quinta-feira, 27 de março de 2025

Quando começamos a destruir o mundo?

Quando começamos a destruir o mundo? Isso não é de agora, é um processo histórico. O mundo vem sendo destruído sistematicamente há muito tempo. Chegamos num ponto no qual podemos destruí-lo milhares de vezes através dos estoques que temos de bombas nucleares. Chegamos a um ponto no qual só não destruímos o mundo de uma vez porque ninguém ganharia com isso, com um guerra nuclear. E o que evita a destruição é o chamado equilíbrio do terror, um equilíbrio tenebroso, feito de ameaça, medo e potencial destruição total . Mas se não destruímos o mundo de uma vez, vamos destruindo-o aos poucos, vamos destruindo a nós mesmos gradualmente, vamos destruindo a Natureza.

Natureza, palavra interessante. Consultando o novo pai dos burros, a IA, descobrimos que natureza vem de nascer ou força geradora, mas depois passou a significar a parte do mundo que não depende do homem. E aí está a nossa pista para respondermos a nossa pergunta inicial: quando começamos a destruir o mundo?

A resposta nos parece óbvia: quando nos distanciamos da Natureza, da força geradora, do poder que gera a vida. Mas não nos distanciamos apenas da natureza externa, o meio ambiente, nos distanciamos da nossa natureza interna, de nós mesmos, de nossa essência, de nosso ser. Ficamos fragmentados, divididos, alienados de nós mesmos. Aí começou o processo de destruição da Natureza, em dois vetores, para fora e para dentro.

Diferentes mitos revelam isso e todos giram em torno do distanciamento do humano de um paraíso, de um éden, da própria divindade e, portanto, de nós mesmos. Quando isso aconteceu? Quando alguém se distanciou da Natureza e se fez senhor de um pedaço de terra, de rio, de lago, de mar e chamou isso de meu? Quando o mundo tornou-se coisa, propriedade e o próprio humano se fez dono, apesar de ser mortal e não ser dono do próprio corpo? Quando houve a separação entre o humano e a Natureza? Quando essa dualidade se estabeleceu? Quando essa ignorância fundamental (avidyã) surgiu?

Também podemos perguntar: como ela surgiu? Ou ainda: quem a fez surgir? E prosseguindo: por que razão ela surgiu? E mais, como desfazer essa ignorância fundamental? Como desfazer essa separatividade entre o humano e a Natureza? Qual a própria natureza dessa separatividade? Ela é mental? É uma ilusão mental tão arraigada que nela se baseia a religião, a ciência e a filosofia do homem moderno ocidental que pensam o humano e a natureza como distintos entre si?

Lembramos de Matrix, o primeiro filme, de 1999, e lá vemos que na luta entre homens e máquinas a própria Natureza é que paga o preço dessa guerra, sendo destruída e o que resta de natureza para ser explorada é o próprio humano que torna-se um recurso para sobrevivência do império das máquinas, que criam um sonho, uma ilusão que é a base da própria Matrix.

Nesse filme há uma reflexão crítica, desafiadora e incômoda feita por um agente da Matrix, sobre a própria natureza dos humanos, que em vez de se comportarem como mamíferos, como seria natural, passam a agir como um vírus, parasitando e destruindo tudo o que tocam. Quando deixamos de ser mamíferos e passamos a nos comportar como vírus? Quando perdemos a nossa natureza primeva, original e adquirimos uma segunda natureza não humana e viral?

Por causa disso as tradições nativas, os diferentes Xamanismos, em especial o Guerreiro, dizem que o ser humano encontra-se doente. Mas qual é a nossa doença? O egoísmo, a auto-importância, a heresia da separatividade, a avidya. Mas como ela surgiu? Como fomos infectados? Como nos curarmos antes que, devido a essa doença, destruamos o mundo inteiro? Como destruir a doença sem matar o doente? Essa é uma tarefa individual, pessoal e intransferível. Uma responsabilidade individual.

Mas diante disso surge uma outra questão: é possível a cura no nível coletivo? E se tal não for possível qual seria a solução? Essa humanidade doente matou ou não deu ouvidos para os diversos homens que propuseram uma cura para a alma humana: Ishô, Buda Shakyamuni, Krishna, entre tantos outros.

Qual o destino de um doente terminal que não quer curar-se e que ameaça com a sua doença todos os seres vivos do planeta?

Modak

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