o messias, o que sabia da realidade final das coisas.
- Irmãos, pregava ele, tive uma revelação. Descobri a causa de nosso desconforto, de nossa crescente ansiedade.
Silêncio! Aquilo era importante.
- O vitelo irmãos, (o alimento que o pássaro vai comendo enquanto está no ovo) é o vitelo que aumenta nossa tristeza, nossa sensação de desconforto.
- Sentimos desconforto porque estamos nos tornando mais materiais, mais pesados, temos que nos espiritualizar irmãos, só se nos espiritualizarmos vamos reencontrar a felicidade e leveza perdidas.
Ora , isso era fato, um pássaro no ovo comendo vitelo vai ficando mais pronto e é claro que sente mais os limites do ovo.
Mas não sabiam desse fato e a "revelação" do pregador parecia ter total sentido.
Aí criaram o movimento fundamentalista:
"Só comemos vitelo suficiente para não morrer".
A nova moda era espiritualizar-se para recuperar o estado anterior de maior leveza e dissolução.
Como o crescimento acabou mais lento acreditavam que o pregador lhes revelara sublime verdade e logo declararam:
- Alimentar-se é pecado!
- Ficar mais denso é pecado!
Crendo nisso viveram por um tempo numa languidez, numa indolência, desnutrida existência, onde a pasmaceira resultante era tida por paz ...
Mas um dos ovos, sempre tem esse um, revoltou-se contra aquilo.
- Ora , pensava, se sempre me alimentei por que vou deixar de fazer isso agora, me sinto fraco, frágil, vou é comer.
E voltou a comer.
E comendo plenamente sentiu que estava oprimido, é verdade, sentiu limites, mas não deixou se angustiar por isso e descobriu que sentir os limites de sua condição não era necessariamente associado a angústia e a exasperação.
Era um condicionamento responder assim.
Foi logicamente excomungado da comunidade, mal exemplo a ser negado.
Ovos não conhecem cores, senão teriam dito que ele era um mago negro! ; )
Aí se ovos tivessem listas de debates iam debater se magia negra é aquela que manda comer o vitelo e magia branca é o que , em beneficio da espiritualização , manda deixar de comer.
O fato é que ele continuou a se desenvolver enquanto os outros estavam estacionados.
Certo dia foram todos, telepaticamente, pregar para o rebelde.
Reparem que no estado de ovos eles não fazem nada, apenas imaginam que fazem.
Como ovos não há agir, só fantasia de agir, por isso podem se dedicar as doutrinas mais estapafúrdias e sem nexo e ainda as sustentar por uma vida.
E lá iam pregar, mudar o diferente, o perigoso, o que com seus atos negava o senso comum.
E quem nega com atos é sempre mais perigoso que quem nega em teoria.
Convertê-lo, salvar sua alma.
O rebelde foi perdendo a paciência com aquela conversa lamurienta, pois sem comer eles não conseguiam mais pensar e ficavam repetindo a mesma frase alegando ter sido revelada pelo grande deus "Ovão".
Não era um diálogo, era um monólogo repetitivo de frases decoradas contra a argumentação do rebelde, com suas habilidades plenas por estar bem alimentado.
O rebelde num movimento brusco , com sua parte mais densa (o bico) quebrou a casca do ovo.
Para quem viveu no interior escuro do ovo a luz do dia entrando era trevas e no susto desapareceu do contato telepático com seus irmãos.
Terror, o pregador, aproveitador como todo bom pregador já pregou:
- Estão vendo o que acontece a quem desobedece os sagrados mandamentos? Vamos rezar ao Ovão irmãos pela alma desse pecador que se perdeu.
Para eles o rebelde havia morrido.
Mas para o mundo aqui fora, para a condor mãe o primeiro dos ovos vingara e ele nascera.
Tudo era novo.
A principio sentiu terror, depois êxtase.
E quando contemplou aqueles olhos enormes , aquele ser poderoso, novo medo.
Quem seria?
O diabo a castigá-lo? Deus a puni-lo por ter contrariado o pregador e se alimentado?
Com os dias o medo deu lugar ao assombro e este ao fascínio de estar vivo.
Nem deus nem demônio, só sua mãe.
O azul do céu, o sol, os picos nevados, a Mãe Condor que agora lhe dava alimento. Dormia muito ainda, pouco notava das saídas e volta da mãe.
Noite, estrelas, lua, estava extasiado.
Então se lembrou!
Seus irmãos, suas irmãs naquele estado limitado dentro dos ovos, crendo no pregador.
Agora ele sabia que era parte do crescimento sentir desconforto, sentir limites.
Fugir disso era fugir do sair do ovo. Do vir para este mundo, este sim real.
Contou a sua mãe que queria encontrar um meio de falar com seus irmãos e explicar o que descobrira.
Ela riu.
- Mesmo que pudesse meu filho, como falaria de céu azul? De vento?
Como falaria dos picos nevados? Quer mesmo ajudar, então te aninha quando fores dormir aqui, junto aos ovos e transmite teu calor, assim podes ajudar que choquem mais rápido.
Mesmo lentamente , um a um os ovos foram sendo chocados e nasciam.
Ao final de algum tempo todos nasceram, quer dizer quase todos.
O pregador não nasceu, espiritualizou-se tanto que gorou...
Este conto me foi passado por um xamã quando cheguei na presença dele cheio das minhas certezas sobre "evoluir" e "espiritualizar".
Nuvem que passa
Sinal de Fumaça
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