O aspirante ao caminho do guerreiro precisa se ater aos eventos do seu viver, aos hábitos do dia a dia, espreitar a si mesmo a partir das minúcias, recapitular o seu cotidiano, que é sempre uma espécie de retrato 3 por 4 de nossa vida inteira. Não se começa nesse árduo caminho lutando as grandes causas, demandando contra os grandes “demônios” ou enfrentando desafios que são muito maiores que a capacidade inicial de um aspirante.
Querer abraçar grandes causas é uma das piores formas de auto-engano, pois sem muita energia acumulada e sem uma vontade forjada em batalhas menores e vitoriosas não será possível vencer os maiores desafios tais como a luta contra a vaidade, o domínio da energia sexual ou castidade (aqui num sentido técnico e não moral) e a conquista do silêncio interior. Estas coisas devem ser perseguidas a partir de pequenos passos, gradualmente, suavemente, sem forçar, sem obsessões.
“Se for para um guerreiro ser bem-sucedido em alguma coisa, esse sucesso deve vir com suavidade, com muito esforço, mas sem tensões nem obsessão” – A Roda do Tempo.
Nos livros o Nagual narra algumas lutas nesse âmbito dos hábitos cotidianos, tais como o seu vício por queijo, que lhe causava males no estômago, seu vício por cigarros que foi superado por uma manobra do Nagual Juan Matus. Já nos seminários de Tensegridade ficou clara a importância de libertar-se do vício do café e do açúcar. Aspirantes tinham como premissas para adentrar ao caminho livrar-se de tais hábitos. Esses são exemplos de desafios menores sem os quais não há efetivamente como prosseguir no caminho.
A elegante magreza característica de vários aprendizes do Nagual e instrutores de Tensegridade também nos revela o quão importante é neste caminho ser leve, fluido e ter um estilo de alimentação sóbrio. Obviamente, os naguais não estão preocupados em ser politicamente corretos, apenas apontam para seus aprendizes que o excesso de peso é a marca da negligência e da auto-piedade estampadas no corpo. A crítica aqui não é à condição humana em geral, mas voltada tão somente para os pretendentes ao Nagualismo.
Isso reflete a importância, não de natureza estética, mas de ordem funcional que davam e dão a uma excelente condição física:
“Se você quer destreza física e sensatez, precisa de um corpo flexível. Esses são os dois aspectos mais importantes na vida do xamã, porque trazem sobriedade e pragmatismo: os únicos requisitos indispensáveis para entrar em outros domínios de percepção. Navegar de uma maneira genuína do desconhecido, requer uma atitude de ousadia, mas não de imprudência. Para estabelecer um equilíbrio entre a audácia e a imprudência, um feiticeiro precisa ser extremamente sóbrio, cauteloso, habilidoso e estar em excelente condição física” – Passes Mágicos.
Então devemos começar pelos detalhes, pelos pequenos hábitos que drenam a nossa energia e a viciam. Devemos espreitar a nós mesmos em nosso dia a dia para que possamos identificar quais são os padrões de comportamentos que levam a nossa energia embora.
“Os guerreiros elaboram listas estratégicas. Anotam tudo o que fazem. Depois decidem quais dessas coisas podem ser mudadas de modo a permitir que poupem parte da energia que despedem” – O Fogo Interior.
É justo o superar desses hábitos drenantes de nossa energia que vão nos permitir acumular energia suficiente para lograr sorte, sucesso e abundância como decorrência de nosso poder pessoal, que decorre não de uma conquista de natureza egoica, mas justamente o contrário.
O ego é uma construção fundamentada num conjunto de hábitos.
O guerreiro é uma desconstrução fundamentada na liberdade de percepção.
A energia pessoal é a matéria-prima, a chave alquímica que nos permite adentrar em outras faixas de realidade para além da ordinária onde o homem comum é prisioneiro.
Escolha um hábito drenante de energia para ser eliminado e transforme esse objetivo no “seu deus”, como disse Gurdjieff no texto que disponibilizamos aqui, chamado “Atenção e Pequenos Hábitos”. Leia e releia este texto, compreenda a importância de ser humilde e começar a dar passos reais no caminho de acordo com as suas forças.
A humildade está no início e ao longo de todo o caminho, o que nos impede de seguir é justamente o contrário: a vaidade, que nos faz achar que somos algo quando não somos nada. Assim é de bom tom começar humilde, pela base, nos detalhes, pois aí também mora o Diabo.
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