Adiante,
quem quer que esteja
tocando as portas da alma.
Adiante,
que quero que veja como estou chorando de amarga dor.
É tão difícil sentir tanta amargura
que não me importa terminar na loucura.
Se já morreu meu velho amor, agora te digo:
se já não tenho valor,
se já não tenho valor,
de nada sirvo.
Adiante,
quem quer que esteja tocando as portas da alma.
Adiante,
que quero que veja como estou sofrendo,
como estou morrendo pelo meu velho amor.
Esta canção está dedicada a algo abstrato, o velho amor que o bruxo sente por navegar:
quem quer que esteja
tocando as portas da alma.
Adiante,
que quero que veja como estou chorando de amarga dor.
É tão difícil sentir tanta amargura
que não me importa terminar na loucura.
Se já morreu meu velho amor, agora te digo:
se já não tenho valor,
se já não tenho valor,
de nada sirvo.
Adiante,
quem quer que esteja tocando as portas da alma.
Adiante,
que quero que veja como estou sofrendo,
como estou morrendo pelo meu velho amor.
Esta canção está dedicada a algo abstrato, o velho amor que o bruxo sente por navegar:
A paixão do guerreiro.
Todos sabemos que isso é o único que temos.
Faz muitíssimos anos que o homem interrompeu sua viagem ao infinito que é o único que queremos.
Estamos envoltos nesta vida que nos rouba tudo o que podemos ser.
Temos que lutar para apagar o eu pessoal.
Conferência de Taisha Abelar - México 1996
A paixão é um dos fundamentos do caminho do guerreiro.
Sem paixão não somos nada.
Não é uma das premissas principais, mas é um centro que pode unificar os diferentes postulados do caminho do guerreiro.
O caminho do guerreiro é um postulado filosófico.
A força coesiva desses princípios é a paixão.
Dom Juan falou de outra força coesiva, a força vibratória que mantem as coisas juntas. Dizia que os seres humanos estão formados por muitos conjuntos de energia que a força vibratória mantem junta, já que sem ela tudo se desintegra. Esta força mantem tudo unido, não apenas o que tem vida, mas também as rochas, as galáxias, etc... Os bruxos chamaram a esta força de "força aglutinante vibratória". Os bruxos demoraram a compreender esta força e quiseram controlá-la, porém não puderam, apenas puderam usá-la como modelo para explicar o caminho do guerreiro, porém agregaram um elemento que fez possível a coesão do conceito: A PAIXÃO.
A paixão pode destruir aos bruxos. Os bruxos podem passar através de tudo, exceto por esse centro que é a paixão, quando a encontram se desmantelam, chegando a desmembrar-se. A paixão pode cortar qualquer coisa. A paixão não tem que ser sagrada para destruir. Quando o bruxo fala de paixão não é de algo sagrado e sim de um sentimento engendrado com um propósito, é uma fixação contínua.
Não é a ira, a cólera ou a vingança, que são explosões momentâneas de emoções no ser humano que duram apenas um instante. A verdadeira paixão não pode vir seguida de remorsos e nunca pede desculpas. É bom que estas explosões de paixão não sejam tão comuns, já que se vão seguidas de importância pessoal tornam-se destruidoras.
Todos os recursos dos bruxos estão voltados para que a paixão não se misture com a importância pessoal.
Os bruxos querem usar a paixão para romper com o habitual. O máximo esforço está em permitir que a força da paixão permita ao bruxo viajar, viajar com uma força que não tem definição. A paixão é uma amálgama, uma mescla de sentimentos: curiosidade, alegria por conhecer...
O velho nagual estabelecia qualquer tarefa para que seus discípulos alcançassem a paixão. O romance com o conhecimento é uma forma de acercar-se da paixão.
Transa aborrecida
Para noventa e nove por cento das pessoas é muito difícil sentir paixão. Se não fomos concebidos com paixão como vamos chegar a senti-la?
A condição prévia para a paixão é não ter ego, para isso, o primeiro passo é cuidar de algo ou de alguém.
No caso de Castaneda, Dom Juan o encarregou de cuidar de uma criança de 5 semanas de vida até os cinco anos. Então a família real do menino foi à sua procura e o levou. Castaneda lutou para ter o menino com ele, encontrava-se desolado, e perdeu a batalha legal pela posse do menino. O velho nagual disse que era inútil lutar contra possibilidades avassaladoras. Disse que Carlos havia conseguido sua tarefa por que o menino havia forjado nele o fogo da paixão. Este fogo estaria presente para sempre, já que é perene, nunca se extingue.
Taisha foi incumbida de estabelecer amizade com objetos.
Para fixar a paixão com objetos inanimados não há limites. Ela sentia paixão por seu pequeno quarto aonde ninguém podia entrar se ela não estava. Também com seu rádio e com sua televisão, que cuidava e conversava, não permitindo veicular programas desagradáveis ou ruins, via apenas programas agradáveis. A televisão só funcionava para ela, apenas quando pedia por favor é que a tv punha-se a funcionar para outra pessoa.
Em uma ocasião emprestou-a a uma amiga pedindo-lhe que funcionasse, porém a usou outra pessoa e ela não funcionou; esta pessoa, pensando que a tv encontrava-se escangalhada, jogou-a no lixo, onde Taisha a encontrou. Ela sentiu uma pena muito grande ao ver sua tv no lixo, a recolheu, a limpou , e sua tv voltou a funcionar. Mais adiante a tv foi roubada e Taisha foi lamentar-se com Dom Juan pela sua má sorte. Dom Juan lhe disse que ela apenas poderia fazer uma coisa por sua tv: dizer-lhe em voz alta que onde estivesse, funcionasse.
O propósito da linhagem de Dom Juan era reconstruir algo do nada.
Os bruxos, à princípio, eram apenas lixo humano, porém pelo intento e pela paixão vão reconstruindo a si mesmos. Dom Juan reconstruiu a seus discípulos guiado pela paixão do guerreiro e logo os deixou livres. Tal como Taisha fez com sua tv. Antes de deixá-los ir, lhes disse: Vão, recordem o que construíram e façam o melhor que puderem.
Da paixão pelos objetos, Taisha passou a paixão pelos seres humanos e então entendeu por que a paixão pode destruir uma pessoa, por que pode converte-la em cinzas.
Dom Juan começou a falar da arte da espreita, para Taisha, explicando antes que a arte do sonhar está relacionada como uma configuração energética específica. A arte da espreita é a capacidade de fixar o ponto de aglutinação em uma nova posição dentro do ovo luminoso. Se o ponto de encaixe não está fixo, a percepção no sonhar não é coerente, podem haver flashes, porém não há coerência.
O treinamento do espreitador começa através da personificação de papéis. Dom Juan chamava isto de atuar no teatro do real. Não é o trabalho de um ator, e sim do bruxo que não tem para onde ir, já que qualquer lugar é sua casa. Personificar o papel até o limite produz paixão, porque a espreita fixa o ponto de encaixe em uma posição distinta, que é a da paixão, qualquer que seja esta posição onde o ponto de encaixe se fixe.
Taisha conta a estória da espreita de Ricky. Seu mal comportamento com o dono de uma casa em que vivia fez com que o mesmo adoecesse. O homem havia tratado-o sempre muito bem, apesar da impertinência e arrogância de Ricky, porém como o homem era amável e gentil, por natureza, o permitiu. Taisha estava tranquila porque pensava que esse senhor era do grupo de Dom Juan e ela era apenas um pequeno tirano. Quando o senhor adoeceu, ela se deu conta de que não era bem assim e de que, em realidade, existe gente boa, de fato. Ela não esteve atenta ao que se passava, não espreitou ao senhor, do contrário, haveria evitado a sua enfermidade.
Na paixão o tempo não conta, só existe o momento. Os bruxos se preparam para sentir paixão para a viagem definitiva.
A história de um guerreiro não é de autocompaixão. A autocompaixão nos debilita, nos adoece, nos dissipa. A história dos guerreiros são histórias de ação, de mudança e realização. A mudança não sucede, de repente, tem-se que lutar a cada momento.
A história de Ricky é um símbolo que se aplica. Sempre existe alguém que nos ajuda livremente, sem interesses, como o benfeitor de Ricky. No caminho do guerreiro tudo são símbolos que se aplicam a nós mesmos. Qualquer um pode vender as "ferramentas" do nagual, se não estamos vigilantes, assim como Taisha vendeu as ferramentas do seu benfeitor. Atuamos por interesse pessoal, conforto, descuido, covardia, desejo de ser amado, porém quando se vê o infinito frente à frente se entende que essas razões são inúteis.
Todos temos o infinito diante de nós, mas não o percebemos, necessitamos valentia, valor para seguir adiante. A canção recorda como somos inúteis. Se não temos paixão então para nada servimos.
Transcrito do seminário do México em 1996 - T.A.
EXTRAÍDO DE UMA CONFERÊNCIA DE FLORINDA DONNER- GRAU / MÉXICO 1996
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