quinta-feira, 6 de fevereiro de 2025

Sobre os escritos do xamã Nuvem que Passa

Saudações aos quatro ventos!

Ao ler estes textos, textos que estão impregnados do intento dos xamãs do Antigo México, que estão prenhes do poder da consciência intensificada, recomenda-se uma atitude condizente, que opere na mesma frequência vibratória, que faça ressoar a consciência dentro do estado pelo qual tais textos foram concebidos. Tais textos foram concebidos como um ato de poder, dessa maneira a leitura também deve ser um ato de poder, um ato de sintonia que o intento ancestral, pois assim poderemos compreender esses textos verdadeiramente, assim poderemos nos deixar envolver pela magia que deles faz parte. 

Não podemos ler tais textos como se fossem textos comuns, não devemos lê-los em nosso estado ordinário de consciência. Devemos, para verdadeiramente ler e compreender tais textos, mover o nosso ponto de aglutinação, o próprio ato de ler deve ser um ato de poder, de consciência e de presença. 

O vento mágico que gerou tais textos foi uma verdadeira Ventania, varrendo de nossas mentes e corpos a mediocridade para instaurar o inusitado, o mágico, o milagroso. Tal vento continua a percorrer mundos, tal vento continua mesmo aqui e agora, basta abrir-se para ele através da atitude adequada, impecável. Tal vento é como Nuvem que Passa, tal vento é o próprio Espírito em suas infinitas e misteriosas manifestações. “E o vento assopra onde quer, e ouves a sua voz, mas não sabes de onde vem, nem para onde vai; assim é todo aquele que é nascido do Espírito” - João 3:8. 

Ou como diria o poeta Kiko Zambianchi: 

“Meu caminho é cada manhã
Não procure saber onde vou
Meu destino não é de ninguém
Eu não deixo os meus passos no chão
Se você não entende, não vê
Se não me vê, não entende
Não procure saber onde estou 
Se o meu jeito te surpreende”

O Espírito não tem tempo ou lugar, está no tempo e além dele, está aqui e logo já não está mais, depende de você, de seu intento, pois o espírito é o próprio intento, indefinível, inescrutável, misterioso e tão real para aqueles que se tornaram seres humanos reais devido ao trabalho sobre si mesmo.

O espírito se manifesta mesmo aqui, em bytes e bits, numa lista, no mundo virtual, permeia tudo e nada é. Apresenta-se como Nuvem, como Júlio, como Nagual, é simples e, ao mesmo tempo, original. 

Podemos acessá-lo aqui e agora através do rito, rito que atualiza o mito, rito do cocar, rito que usávamos na antiga lista Ventania, na qual tais escritos se apresentaram e que surgiu no vento outonal de abril de 2000, rito através do qual podemos navegar nossas consciências até a caverna de cristal de nossos ancestrais xamânicos e, ali, nos deixar envolver pela magia do cocar que escolheremos ou que nos escolherá para, então, podermos ler esses textos, frutos dessa fogueira virtual, sorvendo as vibrações que nos levarão para oitavas mais altas de compreensão e realização. De forma relaxada, focada, conscientes da respiração e com a mente silenciosa, usando a nossa imaginação consciente, nos desgrudamos dos afazeres diários e entramos numa outra sintonia através do rito, assim, poderemos ler tais textos no “mindset” adequado.

Na época recebíamos cada texto como se fosse um presente ou uma novidade inesperada ou, ainda, como na primeira cena de Neo em Matrix: toc, toc, toc, uma chamada para o despertar. Siga o coelho branco! Sim, tínhamos ânsias de despertar, sonhávamos de alguma forma com a possibilidade de nos deparar com o nagual, com o desconhecido, com o além da realidade ordinária. A pergunta nos consumia, pois sabíamos, sentíamos que havia alguma coisa de profundamente errada com o mundo: o que é a Matrix?

Época incrível aquela (tal como esta na qual alcançamos um ponto crítico, uma nova crise dos mísseis se desenha, agora no Oriente Médio, e o fantasma da guerra nuclear se levanta ao mesmo tempo que revelações extraordinárias ocorrem), as listas de discussão na internet fervilhavam, os chats do UOL se agitavam, a internet se revelava cada vez mais poderosa para através de sua teia virtual entrecruzar destinos fazendo o virtual transbordar para o real. O bug do milênio "bugou" e continuamos a operar em bits e  bytes cada vez mais intensamente na teia virtual da internet.

Na época usava um nick, Lanceloth do Lago, me interessava por Magia, Bruxaria, Ocultismo, ritos diversos, já tinha passado pela Umbanda e pela Gnose, caminhos que trilhava desde a adolescência, sempre ansiando por saber mais, conhecer mais, e naquela época, virada do milênio, estava muito em voga os temas do Sagrado Feminino, do culto à Deusa, algo bem no espírito dos livros “As Brumas de Avalon” ou do filme de John Boorman, Excalibur. Havia uma explosão cultural. Nos cinemas tínhamos filmes como Matrix (1999) e seus correlatos como 13º andar (1999), Equilibrium (2002) e Cidade das Sombras (Dark City - 1998). O Senhor dos Anéis (2001) estava para ser lançado nos cinemas. Parecia que do cinema vinha uma onda reveladora sobre o estado prisional em que vivemos neste mundo. O contexto cultural expressava um desejo de revelação, de arcano 20 do Tarô. E o mundo se molda (moldou) de acordo com o nosso intento. Logo estava participando de uma série de listas de Magia, Bruxaria, Wicca, Paganismo e conhecendo gente. Não demorou para irmos além das listas de discussão e nos encontrarmos na real, fazendo trilhas pela floresta da Tijuca, formando grupos de estudo e interagindo a partir das afinidades criadas nos mais diferentes níveis.

Como o tema Paganismo era muito vasto, nosso grupo de estudos resolveu dar um tema específico para  cada um apresentar e eu fui sorteado com o tema Xamanismo. Na adolescência tinha lido os livros do novo nagual Carlos Castaneda, tinha ficado fascinado com os temas de “O Presente da Águia” e de “O Segundo Círculo de Poder” e, apesar de não ter entendido quase nada, sabia num nível profundo que aquilo era real e que tinha a ver comigo. O tempo passou e a maldição da humanidade recaiu sobre mim: o esquecimento. 

Mas então, graças ao “acaso”, eis que me preparo para dar uma palestra no grupo Paganismo sobre Xamanismo Guerreiro. Não queria dar uma palestra meramente teórica, então, me dediquei a aprender os chamados Passes Mágicos ou Tensegridade e usei para tal o penúltimo livro do novo nagual. Fui envolvido pela energia daqueles movimentos e me tornei um praticante tenaz, obsessivo mesmo, a energia gerada pelos Passes Mágicos era, para mim, “viciante”, especialmente, devido ao estado de bem-estar e de percepção clara e aguçada que ela proporciona,  o que me fez querer aprender todos os passes mágicos possíveis e me juntei a dois praticantes, Carlitos e Laerte. Praticávamos em todos os locais possíveis: praças, parques, em casa, em estúdios mas tínhamos um lugar preferido para a prática: o Parque Lage, no Jardim Botânico, zona sul do Rio de Janeiro, no costado da montanha que dava no Cristo Redentor, cartão postal da cidade maravilhosa.

A prática dos Passes Mágicos transformou meu corpo e mente, tornei-me mais centrado, eficiente no viver, mais sintonizado com a existência e os problemas pareciam não importar tanto, o que me fez lidar com eles melhor, nitidamente percebia meu poder pessoal aumentado, minha percepção intensificada, cheguei a aprender no sonhar um dos passes mágicos que foi apresentado depois no primeiro seminário de Tensegridade feito no Brasil: “rastreando a energia”. Quantos tesouros de conhecimento não temos guardados dentro de nós, em nosso lado esquerdo, no nagual? Conheci outros praticantes do Caminho do Guerreiro. O grupo de praticantes de Tensegridade cresceu e sentíamos o poder do trabalho em grupo, com todos os desafios próprios das relações humanas.

Ao mesmo tempo nos deparamos com o surgimento nas listas de discussão da internet com a avassaladora profusão de textos de alguém que se identificava como Nuvem que Passa. Estranhamente uma contradição se estabeleceu em mim, uma espécie de dualismo, algo em mim apreciava demais os textos do Nuvem, mas outra parte questionava se tudo não passava de uma tremenda viagem na “Hellmann’s Airlines”, havia, como ainda há, muita “esquisoterice” no assim chamado Xamanismo Urbano, afinal, estávamos diante de alguém que poderia ser simplesmente o integrante de uma outra linhagem xamânica diversa da linhagem de Carlos Castaneda, ou seja, uma outra linhagem vinha à público surfando nas ondas do conhecimento aberto à humanidade pelo novo nagual. 

A explosão de energia gerada pela exposição do Nagualismo estava sendo reforçada e incrementada por novos atores que usavam a internet como forma de propagar tal saber e gerar uma massa crítica de praticantes que pudessem sustentar um novo sonho, a revolução da percepção ou o “sonho dos mil gatos”. Correndo em paralelo, os agentes da Matrix também atuavam numa forte campanha de difamação e contra-informação com relação ao novo nagual e seu grupo, uma reação previsível do sistema contra um conhecimento tão revolucionário que expunha não só a natureza predadora da realidade, mas que revelava que nós humanos, somos repasto de inteligências alienígenas ancestrais que criaram nosso sistema religioso, nossa cultura e modo de vida escravo.

Agora uma coisa é ter contato com qualquer obra ligada ao Nagualismo e ficar na posição cômoda dos amantes de desconhecido, meros diletantes do saber, outra coisa é ter contato com o conhecimento vivo, expresso, encarnado, manifestado na energia do Nagual que vai necessariamente balançar as estruturas carcomidas de nosso ego e nos fazer ir contra o sistema de crenças estabelecido. Pílula vermelha (ser) ou pílula azul (não-ser), eis a questão.

Distinguir aquilo que é real do falso era e é o desafio, desafio que só se resolve pela prática e pelo caminhar com o coração. E o caminho tinha coração, corpo, voz e presença. Tinha sabedoria, nós o chamávamos de forma brincalhona, parafraseando o nagual Julian que se referia ao seu mestre Elias como nagual tonelagem, de xamã gigabyte, devidos aos longos textos… E tem, mas só pode ser percebido, de fato, quando entendemos que “há uma diferença entre conhecer o caminho e percorrê-lo”. Temos aqui o nosso centímetro cúbico de oportunidade, nos cabe aproveitá-lo. Intentamos que a apresentação desses textos escritos como um verdadeiro ato de poder pelo nosso querido amigo Nuvem que Passa possa retribuir aquele aceno que foi feito pelo mítico pássaro da Liberdade, através da lista Ventania, na qual o vento do Espírito se fez soprar, para além dessa realidade ordinária, em vastas realidades.

Desde as Terras Altas da Mantiqueira, onde a chuva e o sol compõem uma luz toda própria neste momento, e ao olhar pela janela, à tarde, vejo as cores de Bifrost, a ponte do Arco-Íris, A Kuria Matte.

26/10/2023

F.



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