quinta-feira, 21 de dezembro de 2023

O diabo mora nos detalhes




Eis um ditado que vem bem a calhar, pois aqui, no Trabalho sobre si, começamos do pequeno para o grande, do arremate para o todo, pois esse arremate é como um fractal, de um detalhe conduz a outro até que lá na frente se tem a obra inteira.

O aspirante ao caminho do guerreiro precisa se ater aos eventos do seu viver, aos hábitos do dia a dia, espreitar a si mesmo a partir das minúcias, recapitular o seu cotidiano, que é sempre uma espécie de retrato 3 por 4 de nossa vida inteira. Não se começa nesse árduo caminho lutando as grandes causas, demandando contra os grandes “demônios” ou enfrentando desafios que são muito maiores que a capacidade inicial de um aspirante.

Querer abraçar grandes causas é uma das piores formas de auto-engano, pois sem muita energia acumulada e sem uma vontade forjada em batalhas menores e vitoriosas não será possível vencer os maiores desafios tais como a luta contra a vaidade, o domínio da energia sexual ou castidade (aqui num sentido técnico e não moral) e a conquista do silêncio interior. Estas coisas devem ser perseguidas a partir de pequenos passos, gradualmente, suavemente, sem forçar, sem obsessões.

“Se for para um guerreiro ser bem-sucedido em alguma coisa, esse sucesso deve vir com suavidade, com muito esforço, mas sem tensões nem obsessão” – A Roda do Tempo.

Nos livros o Nagual narra algumas lutas nesse âmbito dos hábitos cotidianos, tais como o seu vício por queijo, que lhe causava males no estômago, seu vício por cigarros que foi superado por uma manobra do Nagual Juan Matus. Já nos seminários de Tensegridade ficou clara a importância de libertar-se do vício do café e do açúcar. Aspirantes tinham como premissas para adentrar ao caminho livrar-se de tais hábitos. Esses são exemplos de desafios menores sem os quais não há efetivamente como prosseguir no caminho.

A elegante magreza característica de vários aprendizes do Nagual e instrutores de Tensegridade também nos revela o quão importante é neste caminho ser leve, fluido e ter um estilo de alimentação sóbrio. Obviamente, os naguais não estão preocupados em ser politicamente corretos, apenas apontam para seus aprendizes que o excesso de peso é a marca da negligência e da auto-piedade estampadas no corpo. A crítica aqui não é à condição humana em geral, mas voltada tão somente para os pretendentes ao Nagualismo.

Isso reflete a importância, não de natureza estética, mas de ordem funcional que davam e dão a uma excelente condição física:

“Se você quer destreza física e sensatez, precisa de um corpo flexível. Esses são os dois aspectos mais importantes na vida do xamã, porque trazem sobriedade e pragmatismo: os únicos requisitos indispensáveis para entrar em outros domínios de percepção. Navegar de uma maneira genuína do desconhecido, requer uma atitude de ousadia, mas não de imprudência. Para estabelecer um equilíbrio entre a audácia e a imprudência, um feiticeiro precisa ser extremamente sóbrio, cauteloso, habilidoso e estar em excelente condição física” – Passes Mágicos.

Então devemos começar pelos detalhes, pelos pequenos hábitos que drenam a nossa energia e a viciam. Devemos espreitar a nós mesmos em nosso dia a dia para que possamos identificar quais são os padrões de comportamentos que levam a nossa energia embora.

“Os guerreiros elaboram listas estratégicas. Anotam tudo o que fazem. Depois decidem quais dessas coisas podem ser mudadas de modo a permitir que poupem parte da energia que despedem” – O Fogo Interior.

É justo o superar desses hábitos drenantes de nossa energia que vão nos permitir acumular energia suficiente para lograr sorte, sucesso e abundância como decorrência de nosso poder pessoal, que decorre não de uma conquista de natureza egoica, mas justamente o contrário.

O ego é uma construção fundamentada num conjunto de hábitos.

O guerreiro é uma desconstrução fundamentada na liberdade de percepção.

A energia pessoal é a matéria-prima, a chave alquímica que nos permite adentrar em outras faixas de realidade para além da ordinária onde o homem comum é prisioneiro.

Escolha um hábito drenante de energia para ser eliminado e transforme esse objetivo no “seu deus”, como disse Gurdjieff no texto que disponibilizamos aqui, chamado “Atenção e Pequenos Hábitos”. Leia e releia este texto, compreenda a importância de ser humilde e começar a dar passos reais no caminho de acordo com as suas forças.

A humildade está no início e ao longo de todo o caminho, o que nos impede de seguir é justamente o contrário: a vaidade, que nos faz achar que somos algo quando não somos nada. Assim é de bom tom começar humilde, pela base, nos detalhes, pois aí também mora o Diabo.

quarta-feira, 20 de dezembro de 2023

Ao Guerreiro Perfeito

O campo de batalha sou eu.
Foi isto que Deus me deu.
No coração, meu escudo.
Na mente, a lâmina.
No corpo, o templo.
No olhar, a chama.
No sorriso, o brilho.
Do Dragão e do Anjo.

Entre o pecado e a virtude,
vou seguindo, nem anjo, nem demônio,
apenas humano, sobretudo divino,
pois julgar não é amar, e num justo equilibrar
perceber a luz e a sombra, mas quem em mim percebe?
Nesta balança do Ser
O brilho da espada a resplandecer,
"Mil cairão ao lado, e dez mil à direita; mas tu não serás atingido", mas quem é este?
A espada, a balança, o trono e a luz que não pode ser vista.
Assim brilha o sol da eterna justiça.
Senhor da Luz, Senhor das Trevas
Senhor da Guerra, Senhor da Paz
Por isto Ele é o Senhor,
Domina sobre os opostos
Reconciliado em mim, em nós
Para a glória infinita de ser.
Deus em mim, Deus em nós.
O Exército da Voz
Eu sou, sou eu, somos Nós.

DR




terça-feira, 19 de dezembro de 2023

Paixão Rara


As pessoas tem lado.

A verdade, não.

Quando se diz:

- Eu estou do lado da verdade.

Desconfie, e dê um passo para trás.

Afaste-se para ver o todo.

O eu tem lado. 

A verdade é a força dissolvente do eu. 

A verdade é a morte, a morte do eu, a morte das crenças.

A verdade exige uma honestidade intelectual do tipo:

Será que aquilo em que acredito não está errado?

Parece que a verdade exige que se questione antes de tudo as nossas verdades.

A paixão pela verdade é a paixão pela desilusão.

Eis uma paixão rara.

Por isso se diz, desde que Sócrates bebeu a taça com cicuta, que a verdade é amarga.

segunda-feira, 18 de dezembro de 2023

Ayahuasca e plantas de poder




Saudações!


Tenho lido os mails sobre Ayahuasca, ou Runipan¹, que é um termo que também uso mais para tal planta de poder. Creio que para falarmos sobre o tema deveríamos ir mais fundo. Como sabem considero falar e escrever um ato de poder, portanto, vem por aí um texto longo e que exige um grau de foco para ser realmente compreendido, recomendo mesmo que seja impresso para ser lido. 


Vamos começar pelo conceito de planta de poder. Este termo foi trazido a público pelo Doutor Carlos Castaneda, como tantos outros do Xamanismo hoje utilizados. 


Por que planta de poder? 


A definição de uma planta de poder é dada pela sua energia. 


Mirando as plantas os videntes notam que toda planta tem também um ovo luminoso ao seu redor. Por vezes esse ovo luminoso é pouco maior do que a própria planta, mas algumas plantas têm uma incrível e vasta projeção luminosa a sua volta, o que revela serem "plantas de poder". Há outro aspecto, as plantas se comunicam com a Terra de uma forma muito mais profunda do que nós, criaturas móveis, que também temos uma raiz, que se projeta na frente de nosso ovo luminoso, um fio Terra que todos temos e que sulca a energia da Terra enquanto nos movemos. 


As propriedades das plantas são conhecidas há milênios. As plantas podem curar, matar e induzir a estados alterados de consciência. Várias tradições xamânicas demonstram que o caminho rumo à descoberta das potencialidades que trazemos ocultas dentro de nós aconteceu, porque, por sugestão de "entes" de outros mundos, ou por curiosidade e mesmo fome, alguns homens e mulheres ingeriram tais plantas, entrando em estados alterados de consciência. 


Alguns deles foram mais longe e transformaram esse resultado errático em campo de estudo, sistematizando o que hoje conhecemos como tradição xamânica, nascida na alvorada dos Tempos. Não há nenhuma cultura nativa do mundo que não conheça ou deixe de fazer uso ritual das plantas de poder. E o que aconteceu a esta cultura na qual estamos inseridos, que negou e reprimiu tais procedimentos, substituindo com o insosso pão e vinho do rito cristão os antigos ritos de ingestão de plantas de poder? O vício e o desequilíbrio das drogas químicas, com o terror armado do tráfico e tudo mais que assistimos. 


O ser humano necessita do êxtase, do estado promovido antes pelos grandes rituais coletivos, onde em catarse provocada por danças, sons rítmicos e beberagens várias certas substâncias eram produzidas, para os fins do Ser Terra e de todo o esquema cósmico no qual estamos inseridos. 


O que se busca com a ingestão de uma planta de poder? 


Ampliar o estado de consciência, entrar em outra dimensão da realidade, normalmente inacessível a nossos sentidos comuns, a nossa forma usual de sentir e perceber o mundo. 


Por que usamos uma planta de poder? 


Para essa ampliação de nossa consciência , pois. 


Por que nos alimentamos? 


Por que sem alimentação não teremos matéria prima para manter nosso corpo vivo, com a constante renovação celular exigida para tal mister, tão pouco teremos energia para executar nossos processos existenciais. Sem alimentarmo-nos não pensamos, não sentimos, não agimos. Já pararam para pensar nisso, como é uma necessidade fundamental se alimentar. Os jejuns² tem várias virtudes, uma delas nos ensinar o que é sentir o corpo clamando por alimento, sua energia se findando. Tive algumas aventuras, que, entregue a mim mesmo, despido dos recursos que a vida "civilizada" nos dá, senti fome de verdade, que vem depois de mais de 36 horas sem alimentar-se. 


Além do alimento sólido precisamos ingerir água. Outra necessidade fundamental, já que sabemos que o Ser mundo no qual vivemos é feito predominantemente de água em nossa constituição. Alimento, água, isto precisamos ter para nos mover. Em tempos e locais sem supermercados, sem entrepostos de venda, ir suprir essas necessidades fundamentais dá um certo trabalho. A relação evidente de dependência fica mais clara. Os modos confortáveis da civilização que os conquistadores instalaram nos lugares conquistados cria uma falsa relação com o meio e assim, a indolência natural é acentuada, permitindo uma leitura da realidade que entorpece o senso de urgência não ansiosa, o estado de alerta constante que caracteriza quem está desperto. 


Como bem citado, Matrix é uma pálida alusão a uma realidade aterrorizante aos mais frágeis, que um (a) guerreiro encara com a mesma tranquilidade focada com que encara a não menos assombrosa ETernidade que nos cerca, envolve e nos empresta a consciência para que a amadureçamos, a mutemos através de nossas vivências e então, a pede de volta, um pedir que não precisa ser recusado, só ser atendido de outra forma, de uma forma criativa e ousada, como tudo mais que os(as) buscadores(as) da liberdade realizam. 


Comida, água. 

Necessidades básicas, dependências. 

Pouco paramos para pensar como temos dependências fundamentais em nossa vida. 

Alimentar-se e beber água. 

Tudo que vc leu até aqui só o fez porque se alimentou. 


A qualidade de sua alimentação determina muito a qualidade do tipo de substâncias que você vai gerar como matéria prima para a reconstrução celular constante que existe em nosso organismo, como também fornece energia para que tudo isso ocorra. Pois se está havendo uma regeneração celular constante, nossas células estão morrendo e nascendo, estamos sempre mutando também a nível corporal. A ilusão da solidez nos impede de ver isso, mas somos eventos dinâmicos, não pontos estáticos num contexto artificialmente gerado, aceito por convenção. 


O alimento entra no corpo. É mastigado, deglutido, vai para o estômago, sofre ali uma digestão mecânica e enzimática. Usando substâncias várias produzidas pelo corpo, as enzimas decompõem os elementos ingeridos em estruturas absorvíveis pelo organismo. Um exemplo da importância das enzimas é nossa incapacidade de digerir celulose. Nosso organismo não produz esse tipo de enzima. Assim a celulose entra e sai com a mesma natureza química, tendo sofrido apenas alterações de natureza física (mastigada, etc.) O alimento vai para as células, via circulação. Vejam os importantes glóbulos vermelhos, cheio do real material mágico da Alquimia, não o ouro, usado como símbolo e mais tarde distração. Mas o Ferro, o elemento mais abundante do planeta. Com a hemoglobina vai o terceiro alimento, o terceiro fator fundamental para nossa vida, além do que comemos e bebemos. 


O AR. 


Bem mais que o Oxigênio, que no entanto cumpre fundamental função para a vida e, também é, paradoxalmente, fator de entropia no organismo (as oxidações, fatores como radicais livres, etc.). Dentro da célula é a combinação de certas substâncias tiradas dos alimentos com o Oxigênio é que vai gerar energia para todos os processos que resultam no que chamamos de vida. O alimento está absorvido pelo organismo. Agora não há mais alimento e corpo, há só corpo com toda a matéria absorvida integrada em si. O ar se mistura com outros elementos. Respondemos a cada inspiração com uma expiração. Se o oxigênio é o que buscamos quando inspiramos, é gás carbônico que devolvemos quando expiramos. As plantas expiram oxigênio, na fotossíntese, e inspiram gás carbônico. Podemos nos tornar grandes amigos das árvores, algo difícil em nossos tempos pelo estado de guerra que nossa espécie declarou a estas belas companheiras. 


Isso é um processo simbiótico, como em simbiose vivem certas bactérias em nosso intestino, nos ajudando em processos digestivos e se alimentando enquanto isso. A simbiose com o mundo das plantas é muito profícuo. Mas da mesma forma que tiramos a vida no mundo animal para nos alimentar, tiramos a vida no mundo vegetal. Pois nos alimentamos de plantas também. Cada pé de alface que arrancamos, tem o mesmo sentido quando atiramos uma flecha ou armamos uma armadilha para capturar uma caça. Aquele pé de alface sentia o tempo, sentia as estrelas e as noites de luar, sentia o sol quando nasce e se põe, sentia a vida em toda sua expressão. Suas raízes vinham da mãe terra, onde nascera de semente, onde tivera que abrir seu espaço e uma dia surpreso se viu irrompendo num outro nível da realidade e da Terra, seu útero seguro, que lhe alimentava e protegia, vinha agora o desafio dos ventos, das chuvas de pedra, dos estranhos seres que se moviam de outra forma. Pois mesmo uma alface sabe que mobilidade e repouso são conceitos muito relativos. Essa alface, tanto quanto um porco do mato, uma galinha, uma capivara, tinham o prazer da vida em suas veias, quer por ela corresse o sangue ou a seiva. Mas como muitos perderam o Sentir e lhes restou apenas raciocinar, que é bem menos que pensar, esta percepção foi perdida. 


Quando compreendemos que as plantas têm esse nível de poder e consciência podemos entender o que é uma planta de poder, o que é convidar Runipan para partilhar conosco seu poder. Em um animal fica mais claro isso. Um(a) caçador(a) quando vai pela mata sabe que também somos caça. O vento que trás os cheiros também leva o seu. Quem já esteve em mata sabe que a gente sente o cheiro da onça de longe, ela exala um cheiro forte. Um caçador está preparado, ele vai a caça. Isto permite que ele estabeleça uma relação diferente com seu alimento. Quando o pega ele foi a face da Morte para sua caça. 


Se for sábio vai reconhecer que um dia a Morte poderá se mostrar da mesma forma para ele e na impossibilidade de saber mesmo o que vai lhe acontecer e quando, vive cada instante na plenitude de si. Quando aquele animal for comido a qualidade daquela carne, a força que ali estava, o poder, vai se impregnar na substância orgânica. Cada naco daquela caça, quer cru, quer assado ao fogo, vai ter consigo um pouco do poder daquela caça que correu livre, que viveu e metabolizou um aspecto da consciência da Eternidade, como todo ser vivo e consciente faz. 


Em um de seus aspectos a Vida é consciência. Sintam a diferença entre este alimento, em termos de poder e energia contidas e transmitidas a quem dela ingere, se comparado a um bife feito num restaurante, por um cozinheiro com raiva da gerência e com medo de perder seu emprego, servido por alguém que também está mals consigo, num lugar fechado, sem luz do sol, cheio de pessoas que fazem da refeição um momento de ansiedade e confusão a mais. Veja como esta civilização se alimenta mal, com vegetais e animais criados em grande quantidade, sem energia selvagem, por isso criando uma perigosa tendência a sermos nós também, domesticados servilmente. 


Esta diferença também ocorre no uso das plantas de poder. 


Primeiro, o que é uma planta de poder? 


É uma planta que tem muita consciência e algumas de suas fibras de consciência tem paralelo com as nossas de forma acentuada. A planta de poder carrega em si uma energia peculiar. Como toda energia orgânica tem sua densificação num ponto do organismo. É nos chamados "alcalóides" que essa energia peculiar se assenta nas plantas de poder. A composição química não é o único segredo. É na fórmula espacial das moléculas que está a força desses alcalóides. Eles têm tal conformação espacial que formam certas cadeias, têm padrões de ressonância os quais uma vez dentro do organismo ativam partes do corpo que estão adormecidas há milênios, falando em termos de espécie. 


Partes de nosso ser que ressoam a outras realidades, que nos permitem ver, ouvir, sentir, degustar e cheirar de formas completamente novas, além de levar a outros estados perceptivos que a partir de certo limiar já não mais estão no corpo denso, mas no corpo de energia, contraparte deste que conhecemos. 


Para todas essas manobras, porém não basta apenas a ingestão da planta de poder, há que se ter energia. 


Quando os predadores³ (ver texto sobre Predadores e Ponto de Aglutinação) chegaram e começaram a dominar a espécie humana, pouco a pouco, certas habilidades antes naturais foram sendo perdidas. Com a energia sendo consumida pelos predadores certas habilidades deixaram de ser atingidas enquanto potência realizada. Ficamos só com certa lembrança, certa intuição de que somos capazes, mas sem a condição energética para realizar. Por isso há tanta ênfase em reduzir nossa preocupação conosco mesmo, com nossa importância pessoal. 


Pois o que julgamos ser nós mesmos, nosso "eu" é tão somente um aglomerado de jeitos de pensar, sentir e agir, que nos deram e que nós absorvemos, por imitação ou imposição. Ë neste aglomerado travestido de "eu" que estão as grades de nossas celas, onde somos mantidos ignorantes de nós mesmos e de nossa real condição. Fomos condicionados a agir de tal ou qual forma. E assim respondemos aos estímulos, raramente agimos. Reagimos, mas raramente agimos. Estes estilos de agir, pensar e sentir não são a nossa "essência perceptiva". Somos o percebedor, mas estamos identificados com o percebido e parte desse percebido é um conjunto de estilos de agir, de pensar e de sentir que chamamos "eu". Se formos mais fundo na observação de nós mesmos teremos que reconhecer que nem é pensar, nem é sentir, nem é agir o que acontece. 


Raramente pensamos, na maior parte do tempo o que fazemos é raciocinar, que é um treino válido, mas limitado apenas a esta realidade convencional na qual vivemos. Raciocinar é operar apenas numa condição de memória, interpretando os dados recebidos a partir de um repertório. Uma condição de secundidade no dizer de C. Pierce. Pensar é mais amplo. Raciocinamos para treinar nossas habilidades a mergulhar no pensar, que entre outras coisas é criativo, realmente criativo, no sentido xamânico do termo. 


Nos emocionamos, para treinar o sentir. Emocionar-se é responder a estímulos, dos mais diversos, mas é resposta. A singularidade humana se manifesta em nós quando somos capazes de formular nossas próprias perguntas, ao invés de apenas repetir as respostas que nos fizeram decorar. Em todos os níveis e sentidos. E como tem demonstrado os behavioristas, para ira de muitos que se enamoraram da maquinaria mental, como dizia Skinner, os seres reagem, raras vezes agem, embora a natureza do estímulo está, na maioria das vezes, fora de seu espectro de percepção consciente. 


Mas podemos ir além. Podemos de fato sentir, pensar e agir. Para isso precisamos expandir nossa consciência, abarcar novos e mais complexos paradigmas sobre os quais construir nossa abordagem da realidade. Mas expandir consciência implica em tê-la. Como dizia Gurdjieff não se pode expandir a consciência inconscientemente. E aqui entra o ponto chave da questão das plantas de poder, como também da nossa relação com seres de outras realidades, tema de outro mail que estou mandando. 


Se usarmos as plantas de poder, a partir de nosso "eu normal", se usarmos as plantas de poder sem antes encontrarmos aquele lugar silencioso em nós, onde podemos ouvir a voz de nossa testemunha interior, estaremos usando o tremendo poder das mesmas, sua consciência intensificada que ingerimos, para apenas alimentar as projeções do que chamo "falsa personalidade", conjunto de formas de agir, pensar e sentir (que na realidade é reagir, raciocinar e emocionar-se) que apenas desejam que tudo fique como está, que é vaidosa, que é indolente, que tem medo e disfarça seu medo com arrogância, que é covarde e disfarça sua covardia com imprudência. Sem um claro trabalho sobre si mesmo, o uso de plantas de poder tem efeitos sempre questionáveis.

 

Foi essa a queda dos Antigos Videntes, alertam os Toltecas deste ciclo, encontraram maravilhas, mas o fizeram a partir de seu "eu" não cultivado. Expandir-se em estados estáticos de contemplação confusa dos mundos que existem além disso tem uma utilidade duvidosa para quem busca o viver estratégico e a compreensão efetiva daquilo que está à sua volta. 


Há outro detalhe. 


Existem pessoas que após certa idade param de produzir a enzima que digerem o leite. Assim sendo, se ingerirem o leite terão vários problemas, como alergias, doenças respiratórias. Mas para outras essa enzima continua ativa pela vida toda e assim, podem beber leite como bezerros até o fim da vida, quando a Terra os beberá também. Da mesma forma, as plantas de poder podem ser inócuas, debilitantes dentro de graus toleráveis ou intensamente debilitantes de acordo com cada pessoa. Existem pessoas que têm a habilidade de metabolizar os alcalóides, outras não. Por isso vamos encontrar pessoas que podem ter acesso às plantas de poder sem nenhum dano a sua estrutura física e outras não. 


E não só isso. 


Há também a questão da energia pessoal fundamental. Alguns têm essa energia em grande quantidade. Outros em pequena, alguns quase nenhuma. Essa energia que é determinada pelo grau de tesão com que a relação entre nossos pais aconteceu quando nos gerou, determina de forma inequívoca, quem pode e quem não pode trilhar certos caminhos. E por certo o caminho das plantas de poder não é único, muito menos o mais recomendado para quem busca a sobriedade. 


Atenção: Não quis dizer que o caminho das plantas de poder não pode ser trilhado com sobriedade. Disse que é um caminho que facilita a ausência de sobriedade. A planta de poder solta seu ponto de aglutinação. Ele pode sair errático e cair em qualquer novo alinhamento. Como os sonhos antes de serem controlados. E podemos nos arriscar a cair em mundos além de nossas possibilidades energéticas. Por isso, como tudo que se refere ao Conhecimento não pode ser trilhado com diletantismo. Há que se saber por que e como está fazendo isto. 


Segundo ponto importante, o uso em grupo. Todo trabalho coletivo usando plantas de poder exige a presença de um(a) condutor (a) preparado, alguém capaz de auxiliar no conduzir dos estados de consciência alterada que vão se produzir ali. Tem que saber usar da voz, dos tons, da energia do ambiente, tem que sentir cada um dos que estão ali para auxiliá-los, se necessário. O limite de um grupo de trabalho é o limite da capacidade do guia, do que conduz a canoa com os que trabalham juntos. 


Um efeito colateral de um trabalho grupal com plantas de poder é a entrada em ressonância entre os campos de energia dos participantes. Por isso se misturar a qualquer grupo de pessoas para usar qualquer tipo de plantas de poder é, no mínimo, imprudente. Se isso for feito de forma sóbria e focada, os participantes terão uma energia extra gerada pelo propósito grupal. Acima de oito rompem uma barreira energética importante, a barreira da personalidade. Mas tudo isso deve ser lido com uma mente muito diferente da mente usual. 


E aí entramos no foco desse tema: Os predadores⁵, que nos deram sua mente, e agora temos essa forma de pensar que não é natural a nossa espécie. Temos duas mentes, uma nossa mesma, fruto da somatória de nossas experiências. E uma outra, que os xamãs Toltecas chamam de "instalação alienígena". Ambas têm suas peculiaridades. Mas a mente do predador que está acoplada a nossa tem uma forma de ser que nos desequilibra e limita, para que sirvamos aos seus propósitos. A melhor analogia a isso foi dada por Matrix (famoso filme dos irmãos Wachowski, lançado em 1999). O ser humano deixou a condição de mamífero e se tornou destruidor como um vírus. Essa segunda natureza destruidora que temos não é realmente nossa. Foi implantada em nós. Um condicionamento. Como nos piores filmes classe B de ficção científica somos um grupo de escravos, mantidos numa sofisticada prisão, a prisão chamada "realidade". A realidade que vemos lá fora é mais sutil que a mostrada em Matrix, porém. Ali era uma simulação criada por máquinas. Aqui, há algo sim lá fora, vivemos num mundo gerador de energia, não num mundo espectro. As árvores, as pedras, tudo que nos cerca são itens geradores de energia. Vivemos num mundo que está doente com nossas agressões, mas ainda vivo e com energia. Nós processamos essa energia, como células, como enzimas do Ser Terra. Somos tipos de enzimas do Ser Terra, metabolizamos substâncias que na sua forma original o Ser Terra não poderia absorver. 


Não só substâncias físicas que metabolizamos, mas também as energéticas, vindas da eternidade, que metabolizamos de tantas formas em nosso sentir, pensar e agir, mesmo quando ele é mero emocionar, raciocinar e reagir, atitudes mecânicas. Portanto, temos que tomar cuidado com este detalhe para não nos limitarmos a uma dupla prisão. Somos células da Terra, somos parte do sistema orgânico que lhe possibilita existir e, além disso, estamos há alguns milênios escravizados por uma espécie de seres inorgânicos, isto é sem organismo, que vindos de alhures da Eternidade, nos pastoreiam agora, consumindo nossa energia, como os Massari fazem com seu gado (os Massari, povo da África, não matam o gado, tiram sangue deles e preparam sua comida com esse sangue. Sangram o gado pela vida toda do animal sem matá-lo.). 


Mas a prisão ao Ser Terra não é uma prisão. Só o ser humano da civilização industrial pensaria assim. Nossa ligação com o Ser Terra é simbiótica. Como organelas (mitocôndria, por exemplo) que migraram para dentro das células, mas eram seres independentes, que entraram em processo simbiótico para melhorar suas condições de vida e continuidade podemos nos sentir ligados ao SER Terra e aí passamos a uma troca justa onde metabolizamos energias para o Ser Terra e em resposta temos condições mais amplas para nossa sobrevivência e tempo para investigarmos os desafios que nos esperam. Condições de lutar pela Liberdade. Mas a resposta predadora existe em toda a ETernidade. A condição predadora da Realidade é algo que escapa aos(as) que estão escravizados(as). Por isso qualquer contato com seres de outra realidade devem ser conduzidos com o máximo de sobriedade e bom senso. Nessa nossa ligação simbiótica com o SER Terra podemos recuperar uma condição de ação disciplinada e focada, um estilo de vida que nos coloca vibracionalmente além do alcance destes seres que escravizam os humanos. E uma vez tendo alcançado esta primeira liberdade, teremos condição de seguir no Caminho e trabalhar pela segunda liberdade, a liberdade da condição de célula da Terra, que tem a consciência como empréstimo, que um dia vai ser tomado de volta. 


O segredo de tudo está na energia vital, que temos junto com a consciência. A consciência precisa ser devolvida, a energia vital não. E todo o treino de certas escolas visa isso, "despertarmos" isto é tornar a energia vital consciente de si mesma. E este trabalho pode ser auxiliado ou retardado pelo uso das plantas de poder. Tudo depende da forma que fazemos esse uso. 


Um último adendo. 


As mulheres raramente precisam de plantas de poder. Elas já tem um órgão que faz o papel que as plantas de poder tem para os homens. O útero na mulher é um órgão mágico por excelência. O assunto é amplo, mas creio que alguns pontos fundamentais foram expressos.

Nuvem que Passa

Data: Seg Mai 29, 2000 8:15 pm

Assunto: Re: [ventania] Runipan (Ayahuasca)



Notas


¹ Runipan significa homem forte. Ayahuasca, em Quéchua, quer dizer “cipó dos espíritos, vinho das almas Existem mais de 40 nomes diferentes para esta planta de poder, na verdade a combinação de duas ou mais plantas. Dentre eles temos: Natema, Yagé, Nepe, Ayahuasca, Santo Daime, Vegetal, Dapa, Pinde, Runipan, Bejuco Bravo; Bejuco de Oro; Caapi (Tupi, Brazil); Mado, Mado Bidada e Rami-Wetsem (Culina); Nucnu Huasca e Shimbaya Huasca (Quechua); Kamalampi (Piro); Punga Huasca; Rambi e Shuri (Sharanahua); Ayahuasca Amarillo; Ayawasca; Nishi e Oni (Shipibo); Ayahuasca Negro; Ayahuasca Blanco; Ayahuasca Trueno, Cielo Ayahuasca; Népe; Xono; Datém; Kamarampi; Pindé (Cayapa); Natema (Jivaro); Iona; Mii; Nixi; Pae; Ka-Hee’ (Makuna); Mi-Hi (Kubeo); Kuma-Basere; Wai-Bu-Ku-Kihoa-Ma; Wenan-Duri-Guda-Hubea-Ma; Yaiya-Suava-Kahi-Ma; Wai-Buhua-Guda-Hebea-Ma; Myoki-Buku-Guda-Hubea-Ma (Barasana); Ka-Hee-Riama; Mene’-Kají-Ma; Yaiya-Suána-Kahi-Ma; Kahí-Vaibucuru-Rijoma; Kaju’uri-Kahi-Ma; Mene’-Kají-Ma; Kahí-Somoma’ (Tucano); Tsiputsueni, Tsipu-Wetseni; Tsipu-Makuni; Amarrón Huasca, Inde Huasca (Ingano); Oó-Fa; Yahé (Kofan); Bi’-ã-Yahé; Sia-Sewi-Yahé; Sese-Yahé; Weki-Yajé; Yai-Yajé; Nea-Yajé; Noro-Yajé; Sise-Yajé (Shushufindi Siona); Shillinto (Peru); Nepi (Colorado); Wai-Yajé; Yajé-Oco; Beji-Yajé; So’-Om-Wa-Wai-Yajé; Kwi-Ku-Yajé; Aso-Yajé; Wati-Yajé; Kido-Yajé; Weko-Yajé; Weki-Yajé; Usebo-Yajé; Yai-Yajé; Ga-Tokama-Yai-Yajé; Zi-Simi-Yajé; Hamo-Weko-Yajé (Sionas do Putomayo); Shuri-Fisopa; Shuri-Oshinipa; Shuri-Oshpa (Sharananahua).


² O jejum intermitente, por exemplo, pode ser usado como uma prática para aumento de energia, vitalidade e despertar. A base científica de tal prática decorre dos trabalhos do prêmio nobel de Medicina de 2016, o biólogo japonês Yoshinori Ohsumi. O próprio jejum é uma prática de vários povos nativos como preparação para o ritual com Runipan e envolve um conceito mais amplo do que não-comer, adentrando na esfera do pensar e do falar.


³ Ver o capítulo 15 do livro O Lado Ativo do Infinito, de Carlos Castaneda, bem como a entrevista do xamã Credo Mutwa à David Icke:


https://www.youtube.com/watch?v=HLVQAHu6itQ&t=80s.


Secundidade - a arena da existência cotidiana, estamos continuamente esbarrando em fatos que nos são "externos", tropeçando em obstáculos, coisas reais, factivas que não cedem ao sabor de nossas fantasias. O simples fato de estarmos vivos, existindo, significa, a todo momento, que estamos reagindo em relação ao mundo. Existir é sentir a acção de fatos externos resistindo à nossa vontade. Existir é estar numa relação, tomar um lugar na infinita miríade das determinações do universo, resistir e reagir, ocupar um tempo e espaço particulares. Onde quer que haja um fenômeno, há uma qualidade, isto é, sua primeiridade. Mas a qualidade é apenas uma parte do fenômeno, visto que, para existir, a qualidade tem que estar encarnada numa matéria. O fato de existir (secundidade) está nessa corporificação material. Assim sendo, Secundidade é quando o sujeito lê com compreensão e profundidade de seu conteúdo. Como exemplo: "o homem comeu banana", e na cabeça do sujeito, ele compreende que o homem comeu a banana e possivelmente visualiza os dois elementos e a ação da frase - https://pt.wikipedia.org/wiki/Semiótica#Charles_Sanders_Peirce.


 A cristianização em torno de Runipan ou Ayahuasca pode ter o dedo, a mão e o pé de tais seres, que vem a beber de canudinho da energia gerada em tais trabalhos grupais e que são os “mentores” de muitos líderes de tais organizações religiosas cristianizadas em torno de Runipan.

Das verdades que só podem ser ditas pela ficção ou o terceiro cerne abstrato do Nagualismo

"Quanta verdade suporta, quanta verdade ousa um espírito? Cada vez mais tornou-se isto para mim a verdadeira medida de valor. Erro (— a crença no ideal —) não é cegueira, erro é covardia... Cada conquista, cada passo adiante no conhecimento é consequência da coragem, da dureza consigo, da limpeza consigo..." Nietzche em Ecce Homo, prólogo, 3.

Há algo de errado com o mundo ou há algo de errado comigo? As alternativas são excludentes, não dão no mesmo, como alguns poderiam pensar, pois o mundo que está aí faz parte de nós apenas parcialmente (no que tange ao condicionamento genético e sócio-cultural, mas algo em nós pode agir para mudar isto), aquilo que "fizeram de nós" é diferente daquilo que nós somos.

Certas verdades, devido as suas implicações existenciais, filosóficas, culturais, religiosas e sociais, só podem ser ditas pela ficção e através dela nós vislumbramos o real, porque o que chamam de realidade é um espetáculo, um show de horrores, não um sonho, mas um pesadelo do qual só se pode acordar, despertar, escapar, transcender. Os donos do mundo, aqueles que pretendem ser deuses, sabem que mais cedo ou mais tarde a casa vai cair, em cima deles.

Da série Westworld.



Quando alguém descobre uma verdade o primeiro impulso é querer revelar essa verdade para o outro.

Mas o outro, via de regra, não poderá percebê-la por diversos motivos.

Um desses motivos é a vaidade. Ninguém em geral aprecia ser sobrepujado intelectualmente ou de outra forma. Entra aí a vaidade.

Então temos em jogo duas vaidades, em verdade.

Quem descobriu uma verdade quer fazer brilhar a sua descoberta e quem não a percebeu não quer admitir que não a percebeu.

Surgem questionamentos, críticas, dúvidas.

E elas são legítimas até certo ponto.

Que ponto é esse?

O outro deve se abrir à descoberta, à aventura do conhecimento, deve permitir-se e ir além do mero questionamento, deve entrar no campo da prova e do experimento.

Eis a ciência.

Mas a ciência é feita de homens e homens são feitos de ego.

E esse é outro ponto, em realidade um nó a ser desatado.

Quem descobre uma verdade não pode ignorar a verdade do ego, do próprio e do alheio.

Então quem desperta para uma verdade deve estar também desperto para a verdade do próprio ego.

Porque, em geral, não é por compaixão que queremos revelar as nossas verdades, mas por vaidade.

Por vaidade e por medo, medo de ficarmos sós com as nossas verdades. Medo da solidão do próprio conhecimento.

Pois a verdade, em qualquer ramo do conhecimento sempre bastou a si mesma, mas o ego em sua infinita carência sempre busca o reconhecimento e essa busca é a base de seu sofrimento.

A verdade é terra sem dono, existe por si, pertence à todos, mas nunca a ninguém. Pode ter sida descoberta muitas vezes antes de nós e nunca compreendida.

Os descobridores vagam solitários no campo da verdade, exilados da ignorância dominante, mas é melhor tal exílio do que a integração na terra do senso comum.

Uma verdade descoberta precisa envolver-se na auto-descoberta.

Uma verdade externa precisa estar amparada numa verdade interna.

A luz da descoberta não pode ser ofuscada pelo brilho da vaidade, seja ela própria ou alheia.

Mas isso acaba por acontecer de tal maneira que o óbvio não é percebido e o caminho da conhecimento tornou-se um caminho de artimanhas.

A verdade teve que usar da fábula para que a sua nudez não incomodasse os homens.

DR

Uma fábula sobre a fábula (Lenda Oriental)

Allahur Akbar! Allahur Akbar! (Deus é grande! Deus é grande!).
Quando Deus criou a mulher criou também a fantasia. Um dia a Verdade resolveu visitar um grande palácio. E havia de ser o próprio palácio em que morava o sultão Harun Al-Raschid.

Envolta em lindas formas num véu claro e transparente, foi ela bater à porta do rico palácio em que vivia o glorioso senhor das terras mulçumanas. Ao ver aquela formosa mulher, quase nua, o chefe dos guardas perguntou-lhe:

- Quem és?

- Sou a Verdade! - respondeu ela, com voz firme. - Quero falar ao vosso amo e senhor, o sultão Harun Al-Raschid, o Cheique do Islã! O chefe dos guardas, zeloso da segurança do palácio, apressou-se em levar a nova ao grão-vizir:

- Senhor, - disse, inclinando-se humilde, - uma mulher desconhecida, quase nua, quer falar ao nosso soberano, o sultão Harun Al-Raschid, Príncipe dos Crentes.- Como se chama?

- Chama-se a Verdade!

- A Verdade! - exclamou o grão-vizir, subitamente assaltado de grande espanto. - A Verdade quer penetrar neste palácio! Não! Nunca! Que seria de mim, que seria de todos nós, se a Verdade aqui entrasse? A perdição, a desgraça nossa! Dize-lhe que uma mulher nua, despudorada, não entra aqui!

Voltou o chefe dos guardas com o recado do grão-vizir e disse à Verdade:

- Não podes entrar, minha filha. A tua nudez iria ofender o nosso Califa. Com esses ares impúdicos não poderás ir à presença do Príncipe dos Crentes, o nosso glorioso sultão Harun Al-Raschid. Volta, pois, pelos caminhos de Allah! Vendo que não conseguiria realizar o seu intento, ficou muito triste a Verdade, e afastou-se lentamente do grande palácio do magnânimo sultão Harun Al-Raschid, cujas portas se lhe fecharam à diáfana formosura!

Mas...

Allahur Akbar! Allahur Akbar!

Quando Deus criou a mulher, criou também a Obstinação. E a Verdade continuou a alimentar o propósito de visitar um grande palácio. E havia de ser o próprio palácio em que morava o sultão Harun Al-Raschid...

Cobriu as peregrinas formas de um couro grosseiro como os que usam os pastores e foi novamente bater à porta do suntuoso palácio em que vivia o glorioso senhor das terras mulçumanas. Ao ver aquela formosa mulher grosseiramente vestida com peles, o chefe dos guardas perguntou-lhe:

- Quem és?

- Sou a Acusação! - respondeu ela, em tom severo. - Quero falar ao vosso amo e senhor, o sultão Harun Al-Raschid, Comendador dos Crentes!
O chefe dos guardas, zeloso da segurança do palácio, correu a entender-se como o grão-vizir.

- Senhor - disse, inclinando-se humilde, - uma mulher desconhecida, o corpo envolto em grosseiras peles, deseja falar ao nosso soberano, o sultão Harun Al-Raschid.

- Como se chama?

- A Acusação!

- A Acusação? - repetiu o grão-vizir, aterrorizado. - A Acusação quer entrar nesse palácio? Não! Nunca! Que seria de mim, que seria de todos nós, se a Acusação aqui entrasse! A perdição, a desgraça nossa! Dize-lhe que não, que não pode entrar! Dize-lhe que uma mulher, sob as vestes grosseiras de um zagal, não pode falar ao Califa, nosso amo e senhor!

Voltou o chefe dos guardas com a proibição do grão-vizir e disse à Verdade.

- Não podes entrar, minha filha. Com essas vestes grosseiras, próprias de um beduíno rude e pobre, não poderás falar ao nosso amo e senhor, o sultão Harun Al-Raschid. Volta, pois, em paz, pelos caminhos de Allah!
Vendo quem não conseguiria realizar o seu intento, ficou ainda mais triste a Verdade e afastou-se vagarosamente do grande palácio do poderoso Harun Al-Raschid, cuja cúpula cintilava aos últimos clarões do sol poente.

Mas...

Allahur Akbar! Allahur Akbar! Quando Deus criou a mulher, criou também o Capricho.
E a Verdade entrou-se do vivo desejo de visitar um grande palácio. E havia de ser o próprio palácio em que morava o sultão Harun Al-Raschid.
Vestiu-se com riquíssimos trajos, cobriu-se com jóias e adornos, envolveu o rosto em um manto diáfano de seda e foi bater à porta do palácio em que vivia o glorioso senhor dos Árabes.

Ao ver aquela encantadora mulher, linda como a quarta lua do mês de Ramadã, o chefe dos guardas perguntou-lhe:

- Quem és?

- Sou a Fábula - respondeu ela, em tom meigo e mavioso. - Quero falar ao vosso amo e senhor, o generoso sultão Harun Al-Raschid, Emir dos Árabes! O chefe dos guardas, zeloso da segurança do palácio, correu, radiante, a falar com o grão-vizir:
- Senhor, - disse, inclinando-se, humilde - uma linda e encantadora mulher, vestida como uma princesa, solicita audiência de nosso amo e senhor, o sultão Harun Al-Raschid, Emir dos Crentes.

- Como se chama?

- Chama-se a Fábula!

- A Fábula! - exclamou o grão-vizir, cheio de alegria. - A Fábula quer entrar neste palácio! Allah seja louvado! Que entre! Benvinda seja a encantadora Fábula: Cem formosas escravas irão recebê-la com flores e perfumes! Quero que a Fábula tenha, neste palácio, o acolhimento digno de uma verdadeira rainha!
E abertas de par em par as portas do grande palácio de Bagdá, a formosa peregrina entrou.

E foi assim, sob o aspecto de Fábula, que a Verdade conseguiu aparecer ao poderoso califa de Bagdá, o sultão Harun Al-Raschid, Vigário de Allah e senhor do grande império mulçumano!

O 3º cerne abstrato - O Poder do Silêncio

— Vamos conversar agora sobre o terceiro cerne abstrato — disse Don Juan. — É chamado as artimanhas do abstrato, ou espreitar a si mesmo, ou limpar o elo.

Fiquei surpreso diante da variedade de nomes, mas nada comentei. Esperei que continuasse sua explicação.

— E outra vez, como com o primeiro e segundo cernes, esta poderia ser uma história em si mesma. A história conta que depois de bater à porta daquele homem sobre o qual estivemos falando e não tendo obtido sucesso com ele, o espírito usou o único meio disponível:

As artimanhas.

Afinal, o espírito havia resolvido impasses prévios através de artimanhas. Era óbvio que, se pretendia causar um impacto nesse homem, teria de seduzi-lo. Portanto, o espírito começou a instruir o homem sobre os mistérios da feitiçaria. E o aprendizado de feitiçaria tornou-se o que é: um caminho de artifícios e subterfúgios.

“De acordo com a história, o espírito seduziu o homem, fazendo-o mudar para a frente ou para trás entre níveis de consciência a fim de mostrar-lhe como economizar a energia necessária para reforçar seu elo de conexão.

Don Juan contou-me que, se aplicássemos sua história a um ambiente moderno, teríamos o caso do nagual, conduto vivo do espírito, repetindo a estrutura deste cerne abstrato e recorrendo a artifícios e subterfúgios para poder ensinar.

domingo, 17 de dezembro de 2023

Ex-Almirante da marinha dos EUA revela existência de inteligências não humanas


Ex-Almirante da marinha dos EUA e ex-chefe da NOAA (a NASA do clima), Tim Gallaudet, fala para o programa News Nation, o mesmo no qual apareceu o denunciante David Grusch, sobre a existência de inteligências não-humanas e sobre a existência de tecnologia não-humana em posse dos militares. 

Ele justifica o segredo em torno do assunto para que não seja revelada a outras nações a tecnologia que os EUA tem em seu poder baseado em engenharia reversa de naves não humanas capturadas pelos militares estadunidenses.

A questão é que algumas dessas tecnologias podem trazer benefícios para toda a humanidade, nos libertando dos combustíveis fósseis e poluentes, divulgá-las é, portanto, do interesse de todos e do planeta.

Outra questão é que o secretismo em torno do tema pode ser uma maneira de encobrir possíveis crimes de agentes do governo estadunidense envolvendo acordos inescrupulosos entre militares e  visitantes não-humanos.

Um governo que durante décadas negou o fenômeno ovni, agora chamado uap, não é credível para conduzir um processo transparente e de desacobertamento sobre o tema. Pelo menos desde  John Kennedy que vem se falando em revelação sobre tais temas e de lá para cá tivemos assassinatos, mentiras e conspirações envolvendo o tema. Um verdadeiro Arquivo X da realidade. Mas é preciso desconfiar dessa liberação controlada de informações - limited hangout - pois agentes do governo dos EUA podem estar apenas mostrando a ponta do iceberg, além do mais podem estar usando tal tema como manobra distracionista, pois o governo estadunidense possui graves problemas no campo político (dois candidatos à presidência na mira da Justiça), econômico ( dívida interna insustentável) e  social (aumento exponencial da miséria).

O processo de revelação sobre a presença alienígena em nosso planeta e a existência de tecnologia avançada de origem extraterrestre para ter sucesso precisa ser gradual, pois será necessária uma reeducação da humanidade frente a quebra de paradigmas que irá ocorrer e conduzida por forças outras que não envolvam governos corruptos.

Ex-almirante da Marinha dos EUA afirma que descoberta na costa da Califórnia ‘poderia ser uma base subaquática de OVNIs’

Por Wellington Silva - 23/10/2023 - 19:20

O mesmo almirante já afirmou que uma recente descoberta no fundo do oceano pode ser a entrada para uma base secreta de OVNIs subaquáticos.

O contra-almirante Tim Gallaudet foi um dos maiores especialistas em oceanografia da Marinha durante sua carreira.

Ele agora acredita que há uma “falta de curiosidade científica” quando se trata de estudar os numerosos relatos de objetos voadores não identificados aparentemente mergulhando no mar, como detalhado pelo site Daily Star.

Tim pediu a seu amigo, o famoso explorador submarino Victor Vescovo, que examinasse o fundo do mar após dezenas de avistamentos de vários objetos na área – incluindo o famoso encontro com Nimitz.

“A anomalia parece uma cunha retirada de uma coisa chamada colina. É basicamente uma crista subaquática – e uma cunha dela foi totalmente escavada e deslocada horizontalmente por dois quilômetros.

“Eu só quero encontrar uma explicação para isso, mas isso leva a especular. Isso é evidência de uma interação submarina de UAP com o fundo do mar? Ou até mesmo um local para infraestrutura submarina para onde essas coisas vão?”, detalhou.

Ele ainda não planeja revelar a localização desta possível " base de OVNIs " e acrescentou: “Estou mantendo as coordenadas próximas porque fui abordado por um produtor da Netflix e ele pode estar financiando uma expedição para mergulhar nele.”

Ainda de acordo com as informações, Victor e Tim estão agora planejando uma missão mais detalhada para explorar esse recurso misterioso e tentar desvendar seus segredos. 

Meditação: ecologia do espírito



Saúde é o silêncio dos órgãos.

Iluminação é o silêncio da mente.

A saúde do espírito é a iluminação, o êxtase.

Meditação é um estado da mente.

Ou da não-mente.

Concentração é a técnica para alcançá-lo.

Postura é a forma física para atingi-lo.

Concentração e postura são as duas faces, mental e física, da moeda meditativa.

Meditação é clareza, iluminação, êxtase, silêncio.

Definir meditação não é meditação.

Paz sem limites, êxtase incomensurável, terror místico do eu.

Palavras.

Meditar vai além das palavras. A voz do silêncio. A flor de Kashyapa.

O escrito não pode ser meditação, é no máximo uma definição sobre, uma tentativa intelectual de ampliar limites conceituais, aproximando-se sem nunca chegar ao real. O dedo apontando para a Lua.

A postura firme do lótus, a clareza tranqüila do lago são metáforas naturais da meditação.

Sentar em lótus, contemplar o lago quase nunca tranqüilo da mente, observar os pensamentos ondulantes, estar ciente do fluxo da respiração: eis uma técnica para o kensho.

Orar não é meditar. Entoar mantrans não é meditar. Visualizar mandalas não é meditar. Resolver koans também não.

Essas são técnicas, ferramentas de concentração.

Meditar é um estado onde se processa o fim do diálogo interno.

Como eu posso conversar incessantemente comigo mesmo?

Ao conversar comigo mesmo não sou um, sou muitos.

Ao conversar comigo mesmo em voz alta dirão: - Louco!

Ao conversar comigo mesmo mentalmente encubro a loucura.

A loucura é uma doença da mente.

A maioria de nós padece dessa doença e por isso não a percebemos como tal. Tornou-se lugar comum. Normal. Assim o doente considera-se são. Os valores se invertem. Não nos tocamos dessa inversão, eventualmente? São acessos de cura, lampejos de saúde, insights da alma que ainda resiste.

Estamos a tanto tempo doentes que nos esquecemos de nossa condição de natural saúde.

O eu, eu e mais eu é a doença da mente.

Meditação é a cura.

Gaia Ciência. Nietzche nos fala da recuperação da saúde e Buda aponta para a Terra como sua testemunha. Gaia Ciência.

Curar-se é nos tornarmos aquilo que somos: Budas. Humanos. Condutos do Espírito.

Quem em mim conversa, discute, pensa comigo?

Se assim é como posso estar em paz?

Meditar é transcender esse pensar de eu, eu e mais eu.

Então me torno um:

Concentração.

Então me torno nenhum:

Meditação.

Nesse vazio há plenitude.

Nisso consiste o caminho.

Quem conhecendo a meta buscará algo fora dela?

Nossa natureza, nossa essência é essa mesma iluminação.

Estamos distantes de nós mesmos. Sem paz, desconhecendo a nós mesmos.

Se não temos paz em nossa mente como vamos ter paz em nosso mundo?

O exterior reflete o interior.

E apesar de todas as nossas palavras, de toda a nossa cultura, ainda não sabemos a resposta:

Quem sou eu?

Meditação é a resposta não discursiva a essa questão, é a revelação de nossa natureza.

Nossa natureza não é diversa da Natureza. Somos parte daquilo que acreditamos ilusoriamente ser externo a nós mesmos. Vencer essa ilusão dual é um passo no caminho da meditação.

O caminho da meditação, então, pode ser definido como uma ecologia do espírito, pois restabelecemos o equilíbrio natural com nós mesmos.

Assim, ao descobrirmos quem somos nós entenderemos, de fato, o seguinte koan, variante zen do axioma gnóstico.

Um discípulo perguntou ao seu mestre Zen:

"Como posso fazer com que as montanhas, os rios e a grande Terra me beneficiem?"

Respondeu o mestre:

"Vós deveis beneficiar as montanhas, os rios e a grande Terra."

Koan: A mente Zen é a nutrição da Terra. A mente da Terra é a nossa nutrição.

D.R.
05/02/08

Sinal de Fumaça

A Chave Secreta para o Empoderamento

Saúdo a Fonte Eterna em mim e em tudo. Estou atuando a partir do centro da verdade. Que todos os impedimentos sejam removidos. Imagem gerada...