quarta-feira, 12 de março de 2025

A sonhadora, a espreitadora e a mulher-nawal




Trechos de uma entrevista com

Florinda Donner-Grau, Taisha Abelar e Carol Tiggs
por Concha Labarta
Traduzido do Espanhol. Publicada inicialmente na Mas Alla, em 1 de Abril de 1997, Espanha

Todas respostas foram dadas por Carol Tiggs, Taisha Abelar e Florinda Donner-Grau.

Pergunta: Assim como Carlos Castaneda, vocês foram alunas de dom Juan Matus e seus colegas xamãs. Entretanto, permaneceram no anonimato por vários anos, e só recentemente decidiram falar sobre seu aprendizado com don Juan. Por que o longo silêncio e a mudança de atitude?

Resposta: Antes de mais nada gostaríamos de esclarecer que cada uma de nós encontrou o homem que Carlos Castaneda chama de nagual don Juan Matus sob um nome diferente: Melchior, Yaoquizque, John Michael, Abelar e Mariano Aureliano. Para evitar confusão, sempre o chamamos de velho nagual; não velho em relação a idade, mas sim no sentido de respeitabilidade e acima de tudo para diferenciá-lo do novo nagual, Carlos Castaneda.

Discutir nosso aprendizado com o velho nagual não era de forma alguma parte da tarefa a qual planejou para nós. Por isso ficamos em completo anonimato.

A volta de Carol Tiggs em 1985 marcou uma mudança total em nossas metas e aspirações. Ela estava tradicionalmente encarregada de nos guiar através de algo que, para o homem moderno, poderia ser traduzido como espaço e tempo, mas que, para os xamãs do antigo México, significava consciência. Eles concebiam uma jornada através de algo que denominavam o mar escuro da consciência.

Tradicionalmente, o papel de Carol era guiar-nos na consecução dessa travessia. Quando ela retornou, transformou automaticamente a meta de nossa jornada particular em algo de alcance mais amplo. Eis por que decidimos sair do nosso anonimato e ensinar os passes mágicos dos xamãs do antigo México.

P: Os ensinamentos que vocês receberam de don Juan foram similares àqueles narrados por Castaneda? Se não foram, quais foram as diferenças? Como vocês descreveriam don Juan e suas companheiras e companheiros ?

R: Os ensinamentos que recebemos não foram em absoluto similares aos recebidos por Castaneda pela simples razão de que somos mulheres. Nós temos órgãos que os homens não tem: os ovários e o útero, órgãos de tremenda importância. As instruções que o velho nagual nos passou consistiu de ação pura. Quanto à descrição dos integrantes masculinos e femininos do grupo de don Juan, tudo que podemos dizer neste momento de nossa vidas é que eles foram seres excepcionais. Falar deles como seres do mundo cotidiano seria insano para nós neste momento.

O mínimo que podemos dizer deles, eram dezesseis incluindo o velho nagual, é que se encontravam num estado de extraordinária vitalidade e juventude. Todos eram velhos, mas simultaneamente não o eram. Quando, sem ser movidas pela curiosidade ou pelo espanto, perguntamos ao velho nagual a razão do seu exuberante vigor, ele nos respondeu que o que os rejuvenescia a cada passa do caminho era sua ligação com o Infinito.

P: Enquanto várias tendências modernas sociológicas e psicológicas proclamam o fim do distanciamento entre o masculino e o feminino, lemos em seus livros que há notáveis diferenças entre homens e mulheres no modo pelo qual cada um dos sexos obtém acesso ao conhecimento. Poderiam explicar isso? De que forma vocês e suas experiências como companheiras femininas diferentes daqueles de Carlos Castaneda?

R: A diferença entre feiticeiros homens e mulheres na linhagem do velho nagual é a coisa mais simples do mundo. Como todas as mulheres do mundo temos um útero. Temos órgãos diferentes dos existentes nos homens: o útero e os ovários, os quais, segundo os feiticeiros, nos facilitam a entrada em áreas exóticas da consciência. Os feiticeiros dizem que há uma força colossal no universo; uma força constante, perene, que oscila mas não muda à qual chamam de consciência ou o mar escuro da consciência e asseguram que todos os seres vivos estão ligados a ela. Eles chamam esse ponto de ligação de ponto de aglutinação, e sustentam que, devido a presença do útero em seu corpo, as mulheres tem facilidade em deslocar o ponto de aglutinação para uma nova posição.

Os feiticeiros acreditam que o ponto de aglutinação de qualquer ser humano está situado no mesmo lugar, 90cm atrás das omoplatas. Quando veem os seres humanos como energia, os feiticeiros percebem este ponto como um conglomerado de campos de energia na forma de um ovo luminoso.

Feiticeiros dizem que desde que os órgãos sexuais masculinos são externos ao corpo, homens não tem a mesma facilidade. Portanto, seria absurdo para os feiticeiros tentar apagar ou encobrir essas diferenças energéticas. Quanto ao comportamento dos feiticeiros masculinos e femininos na ordem social, ocorre quase o mesmo. A diferença energética leva os praticantes de cada sexo a comportar-se de modos diversos. No caso dos feiticeiros, essas diferenças são complementares. A grande facilidade das feiticeiras em deslocar o ponto de aglutinação serve como base para as ações dos feiticeiros, as quais são caracterizadas por uma maior resistência e um propósito mais firme.

P: Lemos também nos seus livros que Florinda Donner-Grau e Taisha Abelar representam cada uma categorias diferentes no mundo xamânico. Uma é uma sonhadora e a outra, uma espreitadora São termos atraentes e exóticos mas muitas pessoas os usam de forma indiscriminada e interpretam a seu modo. Qual é o significado real de tal classificação? Quando se trata de ação, quais as implicações para Florinda Donner-Grau ser sonhadora e para Taisha ser uma espreitadora?

R: Como na questão anterior, mais uma vez, a diferença é simples porque é ditada por cada uma de nossas energias.

Florinda Donner-Grau é uma sonhadora porque desloca o ponto de aglutinação com enorme facilidade. Segundo os feiticeiros, quando se desloca o ponto de aglutinação, que é nosso ponto de ligação com o mar escuro da consciência, um novo aglomerado de campos energéticos é reunido, um conglomerado similar ao habitual, mas diferente o bastante para garantir a percepção de um outro mundo que não é o cotidiano.

O dom de Taisha Abelar como espreitadora é sua facilidade de fixar o ponto de aglutinação na nova posição para onde ele foi deslocado. Sem esta facilidade a percepção de outro mundo é muito fugaz, algo comparável ao efeito produzido por certas drogas alucinógenas: uma profusão de imagens sem pé nem cabeça. Os feiticeiros pensam que as drogas alucinógenas deslocam o ponto de aglutinação apenas de modo muito caótico e breve.

P: Em seus livros recentes, Sonhos Lúcidos e A Travessia das Feiticeiras , vocês falam sobre experiências pessoais que são difíceis de aceitar. Acessar outros mundos, viajar pelo desconhecido, contatar seres inorgânicos são experiências que desafiam a razão. Fica-se tentado a descrer por completo de tais relatos, ou de considerá-las seres que estão além do bem e do mal, invulneráveis à doença, a idade ou à morte. Qual é a realidade cotidiana de uma feiticeira? E como a vida no tempo cronológico se adequa à vida no tempo mágico?

R: Essa questão é muito abstrata e extravagante, Srta. Labarta. Por favor perdoe a nossa franqueza. Não somos seres intelectuais e não somos de nenhuma forma capazes de participar em exercícios nos quais o intelecto utiliza palavras que na realidade não tem significado. Nenhuma de nós, em hipótese alguma, esta além do bem e do mal, da doença ou da idade.

O que aconteceu conosco foi que fomos convencidas pelo velho nagual de que há duas categorias de seres humanos. A grande maioria de nós são seres que os feiticeiros denominam (pejorativamente, poderíamos acrescentar) "os imortais". A outra categoria é a dos seres que vão morrer.

O velho nagual nos contou que, como seres imortais, nunca tomamos a morte como ponto de referência, e assim nos damos ao inconcebível luxo de viver nossas vidas envolvidas em palavras, descrições, acordos e desacordos.

A outra categoria é a dos feiticeiros, que nunca podem, sob qualquer circunstância, dar-se ao luxo de fazer asserções intelectuais. Se somos algo, somos seres sem nenhuma importância. E se temos algo, é nossa convicção de que somos seres que estão caminhando para a morte e que um dia teremos que encarar o Infinito. Nossa preparação é a coisa mais simples do mundo: nos preparamos 24 horas por dia para encarar esse encontro com o Infinito.

O velho nagual conseguiu apagar em nós nossa confusa ideia de imortalidade e nossa indiferença a vida, e nos convenceu de que, como seres que estamos caminhando para a morte, podemos ampliar nossas opções de vida. Para os feiticeiros, os humanos são seres mágicos, capazes de atos e realizações estupendas uma vez que se livrem das ideologias que os tornam seres comuns.

O que narramos são na verdade descrições fenomenológicas de feitos de percepção acessíveis a todos nós, especialmente mulheres, feitos ignorados em virtude do nosso hábito de auto-reflexão. Os feiticeiros afirmam que a única coisa que existe para nós seres humanos é Eu, Eu, e somente EU. Sob tais condições o único possível é o que se refere a MIM. E por definição qualquer coisa que me diga respeito, o ‘Eu ‘pessoal , só pode conduzir à raiva e ao ressentimento.

P: A presença física de um mestre talvez não seja indispensável mas, em qualquer caso, é de grande ajuda. Vocês receberam instruções diretas de don Juan e de seus colegas para guiá-las na feitiçaria. Vocês pensam realmente que esse mundo é acessível a maioria das pessoas, mesmo quando elas não têm um mestre particular?

R: De certo modo, a insistência em ter um mestre é uma aberração. A ideia do velho nagual era a de que ele nos estava ajudando a romper a dominação do Eu. Com suas piadas e seu aterrorizante senso de humor ele conseguiu nos fazer rir de nós mesmas. Neste sentido acreditamos piamente que a mudança é possível para todos, uma mudança similar à nossa, por exemplo, através da prática de Tensegridade, sem a necessidade de um mestre particular e pessoal.

O velho nagual não estava interessado em transmitir seu conhecimento. Ele nunca foi um mestre ou guru, e não poderia ter se importado menos em ser um. Estava interessado em perpetuar sua linhagem. Se ele nos guiou pessoalmente, foi para inculcar em nós todas as premissas da feitiçaria que nos permitiria continuar sua linhagem. Ele esperava que, algum dia, chegaria a nossa vez de fazer o mesmo.

Circunstâncias fora de nosso alcance, ou do dele, conspiraram contra a continuidade de sua linhagem. Em vista do fato de que não podemos arcar com a função tradicional de dar continuidade a uma linhagem de feitiçaria, desejamos tornar esse conhecimento acessível. Uma vez que os praticantes de Tensegridade não são convocados a perpetuar qualquer linhagem do gênero, os praticantes tem a possibilidade de realizar o que realizamos, mas numa trilha diferente.

P: A possibilidade de uma forma alternativa de morte é um dos pontos mais polêmicos dos ensinamentos de don Juan Matus. De acordo com o que vocês falaram, ele e seu grupo atingiram essa forma alternativa de morte. Qual é sua interpretação do desaparecimento deles, quando se transformaram em consciência?

R: Isto pode parecer uma pergunta simples, mas é muito difícil responder. Somos praticantes dos ensinamentos do velho nagual. Nos parece que, através de sua pergunta, você esta pedindo uma justificativa psicológica, uma explicação equivalente à explicação da ciência moderna.

Infelizmente não podemos dar uma explicação fora do que somos. O velho nagual e suas companheiras tiveram uma morte alternativa, que é possível para qualquer um, desde que se tenha a disciplina necessária.

Tudo que podemos dizer é que o velho nagual e seu grupo levaram suas vidas profissionalmente, o que significa que eram responsáveis por todos os seus atos, ate mesmo os mais pequenos, por que eram extremamente conscientes de tudo que faziam. Sob tais condições, morrer uma morte alternativa não é uma possibilidade tão distante.

P: Vocês estão prontas para encarar o salto final? O que esperam desse universo, o qual vocês entendem como impessoal, frio e predatório?

R: O que esperamos é uma luta infindável e a possibilidade de testemunhar o infinito, seja por um segundo ou por cinco bilhões de anos.

P: Alguns leitores de Castaneda criticaram-no pela ausência de uma maior presença espiritual em seus livros, por nunca ter usado palavras como "amor". O mundo de um guerreiro realmente é assim frio? Vocês sentem emoções humanas? Ou dão um significado diferente a elas?

R: Sim, nós lhe damos um significado diferente, e não usamos palavras como "amor" ou "espiritualidade" porque o velho nagual nos convenceu de que são conceitos vazios. Não o amor ou a espiritualidade por si próprios, mas o uso dessas palavras. Eis sua linha de argumentação: se realmente nos consideramos seres imortais que podemos dar-nos ao luxo de viver entre contradições enormes e um egoísmo infindável, se tudo que conta para nós é a satisfação imediata, como poderíamos fazer do amor ou da espiritualidade algo autêntico? O velho nagual nos disse que a cada vez que somos confrontados com tais contradições nós a resolvemos dizendo que , como seres humanos, somos fracos.

Segundo ele, como regra geral, nós, humanos, nunca fomos ensinados a amar. Fomos ensinados apenas a sentir emoções gratificantes, pertinentes apenas ao Eu pessoal. O infinito é sublime e sem piedade, ele disse , e não há lugar para conceitos falaciosos, não importa quão agradáveis eles nos possam parecer.

P: Parece que a chave para expandirmos nossas capacidades de percepção reside na quantidade de energia que temos à nossa disposição, e que a condição energética do homem moderno é muito pobre. Qual seria a premissa essencial para armazenar energia? Isso é possível para alguém que tem que cuidar de uma família, trabalhar todo o dia e participar plenamente de uma vida social? E sobre o celibato como meio de economizar energia, um dos pontos mais controversos da seus livros?

R: O velho nagual nos disse que o celibato é recomendado para a maioria de nós. Não por razões morais, mas porque não temos energia suficiente. Ele nos fez ver como a maioria de nós foi concebido no meio de um relação marital monótona. Como um feiticeiro pragmático, ele afirmava que a concepção é algo de suprema importância. Ele dizia que se a mãe não foi capaz de ter um orgasmo durante o momento da concepção, o resultado era o que chamava de "transa chata". Não há energia nessas condições. O velho nagual recomendava o celibato para os que foram concebidos sob tais circunstâncias.

Uma outra coisa que ele recomendava como meio de estocar energia era a dissolução dos padrões de comportamento que levam ao caos, tais como a incessante preocupação com o namoro romântico, a defesa do self na vida cotidiana, as rotinas em excesso e sobretudo a tremenda insistência nas preocupações do self.

Se essas sugestões são implementadas, qualquer um de nós pode ter a energia necessária para usar o tempo , o espaço e a convivência social de maneira mais inteligente.

P: Os passes mágicos da Tensegridade, aos quais vocês atribuem grande importância, são sua contribuição mais recente para os interessados no mundo de don Juan. O que a Tensegridade pode trazer aos seus praticantes? Ela pode ser relacionada a outras modalidade físicas ou tem suas características próprias?

R: O que a Tensegridade traz àqueles que a praticam é energia. A diferença entre Tensegridade e os outros sistemas de exercícios físicos é que o intento da Tensegridade é algo ditado pelos xamãs do antigo México. O intento é a liberação do ser que esta caminhando para a morte.

domingo, 9 de março de 2025

Por que a "revelação" alienígena é um "limited hangout"?

 Limited Hangout

  • O hangout limitado é usado quando os profissionais de inteligência não podem mais confiar em uma história falsa para desinformar o público. 
  • Os agentes de inteligência admitem parte da verdade, mas mantêm os fatos mais graves do caso em segredo. 
  • O público fica tão intrigado com as novas informações que não se aprofunda no assunto.

 



A fé pode ser manipulada, mas o conhecimento é perigoso. E o conhecimento não é tanto a busca por respostas, antes é encontrar perguntas melhores.

Como perguntar não ofende, vamos então às perguntas. 

1 - Por que pessoas do governo que mentiram durante tantos anos agora mereceriam créditos?

2 - Por que um documentário profissionalmente produzido, chamado a Era da Revelação, cheio de declarações de homens e mulheres da máquina do governo, teve seu diretor dando entrevistas para a mídia oficial da indústria cinematográfica, Hollywood? Hollywood (holy, sagrada; wood, madeira) não conduz a varinha mágica da ilusão?




3 - Por que mais de 24 anos depois do Disclosure Project, que ninguém no governo (do Império do Caos) deu crédito, uma reedição é feita por outras pessoas? Controle da narrativa?

4 - Militares e oficiais de inteligência estão à frente da revelação, mas que provas concretas (naves e seres alienígenas) foram apresentadas?

5 -  Qual a melhor maneira de esconder algo? Revelando aquilo que não é essencial e/ou escondendo-o à vista de todos, no melhor estilo Edgar Allan Poe?

6 - Por que a virada de posição no que tange a esta questão se sempre houve negação, ridicularização e até cancelamento de pessoas (JFK, por exemplo) que se atreveram a falar?

7 - Por que temos tantas religiões associadas ao tema? Por que temos a escolha da palavra "revelação" que significa apocalipse, termo tão caro às religiões?

8 - Como num mundo de tantas mentiras, ilusões, manipulações e enganos de repente eis que surge a verdade propagada pelos mentirosos de sempre?

9 - Não é a tal revelação uma nova forma de ocultamento?

F.






 

sábado, 8 de março de 2025

O guerreiro, a morte e o maha samadhi

Um guerreiro é apenas um homem. Um homem humilde. Ele não pode modificar os desígnios de sua morte. Mas seu espírito impecável, que armazenou o poder depois de privações tremendas, certamente pode deter sua morte por um momento, um momento suficientemente longo para deixá-lo regozijar-se pela última vez ao recordar seu poder. Podemos dizer que é um gesto que a morte tem para com aqueles que possuem um espírito impecável - Viagem a Ixtlan, de Carlos Castaneda

A travessia para a liberdade não significa vida eterna, como a eternidade é comumente entendida — isto é, como viver para sempre. Em vez disso, o guerreiro pode conservar sua consciência, que em geral é abandonada no momento da
morte. No momento da travessia, o corpo em sua totalidade é iluminado com conhecimento. Cada célula torna-se imediatamente consciente de si mesma e também consciente da totalidade do corpo - Roda do Tempo, de Carlos Castaneda.

A experiência de vários monges e iogues diante da vida e da morte como exemplo do poder que qualquer homem e mulher pode alcançar.


quinta-feira, 6 de março de 2025

A Revelação Alienígena


A revelação alienígena já ocorreu, mas nada tem a ver com essa que querem nos apresentar.

Pois a que está em voga agora, conduzida por um (des)governo que sempre ocultou os fatos e por um narcisista maligno propagador de falsas narrativas, marionete da pós-verdade, não merece nenhum crédito, nenhuma confiança.

A rede está armada e muitos incautos caíram e cairão. Vão misturar verdades e mentiras, farão o jogo da manipulação para assegurar a fonte de suprimentos deles, nós.

Religiões tem sido usadas ao longo da História como instrumentos de manipulação.

Agora pretendem criar uma religião alienígena, com os novos anjos e demônios na versão alien. Teremos até um salvador alien. Vários projetos religiosos são conduzidos e incensados dentro desta concepção: cientologia, mórmons, raelismo, etc.

Aliás, alienígena é um termo que espelha muito bem o nosso egocentrismo, pois excetuando a nós mesmos tudo o mais no universo pode ser categorizado como tal.

Tal egocentrismo é que precisa ser revelado em sua origem, tal condição não é natural, é anti-natural, até por destruir a própria casa, assassinar os seus semelhantes, matar a própria Mãe e cuspir no próprio prato que come, o planeta Água.

Mas quem quer revelar a si mesmo?

Olhamos para fora, mas não olhamos para nós mesmos.

A verdadeira revelação já ocorreu, mas quem tem olhos para ver e ouvidos para escutar?

Para a revelação de fato ocorrer (para que ela se tornasse clara, apesar de pública) uma outra precisaria acontecer e ela nos diz respeito. A antiga frase no frontispício do Templo de Delfos nunca fez tanto sentido.

Nosce Te Ipsum

E se não formos o topo da cadeira alimentar?

E se além de nós algo nos consome?

- Não! Não! Não! Absurdo!

Ecoa a voz no fundo mental, conduzindo o espetáculo macabro nas sombras.

Consumidores sendo consumidos, cevados para o abate.

O Senhor é meu pastor, nada me faltará,
Ele me faz repousar,
Através de verdes pastos, Ele me leva por águas tranquilas,
Com facas brilhantes, 
Ele liberta minha alma,
Ele me pendura em ganchos, em lugares altos.
Ele me converte a costeletas de cordeiro.
Porque eis que Ele tem grande poder e muita fome.
 Pink Floyd na música "Ovelhas".

O nosso problema maior talvez seja a esperança, a droga mais vendida pelas religiões, aquela espera pela salvação externa, pois ninguém quer travar uma luta encarniçada contra o verdadeiro inimigo ao encarar a si mesmo, sua própria mente, que mente e diz: eu sou você (ver o filme Revólver postado aqui).

F.


Um conto sobre os predadores, por Nuvem que Passa (livro)

Saudações! 

Temos aqui um capítulo do romance escrito pelo homem nawal, conhecido nas redes sociais como Nuvem que Passa (uma de suas espreitas). O tema vem bem a calhar, pois trata daquilo que Don Juan Matus chamou de "o tópico dos tópicos", o tema dos predadores, revelado pelo Dr. Carlos Castaneda no capítulo 15 do Lado Ativo do Infinito. Ao mesmo tempo este capítulo do romance, a ser lançado, bordeja outros assuntos que são importantes dentro do Xamanismo Guerreiro através do recurso literário da ficção, pois algumas verdades são mais digeríveis assadas no forno da lenda do que servidas de forma nua e crua.

Ao tocar no tema dos predadores, dos sombrios (termo usado pelo nawal A Lex Sed Rex) somos levados a refletir sobre a própria sombra que há em nós e sobre os riscos que existem dentro da "senda do fio da navalha, cheia de perigos por dentro e por fora", e que, inevitavelmente, se apresentam diante daquele(a) que busca, de fato, o conhecimento.


"Aquele que luta com monstros deve acautelar-se 
para não tornar-se também um monstro. 
Quando se olha muito tempo para um abismo, 
o abismo também olha para você"
Friedrich Nietzche.


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Felipe sabia que seu passo era decisivo.

Em algum ponto daquela caverna estava o seu elo de contato.

Desta vez iria além do contato, além do intermediário.

Iria falar com um deles. Ir ao Mundo deles.

Como seria estar lá naquele mundo estranho de sombras mutantes?

Um mundo de seres predadores, conhecedores de segredos de poder.

Ainda se sentia um pouco alterado pelos exercícios que realizara preparando-se para este encontro.

Seus anos de treinamento na Escola de Torhn permitiam-lhe adequar sua percepção a outros níveis de realidade.

Aprendera muito sobre a percepção.

Entendia plenamente que era um ente perceptivo e isto importava.

O que era percebido, o que via a sua volta como realidade, quer física, quer social, era um arranjo perceptivo criado a partir de um consenso.

Visitara muitos mundos e vira como de fato havia sempre um acordo mudo, uma mesma visão da realidade era partilhada por muitos e isso criava um mundo.

Assim pensara até agora.

Há bem pouco descobrira que os mundos e a consciência existem por si.

Toda a existência é composta de energia consciente de si mesma.

Somos entes perceptivos, mas o que percebemos vem lá de fora, são impulsos, irradiações que escolhemos perceber de tal ou qual forma.

O que criamos é nossa interpretação da realidade e esta interpretação está originalmente determindada pelo meio que nos educou.

Felipe aprendeu a rever tudo isso e a criar uma nova visão da realidade.
Felipe sabia de tudo isso e muito mais, mas ainda assim seu coração estava acelerado para um praticante dos exercícios pranayamas.

É para ele estranho praticá-los agora.

Pois tais exercícios lhe foram ensinados pelos mestres e mestras das Escolas de Torhn e neste instante cada passo seu é objetivamente um caminhar na negação de tudo que lhe foi ensinado ali.

Mas Felipe aprendeu a ser suficientemente cínico, para lidar consigo mesmo a princípio.

E assim acalma seus batimenos cardíacos e vai mais longe , amplia ao máximo sua percepção.

Dentro em breve estará no mundo de seres poderosos e predadores.

Seres que desejam a Teia dos Mundos para si.

Felipe descobriu que os Conquistadores eram apenas os capatazes, que os verdadeiros donos do poder eram seres misteriosos alienígenas, usando dos serviços dos Conquistadores rumo a seus próprios fins.

Felipe foi mais longe, teve acesso a esses misteriosos seres.

Sua interação com tais consciências alienígenas o transformaram.

Ele compreendeu aspectos novos do poder e da existência.

Foi seduzido a pactuar com tais seres.

Lhe prometeram torná-lo um deles, não um capataz como os outros, mas um deles.
E agora ali estava ele, dando os passos finais para tal transformação.

Era um traidor e por sua responsabilidade o que poderia levar ainda muito tempo para acontecer, a queda da maior parte da teia nas mãos dos Conquistadoras, agora era algo cada vez mais próximo.

A Teia dos Mundos.

Uma teia, como em uma teia de aranha os mundos se dispuseram pelos abismos vazios.

Se imaginares uma teia, cada ponto de junção de um fio com o outro é um mundo e as linhas entre os mundos são os túneis que ligam de fato um mundo a quatro ou mais outros.

Através desses túneis os seres iam e vinham pela teia, os reinos se comunicavam interagiam e cresciam.

Por eons assim foi.

Mas então surgiram os Consquistadores.

Uma coalizão de sacerdotes seguidores de um culto de culpa, medo e submissão, sempre a espera de uma felicidade futura, assim facilmente manipuláveis no presente.

Eles corromperam guerreiros para servi-los e assim criaram um novo poder.

Esses Conquistadores tiveram seu poder ampliado de uma forma que eles mesmos não esperavam.

Foram apoiados por forças poderosas em suas imaturas disputas por poder e supremacia.

Felipe sabe que não são esses vulneráveis senhores e senhoras de reinos e mundos ou seus estratagemas violentos e destrutivos que, de fato, promovem sua ascenção, mas sim o apoio desses misteriosos seres: os Sombrios.

Inteligências Sofisticadas que vieram à Teia dos Mundos e aqui ficaram presos. Agora desejam tudo destruir para poderem se soltar.

Como uma vespa moribunda capturada em seu vôo que vê na destruição da Teia sua única esperança de salvação.

Forças em luta pela sobrevivência, como a vespa e a aranha na mata.

Felipe sabe que os sombrios são fortes, e vencerão. Assim acredita.

Essa é sua certeza, por isso está pronto a dar um novo passo.

Ele esteve com oráculos, consultou fontes fidedignas de videntes e miradores de estrelas.

Uma fase de grande transformação está se aproximando.

Será um ciclo de desintegração de tudo o que está construído para que só o real resista e o que foi fundado em falhas bases pereça.

Os Conquistadores são destruidores, são alimentados por essa força de forma inconsciente.

Os Sombrios através dos Salvatores canalizam mais e mais energia para si. Dentro em pouco seu poder será mais e mais sensível.

O poder.

Era isto que interessava a Felipe.

"Somos o poder que temos".

Esta frase marcara profundamente a mente de Felipe, frase ouvida do mais carinhoso tom a mais assustadora ira.

Seu pai jamais permitira que ele esquecesse que era dele, só dele a responsabilidade de manter o poder na família.

Felipe ria do seu velho e decrépito pai.

Ele tinha razão em parte.

E a terrível disiciplina que lhe impingiu facilitou seu treinamento, impediu que desenvolvesse emocionalismos inúteis como seus companheiros de estudo.

Balder, o filho de Torhn.

Um semi-deus.

Enquanto Felipe viveria por muitos e muitos katuns, como todos os outros de sua raça, Balder viveria por muitos e muitos baktuns.

Foram amigos, mas Balder era um idealista, com sonhos de nobreza, de servir ao seu povo e outras tolices de mentes imaturas que não compreendem a dura solidão e ferocidade do mundo.

Balder tinha a fraqueza da compaixão e Felipe não suportava tal fraqueza.

Tornaram-se competidores em tudo até que a hábil direção da escola colocou-os em campus diferentes visando impedir o surgir de uma rivalidade mais séria.

Felipe estava agora no último trecho da longa caverna.

Aqui ela se abre em duas entradas distintas.

Quem habitaria o eremitério da esquerda?

Já dentro do lado direito continuou a descer e descer, depois subiu muitos degraus encaracolados tendo a um lado inscrições e desenhos de uma beleza inquietante, símbolos grafados antes dos tempos atuais, por seres que há muito partiram.

Após contarem uma história de poder e força, da conquista de poderes e mundos por feiticeiros e feiticeiras de vasto poder as inscrições terminam abruptamente com avisos em tinta brilhante sobre os perigos que cercavam tais caminhos e que o poder exterior era sempre ilusório.

Símbolos alertando ao que sobe sobre os riscos que ele está prestes a desencadear sobre si e sobre seu povo.

- "Talvez mais, talvez muitos povos", pensava consigo.

Poucos já estiveram naquelas cavernas, onde ao redor de grossas estalactites e estalagmites degraus espiralados levam a muitos nichos nelas escavados.

Se, talvez, Felipe tivesse ido mais cedo para as Escolas no Estado de Torhn, se houvesse recebido outra educação, talvez sua consciência, forjada a partir de influências mais despertas, tivesse o poder de alterar seus próximos passos.

Mas Felipe é filho de Irgio, e Irgio foi um pequeno senhor de poucas terras e muitas ambições.

A frustração de seus planos foi atribuída a sua falta de poder e o pequeno Felipe teve seu intelecto brilhante, sua grande força interior doutrinados para buscar o poder, o poder sobre outros.

Felipe esteve nas Escolas de Torhn.

Foi um aluno brilhante, mas fugiu.

Faz poucos kins, há poucos kins atras ele estava em seu retiro, preparando-se para testar suas habilidades nas trilhas místicas da floresta Icamiaba.

As Icamiabas.

Mulheres guerreiras que viviam no mundo-floresta.

Icamiabas, As Escolas de Tohrn estão em seu mundo e nele tem santuário.

A vasta floresta Icamiaba, com suas milenares árvores Uru, cheias de tal poder que em elo com sonhadoras Icamiabas podem impedir que qualquer nave sobre elas voem.

O mundo Icamiaba com seus vastos 2 continentes cobertos de florestas.

Em um ponto dessas florestas está o Estado de Thorn, um lugar ancestral.

Ali estudaram em outros tempos todos os futuros governantes de vários povos.

Homens e mulheres aprimoravam ali seu talento para apoiar seu povo em seus caminhos de vida.

O Estado de Thorn, protegido de leste a norte, de norte a sudoeste pela floresta Uru.

De sudoeste a leste um grande abismo, uma fissura na casca de terra, aberto para bolsões de uma substância instável da qual bolhas de plásmica energia sobem até muitos metros da fissura e que ao explodirem emanam tal radiação que mesmo os mais experientes voadores em tapetes de El Sarer não conseguem passar sobre a fissura.

Assim, naturalmente protegida, por muitos baktuns, está a Escola de Torhn, com suas alas, uma grande cidade, integrada à grande floresta, esculpida na rocha e armada sobre o grande lago.

O Estado de Torhn é uma confederação composta por muitos núcleos, onde habitantes de diversos mundos, ou mesmo de povos diferentes do mesmo mundo se estabeleceram após terem conseguido fugir da invasão de seus lares natais pelas tropas dos Conquistadores.

Arquiteturas de todo o tipo serviam como salas de aula, áreas de treino e laboratórios.

Com o crescente poder dos Conquistadores, uma coalizão de senhores e senhoras ambiciosos e belicosos, sem nenhuma ética e prontos a usar outros seres humanos como objeto para alcançar seus objetivos, os povos que ainda estavam livres enviavam seus futuros líderes para que se desenvolvessem e fossem sábios e sábias em seu governar.

Mas os Conquistadores cresciam e se tornavam mais fortes.

Se autointitulam "Nóbiles" e fazem pactos entre si, contra aqueles que ainda apoiam as velhas câmaras do povo, onde todo cidadão podia discutir sobre os destinos de sua comunidade.

Antes, entre os povos da maioria dos mundos da teia, eram os chefes figuras de grande capacidade de consenso, a semelhança do que ainda ocorre em algumas tribos.

Palavras distantes ecoaram em sua mente:

-“Portanto, o que esta nova elite de poder vem fazer é destruir a capacidade de autonomia, de ver e perceber com senso apurado o mundo.

Sistematicamente os conquistadores destroem nos mundos que dominam a capacidade dos seres de tomarem decisões. Assim, em poucas gerações, doutrinados e limitados entregam os seres o controle de suas vidas e a capacidade de decidir a gigantescos organismos, as instituições que os Salvatores mantém para dominar ideologicamente os mundos, nos quais as armas já mataram aqueles que poderiam reagir.

Porque assim isolados, inseguros, cairemos nas malhas da rede desses pescadores de consciência.

Assistiremos mundos e mundos renunciarem à liberdade do mar, para nadar em tanques seguros, tediosamente seguros. Até serem servidos no jantar.

Um súbito ranger de ferrolhos arrancou Felipe de seus devaneios.

Por que a aula de Tessálio lhe viera à mente agora?

Sim, Tessálio tinha razão.

Mas ele mesmo estava preso.

Felipe ousara mais, iria mais longe.

"Busque o inesperado, faça o novo."

Será que seus mestres apoiariam o "novo”que estava pronto a fazer, o inesperado?

Talvez não fosse novo seu ato, pois a traição bem antiga é, mas inesperado sem dúvida seu ato seria.

Tinha certeza que Tessálio e o Xamã já sabiam de suas reais intenções.

Eles não negariam seu acesso ao coração da teia se já não soubessem o que de fato levava em sua mente.

Com certeza já sabiam há muito de suas reais intenções e estavam tentando atraí-lo de volta.

Sim, desde alguns tuns, muitos tuns estavam agindo de forma diferente com ele.
Sentiu uma ponta de raiva dentro de si por não ter percebido antes o que agora lhe era óbvio.

Todos a sua volta já sabiam que ele era um traidor.

Até mesmo Aliaanará, a forma sutil como ela tomou de volta a esmeralda que ele recebera dela tuns atrás e que era um elo entre ele e as Icamiabas.

Bancara o tolo e sua importância pessoal reagia a isso.

Tolos.

Espertos, mas tolos.

Eles mesmo não alertavam para o perigo do Poder?

Teriam uma noção exata do que era o Poder de fato?

Com suas disciplinas éticas viviam a conter-se, não exercendo plenamente suas possibilidades.

Não, este caminho poderia levar alguns a algum lugar mas não era definitivamente o caminho de Felipe.

Ele sabia que estava ali para testar o poder pleno, um caminho solitário.

Solidão.

Saudade.

Aliaanará.

Ela negou-se a estar com ele.

Como era possível negar o amor e a imortalidade por um conjunto de ideais falsos de liberdade e ética.

Alianará. Ela o amava também, mas o que era o amor?

Não seria apenas uma forma do corpo manifestar uma extrema atração sexual, um reconhecer de cheiros e texturas que gritam aos gens que carregamos que encontraram no outro um vetor de bons elementos para cruzamento?

Compreendia a absoluta falta de sentido em tudo, a efemeridade de tudo e todos, e a vã ilusão de seus planos.

"O poder que temos é o que somos".

Disso ele tinha certeza.

Todos diziam isso.

Mas nas Escolas de Torhn eles insisitam em usar o poder interior e não interferir com o exterior.

Essa era a fraqueza deles.

Mais tarde saberia usá-la.

Teria coragem de estar no ataque?

Ele sabia qual era o ponto fraco de toda a proteção ao Estado de Torhn.

A mata era a guardiã daquele mundo e era protegida por magia.

Mas em Midgard havia um elemento artificial.

Plutônio.

Ele era instável demais e ao mesmo tempo inacessível a magia dos teúrgicos.

Aliaanará.

Teria coragem de enfrentá-la, como oponente?

Ele a conhecera na Escola de Torhn.

Apaixonou-se por ela como as sombras de um pântano se apaixonam pela luz límpida da aurora.

Com intensidade e tristeza por saber que tal luz seguiria seu caminho e ele, pântano, já estava condenado a mergulhar mais e mais em suas sombras, em busca de algo que poucos ousavam vislumbrar:

O poder.

Viveram juntos segundo os costumes da escola, em alojamentos para os que desejavam viver com alguém.

Aliaanará era a provável sucessora da líder das Icamiabas do seu continente (o mundo Icamiaba possui apenas dois vastos continentes, gelados nos polos e todo o resto coberto de floresta,  no mais é um grande mar).

Embora partilhassem um incrível afeto, já àquela época, Felipe sabia qual era seu destino.

Ele buscava o poder, o poder puro.

E sabia que o poder sobre si mesmo tão alardeado pelos adeptos do Chi interior não lhe seria suficiente.

"O ser humano é muito diminuto perante o vasto todo. Se desejo conhecer o poder exercê-lo-ei além das fronteiras de mim mesmo."

Tudo isso passou pela mente de Felipe, mas quando a grande e pesada porta de ferro frio se abriu sua mente estava limpa e aberta.

Felipe mais uma vez usou o saber de seu treinamento.

Limpou sua mente de tudo, inclusive dos conceitos que eles lhes deram.

Assim nada estava a perturbar-lhe a percepção quando sentiu a energia dos Sombrios ativando o portal.

Pela primeira vez iria além do espelho.

O espelho não mais seria o canal de contato entre ele e o misterioso ser das Sombras que há muito era seu real mestre.

Agora Felipe estava pronto.

Sem intermediários.

Seu lance já estava dado.

A mensagem que enviara ao conselho dos Senhores e Senhoras reunidos no Reino de Bispou já devia estar sendo lida.

Com que assombro não estaria sendo ouvida.

Se os Senhores e Senhoras da guerra, maioria no conselho, entendessem a vantagem que lhes estava sendo oferecida não excitariam em dar total apoio a Felipe.

Bispou tentaria impedir, mas Felipe tinha o trunfo final.

Bispou era um crente.

A religião dos Salvatores era apenas um instrumento de manobra ideológica para converter e dominar os povos.

A maioria dos Senhores e Senhoras tinha um comprometimento apenas formal e aparente com tais credos.

Mas Bispou secretamente acreditava em certos credos dos Salvatores, acredita em seus deuses. Participara dos rituais secretos onde o Prior dos Salvatores e seus aliados contatavam os Deuses.

Deuses!

Eram seres de incrível poder, consciências muito mais amplas e profundas.

Mas seres, não deuses.

Bispou apesar de todo o poder de suas legiões, criadas em condições extremas, era frágil por ser um seguidor.

Ele havia transformado seu mundo num lugar terrível para gerar ‘soldados perfeitos’.

Apenas um elite vivia em condições mínimas, o resto do planeta condenado a uma vida em condições sub humanas, em situações de extrema penúria e expostos a climas desregulados devido a agressões constantes ao meio ambiente.

Além das tantas outras agressões, Bispou e seus engenheiros comportamentais levavam todos a experimentarem, aquele profundo senso de derrota, inutilidade e frustração que depois bem trabalhados geravam máquinas humanas prontas a matar, odiando o que quer que lhes mandassem odiar, inconscientes da magia e do valor das próprias vidas, assim sem nenhum respeito para com qualquer vida.

Nesse meio adverso Bispou treinava seus soldados desde crianças.

Eram verdadeiras máquinas de matar, resistentes, bitolados, incapazes de pensar por si mesmos exceto em assuntos onde a destruição do inimigo fosse a meta.

E inimigo era sempre aquele que Bispou habilmente sabia apontar, mostrando que se fossem eliminados haveria uma vida melhor para todos.

Seu exército genocida e as armas que desenvolvera, testando-as inclusive em seu próprio mundo, lhe dava grande poder no Conselho.

Ele era um dos líderes dos Conquistadores.

Mas com sua crença era manipulável.

Como muitos outros cria nas manobras dos Salvatores e em seus Deuses.

Tinha a carência de um pai psicológico, o medo de assumir a solidão da existência e o profundo desamparo ao qual todos estão de fato expostos.

Felipe recebera outra educação e aprendera que existem seres em muitas escalas de poder, mas eram seres, não deuses.

E ele entraria em contato com tais seres agora.

Estaria em sua morada.

Sorriu ante a ironia do que estava por fazer.

Pensou nos personagens das sagas sagradas dos vários povos que diziam ter conversado com seus deuses ou intermediários destes.

Ao menos Felipe sabia que ele não seria logrado.

Não era um crente devoto amedrontado em busca de um pai psicológico que atravessava o portal.

Era um ser consciente que havia aprendido a desenvolver um profundo senso de análise e observação.

Então atravessou a moldura do grande espelho ígneo.

De fato o fogo não o queimou.

Mas o brilho o levou para muito, muito longe, fora da teia, um mundo parasita, no nosso preso.

Felipe estava num vasto túnel.

Sentia tudo a sua volta em tons de enxofre e ocre.

Alguns seres em forma de chamas bruxuleantes mas semi-opacos se aproximaram.

Subitamente todo o local tomou a forma de uma vasta sala de piso quadriculado e horizontes a perder de vista.

-Não! - disse Felipe e sua voz era um som disforme e pesado, como uma gosma sólida a escorregar pela língua e sair no ar a sua frente.

A imagem desapareceu e voltaram ao túnel que pulsava com estranha vitalidade.

-"Não fale, sentiu ele em sua mente. Faça como nós".

-"Não quero ilusões que acalmem meus sentidos".

Felipe notou certa perplexidade.

Não estavam preparados para tais atitudes.

Ele tinha o treinamento das Escolas de Torhn a seu favor.

Não antropomorfizaria as imagens ficando em lugares paradisíacos que com certeza essas criaturas eram capazes de gerar drenando informações a partir de suas carência profundas.

Aprendera o suficiente para não ser assombrado por seus fantasmas interiores.

Se ia negociar com esses seres desejava estar num ambiente nitidamente alienígena para que seus sentidos estivessem aguçados.

Observou tudo a sua volta.

Era aquele o lugar que o recebiam.

As formas parecendo chamas de vela, que seriam?

Uma delas se destacou do grupo e se aproximou.

Pulsou sua luz até tomar uma forma humanóide.

Felipe sorriu sarcástico.

Aquela forma insinuava sinais de um ser que conhecia bem.

Tudo muito discreto, nada que percebesse se não fosse seu treinamento.

Emitiu seus sentimentos e o ser voltou a sua forma bruxeleante, porém muito, muito mais opaco que uma vela.

Sensações, texturas, sons e cheiros inundaram-lhe a percepção.

Uma torrente de informações sensoriais.

Felipe percebeu o que isso significava.

Eles estavam se comunicando com ele em via direta, sem usar de subterfúgios, de mitos de sua própria cultura.

Sua percepção absorveu as informações contidas naquela comunicação.

Levaria alguns meses em seu próprio mundo para linearizar tudo aquilo, mas a essência lhe era clara.

Fora aceito como aliado, não como servo.

Ele conseguira.

O pacto era um sucesso.

Deixou que uma aparente empolgação o envolvesse e notou que os seres se tornaram menos em guarda ao senti-la.

Felipe se perguntava quantos como ele conseguiram tal aliança?

Só quando estava em seu quarto na segurança de sua câmara que Felipe permitiu-se demonstrar um pouco de suas verdadeiras percepções.

Havia sido um sucesso.

Ele sabia que havia conseguido.

Estava exausto.

Não operava naquele nível de energia há tuns.

Sim, há tuns seus mestres e mestras na Escola de Torhn não o expunham mais a tais campos de energia.

Então já sabiam de sua traição há tanto tempo?

Não importava isso agora.

Ele estava aliado a poderes muito maiores que o "ético caminho" de Torhn e sua escola.

O cosmos é caótico demais.

Há momento que temos de forçá-lo para algum lado.

Domar o dragão.

Uma imagem vem a memória de Felipe.

Tessálio, em uma aula treino.

Ele fala sobre domar o dragão.

Mas ensina a trabalhar o dragão interior.

Felipe sabe que está ousando.

Tais racionalismos o incomodam.

Precisa de energia.

Toca um gongo que ecoa um som ondulante até os corredores, saem para as varandas do pátio interno e despertam a jovem que dorme ao lado da fonte das 7 pedras.

A jovem se ergue, caminha como em transe, só, para estar na porta do quarto de Felipe.

As portas que dão para o corredor do pátio, guardadas por 4 mulheres da guarda pessoal de Felipe.

As guardas pessoais de Felipe estão atentas e, como ouviram o gongo, deixam a jovem passar.

As pesadas portas de bronze com o desenho do dragão incrustado em pedras vermelhas e metal amarelo e verde se abrem.

A mulher entra e observa ausente a cena. As portas são fechadas.

Felipe acaba de acender a grande lareira que fica num canto do quarto.

O quarto redondo tem a um lado uma grande cama com dossel.

Felipe sabe que mesmo no auge de seu poder não poderá abandonar por muito tempo esta região.

É aqui que está o epicentro de seu poder, é seu ponto de máximo poder e sua obra exigirá sempre tal foco.

Aquela cama precisa ser preparada magicamente.

Os sonhadores entre os povos ligados as Escolas de Torhn são muitos e habilidosos.

Não pode arriscar ser abordado por algum agora.

Havia também o pacto com Aliaanará.

Tal pacto o tornava accessível a mulher líder de um poderoso povo, um povo que Felipe sabia que não poderia nunca destruir totalmente.

Ataques limitados como o que faria em breve ainda eram possíveis, mas as Icamiabas possuíam uma magia que estava além de seu poder.

Elas encontrariam seu fim se toda a teia fosse destruída, mas antes deveriam ser mantidas acuadas, mas não destruídas.

Isso lhe tranquilizava em parte.

A menos que Aliaanará se arriscasse desnecessariamente não precisaria matá-la.

Aliaanará viva mantinha uma parte dele mesmo ainda viva.

Ficou de pé observando o fogo crescer na lareira.

A jovem se aproximou.

Era uma escrava enviada por um dos povos que já se submetera a nova ordem que sua mensagem ao conselho criara.

A jovem estava em transe e trazia a bandeira da casa reinante em sua cintura.

Felipe sabia o que devia fazer.

Criar um escudo psíquico a sua volta para que nunca fosse rastreado em sonho.

Sangue seria o veículo.

Sangue virginal.

Suavemente deitou a jovem na cama.

Entre as almofadas acetinadas e o tecido aveludado da colcha a jovem começou a sentir as ondas de energia que Felipe irradiava.

Pulsando o feixe de fibras que todo ser orgânico possui, os humanóides na altura do umbigo, ele já tocava a jovem levando-a a vibrar em desejo.

O corpo maduro, ainda virgem, fora prisioneira de um dos Templos dos Povos das Montanhas de Yarcvr , onde as sacerdotisas virgens guardam seus mistérios e seus himens da curiosidade masculina.

Aos poucos a jovem ardia em prazer.

Felipe entoou os mantras tântricos e a jovem arfou, sequiosa de um membro viril que matasse a fome de seu corpo, até então quase toda saciada nos ritos de sua irmandade.

O som tocava as terminações nervosas, biológicas e o velho instinto, ancestral e dominante possuiu a jovem.

O transe era pleno.

Pulsando seu corpo no mesmo tom Felipe conduziu a jovem pelos caminhos do êxtase tântrico.

Seus corpos se contemplaram, se tocaram com a leveza da brisa e a intensidade das tempestades.

Suor e saliva aos poucos se misturaram.

Sons em tons, específicos tons.

Felipe sabia como conduzir a jovem agora.

Ela estava totalmente entregue em suas mãos.

E ele estava excitado totalmente excitado.

Nunca fora além desse ponto, pois em toda a Escola de Torhn se considera necromancia usar outro ser sem este estar consciente.

Mas o ato que a pouco realizara ao ir ao mundo dos parasitas Sombrios lhe tornava imune a toda consciência moral que ainda pudesse possuir.

A jovem em suas mãos não tem consciência treinada para operar em tais níveis de energia.

Está em transe, vivendo fantasias não realizadas.

Prisioneira de fantasias.

Felipe pulsa seu chacra raiz.

O som, a forma geométrica, a cor, o tom.

A jovem responde.

Ela está tomada, seus centros superiores foram ligados, mas os básicos não sabem como conectá-los.

Felipe liga-se neles.

Chacra a chacra, até que a mulher entra em tal êxtase que ele mesmo quase perde o controle tal o prazer que o possui. Mas sabe manter-se no limiar, sabe envolver-se sem se entregar.

Pleno de um poder estranho ele controla sua ejaculação e conduz a energia pelo caduceu.

Pulsa um campo a sua volta, a volta de onde está e só então deixa que seu membro penetre totalmente a mulher.

Um gemido a leva ao explodir do transe.

Um pequeno fluxo de sangue escorre até a bandeira do povo que a capturou e enviou como tributo.

Já há sangue no pendão.

Sangue dos mortos na luta para salvar a bandeira milenar dos que pretendiam vender seu povo.

Monges ferozes e hábeis, mas poucos.

Desarmados e perplexos demais.

Alguém já disse em algum lugar que a invenção de armas permitiu aos covardes e desonrados dominar o mundo.

Dois sangues, o poder do medo e o poder do prazer inconsciente.

Felipe estava com sua consciência ampliadíssima.

Era um tantrista, adepto do mais terrível e abominável tantra.

Capaz de manter sua consciência operando mesmo em tais níveis de amplitude.

Forjou a bolha de proteção ao redor de si e criou outra ao redor da grande cama.

Sua consciência estava ampla, bordejando outros mundos de pura energia.

Voltou para o mundo cotidiano com os gritos da jovem.

O olhar ensandecido, saltados.

Felipe sabia o que havia acontecido.

Ela fora exposta a mais poder que poderia elaborar conscientemente.

Subitamente inundado por tanto poder seu racional se queimara, se desfizera.

Como um cristal arquivo que se apaga se for exposto a um pulso de certo tom.

Felipe equilibrou sua pulsação e permitiu que uma aparência humana retornasse ao seu olhar.

Era disciplinado o bastante para nunca olhar no espelho, mas sabia que nunca mais teria um olhar humano, a não ser esta paródia vulgar que só o ocultava o fato dos não treinados.

Como enfrentaria o olhar de seus antigos mestres e amigos quando os visse?

Tolice, se os visse novamente seria para assinar suas sentenças de morte, pois ele agora consumara o ato que iniciara há muito, muito tempo, naquele ensolarado dia que descera para os túneis secretos sob o castelo, ainda adolescente, para ser apresentado ao elo sombrio, o ser intermediário que o levara até seu mestre.

Naquele dia trocara o dia ensolarado pelas sombrias cavernas e acreditava dentro de si mesmo nunca ter saído realmente das sombras.

Há tempos se tornara um desgarrado.

Hoje apenas confirmara tal ato.

Chamou suas guardas e elas levaram a jovem.

Quando os gritos da jovem foram ficando distantes, perdidos nos corredores de pedra que levam as alas internas da fortaleza, deixou de pensar no que os soldados fariam com ela.

Sentou-se num nicho de pedra que tinha num dos cantos.

Sobre o nicho cristais das sete cores num arranjo exótico.

Um campo de nulificação.

Ali, dentro daquele campo nenhum psíquico poderia rastreá-lo.

Abriu uma pequena gaveta e dela tirou uma flauta de tom acobreado.

Era uma flauta Parola.

Flautas que eram vendidas com grandes blocos de uma pedra usados como cofre.

O cofre era um cubo da pedra dentro de uma camada de um material radioativo de alta intensidade que ficava dentro de outra pedra.

Assim, nesse arranjo sanduíche ficava o cofre interior.

A flauta, ao ser tocada, criava um cone até o cofre interno, uma abertura.

Se por algum outro meio tentassem abrir o cubo-cofre o material radioativo vazaria, destruindo o material no seu interior e contaminando todo o ambiente e todos que estivessem próximos.

O bico da flauta, onde a língua devia tocar, era mantido liso com um veneno específico, algo que era geneticamente desenvolvido para só não afetar uma específica pessoa.

Era um artificio engenhoso.

Mas o que guardaria Felipe ali?

Um grosso volume de folhas finíssimas.

Capa dura, de madeira talhada e incrustações.

Felipe abre o grande livro e com uma pena e tinteiro põe-se a escrever.

O que não escreveria em seu diário o homem que estava a trair toda a teia e condenar bilhões de seres a morte ou a escravidão?

Nuvem que passa

segunda-feira, 3 de março de 2025

Como canalizar a energia sexual

A energia sexual é um ponto fundamental. Não é à toa que é chamada de brilho da consciência dentro do Xamanismo Guerreiro. Mas é um assunto difícil e espinhoso para quem busca dar os primeiros passos no Caminho já que é "a única energia real que possuímos, que confere vida", pois "através da energia sexual a Águia confere a consciência".

Nesse vídeo temos dicas básicas no que tange a observação de si e da energia sexual, sobre como livrar-se da compulsão e como tornar-se mais consciente no que tange ao uso da energia criadora.


sábado, 1 de março de 2025

Um filme de ação inteligente: Revólver (sobre a mente do predador)




O ego deve ser conscientemente ignorado.

Uma metáfora sobre o primeiro inimigo do homem de conhecimento dentro da tradição tolteca: o medo.

Mas também uma reflexão sobre a estrutura egóica da mente ou aquilo que a tradição tolteca chama de "mente do predador". É isso que há sob o manto da ação neste interessante filme de Guy Ritchie, praticamente um contra-ponto aos filmes de ação, por ser muito inteligente e provocar a reflexão como poucos filmes de ação fizeram. Um exemplo deste tipo de filme é Matrix, Hero, Cidade das Sombras e 13º andar. A diferença de Revólver é que ele é inesperado, cria um efeito surpresa, pois segue a estética do filme de ação. Vale a pena conferir. Naturalmente que fiz aqui uma leitura pessoal e várias outras leituras são possíveis como ficará estampado no final do filme.

Link: https://solarmovieru.com/movie/revolver-12282.html

O filme também pode ser visto no YT dublado ou no Prime Vídeo legendado (para quem é assinante).

Ano de Lançamento: 2006
Gênero: Ação

Sinopse: Depois de Jogos, Trapaças e Dois Canos Fumegantes e Snatch – Porcos e Diamantes, Guy Ritchie volta em Revólver, a história do perturbado Jake, bandidão que sai da cadeia disposto a vingar os anos em que esteve preso. Sua missão é destruir a vida de Macha, um poderoso chefão que passa a maior parte do tempo vestido de rídiculas cuecas, mas que manda matar sem dó. Os dois se envolvem com Lord John, o mais temido de todos os facínoras. Jake, Macha e Lord não são flores que se cheirem. O encontro dos três é nitroglicerina pura pronta para explodir.

obs: publicado inicialmente em 26/10/2011.



Sinal de Fumaça

A Chave Secreta para o Empoderamento

Saúdo a Fonte Eterna em mim e em tudo. Estou atuando a partir do centro da verdade. Que todos os impedimentos sejam removidos. Imagem gerada...