domingo, 17 de dezembro de 2023

Meditação: ecologia do espírito



Saúde é o silêncio dos órgãos.

Iluminação é o silêncio da mente.

A saúde do espírito é a iluminação, o êxtase.

Meditação é um estado da mente.

Ou da não-mente.

Concentração é a técnica para alcançá-lo.

Postura é a forma física para atingi-lo.

Concentração e postura são as duas faces, mental e física, da moeda meditativa.

Meditação é clareza, iluminação, êxtase, silêncio.

Definir meditação não é meditação.

Paz sem limites, êxtase incomensurável, terror místico do eu.

Palavras.

Meditar vai além das palavras. A voz do silêncio. A flor de Kashyapa.

O escrito não pode ser meditação, é no máximo uma definição sobre, uma tentativa intelectual de ampliar limites conceituais, aproximando-se sem nunca chegar ao real. O dedo apontando para a Lua.

A postura firme do lótus, a clareza tranqüila do lago são metáforas naturais da meditação.

Sentar em lótus, contemplar o lago quase nunca tranqüilo da mente, observar os pensamentos ondulantes, estar ciente do fluxo da respiração: eis uma técnica para o kensho.

Orar não é meditar. Entoar mantrans não é meditar. Visualizar mandalas não é meditar. Resolver koans também não.

Essas são técnicas, ferramentas de concentração.

Meditar é um estado onde se processa o fim do diálogo interno.

Como eu posso conversar incessantemente comigo mesmo?

Ao conversar comigo mesmo não sou um, sou muitos.

Ao conversar comigo mesmo em voz alta dirão: - Louco!

Ao conversar comigo mesmo mentalmente encubro a loucura.

A loucura é uma doença da mente.

A maioria de nós padece dessa doença e por isso não a percebemos como tal. Tornou-se lugar comum. Normal. Assim o doente considera-se são. Os valores se invertem. Não nos tocamos dessa inversão, eventualmente? São acessos de cura, lampejos de saúde, insights da alma que ainda resiste.

Estamos a tanto tempo doentes que nos esquecemos de nossa condição de natural saúde.

O eu, eu e mais eu é a doença da mente.

Meditação é a cura.

Gaia Ciência. Nietzche nos fala da recuperação da saúde e Buda aponta para a Terra como sua testemunha. Gaia Ciência.

Curar-se é nos tornarmos aquilo que somos: Budas. Humanos. Condutos do Espírito.

Quem em mim conversa, discute, pensa comigo?

Se assim é como posso estar em paz?

Meditar é transcender esse pensar de eu, eu e mais eu.

Então me torno um:

Concentração.

Então me torno nenhum:

Meditação.

Nesse vazio há plenitude.

Nisso consiste o caminho.

Quem conhecendo a meta buscará algo fora dela?

Nossa natureza, nossa essência é essa mesma iluminação.

Estamos distantes de nós mesmos. Sem paz, desconhecendo a nós mesmos.

Se não temos paz em nossa mente como vamos ter paz em nosso mundo?

O exterior reflete o interior.

E apesar de todas as nossas palavras, de toda a nossa cultura, ainda não sabemos a resposta:

Quem sou eu?

Meditação é a resposta não discursiva a essa questão, é a revelação de nossa natureza.

Nossa natureza não é diversa da Natureza. Somos parte daquilo que acreditamos ilusoriamente ser externo a nós mesmos. Vencer essa ilusão dual é um passo no caminho da meditação.

O caminho da meditação, então, pode ser definido como uma ecologia do espírito, pois restabelecemos o equilíbrio natural com nós mesmos.

Assim, ao descobrirmos quem somos nós entenderemos, de fato, o seguinte koan, variante zen do axioma gnóstico.

Um discípulo perguntou ao seu mestre Zen:

"Como posso fazer com que as montanhas, os rios e a grande Terra me beneficiem?"

Respondeu o mestre:

"Vós deveis beneficiar as montanhas, os rios e a grande Terra."

Koan: A mente Zen é a nutrição da Terra. A mente da Terra é a nossa nutrição.

D.R.
05/02/08

sábado, 16 de dezembro de 2023

O Primeiro Xamã, segundo a tradição yanomami


A Queda do Céu, pelo xamã yanomami David Kopenawa.

Por isso Omama finalmente criou os xapiri, para podermos nos vingar das doenças e nos proteger da morte a que nos sujeitou seu irmão mau. Então ele criou os espíritos da floresta urihinari, os espíritos das águas mãu unari e os espíritos animais yarori. Depois, escondeu-os, até que seu filho se tornasse xamã, no topo das montanhas e nas profundezas do mato. Antes, eu achava que os xapiri tinham vindo a existir por si sós, mas estava enganado. Mais tarde, quando pude vê-los e ouvir seus cantos, realmente entendi quem eram.

O pai de minha esposa conta também que foi a esposa de Omama, a mulher das águas, quem primeiro pediu que os xapiri fossem trazidos à existência.

Somos seus filhos e nossos antepassados tornaram-se numerosos a partir dela.

Por isso, depois de ter procriado, perguntou ao marido: “O que faremos para curar nossos filhos se ficarem doentes?”. Era essa a sua preocupação. O pensamento do marido, Omama, continuava no esquecimento. Por mais que seu espírito buscasse, ele se perguntava em vão o que poderia ainda criar. A mulher das águas lhe disse então: “Pare de ficar aí pensando, sem saber o que fazer.

Crie os xapiri, para curarem nossos filhos!”. Omama concordou: “Awei! São palavras sensatas. Os espíritos irão afugentar os seres maléficos. Arrancarão deles a imagem dos doentes e as trarão de volta para seus corpos!”. Foi assim que ele fez aparecer os xapiri, tão numerosos e poderosos quanto os conhecemos hoje.

Mais tarde, o filho de Omama tornou-se um rapaz e seu pai quis que ele aprendesse a fazer dançar os xapiri para poder tratar os seus. Buscou uma árvore yãkoana hi na floresta e disse ao filho: “Com esta árvore, você irá preparar o pó de yãkoana! Misture com as folhas cheirosas maxara hana e as cascas das árvores ama hi e amath a hi e depois beba! A força da yãkoana revela a voz dos xapiri. Ao bebê-la, você ouvirá a algazarra deles e será sua vez de virar espírito!”.

Depois, soprou yãkoana nas narinas do filho com um tubo de palmeira horoma.  Omama então chamou os xapiri pela primeira vez e disse: “Agora, é sua vez de fazê-los descer. Se você se comportar bem e eles realmente o quiserem, virão a você para fazer sua dança de apresentação e ficarão ao seu lado. Você será o pai deles. Assim, quando seus filhos adoecerem, você seguirá o caminho dos seres maléficos que roubaram suas imagens para combatê-los e trazê-las de volta! Você também fará descer o espírito japim ayokora para regurgitar os objetos daninhos que você terá arrancado de dentro dos doentes. Assim você poderá realmente curar os humanos!”. Foi desse modo que Omama revelou a seu filho — o primeiro xamã — o uso da yãkoana e lhe ensinou a ver os espíritos que acabara de trazer à existência. Nossos maiores continuaram a seguir o rastro de suas palavras até hoje. Por isso, continuamos a beber yãkoana para fazer os xapiri dançar. Não fazemos isso à toa. Fazemos porque somos habitantes da floresta, filhos e genros de Omama.

O filho de Omama escutou atentamente as palavras do pai e concentrou seu pensamento nos xapiri. Entrou em estado de fantasma e tornou-se outro. Então pôde contemplar a beleza da dança de apresentação dos espíritos. Tornou-se xamã depressa, porque soube demonstrar amizade a todos. Os xapiri já tinham o olhar fixado nele desde que era bem pequeno e seu pai tinha falado a respeito deles muitas vezes. Agora, tinha crescido e eles finalmente tinham vindo em grande número. Podia vê-los descer, resplandecentes de luz, e escutar seus cantos melodiosos. Então, exclamou: “Pai! Agora conheço os espíritos e eles se juntaram do meu lado! De agora em diante, os humanos vão poder se multiplicar e combater as doenças!”. Omama era o único a conhecer os xapiri e os deu ao filho porque, se morresse sem ter ensinado suas palavras, jamais teria havido xamãs na floresta. Não queria que os humanos ficassem sem nada e causassem dó. Por isso, fez de seu filho o primeiro xamã. Deixou-lhe o caminho dos xapiri antes de desaparecer. Foi o que ele quis.

Disse a ele estas palavras: “Com estes espíritos, você protegerá os humanos e seus filhos, por mais numerosos que sejam. Não deixe que os seres maléficos e as onças venham devorá-los. Impeça as cobras e escorpiões de picá-los. Afaste deles as fumaças de epidemia xawara. Proteja também a floresta. Não deixe que se transforme em caos. Impeça as águas dos rios de afundá-la e a chuva de inundá-la sem trégua. Afaste o tempo encoberto e a escuridão. Segure o céu, para que não desabe. Não deixe os raios caírem na terra e acalme a gritaria dos trovões! Impeça o ser tatu-canastra Wakari de cortar as raízes das árvores e o ser do vendaval Yariporari de vir flechá-las e derrubá-las!”. Essas foram as palavras que Omama deu ao filho. Por isso, até hoje os xamãs continuam defendendo os seus e a floresta. Mas também protegem os brancos, apesar de serem outra gente, e todas as terras, até as mais imensas e distantes.

O filho de Omama primeiro tomou yãkoana com o pai. Depois continuou a bebê-la sozinho, mais e mais, para chamar cada vez mais espíritos e poder conhecer todos os seus cantos. Era deslumbrante quando fazia dançar suas imagens. Era um rapaz muito bonito, tinha a pele coberta de urucum bem vermelho e desenhos de um negro brilhante. Suas braçadeiras de crista de mutum prendiam muitas caudais de arara-vermelha, pingentes de rabo de tucano e buquês de penas paixi.

Tinha os olhos escuros, e os cabelos cobertos de penugem hõromae, de um branco resplandecente. Tinha também uma pele de rabo de macaco cuxiú-negro em torno da cabeça. Dançava lentamente, com as costas bem curvadas para trás. Ver a beleza dos xapiri o enchia de felicidade. Chamava-os e os fazia descer sem parar. Trazia-os no pensamento, de verdade. Era assim porque tinha sido gerado pelo esperma de Omama, que é o criador dos xapiri.

Acho que o filho de Omama, hoje, está morto. Sua imagem, porém, ainda existe, muito longe daqui, onde os rios deságuam, do lado do nascer do sol, ou talvez no céu. Eu a vi no tempo do sonho, junto com a de nossa floresta, aos prantos. Esta, doente e transformada em fantasma pelas fumaças de epidemia, pedia aos xapiri para curá-la e acabar com o sofrimento causado pelo furor dos brancos. Implorava-lhes que limpassem as árvores e tornassem suas folhas brilhantes de novo; que fizessem crescer suas flores e lhe devolvessem a fertilidade.

Dizia a eles: “Vocês são meus, devem vingar-me!”. Vejo tudo isso em sonho porque, tornado fantasma com a yãkoana durante o dia, o meu interior se transformou. Senão, eu não poderia falar assim.

O filho de Omama foi o primeiro a virar espírito, antes de qualquer outro. Foi o primeiro a estudar e a ver as coisas com a yãkoana. Depois dele, muitos de nossos ancestrais se tornaram xamãs. Ele lhes mostrou como fazer dançar os espíritos. Disse a eles, como Omama lhe havia ensinado: “Quando os seres maléficos da floresta capturarem a imagem de seus filhos para devorá-la, os xapiri irão recuperá-la e vingá-los!”. Foi seguindo essas palavras que os nossos maiores se puseram a beber pó de yãkoana e a admirar o esplendor dos espíritos. É isso que fazemos até hoje. Por isso é tão comum ver os xamãs trabalhando em nossas casas. Sem eles, seriam vazias e silenciosas. Assim é. Essas palavras são antigas mas nunca vão desaparecer, porque são muito bonitas e o valor delas é muito alto.

sexta-feira, 15 de dezembro de 2023

Uma releitura do mito.

A gente foi feito de um modo tal que o proibido é sempre o fruto mais desejável. Isso é o que nos faz humanos, isso que nos fez ter o conhecimento do bem e do mal e a ganhar a autonomia que nos conferiu autorresponsabilidade diante de qualquer tirano. 

A marca da desobediência é a marca da evolução de nossa consciência, pois sem ela seríamos apenas robôs, extensões de um poder autoritário. 

Parece que a situação atual, envolvendo a obrigatoriedade de fazer parte de um projeto experimental genético, que chamo de PEG, é uma reatualização do primeiro mito humano na tradição judaico-cristã, ali também éramos parte de um projeto experimental, cobaias de um laboratório chamado paraíso.

Os poderes constituídos de ontem e de hoje querem que não provemos do fruto proibido do conhecimento e querem nos impor a sua agenda a um alto custo, sobretudo, para a nossa liberdade.  Para eles somos ratos de seu laboratório.

No mito fundante de nossa cultura nós fomos expulsos do paraíso não por causa da desobediência, mas pelo fato de termos nos tornado como deuses, conhecedores da ciência. O fruto da ciência só pode ser colhido pela rebeldia, nunca pelo seguir as regras ou paradigmas impostos. 

Eles, os auto-intitulados deuses, nunca quiseram partilhar dos frutos da ciência e da antes sonhada, como agora, imortalidade, algo que se avizinha a medida que a genética avança.

"Então, disse o SENHOR Deus: Eis que o homem se tornou como um de NÓS, conhecedor do bem e do mal; assim, que não estenda a mão, e tome também da árvore da vida, e coma, e viva eternamente" - Gênesis 3,22.

A palavra criação não é a palavra que define a criação do universo, do macrocosmo, mas sim a palavra que define o surgimento do microcosmo que nós somos, e nesse sentido nós somos para eles aquilo que gado, galinhas, porcos e outras CRIAÇÕES de animais são para nós.

Que possamos recriar a nós mesmos.



Conversas com o Diabo


"O diabo tem as mais amplas perspectivas sobre Deus, por isso é que se mantém tão afastado dele. O diabo, ou seja, o mais velho amigo do conhecimento" - Nietzche em Além do Bem e do Mal.

O título deste breve texto também poderia ter sido: A pura maldade, mas fiquemos com o inicial sabendo que são intercambiáveis, afinal o Diabo está sempre negociando e conspirando. Ele é o santo padroeiro dos teóricos e práticos da conspiração ;-)))

Muitos acusam o ser humano de ser, em geral, um cretino. Há amplas evidências disto.

Mas cabe a pergunta:

Quem o projetou? Sim, quem?

Independente da resposta, que dá origem à teologia, à filosofia, à mitologia e à metafísica, uma outra pergunta, que é a mais pura maldade (ou verdade?) é esta:

Será que não estamos cumprindo a finalidade do designer, do projetista?

Será que a cretinice implantada não é parte do programa, do projeto homo sapiens?

Talvez sejamos, em termos classificatórios, melhor definidos como homo cretinus, uma experiência genética que deu certo. Ou seja, nossa suposta imperfeição ou cretinice não é uma anomalia, é parte do pacote.

Não, não estranhem, tentem pensar de uma maneira diferente, abram vossas mentes para a questão. Será que não somos um projeto perfeito em nossa cretinice? Será que não fomos feitos para sermos assim como somos: cretinos.

É esta maldosa questão que vos apresento. Ela resolve todos os problemas existenciais de uma só tacada, afinal, se ela é verdadeira somos assim por que somos assim. Ponto. Sem culpas, sem medos, sem justificativas, a própria religião expressão do programa, assim como a política, faces da mesma moeda.

Vejo o Diabo empunhar a navalha de Ockham e dizer: a solução mais simples é a correta.

Agora entendo por que Gurdjieff, mestre do século passado, dizia que seu objetivo maior era deixar de ser um idiota. Eis a verdadeira revolução.

Ah, a doce ilusão de se considerar o topo da cadeia alimentar é que faz o Diabo dizer com um sorriso maroto, à la Al Pacino:

Ah, a vaidade... é o meu pecado predileto.


O Universo como projeção, a hipótese da simulação e o 4° portão do sonhar


O universo é, na realidade, uma forma mental projetada pela mente de Deus¹.

Eis uma ideia presente em diferentes tradições espirituais.

Por exemplo, a tradição hermética, segundo o que nos ensina o Caibalion, através do primeiro princípio, o do mentalismo:

"O TODO é MENTE; o Universo é Mental. Este Princípio contém a verdade que Tudo é Mente. Explica que O TODO é ESPÍRITO, é INCOGNOSCÍVEL e INDEFINÍVEL em si mesmo, mas pode ser considerado como uma MENTE VIVENTE INFINITA e UNIVERSAL. Ensina também que todo o mundo fenomenal ou universo é simplesmente uma Criação Mental do TODO, sujeita às Leis das Coisas criadas, e que o universo, como um todo, em suas partes ou unidades, tem sua existência na mente do TODO, em cuja Mente vivemos, movemos e temos a nossa existência".

O sonho é uma projeção mental na tela da consciência. Dar-se conta do sonho é dar-se conta da projeção.

Ir além da projeção é dar-se conta do sonhador.

Mas se não nos damos conta de nós mesmos e da projeção então estamos adormecidos, somos o sonhado.

O que significa que estamos no sonho de alguém, mesmo que esse alguém seja incompreensível. 

Quem sou eu? Eu mesmo não me compreendo.

Ou somos o sonho de alguém que criou esse sonho e do qual somos o sonhado. 

Temos então a ideia de Matrix: um sonho programado que chamamos de realidade, mas que deveríamos chamar de sonho, se cremos na afirmação de que o Universo é uma forma mental projetada pela mente do Criador ou do Sonhador. 

O filme Matrix, de 1999, colocou assim a questão:

- Você já teve um sonho, Neo, que parecesse realidade? E se você fosse incapaz de acordar desse sonho? Como saberia a diferença entre o mundo dos sonhos e o mundo real?

Ora, se vivemos no sonho de alguém não temos autonomia própria, alimentaríamos apenas o sonho de alguém a ponto de tornar tal sonho uma "realidade". 

O termo realidade é muito exigente. Está no centro da discussão ontológica. O que é real? Para nós que estamos identificados com o sonho chamado realidade e nunca nos questionamos a respeito da natureza da realidade a questão parece não fazer sentido, mas para alguns o que não faz sentido é a chamada "realidade", daí surge a busca.

Ter autonomia própria é ter a capacidade de sonhar, de operar como sonhador, de termos sonhos próprios, nos quais agimos de forma consciente, e nos darmos conta de que temos que ir além do sonho do Criador. 

Isso significa que temos que nos tornarmos criadores, sonhadores, seres com autonomia existencial. 

Pois de outro modo sonhamos o sonho de outrem. No sonho da religião somos pecadores, no sonho do sistema econômico, consumidores. No sonho da política, meros eleitores, delegando poder a representantes que não nos representam. No sonho do Criador deste universo somos criaturas-ferramentas.

Podemos "hackear" o próprio Universo a partir de nossa mente?

Tal é possível, mas precisamos compreender a natureza desta realidade.

A natureza desse sonho no qual estamos inseridos muitas vezes tem características não de um sonho, mas de um pesadelo, em particular, devido ao aspecto predador do Universo, no qual um ser devora o outro para sobreviver, eis o sonho do Criador no qual estamos imersos. Isso é distópico, indigno, mas por causa da religião não questionamos isso ou assumimos a negação própria dos ateus que deixa ao acaso a própria criação.

E isso fala a respeito da própria natureza desse Criador, pois o Universo sonhado por Ele espelha a sua própria mente, que por sua vez influencia a mente de todos os que estão aqui mergulhados. Aqui temos uma visão gnóstica da criação e do criador, uma visão que revela a imperfeição da obra e de seu artista. Aqui o Criador é visto como o primeiro arconte, ele em si mesmo uma criação indevida, chamado de Yaldabaoth no evangelho apócrifo de João². Ora, tal evangelho foi por isso mesmo considerado apócrifo, pois revela a natureza problemática do criador, da criação e da doença adquirida por quem está inserido nessa criação. A equação do pecado original se inverte e revela que o pecado original não deriva do humano, mas está no primeiro arconte, o demiurgo-criador.

Daí nasce o Xamanismo Guerreiro e várias outras tradições, da necessidade imperiosa de superarmos o sonho do Criador para deixarmos de sermos parte do sonho-pesadelo de alguém para sonharmos um outro sonho, um sonho de liberdade total para além da tirania universal.

Por isso no Xamanismo Guerreiro tal entidade é simplesmente chamada de tirano³. Também é chamada de Águia, "o poder que governa o destino de todos os seres vivos". Águia é uma metáfora e como tal associa-se a ideia do predador supremo, de quem está topo da cadeia alimentar, pois a "Águia" se alimenta, devora, implacavelmente a consciência de todos os seres vivos. "A consciência é o seu alimento". Aí vemos que a essência deste criação é a predação. Há quem faça da predação um valor supremo, há outros que fazem da liberdade o valor máximo. Podemos aqui até questionar sobre o título do sexto livro do nagual Carlos Castaneda, afinal por que razão a "Águia" iria nos oferecer algum presente? Talvez buscasse apenas um petisco consciencial mais elaborado...

Por isso o termo deus não é absolutamente adequado dessa perspectiva, a perspectiva do XG. Para o XG o termo deus e seus significados subjacentes bem estabelecidos em nossa cultura são como uma cola, que fixa o ponto de aglutinação na posição usual, a posição da ovelha, a posição do pecador, a posição do crente, na posição em que tais palavras poderão soar como uma blasfêmia, como uma heresia ou algo satânico.

Sobre isso, com fina ironia, discorreu Nietzche em seu aforismo 129 do livro Além do Bem e do Mal, fazendo indireta alusão à primeira história da mitologia judaico-cristã, o mito da queda:

"O diabo tem as mais amplas perspectivas sobre Deus, por isso é que se mantém tão afastado dele. O diabo, ou seja, o mais velho amigo do conhecimento".

Qual o sonho que queremos sonhar para nós e que vai além das expectativas programadas pelo sonho corrente chamado de realidade?

Se o Universo é uma projeção mental podemos também dizer que vivemos numa simulação, o que aponta para a hipótese de simulação trabalhada por alguns cientistas.

No Arte do Sonhar, do nagual Carlos Castaneda, nós vemos a demonstração, via mestria do intento, do chamado desafiador da morte ao criar sonhos, realidades, universos nos quais os seres ali criados poderiam mesmo ter pensamentos. 

Se alguém a partir do humano é capaz de criar outros mundos e outros seres imagine o poder de quem estando além do humano criou universos. Estamos submetidos a esse poder e ao mesmo tempo somos partes desse poder, assim temos uma chance de redenção, mas ela não se dá por um salvador, por uma religião e sim pela compreensão profunda da natureza desta realidade.

Eis o quarto portão do sonhar, no qual sonhamos o sonho de alguém, conforme o Arte do Sonhar (a longa citação faz-se necessária para aclarar o ponto em questão: estar no sonho de alguém):

- Você não é a única pessoa a ter dor de barriga por causa do medo - falou. - Quando encontrei o desafiador da morte eu molhei as calças. Pode acreditar. Esperei em silêncio durante um momento longo e insuportável. - Está preparado? - ele perguntou.

Falei que sim, e ele acrescentou, levantando-se: - Vamos então descobrir como você vai se portar na linha de tiro.

Foi na frente em direção à igreja. E por mais que eu tente, tudo que lembro hoje em dia daquela caminhada é que ele teve de me arrastar por todo o caminho. Mas não me lembro de chegar à igreja ou de entrar nela. A próxima coisa que soube é que estava ajoelhado num banco de madeira, longo e desgastado, junto da mulher que eu vira antes. Ela sorria para mim. Olhei desesperado ao redor, tentando localizar Dom Juan, mas ele não estava à vista. Eu teria voado como um morcego fugindo do inferno se a mulher não me impedisse, agarrando meu braço.

- Por que você deveria estar com tanto medo da pobrezinha de mim? - ela me perguntou em inglês.

Fiquei grudado no lugar onde me ajoelhara. O que me envolveu total e imediatamente foi sua voz. Não consigo descrever o que, no som rouco de sua voz, tocava minhas lembranças mais recônditas. Era como se eu sempre conhecesse aquela voz. Fiquei ali, imóvel, hipnotizado pelo som. Ela me perguntou outra coisa em inglês, mas não consegui entender. Ela sorriu, compreensiva.

- Tudo bem - sussurrou em espanhol. Estava ajoelhada ao meu lado. - Eu compreendo o verdadeiro medo. Vivo com ele. Eu ia falar quando ouvi a voz do emissário em meu ouvido: - É a voz de Hermelinda, sua ama-de-leite. A única coisa que eu sabia sobre Hermelinda era a história que me contaram, que ela fora acidentalmente morta por um caminhão desgovernado. Era uma coisa chocante, para mim, a voz da mulher remexer lembranças tão profundas e antigas. Por um momento experimentei uma ansiedade agonizante.

- Eu sou a sua ama-de-leite! - a mulher exclamou em tom suave. - Que extraordinário! Quer o meu peito? - O riso sacudiu-lhe o corpo. Fiz um esforço supremo para permanecer calmo, mas sabia que estava rapidamente perdendo terreno e que a qualquer momento iria abandonar os sentidos. - Não ligue para minha brincadeira - disse ela em voz baixa. - A verdade é que eu gosto muito de você. Você está borbulhando de energia. E nós vamos nos dar muito bem. Dois homens mais velhos se ajoelharam na nossa frente. Um deles virou-se curiosamente para nos olhar. Ela não prestou atenção e continuou sussurrando em meu ouvido. - Deixe-me segurar sua mão - pediu. Mas seu pedido parecia uma ordem. Entreguei minha mão, incapaz de negar. - Obrigada. Obrigada pela confiança e por acreditar em mim - ela sussurrou. O som de sua voz estava me deixando louco. Sua rouquidão era tão exótica, tão absolutamente feminina! Em nenhuma situação eu a tomaria pela voz de um homem buscando soar feminino. Era uma voz rouca, mas não gutural ou áspera. Era mais como o som de pés descalços andando suavemente sobre cascalho. Fiz um esforço tremendo para romper um lençol invisível de energia que parecia ter-me envolvido. Achei que conseguira.

Levantei-me, pronto para ir embora; e teria ido, se a mulher também não houvesse levantado e sussurrado em meu ouvido: - Não fuja. Tenho muita coisa para lhe contar. Sentei-me automaticamente, preso pela curiosidade. Estranhamente, minha ansiedade se fora de súbito e meu medo também. Cheguei a ter presença bastante para perguntar: - Você é realmente uma mulher? Ela riu baixinho, como uma garotinha. Em seguida falou uma frase tortuosa: - Se você ousa pensar que eu me transformaria num homem terrível e lhe causaria mal, está gravemente enganado - falou acentuando ainda mais aquela voz estranha e hipnotizante. -Você é meu benfeitor, e eu sou sua serva, como fui de todos os naguais que o precederam. Reunindo toda a força que pude, abri-lhe minha mente. - Você é bem-vinda à minha energia - falei. - É minha doação para você, mas não quero que me dê qualquer dom de poder. E realmente estou falando sério. - Não posso tomar sua energia de graça - ela sussurrou. - Eu pago pelo que recebo, este é o acordo. É idiotice dar sua energia de graça. - Eu fui um idiota toda a minha vida. Pode acreditar. Certamente posso me dar ao luxo de lhe fazer uma doação. Não tenho problema com isso. Você precisa da energia, tome-a. Mas eu não preciso ser atrelado com coisas desnecessárias. Não tenho nada, e adoro isso. - Talvez - ela disse pensativa. Agressivamente perguntei se ela estava querendo dizer que talvez tomaria minha energia ou que não acreditava que eu não tinha nada e adorava isso. Ela riu deliciada, e disse que poderia tomar minha energia, já que eu estava oferecendo-a tão generosamente. Mas que tinha de fazer um pagamento. Tinha de me dar uma coisa de valor semelhante.

Enquanto a ouvia falar, percebi que era um espanhol com um sotaque estrangeiro muito extravagante. Ela consistentemente acrescentava fonemas extras à sílaba do meio de cada palavra. Nunca na vida eu ouvira alguém falar assim. - Seu sotaque é extraordinário - falei. - De onde é? - De quase a eternidade - ela disse e suspirou. Havíamos começado a fazer contato. Entendi por que suspirou. Ela era a coisa mais próxima da permanência, enquanto eu era temporário. Essa era a minha vantagem. O desafiador da morte tinha se metido num canto apertado, e eu estava livre. Examinei-a atentamente. Ela parecia estar entre trinta e cinco e quarenta anos de idade. Era uma mulher morena, completamente índia; quase robusta, mas não gorda nem mesmo pesada. Eu podia ver que a pele de seus braços e de suas mãos era lisa; os músculos firmes e jovens. Avaliei que tivesse um metro e sessenta e sete, um metro e setenta, de altura. Usava um vestido comprido, um xale preto e guaraches. Em sua posição ajoelhada eu podia ver os calcanhares lisos e parte das pernas fortes. A cintura era fina. Tinha seios grandes que não podia ou não queria esconder sob o xale. O cabelo era negríssimo e preso numa trança longa. Não era bonita, tampouco sem graça. Suas feições não eram nem um pouco notáveis. Eu sentia que ela não atrairia a atenção de ninguém, exceto pelos olhos, que mantinha baixos, ocultos sob os cílios. Seus olhos eram magníficos, claros, pacíficos. Afora os de Dom Juan, eu nunca vira olhos mais brilhantes, mais vivos. Seus olhos me deixaram completamente à vontade. Olhos como aqueles não podiam ser malévolos. Tive uma onda de confiança e otimismo, e o sentimento de que a conhecera por toda a vida. Mas também estava muito cônscio de outra coisa: minha instabilidade emocional. Ela sempre me assolara no mundo de Dom Juan, forçando-me a agir como um ioiô. Tinha momentos de total confiança e discernimento seguidos por dúvidas e desconfianças abjetas. Esse caso não iria ser diferente. Minha mente suspeitosa veio de súbito com o aviso de que eu estava caindo no feitiço da mulher.

- Você aprendeu espanhol tarde na vida, não foi? - falei só para sair de meus pensamentos e evitar que ela os lesse. - Somente ontem - ela respondeu e soltou um riso cristalino. Seus dentes pequenos, estranhamente brancos, brilhavam como uma fieira de pérolas. As pessoas se viraram para nos olhar. Baixei a cabeça como se estivesse rezando profundamente. A mulher chegou mais perto de mim.

- Existe algum lugar onde possamos conversar? - perguntei. - Estamos conversando aqui - ela disse. - Conversei aqui com todos os naguais de sua linha. Se você sussurrar ninguém vai saber que estamos conversando. Eu estava morrendo de vontade de perguntar sobre sua idade. Mas uma lembrança ajuizada veio me salvar. Lembrei-me de um amigo que, durante anos, vinha colocando todo tipo de armadilha para que eu confessasse minha idade. Eu detestava seus interesses mesquinhos, e agora estava quase entrando no mesmo comportamento. Abandonei-o instantaneamente. Quis falar com ela sobre isso, só para manter a conversa. Ela parecia saber o que se passava em meu pensamento. Balançou meu braço num gesto amigável, como se dissesse que tínhamos compartilhado um pensamento.

- Em vez de me dar um dom, você pode me contar uma coisa que me ajude em meu caminho? - perguntei. Ela balançou a cabeça negativamente. - Não. Nós somos extremamente diferentes. Mais diferentes do que eu acreditava ser possível. Levantou-se e deslizou de lado para fora do banco. Ajoelhou-se destramente ao passar diante do altar principal. Persignou-se e fez um sinal para que eu a acompanhasse até um grande altar lateral, à nossa esquerda. Ajoelhamo-nos diante de um crucifixo de tamanho real. Antes de eu ter tempo de dizer qualquer coisa, ela falou: - Eu vivo há muito, muito tempo. O motivo de ter essa vida tão longa é que controlo os deslocamentos e os movimentos de meu ponto de aglutinação. Além disso não fico aqui em seu mundo por muito tempo. Preciso economizar a energia que consigo com os naguais de sua linha.

- Como é existir em outros mundos? - perguntei. - É como em seu sonhar, só que tenho mais mobilidade. E posso ficar por mais tempo onde quiser. Do mesmo modo que você poderia ficar o quanto quisesse em qualquer um de seus sonhos. - Quando você está neste mundo, fica presa somente a esta área?- Não. Eu vou aonde quero. - E sempre vai como uma mulher? - Eu já fui mulher por mais tempo do que homem. Definitivamente, eu gosto muito mais. Acho que quase me esqueci de como é ser homem. Sou completamente mulher! Pegou minha mão e me fez tocar entre suas pernas. Meu coração batia na garganta. Era realmente uma mulher. - Eu simplesmente não posso pegar sua energia - disse ela mudando de assunto. - Precisamos fazer outro tipo de acordo.

Nesse momento outra onda de raciocínio mundano me assolou. Quis perguntar onde ela vivia quando estava neste mundo. Não precisei verbalizar a pergunta para obter resposta. - Você é muito, muito mais jovem do que eu - falou. - E já tem dificuldade para contar às pessoas onde vive. E mesmo que as levasse à casa que você possui ou pela qual paga aluguel, isso não é onde você vive. - Há tantas coisas que eu queria lhe perguntar, mas só consigo ter pensamentos estúpidos - falei. Eu não apenas tinha pensamentos estúpidos, mas me encontrava num estado de tamanha sugestionabilidade que nem bem ela terminou de dizer que eu sabia o que ela sabia, e senti que sabia tudo, e que não precisava fazer mais nenhuma pergunta. Rindo, falei a ela de minha credulidade.

- Você não é crédulo - ela me assegurou com autoridade. - Você sabe tudo porque agora está totalmente na segunda atenção. Olhe ao redor! Por um instante não pude focalizar a vista. Era exatamente como se estivesse com água nos olhos. Quando organizei a visão, percebi que havia ocorrido algo portentoso. A igreja era diferente, mais escura, mais soturna e, de algum modo, mais dura. Levantei-me e dei dois passos em direção à nave. O que me atraiu os olhos foram os bancos; não eram feitos de tábuas, mas de troncos finos e retorcidos. Eram bancos feitos a mão, colocados dentro de um magnífico edifício de pedras.

Também a luz da igreja era diferente. Era amarelada, e seu brilho fraco lançava as sombras mais negras que eu já vira. Vinha das velas dos muitos altares da igreja. Tive uma noção de como a luz das velas se adequava bem às paredes maciças de pedra e aos ornamentos de uma igreja colonial. A mulher me encarava, e o brilho de seus olhos era ainda mais notável. Eu soube então que estava sonhando, e que ela dirigia o sonho. Mas não tive medo dela nem do sonho. Afastei-me do altar lateral e olhei de novo para a nave da igreja. Havia pessoas ajoelhadas em oração. Muitas pessoas; estranhamente pequenas, morenas, duras. Pude ver suas cabeças baixas ocupando todo o espaço, desde o altar principal. As de perto me olhavam, obviamente, com ar desaprovador. Eu estava boquiaberto com elas e com todo o resto. Mas não conseguia ouvir qualquer ruído. As pessoas se movimentavam, mas não havia nenhum som.

- Não consigo ouvir nada - falei para a mulher; e minha voz soou, ecoando como se a igreja fosse uma concha vazia. Praticamente todas as cabeças viraram em minha direção. A mulher me puxou de volta para a escuridão do altar lateral. - Você ouvirá, se não escutar com os ouvidos - disse ela. - Ouça com sua atenção sonhadora. Parecia que eu só precisava de sua insinuação. Fui subitamente envolto pelo zumbido de uma multidão rezando. Num instante me senti arrebatado. Descobri que aquele era o som mais exótico que eu já ouvira. Quis falar sobre isso com a mulher, mas ela não estava ao meu lado. Procurei-a. Ela praticamente chegara à porta. Virou-se sinalizando para que eu a seguisse. Alcancei-a no átrio. As luzes da rua haviam desaparecido. A única iluminação era a luz da lua. A fachada da igreja também era diferente; inacabada. Blocos quadrados de pedra calcária estavam espalhados. Não havia casas ou prédios em volta da igreja. À luz da lua a cena era fantasmagórica. 

- Aonde vamos? - perguntei.- A lugar nenhum. Simplesmente viemos aqui para ter mais espaço, mais privacidade. Aqui podemos falar até cansar. Pediu que eu sentasse num pedaço de pedra calcária meio cinzelada. - A segunda atenção tem tesouros infinitos para ser descobertos - começou. - O posicionamento inicial em que o sonhador coloca seu corpo é de importância vital. E exatamente nisso está o segredo dos feiticeiros antigos, que já eram antigos na minha época. Pense nisso. Ela sentou-se tão perto que senti o calor de seu corpo. Colocou um braço ao redor de meu ombro e me apertou contra o peito. Seu corpo tinha uma fragrância extremamente peculiar; lembrava-me árvores ou artemísia. Não que ela estivesse usando perfume; todo o corpo parecia exalar aquele odor característico de florestas de pinheiros. Além disso o calor de seu corpo não era como o meu ou como o de qualquer outra pessoa que eu conhecesse. Era um calor suave, mentolado, até mesmo equilibrado. O pensamento que me veio foi que seu calor

pressionaria continuamente, mas sem pressa. Então ela começou a sussurrar em meu ouvido esquerdo. Disse que os dons que proporcionara aos naguais de minha linhagem tinham a ver com o que os feiticeiros antigos chamavam de posições gêmeas. Isto é, a posição inicial em que o sonhador coloca o corpo para começar a sonhar é espelhada pela posição em que ele coloca o corpo energético, nos sonhos, para fixar seu ponto de aglutinação em qualquer local de sua escolha. As duas posições formam uma unidade, disse ela, e os feiticeiros antigos levaram milhares de anos para descobrir o relacionamento perfeito entre duas posições quaisquer. Comentou, com um risinho, que os feiticeiros de hoje em dia nunca terão tempo nem disposição para fazer todo esse trabalho, e que os homens e as mulheres de minha linha eram felizardos por terem-na para dar esses dons. Seu riso teve um som notável, cristalino.

Eu não entendera direito sua explicação sobre as posições gêmeas. Falei, cheio de audácia, que não queria praticar esse tipo de coisa, mas apenas saber delas como possibilidades intelectuais. - O que, exatamente, você quer saber? - ela perguntou em voz suave. - Explique o que quer dizer com posições gêmeas, ou com a posição inicial em que o sonhador coloca seu corpo para começar a sonhar.

- Como você se deita para começar seu sonhar? - De qualquer jeito. Não tenho um padrão. Dom Juan nunca enfatizou esse ponto. Ela mudou de posição. Sentou-se à minha direita e sussurrou em meu outro ouvido que, de acordo com o que ela sabia, a posição em que colocamos o corpo é de importância fundamental. Propôs um meio muito fácil de testar isso realizando um exercício extremamente delicado, porém simples. - Comece o seu sonhar deitando sobre o lado direito, com os joelhos um pouco dobrados. A disciplina é manter essa posição e cair no sono estando nela. No sonhar, então, o exercício é sonhar que está deitado exatamente na mesma posição e cair no sono de novo. - O que isso faz? - perguntei. - Faz o ponto de aglutinação ficar fixo, e estou querendo dizer realmente fixo, em qualquer posicionamento em que ele estiver no instante em que você cair no sono pela segunda vez. - Quais são os resultados desse exercício? - A percepção total. Tenho certeza de que seus professores já lhe disseram que meus presentes são dons de percepção total, não disseram? - Disseram. Mas acho que, para mim, não está claro o que seja a percepção total. Ela me ignorou e prosseguiu, dizendo que as quatro variações do exercício eram: cair no sono deitado sobre o lado direito, sobre o esquerdo, as costas e o estômago. E, no sonhar, o exercício era sonhar que estava caindo no sono uma segunda vez na mesma posição em que o sonhar começara. Prometeu resultados extraordinários que, segundo ela, não se poderia prever. 

Mudou abruptamente de assunto e me perguntou: - Qual é o dom que você deseja? - Nada de dom para mim. Já falei. - Eu insisto. Eu preciso oferecer um dom e você precisa aceitar. Esse é o nosso acordo.

- Nosso acordo é eu lhe dar energia. Então pegue. Isso é por minha conta. Meu presente para você. A mulher pareceu aturdida. E persisti dizendo que não tinha problema que ela tomasse minha energia. Até mesmo disse que gostava imensamente dela. Naturalmente estava falando a sério. Havia nela alguma coisa extremamente triste e, ao mesmo tempo, muito atraente. - Vamos voltar para a igreja - ela murmurou.

- Se quer de fato me dar um presente - falei - me leve para um passeio nesta cidade, à luz da lua. Ela balançou a cabeça afirmativamente. - Desde que você não diga nem uma palavra. - Por que não? - perguntei, mas já sabia a resposta. - Porque estamos sonhando. Isso fará você entrar mais fundo em meu sonho. Explicou que, enquanto ficássemos na igreja, eu teria energia suficiente para pensar e conversar, mas que além das fronteiras da igreja era outra situação. - Por que isso? - perguntei ousado. Num tom extremamente sério, que não somente aumentou sua estranheza mas me aterrorizou, a mulher disse:

- Porque não existe lá fora. Isto é um sonho. Você está no quarto portão do sonhar, sonhando meu sonho. Falou que sua arte era ser capaz de projetar seu intento, e que tudo que eu via ao redor era seu intento. Disse num sussurro que a igreja e a cidade eram resultados de seu intento; elas não existiam, mas existiam. Acrescentou, olhando em meus olhos, que esse é um dos mistérios de Intentar na segunda atenção as posições gêmeas do sonhar. Pode ser feito, mas não pode ser explicado ou compreendido. Contou então que veio de uma linha de feiticeiros que sabiam como se movimentar na segunda atenção projetando seu intento. Os feiticeiros de sua linha praticavam a arte de projetar seus pensamentos no sonhar, com o objetivo de realizar a reprodução fiel de qualquer objeto, estrutura, paisagem ou cenário de sua escolha. Disse que os feiticeiros de sua linha costumavam começar olhando para um objeto simples, memorizando cada detalhe. Em seguida fechavam os olhos, visualizavam o objeto e corrigiam sua visualização comparando com o objeto real, até que podiam vê-lo em sua totalidade, com os olhos fechados. A etapa seguinte em seu esquema de desenvolvimento era sonhar com o objeto e criar no sonho, do ponto de vista de sua percepção, uma materialização total do objeto. Esse ato, segundo a mulher, era chamado de primeiro passo para a percepção total. A partir de um objeto simples, aqueles feiticeiros passavam a usar itens cada vez mais complexos. Seu objetivo final era todos juntos visualizarem um mundo inteiro; em seguida sonhar esse mundo e, assim, recriar um lugar totalmente verídico onde poderiam existir.

- Quando alguns feiticeiros de minha linha conseguia fazer isso – prosseguiu a mulher – ele podia colocar qualquer pessoa em seu intento, em seu sonho. É isso que estou fazendo agora com você, e o que fiz com todos os naguais de sua linha. Ela deu um risinho. - É melhor acreditar. Populações inteiras desapareceram, sonhando assim (os primeiros maias, os Anazasis). É por isso que eu disse que esta igreja e esta cidade são um dos mistérios de intentar na segunda atenção. - Disse que populações inteiras desapareceram assim. Como é possível? - Eles visualizavam e em seguida recriavam nos sonhos o mesmo cenário - ela respondeu. - Você nunca visualizou nada, de modo que para você é muito perigoso entrar em meu sonho. Avisou que é perigoso atravessar o quarto portão e viajar para lugares que só existem no intento de outra pessoa, já que cada item de um sonho desses é um item absolutamente pessoal.

- Ainda quer ir? - perguntou. Falei que sim. E ela me contou mais sobre as posições gêmeas. A essência de sua explicação foi a seguinte: se eu estivesse, por exemplo, sonhando com minha cidade natal e se meu sonho tivesse começado quando eu estava deitado sobre o lado direito, eu poderia facilmente ficar na cidade do sonho, se deitasse do lado direito, naquele sonho, e sonhasse que havia caído no sono. O segundo sonho não seria necessariamente com minha cidade natal, mas seria o sonho mais concreto que se possa imaginar. Ela acreditava que, em meus treinamentos de sonhar, eu devia ter tido incontáveis sonhos de grande concretude, mas assegurou-me que todos eles eram forçosamente falsos. Porque o único meio de ter controle absoluto sobre os sonhos era usando a técnica das posições gêmeas. - E não me pergunte por quê - acrescentou. - Simplesmente é assim. Como tudo. Fez com que eu me levantasse, e de novo me alertou para não falar nem me afastar dela. Tomou gentilmente minha mão, como se eu fosse uma criança, e foi na direção de um agrupamento de silhuetas escuras de casas. Estávamos numa rua calçada com pedras. Pedras de rio que haviam sido socadas no chão. A pressão desigual criara superfícies desiguais. Parecia que quem fizera o calçamento havia seguido os contornos do solo sem se preocupar em nivelá-lo. As casas eram grandes, caiadas de branco. Construções de um andar empoeiradas e cobertas de telhas. Havia pessoas andando em silêncio. Sombras escuras dentro das casas davam a sensação de vizinhos curiosos porém assustados fofocando por trás das portas. Eu podia ver também as montanhas baixas atrás da cidade. Contrariamente ao que acontecera o tempo todo em meu sonhar, meus processos mentais não estavam alterados. Os pensamentos não eram empurrados pela força dos eventos do sonho. E os cálculos mentais diziam que eu me encontrava na versão de sonho da mesma cidade onde Dom Juan vivia, mas numa época diferente. 

Minha curiosidade estava no auge. Eu me encontrava de fato com o desafiador da morte, dentro de seu sonho. Quis observar tudo, ficar super-alerta. Queria testar tudo vendo energia Fiquei embaraçado, mas a mulher apertou minha mão como um sinal de que concordava Ainda me sentindo absurdamente tímido, verbalizei em voz alta meu intento de ver. Em meus exercícios de sonhar eu vinha usando sempre a frase: "Quero ver energia" Algumas vezes eu precisava repetir e repetir até obter resultado. Dessa vez, na cidade de sonho da mulher, assim que comecei a repetir do modo usual ela começou a rir. Seu riso era como o de Dom Juan: um riso profundo e abandonado, de sacudir a barriga. - O que é tão engraçado? - perguntei meio contagiado por sua alegria. - Juan Matus não gosta dos feiticeiros antigos em geral, e de mim em particular - ela disse entre jorros de riso. – Tudo que precisamos fazer, para ver nos sonhos, é apontar o dedo mindinho para o item que desejamos ver. Fazer você gritar assim em meu sonho é o modo dele me mandar sua mensagem. É preciso admitir que ele é realmente esperto. - Parou por um instante e em seguida disse em tom de revelação:- Claro que gritar feito um idiota também funciona.

O senso de humor dos feiticeiros me espantava além da conta Ela parecia incapaz de continuar conversando, de tanto que ria. Senti-me estúpido. Quando ela se acalmou e ficou de novo perfeitamente controlada, disse educadamente que eu poderia apontar para qualquer coisa que quisesse em seu sonho, inclusive para ela mesma. Apontei com o dedo mínimo da mão esquerda para uma casa. Não havia energia nela. Era como qualquer outro item de um sonho comum. Apontei para tudo ao redor, com o mesmo resultado. - Aponte para mim - ela insistiu. - Você deve confirmar que este é o método que os sonhadores usam para ver.

Ela estava absolutamente certa. Aquele era o método. No instante em que apontei o dedo mínimo ela virou uma bolha de energia. Uma bolha de energia muito peculiar, devo dizer. Sua forma energética era exatamente como Dom Juan descrevera: parecia uma enorme concha do mar, enrolada para dentro ao longo de uma fenda que corria por toda a sua extensão. - Sou o único ser gerador de energia neste sonho - falou. - Então, a coisa certa para você fazer é simplesmente observar tudo. Naquele momento fui golpeado, pela primeira vez, pela imensidão da piada de Dom Juan. Ele me fizera aprender a gritar no sonho de modo que eu pudesse gritar na privacidade do sonho do desafiador da morte. Achei esse toque tão engraçado que o riso saiu de mim em ondas sufocantes. - Vamos continuar o passeio - a mulher disse em voz baixa quando meu riso se esgotou.

Só havia duas ruas, que se cruzavam. Cada uma tinha três quarteirões de casas. Andamos toda a extensão das duas ruas, não uma, mas quatro vezes. Olhei para tudo, e com minha atenção sonhadora prestei atenção a todo tipo de ruído. Havia muito pouco, apenas cães latindo a distância, ou pessoas falando em sussurros enquanto passávamos. Os cães latindo me provocaram uma saudade estranha e profunda. Precisei parar de andar. Busquei alívio encostando o ombro numa parede. O contato foi chocante. Não porque a parede fosse incomum, mas porque aquilo em que eu me encostava era uma parede sólida, como qualquer outra parede que eu já tocara. Senti-a com a mão que estava livre. Corri os dedos pela superfície áspera. Era mesmo uma parede.Sua realidade atordoante pôs um fim imediato em minha saudade e renovou o interesse em observar tudo. Eu estava procurando, especificamente, características que podiam estar relacionadas com a cidade de meus dias. Entretanto, não importando o quão atentamente eu  observasse, não obtinha qualquer sucesso. Havia uma plaza naquela cidade, mas ficava na frente da igreja, diante do átrio. À luz da lua, as montanhas ao redor da cidade eram claramente visíveis e quase reconhecíveis. Tentei me orientar, observando a lua e as estrelas, como se estivesse na realidade consensual da vida cotidiana. Era uma lua minguante, talvez um dia depois da cheia. Estava bem alta acima do horizonte. Pude ver Órion à direita da lua; suas duas estrelas principais, Betelgeuse e Rigel, formavam uma horizontal com a lua. Avaliei que fosse início de dezembro. Meu tempo era maio. Em maio, naquela época, Órion não estava à vista. Olhei para a lua o quanto pude. Nada mudou. Até onde eu poderia dizer, era a lua mesmo. A disparidade de tempo me deixou muito agitado. Enquanto examinava o horizonte sul, pensei que podia distinguir o mesmo pico em forma de sino que era visível do quintal de Dom Juan. Tentei em seguida descobrir onde sua casa poderia ter estado. Por um instante pensei ter descoberto. Instantaneamente fui possuído por uma tremenda ansiedade. Soube que precisava voltar à igreja porque, se não o fizesse, cairia morto ali. Virei-me e fui na direção da igreja. A mulher rapidamente me agarrou a mão e foi atrás. Enquanto nos aproximávamos quase correndo, percebi que a cidade naquele sonho estava atrás da igreja. Se eu tivesse levado isso em consideração, talvez pudesse me orientar. Do jeito que a coisa ia, eu não tinha mais atenção sonhadora. Concentrei-a toda nos detalhes arquitetônicos e ornamentais da parte de trás da igreja. Eu nunca vira aquela parte do prédio no mundo da vida cotidiana, e achei que, se pudesse gravar suas características na memória, talvez pudesse comparar mais tarde com os detalhes da igreja real. Esse foi o plano que imaginei no calor do momento. Mas alguma coisa dentro de mim zombou de meus esforços de confirmação. 

Durante todo o meu aprendizado eu me atormentara com a necessidade de objetividade que me forçara a conferir e reconferir tudo que havia no mundo de Dom Juan. Entretanto não era a confirmação que estava em jogo, mas a necessidade de usar esse impulso de objetividade como uma bengala que me protegesse nos momentos de distúrbio cognitivo mais intenso; depois, quando chegava a hora de checar o que eu verificara, eu nunca o fazia. Dentro da igreja a mulher e eu nos ajoelhamos no pequeno altar da esquerda, onde havíamos estado, e no instante seguinte acordei na igreja iluminada de minha época. A mulher persignou-se e se levantou. Fiz o mesmo automaticamente. Ela pegou meu braço e começou a andar em direção à porta. - Espere, espere! - falei, surpreso de ainda poder falar. Não conseguia pensar claramente, mas queria fazer uma pergunta difícil. O que eu queria saber é como alguém poderia ter energia para visualizar cada detalhe de uma cidade inteira. Sorrindo, a mulher respondeu minha pergunta não verbalizada: disse que era muito boa em visualizar, porque depois de toda uma vida fazendo isso, ela tivera o tempo de muitas, muitas vidas para aperfeiçoá-lo. Acrescentou que a cidade que eu visitara e a igreja onde havíamos conversado eram exemplos de suas visualizações recentes. A igreja era a mesma onde Sebastian fora sacristão. Ela se propusera a tarefa de memorizar cada detalhe de cada canto daquela igreja e da cidade devido à necessidade de sobreviver. Terminou a fala com uma observação perturbadora. 

- Como você sabe um bocado sobre essa cidade, mesmo nunca tendo tentado visualizá-la, está me ajudando a intentá-la. Aposto que você não acreditará se eu disser que esta cidade para a qual está olhando não existe realmente fora de seu intento e do meu. Encarou-me e riu de meu sentimento de horror, já que eu acabara de perceber totalmente o que ela dizia.

- Ainda estamos sonhando? - perguntei atônito. - Estamos - falou. - Mas este sonhar é mais real do que o outro, porque você está me ajudando. Não é possível explicar isso, além de dizer que está acontecendo. Como tudo o mais. - Ela apontou ao redor. - Não é possível dizer como isso acontece, mas acontece. Lembre-se sempre do que eu disse: este é o mistério de intentar na segunda atenção. Puxou-me suavemente para perto. - Vamos passear até a plaza deste sonho. Mas talvez eu deva me arrumar um pouquinho, para você ficar mais à vontade. Olhei sem compreender enquanto ela, com enorme destreza, mudava de aparência. Fez isso com manobras muito simples, comuns. Tirou a saia comprida, revelando a saia de comprimento médio que estava usando por baixo. Em seguida enrolou a trança comprida num coque; trocou os guaraches por sapatos com três centímetros de salto, que tirou de uma pequena bolsa de pano. Virou pelo avesso o xale reversível e ficou com uma estola bege. Parecia uma típica mulher mexicana de classe média, vindo da cidade grande, talvez numa visita àquele lugarejo. Pegou meu braço com uma segurança feminina e guiou-me em direção à plaza. 

- O que aconteceu com sua língua? - falou em inglês. O gato comeu? Eu estava totalmente absorto com a possibilidade impensável de que ainda continuava num sonho; e o que é mais, estava começando a acreditar que, se fosse verdade, eu corria o risco de nunca acordar. Num tom indiferente, que não consegui reconhecer como meu, falei:- Até agora eu não tinha me conscientizado de que você havia falado antes em inglês. Onde aprendeu? - No mundo. Eu falo muitas línguas. - Parou e me examinou. - Tive tempo suficiente para aprender. Como vamos passar muito tempo juntos, algum dia vou ensinar minha língua a você - ela riu, sem dúvida de meu ar desesperado. Parei de andar. - Vamos passar muito tempo juntos? - perguntei traindo meus sentimentos. - Claro - ela respondeu num tom alegre. - Você vai, e devo dizer que muito generosamente, me dar sua energia de graça. Você mesmo disse isso, não foi? Eu estava pasmo. - Qual é o problema? - a mulher perguntou, voltando para o espanhol. - Não diga que se arrependeu da decisão. Nós somos feiticeiros. É tarde demais para mudar de ideia. Não está com medo, está? Eu estava mais do que aterrorizado, mas se me pedissem para descrever na hora o que me aterrorizava, eu não saberia. Certamente não estava com medo de me encontrar em outro sonho com o desafiador da morte, ou de perder a mente ou mesmo a vida. Estaria com medo do mal? - perguntei-me. Mas o pensamento do mal não suportaria um exame. Em resultado de todos aqueles anos no caminho dos feiticeiros, eu sabia sem sombra de dúvida que no universo só existe energia; o mal é simplesmente uma concatenação da mente humana, esmagada pela fixação do ponto de aglutinação em seu posicionamento habitual. Em termos lógicos não havia nada de que eu pudesse ter medo. Sabia disso, mas também sabia que minha fraqueza real era não ter fluidez para fixar meu ponto de aglutinação instantaneamente em qualquer posicionamento novo para o qual ele fosse deslocado. O contato com o desafiador da morte estava deslocando meu ponto de aglutinação numa taxa tremenda, e eu não tinha a capacidade para me adaptar ao empuxo. O resultado era uma vaga pseudosensação de medo de que eu não pudesse acordar. 

- Não há problema - falei. - Vamos continuar nosso passeio no sonho. Ela grudou o braço ao meu e chegamos em silêncio ao parque. Não era em absoluto um silêncio forçado. Mas minha mente corria em círculos. Que estranho, pensei; há pouquíssimo tempo eu tinha andado com Dom Juan do parque até a igreja, no meio do medo normal mais aterrorizante. Agora estava voltando da igreja ao parque com o objeto de meu medo, e estava mais aterrorizado do que nunca, mas de um modo diferente, mais maduro, mais mortal. Para aliviar minhas preocupações, comecei a olhar ao redor. Se isso era um sonho, como eu acreditava, havia um meio de provar ou negá-lo. Apontei o dedo para as casas, para a igreja, para o calçamento da rua. Apontei para pessoas, a quem eu parecia assustar consideravelmente. Senti sua massa. Eram tão reais quanto qualquer coisa que considero real, só que não geravam energia. Nada naquela cidade gerava energia. Tudo parecia verdadeiro e normal, e mesmo assim era um sonho. Virei-me para a mulher, que estava agarrada ao meu braço, e questionei-a a respeito. - Nós estamos sonhando - ela disse em sua voz rouca, e deu um risinho. - Como as pessoas ao nosso redor podem ser tão reais, tão tridimensionais? - É o mistério de intentar na segunda atenção! - ela exclamou reverente. - Essas pessoas aí são tão reais que têm até pensamentos.

Notas

¹ A Cabala Mística, de Dion Fortune, 14, página 14.

² E a Sofia da Epinoia, sendo um aeon, concebeu um pensamento dela mesma pela concepção do Espírito invisível e pela previsão. Ela queria produzir reinos por conta própria sem o consentimento do Espírito (ele não havia aprovado), sem o cônjuge dela, e sem a apreciação dele. E, embora a pessoa da masculinidade dela não tinha aprovado, e ela não tinha obtido a autorização, e ela havia pensado sem o consentimento do Espírito, mesmo assim ela prosseguiu. E devido ao poder invencível que existe nela, o pensamento dela não permaneceu inativo, e algo que era imperfeito e diferente de sua aparência saiu dela, porque ela havia criado aquilo sem seu cônjuge. E era diferente da aparência da mãe, pois tinha uma outra forma.

E quando ela viu as consequências do seu desejo, aquilo se transformou numa serpente com cabeça de leão. E os olhos dele eram como chamas com clarão. Ela o lançou para fora dela, para fora daquele lugar, para que nenhum dos imortais o visse, porque ela o havia criado em ignorância. E ela o rodeou com uma nuvem luminosa, e ela colocou um trono no meio da nuvem para que ninguém visse exceto pelo Espírito sagrado, que é chamado a mãe dos vivos. E ela o nomeou Yaldabaoth.

Este é o primeiro arconte que tomou um grande poder da mãe dele. 

E ele se separou dela, e se dirigiu para longe do lugar em que ele tinha nascido. Ele ficou forte, e criou para si outros aeons com uma chama de fogo luminoso que ainda existe hoje. E ele se juntou com a arrogância que existe nele, e gerou autoridades para si - Evangelhos Apócrifos de João - versão longa.

³ "Os novos videntes, de acordo com sua prática, acharam oportuno encabeçar sua classificação com a fonte primária de energia, o único e absoluto governante do universo, e chamaram-no simplesmente de tirano" - O Fogo Interior, de Carlos Castaneda, E. Record, 3ª edição, página 28.

⁴ "O poder que governa o destino de todos os seres vivos é chamado a Águia, não por ser uma águia ou ter qualquer relação com ela, mas por aparecer ao observador como uma incomensurável águia negra, na sua postura ereta, com o corpo voltado para o infinito".

"Quando o observador olha a negrura de águia, quatro labaredas de luz revelam como a Águia é. A primeira labareda, como um relâmpago, ajuda o observador a perceber os contornos do seu corpo; vê partes brancas semelhantes às suas penas e garras. A segunda revela as asas adejantes ao vento em sua negrura. Com a terceira labareda o observador nota o olho penetrante, impiedoso. E com a quarta e última labareda vê o que a Águia está fazendo".

"A Águia está devorando a consciência de todas as criaturas que, vivas até pouco antes ou já mortas, flutuaram para o seu bico, como um enxame incessante de vagalumes indo ao encontro de seu dono, de razão de terem tido vida. A Águia desemaranha essas chamas mínimas, coloca-as no chão, como um curtidor esticando um couro, e então as consome; pois a consciência é o seu alimento".

"A Águia, aquele poder que governa os destinos de todas as coisas vivas, reflete equanimemente e subitamente sobre todas essas coisas vivas. Não há nenhum modo, portanto, do homem suplicar à Águia, pedir favores, esperar sua misericórdia. A parte humana da Águia é insignificante demais para mexer com o seu todo" - O Presente da Águia, 10ª edição, página 142, Ed. Record.

quinta-feira, 14 de dezembro de 2023

Além da solução única do sistema - parte 2: como preparar o dióxido de cloro (CDS)


A forma fácil e segura de fazer CDS. 

(ver a primeira parte do texto AQUI)

 Com ácido clorídrico a 4% como ativador

1. Num frasco de vidro de meio litro, introduzir 250 ml de água filtrada ou destilada e colocar um copo pequeno com 5 ml de clorito de sódio a 25% ativado com 5 ml de ácido clorídrico a 4%, sem que se misturem com a água.

2. Fechar hermeticamente com a tampa de vidro durante 12 horas e guardar num armário ou fora do contacto com a luz solar.

3. Uma vez terminado esse tempo, colocar o frasco na geladeira durante meia hora para que o gás seja todo absorvido para dentro da água. Assim que estiver pronto, abrir o frasco no exterior e retirar rapidamente o copo de concentrado sem derramar e voltar a fechar rapidamente o frasco. (NÃO RESPIRAR O GÁS!)

4. Preparar outro copo pequeno com 5 ml de clorito de sódio a 25% ativado com 5 ml de ácido clorídrico a 4% e voltar a colocar dentro do frasco.

5. Fechar hermeticamente com a tampa de vidro durante outras 12 horas e voltar a guardar num armário ou fora do contacto com a luz solar.

6. O concentrado de CDS está agora pronto para ser utilizado.

7. Este concentrado deve ser posteriormente diluído em água segundo o protocolo C. 

VER IMAGEM ABAIXO.

Nota do autor:

Não é o mesmo fazer o processo uma só vez com 10 ml de mistura, já que não chega a fazer a suficiente concentração final de 3000 ppm.

Procedimento detalhado:

1. Colocar um copo de vidro dentro de um frasco do mesmo material, com aproximadamente meio litro de capacidade, que feche hermeticamente. Quanto menos ar estiver dentro do frasco e quanto maior a superfície de vidro onde é feita a mistura, melhor. Como recipiente, recomendo os frascos de conserva com tampa de vidro. Uma tampa de metal não seria adequada, já que se oxidaria no processo. Em caso de ser utilizado este tipo de tampa, deve ser envolvida em plástico, assegurando-se que o frasco fica sempre bem fechado. Deve evitar-se o contacto com a luz solar, já que o líquido reage à mesma.

2. De seguida, encher o frasco de vidro com água fria (de preferência mineral, destilada ou filtrada) que nunca transborde para dentro do copo onde estará a solução a saturar. Pode ser utilizada água mineral ou destilada, pois o CDS que daí resulta não se pode ser contaminado por microrganismos, ao ser um desinfetante. A água da torneira não é recomendada porque contém cloro e outras substâncias que poderiam reagir com o dióxido de cloro, reduzindo a sua eficácia.

3. Misturam-se 5 ml de clorito sódico com a mesma quantidade de ácido clorídrico num copo pequeno, limpo e seco. É conveniente que o copo seja estreito para que possa caber dentro do frasco.

4. Posteriormente, introduz-se o copo dentro do frasco de vidro que contém 250 ml de água, tendo atenção para não derramar a mistura na água, e fechando a tampa imediatamente, tentando que fique fechada o mais hermeticamente possível.

5. Manter o frasco durante 12 horas num local escuro e seco.

6. Depois das 12 horas (ou quando a água do frasco tiver a mesma cor amarelada da solução dentro do copo), pode pôr-se o frasco dentro do frigorífico para que refresque durante 2 ou 3 horas, tendo sempre o cuidado de verificar que a solução contida no copo não é derramada para dentro da água do frasco.

7. Uma vez frio, levar até ao exterior, ou um local bem ventilado, abrindo a tampa e substituindo o copo de vidro por outro com a mesma quantidade de solução usada originalmente, procedendo da mesma forma durante as 12 horas de saturação: guardar num armário ou local escuro.

8. Quando os líquidos voltarem a ter a mesma cor (o da água do frasco e o da solução no copo), o processo está terminado.

9. Voltar a colocar o frasco na geladeira e, assim que estiver frio, levar até ao exterior, ou a um local bem ventilado, retirando o copo da solução com cuidado para não derramar a solução.

• Desta forma, o concentrado de 3000 ppm (= 0,3%) está concluído.

• Este concentrado deve ser sempre guardado na geladeira.

• À água enriquecida pelo gás ClO2 chamamos-lhe CDS.

• O CDS deve ser guardado, preferencialmente, num frasco farmacêutico de vidro de cor âmbar, porque tem o bocal mais mais estreito. Desta forma, o gás fixa-se melhor na água e evitamos a excessiva evaporação ao abrir-se o frasco.

• A cor da água deve ser agora de um amarelo forte, equivalente à cor do óleo de girassol.

NÃO INALAR DIRETAMENTE!

PROTOCOLO C. CDS, EQUIVALENTE AO PROTOCOLO 101 (110)

• O protocolo CDS 101 é um protocolo universal, apto para a maioria dos tratamentos, fácil de realizar e não apresenta efeitos secundários indesejados.

• O protocolo 101 consiste em tomar 1 ml de CDS a 0,3% (3000 ppm) diluído em água, cada hora, 10 vezes ao dia. (É por esta razão que, em alguns sítios, a numeração do protocolo muda para 110).

• Adicione 10 ml de CDS com 3000 ppm (ou 100 ml de CDS com 300 ppm) a 1 litro de água por dia.

• Tome uma parte cada hora, até terminar o conteúdo da garrafa.

• Em caso de doença grave ou perigo de vida, a dose deve ser aumentada lenta e progressivamente, atingindo os 30 ml por litro de água, sempre dependendo do quão combalido estiver o paciente.

• Se for necessário tomar mais, seja por que razão for, há que preparar outra garrafa de água. Deve reduzir a dose em caso de mal-estar ou náusea. Nunca superar os 80 ml em 12 tomas diárias (6 ml/h por cada 100 kg). A duração do tratamento depende do estado de recuperação.

Obs: as garrafas devem ser de vidro ou plástico: polietileno – PE – ou polietileno de alta densidade – PEAD.



A Paixão do Guerreiro




Adiante,
quem quer que esteja
tocando as portas da alma.
Adiante,
que quero que veja como estou chorando de amarga dor.
É tão difícil sentir tanta amargura
que não me importa terminar na loucura.
Se já morreu meu velho amor, agora te digo:
se já não tenho valor,
se já não tenho valor,
de nada sirvo.
Adiante,
quem quer que esteja tocando as portas da alma.
Adiante,
que quero que veja como estou sofrendo,
como estou morrendo pelo meu velho amor.

Esta canção está dedicada a algo abstrato, o velho amor que o bruxo sente por navegar:

A paixão do guerreiro.

Todos sabemos que isso é o único que temos.
Faz muitíssimos anos que o homem interrompeu sua viagem ao infinito que é o único que queremos.
Estamos envoltos nesta vida que nos rouba tudo o que podemos ser.
Temos que lutar para apagar o eu pessoal.

Conferência de Taisha Abelar - México 1996

A paixão é um dos fundamentos do caminho do guerreiro.

Sem paixão não somos nada. 

Não é uma das premissas principais, mas é um centro que pode unificar os diferentes postulados do caminho do guerreiro. 

O caminho do guerreiro é um postulado filosófico. 

A força coesiva desses princípios é a paixão.

Dom Juan falou de outra força coesiva, a força vibratória que mantem as coisas juntas. Dizia que os seres humanos estão formados por muitos conjuntos de energia que a força vibratória mantem junta, já que sem ela tudo se desintegra. Esta força mantem tudo unido, não apenas o que tem vida, mas também as rochas, as galáxias, etc... Os bruxos chamaram a esta força de "força aglutinante vibratória". Os bruxos demoraram a compreender esta força e quiseram controlá-la, porém não puderam, apenas puderam usá-la como modelo para explicar o caminho do guerreiro, porém agregaram um elemento que fez possível a coesão do conceito: A PAIXÃO.

A paixão pode destruir aos bruxos. Os bruxos podem passar através de tudo, exceto por esse centro que é a paixão, quando a encontram se desmantelam, chegando a desmembrar-se. A paixão pode cortar qualquer coisa. A paixão não tem que ser sagrada para destruir. Quando o bruxo fala de paixão não é de algo sagrado e sim de um sentimento engendrado com um propósito, é uma fixação contínua.

Não é a ira, a cólera ou a vingança, que são explosões momentâneas de emoções no ser humano que duram apenas um instante. A verdadeira paixão não pode vir seguida de remorsos e nunca pede desculpas. É bom que estas explosões de paixão não sejam tão comuns, já que se vão seguidas de importância pessoal tornam-se destruidoras

Todos os recursos dos bruxos estão voltados para que a paixão não se misture com a importância pessoal. 

Os bruxos querem usar a paixão para romper com o habitual. O máximo esforço está em permitir que a força da paixão permita ao bruxo viajar, viajar com uma força que não tem definição. A paixão é uma amálgama, uma mescla de sentimentos: curiosidade, alegria por conhecer...

O velho nagual estabelecia qualquer tarefa para que seus discípulos alcançassem a paixão. O romance com o conhecimento é uma forma de acercar-se da paixão.

Transa aborrecida

Para noventa e nove por cento das pessoas é muito difícil sentir paixão. Se não fomos concebidos com paixão como vamos chegar a senti-la? 

A condição prévia para a paixão é não ter ego, para isso, o primeiro passo é cuidar de algo ou de alguém.

No caso de Castaneda, Dom Juan o encarregou de cuidar de uma criança de 5 semanas de vida até os cinco anos. Então a família real do menino foi à sua procura e o levou. Castaneda lutou para ter o menino com ele, encontrava-se desolado, e perdeu a batalha legal pela posse do menino. O velho nagual disse que era inútil lutar contra possibilidades avassaladoras. Disse que Carlos havia conseguido sua tarefa por que o menino havia forjado nele o fogo da paixão. Este fogo estaria presente para sempre, já que é perene, nunca se extingue.

Taisha foi incumbida de estabelecer amizade com objetos. 

Para fixar a paixão com objetos inanimados não há limites. Ela sentia paixão por seu pequeno quarto aonde ninguém podia entrar se ela não estava. Também com seu rádio e com sua televisão, que cuidava e conversava, não permitindo veicular programas desagradáveis ou ruins, via apenas programas agradáveis. A televisão só funcionava para ela, apenas quando pedia por favor é que a tv punha-se a funcionar para outra pessoa.

Em uma ocasião emprestou-a a uma amiga pedindo-lhe que funcionasse, porém a usou outra pessoa e ela não funcionou; esta pessoa, pensando que a tv encontrava-se escangalhada, jogou-a no lixo, onde Taisha a encontrou. Ela sentiu uma pena muito grande ao ver sua tv no lixo, a recolheu, a limpou , e sua tv voltou a funcionar. Mais adiante a tv foi roubada e Taisha foi lamentar-se com Dom Juan pela sua má sorte. Dom Juan lhe disse que ela apenas poderia fazer uma coisa por sua tv: dizer-lhe em voz alta que onde estivesse, funcionasse.

O propósito da linhagem de Dom Juan era reconstruir algo do nada.

Os bruxos, à princípio, eram apenas lixo humano, porém pelo intento e pela paixão vão reconstruindo a si mesmos. Dom Juan reconstruiu a seus discípulos guiado pela paixão do guerreiro e logo os deixou livres. Tal como Taisha fez com sua tv. Antes de deixá-los ir, lhes disse: Vão, recordem o que construíram e façam o melhor que puderem.

Da paixão pelos objetos, Taisha passou a paixão pelos seres humanos e então entendeu por que a paixão pode destruir uma pessoa, por que pode converte-la em cinzas.

Dom Juan começou a falar da arte da espreita, para Taisha, explicando antes que a arte do sonhar está relacionada como uma configuração energética específica. A arte da espreita é a capacidade de fixar o ponto de aglutinação em uma nova posição dentro do ovo luminoso. Se o ponto de encaixe não está fixo, a percepção no sonhar não é coerente, podem haver flashes, porém não há coerência.

O treinamento do espreitador começa através da personificação de papéis. Dom Juan chamava isto de atuar no teatro do real. Não é o trabalho de um ator, e sim do bruxo que não tem para onde ir, já que qualquer lugar é sua casa. Personificar o papel até o limite produz paixão, porque a espreita fixa o ponto de encaixe em uma posição distinta, que é a da paixão, qualquer que seja esta posição onde o ponto de encaixe se fixe.

Taisha conta a estória da espreita de Ricky. Seu mal comportamento com o dono de uma casa em que vivia fez com que o mesmo adoecesse. O homem havia tratado-o sempre muito bem, apesar da impertinência e arrogância de Ricky, porém como o homem era amável e gentil, por natureza, o permitiu. Taisha estava tranquila porque pensava que esse senhor era do grupo de Dom Juan e ela era apenas um pequeno tirano. Quando o senhor adoeceu, ela se deu conta de que não era bem assim e de que, em realidade, existe gente boa, de fato. Ela não esteve atenta ao que se passava, não espreitou ao senhor, do contrário, haveria evitado a sua enfermidade.

Na paixão o tempo não conta, só existe o momento. Os bruxos se preparam para sentir paixão para a viagem definitiva.

A história de um guerreiro não é de autocompaixão. A autocompaixão nos debilita, nos adoece, nos dissipa. A história dos guerreiros são histórias de ação, de mudança e realização. A mudança não sucede, de repente, tem-se que lutar a cada momento.

A história de Ricky é um símbolo que se aplica. Sempre existe alguém que nos ajuda livremente, sem interesses, como o benfeitor de Ricky. No caminho do guerreiro tudo são símbolos que se aplicam a nós mesmos. Qualquer um pode vender as "ferramentas" do nagual, se não estamos vigilantes, assim como Taisha vendeu as ferramentas do seu benfeitor. Atuamos por interesse pessoal, conforto, descuido, covardia, desejo de ser amado, porém quando se vê o infinito frente à frente se entende que essas razões são inúteis.

Todos temos o infinito diante de nós, mas não o percebemos, necessitamos valentia, valor para seguir adiante. A canção recorda como somos inúteis. Se não temos paixão então para nada servimos.

Transcrito do seminário do México em 1996 - T.A.
EXTRAÍDO DE UMA CONFERÊNCIA DE FLORINDA DONNER- GRAU / MÉXICO 1996

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Pranayama, a ciência do alento

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