Iluminação é o silêncio da mente.
A saúde do espírito é a iluminação, o êxtase.
Meditação é um estado da mente.
Ou da não-mente.
Concentração é a técnica para alcançá-lo.
Postura é a forma física para atingi-lo.
Concentração e postura são as duas faces, mental e física, da moeda meditativa.
Meditação é clareza, iluminação, êxtase, silêncio.
Definir meditação não é meditação.
Paz sem limites, êxtase incomensurável, terror místico do eu.
Palavras.
Meditar vai além das palavras. A voz do silêncio. A flor de Kashyapa.
O escrito não pode ser meditação, é no máximo uma definição sobre, uma tentativa intelectual de ampliar limites conceituais, aproximando-se sem nunca chegar ao real. O dedo apontando para a Lua.
A postura firme do lótus, a clareza tranqüila do lago são metáforas naturais da meditação.
Sentar em lótus, contemplar o lago quase nunca tranqüilo da mente, observar os pensamentos ondulantes, estar ciente do fluxo da respiração: eis uma técnica para o kensho.
Orar não é meditar. Entoar mantrans não é meditar. Visualizar mandalas não é meditar. Resolver koans também não.
Essas são técnicas, ferramentas de concentração.
Meditar é um estado onde se processa o fim do diálogo interno.
Como eu posso conversar incessantemente comigo mesmo?
Ao conversar comigo mesmo não sou um, sou muitos.
Ao conversar comigo mesmo em voz alta dirão: - Louco!
Ao conversar comigo mesmo mentalmente encubro a loucura.
A loucura é uma doença da mente.
A maioria de nós padece dessa doença e por isso não a percebemos como tal. Tornou-se lugar comum. Normal. Assim o doente considera-se são. Os valores se invertem. Não nos tocamos dessa inversão, eventualmente? São acessos de cura, lampejos de saúde, insights da alma que ainda resiste.
Estamos a tanto tempo doentes que nos esquecemos de nossa condição de natural saúde.
O eu, eu e mais eu é a doença da mente.
Meditação é a cura.
Gaia Ciência. Nietzche nos fala da recuperação da saúde e Buda aponta para a Terra como sua testemunha. Gaia Ciência.
Curar-se é nos tornarmos aquilo que somos: Budas. Humanos. Condutos do Espírito.
Quem em mim conversa, discute, pensa comigo?
Se assim é como posso estar em paz?
Meditar é transcender esse pensar de eu, eu e mais eu.
Então me torno um:
Concentração.
Então me torno nenhum:
Meditação.
Nesse vazio há plenitude.
Nisso consiste o caminho.
Quem conhecendo a meta buscará algo fora dela?
Nossa natureza, nossa essência é essa mesma iluminação.
Estamos distantes de nós mesmos. Sem paz, desconhecendo a nós mesmos.
Se não temos paz em nossa mente como vamos ter paz em nosso mundo?
O exterior reflete o interior.
E apesar de todas as nossas palavras, de toda a nossa cultura, ainda não sabemos a resposta:
Quem sou eu?
Meditação é a resposta não discursiva a essa questão, é a revelação de nossa natureza.
Nossa natureza não é diversa da Natureza. Somos parte daquilo que acreditamos ilusoriamente ser externo a nós mesmos. Vencer essa ilusão dual é um passo no caminho da meditação.
O caminho da meditação, então, pode ser definido como uma ecologia do espírito, pois restabelecemos o equilíbrio natural com nós mesmos.
Assim, ao descobrirmos quem somos nós entenderemos, de fato, o seguinte koan, variante zen do axioma gnóstico.
Um discípulo perguntou ao seu mestre Zen:
"Como posso fazer com que as montanhas, os rios e a grande Terra me beneficiem?"
Respondeu o mestre:
"Vós deveis beneficiar as montanhas, os rios e a grande Terra."
Koan: A mente Zen é a nutrição da Terra. A mente da Terra é a nossa nutrição.
D.R.
05/02/08
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